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TCC Psicanálise dos contos de fadas

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JALES – UNIJALES 
 
 
PSICANÁLISE DOS CONTOS DE FADAS 
 
 
 
 
 
 
 
ZILDA ARAUJO DA SILVA DIAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OS CONTOS DE FADAS NO PROCESSO 
DO DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL INFANTIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO – 2018 
 
 
 
ZILDA ARAUJO DA SILVA DIAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OS CONTOS DE FADAS NO PROCESSO 
DO DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL INFANTIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Orientador Professor Me. Enésio Marinho da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo – 2018 
 
Monografia apresentada ao Centro 
Universitário de Jales – UNIJALES, 
como requisito parcial para conclusão 
da Pós Graduação em Psicanálise dos 
Contos de Fadas 
 
FOLHA DE APROVAÇÃO 
 
 
 
 
 
ZILDA ARAUJO DA SILVA DIAS 
 
 
 
 
 
 OS CONTOS DE FADAS NO PROCESSO 
DO DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL INFANTIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Orientador Professor Me. Enésio Marinho da Silva 
 
 
 
Banca Examinadora 
 
Aprovada em: setembro/2018 com nota 9,0 
________________________________________________________________ 
Orientador Professor Me. Enésio Marinho da Silva 
Monografia apresentada ao Centro 
Universitário de Jales – UNIJALES, 
como requisito parcial para conclusão 
da Pós Graduação em Psicanálise dos 
Contos de Fadas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus familiares, mãe, 
filhos, esposo e amigos que 
com amor, paciência, 
compreensão e colaboração 
me ajudaram a cumprir mais 
essa jornada da minha vida. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
A todos os professores do curso, pelos seus esforços, amor, carinho, paciência e 
dedicação em nos ensinar a ser, acima de tudo, pessoas. 
 
Aos amigos que com carinho e união me apoiaram e dedicaram sua amizade, seu 
tempo, seu amor. O que muito me ajudou em todos os momentos. 
 
Por fim, agradeço aos meus filhos, esposo e amigos que compreenderam, 
incentivaram e participaram de mais uma etapa da minha vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Enquanto houver um contador 
de histórias, a fantasia existirá”. 
Autor: Vânia Dohme. 
 
RESUMO 
 
 
 
 Esta pesquisa visa discutir a importância dos contos de fadas no processo 
de desenvolvimento emocional infantil. 
 Contar histórias para as crianças significa proporcionar-lhes momentos de 
prazer e encantamento, onde a razão e a emoção se misturam. 
 Pensando no valor destes momentos é que este trabalho tem como 
objetivo, buscar epistemologicamente, os efeitos e os resultados das histórias, 
principalmente os contos de fadas no emocional das crianças, saber como as 
histórias promovem o crescimento interno auxiliando nas tomadas de decisões, 
acomodam seus sentimentos. 
 Para tanto, os instrumentos utilizados para a realização da pesquisa foram 
leituras bibliográficas, entrevistas por meio de questionários com os educadores, 
e observação das atividades com as crianças do CEI, o que permite conhecer as 
diversas óticas sobre a importância de se trabalhar com os contos de fadas com 
crianças. 
 Os significados de algumas histórias também estão relatados nessa 
pesquisa, através de uma visão psicanalítica, proporcionando ao leitor um melhor 
entendimento a respeito das mensagens implícita nas histórias. 
 A análise das informações confirma que as crianças realmente se 
envolvem ao ouvir contos de fadas e assimilam conhecimentos, descobrem e re-
significam sentimentos, valores, idéias, costumes e papéis sociais. 
 Enfim, o aprendizado resulta da convivência com todos e o ambiente 
escolar favorece essa interação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO.......................................................................................................08 
 
CAPÍTULO I 
1. Os Contos de Fadas através dos séculos.........................................................09 
2. Buscando significados.......................................................................................12 
 
CAPÍTULO II 
1. A influência dos Contos de Fadas......................................................................14 
1.1 O mundo da criança...................................................................................17 
1.2 A criança e a escola...................................................................................19 
 
CAPÍTULO III 
1. Histórias e Desenvolvimento............................................................................22 
2. A Mensagem dos contos de fadas...................................................................25 
 
CAPÍTULO IV 
Análise de dados....................................................................................................28 
Metodologia............................................................................................................32 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................33 
 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA...........................................................................35 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 Durante 20 anos de trabalho como professora de Educação Infantil, 
trabalhei com todas as faixas etárias que o Centro de Educação Infantil atende. 
Meu olhar para a criança vem mudando, estou mais atenta e percebo que as 
reações das crianças ao ouvirem histórias, principalmente contos de fadas, são 
por vezes contraditórias e preocupantes. A partir dessas observações surgiram 
alguns questionamentos: “como a criança administra seus sentimentos e re-
significa cada um deles na sua vida?”, “Que tipo de sentimento é estruturado 
quando ouve um conto de fadas, onde as bruxas, os caçadores, habitam, se 
amam e se odeiam?”, “As situações de colaboração, companheirismo, privação, 
solidão, medo entre outras, que envolvem o convívio social, recheiam as histórias 
tornando-as instigantes e fascinantes. Como as histórias podem colaborar para o 
desenvolvimento emocional das crianças? 
 Com base nesses questionamentos, tenho como objetivo fazer uma 
investigação fundamentada em alguns autores, em entrevistas com profissionais 
da educação e observação de crianças. 
 As histórias têm um encantamento que nos tiram da realidade, levando-nos 
a esferas superiores, as quais nos permitem mudar o rumo, reinventar finais, 
transformar os meios. Presenciei cenas de homens e mulheres tendo 
manifestações emocionais que iam do amor ao ódio, talvez por ser a história uma 
das formas de mover os sentimentos mais profundos. 
 O capítulo I “Os Contos de Fadas através dos séculos” mostra um relato 
histórico dos contos de fadas, mostrando brevemente sua trajetória desde a 
origem até sua apropriação por camadas populares e seu impacto inicial nas 
crianças. 
 O capítulo II “A influência dos contos de fadas” apresenta como as crianças 
se apropriam das histórias infantis em sua vida e que efeito esse exerce sobre 
elas, bem como apresenta o mundo da criança, e como os educadores fazem a 
mediação entre a criança e os contos de fadas. 
 E por fim, o capítulo III “História e desenvolvimento” aponta os valores 
éticos incutidos nos contos de fadas. Também fala da mensagem implícita em 
três narrativas: João e Maria, Rapunzel e A Polegarzinha. 
10 
 
CAPÍTULO I 
 
1. Os Contos de Fadas através dos séculos 
 
 Os contos de fadas são de origem Celta, são uma variação do conto 
popular ou fábula. Partilham com estes o fato de serem uma narrativa curta, 
transmitida oralmente, e onde o herói ou heroína tem de enfrentar grandes 
obstáculos antes de triunfar contra o mal. 
 Caracteristicamente são narrações que podem ou não contar com a 
presença de fadas, e envolvem algum tipo demagia, metamorfose ou 
encantamento. Animais falantes são muito mais comuns neles do que as fadas 
propriamente ditas. Seu núcleo problemático é existencial (o herói ou a heroína 
busca a realização pessoal), e os obstáculos ou provas constituem-se num 
verdadeiro ritual de iniciação. Como por exemplo em "Rapunzel", "Branca de 
Neve e os Sete Anões" e "A Bela e a Fera". 
 A palavra portuguesa "fada" vem do latim fatum (destino, fatalidade, fado 
etc). O termo se reflete nos idiomas das principais nações européias: fée em 
francês, fairy em inglês, fata em italiano, Fee em alemão e hada em espanhol. Por 
analogia, os "contos de fadas" são denominados conte de fées na França, fairy 
tale na Inglaterra, cuento de hadas na Espanha e racconto di fata na Itália. Na 
Alemanha, até o século XVIII era utilizada a expressão Feenmärchen, sendo 
substituída por Märchen ("narrativa popular", "história fantasiosa") depois do 
trabalho dos Irmãos Grimm. 
 No Brasil e em Portugal, os contos de fadas, na forma como são hoje 
conhecidos, surgiram em fins do século XIX sob o nome de contos da carochinha. 
Esta denominação foi substituída por "contos de fadas" no século XX. 
 
 Diferentemente do que se poderia imaginar, os contos de fadas não foram 
escritos para crianças, nem eram para transmitir ensinamentos morais. Em sua 
forma original, os textos traziam doses fortes de adultério, incesto, canibalismo e 
mortes hediondas. Segundo Cashdan os contos de fadas não foram produzidos 
para serem contatos em creches, mas para entretenimento de adultos, que se 
juntavam em reuniões sociais, no trabalho, nos campos. 
11 
 
“É por isso que muitos dos primeiros contos de fada incluíam 
exibicionismo, estupro e voyeurismo. Em uma das versões de 
Chapeuzinho Vermelho, a heroína faz um striptease para o lobo, antes 
de pular na cama com ele. Numa das primeiras interpretações de A bela 
adormecida, o príncipe abusa da princesa em seu sono e depois parte, 
deixando-a grávida. E no conto A Princesa que não conseguia rir, a 
heroína é condenada a uma vida de solidão porque, inadvertidamente, 
viu determinadas partes do corpo de uma bruxa. ”(Cashdan 2000, p.20)” 
 Segundo Nelly Novaes Coelho, as versões infantis de contos de fadas hoje 
consideradas clássicas, devidamente expurgadas e suavizadas, teriam nascido 
quase por acaso na França do século XVII, na corte de Luís XIV. Para Sheldon 
Cashdan, em referência aos países de língua inglesa, a transformação dos contos 
de fadas em literatura infantil, ou sua popularização, só teria ocorrido no século 
XIX, em função da atividade de vendedores ambulantes que viajavam de um 
povoado para o outro “vendendo artigos domésticos, partituras e pequenos 
volumes baratos chamados de chapbooks" (Cashdan, 2000, pp. 20-21). Estes 
chapbooks (livros baratos), eram vendidos por poucos centavos e continham 
histórias simplificadas do folclore e contos de fadas expurgados das passagens 
mais fortes, o que lhes facultava o acesso a um público mais amplo e menos 
sofisticado, como também às crianças. 
 Uma outra fonte histórica fala sobre o trabalho dos irmaõs Grimm, que 
transformaram os contos de fadas originais, em contos voltados para o público 
infantil. As histórias dos irmãos Grimm defendem valores como a bondade, o 
trabalho e a verdade. Em seus contos, as pessoas bondosas são premiadas e as 
maldosas são castigadas. Não é sempre que isso acontece na vida real, mas na 
fantasia dos irmãos Grimm quem merece sempre ganha um final feliz. Um 
exemplo é a primeira versão do conto Chapeuzinho Vermelho que foi registrada 
em texto em 1697 por Charles Perrault. Nela, Chapeuzinho é castigada por ter 
desobedecido à mãe e acaba devorada pelo lobo. No século 19, os irmãos Grimm 
deram outra versão à história: o caçador enche a barriga do lobo de pedras 
depois de tirar Chapeuzinho e sua avó de lá. 
 A partir daí os contos de fadas passaram a ser verdadeiras lições de vida. 
Uma história fantasiosa que carrega em seu interior significados reais da vida 
humana. 
12 
 
2 - Buscando significados 
 Ao longo dos últimos 100 anos, os contos de fadas e seu significado oculto 
têm sido objeto da análise dos seguidores de diversas correntes da Psicologia. 
 Bruno Bettelhein afirma que os contos de fadas embora sejam narrações 
antigas que nada ensinam sobre nossa sociedade moderna, são enredos que 
carregam em seu conteúdo uma bagagem cheia de significados que podemos 
nos apropriar para resolver conflitos interiores, não apenas nas crianças, mas nos 
adultos. 
 
“Na verdade, em um nível manifesto, os contos de fadas ensinam pouco 
sobre as condições específicas da vida na moderna sociedade de massa; 
estes contos foram inventados muito antes que ela existisse. Mas através 
deles pode-se aprender mais sobre os problemas interiores dos seres 
humanos, e sobre as soluções corretas para seus predicamentos em 
qualquer sociedades, do que com qualquer outro tipo de estória dentro de 
uma compreensão infantil” (Bettelhein 2002, p.5). 
 
 Cashdan sugere que os contos seriam "psicodramas da infância" 
espelhando "lutas reais". 
 
"embora o atrativo inicial de um conto de fada possa estar em sua capacidade 
de encantar e entreter, seu valor duradouro reside no poder de ajudar as 
crianças a lidar com os conflitos internos que elas enfrentam no processo de 
crescimento". (Cashdan 2000, p. 25). 
 
 O autor prossegue em sua análise sobre a vinculação entre os contos de 
fadas e os conflitos internos infantis: 
 
 
“Cada um dos principais contos de fadas é único, no sentido em que 
trata de uma predisposição falha ou doentia do eu. Logo que passamos 
do "era uma vez", descobrimos que os contos de fada falam de vaidade, 
gula, inveja, luxúria, hipocrisia, avareza ou preguiça - os "sete pecados 
capitais da infância". Embora um determinado conto de fada possa 
tratar de mais de um "pecado", em geral um deles ocupa o centro da 
trama.” (Cashdan 2000, p.28). 
13 
 
 O modo pelo qual os contos de fadas resolvem esses conflitos é 
oferecendo às crianças um palco onde elas podem representar seus conflitos 
interiores. As crianças, quando ouvem um conto de fadas, projetam 
inconscientemente partes delas mesmas em vários personagens da história, 
usando-os como repositórios psicológicos para elementos contraditórios do eu. 
 E são nesses contos que criança encontra significado para questões 
incompreensíveis da sua vida. 
 
“Como muitas outras modernas percepções psicológicas, esta foi 
antecipada há muito tempo pelos poetas. O poeta alemão Schiller 
escreveu: "Há maior significado profundo nos contos de fadas que me 
contaram na infância do que na verdade que a vida ensina" (Bettelhein 
2002, pp. 5-6). 
 
 É essa linha de pensamento que essa pesquisa seguirá, de que os contos 
de fadas são ferramentas úteis para intermediar o mundo da fantasia do mundo 
real da criança, ajudando-as no processamento dos sentimentos, diante de uma 
nova fase da vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
CAPÍTULO II 
 
1. A influência dos contos de fadas 
 
 
 
 “Esta é exatamente a mensagem que os contos de fada 
transmitem à criança de forma múltipla: que uma luta contra dificuldades 
graves na vida é inevitável, é parte intrínseca da existência humana - 
mas que se a pessoa não se intimida mas se defronta de modo firme 
com as opressões inesperadas e muitas vezes injustas, ela dominará 
todos os obstáculos e, ao fim, emergirá vitoriosa”. (Bettelheim, 2002 p.6) 
 
 
 Representados por príncipes, fadas e também por monstros, lobos e 
bruxas apavorantes, os contos de fadas agradam crianças e adultos desde a sua 
criação. Mas a sua função vai além do entretenimento, transmitem valores e 
costumes e ajudam a elaborar a própria vida através de situações conflitantes. 
Segundo Bettelheim, que analisa as histórias mais conhecidas, todos os 
problemas e ansiedades infantis, como a necessidadedo amor, do medo, do 
desamparo, da rejeição e da morte, são colocados nos contos em lugares fora do 
tempo e do espaço, mas muito reais para as crianças. A solução geralmente 
encontrada na história e que quase sempre leva a um final feliz, indica a forma de 
se construir um relacionamento satisfatório com as pessoas ao redor. 
 
 Mas, o que os contos de fadas despertam no imaginário das crianças que 
tanto as fascina, e por que eles são importantes para elas? Por que as crianças 
os adoram, pedem para que os recontemos centenas de vezes, e assim fazem 
com que essas narrativas venham perdurando através dos séculos? 
 
 Para responder essas questões é necessário pensar um pouco sobre o 
desenvolvimento da psique humana, pois os contos de fadas são tão fascinantes 
porque simbolizam o processo pelo qual percorremos nesse desenvolvimento.
 Para a psicanálise, nossa psique se constitui de três estruturas dinâmicas, 
o Id (princípio do prazer), o Ego (princípio da realidade) e o Superego (princípio 
15 
 
moral). Dessas três estruturas, nascemos dotados apenas do Id, sendo que as 
outras duas estruturas terão de ser construídas na relação do sujeito com o 
mundo que o cerca. O Id é a fonte de nossa energia original (libido), que nos 
sustenta e motiva a mover-nos em direção ao mundo, buscando satisfazer nossos 
desejos (pulsões), e não se preocupa que esses desejos se realizem de forma 
concreta. Ele se satisfaz com realizações alucinatórias, através de imagens que 
condensam muitos desejos num só objeto criado pela imaginação. Também não 
se preocupa com tempo e espaço. Para o Id, tudo o que acontece é aqui e agora. 
 As crianças pequenas estão sob forte influência desse aparelho de nossa 
mente, e a linguagem simbólica, não-verbal desses contos, comunica-se 
diretamente com o imaginário delas. Segundo a pedagoga brasileira Fanny 
Abramovich, tentando responder à mesma pergunta do por que os contos de 
fadas causam tanto fascínio diz: 
 
 
“Por quê? Porque os contos de fadas estão envolvidos no maravilhoso, 
um universo que denota fantasia, partindo sempre duma situação real, 
concreta, lidando com emoções que qualquer criança já viveu... Porque 
se passam num lugar que é apenas esboçado, fora dos limites do 
tempo e do espaço, mas onde qualquer um pode caminhar. (...) Porque 
todo esse processo é vivido através da fantasia, do imaginário, com 
intervenção de entidades fantásticas (bruxas, fadas, duendes, animais 
falantes, plantas sábias.)” (Abramovich, 1995 p.120). 
 
 
 Assim, os contos de fadas ao se iniciarem com sua clássica fórmula do 
“Era uma vez um reino distante...” são tão atemporais quanto o Id. Esse reino 
pode ser qualquer um, em qualquer lugar, bem como ser aqui e agora, 
despertando assim a identificação imediata da criança com o conto. 
 Também seus personagens típicos (bruxas, fadas, etc.), não são puras 
criações da mente de seus autores. São representações talhadas pela 
humanidade, para simbolizar seus sentimentos mais profundos. Eles condensam 
todos esses sentimentos numa forma de representação não-verbal que também é 
utilizada pelo Id, muito semelhante à forma como as crianças pensam sobre suas 
próprias emoções. A respeito desses personagens, diz Abramovich: 
16 
 
“Daí que haver numa história fadinhas atrapalhadas, bruxinhas que são 
boas ou gigantes comilões não significa – nem remotamente – que ela 
seja um conto de fadas... Muito pelo contrário. Tomar emprestado o 
nome das personagens-chaves desses contos não faz com que essas 
histórias adquiram sua dimensão simbólica... A magia não está no fato 
de haver uma fada anunciada já no título, mas na sua forma de ação, de 
aparição, de comportamento, de abertura de portas...”(Abramovich, 
1995 p.121) 
 
 Ou seja, não são os personagens simplificados das histórias de hoje que 
despertam profundas identificações entre eles e as crianças. Os personagens dos 
contos de fadas têm determinadas características que provocam esses 
sentimentos. Nota-se que os personagens de contos de fadas não têm nome 
próprio, mas sim nomes que são ligados às suas características físicas e 
emocionais, por exemplo: “Branca de Neve” tem esse nome porque sua pele é 
branca como a neve; “Bela Adormecida” porque de fato adormece por 100 anos; e 
“Gata Borralheira” assim chamada porque suas irmãs invejosas obrigam-na a 
dormir no borralho (cinza), significado de onde também vem seu outro nome, 
“Cinderela”. Isso torna mais fácil a identificação com o personagem, uma vez não 
tendo nome, ele não tem uma identidade própria, e assim pode emprestar sua 
personalidade ao ouvinte enquanto ele acompanha a narrativa. 
 Esses personagens também não têm idade definida, pode-se dizer que sua 
idade situa-se aproximadamente entre os 8 e os 80 anos. 
 Os heróis em geral são dotados de características tão presentes na 
infância (medo, vergonha, ingenuidade, etc.) quanto na adolescência (desejo de 
conhecer e dominar o mundo, autonomia, espírito aventureiro, paixões 
arrasadoras e platônicas). Seus familiares também não têm idade definida; a mãe 
tem idade para ser qualquer mãe, e o pai idade para ser qualquer pai. 
Também os personagens que se interpõem em seus caminhos, como gnomos, 
duendes, feiticeiros, espíritos de toda a sorte (que podem, inclusive, estar 
encarnados em plantas ou animais), são em geral anciões, representando a 
sabedoria vinda de bastante experiência pela vida e que será passada ao jovem 
aventureiro. 
 Desse modo, os contos encantam pessoas de qualquer faixa etária, pois 
reproduzem, em seu enredo, a passagem por todos os estágios da vida humana. 
17 
 
1.1 - mundo da criança 
 
 
“O conto de fadas claramente não se refere ao mundo exterior, embora 
possa começar de forma bastante realista e ter entrelaçados os traços 
do cotidiano. A natureza irrealista destes contos (...) é um expediente 
importante, porque torna óbvio que a preocupação do conto de fadas 
não é uma informação útil sobre o mundo exterior, mas sobre os 
processos interiores que ocorrem num indivíduo” (Bettelheim, 2002 
pp.24-25). 
 
 Uma característica peculiar dos personagens de contos de fadas é que nos 
contos, ou o personagem é o herói “completamente bom” ou o vilão 
“completamente mau”. Dessa forma, os personagens funcionam da mesma 
maneira que a mente infantil. 
 A criança pensa sob uma espécie de esquizofrenia, na qual tende a 
separar os objetos de que gosta, em bons ou maus, pois é difícil para ela aceitar 
que alguém que ame, possa negar-lhe a realização de seus desejos, e desgostar-
se com isso, sem deixar de amar a pessoa querida. 
 Tal característica manifesta-se já no bebê, que ao ser amamentado vê a 
mãe “boa” que o alimenta, bem como a mãe “má” que o desmama, e para manter 
o relacionamento amoroso com a mãe, projeta as características negativas em 
algum outro objeto que ele possa rejeitar. Mas ao fazê-lo, a criança não nega sua 
própria parte má, pois ela não se identifica apenas com a “Chapeuzinho 
Vermelho” boazinha, mas também com o “Lobo Mau”. 
 Esse pensamento, que projeta no outro as suas próprias deficiências, 
perdura durante toda a primeira infância. Por isso, é muito fácil para as crianças 
se identificarem com os personagens dos contos, que também assim se 
estruturam. 
 Por exemplo, o conto de "João e Maria": pais pobres, preocupação com o 
sustento, educação dos filhos e decisões importantes tomadas pelos adultos, que 
envolvem diretamente a vida dos pequeninos de forma radical e por vezes 
definitiva. 
 A história mostra os sentimentos negativos das crianças como insegurança, 
medo, frio, fome, dor. E também projeta sentimentos de luta, perseverança, 
18 
 
esperança, cooperação num auxílio mútuo que leva ao sucesso devido aos 
esforços conjugados. Orientando a criança no sentido de independência dos pais 
ou do adulto. 
 O conto também encoraja a criança a explorar seus medos fantasiosos, 
transmitindo-lhea confiança de que é possível controlar os perigos, por exemplo, 
a bruxa da história poderá persegui-la, mas também poderá ser empurrada para 
dentro do seu próprio fogão, para que morra queimada, afinal é uma bruxa da 
qual a criança pode se livrar. Conseguindo compreender que esta bruxa poderia 
ser representada por algo temido pela criança, a experiência de derrotá-la é de 
grande valia, assim como aconteceu a João e a sua irmã Maria. 
 Ao contar ou ler uma história de conto de fadas para uma criança de 
educação infantil, e sugerir-lhe que em seguida desenhe algo de forma livre, 
possibilita a observação de como a criança internaliza os fatos vividos no 
momento. 
 Surpreendentemente podemos compreender e "ler" entre as figuras 
desejos, alegrias, tristezas em que a criança se encontra, e cada uma possui sua 
história, que está sendo escrita a partir de cada vivência, criando assim sua 
identidade. 
 Percebe-se nas histórias diferentes óticas: experiências da precariedade, 
ameaças e pré-conceitos, mas também luz no final do túnel, onde traz o riso, a 
esperança, o lúdico, o poder individual e coletivo de poderes mágicos exteriores e 
interiores, capazes de mudar o mundo, o seu mundo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
1.2 - A criança e a escola 
 A escola não se restringe à transmissão de conhecimentos e pode 
contribuir para a formação pessoal de cada indivíduo. Ao mesmo tempo em que 
os contos de fadas aliviam pressões inconscientes, ajudam no processo de 
simbolização, podendo ser considerado um rico instrumento pedagógico. 
 Ao iniciar a pesquisa de campo sobre a influência dos contos de fadas no 
desenvolvimento emocional infantil, 10 (dez) profissionais de educação infantil 
foram entrevistados, questionário anexo. 
 Percebe-se que a maioria (8) costuma trabalhar com este conteúdo durante 
o seu cotidiano escolar, de forma a contemplar diversificadamente o currículo de 
educação infantil. Uma (1) professora diz não ter a preocupação ou a valorização 
em especial neste sentido, mas sim com as histórias infantis em geral. 
 Acreditam que tais contos contribuem para o desenvolvimento do raciocínio, 
da criticidade, do gosto pela leitura, aproximando a criança da possibilidade de 
resolver suas questões emocionais, como o medo, a insegurança, o egocentrismo, 
etc. Afirmam que ao se identificarem com os personagens, as crianças sentem 
prazer ao entrar neste mundo de magia, de faz-de-conta, onde o tempo e o 
espaço ficam fora da realidade conhecida, acreditando que o "bom e o positivo" 
sempre vencerão. 
 E, apenas 1 (uma) professora diz não trabalhar com os contos de fadas, 
pois não se identifica com este tipo de leitura. 
 
 Ao trabalhar pedagogicamente com os contos de fadas, as professoras 
relatam perceber diversas reações em seus alunos. Reações como medo, alegria, 
surpresa e curiosidad. Também dizem demonstrar menos agressividade, mais 
concentração e atenção, socialização e em especial, muito entusiasmo com as 
fadas e as bruxas. 
 
 
“É interessante, nós não acreditamos até fazer a tarefa. Ninguém 
imagina o que uma simples história é capaz de fazer numa sala com um 
número elevado de alunos, onde temos que nos desdobrar para ensinar 
matemática ou geografia. A história de fadas e bruxas fazem 
verdadeiros milagres na classe” (Professora Izilda, 2008) 
20 
 
 É fascinante vivenciar momentos de magia, fazendo parte da tristeza da 
Cinderela ao saber que não poderá participar do grande baile; do medo da Branca 
de Neve ao encontrar-se com o caçador e a alegria da Chapéuzinho vermelho, ao 
reencontrar a avó, que julgava morta. É visível no rosto de cada criança, o 
sentimento que flui do seu interior. São momentos de verdadeira entrega aos 
acontecimentos. 
 
 Durante e após a contagem das histórias, como material de apoio as 
professoras utilizam atividades como dramatização, músicas, desenhos livres, 
mimeografados, produção e reprodução de texto, roda de conversa com 
levantamento de hipóteses, sugestões de mudanças do final ou do meio da 
história, ou até resolução de problemas relacionados ao enredo da história e 
talvez até com sua realidade vivida. 
 O relato de uma professora levanta um dado relevante: 
 
 
"Eu conto com o intuito de dar prazer às minhas crianças, pois percebo 
que ficam contentes, participam com mais interesse, prestando mais 
atenção e se tornando mais participativo durante a roda de conversa e 
nas dramatizações". (Professora Sueli, 2008). 
 
 
 Embora a professora conte as histórias para proporcinar prazer aos alunos, 
é através deste "prazer” que acontece a "reflexão". A fantasia possibilita a criança, 
sem sair do lugar, descobrir outros tempos, lugares e descobrir soluções para os 
próprios conflitos. 
 
 É importante que o professor acredite que, enquanto verdadeiro agente da 
ação educativa, tem a função de estimular a imaginação dos alunos. Contando 
histórias, de maneira natural, estabelece um clima de cumplicidade, voltando à 
época dos antigos contadores que em volta do fogo contavam as histórias do seu 
povo, seus costumes e valores, patrimonio da humanidade acumulado por 
séculos. 
21 
 
 As leituras preferidas pelas educadoras pesquisadas são variadas. Umas 
dizem ler um pouco de tudo, outras tem preferencia por livros de auto-ajuda, bíblia, 
romances, espíritas, contos judaicos, evangélicos e/ou reflexivos. Todas relatam 
gostar muito de leitura, porém possuem pouco tempo para essa prática. 
 
 
“Gosto de ler, leio o que gosto e até mesmo o que não gosto, para 
aprender um pouco de cada coisa. Mas não dá para ler com frequencia 
porque tenho muito o que fazer na escola, planejamentos, hora 
atividade, Isso sufoca tanto a gente que não temos tempo para 
aprimorar nossos estudos e nos atualizar como profissionais”. 
(Professora Cristina, 2008) 
 
 
 Felizmente encontramos muitos professores que trabalham com contos de 
fadas, que consciente ou inconscientemente através deles interferem no 
desenvolvimento emocional das crianças. 
 
 Com estes depoimentos, chega-se a conclusão de que os contos de fadas 
são valorizados e trabalhados pelos professores que realizam projetos capaz de 
desenvolver a capacidade da fantasia infantil, que fornecem escapes necessários 
falando aos medos internos da criança, às suas ansiedades e ódios, seja como 
vencer a rejeição como em "João e Maria", ou os conflitos com a madrasta (como 
em "Branca de Neve"), ou a rivalidade com irmãos (como em "Cinderela"). 
 Segundo os professores, os contos trabalham ética, conduta, postura, 
conceitos, que são subsídios para várias reflexões desenvolvidas com as crianças 
e também são fontes de prazer e encantamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
CAPÍTULO III 
 
1. Histórias e Desenvolvimento 
 
 
 “Como é sabido, as crianças têm uma forma diferente dos adultos 
de entender e refletir. As crianças pequenas não conseguem 
desenvolver um raciocínio de causa e efeito. Seu entendimento é 
baseado muito mais na emoção do que na razão. Assim, querer 
persuadir uma criança baseando-se em argumentos racionais, comuns 
aos adultos, terá grandes possibilidades de fracassar.” (Dohme, 2003 
p.23) 
 
 Cada história tem uma mensagem específica, que permite ao narrador 
escolher o tema de acordo com o que se pretende passar a criança, levando em 
consideração seu grau de reflexão. De forma geral, as histórias contribuem com 
diversos aspectos da formação dos pequenos. Aspectos que podem variar de 
uma história para outra, mas de forma geral, todas as histórias propiciam o 
desenvolvimento da atenção e raciocínio, do senso crítico, da imaginação, da 
criatividade, da afetividade e da transmissão de valores. 
 
Atenção e Raciocínio 
 
 As histórias fazem mais do que apenas prender a atenção das crianças. Os 
pequenos acompanham os fatos e levantam hipóteses: Como será que o herói 
saiu dessa situação? A princesa vai encontrar opríncipe e será feliz para sempre? 
Ao tomarem conhecimento da conclusão da história, irão compará-lo com as 
suposições que fizeram. Isso fará com que elas exercitem a relação de causa e 
efeito, que faz parte do seu amadurecimento. 
 A narrativa também exercitará a memória, pois as maldades feitas pela 
bruxa serão relembradas quando ela for castigada no final da história. A criança, 
por estar interessada no enredo, guarda elementos que sabe que lhe trará 
satisfação em outra parte da história. Isso também pode acontecer quando a 
mesma história é contada várias vezes. As crianças gostam de repetir a mesma 
história porque querem ter certeza de que tudo acabou bem no final. 
23 
 
Senso Crítico 
 
 O que se pretende formar, sem dúvida, são cidadãos críticos, com 
capacidade de analisar o que esta ao seu redor, de avaliar o que está de acordo 
com os seus valores e de tomar suas próprias decisões, o que não é fácil. 
 As simples histórias podem ser um canal para os pais ou professores 
discutirem com as crianças comportamentos e posturas de forma a convidá-las a 
pensar. E poderão perceber, ao longo do tempo, que a forma delas verem os 
fatos vão amadurecendo à medida que elas crescem. 
 Por exemplo: as crianças pequenas ficam encantadas quando Cinderela se 
apaixona imediatamente pelo príncipe. Ao passo que as mais velhas questionam 
se somente o fato de ser bonito e rico é suficiente para alguém se apaixonar, ou, 
se o Patinho Feio não seria mais feliz continuando feio, mas ficando com sua mãe 
e irmãos, do que se transformar em um belo cisne e ficar sozinho. 
 O importante é que as histórias vão trazer o contexto no qual os pais ou 
educadores, poderão fundamentar uma discussão que busque produzir uma 
reflexão e o exercício do senso critico. 
 
Imaginação 
 
 As histórias conduzem o ouvinte a lugares sem limites. Uma boa narrativa 
pode levar ao fundo do mar, acima das nuvens, a países distantes, ao futuro e ao 
passado. 
 A descrição detalhada fará com que o ouvinte sinta o cheiro das flores, 
visualize a grama verde e se encante com o cavalo alado que voa pelo céu 
estrelado. 
 Porém, este detalhamento não deve ser exagerado, a fim de permitir que o 
ouvinte coloque a sua "própria" cor do céu, enfeite o campo com árvores. A 
narrativa é um convite para que a imaginação se desencadeie e complemente o 
cenário. 
 
 
 
 
24 
 
Criatividade 
 
 A criatividade é proporcional à quantidade de referência que uma pessoa 
possui, e as histórias são capazes de dar estas referências às crianças. Essas 
referências são aquelas apresentadas a elas, e também resultantes de seu 
próprio raciocínio e imaginação. Assim, as histórias incentivam à criatividade. 
 As histórias também fornecem um contexto com o qual pode-se trabalhar 
de diversas maneiras, fazendo com que as crianças sejam convidadas a criarem. 
Após ouvirem uma história, podemos pedir que façam um desenho da cena que 
gostaram mais, por exemplo. Um grupo de crianças poderá representá-la ou ser 
convidado a fazer a sua continuação. Situações que ficariam difíceis de serem 
pedidas aleatoriamente, mas que ganham sentido dentro de uma história que 
acabou de ser contada. 
 
Afetividade 
 
 As crianças adoram ouvir histórias e gostam de ouvi-las várias vezes. Isso 
acontece porque além do gostar, o ato de contar histórias proporciona situação de 
aconchego, de amparo. Nesse momento, o pai, a mãe, irmão, professor, é só 
delas e lhes dedica a mais completa atenção. Para elas, esta situação pode durar 
para sempre. Estes momentos aumentam o companheirismo e favorecem a 
afetividade, fazendo com que as relações melhorem, e melhorando as relações, o 
diálogo é favorecido e um passar a ouvir o outro. 
 
Transmissão de valores 
 
 As histórias, são um verdadeiro depósito de fatos que exaltam os valores 
éticos. “Como transmitir um conceito que a mentira deixa mais vulnerável o 
mentiroso do que aquele que pretende enganar?” É difícil, mas a história de 
Pinóchio cumpre este papel de forma simples: o boneco de madeira mentia e o 
seu nariz crescia, ficando assim vulnerável. 
 É necessário que aquele que irá contá-las esteja aberto para esse fator, 
que acredite realmente na verdade das afirmações contidas na história, e que 
estejam de acordo com aquilo que ele deseja transmitir. 
25 
 
2 – A mensagem dos contos de fadas 
 
 
Esta é exatamente a mensagem que os contos de fada transmitem à 
criança de forma múltipla: que uma luta contra dificuldades graves na 
vida é inevitável, é parte intrínseca da existência humana - mas que se 
a pessoa não se intimida mas se defronta de modo firme com as 
opressões inesperadas e muitas vezes injustas, ela dominará todos os 
obstáculos e, ao fim, emergirá vitoriosa. (Bettelheim, 2002 p.6). 
 
João e Maria 
 
 João e Maria foram mandados para a floresta pelo pai, que não podia mais 
sustentá-los. Lá, foram atraídos por uma casinha de doces onde morava uma 
bruxa má que queria devorá-los, mas para isso, precisariam engordar. Graças a 
um plano dos dois, eles acabam com a bruxa, encontram seu tesouro e voltam 
para casa, onde foram bem recebidos. 
 
 Esta história trabalha a incerteza da criança quanto à capacidade de 
enfrentar o mundo sozinha, sem os pais. João e Maria, no final saem vitoriosos, 
pois tomam iniciativa e trabalham de forma mútua e inteligente. Assim, o conto 
transmite confiança à criança, de que ele também sairá vitorioso quando chegar o 
momento de fazer coisas sozinho. 
 Segundo Bruno Bettelhein "para a criança, lidar com símbolos é mais 
seguro do que lidar com coisas reais". A história faz, então, o seu papel de revelar 
pensamentos através de simbolismos, fazendo a criança usar a imaginação para 
compreendê-los e assim, obter respostas às suas dúvidas, aos seus desejos e ter 
uma perspectiva otimista quanto ao seu desempenho futuro. 
 Assim, a floresta é o desconhecido, a casa de doces é a tentação, a bruxa 
é a destruição, mas uma “bruxa” que pode ser destruída. 
 E, finalmente, a volta à casa do pai bondoso está de acordo com o 
pensamento da criança, que espera encontrar a felicidade no seu lar. Ela pode 
até aventurar-se fora dele, uma vez que isso é necessário para que ela 
amadureça, mas depois volta pronta para viver feliz junto com seus pais. 
 
26 
 
Rapunzel 
 
 Rapunzel é aprisionada em uma torre pela bruxa, sua madrasta. Esta usa a 
trança de Rapunzel para visitá-la. Um príncipe se apaixona pela voz de Rapunzel 
e também sobe na torre para vê-la, que também se apaixona por ele. Isso é 
descoberto pela bruxa, que manda Rapunzel e o príncipe embora. O príncipe cai 
em um espinheiro e fica cego, os dois vagam separadamente por muito tempo até 
que se encontram, as lágrimas de Rapunzel fazem com que ele enxergue 
novamente e os dois se casam para serem felizes para sempre. 
 
 Rapunzel é um conto de fadas dos irmãos Grimm e, como todo conto de 
fadas desta categoria, possui uma série de símbolos. Segundo Bruno Bettelheim, 
ilustra a fantasia, o escape, a recuperação e o consolo, que são os quatro 
elementos necessários em um tradicional. 
 Fantasia é presença de elementos diferentes do cotidiano que levam a 
situações, desafios e soluções inesperadas. O escape, a recuperação e o consolo 
estão ligados a algum perigo ao qual o herói é submetido, mas que dele se 
recupera e acaba com um lindo final feliz. 
 Os finais felizes são indispensáveis, pois eles vão ao encontro do 
sentimento profundo da criança de que se faça justiça, muitas vezes porque ela 
se sente impotente em relação a injustiças que sofre ou julga sofrer. 
 Assim, Rapunzel traz todos estes elementos. A ameaça é a feiticeira, que 
tem um amor egoísta por Rapunzel e a coloca incomunicável em uma torre, 
provoca a sua separação do príncipe, pune-a a vagar no deserto e provoca a 
cegueira do príncipe. 
 A recuperação dá-se quando Rapunzel e o príncipe, vagam 
separadamentepelo deserto. Sempre, segundo Bettelheim, ambos vagam no 
deserto buscando a sua maturidade, pois antes não a tinham, agiram de forma 
imatura escondendo-se da bruxa, tanto que a própria Rapunzel se denuncia ao 
dizer que a bruxa é mais pesada que o príncipe. No deserto, nenhum dos dois 
tem a proteção dos adultos, eles têm que cuidar de si mesmos, enfrentando 
vários perigos. Mas, eles amadurecem e, finalmente, encontram-se, maduros para 
ampararem um ao outro e viverem felizes para sempre. 
27 
 
 Outro símbolo que a história encerra é a possibilidade de obter por si 
mesmo os meios de encontrar a felicidade, pois é a trança de Rapunzel que 
permite conhecer o príncipe e suas lágrimas que o curam da cegueira. 
 Ao ouvirem esta história, as crianças não obterão imediato entendimento 
destes significado, elas terão prazer em ouvir e tirarão proveito conforme a sua 
maturidade. Certamente, elas desejarão ouvir mais uma vez e, provavelmente, 
absorverão estes significados de forma diferente. Estes diversos momentos irão 
reduzir ansiedades e alimentar esperanças. 
 
 
A Polegarzinha 
 
 Nesta história, uma mulher deseja muito ter um filho, então pede ajuda a 
uma feiticeira que lhe dá um grão de cevada. A partir do beiio da mãe a flor se 
abre e nasce a filha, como é muito pequena, recebe o nome de Polegarzinha. Um 
dia, enquanto está dormindo, um sapo fêmea a sequestra para casar-se com o 
filho sapão. No entanto, a menina foge com a ajuda dos peixes. Um besouro a 
pega para casar-se com ele, mas todos os outros insetos dizem que Polegarzinha 
é muito feia. Depois de ser deixada pelo besouro a personagem acredita ser feia. 
 Ela encontra-se, então, com uma rata, e esta também quer realizar o 
casamento da Polegarzinha com o vizinho toupeira, por este ser rico e inteligente. 
Enquanto está na casa da rata, a menina salva uma andorinha e esta depois 
ajuda sua salvadora a fugir do casamento, levando-a para um lugar onde há 
outras pessoas como ela.. Lá então Polegarzinha conhece um homem com quem 
se casa. 
 Esta pequena história nos mostra que Polegarzinha vive segundo os 
desejos do Outro. É sempre levada, carregada para os lugares sem ser 
questionada. Quando a andorinha aparece, a personagem faz uma escolha, pois 
lhe é feita uma pergunta: "O frio inverno está chegando -disse a pequena 
andorinha - Estou de viagem para as regiões quentes. Você quer vir junto?" 
 O conto ilustra Polegarzinha presa ao desejo dos outros até que toma sua 
decisão e parte, libertando-se dos desejos dos outros e tornando-se um sujeito 
desejante. Agora, já caminha com seus próprios pés, sem precisar ser levada 
pelos outros. 
28 
 
CAPÍTULO IV 
 
Análise dos dados 
 
 
 Ao longo desse trabalho a questão principal enfocada foi a influência que 
os contos de fadas exercem no desenvolvimento emocional das crianças. 
Partindo de um relato histórico que permite a localização tempo/espaço em que 
foram criados bem como seus objetivos e públicos a serem atingidos. Passando 
por uma evolução e alcançando um público menos favorecido e as crianças, 
como cita o capítulo I. 
 É através do prazer, das emoções que as histórias proporcionam às 
crianças, do simbolismo incutido nas tramas, dos personagens, que os contos vão 
trabalhando no inconsciente dos pequenos e pouco a pouco vai ajudando a 
resolver os conflitos interiores normais nessa fase da vida. 
 A Psicanálise como afirmado no capítulo II, diz que este simbolismo dos 
contos de fadas está ligado ao natural sentimento que o ser humano enfrenta ao 
longo de seu amadurecimento emocional. É nesse sentido, que as histórias, 
podem ser decisivas para a formação da criança em relação a si mesmo e ao 
mundo à sua volta. 
 Através delas, a criança é levada a se identificar com o herói ou com o 
vilão, não devido à sua bondade ou maldade, beleza ou feiura, mas por 
necessidade de segurança e proteção, ou projeção de sentimentos, como a raiva, 
em outro objeto. Superando assim o medo que a inibe e enfrentando os perigos e 
ameaças que sente à sua volta, podendo alcançar aos poucos o equilíbrio 
emocional adulto, através do pensamento mágico, natural nas crianças. 
 
 Os autores pesquisados no capítulo II como Bruno Bettelheim, Fanny 
Abramovich, cuja fundamentação teórica apoiam os tópicos “a influência dos 
contos de fadas” e o “mundo da criança”, são importantes porque relatam em 
seus livros os resultados de anos de pesquisa sobre o assunto, e afirmam que as 
histórias em geral abordam todos os problemas e ansiedades infantis, como a 
necessidade do amor, do medo, do desamparo, da rejeição, da morte, da 
frustração, etc. Afirmam que os contos são situados em lugares fora do tempo e 
29 
 
do espaço, que os personagens possuem características e idade cronológica 
também atemporais, permitindo às crianças se enquadrarem em qualquer 
situação da qual sinta necessidade. 
 
 O tema discutido causou também grande interesse dentro do CEI, onde se 
obteve parte da coleta de dados, descritas no capítulo II, tópico “a criança e a 
escola”. As educadoras entrevistadas relataram que após a entrevista passaram a 
rever suas ações durante as atividades e fazem pequenas reuniões informais 
entre elas para discutir o assunto e trocar idéias. 
 De acordo com os dados obtidos por meio de questionários e entrevistas, 
percebe-se que os profissionais da educação em sua maioria estão sabendo 
trabalhar os contos de fadas como ferramenta útil para o desenvolvimento da 
criança. Sabendo que é uma tarefa difícil, pois o professor deve estar preparado 
psicologicamente para exercer plenamente suas funções com harmonia e 
responsabilidade, visto as enormes diferenças e dificuldades pelo qual as 
crianças de nossa escola são incluídas. 
 A observação das crianças pertencentes ao CEI vem sendo feita ao longo 
dos meus 20 anos de trabalho. Essa observação me levou a reflexão do fator 
histórico das crianças do CEI, da comparação das crianças de antigamente, das 
crianças de hoje, e pude perceber então não só a transformação de valores 
familiares, de situação sócio-econômica, mas também as mudanças que 
ocorreram na educação em si. Há anos atrás com uma visão apenas 
assistencialista, a “creche” funcionava como um lugar para “alimentar, higienizar e 
guardar”, atualmente o “CEI” ganha esse nome, e tem uma concepção de que 
cuidar e educar são indissociáveis. 
 Essas crianças têm nível sócio-econômico desfavorável e vivências 
familiares diversificadas, seja por separações conjugais, falecimentos pais/mães, 
abandono pelo responsável, etc. Esses fatores contribuem para a possibilidade de 
muitas crianças apresentarem dificuldades em resolverem-se. 
 Em conversas com as educadoras durante as entrevistas e entrega dos 
questionários, as mesmas afirmaram ter dificuldades em construir uma atividade 
que aborde os problemas de todos os alunos. Daí a justificativa da utilização dos 
contos de fadas, como sendo um veículo capaz de atingir a todos de uma só vez. 
 
30 
 
 É interessante salientar que sensibilidade é algo nato, pois não existe curso 
para "formação de sensibilidade". Acredita-se que há um caminho a percorrer, em 
busca da imaginação e sonhos das crianças. Basta apenas descobrir esse 
caminho, e parece que as educadoras estão encontrando nessa longa estrada, 
um caminho florido, por qual podem conduzir essas crianças. 
 
 Por fim no capítulo III “história e desenvolvimento” e tópico “a mensagem 
dos contos de fadas”, tive uma grande contribução da autora Vania Dohme que 
afirma que os contos de fadas possuem mensagens específicas que permitem ao 
narrador escolher o conto de acordo com o que se pretende passar. 
 Segundo a autora, de forma geral, as histórias propiciam o 
desenvolvimento: da atenção e raciocínio, do senso crítico, da imaginação, da 
criatividade, da afetividade e da transmissão de valores. 
 Essas informações abrem nosso entendimento quanto aoque conto 
escolher para tal atividade ou como trabalhar os contos certos com os diversos 
sentimentos e objetivos. 
 
 Para finalizar o trabalho, ainda se utilizando da fonte de Vânia Dohme, foi 
relatado três mensagens de histórias infantis: “João e Maria” que retrata o 
abandono dos pais e a superação da morte; “Rapunzel” que se liberta da proteção 
excessiva na madrasta e vive feliz com seu amado e “A Polegarzinha” que para 
de fazer apenas a vontade dos outros e alcança sua autonomia. 
 Esses exemplos, nos ajudam a localizar em outros contos, as mensagens 
que se pretende passar, para que com sucesso, seja realizado a atividade 
pretendida. 
 
 O que aprendemos com tudo isso é que a criança é um ser em formação, 
que tem sentimentos dos mais variados e muitos deles incompreendidos pelos 
adultos. 
 Que existem meios para intervirmos a fim de amenizar as mais tenras 
emoções, oferencendo a ela um mundo de magia, de sonhos, onde tudo é 
possível acontecer. Mas devemos nos lembrar que esses lugares plenamente 
“tocáveis”, devem ser aprensentados tal como são, e deixar que as crianças 
façam dele o que bem entenderem. 
31 
 
 
Explicar para uma criança por que um conto de fadas é tão cativante 
para ela destrói, acima de tudo, o encantamento da estória, que 
depende, em grau considerável, da criança não saber bsolutamente por 
que está maravilhada. E ao lado do confisco deste poder de encantar 
vai também uma perda do potencial da estória em ajudar a criança a 
lutar por si só e dominar exclusivamente por si só o problema que fez a 
estória significativa para ela. As interpretações adultas, por mais 
corretas que sejam, roubam da criança a oportunidade de sentir que ela, 
por sua própria conta, através de repetidas audições e de ruminar 
acerca da estória, enfrentou com êxito uma situação difícil. (Bettelheim, 
2002, p.19) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
Metodologia 
 
 
 Para redigir esse trabalho, desde a escolha do tema, que teve início ao 
vivenciar durante 10 anos o trabalho com crianças de 0 a 6 anos, até sua 
conclusão, foram utilizados métodos e fontes que propiciam ao leitor uma leitura 
agradável, verdadeira e confiável dos dados obtidos. 
 O trabalho baseia-se numa mistura de empirismo (observação das crianças 
do CEI Antônia Maria Torres da Silva), pesquisa de campo (realizada através de 
entrevistas por questionários aplicados as educadoras do CEI) e fundamentação 
teorica (tendo por fontes livros conceituados, com autores de renome e revistas 
especializadas em educação), onde as informações se mesclam resultando numa 
cumplicidade valiosa que compõe as afirmações citadas no corpo do trabalho. 
 
 Os livros utilizados foram selecionados após breve leitura e recomendação 
de profissionais da educação, também por sua veracidade, e pela seriedade dos 
autores, que se dedicaram exclusivamente a compor seu trabalho. 
 As revistas trouxeram pontos de vista de outros profissionais da educação, 
contribuindo para uma melhor avaliação do tema central: a influência dos contos 
de fadas no emocional da criança, através de seus relatos de experiência. 
 Os questionários foram de grande valia, pois possibilitou conhecer o que 
pensa, como age, o que conhece os docentes que trabalham contos de fadas no 
dia-a-dia do CEI, profissinais estes do qual tenho acesso. 
 E a obervação das crianças, expressa uma experiência vivida durante 20 
anos, onde pude perceber as mudanças que ocorreram na educação durante 
esse período. Pude notar os anseios, o contexto histórico em que essas crianças 
de desenvolvem, bem como os contos de fadas influenciam essa trajetória. 
 
 Por fim, a pesquisa foi concluída com colaboração de pessoas próximas e 
distantes, mas que por um momento permaneceram unidas dentro desse precioso 
trabalho. 
 
 
 
33 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 A questão pesquisada "obrigou-me" a viajar até ao meu próprio passado e 
a interrogar-me sobre esse período da existência, em que, ingenuamente, 
acreditei em personagens mágicos, entre as quais o Papai Noel. Ao pensar nesta 
fase fui supreendida por uma saudade imensa e por um desejo quase 
inconsciente de poder novamente acreditar. Não sei se esta nostalgia será 
partilhada por todos que irão ler esse trabalho, mas seguramente, muitos estarão 
convictos de que esta foi uma fase cujo encantamento nunca será esquecido. 
 Não só esta memória feliz do passado, mas também os estudos realizados, 
mostram claramente que as fadas, as princesas e até as bruxas devem fazer 
parte da vida das nossas crianças e merecem todo o nosso respeito. Os contos 
de fadas são muito importantes, na medida em que oferecem respostas para 
todas as dúvidas existenciais e angústias da infância. Além disso, pelo fato de 
estes contos estarem muito orientados para o futuro, estimulam a criança na 
busca de uma existência mais independente. 
 Temos atualmente de ter bastante cuidado, uma vez que a pressa do día-
a-dia, o desejo de que as crianças cresçam rapidamente e a ideia de que não há 
espaço para a magia num mundo competitivo como o nosso, podem levar-nos a 
privar os mais novos destes contos que, além de lhes darem asas, dão-lhes 
respostas para a vida. 
 É certo e sabido que os contos de fadas não se resumem na expressão: 
"viveram felizes para sempre". Existem, ao longo destas histórias, personagens 
tenebrosos e assustadores. Quanto a esse lado mais negro e violento dos contos, 
afirmam os especialistas que as crianças não devem ser poupadas, uma vez que 
essa violência é estruturante. A vida é uma alternância de preto e rosa, de alegria 
e tristeza, de luz e escuridão. Por isso, os contos, ao falarem do bem e do mal, 
estão ajudando a criança a familiarizar-se com a própria realidade. Sempre que 
caímos na tentação de amenizar a história, ou tornar os personagens maus em 
figuras mais simpáticas, com o intuito de "poupar" a criança, estamos privando-a 
de elementos importantes. 
 Contar ou ler contos de fadas e estimular as brincadeiras de faz-de-conta 
permite à criança aprender a enfrentar o mundo usando a fantasia e o 
pensamento mágico, que são indispensáveis na conquista dos seus sonhos, 
34 
 
objetivos e independência. Sem imaginação, a criança está entregue à dureza de 
uma mundo demasiado objetivo e exigente. Por isso, o melhor mesmo é deixá-las 
sonhar! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
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Scipione, 1995. 
 
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Paulo, n. 203 pp. 8-11 Junho/Julho, 2007. 
 
CASHDAN, Sheldon. Os 7 pecados capitais nos contos de fadas: como os 
contos de fadas influenciam nossas vidas. Rio de Janeiro: Campus, 2000. 
 
COELHO, Nelly Novaes. O Conto de Fadas. São Paulo: Ática, 1987. 
 
DOHME, Vânia. Técnicas de contar histórias para os pais contarem aos 
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deuses gaélicos e toda a tradição dos druidas. Rio de Janeiro: Record: Nova 
Era, 2003.

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