Buscar

CAPÍTULOS 1 E 2 DE "A IMAGINAÇÃO EDUCADA" DE NORTHROP FRYE

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

RESUMO DOS CAPÍTULOS 1 E 2 DE A IMAGINAÇÃO EDUCADA (1965) DE NORTHROP FRYE. Campinas: Vide Editorial, 2017. Tradução: Adriel Teixeira, Bruno Geraidine, Cristiano Gomes.
*Estes capítulos são transcrições de palestras realizadas pelo autor no ano de 1962 publicadas três anos depois. 
Pontos significativos que são abordados: o que é literatura, contos de fadas funcionam da mesma forma que a mitologia.
CAPÍTULO UM “O MOTIVO DA METÁFORA”
Os três usos da linguagem
O primeiro uso da linguagem se dá ao nível mental para darmos nomes e qualidades ao mundo (posição especulativa da mente). O segundo uso é a linguagem do senso prático (os verbos), e o terceiro nível linguístico: o equilíbrio entre consciência e prática, é aqui que surge a imaginação nas ocupações humanas. Temos três níveis mentais da linguagem, sendo que a imaginação se posiciona na terceira, isto é, há o nível da consciência ou da percepção (a linguagem da conversa corriqueira), a do nível de participação social (a linguagem profissional ou tecnológica ou do senso prático). O terceiro nível é a da imaginação, sua linguagem é literária. São três modos de usar a palavra.
A literatura pertence ao mundo que construímos, não ao mundo que vivemos (que não podemos alterar). O mundo da literatura é humano em sua forma e suas forças primárias são o amor, a morte, a paixão e a alegria. Na imaginação o que possamos imaginar, vale. No mundo humano a imaginação não tem limites. 
O título “O motivo da metáfora” é uma referência a um poema de Wallace Stevens, o autor usa essa referência para ilustrar o caráter associativo da literatura ao utilizarmos as figuras de linguagem. O motivo da metáfora é associar nossa mente a este mundo imposto a nós que não pode ser modificado. “O poeta, entretanto, não se inibe nem um pouco de usar essas duas primitivas, arcaicas formas de ṕensamento [analogia e metáfora], pois seu ofício não é descrever a natureza, mas nos mostrar um mundo completamente absorvido e possuído pela mente humana” (p.28). 
CAPÍTULO DOIS “A ESCOLA DO CANTO”
“Defendi que havia três principais comportamentos: em primeiro lugar, um estado de consciência ou percepção que nos separa, enquanto indivíduos, do resto do mundo; em segundo, a atitude prática de criar um modo humano de viver nesse mundo; por último, um agir imaginativo, uma visão ou modelo do mundo tal como poderíamos imaginá-lo ou gostaríamos que ele fosse. Disse que há uma linguagem para cada comportamento (…) a linguagem da conversa corriqueira, a das habilidades práticas e a da literatura” (p.31).
A linguagem da literatura é associativa, utilizamos figuras de linguagem para sugerir uma IDENTIDADE entre a mente humana e o mundo externo a ela. O que mais importa a esta identidade é a IMAGINAÇÃO.
A vida imaginativa começa com a identificação do mundo humano com o mundo não humano de diversas formas: as divindades são um exemplo, assim como magos ou reis ligados a um poder além-mundo. Estas coisas são impulsos de identificar o mundo humano com o natural, são metáforas dessa identificação e quando estas coisas deixam de ser crenças, tornam-se puras metáforas, pertencem a linguagem poética, da crença passam para a literatura.
As duas primeiras formas de usar a palavra sempre se referem a alguém, porém o terceiro nível, na literatura, não há interlocutor direto, “o que importa nela não é o que se diz, mas como se diz” (p.38).
A literatura trabalha com “estórias convencionais”. Exemplos: o herói de nascimento misterioso se repete em diversas estórias, como em Moisés, o Rei da Mesopotâmia, Perseu, Íon, etc. “todos os temas, personagens e histórias que encontramos na literatura pertencem a uma grande família interligada” (p.41). 
“Eis uma história convencional, o nascimento misterioso de um herói. Ela foi contada a respeito de um rei da Mesopotâmia muito antes de existir qualquer Bíblia; incorporou-se à história de Perseu, na mitologia grega; transportou-se então à literatura pela peça de Eurípides Íon; depois, foi usada por Plauto, Terêncio e outros escritores de comédias; por fim, tornou-se um recurso de ficção, como em Tom Jones e Oliver Twist, e segue até hoje firme e forte” (p.35).
Northrop Frye cita correntemente o caráter associativo da literatura e chama a atenção que a mitologia incorpora um dos elementos essenciais da natureza que é o CICLO: “Um sem fim de mitos e histórias primitivas, então, vinculam-se a esse ciclo que se estende como uma espinha dorsal através da vida humana e da vida natural”
E mais a frente:
“As mitologias são repletas de jovens deuses ou heróis que passam por variadas aventuras bem-sucedidas, são abandonados ou traídos e mortos, e então retornam à vida, evocando o movimento do sol céu afora e escuridão adentro, ou a progressão das estações através do inverno e da primavera. (…) Mitos desse gênero permeiam histórias, como as de Perseu, Teseu e Hércules, na mitologia grega e insinuam-se em vários episódios bíblicos” (p.42).
A interpretação de Robert Graves
A tragédia, comédia, sátira e romance contam momentos de uma única estória, que se tornaram os modos típicos de contarmos as estórias. “A literatura como um todo”. Para Graves, todas estas estórias que se repetem se originaram de uma só. Ele diz que a origem de todas elas é a da Deusa Branca, uma figura associada a Lua, que é uma heroína que pode ter vários aspectos: a donzela, a esposa, a feiticeira. Ele defende que os gêneros literários nascem de episódios dessa estória única.
Northrop Frye acredita que esta interpretação se encaixa em outra coisa: o sentimento de um mundo perdido (Éden, o Atlântico, Hespérides) e esperamos o retorno a este lugar, é um sentimento de identidade perdida e a literatura por ser uma linguagem associativa tenta reconduzir a nossa imaginação de volta a este sentimento. Muitos poetas tentam fazer isso (Blake, por exemplo). Para Frye, o arcabouço de toda a literatura é a história da perda e da reconquista da identidade (de associação). Ele explica que conforme a civilização vai avançando em determinados aspectos os problemas centrais da literatura passam ser as questões mais humanas e não mais essa identificação do humano com o natural e em outro capítulo ele diz: “Sentimos muitas vezes que certos tipos de literatura, como os contos de fadas, são de alguma modo benéficos à imaginação: a razão disso é que eles restauram a perspectiva primitiva (de associação), própria das mitologias” (p.104).

Continue navegando