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Módulo Cirurgia

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CIRURGIA 
 
 
 
MÓDULO 
Discente: Anna Beatriz Fonseca 
MedFTC2021.1 – 4º SEMESTRE – TURMA A – TUT3 
Adaptação Anna Beatriz Fonseca 
 
 Anna Beatriz Fonseca 
 
1. Atendimento inicial ao queimado 
2. Cicatrização 
3. Pré-operatório 
4. Pós-operatório 
5. Princípios Anestésicos 
6. Desequilíbrios da Hemostasia 
7. Suporte Nutricional 
8. Cirurgia Segura 
9. Complicações Cirúrgicas 
10. Curativos 
11. Equilíbrio Ácido-Base 
12. Resposta Endócrino Metabólica Imunológica ao trauma (REMIT) 
Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre 
 
INTRODUÇÃO 
CONCEITO 
Pela Sociedade Brasileira de Queimados, queimaduras são feridas 
traumáticas, causadas, na maioria das vezes, por agentes térmicos, 
químicos, elétricos ou radioativos, que atuam nos tecidos de 
revestimento do corpo humano, determinando destruição parcial 
ou total da pele e seus anexos e pode até atingir camadas mais 
profundas (ex.: TCSC, músculos, tendões e ossos). 
O que determina a gravidade das queimaduras? A influência 
por temperatura e pelo tempo de exposição. 
EPIDEMIOLOGIA 
 Dado OMS: 5ª causa de morte acidental no mundo; 
 Cerca de 11 milhões de atendimentos médicos/ano no mundo, 
e desses, 300 mil mortes. 
 Há quase 1 milhão de queimados/ano no Brasil, sendo 200 mil 
atendidos em emergências, 50 mil internações e o óbito 
corresponde à 3ª maior causa de morte traumática (ficando 
atrás de homicídios e acidentes automobilísticos); 
 25 a 30% dos casos são crianças: 
o São problemas à longo prazo, tanto médico (ex.: cicatrizes 
podem limitar o crescimento de determinada parte do 
corpo), como social (ex.: limitações econômicas/laborais). 
 Mortalidade no Brasil: Foco em SP, RJ, MG, BA, AL, SE, ES, PB, 
DF e PE. 
 Com a disseminação do uso do álcool em gel na pandemia 
para a higienização das mãos e a flexibilização da venda do 
produto mais concentrado (70%), centros de tratamento de 
todo o país têm registrado aumento de internações por 
queimaduras: 
o Nas unidades de Queimados, houve aumento de 2 a 3 
vezes nos acidentes de queimaduras por combustão de 
álcool. 
FATORES DE R ISCO 
 Crianças menores que 5 anos, principalmente por escaldadura 
e queimadura por contato; 
 Idosos e pessoas com deficiência/limitações; 
 Adultos: Alcoolismo, senilidade, transtornos psiquiátricos e 
doenças neurológicas (ex.: epilepsia), trabalho. 
ETIOLOGIAS 
LESÕES TÉRMICAS 
Queimaduras térmicas podem resultar de qualquer fonte externa 
de calor (chama, líquidos, objetos sólidos ou vapor). O fogo também 
pode causar inalação de fumaça tóxica. Nesse tipo de lesão, deve-se 
considerar a cinética do trauma, que é influenciada pelo veículo que 
causou a queimadura e fatores como viscosidade (tendência ao 
“grude”), ponto de ebulição (limite de temperatura a 99°C, visto que 
100° evapora) e tipo de chama. 
 Chama: Gravidade e intensidade da lesão depende do 
tamanho da chama (ex.: vela ou fogo de siderúrgica); 
 Escaldadura: Água (limite de 99°C) ou óleos (viscosos e com 
maiores pontos de ebulição): 
o Água a 60°C por 3s ou a 69°C por 1s faz a queimadura de 
2º grau, ou seja, atinge a derme profunda. 
 Geladuras. 
LESÕES QUÍMICAS 
Ácido, base ou outro composto orgânico são os responsáveis pela 
queimadura, precisando então fazer a diluição em água e remoção 
de excessos. 
Curiosidade: O dano tecidual causado pela queimadura 
química é progressivo, pois o agente químico continua a causar 
dano até que ele seja neutralizado; portanto quanto mais precoce o 
atendimento, menor será a destruição tecidual. Sendo assim, a 
precocidade do tratamento inicial (irrigação com água fria e corrente 
das áreas de contato) é central na determinação do prognóstico, 
junto com a remoção das roupas contaminadas. 
LESÕES ELÉTRICAS 
Nessa queimadura, que pode ser direta ou por eletroporação (lesão 
em membrana celular), é preciso saber o trajeto de entrada e saída 
da corrente elétrica afim de saber o caminho da corrente elétrica. 
 Tipo alta voltagem: Mais de 1000V; 
 Tipo baixa voltagem: Menos de 1000V. 
Curiosidade: Resistência elétrica: Do tecido duro para o mole, 
ou seja, Osso > tendão > pele > músculo > vaso > nervo. 
 
 
 
Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre 
 
LESÃO POR RADIAÇÃO 
Queimaduras por radiação são mais comuns por exposição 
prolongada aos raios ultravioleta (queimadura solar), embora 
também possam ocorrer por exposição intensa a outras fontes de 
radiação ultravioleta (p. ex., bronzeamento artificial), radiografia 
ou outras radiações não solares. 
FISIOPATOLOGIA 
 Inflamação com vasodilatação e aumento da permeabilidade 
capilar, resultando em edema (intenso 8 a 12 horas depois do 
trauma) e transudação; 
 Perda de líquidos e proteínas para o 3° espaço com 
hipovolemia (congestão pulmonar), hemoconcentração e 
hipoproteinemia (aumento de edema); 
 Ativação de mediadores endógenos com o alto risco para 
infecções, que causa sepse. 
RELEMBRANDO A ESTRUTURA DA PELE 
A pele é o maior órgão do copo humano e desempenha inúmeras 
funções, entre elas de termorregulação e endócrina. 
Figura 1: Estrutura da pele. 
 Epiderme: Epitélio estratificado pavimentoso queratinizado: 
o Estrato córneo; Estrato lúcido; Estrato granuloso; Estrato 
espinhoso; Estrato germinativo ou camada basal: Está o 
substrato chamado de queratinócito, responsável pela 
proliferação, proteção e cicatrização dessa área. 
Isso explica porque as queimaduras superficiais cicatrizam, 
caracterizando a queimadura de primeiro grau. 
 Derme: 
o Derme papilar e derme reticular. 
O que diferencia a queimaduras de segundo grau é a camada da 
derme que é atingida, sendo a papilar superficial e a reticular a 
profunda, caracterizada por ter todos os queratinócitos lesados. 
 Tecido subcutâneo: Caso a queimadura atinja o TCSC, é 
classificada como de terceiro ou quarto grau, dependendo da 
profundidade. 
Figura 2: Profundidade das queimaduras nas camadas da pele. 
PROFUNDIDADE DAS QUEIMADURAS 
PR IMEIRO GRAU 
Atinge a camada mais superficial da pele: a epiderme: 
Figura 3: Queimadura de 
primeiro grau. Ex.: 
Queimadura solar 
que cursam sem 
formação de bolhas. 
 Características: Lesão eritematosa (vermelhidão), seca, quente 
e dolorosa (ardor), com sensibilidade aumentada, presença de 
descamação e tem regeneração rápida (em média 1 semana), 
além de formar áreas esbranquiçada com pressão digital. 
Curiosidade: A área esbranquiçada com pressão digital é 
indício de queimadura restrita à epiderme, devido a essa camada 
não possuir vasos. 
 Tratamento: Hidratação oral, analgésicos e hidratação da pele 
(ex.: compressas frias nas primeiras horas pós-trauma). 
o Essas queimaduras possuem um excelente resultado 
estético e não precisam de abordagem ou seguimento. 
Queimaduras de 1º grau não são contabilizadas nas fórmulas 
de SCQ. 
SEGUNDO GRAU 
Atinge a epiderme e derme, há literaturas que usam a expressão 
espessura parcial. 
 Ex.: Escaldadura ou por chama. 
 Características: 
Lesão úmida com formação 
de bolhas, edema e dor, que 
tem regeneração mais lenta. 
Figura 4: Queimadura de 
segundo grau. 
Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre 
 
SUPERFICIAL 
Alcança a camada papilar da derme. 
 Lipidema (fundo) róseo: Indicio de não destruição do plexo 
subepidérmico com reepitelização garantida; 
 Restauração: 2 a 3 semanas. 
 Tratamento: Desbridamento, lavagem com soro, e adição de 
antibiótico tópico ou malha curativa de prata – possui um 
agente pró-tópico – (ex.: sulfadiazina de prata), e é feito o 
curativo. Geralmente não precisam de tratamento cirúrgico, 
pois não há formação de cicatriz e os resultados estéticos são 
bons. 
PROFUNDA 
Alcança a camada reticular (mais profunda) da derme. 
 Lipidema esbranquiçado: Todos os capilares da derme
superficial já foram destruídos, bem como a epiderme, 
precisando então de enxertia (cirurgia). 
 Restauração: 3 a 9 semanas com formação de cicatriz. 
 Tratamento: Por apresentar um pior resultado estético, com 
risco de cicatrização hipertrófica, se faz necessário a enxertia 
cirúrgica. 
A de segundo grau profunda irá precisar de cirurgia, enquanto 
a superficial irá revitalizar. 
TERCEIRO GRAU 
Lesão que atinge, pelo menos o TCSC (tecido celular subcutâneo), 
mas pode atingir ossos, levando a deformidades sérias, além de 
trazer riscos para carcinoma espinocelular (queimaduras por altas 
temperaturas, químicas ou elétricas). 
 Características: Lesão branco nacarado (branca ou amarela) e 
hipoálgica (devido ao comprometimento da inervação 
sensitiva). Pode haver presença de carapaça seca e 
preta/marrom. Não há presença de bolhas. 
 A cicatrização ocorre à custa de contração da ferida (fibrose); 
portanto, a estética e funcionalidade (em articulações) estará 
comprometida. 
Figura 5: Queimadura 
de terceiro grau. 
 
 Tratamento: Ressecção, desbridamento precoce e cirurgia (ex.: 
enxertia ou reconstrução com retalhos). 
Figura 6: Halo de queimadura: 
Quando existir uma lesão com grau de 
queimadura mais avançado no centro, 
ao seu redor terá um grau menor 
envolvendo-a. Devido a isso, a dor na 
queimadura de terceiro grau não deve 
ser excluída, pois a dor aumenta na 
periferia devido a não destruição total das fibras nervosas. 
QUARTO GRAU 
 Lesão tão profunda que acomete ossos e musculatura, fazendo 
mumificação; 
 Envolve carbonização; 
 Tratamento: Amputação ou retirada do tecido morto. 
Figura 7: Queimadura de quarto 
grau. 
 
 
 
Atenção: Queimadura não acidental, como identificar? 
 Demora em procurar ajuda; 
 Várias versões da mesma história; 
 História de abuso ou violência familiar; 
 Inconsistência de idade-desenvolvimento: 
o Ex.: Criança de 2 meses não é capaz de tocar em panela 
quente. 
 Interação criança-cuidador e sentimentos do queimado; 
 Escaldaduras em luva e meia ou com linhas de imersão clara e 
sem respingo; 
 Dobras preservadas (proteção). 
EXTENSÃO DAS QUEIMADURAS 
ZONAS DE JACKSON 
Figura 8: Zonas 
de Jacson. 
 
 
 
Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre 
 
ZONA DE COAGULAÇÃO 
Caracterizada por tecido morto, ou seja, tecido necrosado com 
desnaturação de proteínas, logo é irreversível. 
ZONA DE ESTASE OU PENUMBRA 
Caracterizada por ser uma lesão na microcirculação circundante e, 
por isso, ter diminuição da perfusão tecidual. Porém, ainda são 
áreas possíveis de recuperação, logo o essencial é evitar que a área 
de coagulação acometa a área de penumbra. 
ZONA DE HIPEREMIA 
Tecido pouco queimado, caracterizado por mediadores pró 
inflamatórios e vasodilatação -> pouco risco de necrose pela zona 
de coagulação. 
AVALIAÇÃO INICIAL 
O tratamento do grande queimado, necessita de avaliação inicial e 
ABCDE do trauma antes mesmo do curativo, visto que é considerado 
o maior catabólico da medicina e o “melhor” protótipo do 
politrauma. 
 Avaliação primária: Tratamento imediato na emergência: 
1. Avaliar segurança da área; 
2. Interromper processo de queimadura (ex.: abafar foco 
através de toalha úmida); 
3. Retirar roupas, anéis e joias (ainda aquecidos pode ser 
veículo de calor e pode fazer síndrome compartimental); 
4. Cobrir com pano limpo ou manta térmica platinada 
levando a perda de calor e desidratação. 
 Tratamento na sala de emergência: 
Figura 9: A avaliação do grande queimado adquire a letra F. 
 Avaliação secundária: 
o Consiste de um exame minucioso da cabeça aos pés; 
o Regra da história AMPLA: 
 Alergias, medicamentos, passado médico, líquidos e 
alimentos ingeridos recentemente, ambiente 
relacionado ao trauma/mecanismo do trauma. 
o Radiografias: 
 Rx do tórax (anteroposterior – AP); 
 Rx da pelve no leito; 
 Rx da cervical não deve ser descartável. 
 
A – AIRWAY (VIAS AÉREAS E PROTEÇÃO DE COLUNA) 
A via área do queimado pode ser acometida a partir de lesões por 
inalação, que é a maior preditora de mortalidade no grande 
queimado (aumento da taxa em cerca de 30 a 40%), visto que 20 a 
80% morrem com patologias pulmonares (ex.: sepse de foco 
pulmonar). 
 Suspeitas de lesão por inalação: Ambiente fechado, tempo de 
exposição a fumaça, queimaduras em face, alterações agudas 
da voz (rouquidão), escarro carbonáceo, dispneia IRA com 
estridor e tosse e queimadura de vibrissas; 
 Suspeita de intoxicação por monóxido de carbono: Ligação CO-
Hb (interação 240x mais forte do que Hb-O2) que leva 6 a 14 
horas para se desfazer: 
o Conduta para paciente hipoxêmico: Se o paciente estiver 
acordado e lúcido: Oferecer uma máscara não inalante 
com oxigênio a 100% (por 3 horas); caso o paciente esteja 
rebaixado, sedado, com queimadura da via aérea ou outro 
problema: deve-se fazer uma intubação orotraqueal e 
ventilação mecânica com fração de inspiração de O2 a 
100%: 
 Com isso, a carboxihemoglobina reduz o tempo de 
dissociação para 1h-1h30m. 
o Logo após, endoscopia/broncoscopia com lavado 
bronquioalveolar e repetição em 48h depois. Fazer 
também Raio-X e gasometria; 
o Se queimar a via aérea irá causar edema, e esse diminui 
ou impossibilita a respiração do paciente, logo não há 
como proceder com a intubação orotraqueal, tendo que 
fazer uma via aérea cirúrgica: cricotomia. 
B – BREATHING (VENTILAÇÃO) 
Pensar sempre em síndrome do compartimento torácico ou 
compartimental – em queimaduras de 3º grau – que faz restrição 
do movimento respiratório (paciente não expande o tórax), fazendo 
baixo volume corrente. 
 Conduta: Escarotomia: Incisão laminar torácica do TCSC para 
retirada de tecidos endurecido e desvitalizados). 
Figura 10: Escarotomia em 
paciente queimado. Lembrando 
que não precisa de anestesia por 
ser queimadura de 3º grau 
(indolor). 
As incisões sangram minimamente. 
Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre 
 
C – CIRCULATION (CIRCULAÇÃO) 
Síndrome compartimental em músculos de membros. Os braços e 
pernas são retidos em compartimentos, chamados de fáscias, e, com 
o edema da queimadura irá provocar compressão em vasos, 
podendo levar a amputamentos. 
 Figura 11: Conduta: Fasciotomia: 
Incisão descompressiva da fáscia se 
houver sinais de má perfusão (pulso 
tardio), edema, parestesia e pele 
pálida, fria e dura. 
 
D – DRUGS AND DISABILITY 
Glasgow e avaliação de alcoolismo e drogas. 
 Glasgow ≤ 8: Intubação para proteger as vias aéreas. 
E – EXPOSURE (EXPOSIÇÃO) 
Avaliar a exposição da superfície corpórea queimada (SCQ) do 
paciente e prevenir a hipotermia. 
REGRA DE WALLACE OU REGRA DOS NOVE 
Figura 12: Regra dos nove. 
Cabeça e pescoço = 9% 
(4,5% região anterior e 
4,5% região posterior); 
Membro superior (cada) = 
9% (4,5% região anterior e 
4,5% região posterior); 
Tronco = 36% (18% região 
anterior e 18% região 
posterior); Membro inferior 
(cada) = 18% (9% região anterior e 9% região posterior); Períneo e 
Genitália = 1%. 
 Figura 13: As crianças têm 
uma porção da superfície 
corpórea relativamente 
maior na cabeça e no 
pescoço, que é compensada 
por uma superfície 
relativamente menor nas 
extremidades inferiores. 
A mão (aberta e com os dedos estendidos) do paciente 
corresponde a 1% da superfície corpórea. 
CLASSIF ICAÇÃO DE LUND-BROWDER 
 
Figura 14: Classificação de Lund-Browder em que cada faixa etária 
possui uma relação de diferença de tamanho. 
Como prevenir a hipotermia? 
 Manta térmica laminada/aluminizada e cobertor com 
ventilador de aquecimento; 
 Soro aquecido (cálculo de superfície corpórea queimada). 
F – FLOW RESSUCITATION (RESSUSCITAÇÃO 
HIPOVOLÊMICA) 
Em indivíduos queimados a ressuscitação volêmica faz parte das 
condutas iniciais devido a sua importância em evitar complicações. 
O processo de queimadura promove uma grande perda de líquidos, 
e se
não nos atentarmos a essa condição o nosso paciente pode 
evoluir rapidamente para um choque hipovolêmico. Fórmula de 
Parkland (4mL/kg/%SCQ – 4 x pes0 x superfície corpórea 
queimada), quantifica o valor de infusão para restauração da 
volemia no queimado desidratado. 
 A solução preferível utilizada para irrigar é o Ringer lactato: 
Administração em 24h a partir do momento do trauma com 
metade do volume (50%) nas primeiras 8 horas e a outra 
metade (50%) nas próximas 16 horas: 
o É preferível a utilização do ringer lactato pois é isotônico. 
O soro fisiológico pode causar acidose hiperclorêmica, e a 
solução de coloide, albumina, drogo vasoativa, AINE e 
diuréticos aumentam a morbimortalidade. 
 O cálculo é realizado com, no mínimo, 20 e, no máximo, 50% 
da SCQ para não hiper-hidratar o paciente: 
o Ex.: Se queimar 80% da SCQ, usa-se 50% na fórmula. 
 O ATLS da última edição sugere que ao invés de usar a fórmula 
de Parkland, usar a fórmula modificada, a Brook: 2 a 4 x peso 
x SCQ: 
o Mantêm 4x peso x SCQ para queimaduras elétricas. 
Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre 
 
 A verificação de oferta apropriada é feita através da sonda 
vesical de demora (SVD), que fornece o débito urinário (volume 
urinado/kg/hora), normal: se for maior do que 0,5mL/kg/h ou 
a diurese, normal: se variar de 30 a 50mL/h. 
o Queimadura elétrica tem meta de débito urinário 
dobrada (1mL/kg/h), bem como de diurese (60 a 
100mL/h): 
 Avaliar eventual mioglobinúria e estimule o 
aumento da diurese com maior infusão de líquidos. 
 Levando para a prática: 
1. Ex.: Paciente com 50kg e SCQ 50%. Qual o volume que deve 
ser reposto no paciente para evitar desidratação? 
 R: 4mL x 50kg x 50% = 10.000, sendo 5000 ministrada nas 
primeiras 8h e outros 5000 nas próximas 16h. 
2. Queimado com 65kg, chega ao pronto-socorro às 15h com 
60% de SCQ. O bombeiro avisa que o paciente sofreu o 
acidente as 10h. Quanto de infusão esse paciente precisará? 
 R: 4mL x 65kg x 50% = 13.000, sendo 6500 administrada nas 
primeiras 3 horas e 6500 nas próximas 16h. 
o Porque 6500 em 3h se deveria ser 8h? Pois o paciente já 
está queimando a 5h (desde as 10h e já são 15h), logo 8h– 
5h = 3h restantes. 
 Conduta: Avaliar a extensão e profundidade da queimadura; 
acesso venoso que normalmente é calibroso; analgesia; 
cateterismo vesical ou registro diurese e BH -> para avaliar 
hidratação; curativo; e quando necessário encaminhar para 
um centro de tratamento de queimado (CTQ). 
o Acesso venoso: obtenha preferencialmente acesso venoso 
periférico e calibroso, mesmo em área queimada, e 
somente na impossibilidade desta utilize acesso venoso 
central. 
Figura 15: Ressuscitação Hipovolêmica por tipo de queimadura. 
GRANDE QUEIMADO 
O paciente grande queimado é usado para designar vítimas de 
queimadura graves. É aquele que apresenta: 
 SCQ ≥ 25% (faixa etária de 10 a 40 anos); 
 SCQ ≥ 20% (crianças < 10 anos ou adultos > 40 anos); 
 SCQ ≥ 10% em queimaduras de 3º grau; 
 Qualquer queimadura envolvendo olhos, ouvidos, face, mãos, 
pés e períneo; 
 Queimaduras elétricas de alta voltagem; 
 Toda queimadura complicada por trauma grave ou lesão 
inalação; 
 Todos os pacientes queimados que apresentam comorbidades 
graves. 
Muitos serviços empregaram o termo para toda vitima 
queimadura que necessita de atendimento especializado em centro 
de queimados. 
A INTERNAÇÃO NO CENTRO DE TRATAMENTO 
DE QUEIMADO (CTQ) ESTÁ INDICADA: 
Figura 16: Critérios para transferência. 
Queimaduras elétricas possui uma conduta particular: 
 Identificar se o trauma foi por fonte de alta tensão, por 
corrente alternada ou contínua e se houve passagem de 
corrente elétrica com ponto de entrada e saída: 
o São lesões internas (de dentro para fora), atingindo 
músculos com edema, apesar de pele intacta; 
o Inconsciência e parada cardiorrespiratória: Relato de 
desmaios podem indicar fibrilações, arritmias e IAM 
devido à alta voltagem. 
 Avaliar a extensão da lesão e a passagem da corrente; 
 Avaliar os traumas associados (queda de altura e outros 
traumas); 
 Avaliar se ocorreu perda de consciência ou parada 
cardiorrespiratória (PCR) no momento do acidente; 
 Procurar sempre internar o paciente que for vítima deste tipo 
de trauma: 
o Tratamento específico: UTI com monitoração, 
cardioscopia por 24-48h, ECG e MNM (marcadores de 
necrose miocárdica) seriados, fazer a coleta de sangue 
para a dosagem de enzimas (CPK e CKMB), avaliação da 
síndrome compartimental e verificar a necessidade de 
Escarotomia com Fasciotomia em tais segmentos e 
realizar hidratação – mais que os outros queimados – 
(com o choque, muitos eletrólitos e K+ são liberados no 
sangue). 
Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre 
 
ANATOMIA E FIS IOLOGIA DA PELE 
A pele é composta por 2 camadas: Epiderme e derme + o tecido 
celular subcutâneo (hipoderme). Um dano nessas camadas pode 
desorganizar a conformação dessas camadas, em especial a derme, 
desencadeando uma série de acontecimentos que visam a reparação 
dessa estrutura com a formação de tecido cicatricial – a cicatriz 
representa o ponto final do processe de recuperação tecidual. Para 
o paciente a cicatriz traduz marcas emotivas e pessoais. 
A cicatrização nunca é ou volta a ser como o tecido era antes da 
lesão (ou seja, integro), pois o tecido da cicatriz é de reparo. 
EPIDERME 
Camada externa da pele, estratificada, queratinizada e avascular, 
que tem função na proteção imunológica natural, na 
termorregulação, no metabolismo e na relação com o meio 
ambiente. 
 Estrato Córneo (regiã0 mais espessa): Células mortas, 
anucleadas e achatadas, com citoplasma rico em queratina, 
que dão resistência ao atrito; 
 Estrato Lúcido: Camada fina (as vezes ausente, como na 
pálpebra) formada por células achatadas, anucleadas e 
translúcidas; 
 Estrato granuloso: Presença de granulócitos de queratina, 
conferindo impermeabilidade de água e moléculas na pele; 
 Estrato espinhoso: Células com alto poder de coesão e 
resistência ao atrito; 
 Estrato basal: Camada responsável da cicatrização, por ter 
células vivas que geram os queratinócitos e possuem alta 
atividade mitótica. 
DERME 
 Derme papilar: Camada fina e superficial de tecidos 
vascularizados frouxos: 
o Característica por reentrâncias (papilas), que abriga, por 
exemplo, folículos pilosos; 
o Os vasos partem do subcutâneo e entram na derme para 
formar os plexos subdérmicos e subepidérmicos; 
 Derme reticular: Camada mais profunda de tecidos mais 
densos e menos vascularizados, tendo também anexos 
cutâneos. 
VASCULARIZAÇÃO: 
Os angiossomos são a unidade funcional, que auxilia a 
vascularização da pele, recebendo os vasos profundos para irrigar 
determinados tecidos, possibilitando que um vaso de 1 a 3mm 
irrigue um trecho de 20 a 40cm. 
1. Os vasos mais profundos originam os vasos perfurantes, que 
chegam nos músculos, rompendo-o ou atravessando suas 
fáscias, até chegar no angiossomo da pele; 
2. Ao atravessar a camada muscular e o tecido celular 
subcutâneo, o plexo subdérmico é formado e ele segue 
perfurando a pele até atingir a camada basal, onde forma o 
plexo subepidérmico (os outros extratos são vascularizados 
por difusão). 
Colágeno: Constituinte importante para a cicatrização, 
incluindo as cicatrizes maduras e imaturas: 
 Tipo I: Presente em tecidos normais (ex.: pele e tendão) e na 
cicatriz madura: 
o Caracterizada pela diminuição do colágeno tipo III e 
aumento do tipo I. 
 Tipo II: Presente nas cartilagens; 
 Tipo III: Presente em vasos sanguíneos e na cicatriz imatura, 
tendo um padrão mais desorganizado; 
 Tipo IV: Constitui a membrana basal. 
CINÉTICA DO TRAUMA 
O motivo da lesão permite saber o tipo de ferimento causado 
(inclusive o agente causador), mensurar a exposição e pensar no 
fechamento e riscos da lesão. 
 
 
Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC
2021.1 – 4º semestre 
 
FER IMENTOS FECHADOS 
A pele não é lesada, mantendo a barreira fechada (sem risco de 
infecção), mas, mesmo assim, pode acometer o tecido subcutâneo, 
músculo, tendão e ligamentos, ex.: contusões, distensões e fraturas 
e luxações fechadas. 
FERIMENTOS ABERTOS 
 Lesão abrasiva: Superfície desepidermizada, que não 
ultrapassa a derme papilar (ex.: raladuras); 
 Lesão cortocondusa (ex.: uso de machado); 
 Puntiformes: Instrumentos pontiagudos que fazem o mesmo 
trajeto de ida e volta (ex.: agulha); 
 Lesão perfurante/penetrante (ex.: arma de fogo); 
 Lesão incisivas: Instrumentos cortantes (ex.: bisturi e faca); 
 Avulsão: “Arrancamento” de tecido (ex. escalpelamento); 
 Esmagamento: Lesão tecidual irreversível; 
 Laceração: Lesões irregulares, incontroláveis e 
desprogramadas (ex.: mordeduras): 
o Mordedura animal: Faz-se a contagem de bactérias (que 
é geralmente alta), além de avaliar o fechamento, levando 
em conta o tempo, a localização e o grau de infecção. 
Dependendo da lesão, é preciso desbridar, reaproximar 
as bordas e acompanhar se necessário tratamento: 
 Cães e gatos: Atenção para Pasteurella multocida, 
que se trata com amoxilina-clavulanato e anti-
rábica; 
 Humanos: Atenção à Eikenella corrodens, tratando 
com amoxilina-clavulanato e se considera a 
profilaxia viral. 
Profilaxia anti-tetânica: Avaliar primariamente se a exposição 
(área afetada, profundidade, infecção) foi de baixo ou alto risco. No 
Brasil, a profilaxia usada é: 
 Se a pessoa não for vacinada ou é desconhecida: Baixo risco faz 
3 doses e alto risco faz 3 doses e imunoglobulina (SAT/IGHAT); 
 Vacinado a mais de 10 anos: Baixo risco faz reforço e alto risco 
faz 1 dose e imunoglobulina (SAT/IGHAT); 
 Vacinado entre 5 e 10 anos: Baixo risco não é necessário 
vacinação e alto risco faz avaliação se necessário reforço e 
imunoglobulina (SAT/IGHAT); 
 Menos de cinco: Tratamento conservador, ou seja, não 
necessário a profilaxia anti-tetânica. 
 
 
CLASSIF ICAÇÃO DAS FER IDAS CIRÚRGICAS 
 Limpas: Não-traumáticas e assépticas, sem passagem por 
trato intestinal, gênito-urinário ou respiratório (Risco de 1-
5%), ex.: mamoplastia de aumento; 
 Limpas contaminadas: Pequenas violações da técnica 
asséptica ou passagem pelos tratos (Risco de 8-11%); 
 Contaminadas: Ferida traumática ou com extravasamento 
profuso do conteúdo (Risco de 15-16%); 
 Sujas: Evidência de infecção instalada, como drenagem de 
abcesso e desbragamentos de tecido infectado (Risco de 24-
40%). 
CICATRIZACÃO NORMAL 
O processo de cicatrização apresenta uma cascata de eventos 
divididos, didaticamente, em três fases. 
Importante ressaltar que a cicatrização, na prática, é um 
processo contínuo, sendo que uma mesma ferida pode apresentar 
simultaneamente as três fases, visto que elas se sobrepõem e se 
completam. 
FASES 
 
FASE INFLAMATÓRIA 
Inicia-se no momento da lesão cutânea e estende-se até 2-3 dias 
dependendo da profundidade da lesão. 
1. O primeiro evento que ocorre é a hemostasia, com a 
vasoconstricção e a formação do tampão plaquetário (cascata 
de coagulação - rede de fibrina -), que tem função de barreira 
contra a perda sanguínea, além de liberar mediadores 
inflamatórios (ex.: PDGF – fator de crescimento derivado de 
plaquetas e TGFβ – fator de crescimento transformador beta) 
que são pró-inflamatórios; 
2. Em seguida, por ação de diversas prostaglandinas, ocorrem 
vasodilatação, aumento do fluxo sanguíneo e permeabilidade 
capilar, o que causa extravasamento de líquidos (edema) e 
facilita o afluxo de células da linhagem branca para o local da 
•Hemostasia
• Inflamação
Fase inflamatória
•Fibroplastia
•(Neo)Angiogênese
•Reepitelização
Fase proliferativa
•Contratura
•Remodelação da cicatriz
Fase de maturação
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lesão – ex.: os neutrófilos (pico com 24h) são responsáveis pela 
fagocitose, liberação de substâncias bactericidas e pelo 
desbridamento (remoção de células e tecidos desvitalizados), 
retardam a cicatrização por atuarem como substrato para 
desenvolvimento bacteriano e uma barreira física para o tecido 
de granulação e epitelização. 
3. Os macrófagos liberam mediadores inflamatórios (ex.: 
citocinas) para atração de fibroblastos (sintetiza fibras) e 
células endoteliais auxiliando na ativação dos elementos 
celulares das etapas seguintes. 
FASE PROLIFERATIVA 
Inicia-se por volta de 3 dias após a lesão e estende-se por 3 semanas. 
Os eventos dessas fases são desencadeados e estimulados por 
mediadores celulares originários das plaquetas, neutrófilos e 
macrófagos. 
1. Na fibroplastia, há migração de fibroblastos (pico em 7 dias) e 
é marcada pela síntese de colágeno tipo III que fornece força e 
tênsil à cicatriz (produção e deposito de colágeno, elastina, 
fibronectina, glicosaminoglicanos, ácido hialurônico e etc. 
para formação da cicatriz imatura); 
2. Na neoangiogênese consiste na formação de novos capilares 
pela proliferação de brotos endoteliais. A união do colágeno e 
dos outros componentes com os capilares forma o tecido de 
granulação; 
3. A epitelização é o crescimento do novo epitélio para cobrir a 
ferida, pela multiplicação de queratinócitos e dos anexos 
dérmicos. 
FASE DE MATURAÇÃO OU REMODELAÇÃO 
Inicia-se em torno de 21 dias após a lesão e estende-se até meses ou 
anos. 
1. Nessa fase, ocorre a substituição do colágeno III para o colágeno 
tipo I (mais resistente), até que chegue à proporção de 4:1. Isso 
leva ao aumento da resistência tênsil da cicatriz conforme 
ocorrem a reorganização do colágeno e ao aumento de suas 
ligações cruzadas (tornando a cicatriz imatura em madura); 
2. Além disso, a partir da aproximação de queratinócitos na 
epiderme, ocorre a contração da ferida pela ação dos 
fibroblastos e miofibroblastos que reduzem o tamanho da 
ferida e aproximam as bordas, remodelando a cicatriz. 
 
 
PARTICULARIDADES DE D IFERENTES TECIDOS 
OSSOS 
Na fase inflamatória ocorre dois fenômenos: A osteoindução 
(transformação de células precursoras do endósteo, periósteo e de 
tecidos circundantes em osteoblastos), seguida pela osteocondução 
(entrada osteoblastos no local da fratura); 
1. O primeiro resultado é a formação do calo ósseo, que é 
composto por fibroblastos e osteoblastos – mais frágil que o 
osso normal; 
2. Logo após é remodelado em osso lamelar, que é semelhante à 
estrutura óssea do osso sem cicatriz, mas menos resistente. 
NERVO 
Figura 2: Lesão no nervo. 
 Axônio distal; 
 Axônio proximal; 
 Neuroma. 
 Cicatrização do axônio distal: Degeneração walleriana por 
fagocitose de células de Schwann, destruindo a bainha de 
mielina; 
 Cicatrização do axônio proximal: O nervo continua crescendo, 
produzindo uma ou mais fibras regenerativas mielinizadas, 
que formam um “bolo de nervo” = neuroma: 
o O órgão perde a função sensitiva ou motora depois da 
lesão. É possível o tratamento: 
 Coaptação nervosa: Reparo da lesão nervosa para 
não causar atrofia local, por microcirurgia ou lupa 
de aumento, visto que o nervo cresce 1mm/dia; 
 Caso a lesão seja grande, durante o tratamento, é 
realizada a fisioterapia passiva ou ativa. 
FÍGADO 
Único órgão do corpo humano que é capaz de se regenerar, sem 
formação de cicatrizes ou fibrose; no entanto, dependendo do 
tamanho da lesão pode evoluir com cirrose. 
FETO 
Até o segundo trimestre tem-se regeneração tecidual e isso significa 
que, por exemplo, numa biópsia de pleura em busca de possíveis 
complicações (a agulha passa pela pele da mãe, pele do bebê, pleura 
e é coletado um pedaço do pulmão) o bebê nasce sem cicatriz. Não 
se sabe ao certo por que isso acontece: 
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 Hipótese: O líquido amniótico é muito estéril e tem muitos 
fatores de crescimentos. 
RESISTÊNCIA DA CICATRIZAÇÃO DE PELE 
 Fase inflamatória e fase proliferativa
(2 a 3 semanas): Pouca 
resistente; 
 Fase de remodelamento: Ganho de resistência: 
o 6 semanas: 50% de resistência final; 
o 6 a 12 semanas: Aumento contínuo e lento; 
o 12 meses: 75% do tecido normal. 
A cicatrização dura 1 ano-1 ano e meio, e não ultrapassa 80-85% da 
forca tênsil que a pele tinha antes. 
Como evitar cicatrizes indesejáveis: 
 Conhecimento de áreas de alternância de luz e sombra – 
colocar a cicatriz em regiões de sombra; 
 Alterações de pigmentação da pele (ex.: mamilo); 
 Conhecimento de áreas de camuflagem (ex.: dobras normais 
da pele e de roupas); 
 Linhas de força/Langer são linhas de colágeno 
perpendiculares às musculares: 
o Se ocorrer lesão na pele e for 
necessário fazer um corte, o 
correto é no sentido 
horizontal para seguir o 
sentido das linhas de Langer 
e não o sentido das linhas 
musculares, pois essas 
podem alargar e alterar a 
função da musculatura. 
Figura 3: Linhas de Langer – lado 
esquerdo. 
CICATRIZAÇÃO PATOLÓGICA 
FATORES QUE INTERFEREM NA CICATRIZAÇÀO 
 Idade: Idosos têm cicatrização mais lenta, devido a menor 
quantidade de macrófagos (retardo da fase inflamatória); 
 Infecção: Extensão da fase inflamatória que interfere na 
epitelização, contração e deposição de colágeno: 
o As Endotoxinas presente realizam fagocitose e liberam 
colagenases (degrada tecido lesado e saudável). 
 Hipóxia: O oxigênio participa da síntese de colágeno e da 
divisão celular e na sua falta, leva ao retardo da migração 
celular: 
o Menor chegada de fibroblastos e menor resistência das 
fibras de colágeno; 
 Insuficiência venosa: Alta pressão venosa leva ao 
extravasamento e acúmulo de proteínas (edema) e diminui a 
difusão de oxigênio; 
 Insuficiência arterial: Inibe produção de colágeno e predispõe 
a infecções; 
Em pacientes com essas comorbidades é preciso tratar primeiro 
a doença de base e posteriormente a lesão. 
 Fator pressão: 
o Úlcera por pressão (proeminências ósseas) geram lesões 
por isquemia; 
Figura 4: 
Regiões de 
incidência das 
ulceras por 
pressão. 
 Irradiação: Destrói o processo de angiogênese (isquemia, 
fibrose vascular e lesão de fibroblasto) e impede a 
vascularização do epitélio; 
 Feridas crônicas: Deficiência de fatores de crescimento (TNF-
α, IL-aumentados) reduz adesão celular e eleva colagenase; 
 Outras causas sistêmicas: Doenças metabólicas e genéticas; 
Diabetes (A glicose causa alterações nas paredes dos vasos 
sanguíneos que ficam rígidas e diminuem a capacidade de 
migração das células inflamatórias e fibroblastos, resultando 
na diminuiçã0 de colágeno); Desnutrição (baixa de albumina 
e catabolismo proteico); Tabagismo (nicotina interfere, 
causando vasoconstricção e hipoperfusão); Imunossupressão 
(doenças ou medicamentos); Deficiência de vitamina; 
 Uso de corticoide (ação anti-inflamatória que inibe a migração 
celular de fibroblastos e outras células inflamatórias) e 
estimula colagenases): 
o Vitamina A atua como antagonista de glicocorticoides já 
que age nos eventos deletérios, preservando a 
epitelização. 
 Utilizado em pacientes em pré-operatório que faz 
uso de crônico de glicocorticoide. 
Vitaminas que auxiliam no processo de cicatrização: 
 Vitamina A: Altera adesão celular e deposição de fibronectina 
e estabiliza membrana do lisossomo; 
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 Vitamina C: Destrói bactérias e aumenta a concentração de 
fibras colágenas; 
 Vitamina B: Eleva fibroblastos na cicatriz; 
 Vitamina E: Melhora resistência e destrói radicais livres; 
 Vitamina K: Sintetiza protrombina e fatores II, VII, IX e X; 
 Zinco: Cofator de metaloenzimas para síntese proteica e 
crescimento celular; 
 Ferro: Cofator na conversão hidroxiprolina-prolina (utilizado 
na síntese de colágeno). 
CICATRIZAÇÃO EXCESSIVA 
HIPERTRÓFICAS E QUELOIDES 
Representam um crescimento exagerado de tecido fibroso que 
surge com uma resposta a uma lesão cutânea. Acontece a deposição 
excessiva de colágeno X degradação de colágeno. 
Figura 5: Respectivamente, cicatriz hipertrófica e queloide. 
 As hipertróficas mantem-se dentro dos limites da cicatriz 
inicial, crescem no início formando cordões endurecidos, 
elevados e avermelhados, mas geralmente, regressam com o 
decorrer dos meses ou anos: 
o Excesso de colágeno III em paralelo com miofibroblastos 
abundantes e colágeno extracelular, corresponde de 5-
15% das cicatrizes. 
 Os queloides têm crescimento mais exacerbado que 
ultrapassam os limites iniciais da cicatriz, além de não 
regredirem espontaneamente com o decorrer do tempo: 
o Única dos seres humanos; 
o A cicatriz espessa a pele (princ. estrato córneo) devido ao 
desequilíbrio caracterizado pelo o aumento da síntese de 
colágeno em relação a degradação do mesmo; 
o Predisposição: Cicatrizes de alta tensão (quanto mais 
fibroblastos, mais síntese de colágeno); cicatrizes que 
estão orientadas em direção da tensão ou contra linha de 
força/Langer e quando a lesão é extensa ou por segunda 
intenção. 
o Epidemiologia: 
 Maior prevalência em jovens, negros e asiáticos; 
 Há predisposição genética; 
 Não existe diferença da predisposição entre homens 
e mulheres. 
!!!Obs.: Histologia: A cicatriz hipertrófica e queloide mostram 
abundância de colágeno tipo III na derme. O tecido de queloide é 
predominantemente composto por colágeno tipo I e III alinhados 
no mesmo plano da epiderme, em oposição ao tecido cicatricial 
normal, contendo colágeno hipocelular pouco corado, sem nódulos 
e sem excesso de miofibroblastos. Ambos possuem uma produção 
aumentada de proteínas derivadas de fibroblastos como a 
fibronectina, sugerindo persistência patológica dos sinais 
inflamatórios na ferida em cicatrização ou a falha do down 
regulation das células da ferida. 
Diferenças 
clínicas 
Hipertróficas Queloide 
Características Rósea, “dura” e 
limitada 
Violácea e 
ilimitada 
Prurido e dor Eventual Prurido, dor e 
ardor 
Desenvolvimento Para de crescer 
ou regride 
Não regride e 
cresce 
Incidência Mais comum Menos comum 
Associação 
anatômica 
Não Orelha, ombro e 
pré-esternal 
Sempre 
precedida por 
lesão 
Sim Não 
Recorrência após 
cirurgia 
Raro Maioria 
Resolução 
espontânea 
Sim Não 
Compressão Efetiva Não cessa 
TRATAMENDO 
MALHAS 
COMPRESSIVAS 
(Prevenção de cicatriz 
hipertrófica) 
Faz isquemia (reduz coesão e atividade 
de fibroblastos), inibe ação da colagenase 
e estabiliza mastócitos. Não funciona 
para queloide. 
PLACAS DE SILICONE 
(+ para cicatriz 
hipertrófica) 
Oclui e esquenta área, que reduz TGF-β, 
hidrata queratinócitos e ativa colagenase. 
CORTICOSTEROIDE Reduz síntese de colágeno e mediadores 
inflamatórios (não funciona sempre - 9-
50%). 
INTERFERON Reduz produção de fibroblastos. 
5-FLUROURACIL Antimetabólico que inibe a proliferação 
de fibroblastos. 
CRIOTERAPIA Lesiona microvasculatura para modifica 
a síntese de colágeno e diferenciação de 
fibroblastos. 
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EXCISÃO Remoção do tecido anormal. 
RADIAÇÃO 
(BETA-TERAPIA) 
Inibe angiogênese e fibroblastos. 
O tratamento de queloides sempre tem risco de recidivas e, com 
a falhas de alguns, aposta-se na excisão seguida por beta-terapia (e 
mesmo assim, há riscos de recidiva). 
CONTRAÇÃO CICATRICAL X CONTRATURA TECIDUAL 
A contração cicatricial é um processo fisiológico e benéfico de união 
entre fibroblastos e miofibroblastos para fechamento da ferida, mas 
difere da contratura tecidual, que é uma aderência, patológica, 
deformante causada pela retração exagerada do tecido cicatricial 
(necessário fazer cirurgia). 
 Tratamento não cirúrgico (dilatações, massagens, fisioterapia) 
e cirúrgicos (retirada do tecido e correção com retalhos, 
enxertos e etc.). 
Figura 6: Contração 
tecidual. 
 
 
 
Referências: 
1. Transcrição aula Dr. Victor Felzemburgh; 
2. Campos, Humberto.
Cirurgia Plástica para estudantes de 
medicina. 1ª ed. Salvador BA: Editora Sanar, 2020. 
 
 Levando para a prática: 
1. Sobre a cicatrização de feridas e as fases do processo de 
cicatrização, assinale a correta: 
a) É dividida em 04 fases: inflamatória, proliferativa, 
migratória e contrátil. 
b) Na fase de remodelação, existe um aumento da força tênsil 
da cicatriz decorrente da reorganização das fibras de 
colágeno. 
c) As fases da cicatrização são bem determinadas e 
individualizadas. 
d) O resultado da cicatrização não depende de fatores como: 
localização anatômica, tipo da pele, raça e técnica 
cirúrgica utilizada. 
2. (AMRIGS 2014) Relacione a Coluna 1 à Coluna 2, associando as 
fases de cicatrização com os fenômenos que as envolvem. 
 Coluna 1: 
 1. Maturação. 
 2. Retração. 
 3. Fibroplasia. 
 4. Inflamatória. 
 5. Aguda. 
 Coluna 2: 
 ( ) Há vasodilatação e redução do fluxo sanguíneo e, no 
local da ferida, há tumor, turgor, rubor e dor. 
 ( ) Intensa proliferação endotelial, com afluxo de 
fibroblastos que se depositam na zona de reparação, 
formando um tecido de granulação. 
 ( ) Caracteriza-se por uma contração da cicatriz e pela 
epitelização. O tecido de granulação contrai-se, e as 
feridas abertas reduzem a sua área com superfície 
cruenta, facilitando a cobertura por epitelização. 
A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de cima para 
baixo, é: 
a) 4 – 4 – 3. 
b) 5 – 3 – 1. 
c) 4 – 3 – 1. 
d) 5 – 2 – 4. 
e) 1 – 5 – 2. 
 
3. As células mais importantes na fase proliferativa da 
cicatrização são: 
a) Macrófagos. 
b) Neurófilos. 
c) Basófilos. 
d) Fibroblastos. 
4. Sobre o processo de cicatrização patológica, marque a 
incorreta: 
a) A cicatrização anormal é gerada pela produção excessiva 
de colágeno e o prejuízo na sua degradação. 
b) A cicatriz hipertrófica pode regredir espontaneamente. 
c) O queloide não pode aumentar de tamanho e cede a 
compressão. 
d) O queloide é mais comum em pessoas negras e asiáticos e 
acomete homens e mulheres em igual proporção. 
 
 
Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre 
 
INTRODUÇÃO 
 Não existe cirurgia isenta de risco; 
 A longevidade leva ao aumento do número de cirurgias e 
assim, eleva o risco de complicações; 
 Principais fatores: 
o Condição do paciente, local/tipo da intervenção cirúrgica; 
tempo de cirurgia; tipo de anestesia. 
O bom preparo pré-operatório é fundamental para o sucesso de 
qualquer procedimento cirúrgico. De forma objetiva pode ser 
dividido em: 
 Geral; 
 Específico para determinadas operações; 
 Preparo de pacientes portadores de doenças prévias. 
AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA 
Análise clínica que mensura o risco do procedimento proposto e o 
risco de complicações nos pacientes cirúrgicos com objetivo de 
identificar fatores de risco e adotar medidas para corrigir, controlar 
ou estabilizar esses fatores, reduzindo eventos adversos. 
 Orientação da avaliação pré-operatória: 
o Achados semiológicos (história clínica e exame físico) do 
paciente que são sugestivos de disfunções orgânicas; 
o Dados epidemiológicos que sugerem o benefício da 
avaliação baseada em idade, sexo ou padrão de 
progressão de doenças. 
 Determinantes da avaliação pré-operatória: 
o De acordo com o risco do procedimento planejado (baixo, 
médio ou alto); 
o Técnica anestésica planejada; 
o Ambiente pós-operatório do paciente (ambulatorial ou 
hospitalar, leito de enfermaria ou unidade fechada). 
 Além disso, a avaliação pré-operatória é útil para identificar os 
fatores de risco do paciente quanto à morbidade e à 
mortalidade pós-operatórias: 
o Se a avaliação pré-operatória encontrar comorbidades 
significativas ou evidência de controle insatisfatório de 
uma doença preexistente, pode ser necessária a consulta 
com um clínico ou médico especialista para facilitar o 
trabalho e direcionar a conduta. 
É inevitável uma boa comunicação entre as interespecialidades 
para juntos analisaram e decidirem o melhor para o paciente. 
CONSULTA INIC IAL 
 Anamnese e exame físico (identificar possíveis fatores de riscos 
e doenças coexistentes ex.: comorbidades e alergias); 
 Definir necessidade de exames complementares; 
 Avaliação com especialistas: 
o Em doenças graves controladas e não controladas. 
 Estabelecer diagnóstico, incluindo alergias; 
 Propor tratamento cirúrgico; 
 Aplicar termo de consentimento livre e esclarecido; 
 Estabelecer vínculo médico-paciente-família. 
EXAMES PRÉ-OPERATÓRIOS HABITUAIS 
 ECG (> 40 anos em homens e > 50 anos em mulheres); 
 RX de tórax (> 60-65 anos); 
 Hemograma (procedimentos com risco de sangramento > 
500ml); 
 Creatinina (> 40-50 anos); 
 Glicemia (> 40-45 anos) 
 Sumário de urina (se indicação de sondagem vesical); 
 β-HCG (mulheres em idade fértil). 
SISTEMA DE ESTRATIF ICAÇÃO DE R ISCO 
A classificação da Sociedade Americana de Anestesia (ASA) é um 
preditor independente de morbidade e mortalidade, que consta 
com cinco categorias quanto ao estado físico: 
 I: Paciente normal e saudável; 
 II: Paciente que possui doença sistêmica leve: 
o Ex.: IMC de 30-40, DM controlado, fumante; 
 III: Paciente com doença sistêmica grave que limita a atividade, 
mas não o deixa incapacitado: 
o Ex.: IMC > 40, DM não controlado, dependente químico; 
 IV: Paciente portador de doença incapacitante que é uma 
ameaça constante à vida; 
 V: Paciente moribundo/terminal, que não tem expectativa de 
sobreviver 24 horas com ou sem operação. 
A letra “E” é adicionada a qualquer uma categoria para indicar 
uma operação de emergência. 
 
 
Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre 
 
SISTEMAS 
CARDIOVASCULAR 
Grande parte da avaliação de risco e preparação pré-operatória 
concentra-se no sistema cardiovascular devido ao grande índice de 
mortalidade e, por isso, é avaliado o risco de complicações cardíacas 
mesmo em procedimentos não-cardíacos. 
 Patologias: Principalmente pacientes com HAS, ICC, DAC e 
arritmias; 
 Exames: Eletrocardiograma, ecocardiograma, teste 
ergométrico, ergoespirometria, cintilografia, miocárdica e 
CATE; 
 Os medicamentos de uso habitual devem ser mantidos; 
 O principal exemplo para estratificação de risco é o critério de 
Goldman de risco cardíaco para cirurgia não cardíaca, o qual 
mensura os fatores de risco através de pontuação: 
Tabela 1: Índices de risco cardíaco. 
 Uma vez obtidos os dados de risco, o cirurgião e seus 
consultores pesam riscos e benefícios da cirurgia e 
determinam se alguma intervenção pré-operatória pode 
reduzir as possibilidades de uma eventualidade cardíaca. 
 Pacientes podem precisar de revascularização miocárdica, 
modificação na escolha da anestesia ou uso de monitoramento 
invasivo intra-operatório; 
 Caso a cirurgia seja eletiva, ela será suspensa para tratar a 
doença cardíaca a fim de diminuir os efeitos adversos de uma 
cirurgia eletiva, ex.: 
o Aguardar 4-6 semanas após angioplastia para ter 
remodelamento cardiovascular e muitos pacientes 
desenvolvem dupla agregação, aumentando o risco de 
sangramento pós-operatório; 
o Aguardar 4-6 semanas após IAM. 
PULMONAR 
Avaliação pré-operatória da função pulmonar pode ser necessária 
para procedimentos cirúrgicos gerais ou torácicos: 
 Procedimentos torácicos e da parte superior do abdome 
podem diminuir o funcionamento pulmonar e predispor a 
complicações: 
o Procedimentos neurocirúrgicos, da parte inferior do 
abdome e das extremidades têm pouco efeito no 
funcionamento pulmonar e rotineiramente não 
requerem estudos da função pulmonar. 
 Fatores gerais para complicações: 
o Idade avançada; 
o Estado funcional dependente; 
o Perda de peso; 
o Obesidade; 
o Nível de albumina baixo (desnutrição), visto que os 
músculos são a nossa reserva nutricional de proteínas 
(essenciais para a resposta metabólica ao trauma); 
o Comorbidades: AVC, ICC, IRA, uso crônico
de esteroide e 
transfusões sanguíneas; 
o Fatores pulmonares: DPOC, tabagismo, produção de 
escarro, pneumonia, dispneia e apneia obstrutiva do 
sono. 
 Exames (avaliam o volume expiratório forçado no 1° segundo 
ou VEF1, a capacidade vital forçada e a capacidade de difusão 
do CO): RX de tórax e Espirometria; 
 Intervenções pré-operatórias: 
o Suspensão de cigarro (> 2 meses, caso ele não consiga 
interromper nesse tempo é melhor que ele não 
interrompa); 
o Terapia broncodilatadora; 
o Tratamento de infecções existentes (ATB); 
o Pré-tratamento de asma. 
RENAL 
Aproximadamente 5% da população adulta tem algum grau de 
disfunção renal, o que pode afetar a fisiologia de vários órgãos, 
causando morbidade adicional no período pré-operatório, e, por 
isso, a identificação de transtornos cardiovasculares, circulatórios, 
hematológicos e metabólicos secundários à disfunção renal deve ser 
a meta da avaliação pré-operatória desses pacientes. 
 Exames: ECG, exames laboratoriais e hemograma completo; 
 Cuidados extra: 
o Pacientes com anemia crônica devem fazer o uso de 
eritropoietina no pré-operatório; 
o Alguns pacientes podem necessitar de hemodiálise no 
pré-operatório para controle de volume e eletrólitos; 
o Pacientes que já realizem diálise devem continuar 
realizando no período pré-operatório e também podem 
necessitar no pós-operatório; 
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o Atentar para metabolização de agentes anestésicos e 
fármacos (evitar drogas nefrotóxicas e de efeito 
prolongado). 
 Prevenção de agressão renal secundária no período pré-
operatório: Inclui evitar agentes nefrotóxicos e manter o 
volume intravascular adequado durante esse período. 
HEPATOBILIAR 
A disfunção hepática pode ser consequência comum de muitas 
agressões ao fígado, incluindo doenças mediadas por vírus, drogas 
e toxinas, e, nesse caso, o portador, principalmente de hepatopatia 
crônica, necessita de determinação cuidadosa do grau do dano 
funcional, assim como um esforço coordenado para evitar agressões 
adicionais no período pré-operatório. 
 Exames da função hepática: 
o TGO e TGP (verifica maior processo inflamatório do 
fígado), FA, GGT e bilirrubinas (essa última representa 
melhor a função metabólica do fígado); 
o Sorologias para hepatite; 
o Albumina sérica, fibrinogênio e protrombina. 
o Fator V. 
 A evidência de disfunção hepática pode ser percebida com o 
exame físico: 
o Icterícia (bilirrubina sérica > 3 mg/dL), teleangiectasias e 
circulação colateral periumbilical. 
 Pacientes que apresentam hepatite aguda, devem adiar o 
procedimento por algumas semanas (presença de infecção 
eleva o risco cirúrgico): 
o O paciente com evidência de hepatite crônica em geral 
pode ser operado de forma segura. 
 A estratificação da função hepática mais utilizada ainda hoje 
é a Classificação de Child-Pugh (mortalidade): 
o A: Hepatopata compensado com 10% de mortalidade; 
o B: Hepatopata descompensado com 31% de mortalidade; 
o C: Hepatopata descompensado com 76% de 
mortalidade. 
 Quando a doença está descompensada faz-se o 
tratamento, ex.: o padrão-ouro: transplante, assim 
como contraindicar qualquer outro tipo de 
procedimento. 
Tabela 2: Classificação de Child-Pugh. 
ENDÓCRINO 
O paciente que apresenta uma condição endócrina, como DM, 
hipertireoidismo ou hipotireoidismo e insuficiência adrenal, é 
vítima de estresse físico adicional durante a cirurgia e assim a 
avaliação pré-operatória deve identificar tipo e grau da deficiência 
endócrina para permitir um preparo pré-operatório favorável. 
DIABETES MELITO 
 Avaliação pré-operatória do paciente diabético: 
o Adequação do controle de glicemia; 
o Complicações cardíacas e circulatórias; Retinopatia, 
Neuropatia e Nefropatia. 
 Exames complementares: 
o Dosagem da glicemia em jejum e pós-prandial; 
o Níveis de hemoglobina glicada; 
o Níveis séricos de eletrólitos, ureia e creatinina sanguíneas 
(podem identificar distúrbios metabólicos e 
comprometimento renal): 
 Os exames de urina podem revelar proteinúria 
(evidência de nefropatia diabética). 
o ECG (considerado para portadores de doença de longa 
duração, procurando alterações renais e cardíacas). 
 Suspender antidiabéticos orais no pré-operatório, como 
sulfonilureias e metformina, para evitar acidose metabólica; 
 Cuidados com insulinas (os níveis de glicose no pré-operatório 
devem variar de 80 a 150mg/dL) – não deve ser suspensa, mas 
manejada de forma cuidadosa: 
o Insulinas de longa duração devem ser suspensas no dia 
da cirurgia; 
o Deve-se usar doses menores de insulina de duração 
intermediária no dia da cirurgia; 
o Deve-se operar nas primeiras horas do dia a fim de evitar 
um jejum ainda maior; 
o Deve-se utilizar solução glicosada de 5% a 10% no intra-
operatório, com insulinas de duração rápida sob 
demanda. 
Pós-operatório: 
o Glicemia capilar a cada 4 horas; 
o Insulina de curta duração de acordo com a glicemia; 
o Atentar para a alimentação do paciente; 
o Melhores controles glicêmicos se associam a melhor 
cicatrização de feridas e risco de infecção hospitalar. 
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Insulinas: 
 Insulinas de ação rápida (lispro) e curta (regular) devem ser 
suspendas após jejum e ajudam a corrigir hiperglicemia; 
 Insulinas de ação intermediária (NPH) – mais utilizada - e 
longa ação (glargine) devem ser usadas com ⅔ da dose 
noturna na noite anterior e metade na manhã no dia da 
cirurgia; 
 Dosagens frequentes de glicemia e correção com insulina de 
curta ação são feitas se necessário; 
 Iniciar solução glicosada 5% ou 10% na manhã da cirurgia. 
Tabela 3: Tipos de insulina. 
DOENÇA TIREOID IANA 
Um paciente com doença tireoidiana conhecida ou suspeita é 
avaliado com exames de função tireoidiana, isto é, dosagem de TSH, 
T4 e T4 livre. 
 Hipertireoidismo: Evidências de nível de TSH muito baixo são 
abordadas no pré-operatório e a cirurgia é adiada até que se 
atinja um estado eutireóideo, devido ao risco de crise 
tireotóxica: 
o O portador de hipertireoidismo que toma medicação 
antitireoidiana (ex. metimazol ou propiltiuracil) deve ser 
orientado a continuar esse regime no dia da cirurgia; 
o As doses usuais de betabloqueadores ou digoxina do 
paciente são mantidas. 
 Hipotireoidismo: O paciente com diagnóstico recente de 
hipotireoidismo geralmente não necessita de tratamento pré-
operatório, mas pode estar sujeito a uma maior sensibilidade 
a medicamentos, incluindo agentes anestésicos e narcóticos: 
o O hipotireoidismo grave (nível de TSH alto) pode ser 
associado a disfunção miocárdica, anormalidade de 
coagulação e distúrbio eletrolítico, principalmente 
hipoglicemia, precisando ser corrigido antes das 
intervenções cirúrgicas; 
o Deve-se manter hormônios tireoidianos em caso de 
tratamento de reposição. 
USUÁRIOS CRÔNICOS DE CORTICOSTEROIDES 
O cortisol é o principal hormônio da REMIT e, por isso, pacientes 
que usam corticosteroides de forma crônica devem ter sua dose 
aumentada a fim de mimetizar o efeito da resposta endócrino-
metabólico ao trauma, visto que seu eixo hipotálamo-hipófise está 
suprimido. 
 50 a 75 mg/dia de hidrocortisona por 1 ou 2 dias, em caso de 
procedimentos menores e 100 a 150 mg/dia de hidrocortisona 
por 2 a 3 dias, em caso de procedimentos maiores. 
IMUNOLÓGICO 
O objetivo é melhorar a função imunológica antes da cirurgia e 
minimizar os riscos de infecções e deiscência da ferida. 
 Pacientes imunossuprimidos tem maior risco de complicações 
de ferida pós-operatória e infecção; 
 Pacientes portadores de HIV devem manter imunossupressão 
(coquetel). 
HEMATALÓGICO 
O estudo do sistema hematológico pode identificar problemas como 
anemia, coagulopatia herdada e adquirida ou a um estado de 
hipercoagulabilidade. 
 Anemia: É a anormalidade laboratorial mais frequente no pré-
operatório, sendo, no
geral, assintomática e assim pode 
requerer uma investigação mais profunda, para que a sua 
causa possa ser entendida: 
o Exames complementares: 
 Hemograma completo; Reticulócitos; Perfil de ferro 
(ferro sérico, capacidade total de ligação de ferro e 
ferritina); Ácido fólico; Vitamina B12. 
o Pré-operatório: É preciso realizar a suplementação de 
sulfato ferroso, mas geralmente transfusão sanguínea 
não é necessária: 
 A decisão de realizar transfusões no pré-operatório é 
feita com base nos fatores de risco para a doença 
isquêmica cardíaca e no grau de perda sanguínea 
estimada durante a operação. 
Diretrizes para a Transfusão de Concentrado de Hemácias 
para Perda Sanguínea Aguda: 
 Avaliar o risco de isquemia; 
 Estimar ou antecipar o grau de perda sanguínea (menos de 
30% de perda rápida de volume provavelmente não precisa de 
transfusão em indivíduos previamente sadios); 
 Medir a concentração de Hb (10 g/dL indica que a transfusão 
é raramente necessária); 
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 Medir os sinais vitais e a oxigenação tecidual se a hemoglobina 
for de 6-10 g/dL e a extensão da perda de sangue for 
desconhecida; 
 Taquicardia e hipotensão refratária ao volume indicam a 
necessidade de transfusão; 
 Razão de extração de O2 menor que 50% e VO2 diminuída 
indicam que a transfusão geralmente é necessária. 
 
 Coagulação: Histórico pessoal ou familiar de sangramento 
anormal deve ser pesquisado no pré-operatório, sendo 
necessária a transfusão de plaquetas quando menor que 50 
mil: 
o Anticoagulantes: 
 Warfarin: Suspender 5 doses no pré-operatório para 
permitir que o índice internacional normatizado 
(INR) caia para 1,5 ou menos; 
 Heparina não fracionada: Suspender 6 horas antes 
da cirurgia; 
 Heparina de baixo peso molecular: Suspender 12 
horas antes da cirurgia; 
 Filtro de veia cava no pré-operatório: Casos de 
pacientes com embolia pulmonar ou TVP proximal 
recentes (menos de 2 semanas); 
 Profilaxia de TEV: Protocolos institucionais. 
ESTADO NUTRICIONAL 
Vão precisar restabelecer ou fazer suporte nutricional a fim de 
melhor o sistema imunológico e endócrino-metabólica: 
 Perda ponderal maior que 10% nos últimos três meses ou 5% 
em um mês; 
 Nível de albumina, caquexia, dentição podre, ascite ou edema 
periférico; 
 Pacientes desnutridos e casos graves. 
SUPORTE NUTRICIONAL 
Indicado para todos incapazes de usar dieta normal, iniciado de 5-
10 dias antes da cirurgia, podendo ser nasoenteral, parenteral ou 
ambas. 
O objetivo principal não é reganho da massa magra (reserva de 
energia), mas sim otimizar o sistema imunológico do paciente. 
 Desnutrição grave: 
o Nutrição parenteral no pré-operatório por 7 a 10 dias; 
o Reduz cerca de 30-40% dos índices de complicações. 
 
ANTIBIOCOPROFILAXIA 
O intuito da profilaxia com antibiótico é reduzir a taxa de infecção, 
por isso é recomendado usá-la em todas as cirurgias, mas 
principalmente nas contaminadas ou sujas e infectadas. 
Figura 4: Classificação das cirurgias. 
 Administrar antes da incisão; 
 Repetir conforme a necessidade e a perda volêmica, e de 
acordo com a meia vida; 
 O objetivo é reduzir o risco de complicações infecciosas no pós-
operatório: 
o Direcionada principalmente em infecção de sítio 
operatório superficial e profundo; 
o Importante: Endocardite infecciosa. 
PREPARO INTESTINAL 
Hoje em dia quase não é feito mais, principalmente o preparo 
mecânico do cólon. 
 Antibióticos orais: Podem aumentar o risco de infecção pós-
operatória por Clostridium difficile; 
 Preparo mecânico do cólon: Pode aumentar o risco de 
deiscência e infecção. 
MEDICAMENTOS 
MANTER 
 Drogas cardíacas, como: Betabloqueadores e antiarrítmicos; 
 Drogas pulmonares, como: Inalantes e nebulizantes; 
 Anticonvulsivantes; 
 Anti-hipertensivos; 
 Drogas psiquiátricas. 
SUSPENDER 
 Redutores de lipídeos e vitaminas devem ser suspensos no dia; 
 Antiagregantes plaquetários: AAS não tem contraindicação, 
mas deve ter um cuidado maior na cirurgia, e Clopidogrel 
precisa ser suspenso 7-10 dias antes: 
o Cirurgias com dupla agregação, em eletivas, devem ser 
retiradas ou postergadas. 
 AINEs devem ser suspensos um dia antes em pacientes do 
grupo de risco (acima de 60 anos ou com comorbidades); 
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 Estrogênio deve ser suspenso 4 semanas antes; 
 Medicamentos naturais devem ser suspensos 1-7 dias antes 
(ex. Ginko). 
JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO 
Deve se evitar jejum prolongado o máximo possível, pois corre o 
risco de aspiração ou regurgitação. 
 Sólidos e leite devem ser evitados de 6-8 horas antes; 
 Líquidos devem ser evitados 2 horas antes. 
CONSULTA PRÉ-ANESTÉSICA 
 Orientações sobre o jejum no pré-operatório; 
 Avaliação de via área difícil; 
 Medicação sedativa pré-anestésica; 
 Revisão das medicações de uso habitual e alergias; 
 Considerar reserva de hemoderivados/tipagem; 
 Considerar reserva de unidade fechada (UTI) para pós-
operatório. 
 
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CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS 
Pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos sofrem alterações 
súbitas das funções metabólicas e fisiológicas normais, que variam 
em intensidade, de acordo com o tipo e, nos casos de trauma, 
também com a gravidade das lesões. Dor, jejum, perda sanguínea, 
redução da perfusão tissular por lesão extensa e distúrbios 
funcionais de órgãos vitais geram alterações orgânicas e humorais 
que visam restabelecer a homeostasia. 
 O objetivo dos cuidados pós-operatórios são a manutenção da 
homeostase, controle da dor, prevenção e detecção de 
complicações. 
Operações eletivas de pequeno e médio portes, geralmente, são 
realizadas sem intercorrências, acompanhadas de procedimento 
anestésico adequado, e associado a bom controle da dor pós-
operatória, causam poucas alterações nas funções orgânicas no 
paciente de baixo risco, e requerem mínima intervenção médica. 
Ao contrário, as de grande porte, em pacientes com grandes lesões 
teciduais ou com infecções graves, exigem o conhecimento dos 
ajustes homeostáticos e das medidas necessárias para 
restabelecimento dos parâmetros hemodinâmicos, nutricionais e 
cardiovasculares, que irão propiciar adequada cicatrização e 
reabilitação do paciente. 
SALA DE RECUPERAÇÃO PÓS-ANESTÉSICA 
O pós imediato depende muito do porte da cirurgia, seus riscos e o 
estado do paciente. 
 Permanência de 1-3 horas, variando de acordo com a 
recuperação pós-anestésica, na qual há monitorização 
contínua do paciente e principalmente dos seus sinais vitais; 
 Monitoração do retorno à função basal dos sistemas 
cardiovascular, respiratório e imunológico com base na escala 
de Aldrete e Kroulik (>8); 
 Depois da sala de recuperação pós-anestésica, o paciente é 
encaminhado a um quarto ou unidade fechada, dependendo 
de como o paciente se encontra pós cirurgia. 
 
 
Tabela 1: Escala de Aldrete e Kroulik. 
AVALIAÇÃO 
A avaliação é feita através de minuciosos exames físicos repetidas 
vezes para acompanhar a evolução do paciente e ela depende do 
porte da cirurgia e do estado do paciente, podendo ter também 
exames complementares direcionados para as cirurgias e análises 
de comorbidades específicas (rotina em cirurgias de grande porte). 
 Nível de consciência; 
 Estado hemodinâmico: PA, pulso, PVC e débito urinário; 
 Grau de hidratação; 
 Urina: Volume, cor e densidade; 
 Aparelho respiratório: Frequência e ausculta; 
 Ausculta cardíaca; 
 Abdome: Inspeção, palpação e ausculta; 
 Ferida operatória: Inspeção e palpação; 
 Cateter nasogástrico (CNG): Volume e aspecto da drenagem; 
 Drenos: Volume e aspectos das secreções; 
 Panturrilhas: Dor e edema. 
PRESCRIÇÃO MÉDICA 
A medicação pós-operatória deve ser dividida em duas partes: a 
prescrição de medicamentos propriamente dita e as ordens
médicas 
ou cuidados pós-operatórios, que, idealmente, são feitos de forma 
separada e sequencial. 
ORDENS MÉDICAS 
 Repouso: 
o Relativo: O paciente pode estar deitado, sentado ou 
deambulando: 
 
 
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 Deambulação precoce (Preferência): Diminui as 
taxas de infecções respiratórias e a probabilidade de 
desenvolver TVP. 
o Restrito ao leito; 
o Cabeceira elevada a 30 graus. 
 Dieta (preferencial: via oral; quando não possível: via 
parenteral); 
 Reposição de hidroeletrolítica e analgesia; 
 Medicações especiais (ex. antibióticos); 
 Sintomáticos: Analgesia, antieméticos e antipiréticos; 
 Profilaxia de trombose venosa profunda e gastrite de estresse 
(situações especificas); 
 Medicamentos de uso habitual (liberação); 
 Cuidados com cateteres e drenos; 
 Cuidados funcionais: 
o Fisioterapia respiratória e motora: Sempre e deve ser 
iniciada o mais cedo possível. 
 Curativos. 
REPOSIÇÕES 
REPOSIÇÃO HIDROELETROLÍTICA 
 Nominalmente o consumo de água por um indivíduo normal 
(60-80kg) é de 25-30ml/kg/dia. 
 Perdas diárias: 800-1500 ml de urina, 250 ml de fezes e 600-
900 ml de perdas insensíveis; 
 Sódio e potássio: 
o Consumo diário: Na: 1-2mEq/kg/dia e K: 0,5-
1mEq/kg/dia. 
Tabela 2: Reposição parenterais. 
REPOSIÇÃO VOLÊMICA 
 Soro fisiológico: 
o O soro fisiológico, melhor chamado de solução salina, 
deve ser reservado para situações de reposição volêmica 
em pacientes com hiponatremia, hipocloremia ou 
alca10se metabólica. 
 Ringer lactato (via preferencial, devido a quantidade de 
eletrólitos na composição, que se assemelhando mais a 
fisiologia do nosso organismo). 
REPOSIÇÃO GLICÊMICA 
 Soro glicosado 5 ou 10%: 
o Uti1izado para reposição de água pura para as perdas 
insensíveis e para administração de algumas calorias da 
glicose, na tentativa de minimizar o déficit calórico 
determinado pelo hipermetabolismo do pós-operatório. 
 Glicemia entre de 110-180-200mg/dL; 
 Glicemia capilar 2/2h, 4/4h e de 6/6 h; 
 Insulina de ação rápida se necessário; 
 Hipoglicemia (glicose hipertônica 25 ou 50%). 
ANTIB IÓTICOTERAPIA 
O uso de antibióticos em cirurgia é comum seja para prevenir 
infecção em pacientes de risco, seja para tratamento de infecções 
instaladas, que demandaram o procedimento cirúrgico ou que 
surgiram como complicações pós-operatórias. 
Tabela 3: 
Antibioticoterapia. 
 
 
 
 
 
ANALGESIA 
Atualmente diversos tipos de medicamentos são capazes de 
propiciar um PO confortável. Deve ser feita regularmente e não 
apenas nos momentos da sintomatologia dolorosa. 
 Preferencialmente a analgesia deve ser multicanal, ou seja, 
associação de drogas ou modalidades; 
 Principais medicamentos utilizados: 
o Opioides; 
o AINEs: 
 Analgésico simples (dipirona ou paracetamol): 
Analgesia de primeira linha; 
 Pacientes com mais de 60 anos e sem comorbidades, 
o AINE está como analgésico de segunda linha e os 
opióides de terceira; 
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 Paciente com mais de 60 anos ou com comorbidades 
usa os opióides como analgesia de segunda linha. 
o Bloqueios: Epidural, bloqueio de nervos periféricos e 
raqui. 
As operações em andar superior de abdome e tórax, da mesma 
forma que a permanência de drenos produzem mais dor. 
ALTERAÇÕES F IS IOLÓGICAS DA DOR (REMIT) 
 Aumento da frequência cardíaca, aumento da pressão arterial, 
aumento da resistência vascular periférica, aumento do 
trabalho cardíaco, hipoxemia e retenção de CO2; 
 Atelectasias; 
 Dificuldade de tossir, diminuição de volume corrente, 
capacidade residual funcional e alterações na ventilação/ 
perfusão; 
 Náuseas, vômito e íleo paralitico; 
 Oligúria, retenção urinaria; 
 Ansiedade e medo; 
 Fadiga; 
 Falta de sono; 
 Imunossupressão; 
 Dor muscular; 
 Estase venosa; 
 Tromboembolismo. 
ANTIEMÉTICOS 
Comumente prescritos em casos de anestesia geral e procedimento 
do trato digestivo alto e da via biliar. 
 Vômitos: Além de desconfortável, aumenta a dor e pode 
colocar em risco as suturas da parede abdominal, pode ser 
minimizado pelo uso de: 
o Procinéticos: Metoclopramida, bromoprida; 
o Ação central: Dramin, ondansetrona. 
PROFILAXIA DE TROMBOSE VENOSA PROFUNDA (TVP) 
 Fatores de risco: Idade, obesidade, ACO, doenças 
cardiovasculares, ICC, FA, câncer, traumatismo de MMII e 
imobilização prolongada: 
o Dependem também do risco cirúrgico e assim deve-se 
seguir os protocolos institucionais. 
 Baixo risco: Deambulação precoce e meias elásticas; 
 Risco médio e alto: Heparina não fracionada ou de baixo peso 
molecular com filtro de veia cava. 
 
Tabela 4: 
Profilaxia da 
TVP. 
 
 Profilaxia mecânica: Meias elásticas, compressão pneumática 
de MMII e deambulação precoce; 
 Profilaxia farmacológica: Heparina não fracionada ou de 
baixo peso molecular. 
GASTRITE DE ESTRESSE 
Casos de grande queimado, trauma grave e choque hipovolêmico, 
sepse, coagulopatia, insuficiência respiratória e insuficiência de 
múltiplos órgãos estão mais suscetíveis a desenvolver a gastrite por 
estresse, que geralmente tem causa multifatorial. 
Fluxograma 1: 
Gastrite de 
estresse. 
 
 Medicamentos: 
o Inibidor de bomba de próton (diminui o sangramento); 
o Bloqueadores de receptores H2; 
o Antiácidos; 
o Sucralfate. 
ATENÇÃO: Estas drogas têm efeitos adversos, aumentam os 
custos do tratamento e não devem ser utilizadas 
indiscriminadamente. 
OUTROS CUIDADOS 
 Nutrição: Objetiva evitar a cetoacidose do jejum e não o 
suporte nutricional: 
o Necessidade basal de 400Kcal/dia em jejum: 
 SG 5% 500ml fornece 25g de glicose (100Kcal). 
o Dieta oral precoce é importante para o pós-operatório do 
paciente; 
o Fatores importantes: Condições pré-operatórias, idade, 
estado nutricional, intensidade do trauma operatório e 
complicações (fistula e infecção). 
 
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 Sonda nasoenteral (SNG) ou nasogástrica (SNG): 
o Casos de íleo no pós-operatório, aspiração gástrica e 
cirurgias no trato digestivo superior; 
o Retirar quando drenagem for menor que 400ml e RHA 
estiverem presentes. 
 Cateter vesical de demora: Exige manipulação adequada 
durante o período pós-operatório, e deve ser retirado logo que 
possível, ou seja, assim que houver restabelecimento e 
manutenção do estado hemodinâmico; 
 Drenos: Não devem ser rotina, isto é, retirar assim que possível: 
o As drenagens cavitárias podem ser profiláticas, para 
evitar o acúmulo de líquidos biológicos, após 
determinados tipos de operações, ou terapêuticas, para 
drenar coleções ou abscessos. 
o Fechado ou abertos. 
 Curativos: 
o Devem ser mantidos nas primeiras 24-48 horas desde que 
limpos e secos: 
 Curativos especiais (tegaderm, opsite) permanecem 
por até 05 dias. 
o Evitar antissépticos e desinfetantes; 
o Incisões deixadas abertas, para fechamento por segunda 
intenção ou para fechamento primário retardado, devem 
ser tratadas diariamente com limpeza com solução 
salina, desbridamento físico ou químico, se indicado, e 
oclusão com curativos estéreis. 
PRESCRIÇÃO MÉDICA PADRÃO 
 Repouso relativo com estímulo à deambulação; 
 Dieta branda quando bem acordado; 
 O2 sob cateter nasal 3L/min SN; 
 SG 500ml + NaCl 20% ou ringer lactato 500ml: 
o Uso: EV, contínuo, 84ml/h ou 28 gotas/min; 
o Cefazolina 2g, EV, dose única; 
o Dipirona 2g, EV, 6/6 horas; 
o Tramadol 100mg, EV, 8/8 horas, se dor intensa; 
o Metoclopramida 10mg, EV, 8/8 horas; 
o Heparina 5.0000UI, SC, 8/8 horas; 
o Reconciliação medicamentosa; 
o Fisioterapia motora ou/e respiratória (2x por dia). 
 Sinais vitais de 6/6 horas. 
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INTRODUÇÃO 
O advento da anestesia revolucionou o mundo da cirurgia. No 
princípio eram utilizados líquidos voláteis como éter e clorofórmio 
para alcançar
os 5 princípios da anestesia: inconsciência, ausência 
de reflexos, analgesia, relaxamento muscular e amnésia. Nos dias 
de hoje existem diversas drogas que podem ser combinadas de 
diferentes formas e em diferentes vias de infusão para alcançar a 
anestesia. A decisão de qual medicamento e técnica utilizar leva em 
conta condições do paciente e qual procedimento cirúrgico a ser feito. 
HISTÓRIA 
 1846: 1ª anestesia com éter: 
o Extração de tumor da mandíbula. 
 1884: 1ª anestesia local com solução de cocaína: 
o Usada como colírio em uma cirurgia oftálmica. 
TIPOS 
 Geral: Estado reversível da inconsciência que pode ser 
alcançado com administração inalatórias ou venosas. O 
paciente perde a capacidade de respirar espontaneamente, 
sendo necessário suporte ventilatório. 
 Local: Bloqueio reversível da condução nervosa, em uma área 
delimitada determinando perda das sensações, sem alteração 
do nível de consciência ou ação muscular. 
 Regional: Bloqueio dos movimentos e/ou analgesia em apenas 
uma determinada região do corpo, ex.: um braço, uma perna 
ou toda região inferior do abdômen. 
o Algumas literaturas adotam subtipo da anestesia local. 
ANESTÉSICOS GERAIS 
Realizados por agentes inalatórios e/ou venosos: 
 Agentes inalatórios: Isoflurano (mais utilizado), sevoflurano e 
desflurane. 
o O halotano e Enflurano não são mais utilizados. 
 Agentes venosos: 
o Diferente dos agentes inalatórios, nenhum agente venoso 
sozinho possui a capacidade de garantir todos os 
princípios da anestesia, por isso são utilizados em 
combinação ou até mesmo apenas no período de indução. 
o Propofol, Ketamina e opioides. 
Costuma ser dividida em três fases: 
1. Indução: Fase inicial onde o paciente é levado ao estado de 
inconsciência. É comum ser feito com anestésicos venosos. 
 Quando o paciente irá se submeter a cirurgia e está 
nervoso, ainda no quarto, pode ser utilizado um pré-
anestésico a fim de deixar o paciente mais relaxado: 
 O mais utilizado é o midazolam. 
2. Manutenção: Fase onde se monitora o nível de consciência 
para manter a anestesia. Etapa de extrema importância, pois 
o controle do nível de sedação tem influência direta no intra e 
pós-operatório. Sedação superficial pode levar reposta 
adrenérgica no intra operatório e desenvolvimento de 
transtorno de estrese pós-traumático a longo prazo. A 
analgesia adequada também é fundamental, pois consegue 
reduzir a formação de atelectasias e outras complicações. 
3. Recuperação: É o despertar da anestesia. 
ANESTÉSICOS LOCAIS 
Os anestésicos locais são substâncias que levam à interrupção na 
condução do estímulo através do bloqueio dos canais de sódio na 
membrana do nervo pelas fibras nervosas, e assim, interrompe o 
potencial de ação (despolarização) dessas fibras. A eficácia dos 
anestésicos depende de: 
 Volume: Quanto maior o volume injetado, maior a área 
anestesiada; 
 Concentração: Quanto maior a concentração, maior potência 
anestésica e menor tempo de latência; 
 Solubilidade lipídica: Quanto maior a solubilidade, maior a 
passagem através da membrana nervosa e, consequentemente, 
maior e mais rápida a ação; 
 PKa: Os anestésicos são bases fracas, e, ao serem injetados, se 
comportarão em um equilíbrio entre formas não ionizadas 
(ativas) e ionizadas (não ativas). Os anestésicos possuem pKa 
altos, ou seja, em ambientes de pH neutro, se apresentam mais 
na forma ionizada do que não ionizada. Assim, quanto menor 
o pKa do anestésico, maior sua potência, pois maior será sua 
proporção de forma ativa. 
 
 
 
 
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ANESTÉSICO LOCAL IDEAL 
 Ação em área delimitada; 
 Ação reversível; 
 Baixa agressão tecidual; 
 Início de ação rápida e duração suficiente; 
 Grau reduzido de toxidade; 
 Potente (o suficiente para anestesiar); 
 Boa penetração tecidual; 
 Não desencadear reações alérgicas. 
PR INCIPAIS ANÉSTESCIOS 
 Lidocaína (Xilocaína) com apresentação de 1% e 2%: 
o Ação efetiva e segura; 
o Uso tópico (gel ou spray) ou infiltração local; 
o Droga antiarrítmica; 
o pH próximo da neutralizante, logo tem uma baixa reação 
tecidual. 
o Baixa latência (1-2 min); 
o Média duração (1 a 2 horas); 
o Baixa toxicidade (no SNC, ex.: convulsões); 
o Dose máxima 7mg/Kg, e caso associada a vasoconstrictor 
deverá ser aumentada até 10mg/Kg. 
 Bupivacaína (Marcaína) – 0,5% e 0,75% 
o Anestésicos (altas doses) e analgésicos (baixas doses); 
o Infiltração local e bloqueio peridural; 
o Alta potência; 
o Média latência (2-10 min); 
o Longa duração (2-5h após injeção epidural, e até 12 horas, 
após bloqueios nervosos periféricos); 
o Média/alta toxicidade (SNC e cardiovascular); 
o Dose máxima 2mg/Kg, e caso associada a vasoconstrictor 
poderá ser aumentada até 4mg/kg. 
 Ropivacaína (Naropin) – 0,2%, 0,75% e 1%. 
o Ação semelhante a Bupivacaína; 
o Média potência; 
o Longa latência e duração; 
o Média/Baixa toxicidade. 
 Associação com vasoconstrictor: Os anestésicos locais podem 
ser associados a um vasoconstrictor levando a redução da 
velocidade de absorção, logo aumenta o tempo de ação e 
redução da toxicidade, além da redução do sangramento. 
o Adrenalina; 
o Deve-se considerar as condições clinicas do paciente e 
presença de comorbidade. 
o A preocupação dessa mistura encontra-se na promoção 
de isquemia, principalmente quando infundido em 
extremidades como dedos, nariz e orelha. 
o Contraindicada: 
 HAS grave, hipertireoidismo; cardiopatia grave; 
aterosclerose avançada; Feocromocima. 
EFEITOS ADVENTOS 
 Reações alérgicas; 
 Efeito cardiovascular: 
o Arritmias; 
o Parada cardiorrespiratória. 
 Efeito neurológico: 
o Parestesia perioral; 
o Zumbidos e estocomas visuais; 
o Tonturas; 
o Abalos musculares; 
o Convulsões localizadas e generalizadas (coma). 
PREVENÇÃO 
 Aspiração antes da injeção: 
o Pode detectar punção vascular inadvertidas. 
 Conhecimento da dose máxima segura; 
 Adição epinefrina: 
o Diminui absorção. 
TRATAMENTO 
Caso necessário, avaliar situação de cada paciente: 
 O2 suplementar, monitorização, suporte ventilatório, 
anticonvulsivantes, suporte cardiovascular. 
TÉCNICAS DE ANESTESIA 
 Anestesia tópica; 
 Anestesia infiltrativa; 
 Bloqueio de campo; 
 Bloqueios regionais; 
 Anestesias espinhais. 
ANESTESIA TÓPICA 
 Indicações ideias: 
o Mucosas do trato respiratório superior, conjuntiva, 
ouvido, ânus, trato geniturinário. 
 Medicações utilizadas: 
o Lidocaína; Procaína: 
 Apresentações: Gel, spray, pomada, solução. 
Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2021.1 – 4º semestre 
 
ANESTESIA INF ILTRADA 
 Indicações ideias: 
o Pequenos procedimentos superficiais em pele, tecido 
celular subcutâneo ou mucosas: 
 Ex.: Exerese de verrugas, nevos e cistos. 
 Medicações utilizadas: 
o Lidocaína; Bupivacaína: 
 Apresentação: Solução associada ou não a 
vasoconstrictor. 
 Técnica: 
1. Antissepsia; 
2. Colocação do campo cirúrgico; 
3. Botão anestésico 
próximo a lesão; 
4. Infiltração de 
anestésico sob a lesão e em 
suas laterais. 
Figura 1: Técnica anestesia 
infiltrada. 
BLOQUEIO DE CAMPO 
 Indicações ideais: 
o Pequenos procedimentos superficiais ou profundos em 
pele, tecido celular subcutâneo ou mucosas. 
 Medicações utilizadas: 
o Lidocaína; Bupivacaína. 
 Técnica: 
1. Antissepsia; 
2. Colocação do campo cirúrgico; 
3. Botão anestésico 
próximo a lesão; 
4. Infiltrado de 
anestésico sob a lesão em 
área delimitada. 
Figura 2: Técnica bloqueio 
de campo. 
BLOQUEIOS REGIONAIS 
Anestesia uma região delimitada por um bloqueio de plexo ou 
nervo específico com anestésicos locais. São usadas para 
procedimentos em extremidades ou 
superficiais. 
 Plexo braquial, lombar e nervos 
periféricos. 
Figura 3: Aplicação plexo braquial. 
 Vantagens: 
o Menor estresse fisiológico em comparação as anestesias 
regionais. 
o Evita anestesia

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