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AULA 1 – SAÚDE E FÁMILIA RESUMO LARA FIRPO – ADAPTADO POR ANNA BEATRIZ FONSECA – MEDFTC2020.1 FORMAÇÃO DO MÉDICO DA FAMÍLIA A medicina de Família e Comunidade (MFC) é definida como a especialidade médica que presta assistência à saúde de forma continua, integral e abrangente para as pessoas, suas famílias e a comunidade. A organização e o registro da prática clínica na Atenção Primária à Saúde (APS) têm especificidades oriundas dos atributos essenciais derivados do modelo de Atenção à Saúde, que difere dos formatos tradicionalmente empregados na atenção subespecializada e hospitalar. O Médico de Família e Comunidade (MFC) e as equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) devem se familiarizar e incorporar essas novas formas de organização e registro em seu processo de trabalho cotidiano, a fim de prover cuidado efetivamente centrado nas pessoas, nas famílias e nas comunidades de seu território. PRINCÍPIOS DE MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE: O Médico de Família e Comunidade tem importantes princípios norteadores na sua formação e prática, servindo de base para o desenvolvimento de outras características de atuação mais específicas. São eles: 1. O MFC é um clínico qualificado: A abordagem do médico é focada na pessoa, seu contexto biopsicosocioespiritual e familiar, permitindo uma visão holística do paciente e uma elaborada construção de hipóteses; trata-se de “expert-generalista”, porquanto conhece um pouco de cada doença mais comuns e atende desde crianças até idosos. É necessário desenvolver um entendimento da experiência da pessoa sobre a doença, particularmente suas ideias, sentimentos e expectativas sobre o que está acontecendo com ela, e identificar que pode haver impacto da doença na sua vida pessoal, familiar, profissional e social. Procurar entender os reais motivos da vinda das pessoas à consulta, utilizando a anamnese como ferramenta tecnológica que permite obter a maioria das informações necessárias ao manejo do caso, é atribuição do médico de família e comunidade. 2. A atuação do MFC é influenciada pela comunidade: As condições de saúde da população de abrangência influenciam a demanda que procura o médico. Portanto, o MFC deve conhecer a ecologia de saúde do seu território e as doenças mais prevalentes, fator que facilita a formulação de diagnósticos e tratamentos. A prática do médico de família e comunidade é influenciada significativamente por fatores da comunidade onde ele atua. O médico de família e comunidade também presta cuidado adequado a pessoas na fase final da vida e suas famílias, considerando que, em tais situações, existe muito a se fazer para diminuir o sofrimento, manter a qualidade de vida, proporcionar uma morte digna e fornecer apoio aos familiares, amenizando o sofrimento da perda e do luto. Ele pode prestar seus cuidados em ambulatório, hospital, incluindo o setor de emergências, a domicílio ou em outros cenários (creches, escolas, presídios, empresas). 3. O MFC é o recurso de uma população definida: Na maioria das vezes, o MFC atua na Atenção Básica, sendo porta de entrada para o cuidado em saúde, devendo ter sobre seus cuidados, uma população adequada, da qual possa “dar conta”, o que lhe permitiria, ter sua resolubilidade e disponibilidade para com essas pessoas. Dessa forma, é possível exercer promoção em saúde e rastreamento de doenças, ao mesmo tempo em que há o acompanhamento longitudinal, permitindo a interferência no ciclo de vida pessoal e familiar. Portanto, a forma como o médico se organiza para cuidar da população requer habilidade e aptidão. Ao médico de família compete cuidar de pessoas, de forma personalizada e mostrando compaixão pelo seu desconforto, compartilhando seu sofrimento e entendendo o significado da doença para aquela pessoa, e esforçando-se para sentir junto com a pessoa. Assim é possível humanizar os padrões de cuidado protocolares e tecnológicos dos dias atuais. 4. A relação médico-pessoa é fundamental para o desempenho do MFC; A relação do médico de família com cada pessoa sob seus cuidados deve ser caraterizada pela compaixão, compreensão e paciência. De acordo com o Método Clínico Centrado na Pessoa, a relação médico- paciente deve torna-se um vínculo a partir do momento em que o ponto de vista do paciente é considerado, sua participação no tratamento é incluída e o cuidado é continuado. Então, quando os laços são estreitados, a efetividade do médico é maior. O médico de família e comunidade possui entendimento e apreciação da condição humana, especialmente da experiência da pessoa com a doença, colocando a pessoa em primeiro lugar. A mesma queixa pode ter significados diferentes para pessoas diferentes, repercutindo no manejo a ser adotado: quais exames realizar, o quanto pode ser resultado do estilo de vida, personalidade e resposta em situações idênticas anteriores. Todos os princípios são igualmente importantes para a prática clínica, além de compostos por ações. Nenhuma dessas ações é exclusiva dos Médicos de Família, entretanto, quando usadas em conjunto, representam uma visão distinta, um sistema de valor e uma abordagem dos problemas, que é diferente da identificável em outras disciplinas ou especialidades. Há um foco no indivíduo e na família, mas também um foco voltado para a comunidade. Esses dois focos devem existir de forma integral, contextualizada e resolutiva. A Medicina de Família e Comunidade não é a soma dos conhecimentos das demais especialidades, pois tem um corpo de conhecimentos próprios e se utiliza dos existentes em outras áreas de acordo com a realidade e a necessidade da prática. Obs.: Princípios da MFC (Ian McWhinney): I. Medicina centrada no paciente; II. Compreender o contexto da doença; III. Prevenção oportuna e educação em saúde; IV. Vigilância em saúde (risco); V. Rede comunitária de cuidados; VI. Gestão de recursos; VII. Abordagem integral; VIII. Aspectos subjetivos (sentimentos/ relacionamentos). Aspectos da prática do médico de família e comunidade comparados com outras especialidades médicas. A primeira característica refere-se ao foco na prática, que, para o médico de família e comunidade, é na pessoa de modo integral, e não apenas na doença que ela traz. Soma-se a isso o atendimento às pessoas em vários cenários, incluindo o domicílio. A segunda característica está relacionada com a continuidade dos cuidados que o médico de família e comunidade presta às pessoas ao longo da vida, sustentados, ao longo do tempo, mediante repetidos contatos, caracterizando o que se chama de longitudinalidade, levando à construção de um conhecimento particular sobre as pessoas, sem deixar de ver os aspectos de seu universo. A terceira e a quarta características se relacionam com o estilo diagnóstico e a classificação diagnóstica dos problemas de saúde, pois a demanda do médico de família e comunidade apresenta-se em seus formatos iniciais por meio de queixas ou problemas de saúde na maioria das vezes inespecíficos, caracterizando sua atuação pela geração de hipóteses diagnósticas e pelo teste delas, classificando-as de modo pouco específico, o que faz a pessoa necessitar de repetidos contatos. A quinta característica tem relação com o momento da história natural das doenças, em que o médico de família entra em contato com as pessoas, vendo os problemas em seu início e ainda pouco definidos, o que exige um raciocínio clínico apurado e estratégias de abordagem diferentes dos demais especialistas, que, em geral, recebem as pessoas com quadros, mais definidos ou mesmo já diagnosticadas. E importante o uso do tempo como elemento diagnóstico. Aqui também surge um novo fator, pois o médico de família e comunidade deve estar alerta e ser capaz de identificar precocementesinais daquelas situações que exigem intervenção imediata ou que trazem risco de morte. MODELO BIOPSICOSSOCIAL: É um conceito amplo que visa estudar a causa ou o progresso de doenças utilizando-se de fatores biológicos (genéticos, bioquímicos), fatores psicológicos (estado de humor, de personalidade, de comportamento) e fatores sociais (culturais, familiares, socioeconômicos, médicos). O modelo biopsicossocial ao contrário do modelo biomédico, o qual atribui a doença apenas a fatores biológicos como vírus, genes ou anormalidades somáticas, abrange disciplinas que vão desde a medicina à psicologia e à sociologia. Por ser um conceito recente, sua prevalência varia entre as disciplinas. O modelo biopsicossocial mantém contato com diversas disciplinas, principalmente aquelas que possuem um enfoque nos três fatores principais ao qual o modelo propõe analisar, sendo eles: o Componente Biológico: procura compreender como a causa da doença decorre no funcionamento do corpo do indivíduo. o Componente Psicológico: procura potenciais causas psicológicas para um problema de saúde, como a falta de autocontrole, perturbações emocionais e pensamento negativo. o Componente Social: investiga como os diferentes fatores sociais, como o status socioeconômico, cultura e as relações sociais podem influenciar a saúde. O modelo biopsicossocial baseia-se, em parte, na teoria social cognitiva, o que implica o processo de tratamento da doença requerer uma equipe de saúde que pontue aspectos biológicos, psicológicos e sociais que influenciaram um paciente. Em um sentido filosófico, o modelo biopsicossocial afirma que o funcionamento do corpo pode afetar a mente e o funcionamento da mente pode afetar o corpo.
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