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1 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética CONCEITO A Sexologia Criminal ou Sexologia Forense pode ser assim definida ou conceituada: ▪ Área da Medicina-Legal que trata das questões médico-biológicas e perici- ais ligadas aos delitos conta a liber- dade e dignidade sexual ▪ Estudo dos problemas médico-legais ligados ao comportamento sexual. ▪ Tem por objeto de estudo as incidên- cias médico‐legais relativos ao sexo. ▪ Seu objeto de estudo refere-se a todos os fenômenos ligados à sexualidade e suas implicações no âmbito jurídico. PRINCIPAIS CAMPOS DA SE- XOLOGIA FORENSE OBJETOS DE INVESTIGAÇÃO ▪ EROTOLOGIA FORENSE ✓ Alguns autores englobam esse campo na área de Psicologia ou Psicopatolo- gia Forense (vide Croce & Croce Jr., 2012), em virtude da relação com a psique e o comportamento humano. ✓ Estuda os desvios e perversões sexu- ais, as anomalias do instituto sexual, suas modificações qualitativas e quantitativas e as relações com os cri- mes sexuais e demais questões jurídi- cas. ▪ HIMENOLOGIA FORENSE ✓ Estuda os diversos aspectos médico- legais e jurídicos relacionados aos crimes sexuais e as vítimas, como comprovação técnica da conjunção carnal. Estudo do hímen. ▪ OBSTETRÍCIA FORENSE ✓ Estuda os aspectos médico-legais e suas interações jurídicas em questões relacionadas à fecundação, gestação, parto, puerpério, os respectivos tipos penas e os exames para constatação e materialização dos delitos. LEGISLAÇÃO Muitas são as questões relacionadas aos cri- mes de natureza sexual. O objetivo aqui não será expor a legislação sobre o assunto (DI- REITO PENAL). O foco do nosso estudo serão os procedimentos dos exames perici- ais para a constatação de crimes sexuais. Quanto a Legislação brasileira vigente vale a pena ficarmos atentos ao que diz o Código Penal e a Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009 – Altera o Título VI da Parte Especial do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, e o art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do inciso XLIII do art. 5o da Constituição Fe- deral e revoga a Lei no 2.252, de 1o de julho de 1954, que trata de corrupção de menores e o Estatuto da Criança e do Adolescente - L 8.069/1990 (Art. 240, 241, 244-A), a sa- ber: Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009 DOS CRIMES CONTRA A LIBER- DADE SEXUAL ✓ Estupro (art. 213); Violação sexual mediante fraude (art. 215); Importu- nação sexual (art. 215-A, novo, po- dendo associar ao frotteurismo); As- sédio sexual (art. 216-A); Registro não autorizado da intimidade sexual (art. 216-B). Sexologia criminal 2 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL ✓ Estupro de vulnerável (art. 217-A); corrupção de menores (art. 218); Sa- tisfação de lascívia mediante pre- sença de criança ou adolescente (art. 218-A); Favorecimento da prostitui- ção ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B); Divulga- ção de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia (218-C). DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE PROSTITUI- ÇÃO OU OUTRA FORMA DE EX- PLORAÇÃO SEXUAL ✓ Mediação para servir a lascívia de ou- trem (art. 227); Favorecimento da prostituição ou outra forma de explo- ração sexual (art. 228); Casa de pros- tituição (art. 229); Rufianismo (art. 230). ESTUPRO ✓ Art. 213. Constranger alguém, medi- ante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou per- mitir que com ele se pratique outro ato libidinoso (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009): Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. ✓ §1º Se da conduta resulta lesão cor- poral de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. ✓ §2º Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. ✓ Art. 213 do Código Penal brasileiro torna tanto o homem quanto a mulher sujeitos ativos e passivos do crime, sendo o elemento subjetivo o dolo do agente em praticar qualquer um dos atos que tipificam o Estupro. ✓ Para a Medicina-Legal a conjunção carnal é definida como a introdução do pênis, em ereção, na vagina (in- trommissio penis in vaginam), com ou sem ejaculação (imissio seminis). ✓ Ato libidinoso seria qualquer ato de natureza sexual diverso da conjunção carnal, a procura da gratificação se- xual. ✓ Cópula ectópica é qualquer cópula diversa ao coito vagínico, como a có- pula anal, retal ou vulvar. CONCEITOS DE ALGUNS TERMOS ENCONTRADOS NA LEGISLAÇÃO (LEIS) ✓ Seduzir: enganar; iludir; persuadir com arte e manha; desviar; conduzir convencendo; forma não violenta de captação da anuência da(o) ofen- dida(o) para fins sexuais. ✓ Mulher virgem: é aquela contra a qual não se pode provar a conjunção car- nal; para a perícia, o elemento funda- mental é o hímen. ✓ Menor de 18 anos e maior de 14: pe- ríodo de idade atendido no disposi- tivo penal relativo ao crime de sedu- ção; se a vítima é menor de 14 anos – estupro. ✓ Justificável confiança: é o crédito que goza o homem junto à ofendida por meios seguros e idôneos, capazes de leva-la a confiar. ✓ Inexperiência; não pode ser sinônimo de inocência ou completa ingenui- dade; falta de conhecimentos que a experiência da vida taz a cada um, gradativamente. 3 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética PERÍCIA ✓ A perícia em Sexologia Criminal é de suma importância para a investi- gação criminal, tanto pela comple- xidade das estruturas e elementos analisados, quanto em razão da gra- vidade dos fatos e circunstâncias que ela encerra. EROTOLOGIA FORENSE ➢ Estuda os crimes sexuais e as anoma- lias do instituto instituto sexual, se- xual, a prostituição e o perigo de con- tágio. ➢ Dos nossos instintos naturais, dois se destacam: o de nutrição – que asse- gura a conservação da espécie, e o de perpetuação – que garante a continu- ação da espécie. ➢ Nota-se ultimamente uma inflação na literatura sobre sexo, assunto deli- cado e embaraçoso. ➢ O perigo encontra-se no fato de que indivíduos, ávidos por inovações, possam deixar-se arrastar por uma ideologia sexual que podem leva-los a terríveis frustações. TRANSTORNOS DE SEXUA- LIDADE ▪ São distúrbios qualitativos e quanti- tativos do instinto sexual. ▪ De acordo com França (2017), os transtornos da sexualidade ou PA- RAFILIAS são considerados distúr- bios quantitativos (mais ou menos desejo sexual) ou qualitativos do instinto sexual, fantasias ou compor- tamento de forma inabitual ligados ao sexo. FORMAS PATOLÓGICAS RELA- TIVAS À QUANTIDADE ✓ Aumento ou exaltação ✓ Diminuição FORMAS PATOLÓGICAS RELA- TIVAS À QUALIDADE ✓ Inversão ✓ Desvio do instinto INADEQUAÇÕES SEXUAIS OU DISFUNÇÕES SEXUAIS 1. Alterações no DESEJO a) Desejo sexual HIPOATIVO i. Anafrodisia – diminuição ou ausên- cia do desejo sexual do homem; de causa nervosa (Tabes dorsalis), glan- dular (diabetes), psíquica, congênita ou vício. ii. Frigidez - diminuição ou ausência do desejo sexual da mulher; se deve a doenças psíquicas, glandulares ou a vaginismo, b) Desejo sexual HIPERATIVO – Im- pulso Sexual i. Erotismo – Tendência abusiva e exa- cerbada aos atos sexuais, sendo mais comum ocorrer em homens. No 4 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética homem é chamado SATIRÍASE; na mulher, NINFOMANIA. ▪ Satiríase – ereção, ardor sexual, con- sumação do ato com ejaculação; causa patológica. ▪ Ninfomania (Uteromania) – não sa- tisfação do desejo sexual; crônica ou aguda; causa: histeria. 2. Aversão e falta de prazer – ANEDONIA SEXUAL – estritamente ligada a psicopa- tologias crônicas.3. Falha de resposta genital. 4. Transtorno orgásmico feminino e mascu- lino – ejaculação precoce. 5. Dispareunia e vaginismo – transtornos devido a dor. 6. Autoerotismo - consiste na gratificação sexual sem parceiro. Coito sem parceiro (coito Psíquico de Hammond). 7. Erotomania - mania amorosa; delírio pelo amor sensual; paixão avassaladora, a hipér- bole do amor platônico; erotismo extremo e mórbido; ideia fixa de amor. 8. Exibicionismo - obsessão impulsiva de mostrar seus órgãos genitais a outras pessoas, sem convite para a cópula; pre- ferência por locais de grande aglomera- ção; local e horário recorrentes; pode ser de forma discreta através de decotes. TRANSTORNOS DE IDENTI- DADE SEXUAL 1. Transexualismo ▪ Transtorno da identidade sexual pela inadaptação ao próprio sexo; o indi- víduo se identifica com o gênero oposto, sendo impelido ao intenso desejo de adquirir suas características físicas; aversão e negação ao sexo de origem; pseudosíndrome psiquiá- trica; conhecido também por sín- drome da disforia sexual ou de gê- nero. ▪ Classificação ✓ Pseudotravestido: roupas do sexo oposto, para desfrutar de experiên- cias temporárias. ✓ Travestido-fetichista: uso de roupas do sexo oposto para obter excitação sexual – transtorno de preferência. ✓ Travestido verdadeiro: desejo de vi- ver e ser aceito como sexo oposto. TRANSTORNOS DE PREFE- RÊNCIA SEXUAL 1. HOMOSSEXUALISMO (Homosse- xualidade) a) Homossexualismo masculino – tam- bém chamado de uranismo ou pede- rastia; consiste na atração sexual e prática de atos libidinosos por indiví- duos do mesmo sexo (homem + ho- mem); considerado perversão sexual. b) Homossexualismo feminino – tam- bém chamado safismo, lesbianismo ou tribadismo; consiste na atração e prática de atos libidinosos entre mu- lheres. 2. NARCISISMO – admiração pelo próprio corpo ou o culto exagerado de sua própria personalidade; sempre com indiferença para o sexo oposto; termo derivado de Narcisus, aquele que se apaixonou pela sua imagem refletida no lago. 3. FETICHISMO – este transtorno se apre- senta como uma absorção completa de amor por uma determinada parte do corpo ou por objetos pertencentes à pessoa amada. 4. PIGMALIANISMO - amor exagerado e anormal por estátuas; conhecido também 5 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética como Estatuafilia, Iconolagnia e Iconoma- nia. 5. DOLISMO (doll = boneca) – atração que o indivíduo tem por bonecas e manequins, podendo chegar à relação sexual com elas. 6. DONJUANISMO - expressão que deriva de Don Juan, consistindo na manifestação obsessiva e compulsiva à sedução e às con- quistas amorosas, de forma ruidosa e exibi- cionista. 7. MIXOSCOPIA (escoptofilia OU voyeu- rismo) – prazer erótico despertado em cer- tos indivíduos em presenciar o coito de ter- ceiros. 8. RIPAROFILIA – atração sexual patológica por pessoas desasseadas, sujas, de baixa condição social e higiênica; mais comum no homem; um exemplo seria também a preferência de um homem pela prática de atos libidinosos no período menstrual da parceira. 9. PLURALISMO (troilismo) – prática se- xual onde participam três ou mais pessoa. 10. ONANISMO – impulso obsessivo à ex- citação dos órgão genitais, comum na pu- berdade; na fase adulta tem a conotação de psicopatia; coito solitário de Onan. 11. EDIPISMO - impulso sexual com ten- dência ao incesto, ou seja, desejo sexual com parentes próximos. 12. FROTTEURISMO - desvio sexual que consiste em esfregar ou encostar seus ór- gãos genitais (principalmente homens em mulheres) em locais de aglomerações como ocorre em transportes públicos. 13. BESTIALISMO (zoofilismo) - prefixo “zoo” alusão a animal; é a satisfação sexual e pratica de atos libidinosos com animais; zooerastia - nome específico da relação se- xual com animais; zoossadismo - denomi- nação dada a forma sádica de gratificação sexual por maus-tratos e sacrifício do ani- mal. 14. NECROFILIA - (necro, do grego nekrós = morte, cadáver) obsessão e impulsão de praticar atos sexuais com cadáveres. 15. VAMPIRISMO: perversão da sexuali- dade que consiste em adquirir gratificação sexual ao sugar ou entrar em contato com o sangue do parceiro(a). 16. CLISMAFILIA: parafilia a qual o pra- zer sexual se dá por enemas, consistindo em introdução de líquidos no reto por meio de tubos. 17. UROLAGNIA ( urognalia) – gratifica- ção sexual ao ver outro indivíduo em ato da micção (urinando), em ouvir o ruído do jato urinário ou urinando sobre o parceiro(a). 18. COPROFILIA – (copro = fezes; filia = desejo, atração) é a excitação sexual pelo ato da defecação ou contato com as próprias fezes ou de outra pessoa. 19. COPROLALIA - consiste na excitação ao proferir ou ouvir palavras sujas ou obs- cenas de outra pessoa; também conhecida por Escatolalia - o uso de expressões obsce- nas para fins de gratificação sexual. 20. PEDOFILIA – perversão sexual que se apresenta pela predileção erótica por crian- ças, indo desde os atos obscenos até a prá- tica de manifestações libidinosas; de natu- reza hetero ou homossexual. 21. LUBRICIDADE SENIL - pode ser con- siderada uma demência senil, consistindo em desvio sexual que acomete indivíduos idosos, geralmente de vida pregressa sadia, que iniciam a prática anormal de atos libidi- nosos. 22. ALGOLAGNIA – (algor = dor; lagnea = devassidão) é uma parafilia sexual que consiste principalmente em sofrer dor, ge- ralmente na zona erógena, para conseguir- se chegar ao orgasmo. 6 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética ▪ Sadismo – gratificação sexual atin- gida ao causar dor e sofrimento físico do parceiro sexual que é considerado com um objeto (algolagnia ativa). ▪ Masoquismo – prazer sexual através do sofrimento físico ou moral inflin- gido pelo parceiro(a) (algolagnia pas- siva). ▪ Topoinversão - desvio sexual carac- terizado pela prática de atos sexuais diversos da utilização usual das geni- tais, sendo mais comuns: ✓ A felação (fellatio) - consistindo na sucção do pênis, por mulher ou ho- mem (homossexual); ✓ Cunilíngua (cunnilingus) - consis- tindo na utilização da boca e da lín- gua nos órgãos genitais externos fe- mininos; ✓ Anilíngus com relação ao uso da boca e língua diretamente no ânus do par- ceiro(a); ✓ Sodomia – sexo anal. ▪ GERONTOFILIA (Cronoinversão) - gero = envelhecimento; atração de jo- vens por indivíduos idosos (de exces- siva idade) com grande variação de idade. ▪ CROMOINVERSÃO – (cromo = cor); atração ou desejo sexual por in- divíduos de cor diferente, podendo ser de caráter obsessivo e compul- sivo. ▪ ETNOINVERSÃO – (etno = etnia); manifestação erótica por pessoas de etnias diferentes; considerada prati- camente despida de interesse mé- dico-legal. CRIMES SEXUAIS 1. SEDUÇÃO 2. ESTUPRO 3. POSSE SEXUAL MEDIANTE FRAUDE 4. ATENTADO VIOLENTO AO PU- DOR 5. ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR ➢ PROSTITUIÇÃO ➢ LENOCÍNIO SEDUÇÃO: Conceito, Legis- lação i. CONCEITO: Aliciamento hábil e manhoso da vontade da virgem ado- lescente, no intuito da obtenção do ato sexual através de falsas juras e re- paração, tendo o autor tirado proveito diante da inexperiência e da confi- ança da vítima. Crime sempre atribu- ído ao homem, nunca a mulher. ii. LEGISLAÇÃO: Artigos 217 e 242 do Código Penal: “Seduzir mulher virgem, menor de dezoito anos e maior de quatorze, e ter com ela con- junção carnal, aproveitando-se de sua inexperiência ou justificável confi- ança.” - Pena reclusão de 2 a 4 anos. iii. SEDUZIR: É desviar uma pessoa de seu comportamento honesto, pela persuasão maliciosa; e induzir ao erro, ou obter um desejo pelo meio de irresistível influência. Enganar, men- tir, encantar, tapear, atraiçoar. iv. ELEMENTOS DO CRIME Mulher Virgem: É aquela que nunca copulou. É aquela quenão se pode provar a conjun- ção carnal. Para perícia o ele- mento fundamental é o hímen. Menores de 18 anos e maior de 14: Entende-se que nesta fase da vida, os hábitos e costumes não permitem à mulher um 7 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética entendimento dos mistérios do sexo. Conjunção Carnal: É a cópula fisiológica. É a introdução do membro viril além da barreira himenal. É o “intrommissio penis". Caracterização física do delito. Sinonímia: Conhecer, amar, cruzar, juntar, transar, relação pregada etc. Inexperiência: "Menor inexpe- riente é aquela que não pode avaliar em toda sua extensão as consequências do seu ato, por menos avisada, por mero trato das coisas da vida, por igno- rante das maldades do mundo, por apercebida das ciladas dos homens". Justificável Confiança: "É o crédito que goza o homem junto à ofendida por meios se- guros e idôneos, capazes de levá-la a confiar". ESTUPRO: Conceito e Legis- lação i. CONCEITO: É a posse sexual da pessoa por meios violentos – efetivos ou presumidos, ou pela grave ame- aça. O bem jurídico protegido é a li- berdade sexual da pessoa. ii. LEGISLAÇÃO: Lei nº 8.072 de 25. de julho de 1990; Código Penal, Ar- tigo 213: “Constranger alguém, me- diante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.“. 0 estupro é ti- pificado como crime hediondo. iii. CONSTRANGER: violentar, impe- dir os movimentos, tolher a liber- dade, forçar, compelir, coagir, obri- gar pela força. Possuir sexualmente pessoa pela violência ou coação. iv. ELEMENTOS DO CRIME: a) Conjunção Carnal: ato sexual con- vencional (cópula vaginal). b) Violência: pode ser efetiva ou presu- mida. ✓ Efetiva Física: Escoriações, edemas, equimoses, hematomas etc. ✓ Efetiva Psíquica: Hipnose, anestesia, sono. ✓ Presumida: a legislação penal estabe- lece as condições - menores de qua- torze anos; alienados ou débeis men- tais; outra causa qualquer que impeça a vítima de oferecer resistência. c) Grave Ameaça: É a promessa de um mal maior contra a vítima ou ente querido. Temor do perigo. POSSE SEXUAL MEDIANTE FRAUDE – ESTELIONATO SE- XUAL i. CONCEITO: O sujeito ativo vale-se de fraude (engodo, ardil, artifícios) ou qualquer outro meio que dificulte a livre manifestação de vontade da ví- tima, a fim de abusar sexualmente desta, pois - pela circunstância do momento - a vítima não é capaz de manifestar livremente sua vontade. ii. LEGISLAÇÃO: Código Penal -Art. 215: “Ter conjunção carnal ou prati- car outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre 8 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética manifestação de vontade da vítima”. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) - Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. Parágrafo único. Se o crime é come- tido com o fim de obter vantagem econô- mica, aplica-se também multa. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o ob- jetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro. - Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018). ATENTADO VIOLENTO AO PU- DOR i. CONCEITO: Tanto o homem como a mulher são sujeitos passivos do crime de atentado violento ao pudor, sendo em geral, a causa dessa modalidade delituosa a perversão sexual apresen- tada nas mais variadas formas. ii. LEGISLAÇÃO: Art. 214 do C. P. – Revogado pela Lei 12.015, de 2009, ocorreu a unificação dos delitos de estupro e atentado violento ao pudor em um mesmo artigo, ao qual foi de- signado o nome de estupro. ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR i. LEGISLAÇÃO: Art. 233 do C.P.: “Praticar ato libidinoso em lugar pú- blico ou aberto ou exposto ao pú- blico”. Pena - detenção de 3 meses a 1 ano ou multa. É a ofensa aos bons costumes ou há- bitos de decência social, por meio de exibi- ções, atos gestos obscenos em lugar público. Ex.: cópula em jardins, praças, car- ros descobertos, zoofilia, exibicionismo. PROSTITUIÇÃO E LENOCÍ- NIO i. Prostituição – deriva do latim prosto, que quer dizer estar às vistas, à espera de quem chegar ou estar exposto ao olhar público. ✓ Define-se como a prática sexual re- munerada, habitual e promíscua. ii. Lenocínio – elenco de procedimentos lucrativos ou não, que induz, alicia, favorece, mantém, tira proveito ou impede que alguém abandone a pros- tituição. ✓ É o lenocínio que efetivamente sanci- ona a prostituição. Legislação: Lei 12.015, de 2009 - Artigos 227 ao 232-A. PERÍCIA MÉDICA – CARAC- TERIZAÇÃO DOS CRIMES SEXUAIS ➢ São muitas as questões relacionadas aos crimes de natureza sexual, e o es- tudo dos procedimentos dos exames periciais para a constatação de tais crimes se faz mister. ➢ Crimes sexuais: ✓ Sedução ✓ Estupro ✓ Crimes relacionados à “Pedofilia”; ✓ Crimes contra a liberdade sexual: vi- olação sexual mediante fraude, assé- dio sexual, registro não autorizado da intimidade sexual; ✓ Crimes sexuais contra vulneráveis; ✓ Lenocínio. EXAME PERICIAL EM SEXO- LOGIA FORENSE 9 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética ➢ Devemos sempre estar familiarizados com os Procedimentos Operacionais Padrões da perícia criminal. (SE- NASP, 2013). ➢ Na área de Sexologia Forense, o pe- rito visará a “elaboração de um laudo de sexologia forense, com qualidade técnica e científica, no qual se possa estabelecer um nexo causal, ou não, com o delito em apuração” (POP SE- NASP, 2013). ➢ O exame de sexologia forense deve ser obrigatoriamente realizado com a presença de um atendente auxiliar na sala, preferencialmente do sexo femi- nino. ➢ Os exames de sexologia forense de- mandam uma estrutura adequada para a sua realização. ➢ Nos consultórios destinados a estes tipos de exames devem constar: ➢ Balança; Biombo; Mesa ginecoló- gica; Escada para subir à mesa; Pia para lavagem das mãos; Iluminação adequada. ➢ Esfignomanômetro; Espéculos vagi- nais; Estetoscópio; Fita métrica, Foco. ➢ Luvas de procedimento; Lençol des- cartável; Recipiente para coleta de urina; Sabonete. ➢ Material para coleta de secreções como envelopes com lacre; Fixador de esfregaço citológico; Lâminas de vidro para coleta de material; Suporte para lâmina; Swabs esterilizados com ponta de algodão. PERÍCIA MÉDICA - PROCE- DIMENTOS I. AÇÕES PRELIMINARES DO PERITO ✓ Conferir a identificação do(a) perici- ando(a); ✓ Apresentar-se a ele(a) e notificá-lo(a) do motivo da realização do exame; ✓ Caso periciando(a) se apresente sem qualquer documento de identifica- ção, deverá o perito providenciar a identificação civil papiloscópica. II. O LAUDO – ESTRUTURA BÁ- SICA 1) PREÂMBULO – Devem constar: ▪ A hora, o dia, o mês, o ano e a cidade em que a perícia é realizada; ▪ O nome da autoridade requisitante do exame; ▪ O nome do Médico Legista incum- bido da perícia; ▪ O nome do Diretor do IML ou DML que designou o perito; ▪ O nome do exame solicitado; A qualificação do(a) periciando(a). 2) QUESITOS - Como não há padroni- zação dos quesitos no Brasil, para atender a legislação atual, sugerem- se os seguintes quesitos, sendo al- guns deles complementares aos pro- postos anteriormente: ▪ Houve conjunção carnal que possa ser relacionada ao delito em apura- ção? ▪ Houve outro ato libidinoso que possa ser relacionado ao delito em apura- ção? ▪ Houve violência para essa prática? ▪ Qual o meio dessa violência? ▪ Da conduta resultou para o(a) perici- ando(a): incapacidade para as ocupa- ções habituais por mais de trinta (30) dias, ou perigo de vida, ou debilidade permanente de membro, sentido ou10 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética função, ou aceleração do parto, ou in- capacidade permanente para o traba- lho, ou enfermidade incurável, ou perda ou inutilização de membro, sentido ou função, ou deformidade permanente, ou aborto? (resposta es- pecificada) ▪ Tem o(a) periciando(a) idade menor de 18 e maior de 14 anos? ▪ É o(a) periciando(a) menor de 14 anos? ▪ Tem o(a) periciando(a) enfermidade ou deficiência mental? ▪ O(A) periciando(a), por qualquer ou- tra causa não pode oferecer resistên- cia? ▪ Da conduta resultou gravidez? ▪ O agente transmitiu para o(a) perici- ando(a) doença sexualmente trans- missível? 3) HISTÓRICO ▪ Anotar o relato do(a) periciando(a) sobre o que, como e quando ocorreu. ▪ Inquirir se foi feita higienização da região onde houve a prática libidi- nosa. ▪ Usar as próprias palavras do(a) peri- ciando(a). ▪ Item anterior serve como norteador para a perícia, visto que orientará o estabelecimento dos nexos, causal e temporal, entre os vestígios encontra- dos e o delito em apuração. ▪ Quando a suposta vítima for do sexo feminino e houve a prática de conjun- ção carnal, perguntar sempre quando foi sua última conjunção carnal con- sentida (a conjunção carnal consen- tida próximo ao evento, também deixa vestígios), se nesta relação usou preservativo e quando foi sua última menstruação. 4) DESCRIÇÃO – Deve-se: ▪ Pesar e medir o(a) periciando(a); ▪ Informar sua idade; ▪ Verificar seu estado nutricional e compleição física; ▪ Informar se há alguma deficiência fí- sica ou mental; ▪ Verificar a presença de vestígios de emprego de violência efetiva. ▪ Descrever, pormenorizadamente, to- das as lesões encontradas, suas carac- terísticas, topografia, número e suas repercussões no organismo do(a) pe- riciando(a). ▪ Deve-se utilizar a terminologia ana- tômica. ▪ As lesões que não guardam relação ao fato delituoso, quando existirem, serão descritas à parte. ▪ Se a possível vítima for do sexo femi- nino, examinar sua região genital descrevendo o seu desenvolvimento e características. ▪ Com relação ao hímen, anotar sua forma, sua orla, sua borda e, se hou- ver rotura, dizer suas características. ▪ Se a prática consistir de outro ato li- bidinoso, examinar se há vestígio, dessa prática, no local onde ocorreu, tal como presença de equimose, lace- ração, depósito de material suspeito de ser sêmen, etc. 5) DISCUSSÃO ▪ Estabelecer nexo causal entre os achados do exame e o delito em apu- ração. ▪ Quando da coleta de amostras para realização de exames de laboratório para pesquisa de vestígios da prática libidinosa, informar que fez essa co- leta e que aguarda o resultado dos 11 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética exames para concluir a perícia e res- ponder aos quesitos. ▪ Neste caso, a conclusão temporária do exame será: - Aguardar os resul- tados dos exames solicitados. As res- postas, aos quesitos, será feita com o termo: Aguardar. ▪ Dessa forma o laudo será encami- nhado à autoridade requisitante do exame, no prazo de até dez dias, con- forme estabelecido no CPP art. 160. ▪ Quando o perito receber os resultados dos exames solicitados fará, em laudo complementar, a conclusão definitiva da perícia e as respostas aos quesitos. ▪ Nos casos em que houve a prática li- bidinosa consentida e a seguir a prá- tica libidinosa delituosa e o perito dispõe somente dos exames de pes- quisa de espermatozóides e dosagem do PSA e um destes ou os dois foram positivos, relatar que apenas com es- ses exames não é possível dizer de quem são os vestígios encontrados, e que por isso não tem elementos para concluir se houve a prática libidinosa delituosa. ▪ Quando a pericianda for portadora de hímen complacente e foi vítima de prática delituosa de conjunção carnal e o agressor usou preservativo e não foi possível encontrar nenhum vestí- gio da prática libidinosa, o perito de- verá informar que o hímen compla- cente permite a penetração do pênis na vagina sem se romper, e que neste caso não tem elementos para afirmar se houve ou não a conjunção carnal delituosa. 6) CONCLUSÃO - A conclusão do laudo será sintética e esclarecedora, da seguinte forma: ▪ Presença de vestígio de prática libidi- nosa, ou ▪ Ausência de vestígio de prática libi- dinosa (só interessa à lei as práticas libidinosas delituosas), ou ▪ Sem Elementos para afirmar ou negar que houve a prática libidinosa (os vestígios desapareceram ou não fo- ram encontrados), ou ▪ Exame Prejudicado, quando, por qualquer razão, não foi possível rea- lizar o exame (como na recusa da ví- tima em fazê-lo), ou ▪ Aguardar, quando se solicitou exame laboratorial para pesquisar vestígio de prática libidinosa. 7) RESPOSTAS AOS QUESITOS - O perito responde aos quesitos com os seguintes termos: ▪ SIM (quando tem convicção de que ocorreu o que o quesito pergunta). ▪ NÃO (quando tem convicção de que não ocorreu o que o quesito per- gunta). ▪ SEM ELEMENTOS (quando não tem convicção para responder nem sim, nem não ao que o quesito per- gunta). ▪ PREJUDICADO (quando a pergunta que o quesito faz não se aplica àquela situação, ou quando a resposta ante- rior prejudica a resposta do quesito seguinte). ▪ AGUARDAR (quando depende do resultado de exame laboratorial). ➢ PERÍCIA MÉDICA - PROCEDI- MENTOS III. AÇÕES DURANTE O EXAME PERICIAL ▪ Examinar o(a) periciando(a) com a finalidade de se constatar vestígios de 12 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética práticas libidinosas denunciadas como sendo delituosas. ▪ Deve-se pesar e medir o(a) perici- ando(a), informar sua idade, verificar seu estado nutricional e compleição física, informar se há alguma defici- ência física ou mental e verificar a presença de vestígios de emprego de violência efetiva. ▪ No caso da possível vítima ser do sexo feminino, e que haja suspeita de ter ocorrido conjunção carnal, co- loca-se a pericianda em posição gine- cológica e realiza-se o exame das le- sões macroscopicamente visíveis, o exame das mamas e do abdome, em especial a pelve. ▪ Para o exame correto do hímen, segu- ram-se os grandes e pequenos lábios entre as extremidades dos polegares e dos dedos médios, puxando-os para fora e para cima, de modo que se ex- ponha inteiramente o hímen. Pro- cede-se, a seguir, o exame da região anal e de outras possíveis regiões que tenham sido sede da prática libidi- nosa, descrevendo-se as lesões, sua sede, tamanho, número, forma e po- sição. ▪ Realiza-se a coleta de material bioló- gico - vestígio (swab oral, anal, vagi- nal, bem como urina), quando se jul- gar necessário, sempre explicando para a pericianda o que vai ser feito. ▪ Pode ser coletado swab de outras re- giões, caso necessário. (os principais exames laboratoriais solicitados do material coletado dos locais onde houve a prática libidinosa são: pes- quisa de espermatozóides, dosagem do PSA, exame de DNA). ▪ A urina é coletada para dosagem do betaHCG (teste de gravidez). ▪ É necessário coletar material bioló- gico – amostra de referência (swab oral e/ou sangue periférico) – da ví- tima, bem como de seu parceiro no caso de prática sexual consentida próxima ao evento, para futuro exame de confronto genético com o suspeito de ter praticado o delito em apuração. ▪ No caso de suspeita de coito anal, co- loca-se o(a) periciando(a) em posição genopeitoral e realiza-se o exame das lesões macroscopicamente visíveis, em especial das regiões perianal e anal, descrevendo-se as lesões, sua sede, tamanho, número, forma e po- sição. ▪ Caso seja necessário, procede-se à coleta de material para exames de la- boratório, observando-se as reco- mendações supracitadas. IV. CONSIDERAÇÕES COMPLE- MENTARES AO DOCUMENTO – OBSERVAÇÕES▪ Quando a conclusão do laudo depen- der de exames laboratorias, dever-se- á consignar essa informação. RECO- MENDAÇÕES (REPORTAM V. CONSIDERAÇÕES ORIENTA- TIVAS QUE O DOCUMENTO DETERMINA ▪ Em caso de recusa do periciando em fazer o exame, deve ser consignado, no laudo, tal recusa. Nesse caso, a conclusão da perícia está prejudi- cada, bem como as respostas aos que- sitos, sendo recomendado o uso do termo “prejudicado” nas suas respos- tas. 13 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética ▪ Conforme o Artigo 95 do Código de Ética Médica, -“É vedado ao médico realizar exames médico-legais de corpo de delito em seres humanos no interior de prédios ou dependências de delegacia de polícia, unidades mi- litares, casas de detenção e presí- dios”. ▪ É recomendado, quando possível, ter um colposcópio na sala de exame. ▪ A redação do laudo, como qualquer peça técnica, deve ser feita na terceira pessoa, respeitando-se a impessoali- dade, e a linguagem utilizada deve ser acessível ao seu destinatário. A PERÍCIA MÉDICA NO CRIME DE ESTUPRO I. O ESTUDO DO HÍMEN ▪ Do grego hymen = membrana; ▪ Estrutura mucosa que separa a vulva da vagina; ▪ Tem duas faces: uma vaginal e pro- funda e outra vestibular e ou superfi- cial; ▪ A face vaginal do hímen é ligeira- mente côncava, rugosa, irregular e de coloração vermelho-escura; ▪ A face vestibular, convexa, forma com a face interna dos pequenos lá- bios um sulco chamado de vulvo hi- menal; ▪ Entalhes são reentrâncias simétricas na borda livre do hímen, que avan- çam a pique, chegando quase a borda de inserção; ▪ Se tais reentrâncias forem superfici- ais e correrem em extensão de 2 a 3 mm serão denominadas chanfradu- ras. ▪ Lobos são limitações de membrana que surgem de um entalhe a outro, dando ao hímen uma forma franjada. ▪ A altura do hímen é a distância da borda livre a borda de inserção. ▪ Quanto maior a altura menor o óstio, e vice-versa. ▪ O hímen pode ser exíguo ou conside- rável. ▪ Podem ser classificados como Aco- missurados, Comissurados e Atípi- cos. ▪ Himens Acomissurados – imperfura- dos, sem abertura; anulares: orifício circular, ovalar ou elíptico; semiluna- res: abertura em forma de crescente; helicoidais: a membrana descreve curvas em hélice; septados: com sep- tos transversal, longitudinal ou oblí- quo, delimitando dois orifícios; cribriformes: membrana crivada por várias aberturas regulares ou irregu- lares. ▪ Himens Comissurados - bilabiados: transversais ou longitudinais; trilabi- ados: três valvas ou três comissuras; quadrilabiados: quatro valvas e qua- tro comissuras; multilabiados ou co- roliformes: a membrana toma a forma de flor. ▪ Himens Atípicos - fenestrados: com um orifício grande e outro pequeno; com apêndices salientes; com apên- dices pendentes. ▪ Hímen Complacente - tipo especial de hímen o qual a conjunção carnal (cópula) pode não deixar vestígios de ruptura das membranas. Os exames periciais necessitam de outras meto- dologias para a constatação de crimes sexuais relacionados à conjunção carnal, como veremos mais adiante. 14 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética Alguns autores dizem que o conceito pode ser relativo, pois depende da re- lação espessura do pênis e largura da vagina para que a conjunção carnal não resulte em rompimento do hí- men. ▪ Himens Múltiplos – dois ou mais hi- mens situados no mesmo plano ou em planos diferentes; não confundir com colunas rugosas da vagina. ▪ Elasticidade e permeabilidade do hí- men – dilatação do hímen, em maior ou menor grau. A elasticidade pode chegar ao ponto de permitir a pene- tração de corpos calibrosos sem se romper. ▪ Estrutura do hímen – duas membra- nas mucosas com uma camada de te- cido conjuntivo com fibras elásticas, vasos e nervos e, as vezes, muscula- tura lisa. ▪ Constância do hímen – para alguns autores a constância himenal é abso- luta. ▪ Situação (localização) – varia de acordo com a idade e a raça. Nas cri- anças de 2 a 3 anos situa-se mais pro- fundamente; na raça negra é mais profunda que na branca, localizando- se cerca de 4cm da entrada da vulva. ▪ Anomalias – presença de criptas, ni- nhos, divertículos ou divertículos ninfo-himenais; presença de sulcos; consistência irregular; posição anor- mal, entre outras. ▪ Aspectos Morais e religiosos – a in- tegridade ou não do hímen tem sido motivo de controvérsias em todos os tempos e lugares. ▪ Lesões do hímen – a rotura pode se dar em sua borda livre ou em qual- quer outra parte da membrana. ▪ Carúnculas Mirtiformes Retalhos de hímen roto pela conjun- ção carnal, coito ou mais propria- mente pelo parto, os quais se retraem formando tubérculos (aspecto de fo- lha de mirto) Os restos fragmentários do hímen po- dem indicar ato recente e até o lapso temporal de cópula ou parto. O número de carúnculas pode variar geralmente de dois a cinco. I. A Ruptura Hime- nal ➢ Pode ser um indi- cativo de que ocorreu conjunção carnal, de- pendendo do tempo de evolução e cicatri- zação. ➢ A ruptura pode ocorrer na borda livre do óstio ou em qualquer outra parte da membrana, podendo atingir a borda de inserção, junto à parede va- ginal. 15 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética ➢ Dividindo-se a região genital em 4 quadrantes (2 superiores e 2 inferio- res), como proposto por Lacassagne, o Dr. França descreve que a maior ruptura do hímen se dá na região de união dos quadrantes inferiores, com ocorrência de 59% dos casos. ➢ Excepcionalmente, podem ser encon- tradas lesões apenas na face vestibu- lar e que não ultrapassam a face vagi- nal, denominadas rupturas parciais. ➢ A ruptura ou rotura himenal pode apresentar infiltração hemorrágica ou sangramento quando recentes. ➢ A utilização da lâmpada de Wood (raios ultravioleta filtrados) pode au- xiliar na diferenciação entre ruptura e entalhe. ➢ Na ruptura, a mucosa próxima às bor- das apresenta tonalidade arroxeada por determinado período após a cica- trização, e amarelo-nacarado após bastante tempo, em virtude da pre- sença do colágeno da cicatriz. ➢ Pode apresentar carúnculas mirtifor- mes (ruptura completa), ou não (rup- tura incompleta). ➢ Segundo França, as rupturas da borda livre são, em geral, sangrentas, de he- morragia leve e passageira, podendo ocorrer até grandes hemorragias. ➢ Quando os himens são delgados a ponto de se romperem sem sangra- mento ou com hemorragia desperce- bida, recebe a denominação de “hí- men em pele de ovo”. ➢ O tempo de cicatrização depende de diversos fatores, com valores médios da literatura indicando cicatrização em torno aos 20 dias. Período de sangramento em torno de até 3 dias Umidade sanguínea e equimose, de 2 a 6 dias. De 1 a 6 dias é classificada como Muito Recente. Bordas esbranquiçadas, com exsuda- ção ou supuração, de 6 a 12 dias. Bordas de cicatrizes recentes de colo- ração rósea, de 10 a 20 dias. (França e Hilá- rio Veiga de Carvalho) De 6 a 20 dias é classificada como re- cente. acima de 20 dias é considerada An- tiga, apresentando bordas completamente cicatrizadas. ➢ O Estupro é um crime que deixa ves- tígios na maioria das vezes, e o exame de corpo de delito será indis- pensável para a comprovação de qualquer elementar de natureza mate- rial passível de constatação, como a conjunção carnal ou atos libidinosos. ➢ Diante do exposto, a análise da rup- tura himenal, quando possível, torna- se um elemento de suma importância na constatação do crime pela conjun- ção carnal, caracterizando as lesões, sua idade e local, sangramentos, cica- trização, descrição das bordas, e de- mais características. ➢ Passado algum tempo do período da ruptura e da cicatrização, a constata- ção ainda poderá ser realizada pormeio de metodologias da área de ana- tomia patológica, caracterizando como cicatrização recente ou antiga, sem a devida precisão temporal. II. Exames ➢ Fatores como gestação ou menstrua- ção não são impedimentos para a re- alização de exames de conjunção car- nal, verificação de aborto, nem para eventuais coletas de material. Tais 16 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética condições deverão ser mencionadas no laudo, na descrição do exame. ➢ Antes do exame o(a) periciando(a) deve ser pesado(a) e medido(a), veri- ficada sua idade, seu estado nutricio- nal e compleição física, bem como se há alguma deficiência física ou men- tal. Qualquer sinal de violência efe- tiva deve ser registrado no laudo. ➢ Exames de Constatação de Violên- cia Física ▪ Descrição de todas as lesões externas quanto à quantidade e à qualidade do dano. ▪ Presença de equimoses. ▪ O modo ou a ação pela qual os feri- mentos foram produzidos. ▪ A localização das lesões. ▪ A relação com lesões de defesa da ví- tima. ▪ A classificação das lesões quanto ao art. 129 do CP. ▪ Demais exames externos genéricos. ▪ A grave ameaça geralmente não deixa vestígios de violência física no corpo da vítima. ▪ O exame objetivo específico consiste no exame médico-legal da paciente em posição ginecológica, analisando os elementos materiais da genitália feminina. ➢ Exame de Conjunção Carnal ▪ A presença de hímen roto pode ser um elemento indicativo para o diag- nóstico de conjunção carnal. ▪ A mulher é considerada virgem quando nunca realizou a prática de conjunção carnal. ▪ A integridade himenal deve ser devi- damente analisada para concluir quanto à virgindade da vítima. ▪ É fundamental examinar a presença de esperma e espermatozoides na va- gina e a ocorrência de gravidez da ví- tima, uma vez que nem sempre ocor- rerá a conjunção carnal típica (pene- tração do pênis no interior da vagina) ▪ Nem sempre ocorrerá a ruptura do hí- men para a caracterização do crime de estupro ou outro crime sexual. ▪ Nos casos de himens complacentes e de mulheres que fazem sexo constan- temente, deve-se contemplar os exa- mes de presença de gravidez (tempo compatível com o relato da ocorrên- cia dos fatos), de esperma e esperma- tozoide na cavidade vaginal, na cons- tatação da presença de fosfatase ácida ou de glicoproteína P30 (de proce- dência do líquido prostático), antí- geno prostático específico (PSA) ou na contaminação venérea profunda. ➢ Testes Especiais para Determina- ção da Presença de Esperma na Cavidade Vaginal ▪ Reativo de Florence ▪ Reação de Barbério ▪ Técnica de Kernechtrol-Picro ou “ár- vore de natal” ▪ Técnica de Corin-Strockis ▪ Atualmente, testes rápidos imunocro- matográficos são utilizados para a identificação de sêmen em amostras, a partir de anticorpos que detectam a presença da semenogelina, outra pro- teína específica deste fluido bioló- gico. ➢ Quesitos a serem respondidos pela perícia em crimes de natureza se- xual ▪ A perícia em sexologia criminal deve concluir pela existência ou não da conjunção carnal através de possíveis 17 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética roturas, gravidez, presença de es- perma na cavidade vaginal , contami- nação venérea ou vestígios de atos li- bidinosos ou integridade vaginal. ▪ Os quesitos apresentados a perícia são: 1) Há VESTÍGIOS DE ATO LIBIDI- NOSO (em caso positivo especifi- car). 2) Há VESTÍGIOS DE VIOLÊNCIA, e, no caso afirmativo, qual o meio em- pregado. 3) Da violência resultou para a vítima incapacidade para as ocupações habi- tuais por mais de 30 (trinta) dias, ou perigo de vida, ou debilidade perma- nente de membro, sentido ou função, ou aceleração de parto, ou incapaci- dade permanente para o trabalho, ou enfermidade incurável, ou perda ou inutilização de membro, sentido ou função, ou deformidade permanente e/ou aborto (em caso positivo especi- ficar) 4) A vítima é ALIENADA OU DÉBIL MENTAL. 5) Se houve outro MEIO QUE TENHA IMPEDIDO OU DIFICULTADO A LIVRE MANIFESTAÇÃO DE VONTADE DA VÍTIMA (em caso positivo especificar). ➢ Exames Objetivos Específicos 1. Coito vaginal: exame dos genitais ex- ternos, coleta de pelos pubianos e amostras de sêmen sobre pele, vulva, períneo e margem do ânus, procura de lesões nos genitais externos, uso do espéculo nos exames para eviden- ciar lesões vaginais e coleta de amos- tras de material biológico, lavado va- ginal com soro fisiológico estéril e coleta desse material, uso do colposcópio para melhor visualiza- ção de possíveis lesões do hímen, le- vando em conta a existência de rup- turas com descrição de suas caracte- rísticas, como número, local, idade etc. 2. Coito oral: estudo das lesões labiais e linguais, coleta de amostra de mate- rial biológico do lavado da cavidade oral com soro fisiológico estéril. 3. Coito anal: estudo das lesões locais como equimoses, sufusões, rupturas, esgarçamentos das paredes anorretais e perineais, estado do tônus do ânus, coleta de pelos e amostras de sêmen, coleta de material biológico como sangue e saliva do agressor para iden- tificação pelos testes em DNA. 4. Introdução de objetos: pesquisa de possíveis lesões traumáticas e possí- veis componentes do objeto usado na penetração. 5. Exame das vestes da vítima na pro- cura de sangue e sêmen para identifi- car o autor. ➢ Coleta de Material Biológico para Exames de DNA em Casos de Crime Sexual 1) Na Vítima ▪ Deverá ser coletado material bioló- gico das cavidades vaginal e anal. ▪ Quando houver suspeita de deposi- ção de secreções ou fluidos (saliva, sêmen, sangue). ▪ Nos casos de suspeita de ter havido luta corporal entre agressor e vítima. ▪ Observar a presença de pelos com ca- racterísticas diversas aos da vítima. 2) No Suspeito ▪ Nos casos em que o suspeito de ter cometido crime sexual for detido em 18 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética flagrante ou logo após ter cometido o delito. ▪ Coleta de material subungueal dos dedos a fim de se buscar detectar ma- terial biológico da vítima, caso haja suspeita de ter havido luta corporal entre ambos. ▪ No caso de material suspeito de ser sêmen depositado sobre as vestes da vítima a área suspeita deverá ser re- cortada e enviada em envelope para o laboratório.
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