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Projeto Terapêutico Singular (PTS) ➬ PTS - O PTS é um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas, para um sujeito individual ou coletivo, resultado da discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar, com apoio matricial se necessário. - Foi bastante desenvolvido em espaços de atenção à saúde mental como forma de propiciar uma atuação integrada da equipe valorizando outros aspectos, além do diagnostico psiquiátrico e da medicação, no tratamento dos usuários. É uma reunião de toda a equipe em que todas as opiniões são importantes para ajudar a entender o Sujeito com alguma demanda de cuidado em saúde e, consequentemente, para definição de propostas de ação. - Tal projeto pode ser feito para grupos ou famílias e não só para indivíduos - O projeto busca a singularidade (a diferença) como elemento central de articulação ➬ Quatro momentos do PTS: 1) Diagnóstico: Avaliação orgânica, psicológica e social que possibilite uma conclusão acerca dos riscos e da vulnerabilidade do usuário. Deve tentar captar como o Sujeito singular se produz diante de forças como as doenças, os desejos e os interesses, assim como também o trabalho, a cultura, a família e a rede social. Ou seja, tentar entender o que o Sujeito faz de tudo que fizeram dele. 2) Definição de metas: a equipe deve fazer propostas de curto, médio e longo prazo, que serão negociadas com o Sujeito doente pelo membro da equipe que tiver um vínculo melhor. 3) Divisão de responsabilidades: definir as tarefas de cada um com clareza 4) Reavaliação: discussão sobre a evolução e se farão as devidas correções de rumo. ➬ Outros aspectos: - A escolha dos casos para reuniões de PTS deve considerar a escolha de usuários ou famílias em situações mais graves ou difíceis - É importante que haja um vínculo dos membros da equipe com o usuário e a família - Cada membro da equipe, a partir dos vínculos estabelecidos, deve levar para a reunião de PTS aspectos diferentes e poderá também receber tarefas diferentes, de acordo com a intensidade e qualidade desse vínculo. - O tempo mais dilatado de formulação e acompanhamento do PTS depende da característica de cada serviço. Geralmente não se faz uma abordagem integral em um encontro único, mesmo que seja uma consulta longa. Muitas informações essenciais surgem no decorrer do seguimento e a partir do(s) vínculo(s) com o usuário. A história, em geral, vai se construindo aos poucos, embora, obviamente, não se possa falar de regras fixas para um processo que é relacional e complexo. - A herança das revoluções na Saúde Mental (Reforma Psiquiátrica), experimentando a proposta de que o Sujeito é construção permanente e que pode produzir “margens de manobra”, deve ser incorporada na Clínica Ampliada e no PTS. - Importante a crença de que a pessoa tem grande poder de mudar a sua relação com a vida e com a própria doença. ➬ Anamnese para a clínica ampliada e o PTS - É preciso fazer as perguntas da anamnese tradicional, mas dando espaço para as ideias e as palavras do usuário - Uma história clinica mais completa, sem filtros, tem uma função terapêutica em si mesma, na medida em que situa os sintomas na vida do Sujeito e dá a ele a possibilidade de falar, o que implica algum grau de análise sobre a própria situação. - Esta anamnese permite que os profissionais reconheçam as singularidades do Sujeito e os limites das classificações diagnósticas. - A partir da percepção da complexidade do sujeito acometido por uma doença, o profissional pode perceber que muitos determinantes do problema não estão ao alcance de intervenções pontuais e isoladas. Fica clara a necessidade do protagonismo do Sujeito no projeto de sua cura: autonomia - Atitude “apostólica”: não predominância de uma postura radicalmente “neutra”, que valoriza sobremaneira a não intervenção, nem aquela típica na prática biomédica, que pressupõe que o Sujeito acometido por uma doença seja passivo diante das propostas. - Modalização: usuário é estimulado a qualificar e situar cada sintoma em relação aos seus sentimentos e outros eventos da vida. Na medida em que a história clinica traz para perto dos sintomas e queixas elementos da vida do Sujeito, ela permite que haja um aumento da consciência sobre as relações da “queixa” com a vida. ➬ História psi 1) Procurar descobrir o sentido da doença para o usuário 2) Procurar conhecer a singularidade do sujeito, perguntando sobre os medos, as raivas, as manias, o temperamento seu sono e sonhos. 3) Procurar saber se há negação da doença, qual a capacidade de autonomia e quais os possíveis ganhos secundários com a doença. 4) Procurar perceber a chamada contratransferência, ou seja, os sentimentos que o profissional desenvolve pelo usuário durante os encontros; procurar descobrir os limites e as possibilidades que esses sentimentos produzem na relação clínica. É preciso verificar as intenções, as linhas de força que interferem na relação profissional- usuário para produzir algum caminho comum. 5) Procurar conhecer quais os projetos e desejos do usuário 6) Conhecer as atividades de lazer. A simples presença ou ausência de atividades prazerosas é bastante indicativa da situação do usuário. 7) Fazer a história de vida é um recurso que pode incluir grande parte das questões propostas. As questões relativas às condições de sobrevivência (moradia, alimentação, saneamento, renda, etc.) ou da inserção do sujeito em instituições poderosas, como religião, trafico, trabalho, frequentemente estão entre os determinantes principais dos problemas de saúde e serão fundamentais para o Projeto terapêutico. ➬ A reunião de equipe - Reunião de equipe não é um espaço apenas para que uma pessoa da equipe distribua tarefas às outras. - Reunião é um espaço de diálogo e é preciso que haja um clima em que todos tenham direito à voz e à opinião. ➬ PTS e gestão - Haverá uma alternância de relevância entre os diferentes trabalhos, de forma que em cada momento alguns membros da equipe estarão mais protagonistas e criativos do que outros. - Interdependência entre todos na equipe - É preciso que haja um clima de liberdade de se pensar o “novo”. Paism: um marco na abordagem da saúde reprodutiva no Brasil Saúde reprodutiva no Brasil Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) ➬ PAISM - O PAISM foi pioneiro, inclusive no cenário mundial, ao propor o atendimento à saúde reprodutiva das mulheres, no âmbito da atenção integral à saúde, e não mais a utilização de ações isoladas em planejamento familiar. ➬ Introdução - Antes da criação do PAISM, a atenção à saúde da mulher traduziu-se na preocupação com o grupo materno-infantil. O enfoque estava em intervir sobre os corpos das mulheres- mães, de maneira a assegurar que os corpos dos filhos fossem adequados ás necessidades da reprodução social. - Com a criação do PAISM, há o rompimento com a visão tradicional acerca desse tema, sobretudo no âmbito da medicina, que centralizava o atendimento às mulheres nas questões relativas à reprodução. - Em contrapartida, no mesmo momento foi criado um programa que inclui o planejamento familiar dentre suas ações, ou seja, um programa que contemplava o controle da reprodução. ➬ Uma breve história do PAISM - Elaborado por três médicos e uma socióloga - Foram testados diferentes modelos de assistência em que o corpo feminino fosse tratado como um todo e não mais como uma série de órgãos isolados, da competência de diferentes especialistas. - O trabalho da equipe consistiu em definir normas programáticas, especificando quais seriam as bases doutrinárias do programa que estava se propondo, e normas técnicas, descrevendo e especificando os diversos procedimentos médicos que seriam adotados. - Divulgaçãodo PAISM oficialmente em 1984. “O conceito de assistência integral, aqui preconizado, envolve a oferta de ações globalmente dirigidas ao atendimento de todas as necessidades de saúde do grupo em questão, onde todo e qualquer contato que a mulher venha a ter com os serviços de saúde seja utilizado em benefício da promoção, proteção e recuperação de sua saúde” (MS, 1984:15). - Dentro das diretrizes gerais, destaca-se o Planejamento Familiar, sendo justificada pelo fato de caber ao estado proporcionar meios e informações para que todos os brasileiros pudessem planejar suas famílias. A atenção à mulher deveria ser integral, clinico- ginecológica e educativa, voltada ao aperfeiçoamento do controle pré-natal, do parto e puerpério; à abordagem dos problemas presentes desde a adolescência até a terceira idade; ao controle das doenças transmissíveis sexualmente e à assistência para concepção e contracepção. - Propunha-se a criação de centros de referência regionais. - Apoio aos centros de pesquisas operacionais e estudos epidemiológicos na área da saúde da mulher, para tê-los na condição de fornecedores de subsídios técnico-científicos para facilitar a implantação do PAISM. ➬ Significado social do PAISM - No momento em que foi lançado, havia uma intensa atuação de movimentos sociais e da sociedade civil, em geral, lutando pelo reestabelecimento da democracia. - Reuniu condições para se constituir em um evento socialmente relevante, um fato capaz de mobilizar muitos setores da sociedade para discuti-lo, aprovando-o ou não. - Houve algumas reações por parte da sociedade, já que alguns suspeitavam que o PAISM, na verdade, não passaria de um disfarce do governo para agir no sentido de controlar a natalidade da população. Nessa interlocução, as mulheres argumentaram que o conceito de integral deveria enfatizar não só a integração do colo, do útero e das mamas, mas também de outros aspectos não físicos da vida das mulheres. O que elas defendiam era que o integral se referisse também ao contexto social, psicológico e emocional das mulheres a serem atendidas. - O médico, ao prestar assistência, deveria conceber a mulher como um ser completo, não apenas portadora de um corpo, mas vivendo de um momento emocional especifico e inserida em um determinado contexto socioeconômico. - Os movimentos das mulheres insistiram em que o PAISM incluísse ações definidas de educação sexual e em saúde, para afastar qualquer possibilidade de ele ser usado para o controle populacional coercitivo. - Amplo significado social, constituindo-se em elemento catalizador de debates. ➬ O PAISM e a saúde reprodutiva no Brasil - Sua relevância fica clara ao se evidenciar o seu significado social, destacando-se a sua singularidade enquanto uma proposta de mudança na maneira como até então a saúde das mulheres era tratada, bem como a incorporação em seu conteúdo dos princípios de integralidade e universalidade da atenção à saúde - No contexto do PAISM, as mulheres deixaram de ser vistas apenas como parideiras, e o cuidado de sua saúde não deveria mais restringir-se à atenção pré-natal, ao parto e puerpério. - A criação do PAISM representou, sem dúvida, um passo significativo em direção ao reconhecimento dos direitos reprodutivos das mulheres. ➬ Saúde da mulher e o enfoque de gênero O gênero é uma construção social sobreposta a um corpo sexuado. É uma forma primeira de significação de poder. - A vulnerabilidade feminina frente a certas doenças e causas de morte está mais relacionada com a situação de discriminação na sociedade do que com fatores biológicos. - Doenças nos países desenvolvidos: cardiovasculares e crônico-degenerativas. Doenças nos países subdesenvolvidos: mortalidade materna e desnutrição. Nas concepções mais restritas, o corpo da mulher é visto apenas na sua função reprodutiva e a maternidade torna-se seu principal atributo. A saúde da mulher limita-se à saúde materna ou à ausência de enfermidade associada ao processo de reprodução biológica. - O perfil de saúde e doença varia no tempo e no espaço, de acordo com o grau de desenvolvimento econômico, social e humano de cada região. Número de mulheres que vivem em situação de pobreza é superior ao dos homens. As mulheres trabalham durante mais horas do que o homens e metade do seu tempo é gasto em atividades não remuneradas, fato que diminui o seu acesso aos bens sociais, inclusive aos serviços de saúde. - Da mesma maneira que diferentes populações estão expostas a variados tipos e graus de risco, mulheres e homens, em função da organização social de gênero, também estão expostos a padrões distintos de sofrimento, adoecimento e morte. ➬ Evolução das políticas de atenção à saúde da mulher - Os programas materno-infantis, elaborados nas décadas de 30, 50 e 70, traduziam uma visão restrita sobre a mulher, baseada em sua especificidade biológica e no seu papel social de mãe e doméstica, responsável pela criação, pela educação e pelo cuidado com a saúde dos filhos e demais familiares. - Havia uma verticalização e falta de integração entre os demais programas e ações propostos pelo governo federal. - Um dos resultados dessa prática é a fragmentação da assistência e o baixo impacto nos indicadores de saúde da mulher. - As mulheres começaram a lutar pelos seus direitos, revelando as desigualdades nas condições de vida e nas relações entre os homens e as mulheres, os problemas associados à sexualidade e à reprodução, as dificuldades relacionadas à anticoncepção e à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, além da sobrecarga de trabalho. As mulheres organizadas argumentavam que as desigualdades nas relações sociais entre homens e mulheres se traduziam também em problemas de saúde que afetavam particularmente a população feminina. Por isso, fazia-se necessário criticá-los, buscando identificar e propor processos políticos que promovessem mudanças na sociedade e consequentemente na qualidade de vida da população - Determinados comportamentos, tanto dos homens quanto das mulheres, baseados nos padrões hegemônicos de masculinidade e feminilidade, são produtores de sofrimento, adoecimento e morte. As mulheres organizadas reivindicaram, portanto, sua condição de sujeitos de direito, com necessidades que extrapolam o momento da gestação e parto, demandando ações que lhes proporcionassem a melhoria das condições de saúde em todas os ciclos de vida. Ações que contemplassem as particularidades dos diferentes grupos populacionais, e as condições sociais, econômicas, culturais e afetivas, em que estivessem inseridos - Em 1984, o Ministério da Saúde elaborou o Programa de Assistência Integral à Saúde Da Mulher (PAISM) - O PAISM incorporou como princípios e diretrizes as propostas de descentralização, hierarquização e regionalização dos serviços. ➬
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