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Rhayra Villa – Fisiologia renal 1 Os rins desempenham duas funções principais: 1. Excretam a maior parte dos produtos terminais do metabolismo corporal → filtram o sangue, retirando substâncias indesejáveis como a ureia e a creatinina (derivadas do metabolismo dos aa e da cratina-fosfato), e assim formam a urina 2. Controlam as concentrações da maioria dos constituintes dos líquidos orgânicos → controlam a concentração plasmática de sódio e, consequentemente, a pressão arterial, além da concentração de H+, participando da regulação do pH sanguíneo (equilíbrio ácido- base) *Também participam da manutenção da osmolaridade plasmática e têm capacidade de controlar a eritropoiese, uma vez que são responsáveis pela síntese do hormônio eritropoietina Formação da Urina pelos Rins I - Fluxo Sanguíneo Renal, Taxa de Filtração Glomerular e seu Controle Anatomia Fisiológica do Rim Fisiologicamente, a medula renal apresenta uma hiperosmolaridade em relação ao plasma e um gradiente crescente, ou seja, quanto mais interno no rim, maior o valor de osmolaridade da medula renal. A região do córtex possui uma osmolaridade de cerca de 300 miliosmoles/L, enquanto a medula possui um valor de osmolaridade maior que 300 e, na sua região mais interna, a osmolaridade chega a 1200 miliosmoles/L → informação importante para a compreensão do processamento do filtrado Suprimento Sanguíneo Renal Os rins recebem o suprimento sanguíneo da artéria renal, que está ligada à artéria aorta abdominal → sangue chega nos rins com alta pressão, fator que favorece a filtração glomerular A artéria renal se ramifica, dando origem às artérias segmentares, que também se dividem dando origem às artérias interlobares. Essas se dividem e originam as artérias arqueadas, que se ramificam nas arteríolas aferentes, que dão origem aos capilares glomerulares. Esses se coalescem e dão origem às arteríolas eferentes, que originam os capilares peritubulares, que se coalescem e dão origem aos componentes do sistema venoso. Rhayra Villa – Fisiologia renal 2 *O sistema renal apresenta duas redes de capilares: os glomerulares, que são responsáveis pela filtração, e os peritubulares, que são responsáveis pela nutrição das células do nefron (fornecimento de oxigênio e remoção de gás carbônico) Néfron: Unidade Funcional do Rim A filtração glomerular acontece nos capilares glomerulares. Uma vez que o sangue é filtrado, quem recolhe o filtrado é a cápsula de Bowman, o primeiro segmento do néfron. Em seguida, esse filtrado percorre o túbulo proximal e a Alça de Henle *A Alça de Henle possui subdivisões: segmento descendente, que entra em contato com regiões da medula renal de alta osmolaridade; porção fina do segmento ascendente, porção espessa do segmento ascendente. Posteriormente, o filtrado percorre o túbulo distal, o túbulo conector e o túbulo coletor. *O túbulo coletor recebe sobrenome de acordo com a região que ele atravessa: cortical, que percorre o córtex renal, ou medular, segmento que passa pela medula renal. Da junção de túbulos coletores, surge o ducto coletor. *Há uma região do túbulo distal que faz conexão com as arteríolas aferente e eferente (células diferenciadas, chamadas de células da Mácula Densa) → nessa região, está localizado o aparelho justaglomerular, importante na regulação a longo prazo da pressão arterial Néfron Cortical de Justamedular Existem dois tipos de néfron: o cortical, que possui Alça de Henle curta e estão, em sua maior parte, localizados no córtex renal, e o justamedular, que possui Alça de Henle maior, indo até as regiões mais internas da medula renal. *Além dos capilares peritubulares, os néfrons justamedulares possuem outro segmento vascular denominado Vasa recta (vasos retos), vasos que acompanham a Alça de Henle até as regiões mais internas da medula A formação da urina resulta da filtração glomerular, reabsorção e secreção tubular Rhayra Villa – Fisiologia renal 3 Uma vez que o sangue chega pela arteríola aferente, ocorrerá filtração glomerular. No entanto, nem tudo que foi filtrado irá entrar na composição da urina → algumas substâncias retornam para a corrente circulatória, processo chamado de reabsorção. *Algumas substâncias podem passar pelos capilares glomerulares e não serem filtradas, continuando nos capilares peritubulares e, posteriormente, atingindo o túbulo renal através da secreção Dessa forma, o que será excretado pelo organismo é aquilo que foi filtrado, menos o que foi reabsorvido, mais o que foi secretado. Os termos reabsorção e secreção são também importantes para a farmacologia → aqueles fármacos que forem filtrados pelo sistema renal e sofrerem reabsorção, ficarão mais tempo na corrente circulatória, permitindo que esse fármaco tenha uma janela terapêutica maior *Os fármacos que sofrem secreção são eliminados mais rapidamente do organismo → janela terapêutica menor Todas as substâncias presentes na corrente sanguínea sofrem filtração? Não. Os rins não são capazes de filtrar os elementos figurados, a exemplo das hemácias. O que tem chance de ser filtrado está no plasma, mas nem todas as substâncias presentes no plasma são filtradas, a exemplo das proteínas. A composição do filtrado é similar à composição do plasma, exceto por não conter quantidades significativas de proteínas Os rins recebem 22% do débito cardíaco, ou seja, 1100 mL de sangue por minuto → fluxo sanguíneo renal. No entanto, o fluxo renal plasmático é de 652 mL por minuto (aproximadamente metade do fluxo sanguíneo renal). O volume de plasma que chega aos capilares glomerulares não é filtrado em uma única passagem → os rins possuem uma taxa de filtração glomerular de 125 mL por minuto (20% do volume de plasma recebido) FSR = 1100mL/min FPR = 625mL/min TFG = 125mL/min Fração de filtração (FF) = (TFG x 100) dividido pela FPR = 20% O rim filtra 180 litros por dia, mas o corpo não elimina 180 L por dia, o que mostra a importância da reabsorção. Dos 125mL de filtrado, o que entra na composição da urina é 1mL, ou seja, 124mL/min de reabsorção (99,2%) A Formação da Urina Cada substância da corrente sanguínea terá um determinado comportamento no sistema renal. Algumas substâncias, como as hemácias, não são capazes de sofrer filtração. A) Entre as substâncias que são filtradas, existem aquelas que não têm capacidade de sofrer reabsorção e a quantidade que está na corrente sanguínea não é capaz de sofrer secreção → toda a quantidade filtrada vai para a composição da urina B) Substância que é filtrada, mas sofre reabsorção parcial, como no caso da ureia → a quantidade que vai para a composição da urina é menor do que a quantidade filtrada C) Substância livremente filtrada, mas totalmente absorvida, a exemplo da glicose → não entra Rhayra Villa – Fisiologia renal 4 na composição da urina de indivíduos fisiologicamente normais D) Substâncias livremente filtradas e que, além disso, sofrem uma alta taxa de secreção (fármaco para-amino-hipúrico) → a corrente sanguínea fica praticamente livre da substância Reabsorção ao Longo do Néfron O túbulo proximal é responsável por cerca de 65% da reabsorção do filtrado. O ramo espesso da Alça de Henle reabsorve cerca de 20 a 25% do filtrado Os túbulos distais reabsorvem cerca de 3 a 4% do filtradoCada segmento do rim tem uma característica que possibilita a reabsorção de uma determinada substância. Existem segmentos renais que são permeáveis à água, como o túbulo proximal. Outros, como a Alça de Henle descendente, são impermeáveis à água *Existem segmentos renais capazes de se tornar permeáveis à água, dependente da sinalização hormonal (túbulo distal final e túbulo coletor) A Filtração Glomerular Acontece nos capilares glomerulares. No endotélio do capilar glomerular, as células estão frouxamente acopladas, dando origem às fenestras → o sangue chega ao rim com alta pressão e encontra um capilar fenestrado, o que favorece a filtração Abaixo do endotélio, está a membrana basal, que possui colágeno e proteoglicanos → proteínas que são carregadas negativamente Em seguida, abaixo da membrana, existe o epitélio, composto por células chamadas de podócitos e por proteínas, ou seja, presença de carga negativa Entre as células endoteliais, existem as células mesangiais, que podem liberar fatores capazes de controlar o estado de vasoconstrição e vasodilatação do endotélio. Rhayra Villa – Fisiologia renal 5 Devido a presença das fenestras, é possível dizer que o tamanho da molécula influencia na sua filtrabilidade. *A albumina, apesar do elevado peso molecular, possui tamanho que consegue passar pelas fenestras → não é filtrada pois é uma proteína que possui cargas negativas, havendo repulsão entre a membrana e a albumina. Efeito do tamanho e da carga elétrica da dextrana na capacidade de filtração dos capilares glomerulares: dextranas são polissacarídeos que podem ser sintetizados de forma neutra ou carregada, com pesos moleculares diferentes *O raio e a carga influenciam na filtrabilidade das moléculas, sendo que moléculas menores e carregadas positivamente (o que evita repulsão) são mais filtradas A seletividade das fenestras é dada pelo tamanho do poro e pelas cargas negativas *Se o indivíduo desenvolver uma glomerulonefrite (inflamação no glomérulo) que perturbe a membrana de cargas negativas, a albumina passará a ser filtrada → proteinúria Determinantes da Filtração Glomerular Kf (coeficiente de filtração glomerular) é o produto da condutividade hidráulica e da área de superfície dos capilares glomerulares Os indivíduos que apresentam uma patologia que promove a redução do número de capilares glomerulares funcionais, apresentaram uma redução no coeficiente de filtração glomerular → consequentemente, a filtração glomerular será menor Os indivíduos que apresentam uma patologia que aumenta a espessura da membrana, terão uma menor condutividade hidráulica → menor coeficiente de filtração glomerular Pressão Líquida de Filtração Além desse coeficiente, a filtração glomerular também é definida pela pressão efetiva de filtração As forças responsáveis pela pressão líquida de filtração são as forças de Starling → pressão hidrostática glomerular, pressão oncótica glomerular e pressão na cápsula de Bowman *As forças favorecem ou dificultam a filtração: ver imagem *A pressão oncótica glomerular é dada pela capacidade de certas substâncias, entre elas as Rhayra Villa – Fisiologia renal 6 proteínas, de atrair água na sua direção → desfavorável à filtração A pressão oncótica plasmática não é a mesma ao longo do capilar glomerular → aumenta à medida que acontece a FG, pois as proteínas vão se concentrando *O tanto que as proteínas vão se concentrar também tem relação com a fração de filtração → se a fração de filtração diminui, o aumento da pressão oncótica será menor (e vice-versa) O valor de pressão oncótica que sai do capilar glomerular em direção à arteríola eferente é o mesmo que chega nos capilares peritubulares → se houver aumento na FF, a pressão oncótica aumenta no capilar glomerular (proteínas concentradas) e nos capilares peritubulares O equilíbrio nas forças de Starling determina a taxa de reabsorção O aumento na fração de filtração gera: redução da pressão hidrostática e aumento da pressão oncótica no capilar peritubular → aumento nas forças que favorecem a reabsorção do túbulo proximal para o capilar peritubular, já que o túbulo proximal possui junções de baixa resistência – reabsorção de água e solutos, principalmente o Na+, possibilitando ao rim regular a pressão arterial Efeito da mudança da resistência da arteríola renal aferente e eferente na TFG e FSR A taxa de filtração glomerular e o fluxo sanguíneo renal são controlados pela resistência da arteríola aferente e eferente Aumento da resistência (vasoconstrição) da arteríola aferente: redução do FSR e redução da pressão hidrostática glomerular → entra menos sangue e tudo que entra sai, dificultando a FG Aumento da resistência da arteríola eferente: redução do FSR e aumento da pressão hidrostática glomerular → dificulta a saída do fluxo e o sangue fica estagnado no capilar glomerular, o que favorece a TFG Rhayra Villa – Fisiologia renal 7 *se a vasoconstrição na arteríola eferente for muito intensa, pode haver redução da TFG, uma vez que a passagem de proteínas fica mais dificultada que a passagem de líquido (aumento de pressão oncótica maior que o aumento de pressão hidrostática), podendo haver rompimento do capilar glomerular? Independente da intensidade da vasoconstrição da arteríola eferente, sempre vai haver aumento na fração de filtração. – promove aumento da pressão oncótica nos capilares peritubulares, favor que favorece a reabsorção no túbulo proximal Controle fisiológico da Filtração Glomerular e do Fluxo Sanguíneo Renal 1. Sistema Nervoso Simpático: noradrenalina → o SNS, através da noradrenalina, é capaz de promover vasoconstrição 2. Hormônios: adrenalina, noradrenalina, angiotensina II → hormônios liberados pela medula da suprarrenal, assim como a angiotensina II, também podem regular a resistência das arteríolas, promovendo vasoconstrição *O efeito da angiotensina II é maior na arteríola eferente do que na aferente 3. Controles de feedback intrínsecos aos rins → controlam TFG e FSR e FPR, mesmo se houver muita variação da pressão arterial, por meio do Aparelho Justaglomerular Estrutura do Aparelho Justaglomerular O aparelho justaglomerular está localizado na região do túbulo distal que faz contato com as arteríolas aferente e eferente. As células do túbulo distal que fazem esse contato são células diferenciadas, chamadas de células da Mácula Densa. Quando chega uma menor quantidade de sódio na Mácula Densa, libera renina, um hormônio que participa da síntese da angiotensina II, o mais potente agente vasoconstritor do organismo, que encontra receptores principalmente na arteríola eferente. → promove uma vasoconstrição de eferente, agindo para normalizar a pressão hidrostática Em situações de queda da pressão arterial, essa queda promove a redução da pressão hidrostática no capilar glomerular, fator que reduz a TFG. → Rhayra Villa – Fisiologia renal 8 chega menos sódio na mácula densa, liberando a renina. A renina estimula a produção de angiotensina II, que por sua vez promove vasoconstrição na arteríola eferente → provoca aumento/normalização da pressão hidrostáticaglomerular, regulando a TFG Auto-regulação da FSR Mecanismo Miogênico: a pressão arterial, ao sofrer elevação, distende a parede da arteríola, o que, por sua vez, provoca a contração secundária da arteríola – vasoconstrição rebote. Esse processo diminui o FSR até seu valor normal, opondo-se, assim, ao efeito da elevação da pressão arterial no sentido de aumentar o fluxo. Processamento Tubular do Filtrado Glomerular Os rins recebem 22% do débito cardíaco, um volume de sangue de 1100mL/min. Desse volume, 625mL são constituídos de plasma, ou seja, a porção sanguínea que tem potencial de ser filtrado → a TFG é 125mL/min, ou seja, dos 100% de fluxo plasmático renal que chega aos rins, 20% são filtrados, corresponde à fração de filtração. O processamento do filtrado é o conjunto de processos que modificam o filtrado, envolvendo filtração, reabsorção e secreção. A reabsorção tubular pode acontecer por duas vias, sendo elas: 1. Via Paracelular: algumas substâncias retornam para a corrente sanguínea passando ao lado das células 2. Via Transcelular: algumas substâncias encontram transportadores na membrana apical/luminal, são transportados para o meio intracelular e posteriormente, encontram transportadores nas membranas basolaterais. Essas vias, paracelular ou transcelular, permitem ao rim fazer a reabsorção de forma passiva ou ativa, variando de acordo com a substância a ser transportada. Cada segmento do néfron possui um determinado tipo celular. Existem células com alta densidade mitocondrial, sendo capazes de promover transporte ativo, e existem células com baixa Rhayra Villa – Fisiologia renal 9 densidade de mitocôndrias, realizando apenas transporte passivo → cada segmento do néfron tem capacidade de absorver ou de secretar uma determinada substância. As células tubulares renais diferem bastante entre si, conforme o segmento do néfron, no que diz respeito à natureza dos sistemas apicais (cotransporte sódio-glicose; contra- transporte sódio-hidrogênio; canais de sódio), à densidade da bomba sódio-potássio ATPase basolateral e à permeabilidade à água Reabsorção e Secreção ao Longo das Diferentes Porções do Néfron TÚBULO PROXIMAL Túbulo proximal: reabsorção com característica isosmótica ou isotônica. Na membrana luminal do túbulo proximal, temos um transportador sódio-glicose. Esse transportador leva a glicose para o meio intracelular acoplado ao gradiente de sódio. No entanto, a concentração de sódio intracelular não pode se elevar. O sódio então é lançado no interstício por ação da bomba Na-K-ATPase → cotransporte sódio-glicose, transporte ativo secundário. Após atingir o meio intracelular, a glicose será lançada no interstício pelo transportador GLUT2 por difusão facilitada – 90% da glicose retorna utilizando esse transportador, localizado no primeiro segmento do túbulo proximal, e 10% utiliza o SGLT1 nos segmentos finais do túbulo proximal, também configurando um transporte ativo secundário. A glicose vai para o interstício usando o transportador GLUT 1. O transporte de glicose no túbulo proximal pode atingir uma velocidade máxima, que é dependente da concentração de glicose presente no filtrado tubular. *Quando o transportador atinge sua capacidade máxima, vai haver presença de glicose na urina. O túbulo proximal também faz reabsorção de aminoácidos por co-transporte com o sódio (transporte ativo secundário). O aminoácido posteriormente sai para o interstício pela membrana basolateral, processo que se dá por difusão facilitada. Além disso, o túbulo proximal faz contratransporte de H+ → o H+ será lançado no lúmen acoplado ao Rhayra Villa – Fisiologia renal 10 gradiente de sódio, ou seja, quanto ocorre influxo de sódio. Também utiliza a bomba Na-K-ATPase para levar o sódio para o interstício, configurando transporte ativo secundário O H+ que está sendo secretado é sintetizado no meio intracelular pela enzima anidrase carbônica. O CO2 pode ser proveniente do filtrado. *Ocorre secreção de H+ e reabsorção de HCO3- Quando o filtrado atinge a Cápsula de Bowman, sua osmolaridade é semelhante à osmolaridade do plasma, cerca de 300mOms/L. Quando ocorre reabsorção de solutos, a osmolaridade do filtrado é reduzida, o que gera um gradiente osmótico que permite a reabsorção de água pela via paracelular. No túbulo proximal, sendo que ocorre reabsorção de soluto e de solvente na mesma proporção, a reabsorção é considerada isotônica. A reabsorção de água, cloreto e ureia está acoplada à reabsorção de sódio! A diferença de potencial elétrico (causada pelo influxo de Na+) e a diferença de concentração (excesso de Cl- luminal pela reabsorção de água) geram um gradiente eletroquímico que permitirá a reabsorção passiva de Cl-, pela via paracelular. A reabsorção de água também promove a concentração da ureia, que possibilita reabsorção passiva de ureia. Rhayra Villa – Fisiologia renal 11 *A osmolaridade e a concentração de sódio são constantes pois a reabsorção de soluto e solvente ocorre na mesma proporção A redução na glicose e nos aminoácidos indica que praticamente todas essas moléculas são reabsorvidas no túbulo proximal. Secreção de Ácidos Orgânicos O túbulo proximal também faz secreção de vários ânions e fármacos. Na membrana basolateral do túbulo proximal, temos um transportador para ácidos orgânicos. Esse transportador funciona como contratransporte com o α-KG. À medida que o ácido orgânico atinge o meio intracelular, o α-KG está sendo jogado no interstício. Posteriormente, ele retorna para o meio intracelular pelo cotransporte com o sódio. Como a concentração de sódio não pode aumentar no meio intracelular, é necessária a ação da bomba Na-K-ATPase → processo de gasta energia indiretamente. Uma vez que o ácido orgânico atinge o meio intracelular, ele é secretado para o fluido tubular por uma proteína (ou pela proteína associada a resistência à multifármacos ou por um transportador de ácido orgânico, que também faz contra-transporte com o α-KG) Secreção de Cátions no Túbulo Proximal O túbulo proximal também faz secreção de alguns cátions: Na membrana basolateral do túbulo proximal, existe o transportador para cátions orgânicos. Assim, o cátion pode ser secretado por difusão facilitada ou de forma passiva. Na membrana luminal, o cátion orgânico será lançado no fluido tubular por contra-transporte com o H+ (o H+ é reabsorvido e o cátion orgânico é lançado na luz tubular) ou pela proteína MDR1, também chamada de fosfoglicoproteína Rhayra Villa – Fisiologia renal 12 ALÇA DE HENLE DESCENDENTE A alça de Henle descendente entra em contato com a medula renal, que é hiperosmótica em relação ao plasma e possui um gradiente crescente → quanto mais interno na medula renal, maior o valor de hiperosmolaridade da medula. Isso gera um gradiente osmótico. O filtrado deixa o túbulo proximal em direção à alça de Henle com um valor de osmolaridade de cerca de 300mOsm/L e encontra uma medula renal hiperosmótica → gradiente osmótico permite a reabsorção de água de forma passiva *Na curvatura da alça de Henle, o valor de osmolaridade será equivalente ao valor de osmolaridade damedula renal que aquela região entrou em contato. ALÇA DE HENLE ASCENDENTE O ramo fino ascendente da alça de Henle é impermeável à água e é permeável à solutos (sódio, cloreto... – menor permeabilidade à ureia). Como a saída de cloreto de sódio supera a entrada de ureia, o fluido tubular vai se diluindo à medida que se distancia da papila, acompanhando a queda correspondente da osmolaridade intersticial. À medida que a alça de Henle vai para a região mais externa da medula renal, o valor de osmolaridade vai se reduzindo, o que gera gradiente para que o filtrado tubular na alça de Henle ascendente comece a perder soluto. Portando, alça de Henle ascendente (ramo fino) é chamada de segmento diluidor. O ramo espesso da alça de Henle também é considerado segmento diluidor. Promove reabsorção de sódio, cloreto, potássio, magnésio, bicarbonato e cálcio, e promove secreção de H+. Como resultado, o filtrado ficará hiposmótico e será diluído. Rhayra Villa – Fisiologia renal 13 O ramo espesso da alça de Henle possui, na sua membrana luminal, um transportador que permite a reabsorção de um potássio, um sódio e dois cloretos. Dessa forma, esse transportador é isoelétrico, permitindo a reabsorção de duas cargas positivas e duas negativas. Esse transportador é alvo de ação de diuréticos (diuréticos de alça são os mais potentes), sendo inibido por eles → furosemida, ácido etacrínico, bumetanida. O transportador lança na medula renal sódio e cloreto, contribuindo para a hiperosmolaridade da medula. Sendo assim, se esse transportador não está funcionando, a medula renal será menos hiperosmótica, provocando a redução do gradiente para a reabsorção de água → aumento do volume urinário Esse transportador faz transporte ativo secundário. Ele está acoplado ao gradiente de sódio. O sódio sai da célula pela bomba Na-K-ATPase. O cloreto sai da célula por um canal iônico específico, localizado na membrana basolateral. Por sua vez, o potássio pode sair da célula pela membrana basolateral, por um canal específico, assim como a membrana luminal possui um canal específico para potássio, permitindo que ele retorne para o lúmen. Se o potássio retorna para o lúmen, ele devolve uma carga positiva para o lúmen e gera uma diferença de potencial entre ele e o líquido intersticial de 8mV → permite a reabsorção de íons carregados positivamente (pelo transporte passivo na via paracelular) O ramo espesso da alça de Henle também promove secreção de H+→ transporte ativo secundário. TÚBULO DISTAL INICIAL Ocorre absorção de sódio, cloreto, cálcio e magnésio. Existe na membrana luminal um transportador específico para sódio e cloreto (transporte ativo secundário) → o sódio sai da célula pela bomba Na-K-ATPase e o cloreto possui um canal iônico específico. Dessa forma, cloreto e sódio atingem o interstício e retornam para a corrente circulatória, sendo reabsorvidos Esse transportador é inibido por ação dos fármacos tiazídicos, que constituem a segunda classe mais potente de diuréticos. TÚBULO DISTAL FINAL E TÚBULO COLETOR O túbulo distal final e túbulo coletor possuem células principais e células intercaladas do tipo A e B. Rhayra Villa – Fisiologia renal 14 As células principais são responsáveis pela reabsorção de NaCl e pela secreção de potássio. Na presença de ADH, as células principais também são responsáveis pela reabsorção de água. As células intercaladas do tipo A são responsáveis pela reabsorção de bicarbonato e potássio e pela secreção de H+. As células principais do túbulo distal final e túbulo coletor são alvo de ação da aldosterona, hormônio esteroide sintetizado pelo córtex da adrenal. Esse hormônio tem capacidade de atravessar a membrana plasmática das células do túbulo distal final e do túbulo coletor, se associando com receptores de mineralocorticoides no interior da célula. Dessa forma, ocorre regulação da expressão genica e aumento da síntese de canais de sódio, que serão inseridos na membrana luminal, de componentes mitocondriais e da bomba Na-K- ATPase *A reabsorção de sódio pelas células principais sofre regulação da aldosterona → a aldosterona promove reabsorção de sódio e secreção de potássio. Existem fármacos que são antagonistas da ação da aldosterona, como a espirolactona. Ela também está na classe dos diuréticos, mas é um diurético poupador de potássio → não haverá reabsorção de sódio e, consequentemente, não haverá secreção de potássio. O canal de sódio pode ser bloqueado também por alguns fármacos, que também terão efeitos diuréticos. As células intercaladas do tipo A secretam H+ por ação de uma bomba H+ATPásica e de uma bomba H+-K+-ATPásica → é possível secretar H+ e reabsorver potássio. Esse potássio posteriormente é lançado no interstício e corrente circulatória devido a presença de um canal de potássio na membrana basolateral. O H+ que é secretado é proveniente da reação da anidrase carbônica. O lançamento do HCO3- no interstício ocorre por contra-transporte com o cloreto. Assim, as células intercaladas também são capazes de secretar cloreto, pois o cloreto que entrou na célula encontra um canal iônico específico na membrana luminal. Rhayra Villa – Fisiologia renal 15 A célula intercalada do tipo B, por sua vez, apresenta, na membrana luminal, contra- transporte HCO3- e Cl-, sendo capaz de secretar íons bicarbonato (também sintetizado na ação da anidrase carbônica) e reabsorver cloreto. *O H+, por sua vez, será lançado na corrente sanguínea. O ducto coletor medular também reabsorve NaCl, ureia e bicarbonato e também secreta H+. Na presença de ADH, também é capaz de reabsorver água. Osmolaridade do Filtrado *Na presença de ADH, o túbulo distal final e o túbulo coletor se tornarão permeáveis à água e ocorrerá uma alteração no valor de osmolaridade da urina – ela fica menos diluída Métodos de Depuração para Quantificar a Função Renal Depuração = clearance → volume de plasma que fica livre de determinada substância por minuto (mL por min) Determinação da TFG Pode-se usar a depuração de inulina para estimar a taxa de filtração glomerular. É uma substância livremente filtrada, que não sofre reabsorção nem secreção → a quantidade de inulina presente na urina é igual a quantidade filtrada. Também pode-se utilizar o clearance de creatinina para determinar a TFG. Rhayra Villa – Fisiologia renal 16 É mais utilizado pois a creatinina é produto do metabolismo de creatina-fosfato, ou seja, uma substância endógena. Entretanto, a creatinina sofre uma pequena taxa de secreção, o que não impede o uso do seu clearance para estimar a TFG. Existe uma relação inversa entre concentração plasmática de creatinina e taxa de filtração glomerular → quanto menor a taxa de TFG, maior será a concentração de creatinina plasmática Concentração plasmática de creatinina aumentada pode ser um indicativo de disfunção renal! Entretanto, sendo produto do metabolismo, existem outros fatores que podem levar a esse aumento. Determinação do FPR Através dos métodos de depuração, também pode- se determinar o fluxo plasmático renal. Para isso, utiliza-se o clearance do para-amino hipúrico(PAH), pois ele é um fármaco livremente filtrado e altamente secretado, de forma que a quantidade que chega na arteríola eferente será igual à quantidade excretada na urina. Embora a secreção do PAH seja altamente elevada, a veia renal não ficou totalmente livre. Assim, é necessário corrigir o clearance do PAH pela sua taxa de excreção. 10% do PAH ainda permanece no sistema venoso, ou seja, a taxa de excreção é 0,9. Comparando-se o clearance de inulina com o de outras substâncias livremente filtradas, podemos estimar se elas sofrem reabsorção ou secreção Valor inferior: reabsorção Valor superior: secreção
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