Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Juan E. Diaz Bordenave (1926-2012), nascido no Paraguai, na cidade de Encarnación, obteve seu doutorado em Comunicação no ano de 1966 pela Michigan State University. Foi reitor da Universidade Teko Arandú, além de consultor internacional de Comunicação e Educação. Seu livro “O que é Comunicação” é publicado em 1982 pela Editora Brasiliense compondo a coleção Primeiros Passos. O livro é composto por nove seções, incluindo o Prólogo, sendo estes: O meio ambiente social da comunicação; Do grunhido ao satélite; O ato de comunicar; É impossível não comunicar; Que “significa” isto?; Os dois gumes da linguagem; O poder da comunicação e a comunicação do poder e uma última seção com indicações de leituras. Bordenave explicita que na década de setenta, passou-se a compreender o homem como "homem social''. A importância do seu ambiente social foi destacada. No primeiro momento houve a tentativa de compreendê-lo através de modelos mecanicistas. Nesse cenário, qual é a posição da comunicação, pergunto o autor, em relação às necessidades, os contextos políticos reais que a mesma conseguem atender? No primeiro momento, entende-se que os meios de comunicação se direcionam mais ao lucro do que aos outros pontos da vida do homem social. No entanto, a comunicação está presente em todo nosso ambiente. Sejam gritos, palavras, vestimentas, conversas, aparelhos eletrônicos e etc. A comunicação é de extrema importância, pois até mesmo os padrões da nossa cultura são transmitidos por ela. A nossa inserção na sociedade, mesmo os detalhes mais indiretos, dão-se através da comunicação: a nossa socialização está intimamente ligada a ela. E essa, por sua vez, é muito mais que meros meios de comunicação social. Nosso meio social está intimamente entrelaçado com a comunicação, tornando-se objeto de extrema importância, temos o fato, por exemplo, levantado por Bordenave de que os meios de comunicação, como jornais e programas televisivos, possuem efeitos sobre nós, sejam positivos ou negativos, há a relação entre os meios e as mobilizações sociais dos telespectadores, e além disso, as telenovelas são capazes de proporcionar a vivência de sensações e de emoções naqueles que assistem. Como o ambiente social não é estático, essa mesma característica está presente no objeto de estudo do autor. A comunicação, em suas palavras, é objeto de evolução. De início, associamos um signo a um objeto e atualmente (1982) utilizamos o espaço para a realização da comunicação com o uso de satélites. Outra marca desta evolução consiste na passagem da língua oral para a escrita; esse processo demonstrou algumas limitações da língua falada e certas vantagens da última, pois a fixação dos signos permite a transmissão do conteúdo a distância. Outra evolução pertinente foi a dos meios de comunicação, passamos da Prensa de Gutenberg à fotografia, esta última permitindo o surgimento do cinema. Dessa forma, destaca Bordenave, a evolução da comunicação inclui as novas descobertas químicas e de eletrônica que tornaram possíveis novos meios de comunicação. No entanto, essa evolução do ponto de vista dos meios, desdobrou na organização de empresas para a exploração comercial destas novas inovações tecnológicas de cunho comunicacional; o autor cita, por exemplo, a France Press. O resultado foi a conquista desta indústria sobre o mercado. As outras marcas da comunicação explicitadas pelo autor estão no uso da mesma: ela serve para nos relacionarmos e através dela somos capazes de compartilhar nossas experiências, sentimentos e ideias. Disto, entende-se que a “comunicação é um produto funcional da necessidade humana de expressão e relacionamento” (BORDENAVE, 1982, p, 45). As suas funções são variadas, seja de caráter instrumental, de natureza material e espiritual; função informativa, regulatória, de expressão pessoal e imaginativa, além de função heurística. Isto leva ao autor inferir que é impossível não comunicar, pois a comunicação não se restringe à fala ou à escrita, mas inclui as funções citadas acima, o que engloba até mesmo nossas expressões corporais. O autor chama a atenção do leitor de que por mais vantagens que temos e usufruímos da comunicação e de suas diversas funções e sua evolução, muitos desentendimentos são causados por ela. Somos capazes, através dela, de enganar pessoas com nossas habilidades comunicativas, reter informações e causar confusão de forma proposital. Além disso, a comunicação pode revelar traços de nosso sujeito social, como a classe social dos indivíduos, desta maneira, a comunicação pode ser utilizada seja como fator integrador ou desintegrador social. Conclui-se, portanto, que esta pode relacionar-se com o poder, interferindo no ambiente social em que estamos inseridos, seja através da manipulação comunicacional ou pelas tentativas de mudança de significações, alterando crenças e valores de uma determinada sociedade. É claro que no meio disso, o autor apresenta a habilidade que temos de elevar nossa capacidade comunicacional, não há apenas o lado negativo. Assim, Bordenave oferece aos seus leitores a “comunicação da resistência” frente a utilização do poder na comunicação, como explicado acima, e esta comunicação poderia servir para construir uma sociedade melhor, não desintegrada, visando o melhor uso da comunicação dos indivíduos numa sociedade participativa, promovendo o crescimento integral de suas partes e onde o diálogo é sim possível.
Compartilhar