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"ESTÓRIAS DE FADAS" DE TOLKIEN

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RESUMO DE “SOBRE ESTÓRIAS DE FADAS” DE J.R.R TOLKIEN In Árvore e Folha. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2020. Tradução:Reinaldo José Lopes.
*Sobre estórias de fadas foi publicado pela primeira vez em 1964, porém fora escrito em 1938 para uma palestra na Universidade de St. Andrews. 
“O que são estórias de fadas? Qual é sua origem? Qual o uso delas? Tentarei dar respostas a essas questões ou algumas pistas como as que tenho colhido - primariamente das próprias estórias, as poucas de toda a multidão delas que conheço” (p. 18).
ESTÓRIAS DE FADAS
“A definição de estória de fadas - o que é ou o que deveria ser - não depende, então, de qualquer definição ou relato histórico sobre elfos ou fadas, mas da natureza de Faërie: o próprio Reino Perigoso e do ar que sopra naquele país. Não tentarei defini-lo, ou descrevê-lo diretamente. Isso não pode ser feito. Faërie não pode ser capturado numa rede de palavras, pois é uma de suas qualidades ser indescritível, embora não imperceptível” (p.24).
A palavra fairy (como substantivo ou equivalente a elfo) (fada) é relativamente moderna, quase não usada antes do período Tudor, sua primeira aparição no Oxford Dictionary foi em 1450. Fairy Tales são estórias sobre o Belo Reino (Faërie), sua definição dependerá da natureza do Faërie. Um conto de fadas é aquele que usa ou resvala o Belo Reino, independente se sua finalidade é a sátira, a aventura, a moralidade ou a fantasia. A virtude da magia deste Belo Reino é operar desejos humanos primordiais: como inspecionar as profundezes do tempo e do espaço e entrar em comunhão com outros seres vivos (p.27). 
ORIGENS
“Está claro o suficiente que as estórias de fadas (em sentido mais amplo ou mais restrito) são muito antigas, de fato. Coisas aparentadas a elas aparecem em registros muito antigos e são encontradas universalmente, onde quer que haja uma língua” (p.33).
“Perguntar qual é a origem das histórias é perguntar qual é a origem da linguagem e da mente” (p.19). O que importa é como a estória é servida e não sua origem. “A história das estórias de fadas é provavelmente mais complexa do que a história física da raça humana e tão complexa quanto a história da linguagem humana” (p.33). 
“Assim, com relação às estórias de fadas, sinto que é mais interessante, e também, à sua maneira, mais difícil, considerar o que elas são, o que elas se tornaram, para nós e que valores ao longo dos processos alquímicos do tempo produziram nelas” (p.32).
Três aspectos dos contos
Quando pensamos nestas estórias, pensamos sobre sua invenção, sua herança e sua difusão. Destas, a invenção é o aspecto mais importante e misterioso, os outros dois levam a este primeiro, a um inventor ancestral.
Três faces dos contos
As estórias têm três faces: mística (sobrenatural), mágica (natureza) e espelho (compaixão ou desdém voltado ao homem). A face essencial do Faërie é a Magia e esta pode ser usada como um espelho ou veículo do mistério.
As estórias são como uma Sopa [a sopa é como a estória é servida pelo seu autor ou contador], muitos elementos são acrescentados nela: costumes antigos da vida prática e crenças. Qual o efeito hoje destas coisas antigas nos contos? É um efeito místico, abrem a porta para Outro Tempo, ficamos até mesmo fora do tempo, por isso que os contos são preservados e trancar essa porta apenas causará tentação.
Com os contos de fadas os homens se tornam subcriadores, pois um poder essencial do Belo Reino (Faërie) é operar as visões da fantasia efetivas através da vontade. 
CRIANÇAS
Não há uma relação essencial entre crianças e contos de fadas, este é um incidente da história doméstica da Europa em que no mundo moderno estes contos foram relegados ao “berçário” [como coisas de criança]. Muitas vezes os contos de fadas são adaptados para as crianças assim como outras coisas: história, poesia, música e etc. O valor dessas estórias não pode ser entendido se é levado em conta especificamente as crianças. Os contos são obra de arte, um ramo de arte genuína e muitas vezes as adaptações às crianças podem causar danos. E se as estórias são dignas de serem lidas, são dignas de serem escritas e lidas por adultos, devendo lê-las como um ramo natural da literatura e não uma adaptação para crianças, e estas deveriam ler as estórias além de sua capacidade como uma forma de estimular o crescimento.
Qual o valor ou função dos contos?
As estórias se ocupam em um primeiro plano com o desejo (um complexo de muitos ingredientes, alguns universais e outros particulares do mundo moderno), sendo a fantasia o coração do desejo do Belo Reino. O valor dos contos de fadas é o mesmo da literatura, mas estas estórias oferecem certas coisas peculiares: a Fantasia, a Recuperação, o Escape e o Consolo; coisas estas que as crianças precisam menos que os adultos.
FANTASIA
A vantagem da fantasia, para Tolkien, é que ela nos arrebata do mundo primário (mundo dos fatos), mas nem todas as pessoas gostam de ser arrebatadas, o que pode virar uma difamação contra a fantasia. E por isso podem acabar confundindo Fantasia com Sonho, sendo que neste último não há arte. Há certa conexão entre arte e fantasia (p.57).
“A mente humana é capaz de formar imagens mentais de coisas que não estão realmente presentes. A faculdade de conceber as imagens é (ou era), naturalmente, chamada de Imaginação. Mas em épocas recentes, em linguagem técnica, não normal, a Imaginação frequentemente tem sido considerada algo mais elevado do que a mera criação de imagens, atribuída às operações do que chamamos de Fancy, ou Devaneio, (uma forma reduzida e depreciativa da palavra mais antiga Fantasy, ‘Fantasia’); faz-se, assim, uma tentativa de restringir, e eu diria até de aplicar erradamente o termo ‘Imaginação’ ao ‘poder de dar, para criações ideais, a consistência interna da realidade’” (p.56).
A imaginação é, segundo Tolkien, melhor definida como o poder mental de criação de imagens e a arte é o vínculo operativo entre Imaginação e o resultado final, a subcriação. Aqui ele entende nossa capacidade criadora como uma características de criaturas que têm um criador, então imitamos a capacidade de criar. 
A qualidade essencial das estórias de fadas é o englobamento da arte subcriativa que é derivada da Imagem: a fantasia. “Na arte humana, a Fantasia é algo melhor deixado às palavras, à verdadeira literatura” (p.58). “A Fantasia é uma atividade humana natural. Ela certamente não destrói ou mesmo insulta a Razão; e não torna menos aguçado o apetite pela verdade científica, nem obscurece a percepção dela. Ao contrário. Quanto mais aguçada e clara a razão, melhor fantasia fará”(p.63).
RECUPERAÇÃO, CONSOLO E ESCAPE
Para o autor, uma abordagem analítica aos contos de fadas é ruim. “O estudo analítico de histórias de fadas é uma preparação tão ruim para apreciá-las ou escrevê-las como seria o estudo histórico do drama de todos os países e tempos para apreciar ou escrever peças de teatro. O estudo pode na verdade tornar-se deprimente” (p.42). 
Uma das características do conto de fadas é como nos faz olhar o mundo com outro olhar, é a Recuperação, a capacidade de nos deslumbrarmos com o mundo, a admiração pelas coisas cotidianas: 
“Precisamos encontrar o centauro e o dragão, e talvez depois contemplar de repente, como os antigos pastores, os carneiros, os cães, os cavalos - e os lobos. As histórias de fadas nos ajudam a realizar essa recuperação. Nesse sentido só o gosto por elas pode nos tornar, ou manter, infantis. A recuperação (que inclui o retorno e a renovação da saúde) é uma re-tomada - a retomada de uma visão clara. Não digo “ver as coisas como elas são”, porque assim me envolveria com os filósofos, porém posso arriscar-me a dizer “ver as coisas como nós devemos (ou deveríamos) vê-las” – como coisas à parte de nós mesmos” (p. 42).
Tolkien acredita que o Escape é uma das principais funções dos contos de fadas, mas ele não encara tal coisa de forma negativa. 
“Esse, no entanto, é o aspecto “escapista” moderno [a concepção negativa de escape] e especial (ou acidental) das histórias de fadas, queelas partilham com os romances e outras narrativas do passado ou a respeito dele. Muitas histórias do passado só se tornaram “escapistas” em seu apelo porque sobreviveram desde uma época em que os homens em regra se deleitavam com o trabalho realizado por suas próprias mãos até o nosso tempo, quando muitos sentem aversão às coisas feitas pelo próprio homem” (p.47).
“Mas também existem outros “escapismos” mais profundos que sempre apareceram nos contos de fadas e nas lendas. Existem outras coisas mais repugnantes e terríveis das quais fugir do que o barulho, o fedor, a crueldade e a extravagância do motor de combustão interna. Existem fome, sede, pobreza, dor, pesar, injustiça, morte. E, mesmo quando os homens não estão enfrentando situações desagradáveis como essas, existem antigas limitações das quais as histórias de fadas oferecem uma espécie de escape, e velhas ambições e desejos (que tocam as próprias raízes da fantasia) aos quais oferecem um tipo de satisfação e consolo” (p.47).
Por outro lado, ele considera que o maior Escape que aparece nesses contos é o escape da morte:
“As histórias de fadas fornecem muitos exemplos e maneiras de fazer isso, que poderia ser chamado de verdadeiro espírito escapista, ou (eu diria) fugitivo. Mas outras histórias (notadamente as de inspiração científica) e outros estudos também os fornecem. As histórias de fadas são feitas por homens, não por fadas. As histórias humanas de elfos sem dúvida estão repletas do Escape da Imortalidade” (p.48). 
Para ele, no que diz respeito ao Consolo, o que é mais importante é o Consolo do Final Feliz:
“O consolo das histórias de fadas, a alegria do final feliz, ou mais corretamente da boa catástrofe, da repentina “virada” jubilosa (porque não há um final verdadeiro em qualquer conto de fadas), essa alegria, que é uma das coisas que as histórias de fadas conseguem produzir supremamente bem, não é essencialmente “escapista” nem “fugitiva”. Em seu ambiente de conto de fadas - ou de outro mundo – ela é uma graça repentina e milagrosa: nunca se pode confiar que ocorra outra vez. Ela não nega a existência da discatástrofe, do pesar e do fracasso: a possibilidade destes é necessária à alegria da libertação. Ela nega (em face de muitas evidências, por assim dizer) a derrota final universal, e nessa medida é evangelium [uma boa nova], dando um vislumbre fugaz da Alegria, Alegria além das muralhas do mundo, pungente como o pesar” (p.48).
Para Tolkien, o Consolo do Final Feliz é a verdadeira forma do conto de fadas, e para tornar compreensível seu ponto de vista o autor cria um conceito sobre este Final Feliz: Eucatástrofe. O termo significa “boa catástrofe”, a mudança repentina de certa situação no final da história. 
Falta o epílogo.

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