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CIRURGIA MÓDULO Discente: Anna Beatriz Fonseca MedFTC2021.1 – 4º SEMESTRE – TURMA A – TUT3 Adaptação Anna Beatriz Fonseca Anna Beatriz Fonseca 1. Atendimento inicial ao queimado 2. Cicatrização 3. Pré-operatório 4. Pós-operatório 5. Princípios Anestésicos 6. Desequilíbrios da Hemostasia 7. Suporte Nutricional 8. Cirurgia Segura 9. Complicações Cirúrgicas 10. Curativos 11. Equilíbrio Ácido-Base 12. Resposta Endócrino Metabólica Imunológica ao trauma (REMIT) Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre INTRODUÇÃO CONCEITO Pela Sociedade Brasileira de Queimados, queimaduras são feridas traumáticas, causadas, na maioria das vezes, por agentes térmicos, químicos, elétricos ou radioativos, que atuam nos tecidos de revestimento do corpo humano, determinando destruição parcial ou total da pele e seus anexos e pode até atingir camadas mais profundas (ex.: TCSC, músculos, tendões e ossos). O que determina a gravidade das queimaduras? A influência por temperatura e pelo tempo de exposição. EPIDEMIOLOGIA Dado OMS: 5ª causa de morte acidental no mundo; Cerca de 11 milhões de atendimentos médicos/ano no mundo, e desses, 300 mil mortes. Há quase 1 milhão de queimados/ano no Brasil, sendo 200 mil atendidos em emergências, 50 mil internações e o óbito corresponde à 3ª maior causa de morte traumática (ficando atrás de homicídios e acidentes automobilísticos); 25 a 30% dos casos são crianças: o São problemas à longo prazo, tanto médico (ex.: cicatrizes podem limitar o crescimento de determinada parte do corpo), como social (ex.: limitações econômicas/laborais). Mortalidade no Brasil: Foco em SP, RJ, MG, BA, AL, SE, ES, PB, DF e PE. Com a disseminação do uso do álcool em gel na pandemia para a higienização das mãos e a flexibilização da venda do produto mais concentrado (70%), centros de tratamento de todo o país têm registrado aumento de internações por queimaduras: o Nas unidades de Queimados, houve aumento de 2 a 3 vezes nos acidentes de queimaduras por combustão de álcool. FATORES DE R ISCO Crianças menores que 5 anos, principalmente por escaldadura e queimadura por contato; Idosos e pessoas com deficiência/limitações; Adultos: Alcoolismo, senilidade, transtornos psiquiátricos e doenças neurológicas (ex.: epilepsia), trabalho. ETIOLOGIAS LESÕES TÉRMICAS Queimaduras térmicas podem resultar de qualquer fonte externa de calor (chama, líquidos, objetos sólidos ou vapor). O fogo também pode causar inalação de fumaça tóxica. Nesse tipo de lesão, deve-se considerar a cinética do trauma, que é influenciada pelo veículo que causou a queimadura e fatores como viscosidade (tendência ao “grude”), ponto de ebulição (limite de temperatura a 99°C, visto que 100° evapora) e tipo de chama. Chama: Gravidade e intensidade da lesão depende do tamanho da chama (ex.: vela ou fogo de siderúrgica); Escaldadura: Água (limite de 99°C) ou óleos (viscosos e com maiores pontos de ebulição): o Água a 60°C por 3s ou a 69°C por 1s faz a queimadura de 2º grau, ou seja, atinge a derme profunda. Geladuras. LESÕES QUÍMICAS Ácido, base ou outro composto orgânico são os responsáveis pela queimadura, precisando então fazer a diluição em água e remoção de excessos. Curiosidade: O dano tecidual causado pela queimadura química é progressivo, pois o agente químico continua a causar dano até que ele seja neutralizado; portanto quanto mais precoce o atendimento, menor será a destruição tecidual. Sendo assim, a precocidade do tratamento inicial (irrigação com água fria e corrente das áreas de contato) é central na determinação do prognóstico, junto com a remoção das roupas contaminadas. LESÕES ELÉTRICAS Nessa queimadura, que pode ser direta ou por eletroporação (lesão em membrana celular), é preciso saber o trajeto de entrada e saída da corrente elétrica afim de saber o caminho da corrente elétrica. Tipo alta voltagem: Mais de 1000V; Tipo baixa voltagem: Menos de 1000V. Curiosidade: Resistência elétrica: Do tecido duro para o mole, ou seja, Osso > tendão > pele > músculo > vaso > nervo. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre LESÃO POR RADIAÇÃO Queimaduras por radiação são mais comuns por exposição prolongada aos raios ultravioleta (queimadura solar), embora também possam ocorrer por exposição intensa a outras fontes de radiação ultravioleta (p. ex., bronzeamento artificial), radiografia ou outras radiações não solares. FISIOPATOLOGIA Inflamação com vasodilatação e aumento da permeabilidade capilar, resultando em edema (intenso 8 a 12 horas depois do trauma) e transudação; Perda de líquidos e proteínas para o 3° espaço com hipovolemia (congestão pulmonar), hemoconcentração e hipoproteinemia (aumento de edema); Ativação de mediadores endógenos com o alto risco para infecções, que causa sepse. RELEMBRANDO A ESTRUTURA DA PELE A pele é o maior órgão do copo humano e desempenha inúmeras funções, entre elas de termorregulação e endócrina. Figura 1: Estrutura da pele. Epiderme: Epitélio estratificado pavimentoso queratinizado: o Estrato córneo; Estrato lúcido; Estrato granuloso; Estrato espinhoso; Estrato germinativo ou camada basal: Está o substrato chamado de queratinócito, responsável pela proliferação, proteção e cicatrização dessa área. Isso explica porque as queimaduras superficiais cicatrizam, caracterizando a queimadura de primeiro grau. Derme: o Derme papilar e derme reticular. O que diferencia a queimaduras de segundo grau é a camada da derme que é atingida, sendo a papilar superficial e a reticular a profunda, caracterizada por ter todos os queratinócitos lesados. Tecido subcutâneo: Caso a queimadura atinja o TCSC, é classificada como de terceiro ou quarto grau, dependendo da profundidade. Figura 2: Profundidade das queimaduras nas camadas da pele. PROFUNDIDADE DAS QUEIMADURAS PR IMEIRO GRAU Atinge a camada mais superficial da pele: a epiderme: Figura 3: Queimadura de primeiro grau. Ex.: Queimadura solar que cursam sem formação de bolhas. Características: Lesão eritematosa (vermelhidão), seca, quente e dolorosa (ardor), com sensibilidade aumentada, presença de descamação e tem regeneração rápida (em média 1 semana), além de formar áreas esbranquiçada com pressão digital. Curiosidade: A área esbranquiçada com pressão digital é indício de queimadura restrita à epiderme, devido a essa camada não possuir vasos. Tratamento: Hidratação oral, analgésicos e hidratação da pele (ex.: compressas frias nas primeiras horas pós-trauma). o Essas queimaduras possuem um excelente resultado estético e não precisam de abordagem ou seguimento. Queimaduras de 1º grau não são contabilizadas nas fórmulas de SCQ. SEGUNDO GRAU Atinge a epiderme e derme, há literaturas que usam a expressão espessura parcial. Ex.: Escaldadura ou por chama. Características: Lesão úmida com formação de bolhas, edema e dor, que tem regeneração mais lenta. Figura 4: Queimadura de segundo grau. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre SUPERFICIAL Alcança a camada papilar da derme. Lipidema (fundo) róseo: Indicio de não destruição do plexo subepidérmico com reepitelização garantida; Restauração: 2 a 3 semanas. Tratamento: Desbridamento, lavagem com soro, e adição de antibiótico tópico ou malha curativa de prata – possui um agente pró-tópico – (ex.: sulfadiazina de prata), e é feito o curativo. Geralmente não precisam de tratamento cirúrgico, pois não há formação de cicatriz e os resultados estéticos são bons. PROFUNDA Alcança a camada reticular (mais profunda) da derme. Lipidema esbranquiçado: Todos os capilares da derme superficial já foram destruídos, bem como a epiderme, precisando então de enxertia (cirurgia). Restauração: 3 a 9 semanas com formação de cicatriz. Tratamento: Por apresentar um pior resultado estético, com risco de cicatrização hipertrófica, se faz necessário a enxertia cirúrgica. A de segundo grau profunda irá precisar de cirurgia, enquanto a superficial irá revitalizar. TERCEIRO GRAU Lesão que atinge, pelo menos o TCSC (tecido celular subcutâneo), mas pode atingir ossos, levando a deformidades sérias, além de trazer riscos para carcinoma espinocelular (queimaduras por altas temperaturas, químicas ou elétricas). Características: Lesão branco nacarado (branca ou amarela) e hipoálgica (devido ao comprometimento da inervação sensitiva). Pode haver presença de carapaça seca e preta/marrom. Não há presença de bolhas. A cicatrização ocorre à custa de contração da ferida (fibrose); portanto, a estética e funcionalidade (em articulações) estará comprometida. Figura 5: Queimadura de terceiro grau. Tratamento: Ressecção, desbridamento precoce e cirurgia (ex.: enxertia ou reconstrução com retalhos). Figura 6: Halo de queimadura: Quando existir uma lesão com grau de queimadura mais avançado no centro, ao seu redor terá um grau menor envolvendo-a. Devido a isso, a dor na queimadura de terceiro grau não deve ser excluída, pois a dor aumenta na periferia devido a não destruição total das fibras nervosas. QUARTO GRAU Lesão tão profunda que acomete ossos e musculatura, fazendo mumificação; Envolve carbonização; Tratamento: Amputação ou retirada do tecido morto. Figura 7: Queimadura de quarto grau. Atenção: Queimadura não acidental, como identificar? Demora em procurar ajuda; Várias versões da mesma história; História de abuso ou violência familiar; Inconsistência de idade-desenvolvimento: o Ex.: Criança de 2 meses não é capaz de tocar em panela quente. Interação criança-cuidador e sentimentos do queimado; Escaldaduras em luva e meia ou com linhas de imersão clara e sem respingo; Dobras preservadas (proteção). EXTENSÃO DAS QUEIMADURAS ZONAS DE JACKSON Figura 8: Zonas de Jacson. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre ZONA DE COAGULAÇÃO Caracterizada por tecido morto, ou seja, tecido necrosado com desnaturação de proteínas, logo é irreversível. ZONA DE ESTASE OU PENUMBRA Caracterizada por ser uma lesão na microcirculação circundante e, por isso, ter diminuição da perfusão tecidual. Porém, ainda são áreas possíveis de recuperação, logo o essencial é evitar que a área de coagulação acometa a área de penumbra. ZONA DE HIPEREMIA Tecido pouco queimado, caracterizado por mediadores pró inflamatórios e vasodilatação -> pouco risco de necrose pela zona de coagulação. AVALIAÇÃO INICIAL O tratamento do grande queimado, necessita de avaliação inicial e ABCDE do trauma antes mesmo do curativo, visto que é considerado o maior catabólico da medicina e o “melhor” protótipo do politrauma. Avaliação primária: Tratamento imediato na emergência: 1. Avaliar segurança da área; 2. Interromper processo de queimadura (ex.: abafar foco através de toalha úmida); 3. Retirar roupas, anéis e joias (ainda aquecidos pode ser veículo de calor e pode fazer síndrome compartimental); 4. Cobrir com pano limpo ou manta térmica platinada levando a perda de calor e desidratação. Tratamento na sala de emergência: Figura 9: A avaliação do grande queimado adquire a letra F. Avaliação secundária: o Consiste de um exame minucioso da cabeça aos pés; o Regra da história AMPLA: Alergias, medicamentos, passado médico, líquidos e alimentos ingeridos recentemente, ambiente relacionado ao trauma/mecanismo do trauma. o Radiografias: Rx do tórax (anteroposterior – AP); Rx da pelve no leito; Rx da cervical não deve ser descartável. A – AIRWAY (VIAS AÉREAS E PROTEÇÃO DE COLUNA) A via área do queimado pode ser acometida a partir de lesões por inalação, que é a maior preditora de mortalidade no grande queimado (aumento da taxa em cerca de 30 a 40%), visto que 20 a 80% morrem com patologias pulmonares (ex.: sepse de foco pulmonar). Suspeitas de lesão por inalação: Ambiente fechado, tempo de exposição a fumaça, queimaduras em face, alterações agudas da voz (rouquidão), escarro carbonáceo, dispneia IRA com estridor e tosse e queimadura de vibrissas; Suspeita de intoxicação por monóxido de carbono: Ligação CO- Hb (interação 240x mais forte do que Hb-O2) que leva 6 a 14 horas para se desfazer: o Conduta para paciente hipoxêmico: Se o paciente estiver acordado e lúcido: Oferecer uma máscara não inalante com oxigênio a 100% (por 3 horas); caso o paciente esteja rebaixado, sedado, com queimadura da via aérea ou outro problema: deve-se fazer uma intubação orotraqueal e ventilação mecânica com fração de inspiração de O2 a 100%: Com isso, a carboxihemoglobina reduz o tempo de dissociação para 1h-1h30m. o Logo após, endoscopia/broncoscopia com lavado bronquioalveolar e repetição em 48h depois. Fazer também Raio-X e gasometria; o Se queimar a via aérea irá causar edema, e esse diminui ou impossibilita a respiração do paciente, logo não há como proceder com a intubação orotraqueal, tendo que fazer uma via aérea cirúrgica: cricotomia. B – BREATHING (VENTILAÇÃO) Pensar sempre em síndrome do compartimento torácico ou compartimental – em queimaduras de 3º grau – que faz restrição do movimento respiratório (paciente não expande o tórax), fazendo baixo volume corrente. Conduta: Escarotomia: Incisão laminar torácica do TCSC para retirada de tecidos endurecido e desvitalizados). Figura 10: Escarotomia em paciente queimado. Lembrando que não precisa de anestesia por ser queimadura de 3º grau (indolor). As incisões sangram minimamente. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre C – CIRCULATION (CIRCULAÇÃO) Síndrome compartimental em músculos de membros. Os braços e pernas são retidos em compartimentos, chamados de fáscias, e, com o edema da queimadura irá provocar compressão em vasos, podendo levar a amputamentos. Figura 11: Conduta: Fasciotomia: Incisão descompressiva da fáscia se houver sinais de má perfusão (pulso tardio), edema, parestesia e pele pálida, fria e dura. D – DRUGS AND DISABILITY Glasgow e avaliação de alcoolismo e drogas. Glasgow ≤ 8: Intubação para proteger as vias aéreas. E – EXPOSURE (EXPOSIÇÃO) Avaliar a exposição da superfície corpórea queimada (SCQ) do paciente e prevenir a hipotermia. REGRA DE WALLACE OU REGRA DOS NOVE Figura 12: Regra dos nove. Cabeça e pescoço = 9% (4,5% região anterior e 4,5% região posterior); Membro superior (cada) = 9% (4,5% região anterior e 4,5% região posterior); Tronco = 36% (18% região anterior e 18% região posterior); Membro inferior (cada) = 18% (9% região anterior e 9% região posterior); Períneo e Genitália = 1%. Figura 13: As crianças têm uma porção da superfície corpórea relativamente maior na cabeça e no pescoço, que é compensada por uma superfície relativamente menor nas extremidades inferiores. A mão (aberta e com os dedos estendidos) do paciente corresponde a 1% da superfície corpórea. CLASSIF ICAÇÃO DE LUND-BROWDER Figura 14: Classificação de Lund-Browder em que cada faixa etária possui uma relação de diferença de tamanho. Como prevenir a hipotermia? Manta térmica laminada/aluminizada e cobertor com ventilador de aquecimento; Soro aquecido (cálculo de superfície corpórea queimada). F – FLOW RESSUCITATION (RESSUSCITAÇÃO HIPOVOLÊMICA) Em indivíduos queimados a ressuscitação volêmica faz parte das condutas iniciais devido a sua importância em evitar complicações. O processo de queimadura promove uma grande perda de líquidos, e se não nos atentarmos a essa condição o nosso paciente pode evoluir rapidamente para um choque hipovolêmico. Fórmula de Parkland (4mL/kg/%SCQ – 4 x pes0 x superfície corpórea queimada), quantifica o valor de infusão para restauração da volemia no queimado desidratado. A solução preferível utilizada para irrigar é o Ringer lactato: Administração em 24h a partir do momento do trauma com metade do volume (50%) nas primeiras 8 horas e a outra metade (50%) nas próximas 16 horas: o É preferível a utilização do ringer lactato pois é isotônico. O soro fisiológico pode causar acidose hiperclorêmica, e a solução de coloide, albumina, drogo vasoativa, AINE e diuréticos aumentam a morbimortalidade. O cálculo é realizado com, no mínimo, 20 e, no máximo, 50% da SCQ para não hiper-hidratar o paciente: o Ex.: Se queimar 80% da SCQ, usa-se 50% na fórmula. O ATLS da última edição sugere que ao invés de usar a fórmula de Parkland, usar a fórmula modificada, a Brook: 2 a 4 x peso x SCQ: o Mantêm 4x peso x SCQ para queimaduras elétricas. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre A verificação de oferta apropriada é feita através da sonda vesical de demora (SVD), que fornece o débito urinário (volume urinado/kg/hora), normal: se for maior do que 0,5mL/kg/h ou a diurese, normal: se variar de 30 a 50mL/h. o Queimadura elétrica tem meta de débito urinário dobrada (1mL/kg/h), bem como de diurese (60 a 100mL/h): Avaliar eventual mioglobinúria e estimule o aumento da diurese com maior infusão de líquidos. Levando para a prática: 1. Ex.: Paciente com 50kg e SCQ 50%. Qual o volume que deve ser reposto no paciente para evitar desidratação? R: 4mL x 50kg x 50% = 10.000, sendo 5000 ministrada nas primeiras 8h e outros 5000 nas próximas 16h. 2. Queimado com 65kg, chega ao pronto-socorro às 15h com 60% de SCQ. O bombeiro avisa que o paciente sofreu o acidente as 10h. Quanto de infusão esse paciente precisará? R: 4mL x 65kg x 50% = 13.000, sendo 6500 administrada nas primeiras 3 horas e 6500 nas próximas 16h. o Porque 6500 em 3h se deveria ser 8h? Pois o paciente já está queimando a 5h (desde as 10h e já são 15h), logo 8h– 5h = 3h restantes. Conduta: Avaliar a extensão e profundidade da queimadura; acesso venoso que normalmente é calibroso; analgesia; cateterismo vesical ou registro diurese e BH -> para avaliar hidratação; curativo; e quando necessário encaminhar para um centro de tratamento de queimado (CTQ). o Acesso venoso: obtenha preferencialmente acesso venoso periférico e calibroso, mesmo em área queimada, e somente na impossibilidade desta utilize acesso venoso central. Figura 15: Ressuscitação Hipovolêmica por tipo de queimadura. GRANDE QUEIMADO O paciente grande queimado é usado para designar vítimas de queimadura graves. É aquele que apresenta: SCQ ≥ 25% (faixa etária de 10 a 40 anos); SCQ ≥ 20% (crianças < 10 anos ou adultos > 40 anos); SCQ ≥ 10% em queimaduras de 3º grau; Qualquer queimadura envolvendo olhos, ouvidos, face, mãos, pés e períneo; Queimaduras elétricas de alta voltagem; Toda queimadura complicada por trauma grave ou lesão inalação; Todos os pacientes queimados que apresentam comorbidades graves. Muitos serviços empregaram o termo para toda vitima queimadura que necessita de atendimento especializado em centro de queimados. A INTERNAÇÃO NO CENTRO DE TRATAMENTO DE QUEIMADO (CTQ) ESTÁ INDICADA: Figura 16: Critérios para transferência. Queimaduras elétricas possui uma conduta particular: Identificar se o trauma foi por fonte de alta tensão, por corrente alternada ou contínua e se houve passagem de corrente elétrica com ponto de entrada e saída: o São lesões internas (de dentro para fora), atingindo músculos com edema, apesar de pele intacta; o Inconsciência e parada cardiorrespiratória: Relato de desmaios podem indicar fibrilações, arritmias e IAM devido à alta voltagem. Avaliar a extensão da lesão e a passagem da corrente; Avaliar os traumas associados (queda de altura e outros traumas); Avaliar se ocorreu perda de consciência ou parada cardiorrespiratória (PCR) no momento do acidente; Procurar sempre internar o paciente que for vítima deste tipo de trauma: o Tratamento específico: UTI com monitoração, cardioscopia por 24-48h, ECG e MNM (marcadores de necrose miocárdica) seriados, fazer a coleta de sangue para a dosagem de enzimas (CPK e CKMB), avaliação da síndrome compartimental e verificar a necessidade de Escarotomia com Fasciotomia em tais segmentos e realizar hidratação – mais que os outros queimados – (com o choque, muitos eletrólitos e K+ são liberados no sangue). Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre ANATOMIA E FIS IOLOGIA DA PELE A pele é composta por 2 camadas: Epiderme e derme + o tecido celular subcutâneo (hipoderme). Um dano nessas camadas pode desorganizar a conformação dessas camadas, em especial a derme, desencadeando uma série de acontecimentos que visam a reparação dessa estrutura com a formação de tecido cicatricial – a cicatriz representa o ponto final do processe de recuperação tecidual. Para o paciente a cicatriz traduz marcas emotivas e pessoais. A cicatrização nunca é ou volta a ser como o tecido era antes da lesão (ou seja, integro), pois o tecido da cicatriz é de reparo. EPIDERME Camada externa da pele, estratificada, queratinizada e avascular, que tem função na proteção imunológica natural, na termorregulação, no metabolismo e na relação com o meio ambiente. Estrato Córneo (regiã0 mais espessa): Células mortas, anucleadas e achatadas, com citoplasma rico em queratina, que dão resistência ao atrito; Estrato Lúcido: Camada fina (as vezes ausente, como na pálpebra) formada por células achatadas, anucleadas e translúcidas; Estrato granuloso: Presença de granulócitos de queratina, conferindo impermeabilidade de água e moléculas na pele; Estrato espinhoso: Células com alto poder de coesão e resistência ao atrito; Estrato basal: Camada responsável da cicatrização, por ter células vivas que geram os queratinócitos e possuem alta atividade mitótica. DERME Derme papilar: Camada fina e superficial de tecidos vascularizados frouxos: o Característica por reentrâncias (papilas), que abriga, por exemplo, folículos pilosos; o Os vasos partem do subcutâneo e entram na derme para formar os plexos subdérmicos e subepidérmicos; Derme reticular: Camada mais profunda de tecidos mais densos e menos vascularizados, tendo também anexos cutâneos. VASCULARIZAÇÃO: Os angiossomos são a unidade funcional, que auxilia a vascularização da pele, recebendo os vasos profundos para irrigar determinados tecidos, possibilitando que um vaso de 1 a 3mm irrigue um trecho de 20 a 40cm. 1. Os vasos mais profundos originam os vasos perfurantes, que chegam nos músculos, rompendo-o ou atravessando suas fáscias, até chegar no angiossomo da pele; 2. Ao atravessar a camada muscular e o tecido celular subcutâneo, o plexo subdérmico é formado e ele segue perfurando a pele até atingir a camada basal, onde forma o plexo subepidérmico (os outros extratos são vascularizados por difusão). Colágeno: Constituinte importante para a cicatrização, incluindo as cicatrizes maduras e imaturas: Tipo I: Presente em tecidos normais (ex.: pele e tendão) e na cicatriz madura: o Caracterizada pela diminuição do colágeno tipo III e aumento do tipo I. Tipo II: Presente nas cartilagens; Tipo III: Presente em vasos sanguíneos e na cicatriz imatura, tendo um padrão mais desorganizado; Tipo IV: Constitui a membrana basal. CINÉTICA DO TRAUMA O motivo da lesão permite saber o tipo de ferimento causado (inclusive o agente causador), mensurar a exposição e pensar no fechamento e riscos da lesão. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre FER IMENTOS FECHADOS A pele não é lesada, mantendo a barreira fechada (sem risco de infecção), mas, mesmo assim, pode acometer o tecido subcutâneo, músculo, tendão e ligamentos, ex.: contusões, distensões e fraturas e luxações fechadas. FERIMENTOS ABERTOS Lesão abrasiva: Superfície desepidermizada, que não ultrapassa a derme papilar (ex.: raladuras); Lesão cortocondusa (ex.: uso de machado); Puntiformes: Instrumentos pontiagudos que fazem o mesmo trajeto de ida e volta (ex.: agulha); Lesão perfurante/penetrante (ex.: arma de fogo); Lesão incisivas: Instrumentos cortantes (ex.: bisturi e faca); Avulsão: “Arrancamento” de tecido (ex. escalpelamento); Esmagamento: Lesão tecidual irreversível; Laceração: Lesões irregulares, incontroláveis e desprogramadas (ex.: mordeduras): o Mordedura animal: Faz-se a contagem de bactérias (que é geralmente alta), além de avaliar o fechamento, levando em conta o tempo, a localização e o grau de infecção. Dependendo da lesão, é preciso desbridar, reaproximar as bordas e acompanhar se necessário tratamento: Cães e gatos: Atenção para Pasteurella multocida, que se trata com amoxilina-clavulanato e anti- rábica; Humanos: Atenção à Eikenella corrodens, tratando com amoxilina-clavulanato e se considera a profilaxia viral. Profilaxia anti-tetânica: Avaliar primariamente se a exposição (área afetada, profundidade, infecção) foi de baixo ou alto risco. No Brasil, a profilaxia usada é: Se a pessoa não for vacinada ou é desconhecida: Baixo risco faz 3 doses e alto risco faz 3 doses e imunoglobulina (SAT/IGHAT); Vacinado a mais de 10 anos: Baixo risco faz reforço e alto risco faz 1 dose e imunoglobulina (SAT/IGHAT); Vacinado entre 5 e 10 anos: Baixo risco não é necessário vacinação e alto risco faz avaliação se necessário reforço e imunoglobulina (SAT/IGHAT); Menos de cinco: Tratamento conservador, ou seja, não necessário a profilaxia anti-tetânica. CLASSIF ICAÇÃO DAS FER IDAS CIRÚRGICAS Limpas: Não-traumáticas e assépticas, sem passagem por trato intestinal, gênito-urinário ou respiratório (Risco de 1- 5%), ex.: mamoplastia de aumento; Limpas contaminadas: Pequenas violações da técnica asséptica ou passagem pelos tratos (Risco de 8-11%); Contaminadas: Ferida traumática ou com extravasamento profuso do conteúdo (Risco de 15-16%); Sujas: Evidência de infecção instalada, como drenagem de abcesso e desbragamentos de tecido infectado (Risco de 24- 40%). CICATRIZACÃO NORMAL O processo de cicatrização apresenta uma cascata de eventos divididos, didaticamente, em três fases. Importante ressaltar que a cicatrização, na prática, é um processo contínuo, sendo que uma mesma ferida pode apresentar simultaneamente as três fases, visto que elas se sobrepõem e se completam. FASES FASE INFLAMATÓRIA Inicia-se no momento da lesão cutânea e estende-se até 2-3 dias dependendo da profundidade da lesão. 1. O primeiro evento que ocorre é a hemostasia, com a vasoconstricção e a formação do tampão plaquetário (cascata de coagulação - rede de fibrina -), que tem função de barreira contra a perda sanguínea, além de liberar mediadores inflamatórios (ex.: PDGF – fator de crescimento derivado de plaquetas e TGFβ – fator de crescimento transformador beta) que são pró-inflamatórios; 2. Em seguida, por ação de diversas prostaglandinas, ocorrem vasodilatação, aumento do fluxo sanguíneo e permeabilidade capilar, o que causa extravasamento de líquidos (edema) e facilita o afluxo de células da linhagem branca para o local da •Hemostasia • Inflamação Fase inflamatória •Fibroplastia •(Neo)Angiogênese •Reepitelização Fase proliferativa •Contratura •Remodelação da cicatriz Fase de maturação Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre lesão – ex.: os neutrófilos (pico com 24h) são responsáveis pela fagocitose, liberação de substâncias bactericidas e pelo desbridamento (remoção de células e tecidos desvitalizados), retardam a cicatrização por atuarem como substrato para desenvolvimento bacteriano e uma barreira física para o tecido de granulação e epitelização. 3. Os macrófagos liberam mediadores inflamatórios (ex.: citocinas) para atração de fibroblastos (sintetiza fibras) e células endoteliais auxiliando na ativação dos elementos celulares das etapas seguintes. FASE PROLIFERATIVA Inicia-se por volta de 3 dias após a lesão e estende-se por 3 semanas. Os eventos dessas fases são desencadeados e estimulados por mediadores celulares originários das plaquetas, neutrófilos e macrófagos. 1. Na fibroplastia, há migração de fibroblastos (pico em 7 dias) e é marcada pela síntese de colágeno tipo III que fornece força e tênsil à cicatriz (produção e deposito de colágeno, elastina, fibronectina, glicosaminoglicanos, ácido hialurônico e etc. para formação da cicatriz imatura); 2. Na neoangiogênese consiste na formação de novos capilares pela proliferação de brotos endoteliais. A união do colágeno e dos outros componentes com os capilares forma o tecido de granulação; 3. A epitelização é o crescimento do novo epitélio para cobrir a ferida, pela multiplicação de queratinócitos e dos anexos dérmicos. FASE DE MATURAÇÃO OU REMODELAÇÃO Inicia-se em torno de 21 dias após a lesão e estende-se até meses ou anos. 1. Nessa fase, ocorre a substituição do colágeno III para o colágeno tipo I (mais resistente), até que chegue à proporção de 4:1. Isso leva ao aumento da resistência tênsil da cicatriz conforme ocorrem a reorganização do colágeno e ao aumento de suas ligações cruzadas (tornando a cicatriz imatura em madura); 2. Além disso, a partir da aproximação de queratinócitos na epiderme, ocorre a contração da ferida pela ação dos fibroblastos e miofibroblastos que reduzem o tamanho da ferida e aproximam as bordas, remodelando a cicatriz. PARTICULARIDADES DE D IFERENTES TECIDOS OSSOS Na fase inflamatória ocorre dois fenômenos: A osteoindução (transformação de células precursoras do endósteo, periósteo e de tecidos circundantes em osteoblastos), seguida pela osteocondução (entrada osteoblastos no local da fratura); 1. O primeiro resultado é a formação do calo ósseo, que é composto por fibroblastos e osteoblastos – mais frágil que o osso normal; 2. Logo após é remodelado em osso lamelar, que é semelhante à estrutura óssea do osso sem cicatriz, mas menos resistente. NERVO Figura 2: Lesão no nervo. Axônio distal; Axônio proximal; Neuroma. Cicatrização do axônio distal: Degeneração walleriana por fagocitose de células de Schwann, destruindo a bainha de mielina; Cicatrização do axônio proximal: O nervo continua crescendo, produzindo uma ou mais fibras regenerativas mielinizadas, que formam um “bolo de nervo” = neuroma: o O órgão perde a função sensitiva ou motora depois da lesão. É possível o tratamento: Coaptação nervosa: Reparo da lesão nervosa para não causar atrofia local, por microcirurgia ou lupa de aumento, visto que o nervo cresce 1mm/dia; Caso a lesão seja grande, durante o tratamento, é realizada a fisioterapia passiva ou ativa. FÍGADO Único órgão do corpo humano que é capaz de se regenerar, sem formação de cicatrizes ou fibrose; no entanto, dependendo do tamanho da lesão pode evoluir com cirrose. FETO Até o segundo trimestre tem-se regeneração tecidual e isso significa que, por exemplo, numa biópsia de pleura em busca de possíveis complicações (a agulha passa pela pele da mãe, pele do bebê, pleura e é coletado um pedaço do pulmão) o bebê nasce sem cicatriz. Não se sabe ao certo por que isso acontece: Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre Hipótese: O líquido amniótico é muito estéril e tem muitos fatores de crescimentos. RESISTÊNCIA DA CICATRIZAÇÃO DE PELE Fase inflamatória e fase proliferativa (2 a 3 semanas): Pouca resistente; Fase de remodelamento: Ganho de resistência: o 6 semanas: 50% de resistência final; o 6 a 12 semanas: Aumento contínuo e lento; o 12 meses: 75% do tecido normal. A cicatrização dura 1 ano-1 ano e meio, e não ultrapassa 80-85% da forca tênsil que a pele tinha antes. Como evitar cicatrizes indesejáveis: Conhecimento de áreas de alternância de luz e sombra – colocar a cicatriz em regiões de sombra; Alterações de pigmentação da pele (ex.: mamilo); Conhecimento de áreas de camuflagem (ex.: dobras normais da pele e de roupas); Linhas de força/Langer são linhas de colágeno perpendiculares às musculares: o Se ocorrer lesão na pele e for necessário fazer um corte, o correto é no sentido horizontal para seguir o sentido das linhas de Langer e não o sentido das linhas musculares, pois essas podem alargar e alterar a função da musculatura. Figura 3: Linhas de Langer – lado esquerdo. CICATRIZAÇÃO PATOLÓGICA FATORES QUE INTERFEREM NA CICATRIZAÇÀO Idade: Idosos têm cicatrização mais lenta, devido a menor quantidade de macrófagos (retardo da fase inflamatória); Infecção: Extensão da fase inflamatória que interfere na epitelização, contração e deposição de colágeno: o As Endotoxinas presente realizam fagocitose e liberam colagenases (degrada tecido lesado e saudável). Hipóxia: O oxigênio participa da síntese de colágeno e da divisão celular e na sua falta, leva ao retardo da migração celular: o Menor chegada de fibroblastos e menor resistência das fibras de colágeno; Insuficiência venosa: Alta pressão venosa leva ao extravasamento e acúmulo de proteínas (edema) e diminui a difusão de oxigênio; Insuficiência arterial: Inibe produção de colágeno e predispõe a infecções; Em pacientes com essas comorbidades é preciso tratar primeiro a doença de base e posteriormente a lesão. Fator pressão: o Úlcera por pressão (proeminências ósseas) geram lesões por isquemia; Figura 4: Regiões de incidência das ulceras por pressão. Irradiação: Destrói o processo de angiogênese (isquemia, fibrose vascular e lesão de fibroblasto) e impede a vascularização do epitélio; Feridas crônicas: Deficiência de fatores de crescimento (TNF- α, IL-aumentados) reduz adesão celular e eleva colagenase; Outras causas sistêmicas: Doenças metabólicas e genéticas; Diabetes (A glicose causa alterações nas paredes dos vasos sanguíneos que ficam rígidas e diminuem a capacidade de migração das células inflamatórias e fibroblastos, resultando na diminuiçã0 de colágeno); Desnutrição (baixa de albumina e catabolismo proteico); Tabagismo (nicotina interfere, causando vasoconstricção e hipoperfusão); Imunossupressão (doenças ou medicamentos); Deficiência de vitamina; Uso de corticoide (ação anti-inflamatória que inibe a migração celular de fibroblastos e outras células inflamatórias) e estimula colagenases): o Vitamina A atua como antagonista de glicocorticoides já que age nos eventos deletérios, preservando a epitelização. Utilizado em pacientes em pré-operatório que faz uso de crônico de glicocorticoide. Vitaminas que auxiliam no processo de cicatrização: Vitamina A: Altera adesão celular e deposição de fibronectina e estabiliza membrana do lisossomo; Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre Vitamina C: Destrói bactérias e aumenta a concentração de fibras colágenas; Vitamina B: Eleva fibroblastos na cicatriz; Vitamina E: Melhora resistência e destrói radicais livres; Vitamina K: Sintetiza protrombina e fatores II, VII, IX e X; Zinco: Cofator de metaloenzimas para síntese proteica e crescimento celular; Ferro: Cofator na conversão hidroxiprolina-prolina (utilizado na síntese de colágeno). CICATRIZAÇÃO EXCESSIVA HIPERTRÓFICAS E QUELOIDES Representam um crescimento exagerado de tecido fibroso que surge com uma resposta a uma lesão cutânea. Acontece a deposição excessiva de colágeno X degradação de colágeno. Figura 5: Respectivamente, cicatriz hipertrófica e queloide. As hipertróficas mantem-se dentro dos limites da cicatriz inicial, crescem no início formando cordões endurecidos, elevados e avermelhados, mas geralmente, regressam com o decorrer dos meses ou anos: o Excesso de colágeno III em paralelo com miofibroblastos abundantes e colágeno extracelular, corresponde de 5- 15% das cicatrizes. Os queloides têm crescimento mais exacerbado que ultrapassam os limites iniciais da cicatriz, além de não regredirem espontaneamente com o decorrer do tempo: o Única dos seres humanos; o A cicatriz espessa a pele (princ. estrato córneo) devido ao desequilíbrio caracterizado pelo o aumento da síntese de colágeno em relação a degradação do mesmo; o Predisposição: Cicatrizes de alta tensão (quanto mais fibroblastos, mais síntese de colágeno); cicatrizes que estão orientadas em direção da tensão ou contra linha de força/Langer e quando a lesão é extensa ou por segunda intenção. o Epidemiologia: Maior prevalência em jovens, negros e asiáticos; Há predisposição genética; Não existe diferença da predisposição entre homens e mulheres. !!!Obs.: Histologia: A cicatriz hipertrófica e queloide mostram abundância de colágeno tipo III na derme. O tecido de queloide é predominantemente composto por colágeno tipo I e III alinhados no mesmo plano da epiderme, em oposição ao tecido cicatricial normal, contendo colágeno hipocelular pouco corado, sem nódulos e sem excesso de miofibroblastos. Ambos possuem uma produção aumentada de proteínas derivadas de fibroblastos como a fibronectina, sugerindo persistência patológica dos sinais inflamatórios na ferida em cicatrização ou a falha do down regulation das células da ferida. Diferenças clínicas Hipertróficas Queloide Características Rósea, “dura” e limitada Violácea e ilimitada Prurido e dor Eventual Prurido, dor e ardor Desenvolvimento Para de crescer ou regride Não regride e cresce Incidência Mais comum Menos comum Associação anatômica Não Orelha, ombro e pré-esternal Sempre precedida por lesão Sim Não Recorrência após cirurgia Raro Maioria Resolução espontânea Sim Não Compressão Efetiva Não cessa TRATAMENDO MALHAS COMPRESSIVAS (Prevenção de cicatriz hipertrófica) Faz isquemia (reduz coesão e atividade de fibroblastos), inibe ação da colagenase e estabiliza mastócitos. Não funciona para queloide. PLACAS DE SILICONE (+ para cicatriz hipertrófica) Oclui e esquenta área, que reduz TGF-β, hidrata queratinócitos e ativa colagenase. CORTICOSTEROIDE Reduz síntese de colágeno e mediadores inflamatórios (não funciona sempre - 9- 50%). INTERFERON Reduz produção de fibroblastos. 5-FLUROURACIL Antimetabólico que inibe a proliferação de fibroblastos. CRIOTERAPIA Lesiona microvasculatura para modifica a síntese de colágeno e diferenciação de fibroblastos. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre EXCISÃO Remoção do tecido anormal. RADIAÇÃO (BETA-TERAPIA) Inibe angiogênese e fibroblastos. O tratamento de queloides sempre tem risco de recidivas e, com a falhas de alguns, aposta-se na excisão seguida por beta-terapia (e mesmo assim, há riscos de recidiva). CONTRAÇÃO CICATRICAL X CONTRATURA TECIDUAL A contração cicatricial é um processo fisiológico e benéfico de união entre fibroblastos e miofibroblastos para fechamento da ferida, mas difere da contratura tecidual, que é uma aderência, patológica, deformante causada pela retração exagerada do tecido cicatricial (necessário fazer cirurgia). Tratamento não cirúrgico (dilatações, massagens, fisioterapia) e cirúrgicos (retirada do tecido e correção com retalhos, enxertos e etc.). Figura 6: Contração tecidual. Referências: 1. Transcrição aula Dr. Victor Felzemburgh; 2. Campos, Humberto. Cirurgia Plástica para estudantes de medicina. 1ª ed. Salvador BA: Editora Sanar, 2020. Levando para a prática: 1. Sobre a cicatrização de feridas e as fases do processo de cicatrização, assinale a correta: a) É dividida em 04 fases: inflamatória, proliferativa, migratória e contrátil. b) Na fase de remodelação, existe um aumento da força tênsil da cicatriz decorrente da reorganização das fibras de colágeno. c) As fases da cicatrização são bem determinadas e individualizadas. d) O resultado da cicatrização não depende de fatores como: localização anatômica, tipo da pele, raça e técnica cirúrgica utilizada. 2. (AMRIGS 2014) Relacione a Coluna 1 à Coluna 2, associando as fases de cicatrização com os fenômenos que as envolvem. Coluna 1: 1. Maturação. 2. Retração. 3. Fibroplasia. 4. Inflamatória. 5. Aguda. Coluna 2: ( ) Há vasodilatação e redução do fluxo sanguíneo e, no local da ferida, há tumor, turgor, rubor e dor. ( ) Intensa proliferação endotelial, com afluxo de fibroblastos que se depositam na zona de reparação, formando um tecido de granulação. ( ) Caracteriza-se por uma contração da cicatriz e pela epitelização. O tecido de granulação contrai-se, e as feridas abertas reduzem a sua área com superfície cruenta, facilitando a cobertura por epitelização. A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: a) 4 – 4 – 3. b) 5 – 3 – 1. c) 4 – 3 – 1. d) 5 – 2 – 4. e) 1 – 5 – 2. 3. As células mais importantes na fase proliferativa da cicatrização são: a) Macrófagos. b) Neurófilos. c) Basófilos. d) Fibroblastos. 4. Sobre o processo de cicatrização patológica, marque a incorreta: a) A cicatrização anormal é gerada pela produção excessiva de colágeno e o prejuízo na sua degradação. b) A cicatriz hipertrófica pode regredir espontaneamente. c) O queloide não pode aumentar de tamanho e cede a compressão. d) O queloide é mais comum em pessoas negras e asiáticos e acomete homens e mulheres em igual proporção. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre INTRODUÇÃO Não existe cirurgia isenta de risco; A longevidade leva ao aumento do número de cirurgias e assim, eleva o risco de complicações; Principais fatores: o Condição do paciente, local/tipo da intervenção cirúrgica; tempo de cirurgia; tipo de anestesia. O bom preparo pré-operatório é fundamental para o sucesso de qualquer procedimento cirúrgico. De forma objetiva pode ser dividido em: Geral; Específico para determinadas operações; Preparo de pacientes portadores de doenças prévias. AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA Análise clínica que mensura o risco do procedimento proposto e o risco de complicações nos pacientes cirúrgicos com objetivo de identificar fatores de risco e adotar medidas para corrigir, controlar ou estabilizar esses fatores, reduzindo eventos adversos. Orientação da avaliação pré-operatória: o Achados semiológicos (história clínica e exame físico) do paciente que são sugestivos de disfunções orgânicas; o Dados epidemiológicos que sugerem o benefício da avaliação baseada em idade, sexo ou padrão de progressão de doenças. Determinantes da avaliação pré-operatória: o De acordo com o risco do procedimento planejado (baixo, médio ou alto); o Técnica anestésica planejada; o Ambiente pós-operatório do paciente (ambulatorial ou hospitalar, leito de enfermaria ou unidade fechada). Além disso, a avaliação pré-operatória é útil para identificar os fatores de risco do paciente quanto à morbidade e à mortalidade pós-operatórias: o Se a avaliação pré-operatória encontrar comorbidades significativas ou evidência de controle insatisfatório de uma doença preexistente, pode ser necessária a consulta com um clínico ou médico especialista para facilitar o trabalho e direcionar a conduta. É inevitável uma boa comunicação entre as interespecialidades para juntos analisaram e decidirem o melhor para o paciente. CONSULTA INIC IAL Anamnese e exame físico (identificar possíveis fatores de riscos e doenças coexistentes ex.: comorbidades e alergias); Definir necessidade de exames complementares; Avaliação com especialistas: o Em doenças graves controladas e não controladas. Estabelecer diagnóstico, incluindo alergias; Propor tratamento cirúrgico; Aplicar termo de consentimento livre e esclarecido; Estabelecer vínculo médico-paciente-família. EXAMES PRÉ-OPERATÓRIOS HABITUAIS ECG (> 40 anos em homens e > 50 anos em mulheres); RX de tórax (> 60-65 anos); Hemograma (procedimentos com risco de sangramento > 500ml); Creatinina (> 40-50 anos); Glicemia (> 40-45 anos) Sumário de urina (se indicação de sondagem vesical); β-HCG (mulheres em idade fértil). SISTEMA DE ESTRATIF ICAÇÃO DE R ISCO A classificação da Sociedade Americana de Anestesia (ASA) é um preditor independente de morbidade e mortalidade, que consta com cinco categorias quanto ao estado físico: I: Paciente normal e saudável; II: Paciente que possui doença sistêmica leve: o Ex.: IMC de 30-40, DM controlado, fumante; III: Paciente com doença sistêmica grave que limita a atividade, mas não o deixa incapacitado: o Ex.: IMC > 40, DM não controlado, dependente químico; IV: Paciente portador de doença incapacitante que é uma ameaça constante à vida; V: Paciente moribundo/terminal, que não tem expectativa de sobreviver 24 horas com ou sem operação. A letra “E” é adicionada a qualquer uma categoria para indicar uma operação de emergência. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre SISTEMAS CARDIOVASCULAR Grande parte da avaliação de risco e preparação pré-operatória concentra-se no sistema cardiovascular devido ao grande índice de mortalidade e, por isso, é avaliado o risco de complicações cardíacas mesmo em procedimentos não-cardíacos. Patologias: Principalmente pacientes com HAS, ICC, DAC e arritmias; Exames: Eletrocardiograma, ecocardiograma, teste ergométrico, ergoespirometria, cintilografia, miocárdica e CATE; Os medicamentos de uso habitual devem ser mantidos; O principal exemplo para estratificação de risco é o critério de Goldman de risco cardíaco para cirurgia não cardíaca, o qual mensura os fatores de risco através de pontuação: Tabela 1: Índices de risco cardíaco. Uma vez obtidos os dados de risco, o cirurgião e seus consultores pesam riscos e benefícios da cirurgia e determinam se alguma intervenção pré-operatória pode reduzir as possibilidades de uma eventualidade cardíaca. Pacientes podem precisar de revascularização miocárdica, modificação na escolha da anestesia ou uso de monitoramento invasivo intra-operatório; Caso a cirurgia seja eletiva, ela será suspensa para tratar a doença cardíaca a fim de diminuir os efeitos adversos de uma cirurgia eletiva, ex.: o Aguardar 4-6 semanas após angioplastia para ter remodelamento cardiovascular e muitos pacientes desenvolvem dupla agregação, aumentando o risco de sangramento pós-operatório; o Aguardar 4-6 semanas após IAM. PULMONAR Avaliação pré-operatória da função pulmonar pode ser necessária para procedimentos cirúrgicos gerais ou torácicos: Procedimentos torácicos e da parte superior do abdome podem diminuir o funcionamento pulmonar e predispor a complicações: o Procedimentos neurocirúrgicos, da parte inferior do abdome e das extremidades têm pouco efeito no funcionamento pulmonar e rotineiramente não requerem estudos da função pulmonar. Fatores gerais para complicações: o Idade avançada; o Estado funcional dependente; o Perda de peso; o Obesidade; o Nível de albumina baixo (desnutrição), visto que os músculos são a nossa reserva nutricional de proteínas (essenciais para a resposta metabólica ao trauma); o Comorbidades: AVC, ICC, IRA, uso crônico de esteroide e transfusões sanguíneas; o Fatores pulmonares: DPOC, tabagismo, produção de escarro, pneumonia, dispneia e apneia obstrutiva do sono. Exames (avaliam o volume expiratório forçado no 1° segundo ou VEF1, a capacidade vital forçada e a capacidade de difusão do CO): RX de tórax e Espirometria; Intervenções pré-operatórias: o Suspensão de cigarro (> 2 meses, caso ele não consiga interromper nesse tempo é melhor que ele não interrompa); o Terapia broncodilatadora; o Tratamento de infecções existentes (ATB); o Pré-tratamento de asma. RENAL Aproximadamente 5% da população adulta tem algum grau de disfunção renal, o que pode afetar a fisiologia de vários órgãos, causando morbidade adicional no período pré-operatório, e, por isso, a identificação de transtornos cardiovasculares, circulatórios, hematológicos e metabólicos secundários à disfunção renal deve ser a meta da avaliação pré-operatória desses pacientes. Exames: ECG, exames laboratoriais e hemograma completo; Cuidados extra: o Pacientes com anemia crônica devem fazer o uso de eritropoietina no pré-operatório; o Alguns pacientes podem necessitar de hemodiálise no pré-operatório para controle de volume e eletrólitos; o Pacientes que já realizem diálise devem continuar realizando no período pré-operatório e também podem necessitar no pós-operatório; Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre o Atentar para metabolização de agentes anestésicos e fármacos (evitar drogas nefrotóxicas e de efeito prolongado). Prevenção de agressão renal secundária no período pré- operatório: Inclui evitar agentes nefrotóxicos e manter o volume intravascular adequado durante esse período. HEPATOBILIAR A disfunção hepática pode ser consequência comum de muitas agressões ao fígado, incluindo doenças mediadas por vírus, drogas e toxinas, e, nesse caso, o portador, principalmente de hepatopatia crônica, necessita de determinação cuidadosa do grau do dano funcional, assim como um esforço coordenado para evitar agressões adicionais no período pré-operatório. Exames da função hepática: o TGO e TGP (verifica maior processo inflamatório do fígado), FA, GGT e bilirrubinas (essa última representa melhor a função metabólica do fígado); o Sorologias para hepatite; o Albumina sérica, fibrinogênio e protrombina. o Fator V. A evidência de disfunção hepática pode ser percebida com o exame físico: o Icterícia (bilirrubina sérica > 3 mg/dL), teleangiectasias e circulação colateral periumbilical. Pacientes que apresentam hepatite aguda, devem adiar o procedimento por algumas semanas (presença de infecção eleva o risco cirúrgico): o O paciente com evidência de hepatite crônica em geral pode ser operado de forma segura. A estratificação da função hepática mais utilizada ainda hoje é a Classificação de Child-Pugh (mortalidade): o A: Hepatopata compensado com 10% de mortalidade; o B: Hepatopata descompensado com 31% de mortalidade; o C: Hepatopata descompensado com 76% de mortalidade. Quando a doença está descompensada faz-se o tratamento, ex.: o padrão-ouro: transplante, assim como contraindicar qualquer outro tipo de procedimento. Tabela 2: Classificação de Child-Pugh. ENDÓCRINO O paciente que apresenta uma condição endócrina, como DM, hipertireoidismo ou hipotireoidismo e insuficiência adrenal, é vítima de estresse físico adicional durante a cirurgia e assim a avaliação pré-operatória deve identificar tipo e grau da deficiência endócrina para permitir um preparo pré-operatório favorável. DIABETES MELITO Avaliação pré-operatória do paciente diabético: o Adequação do controle de glicemia; o Complicações cardíacas e circulatórias; Retinopatia, Neuropatia e Nefropatia. Exames complementares: o Dosagem da glicemia em jejum e pós-prandial; o Níveis de hemoglobina glicada; o Níveis séricos de eletrólitos, ureia e creatinina sanguíneas (podem identificar distúrbios metabólicos e comprometimento renal): Os exames de urina podem revelar proteinúria (evidência de nefropatia diabética). o ECG (considerado para portadores de doença de longa duração, procurando alterações renais e cardíacas). Suspender antidiabéticos orais no pré-operatório, como sulfonilureias e metformina, para evitar acidose metabólica; Cuidados com insulinas (os níveis de glicose no pré-operatório devem variar de 80 a 150mg/dL) – não deve ser suspensa, mas manejada de forma cuidadosa: o Insulinas de longa duração devem ser suspensas no dia da cirurgia; o Deve-se usar doses menores de insulina de duração intermediária no dia da cirurgia; o Deve-se operar nas primeiras horas do dia a fim de evitar um jejum ainda maior; o Deve-se utilizar solução glicosada de 5% a 10% no intra- operatório, com insulinas de duração rápida sob demanda. Pós-operatório: o Glicemia capilar a cada 4 horas; o Insulina de curta duração de acordo com a glicemia; o Atentar para a alimentação do paciente; o Melhores controles glicêmicos se associam a melhor cicatrização de feridas e risco de infecção hospitalar. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre Insulinas: Insulinas de ação rápida (lispro) e curta (regular) devem ser suspendas após jejum e ajudam a corrigir hiperglicemia; Insulinas de ação intermediária (NPH) – mais utilizada - e longa ação (glargine) devem ser usadas com ⅔ da dose noturna na noite anterior e metade na manhã no dia da cirurgia; Dosagens frequentes de glicemia e correção com insulina de curta ação são feitas se necessário; Iniciar solução glicosada 5% ou 10% na manhã da cirurgia. Tabela 3: Tipos de insulina. DOENÇA TIREOID IANA Um paciente com doença tireoidiana conhecida ou suspeita é avaliado com exames de função tireoidiana, isto é, dosagem de TSH, T4 e T4 livre. Hipertireoidismo: Evidências de nível de TSH muito baixo são abordadas no pré-operatório e a cirurgia é adiada até que se atinja um estado eutireóideo, devido ao risco de crise tireotóxica: o O portador de hipertireoidismo que toma medicação antitireoidiana (ex. metimazol ou propiltiuracil) deve ser orientado a continuar esse regime no dia da cirurgia; o As doses usuais de betabloqueadores ou digoxina do paciente são mantidas. Hipotireoidismo: O paciente com diagnóstico recente de hipotireoidismo geralmente não necessita de tratamento pré- operatório, mas pode estar sujeito a uma maior sensibilidade a medicamentos, incluindo agentes anestésicos e narcóticos: o O hipotireoidismo grave (nível de TSH alto) pode ser associado a disfunção miocárdica, anormalidade de coagulação e distúrbio eletrolítico, principalmente hipoglicemia, precisando ser corrigido antes das intervenções cirúrgicas; o Deve-se manter hormônios tireoidianos em caso de tratamento de reposição. USUÁRIOS CRÔNICOS DE CORTICOSTEROIDES O cortisol é o principal hormônio da REMIT e, por isso, pacientes que usam corticosteroides de forma crônica devem ter sua dose aumentada a fim de mimetizar o efeito da resposta endócrino- metabólico ao trauma, visto que seu eixo hipotálamo-hipófise está suprimido. 50 a 75 mg/dia de hidrocortisona por 1 ou 2 dias, em caso de procedimentos menores e 100 a 150 mg/dia de hidrocortisona por 2 a 3 dias, em caso de procedimentos maiores. IMUNOLÓGICO O objetivo é melhorar a função imunológica antes da cirurgia e minimizar os riscos de infecções e deiscência da ferida. Pacientes imunossuprimidos tem maior risco de complicações de ferida pós-operatória e infecção; Pacientes portadores de HIV devem manter imunossupressão (coquetel). HEMATALÓGICO O estudo do sistema hematológico pode identificar problemas como anemia, coagulopatia herdada e adquirida ou a um estado de hipercoagulabilidade. Anemia: É a anormalidade laboratorial mais frequente no pré- operatório, sendo, no geral, assintomática e assim pode requerer uma investigação mais profunda, para que a sua causa possa ser entendida: o Exames complementares: Hemograma completo; Reticulócitos; Perfil de ferro (ferro sérico, capacidade total de ligação de ferro e ferritina); Ácido fólico; Vitamina B12. o Pré-operatório: É preciso realizar a suplementação de sulfato ferroso, mas geralmente transfusão sanguínea não é necessária: A decisão de realizar transfusões no pré-operatório é feita com base nos fatores de risco para a doença isquêmica cardíaca e no grau de perda sanguínea estimada durante a operação. Diretrizes para a Transfusão de Concentrado de Hemácias para Perda Sanguínea Aguda: Avaliar o risco de isquemia; Estimar ou antecipar o grau de perda sanguínea (menos de 30% de perda rápida de volume provavelmente não precisa de transfusão em indivíduos previamente sadios); Medir a concentração de Hb (10 g/dL indica que a transfusão é raramente necessária); Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre Medir os sinais vitais e a oxigenação tecidual se a hemoglobina for de 6-10 g/dL e a extensão da perda de sangue for desconhecida; Taquicardia e hipotensão refratária ao volume indicam a necessidade de transfusão; Razão de extração de O2 menor que 50% e VO2 diminuída indicam que a transfusão geralmente é necessária. Coagulação: Histórico pessoal ou familiar de sangramento anormal deve ser pesquisado no pré-operatório, sendo necessária a transfusão de plaquetas quando menor que 50 mil: o Anticoagulantes: Warfarin: Suspender 5 doses no pré-operatório para permitir que o índice internacional normatizado (INR) caia para 1,5 ou menos; Heparina não fracionada: Suspender 6 horas antes da cirurgia; Heparina de baixo peso molecular: Suspender 12 horas antes da cirurgia; Filtro de veia cava no pré-operatório: Casos de pacientes com embolia pulmonar ou TVP proximal recentes (menos de 2 semanas); Profilaxia de TEV: Protocolos institucionais. ESTADO NUTRICIONAL Vão precisar restabelecer ou fazer suporte nutricional a fim de melhor o sistema imunológico e endócrino-metabólica: Perda ponderal maior que 10% nos últimos três meses ou 5% em um mês; Nível de albumina, caquexia, dentição podre, ascite ou edema periférico; Pacientes desnutridos e casos graves. SUPORTE NUTRICIONAL Indicado para todos incapazes de usar dieta normal, iniciado de 5- 10 dias antes da cirurgia, podendo ser nasoenteral, parenteral ou ambas. O objetivo principal não é reganho da massa magra (reserva de energia), mas sim otimizar o sistema imunológico do paciente. Desnutrição grave: o Nutrição parenteral no pré-operatório por 7 a 10 dias; o Reduz cerca de 30-40% dos índices de complicações. ANTIBIOCOPROFILAXIA O intuito da profilaxia com antibiótico é reduzir a taxa de infecção, por isso é recomendado usá-la em todas as cirurgias, mas principalmente nas contaminadas ou sujas e infectadas. Figura 4: Classificação das cirurgias. Administrar antes da incisão; Repetir conforme a necessidade e a perda volêmica, e de acordo com a meia vida; O objetivo é reduzir o risco de complicações infecciosas no pós- operatório: o Direcionada principalmente em infecção de sítio operatório superficial e profundo; o Importante: Endocardite infecciosa. PREPARO INTESTINAL Hoje em dia quase não é feito mais, principalmente o preparo mecânico do cólon. Antibióticos orais: Podem aumentar o risco de infecção pós- operatória por Clostridium difficile; Preparo mecânico do cólon: Pode aumentar o risco de deiscência e infecção. MEDICAMENTOS MANTER Drogas cardíacas, como: Betabloqueadores e antiarrítmicos; Drogas pulmonares, como: Inalantes e nebulizantes; Anticonvulsivantes; Anti-hipertensivos; Drogas psiquiátricas. SUSPENDER Redutores de lipídeos e vitaminas devem ser suspensos no dia; Antiagregantes plaquetários: AAS não tem contraindicação, mas deve ter um cuidado maior na cirurgia, e Clopidogrel precisa ser suspenso 7-10 dias antes: o Cirurgias com dupla agregação, em eletivas, devem ser retiradas ou postergadas. AINEs devem ser suspensos um dia antes em pacientes do grupo de risco (acima de 60 anos ou com comorbidades); Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre Estrogênio deve ser suspenso 4 semanas antes; Medicamentos naturais devem ser suspensos 1-7 dias antes (ex. Ginko). JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO Deve se evitar jejum prolongado o máximo possível, pois corre o risco de aspiração ou regurgitação. Sólidos e leite devem ser evitados de 6-8 horas antes; Líquidos devem ser evitados 2 horas antes. CONSULTA PRÉ-ANESTÉSICA Orientações sobre o jejum no pré-operatório; Avaliação de via área difícil; Medicação sedativa pré-anestésica; Revisão das medicações de uso habitual e alergias; Considerar reserva de hemoderivados/tipagem; Considerar reserva de unidade fechada (UTI) para pós- operatório. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS Pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos sofrem alterações súbitas das funções metabólicas e fisiológicas normais, que variam em intensidade, de acordo com o tipo e, nos casos de trauma, também com a gravidade das lesões. Dor, jejum, perda sanguínea, redução da perfusão tissular por lesão extensa e distúrbios funcionais de órgãos vitais geram alterações orgânicas e humorais que visam restabelecer a homeostasia. O objetivo dos cuidados pós-operatórios são a manutenção da homeostase, controle da dor, prevenção e detecção de complicações. Operações eletivas de pequeno e médio portes, geralmente, são realizadas sem intercorrências, acompanhadas de procedimento anestésico adequado, e associado a bom controle da dor pós- operatória, causam poucas alterações nas funções orgânicas no paciente de baixo risco, e requerem mínima intervenção médica. Ao contrário, as de grande porte, em pacientes com grandes lesões teciduais ou com infecções graves, exigem o conhecimento dos ajustes homeostáticos e das medidas necessárias para restabelecimento dos parâmetros hemodinâmicos, nutricionais e cardiovasculares, que irão propiciar adequada cicatrização e reabilitação do paciente. SALA DE RECUPERAÇÃO PÓS-ANESTÉSICA O pós imediato depende muito do porte da cirurgia, seus riscos e o estado do paciente. Permanência de 1-3 horas, variando de acordo com a recuperação pós-anestésica, na qual há monitorização contínua do paciente e principalmente dos seus sinais vitais; Monitoração do retorno à função basal dos sistemas cardiovascular, respiratório e imunológico com base na escala de Aldrete e Kroulik (>8); Depois da sala de recuperação pós-anestésica, o paciente é encaminhado a um quarto ou unidade fechada, dependendo de como o paciente se encontra pós cirurgia. Tabela 1: Escala de Aldrete e Kroulik. AVALIAÇÃO A avaliação é feita através de minuciosos exames físicos repetidas vezes para acompanhar a evolução do paciente e ela depende do porte da cirurgia e do estado do paciente, podendo ter também exames complementares direcionados para as cirurgias e análises de comorbidades específicas (rotina em cirurgias de grande porte). Nível de consciência; Estado hemodinâmico: PA, pulso, PVC e débito urinário; Grau de hidratação; Urina: Volume, cor e densidade; Aparelho respiratório: Frequência e ausculta; Ausculta cardíaca; Abdome: Inspeção, palpação e ausculta; Ferida operatória: Inspeção e palpação; Cateter nasogástrico (CNG): Volume e aspecto da drenagem; Drenos: Volume e aspectos das secreções; Panturrilhas: Dor e edema. PRESCRIÇÃO MÉDICA A medicação pós-operatória deve ser dividida em duas partes: a prescrição de medicamentos propriamente dita e as ordens médicas ou cuidados pós-operatórios, que, idealmente, são feitos de forma separada e sequencial. ORDENS MÉDICAS Repouso: o Relativo: O paciente pode estar deitado, sentado ou deambulando: Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre Deambulação precoce (Preferência): Diminui as taxas de infecções respiratórias e a probabilidade de desenvolver TVP. o Restrito ao leito; o Cabeceira elevada a 30 graus. Dieta (preferencial: via oral; quando não possível: via parenteral); Reposição de hidroeletrolítica e analgesia; Medicações especiais (ex. antibióticos); Sintomáticos: Analgesia, antieméticos e antipiréticos; Profilaxia de trombose venosa profunda e gastrite de estresse (situações especificas); Medicamentos de uso habitual (liberação); Cuidados com cateteres e drenos; Cuidados funcionais: o Fisioterapia respiratória e motora: Sempre e deve ser iniciada o mais cedo possível. Curativos. REPOSIÇÕES REPOSIÇÃO HIDROELETROLÍTICA Nominalmente o consumo de água por um indivíduo normal (60-80kg) é de 25-30ml/kg/dia. Perdas diárias: 800-1500 ml de urina, 250 ml de fezes e 600- 900 ml de perdas insensíveis; Sódio e potássio: o Consumo diário: Na: 1-2mEq/kg/dia e K: 0,5- 1mEq/kg/dia. Tabela 2: Reposição parenterais. REPOSIÇÃO VOLÊMICA Soro fisiológico: o O soro fisiológico, melhor chamado de solução salina, deve ser reservado para situações de reposição volêmica em pacientes com hiponatremia, hipocloremia ou alca10se metabólica. Ringer lactato (via preferencial, devido a quantidade de eletrólitos na composição, que se assemelhando mais a fisiologia do nosso organismo). REPOSIÇÃO GLICÊMICA Soro glicosado 5 ou 10%: o Uti1izado para reposição de água pura para as perdas insensíveis e para administração de algumas calorias da glicose, na tentativa de minimizar o déficit calórico determinado pelo hipermetabolismo do pós-operatório. Glicemia entre de 110-180-200mg/dL; Glicemia capilar 2/2h, 4/4h e de 6/6 h; Insulina de ação rápida se necessário; Hipoglicemia (glicose hipertônica 25 ou 50%). ANTIB IÓTICOTERAPIA O uso de antibióticos em cirurgia é comum seja para prevenir infecção em pacientes de risco, seja para tratamento de infecções instaladas, que demandaram o procedimento cirúrgico ou que surgiram como complicações pós-operatórias. Tabela 3: Antibioticoterapia. ANALGESIA Atualmente diversos tipos de medicamentos são capazes de propiciar um PO confortável. Deve ser feita regularmente e não apenas nos momentos da sintomatologia dolorosa. Preferencialmente a analgesia deve ser multicanal, ou seja, associação de drogas ou modalidades; Principais medicamentos utilizados: o Opioides; o AINEs: Analgésico simples (dipirona ou paracetamol): Analgesia de primeira linha; Pacientes com mais de 60 anos e sem comorbidades, o AINE está como analgésico de segunda linha e os opióides de terceira; Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre Paciente com mais de 60 anos ou com comorbidades usa os opióides como analgesia de segunda linha. o Bloqueios: Epidural, bloqueio de nervos periféricos e raqui. As operações em andar superior de abdome e tórax, da mesma forma que a permanência de drenos produzem mais dor. ALTERAÇÕES F IS IOLÓGICAS DA DOR (REMIT) Aumento da frequência cardíaca, aumento da pressão arterial, aumento da resistência vascular periférica, aumento do trabalho cardíaco, hipoxemia e retenção de CO2; Atelectasias; Dificuldade de tossir, diminuição de volume corrente, capacidade residual funcional e alterações na ventilação/ perfusão; Náuseas, vômito e íleo paralitico; Oligúria, retenção urinaria; Ansiedade e medo; Fadiga; Falta de sono; Imunossupressão; Dor muscular; Estase venosa; Tromboembolismo. ANTIEMÉTICOS Comumente prescritos em casos de anestesia geral e procedimento do trato digestivo alto e da via biliar. Vômitos: Além de desconfortável, aumenta a dor e pode colocar em risco as suturas da parede abdominal, pode ser minimizado pelo uso de: o Procinéticos: Metoclopramida, bromoprida; o Ação central: Dramin, ondansetrona. PROFILAXIA DE TROMBOSE VENOSA PROFUNDA (TVP) Fatores de risco: Idade, obesidade, ACO, doenças cardiovasculares, ICC, FA, câncer, traumatismo de MMII e imobilização prolongada: o Dependem também do risco cirúrgico e assim deve-se seguir os protocolos institucionais. Baixo risco: Deambulação precoce e meias elásticas; Risco médio e alto: Heparina não fracionada ou de baixo peso molecular com filtro de veia cava. Tabela 4: Profilaxia da TVP. Profilaxia mecânica: Meias elásticas, compressão pneumática de MMII e deambulação precoce; Profilaxia farmacológica: Heparina não fracionada ou de baixo peso molecular. GASTRITE DE ESTRESSE Casos de grande queimado, trauma grave e choque hipovolêmico, sepse, coagulopatia, insuficiência respiratória e insuficiência de múltiplos órgãos estão mais suscetíveis a desenvolver a gastrite por estresse, que geralmente tem causa multifatorial. Fluxograma 1: Gastrite de estresse. Medicamentos: o Inibidor de bomba de próton (diminui o sangramento); o Bloqueadores de receptores H2; o Antiácidos; o Sucralfate. ATENÇÃO: Estas drogas têm efeitos adversos, aumentam os custos do tratamento e não devem ser utilizadas indiscriminadamente. OUTROS CUIDADOS Nutrição: Objetiva evitar a cetoacidose do jejum e não o suporte nutricional: o Necessidade basal de 400Kcal/dia em jejum: SG 5% 500ml fornece 25g de glicose (100Kcal). o Dieta oral precoce é importante para o pós-operatório do paciente; o Fatores importantes: Condições pré-operatórias, idade, estado nutricional, intensidade do trauma operatório e complicações (fistula e infecção). Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre Sonda nasoenteral (SNG) ou nasogástrica (SNG): o Casos de íleo no pós-operatório, aspiração gástrica e cirurgias no trato digestivo superior; o Retirar quando drenagem for menor que 400ml e RHA estiverem presentes. Cateter vesical de demora: Exige manipulação adequada durante o período pós-operatório, e deve ser retirado logo que possível, ou seja, assim que houver restabelecimento e manutenção do estado hemodinâmico; Drenos: Não devem ser rotina, isto é, retirar assim que possível: o As drenagens cavitárias podem ser profiláticas, para evitar o acúmulo de líquidos biológicos, após determinados tipos de operações, ou terapêuticas, para drenar coleções ou abscessos. o Fechado ou abertos. Curativos: o Devem ser mantidos nas primeiras 24-48 horas desde que limpos e secos: Curativos especiais (tegaderm, opsite) permanecem por até 05 dias. o Evitar antissépticos e desinfetantes; o Incisões deixadas abertas, para fechamento por segunda intenção ou para fechamento primário retardado, devem ser tratadas diariamente com limpeza com solução salina, desbridamento físico ou químico, se indicado, e oclusão com curativos estéreis. PRESCRIÇÃO MÉDICA PADRÃO Repouso relativo com estímulo à deambulação; Dieta branda quando bem acordado; O2 sob cateter nasal 3L/min SN; SG 500ml + NaCl 20% ou ringer lactato 500ml: o Uso: EV, contínuo, 84ml/h ou 28 gotas/min; o Cefazolina 2g, EV, dose única; o Dipirona 2g, EV, 6/6 horas; o Tramadol 100mg, EV, 8/8 horas, se dor intensa; o Metoclopramida 10mg, EV, 8/8 horas; o Heparina 5.0000UI, SC, 8/8 horas; o Reconciliação medicamentosa; o Fisioterapia motora ou/e respiratória (2x por dia). Sinais vitais de 6/6 horas. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre INTRODUÇÃO O advento da anestesia revolucionou o mundo da cirurgia. No princípio eram utilizados líquidos voláteis como éter e clorofórmio para alcançar os 5 princípios da anestesia: inconsciência, ausência de reflexos, analgesia, relaxamento muscular e amnésia. Nos dias de hoje existem diversas drogas que podem ser combinadas de diferentes formas e em diferentes vias de infusão para alcançar a anestesia. A decisão de qual medicamento e técnica utilizar leva em conta condições do paciente e qual procedimento cirúrgico a ser feito. HISTÓRIA 1846: 1ª anestesia com éter: o Extração de tumor da mandíbula. 1884: 1ª anestesia local com solução de cocaína: o Usada como colírio em uma cirurgia oftálmica. TIPOS Geral: Estado reversível da inconsciência que pode ser alcançado com administração inalatórias ou venosas. O paciente perde a capacidade de respirar espontaneamente, sendo necessário suporte ventilatório. Local: Bloqueio reversível da condução nervosa, em uma área delimitada determinando perda das sensações, sem alteração do nível de consciência ou ação muscular. Regional: Bloqueio dos movimentos e/ou analgesia em apenas uma determinada região do corpo, ex.: um braço, uma perna ou toda região inferior do abdômen. o Algumas literaturas adotam subtipo da anestesia local. ANESTÉSICOS GERAIS Realizados por agentes inalatórios e/ou venosos: Agentes inalatórios: Isoflurano (mais utilizado), sevoflurano e desflurane. o O halotano e Enflurano não são mais utilizados. Agentes venosos: o Diferente dos agentes inalatórios, nenhum agente venoso sozinho possui a capacidade de garantir todos os princípios da anestesia, por isso são utilizados em combinação ou até mesmo apenas no período de indução. o Propofol, Ketamina e opioides. Costuma ser dividida em três fases: 1. Indução: Fase inicial onde o paciente é levado ao estado de inconsciência. É comum ser feito com anestésicos venosos. Quando o paciente irá se submeter a cirurgia e está nervoso, ainda no quarto, pode ser utilizado um pré- anestésico a fim de deixar o paciente mais relaxado: O mais utilizado é o midazolam. 2. Manutenção: Fase onde se monitora o nível de consciência para manter a anestesia. Etapa de extrema importância, pois o controle do nível de sedação tem influência direta no intra e pós-operatório. Sedação superficial pode levar reposta adrenérgica no intra operatório e desenvolvimento de transtorno de estrese pós-traumático a longo prazo. A analgesia adequada também é fundamental, pois consegue reduzir a formação de atelectasias e outras complicações. 3. Recuperação: É o despertar da anestesia. ANESTÉSICOS LOCAIS Os anestésicos locais são substâncias que levam à interrupção na condução do estímulo através do bloqueio dos canais de sódio na membrana do nervo pelas fibras nervosas, e assim, interrompe o potencial de ação (despolarização) dessas fibras. A eficácia dos anestésicos depende de: Volume: Quanto maior o volume injetado, maior a área anestesiada; Concentração: Quanto maior a concentração, maior potência anestésica e menor tempo de latência; Solubilidade lipídica: Quanto maior a solubilidade, maior a passagem através da membrana nervosa e, consequentemente, maior e mais rápida a ação; PKa: Os anestésicos são bases fracas, e, ao serem injetados, se comportarão em um equilíbrio entre formas não ionizadas (ativas) e ionizadas (não ativas). Os anestésicos possuem pKa altos, ou seja, em ambientes de pH neutro, se apresentam mais na forma ionizada do que não ionizada. Assim, quanto menor o pKa do anestésico, maior sua potência, pois maior será sua proporção de forma ativa. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre ANESTÉSICO LOCAL IDEAL Ação em área delimitada; Ação reversível; Baixa agressão tecidual; Início de ação rápida e duração suficiente; Grau reduzido de toxidade; Potente (o suficiente para anestesiar); Boa penetração tecidual; Não desencadear reações alérgicas. PR INCIPAIS ANÉSTESCIOS Lidocaína (Xilocaína) com apresentação de 1% e 2%: o Ação efetiva e segura; o Uso tópico (gel ou spray) ou infiltração local; o Droga antiarrítmica; o pH próximo da neutralizante, logo tem uma baixa reação tecidual. o Baixa latência (1-2 min); o Média duração (1 a 2 horas); o Baixa toxicidade (no SNC, ex.: convulsões); o Dose máxima 7mg/Kg, e caso associada a vasoconstrictor deverá ser aumentada até 10mg/Kg. Bupivacaína (Marcaína) – 0,5% e 0,75% o Anestésicos (altas doses) e analgésicos (baixas doses); o Infiltração local e bloqueio peridural; o Alta potência; o Média latência (2-10 min); o Longa duração (2-5h após injeção epidural, e até 12 horas, após bloqueios nervosos periféricos); o Média/alta toxicidade (SNC e cardiovascular); o Dose máxima 2mg/Kg, e caso associada a vasoconstrictor poderá ser aumentada até 4mg/kg. Ropivacaína (Naropin) – 0,2%, 0,75% e 1%. o Ação semelhante a Bupivacaína; o Média potência; o Longa latência e duração; o Média/Baixa toxicidade. Associação com vasoconstrictor: Os anestésicos locais podem ser associados a um vasoconstrictor levando a redução da velocidade de absorção, logo aumenta o tempo de ação e redução da toxicidade, além da redução do sangramento. o Adrenalina; o Deve-se considerar as condições clinicas do paciente e presença de comorbidade. o A preocupação dessa mistura encontra-se na promoção de isquemia, principalmente quando infundido em extremidades como dedos, nariz e orelha. o Contraindicada: HAS grave, hipertireoidismo; cardiopatia grave; aterosclerose avançada; Feocromocima. EFEITOS ADVENTOS Reações alérgicas; Efeito cardiovascular: o Arritmias; o Parada cardiorrespiratória. Efeito neurológico: o Parestesia perioral; o Zumbidos e estocomas visuais; o Tonturas; o Abalos musculares; o Convulsões localizadas e generalizadas (coma). PREVENÇÃO Aspiração antes da injeção: o Pode detectar punção vascular inadvertidas. Conhecimento da dose máxima segura; Adição epinefrina: o Diminui absorção. TRATAMENTO Caso necessário, avaliar situação de cada paciente: O2 suplementar, monitorização, suporte ventilatório, anticonvulsivantes, suporte cardiovascular. TÉCNICAS DE ANESTESIA Anestesia tópica; Anestesia infiltrativa; Bloqueio de campo; Bloqueios regionais; Anestesias espinhais. ANESTESIA TÓPICA Indicações ideias: o Mucosas do trato respiratório superior, conjuntiva, ouvido, ânus, trato geniturinário. Medicações utilizadas: o Lidocaína; Procaína: Apresentações: Gel, spray, pomada, solução. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre ANESTESIA INF ILTRADA Indicações ideias: o Pequenos procedimentos superficiais em pele, tecido celular subcutâneo ou mucosas: Ex.: Exerese de verrugas, nevos e cistos. Medicações utilizadas: o Lidocaína; Bupivacaína: Apresentação: Solução associada ou não a vasoconstrictor. Técnica: 1. Antissepsia; 2. Colocação do campo cirúrgico; 3. Botão anestésico próximo a lesão; 4. Infiltração de anestésico sob a lesão e em suas laterais. Figura 1: Técnica anestesia infiltrada. BLOQUEIO DE CAMPO Indicações ideais: o Pequenos procedimentos superficiais ou profundos em pele, tecido celular subcutâneo ou mucosas. Medicações utilizadas: o Lidocaína; Bupivacaína. Técnica: 1. Antissepsia; 2. Colocação do campo cirúrgico; 3. Botão anestésico próximo a lesão; 4. Infiltrado de anestésico sob a lesão em área delimitada. Figura 2: Técnica bloqueio de campo. BLOQUEIOS REGIONAIS Anestesia uma região delimitada por um bloqueio de plexo ou nervo específico com anestésicos locais. São usadas para procedimentos em extremidades ou superficiais. Plexo braquial, lombar e nervos periféricos. Figura 3: Aplicação plexo braquial. Vantagens: o Menor estresse fisiológico em comparação as anestesias regionais. o Evita anestesia
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