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Parasitologia Mila Schiavini MED 101 Família Ascarididae: Ascaris lumbricoides e Toxocara canis 1. Ascaris lumbricoides: • Causam a doença denominada ascaridíase. • Nome popular: lombriga. ❖ Importância: • É um geohelminto (tropismo pelo solo). Seu ciclo biológico depende de uma passagem pelo solo para que haja desenvolvimento dos ovos ou de larvas. • Ocorre em quase todos os países, principalmente os de clima tropical e subtropical. • Afeta principalmente crianças (1 a 12 anos). • Frequência depende das condições climáticas, ambientais e desenvolvimento da população. • Segundo a OMS, cerca de 1 bilhão de pessoas estão infectadas. ❖ Morfologia: • Vermes longos, robustos, cilíndricos e com extremidades afiladas. o Machos: 20cm. Fêmeas: 40cm. o Eles não se rompem com facilidade. o Região anterior contendo uma boca trilabiada, com finalidade se se fixar à parede do intestino provocando um trauma. Região posterior no macho é espiralada e na fêmea alongada. o Possuem respiração anaeróbica. • Fases evolutivas: macho, fêmea e ovo. o Os ovos serão encontrados misturados às fezes do hospedeiro. o As fêmeas e os machos poderão ser encontrados misturados às fezes do indivíduo parasitado e eventualmente sendo eliminados do organismo, independentemente de estar havendo defecação, pela região anal ou por outras regiões do corpo como narinas e boca. o Formas adultas normalmente muito próximas no intestino delgado, podendo formar novelos. o Quando o ovo é eliminado nas fezes do indivíduo parasitado ele é apenas um ovo embrionado, levará entre 2 e 3 semanas para que a larva no interior do ovo se desenvolva, desde que ele esteja em contato com o ambiente externo. Há necessidade da passagem desse ovo pelo solo com certo teor de umidade, sombreamento e arenoso. o O ovo é arredondado com o formato da casca irregular, chamado de formato mamilado ou mamilonado. Os ovos são muito numerosos. o O ovo embrionado é liberado juntamente às fezes do indivíduo. o O ovo larvado é encontrado no solo. Posteriormente, essa larva vai sofrer um desenvolvimento, chegando ao estágio infectante. Se esse ovo for ingerido com a larva infectante em seu interior, a larva será capaz de colonizar o organismo humano e determinar a formação de vermes adultos. o O ovo infértil vai ser encontrado misturado às fezes do indivíduo parasitado. Eles não se desenvolverão. Se ingeridos não determinam infecção, pois a larva não se desenvolverá. • Habitat: intestino delgado humano (jejuno e íleo). Dependendo da quantidade de vermes, pode ocasionar uma obstrução intestinal. ❖ Ciclo biológico: • Monoxênico. • 300.000 ovos não embrionados/fêmea/dia (50% vão embrionar, 50% se tornarão inférteis). • Maturação dos ovos: temperatura (entre 20 e 30°C), umidade (alta, 60%) e oxigenação adequados (as larvas precisam de altas taxas de oxigênio para se desenvolverem no ciclo pulmonar; os adultos são anaeróbios). • L1 (dentro do ovo) → L2 (dentro do ovo) → L3 (infectante). Parasitologia Mila Schiavini MED 101 • Ingestão pelo hospedeiro. • Ovos eclodem no intestino delgado. • L3 atravessa parede intestinal, cai na circulação sanguínea. • Pulmões: muda para L4. • Alvéolos pulmonares: muda para L5. • Sobem pelos brônquios, traqueia e faringe. • São deglutidas, se fixam no intestino delgado e transformam-se em adultos. • Fase pulmonar: ciclo de Looss. - Após ingerir os ovos larvados, esses ovos passarão intactos pelo estômago; chegando ao intestino delgado, haverá a liberação da larva que é infectante; essa larva infectante será capaz de penetrar na parede do intestino delgado do indivíduo e atingirá vasos sanguíneos, caindo na corrente circulatória venosa chegando no coração direito; ciclo pulmonar: essa larva vai ser bombeada juntamente com o sangue para os pulmões, entrará nos alvéolos pulmonares e neles sofrerá duas mudas, uma muda de larva infectante L3 para L4 e de L4 para L5. A L5 vai penetrar no lúmen do pulmão, ou seja, vai escalar o parênquima pulmonar, subindo pelas vias aéreas do indivíduo chegando a faringe, sendo deglutida e atingindo o esôfago, onde será conduzida ao estômago passando intacta por ele, e chegará ao intestino delgado onde se fixará e dará origem aos vermes adultos. Machos e fêmeas se desenvolverão, iniciarão a cópula e acontecerá a eliminação dos ovos juntamente às fezes. ❖ Transmissão: • Ingestão de água e alimentos contaminados com ovos contendo larva infectante. • Poeira e insetos: veiculação mecânica. • Depósito subungueal (depósito de estruturas parasitárias debaixo das unhas). Há comprovação científica de que os ovos de Ascaris podem se desenvolver nesse local. ❖ Patogenia: • Larvas: o Infecções maciças: lesões hepáticas (pela passagem das larvas via sistema porta) e pulmonares. o Em crianças: Síndrome de Loeffler → febre baixa, tosse produtiva e eosinofilia sanguínea acentuada. Clinicamente, há discretos sinais de bronquite. • Vermes adultos: infecções médias ou maciças. o Ação tóxica: edema intestinal, urticária (as toxinas liberadas pelo verme caem na corrente circulatória e desencadeiam manchas vermelhas na pele com prurido). A absorção do indivíduo diminui, favorecendo o emagrecimento e a desnutrição. Parasitologia Mila Schiavini MED 101 o Ação espoliadora. Ele se apropria de alimentos semidigeridos e não digeridos. Se apropria de altas taxas de carboidratos, lipídios e vitaminas, gerando um emagrecimento do hospedeiro. Eles geram uma competição alimentar. A carência de vitamina A ocasiona pano branco, eventualmente nas bochechas. o Ação mecânica: irritação na parede (provocando quadros diarreicos) e obstrução intestinal. o Localização ectópica: apêndice cecal, vesícula biliar, pâncreas, boca, narinas e ouvido. Algumas larvas conseguem se desenvolver nos seios da face e no ouvido interno. o Intussuscepção: obstrução de alças intestinais que ficarão paralisadas; as alças não obstruídas pelos vermes sofrerão um processo de invaginação (uma alça entrará na outra alça) gerando um processo de necrose nessas alças intestinais. 45% dos casos de obstrução ocorrem em crianças menores de 2 anos. ❖ Sintomatologia: • Desconforto abdominal – cólicas intermitentes. • Dor epigástrica e má digestão. • Náuseas. • Perda de apetite e emagrecimento – competição por vitaminas como a B12. • Sensação de coceira no nariz. • Irritabilidade. • Sono intranquilo. • Ranger de dentes à noite. ❖ Pessoas Hipersensíveis: • Urticária. • Crises de asma brônquica. • Convulsões. • Crises epileptiformes. • Meningites. ❖ Epidemiologia: • Helminto mais frequente nas áreas tropicais. • 30% da população mundial. • 70 a 90% das crianças de 1 a 10 anos. • Fatores que interferem na prevalência: o Grande produção de ovos. o Viabilidade do ovo infectante. o Condições precárias de saneamento. o Temperatura e umidade ambiental elevada. o Dispersão dos ovos: Chuva, vento e insetos. o Adultos: Imunidade adquirida. ❖ Profilaxia: • Educação sanitária. • Construção de fossas. • Lavar as mãos antes de manipular alimentos. • Tratamento em massa da população. • Proteção dos alimentos contra insetos. ❖ Tratamento: • Anti-helmínticos recomendados (essas drogas não agem sobre larvas ou adultos fora dos intestinos, nesses casos a correção deve ser cirúrgica): o Piperazina, em uso há cerca de 3 décadas, que produz paralisia muscular flácida do helminto e permite sua expulsão passiva. Recomendada na obstrução intestinal por áscaris, associado a um antiespasmódico. ParasitologiaMila Schiavini MED 101 o Pamoato de pirantel é um produto sintético, insolúvel na água e pouco absorvível, e se mostra eficaz também contra outros nematoides. o Levamisol é um anti-helmíntico de largo espectro, do grupo do mebendazol. o Mebendazol, composto pouco solúvel, de largo espectro. Cura próxima de 100%. Praticamente sem efeitos colaterais, mas contraindicado para epilépticos. o Flubendazol, do mesmo grupo que o mebendazol e também de amplo espectro. - Deve-se repetir a medicação! 2. Toxocara canis: • Larva migrans visceral (LMV) e Larva migrans ocular (LMO). • Síndrome causada pela migração de larvas de T. canis no organismo humano. • Parasito de cães e gatos – fase adulta. • Cães novos se infectam pela ingestão de ovos com a L2. • Transmissão transmamária e transplacentária. Começando a eliminar os ovos do verme entre às fezes com uma semana de vida. • A partir do segundo mês os cães desenvolvem resistência. • Esses vermes não se desenvolvem até a fase adulta fora do organismo de seus hospedeiros naturais (cães, primeiramente e gatos, secundariamente). O ser humano vai apenas apresentar um quadro clínico relacionado a presença das larvas do verme em seu organismo. • Larva migrans visceral, se afetar órgãos internos (principais: fígado e pulmões) e larva migrans ocular, se essas larvas se instalarem no globo ocular. ❖ Infecção no homem: • Ingestão de ovos com L2. Esses ovos levam de 1 a 2 semanas para amadurecerem no solo depois que são liberados nas fezes. Geohelminto. • Intestino delgado: eclosão dos ovos. Acompanhado com o desenvolvimento da L2 que mudará para L3. • L3 penetram na parede intestinal, caem na circulação sanguínea e atingem diversos tecidos: fígado, pulmões, coração, medula óssea, musculatura e olhos. ❖ Sintomatologia: • LMV: o Depende da quantidade de larvas (pouca quantidade: assintomático), do órgão invadido e da resposta imune do paciente. o Pulmão: tosse produtiva, dispneia, anorexia e dor abdominal. o SNC: manifestações neurológicas como crises convulsivas e epileptiformes. o Crianças são as mais afetadas devido à resposta imune não eficiente. • LMO: o Lesões unilaterais envolvendo coroide, retina e vítreo. o Podem levar a catarata ou perda da visão: abscessos eosinófilos tendem a produzir o descolamento da retina e opacificação do humor vítreo, com perda da visão. ❖ O parasito: Toxocara canis. • Como vários nematoides de animais que infectam ocasionalmente o homem, este parasito não completa seu ciclo biológico normal, no organismo humano, permanecendo como uma larva migrans visceral, em diferentes tecidos. • O verme adulto assemelha-se ao Ascaris, medindo a fêmea de 6 a 18 cm e o macho de 4 a 10 cm. • Além de 3 lábios que precedem a boca, possuem 2 expansões cervicais em forma de aletas (asas cefálicas). ❖ Epidemiologia: • Presença de cães e gatos em locais como praias, parques, praças, creches (caixas de areia). • Crianças: ingestão de ovos de Toxocara na terra ou objetos. Doença mais complicada: entre 2 e 5 anos de idade. • Cães novos: principal fonte de infecção. Parasitologia Mila Schiavini MED 101 • Fator de contaminação do solo: eliminação de muitos ovos e resistência dos mesmos. • Controle: exame e tratamento de cães e gatos. • Evitar acesso dos animais a locais públicos. ❖ Diagnóstico: • Fundamenta-se em dados clínicos, hematológicos, radiológicos (nódulos pulmonares), biópsia ou métodos imunológicos. • O ser humano não eliminará ovos, pois não terá os adultos em seu intestino, então o exame parasitológico de fezes não será efetivo. • Quadro clínico pulmonar da larva migrans visceral humana pode ser a síndrome de Loeffler: febre, tosse e eosinofilia sanguínea. ❖ Tratamento: • Em geral, ele é desnecessário, por serem as infecções benignas e autolimitadas, principalmente em indivíduos acima de 15 anos. Abaixo dessa faixa etária, pode ser necessário o tratamento. • A duração do parasitismo pode alcançar de 6 a 18 meses. • Mas, pacientes dos grupos de alto risco para reinfecções ou superinfecções, devem ser tratados. • Utilizar albendazol, mebendazol, tiabendazol ou dietilcarbamazina. A repetir após uma semana, se necessário. • Na toxocaríase ocular, usar prednisona e triancinolona em vez de anti-helmínticos.
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