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(;ârnara dos 061. 3) A nc1a S íal í)1ev1cll:lr1cia o /~ssístência Social MESA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS - 1989-1991 - Presidente: Dep. PAES DE ANDRADE 1" Vice-Presidente: Dep. INOCÊNCIO DE OLIVEIRA 2" Vice-Presidente: Dep. WILSON CAMPOS l• Secretário: Dep. LUIZ HENRIQUE 2" Secretário: Dep. EDME TA V ARES 3• Secretário: Dep. CARLOS COITA 4• Secretário: Dep. RUBERVAL PILOTTO SUPLENTES DE SECRETÁRIOS 1' Suplente: Dep. FERES NADER 29 Suplente: Dep. FLORJCENO PAIXÃO 3• Suplente: Dep. ARNALDO FARIA DE SÁ 4• Suplente: Dep. JOSÉ MELO DIRETORIA-GERAL DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Diretor-Geral: ADELMAR SILVEIRA SABJNO SECRETARIA-GERAL DA MESA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Secretário-Geral: HÉLIO DUTRA ANAIS DO , . I SIMPOSIO NACIONAL SOBRE ASSISTÊNCIA SOCIAL Tema: LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL CÂMARA DOS DEPUTADOS ANAIS DO I SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE ASSISTÊNCIA SOCIAL Tema: LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL Realizado pela Comissão de Saúde, Pre- vidência e Assistência Social da Câmara dos Deputados, nos dias 30 e 31 de maio e 1' de junho de 1989. Centro de Documentação e Informação Coordenação de Publicações BRASÍLIA - 1989 ,2' 3 i>: lr;-r; /·ty 16 c1:S CÂMARA DOS DEPUTADOS DIRETORIA LEGISLATIVA Diretor: Antônio Neuber Ribas CENTRO DE DOCUMENTAÇÂO E JNFORMAÇÂO Diretor: Aristeu Gonçalves de Melo COORDENAÇÂO DE PUBLICAÇÂO Diretora: Maria Liz da Silva Braga Diagramação: Fernando Almeida SÉRIE: AÇÂOPARLAMENTAR N• 38 >>> ···········- '· '' ····~~, (:}:Uv' AFZA i.{IS cn:~::·tn }\[]():'; ~ ' i\' •' · C: ! ,: Lil ! ! ' ~ \ ....... .,.. .-....... ~ 1 1 ' 1 .. ==-=--~>~'~::~~::.~l=~- >> ,.,_! 30 (·;;~) (r26A!i) 5 lfflPO /{fl /9Nll/S' r-v q ~'/\)d_. PRESIDENTE DO SIMPÓSIO Deputado Raimundo Bezerra COORDENADORA-GERAL Deputada Maria de Lourdes Abadia COMISSÃO DE SAÚDE, PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL Presidente: Deputado Raimundo Bezerra Vice-Presidentes: Deputado Ivo Lech Abigail Feitosa Alarico Abib Alceni Guerra António Salim Curiati Arnaldo Faria de Sá Ary Valadão Benedita da Silva Borges da Silveira Carlos Mosconi Carlos Virgílio Célia de Castro Chico Humberto Djenal Gonçalves Doreto Campanari Edmi\son Valentim Eduardo Moreira Elias Murad Erico Pegoraro Eunice Michiles Floriceno PaiXão Francisco Amaral Gandi Jamil Genésio Bernardino Geraldo Alckmin Filho Ivo Lech Deputado Elias M urad Deputado Arnaldo Faria de Sá EFETIVOS Jesualdo Cavalcanti João Paulo Joaquim Sucena Jofran Frejat Jorge Uequed José Carlos Coutinho José Queiroz José Viana Júlio Costamilan Lauro Maia Mauro Sampaio Maria de Lourdes Abadia Messias Soares Miraldo Gomes Moisés Avelino Nelson Seixas Orlando Pacheco Pedro Canedo Raimundo Bezerra Raimundo Rezende Roberto Jefferson Ruy Nedel Sandra Cavalcanti Uldurico Pinto Vingt Rosado [I li Adhemar de Barros Filho Adylson Motta Anna Maria Rattes Anníbal Barcellos António Britto Arolde de Oliveira Bernardo Cabral Celso Dourado Dalton Canabrava Euclides Scalco Farabulini Júnior Francisco Rolün Gcrson Peres Ivo Mainardi João de Deus Júlio Cainpos Secretária: Maria Inês de Bessa Lins SUPLENTES Leonel Júlio Lúcia Braga Manuel Domingos Márcio Braga Mattos Leão Maurício Campos Octávio Elísio_ Osvaldo Bender Oswaldo Almeida Paulo Marques Paulo Paim Rubem Medina Saulo Coelho Simão Sessim Tidei de Litna Vicente Bago SUMÁRIO Pág. APRESENTAÇÃO................................................................... 15 AGRADECIMENTOS............................................................... 17 SESSÃO DE ABERTURA: Deputado Raimundo Bezerra, Presidente ................................. . Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Geral ........... . Deputado Raimundo Bezerra, Presidente ................................. . Dr. Seigo Tsuzuki, Ministro da Saúde ...................................... . Deputado Paes de Andrade, Presidente da Câmara dos Deputados Dr. Jáder Barbalho, Ministro da Previdência e Assistência Social.. ... ENCERRAMENTO: 19 19 20 22 23 25 Deputado Raimundo Bezerra, Presidente .......... .,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 MESA-REDONDA -30-5-89 Coordenadora: Deputada Anna Maria Rattes Tema: DIRETRIZES CONSTITUCIONAIS NA ASSISTÊNCIA SOCIAL ABERTURA: Deputado Raimundo Bezerra, Presidente.................................. 31 DeputadaAnnaMariaRattes, Coordenadora.............................. 31 EXPOSITORES: - Diretrizes constitucionais na assistência social Deputada Sandra Cavalcanti . ... . . . . . . . . . . . . .. . . . . .. . . . . . . . . .. . . . . . . . .. . . 31 - Critérios, clientela, benefícios, serviços e e.ntidade de assistência social Prof. Vicente de Paula Faleiros Membro do Sindicato dos Assistentes Sociais - DF . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 1 '~ M - Conceitos e funções da política de assistência social no Brasil Prof' Potyara Amazoneida P. Pereira Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Políticas Sociais - NEPPOS/UnB . .. ...... .. ..... .. . ... .. ......... ... .. . . . .......... 39 - As AP AE no Brasil - perspectivas e diretrizes Dr. Elpídio Araújo Néris Vice-Presidente para Assuntos Inteniacionais da Federação Na- cional das AP AE e Membro do Conselho Deliberativo da Liga Internacional de Associações Pró-Deficientes Mentais.............. 43 - O deficiente na sociedade brasileira Vereadora Célia Camargo Leão Edelmuth . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . · 47 - Meninos e meninas de rua Prof. Benedito Rodrigues dos Santos Coordenador do Movimento Nacional de Meninos e Meninas ~~........................................................................... 51 -A assistência social e o idoso Sr. Oswaldo Lourenço Presidente da Confederação Brasileira de Aposentados e Pensio- nistas .. . . . . . . .. . . . . ... . . . . ..... ... . . . ....... .. .. . . . . . . . . . . . .. . . . . .. . . . . .. . . ... .. . 55 Deputada Anna Maria Rattes, Coordenadora......................... 59 ENCERRAMENTO: Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Geral............ 59 MESA-REDONDA - 31-5-89 Coordenador: Deputado Geraldo Alckmin Filho Tema: A REALIDADE SÓCIO-ECONÔMICA BRASILEIRA EOQUADROATUALDAASSISTÊNCIASOCIAL ABERTURA: Deputado Raimundo Bezerra, Presidente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 Deputado Geraldo Alckmin Filho, Coordenador......................... 64 EXPOSITORES: -A realidade sócio-econômica brasileira e o quadro atual da assis- tência social Dr. João Ribeiro de Oliveira e Souza Secretário de Serviços Sociais -DF........ .......... ....... ... .... .... 64 -Credenciamento das instituições - critérios, fiscalização e con- trole Dr. Adherbal Antônio de Oliveira Presidente do Conselho Nacional de Serviços Sociais - CNSS/ MEC............................................................................. 73 ~Critérios para isenções das contribuições de seguridade, imuni- dades das entidades assistenciais e recuperação do valor dos auxí- lioS na assistência social Dr• Teresa de Jesus Costa do Amaral Coordenadora-Geral da Coordenadoria Nacional para Integração de Pessoa Portadora de Deficiência -CORDE... .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 -A LBA no Brasil Dr. Irapoan Cavalcanti de L yra Presidente da Legião Brasileira de Assistência - LBA . . . . . . . . . . . . . . 84 -A relação do setor público com o privado e interfaces na Assis- tência Social Dr• Marina Bandeira de Carvalho Presidente da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor - Funabem ....................................................................... 88 - Experiência de descentralização e gestão comunitária a nível esta- dual Dr• Adelayde Júlia de Lima Soares Presidente da Fundação do Bem-Estar Social do Pará - FBESP - Programas assistenciais no Brasil Dr. Nelson Proença Secretário Especial da Habitaçãoe Ação Comunitária -SEHAC ENCERRAMENTO: 91 98 Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Geral............ 109 MESA-REDONDA-1°-6-89 Coordenador: Deputado Nelson Seixas Tema: MODERNIZAÇÃO E GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL-TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS ABERTURA: Deputado Nelson Seixas, Coordenador .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . 113 Deputado Raimundo Bezerra, Presidente .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 114 Deputado Nelson Seixas, Coordenador .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . 115 EXPOSITORES: - Orçamento e financiamento da Assistência Social - critérios para credenciamento das instituições Dr. Pedro Pullen Parente 11 i1 Secretário de Orçamento e Finanças/Seplan . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 ~Organização e participação comunitária Prof. Pedro Demo Técnico do Iplan/Ipea........ .. . . . . .. . . . . . .. . . . . .. .. . . . .. . . . . . . . . ... . . . . .. . . . 119 -Estrutura organizacional e competência da União, estados e mu- nicípios na Assistência Social Dr• Aldaíza Sposati Secretária das Administrações Regionais da Prefeitura do Muni- cípio de São Paulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 -REPRESENTANTES DA COMISSÁO NACIONAL DAS TRABALHADORAS RURAIS DA CONTAG (espaço concedido pelo Deputado Nelson Seixas para reivindi- cações, leitura e entrega de documento) . . . . .. .. . . . .. . . . . . . . . . . . .. . . . . .. . 130 - Experiência de descentralização e municipalização da Assistência Social Prof. Diogo Lordello de Mel/o Assessor Especial para Assuntos Internacionais do Instituto Bra- sileiro de Administração Municipal - IBAM .. . . . . .. . . . . . . . . . . . .. .. . . . 133 -A Igreja e a Assistência Social Pe. Marino Bohn Secretário Nacional de Cáritas Brasileira................................ 137 - Uma proposta de sistematização do conceito e funções de Assis- tência Social Dr• Ivanisa Maria T. Martins Dr. Paulo de Tarso Carletti Secretaria Nacional de Assistência Social do MPAS................ 141 ENCERRAMENTO: Deputado Nelson Seixas, Coordenador..................................... 150 SESSÁO PLENÁRIA DE ENCERRAMENTO ABERTURA Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Geral ........... . APRESENTAÇÁO DOS RELATÓRIOS DOS GRUPOS DE TRABALHO Grupo 1 - Tema: Definição de Assistência Social; funções, princí- pios, diretrizes e campo de atuação Deputada Benedita da Silva, Coordenadora e Relatora Ilza Maria Pereira Sant'Ana, Relatora ....................... . 155 156 Grupo 2 - Tema: Organização, gestão e competência da União, Estado e Município na área da Assistência Social; revisão do papel das instituições federais hoje Albamaria Paulino de Campos Abigail, Relatora . . . . . . . . . . 157 Grupo 3 - Tema: Participação da população: a) na formulação das políticas de Assistência Social e controle das ações em todos os níveis (art. 204, inciso II); b) na gestão administrativa da Assistência Social (art. 194, inciso VII) Vitória Gois de Araújo, Relatora .. .. .. .. .. .. . .. .. .. .. .. .. .. .. . 16.0 Venina Chiappin, Relatora...................................... 162 Grupo 4 - Tema: Financiamento da Assistência Social no contexto do orçamento da seguridade social Eni Maria Monteiro Barbosa, Relatora....................... 163 Grupo 5 - Tema: Qualificação dos beneficiários e a operaciona- lização de benefícios e serviços da Assistência Social (art. 203, inciso V) Dalva Maria de Souza Moura, Relatora .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 166 .· Grupo 6 - Tema: Relação entre setor público e privado na Assis- tência Social e definição de entidades beneficentes; crité- rios de isenção, credenciamento e fiscalização Lizair Guarino, Relatora .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .... .. .. .. .. . 168 Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Ge- ~... .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170 Deputado Raimundo Bezerra, Presidente .. .. .. .. .. .. .. .. .. 170 Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Ge- ral ..................................................................... 174 APRESENTAÇÃO DE MOÇÕES............................................... 179 CONSIDERAÇÕES FINAIS: Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Geral............ 189 Maria de Fátima Azevedo Ferreira............................................ 189 José Dias............................................................................ J 90 Alice Costa Cantuária .. .. . ... .. .. .. .. .. .... .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ... .. .... J 90 Eni Maria Monteiro Barbosa................................................... 19 l ENCERRAMENTO: Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Geral . . . . . . . . . . . . 191 ANEXOS: Proposta de Anteprojeto da Lei Orgânica da Assistência Social, trabalhos e documentos apresentados à Comissão de Saú- de, Previdência e Assistência Social .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 199 APRESENTAÇÃO A idéia da realização do I SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE ASSISTÊN- CIA SOCIAL nasceu da determinação e vontade política do Presidente da Comissão de Saúde, Previdência e Assistência Social, Deputado Raimundo Bezerra; da consciência e compromisso social dos parlamentares da referida comissão; e, principalmente, do justo apelo de 13 milhões de pessoas que sofrem as conseqüências de um quadro reconhecidamente perverso. Durante três dias 533 pessoas de diversas regiões do Pais, no geral técnicos, professores, estudiosos, parlamentares, autoridades, representantes de entidades sociais, sindicais, trabalhadores e lideranças comunitárias tiveram oportunidade de obter informações, trocar idéias e formular propostas. O Simpósio constituiu-se num espaço democrático de livre debate com setores envolvidos com a Assistência Social no Brasil e serviu como instrumento para reafirmar os pontos de consenso, explicitar as divergências, registrar as opiniões e colher sugestões para formular a Lei Orgânica da Assistência Social. Acreditamos que os objetivos propostos foram plenamente alcançados: - o Congresso Nacional cumpriu com seu papel de "caixa de ressonância da pluralidade de interesses que representa" abrindo suas portas ao povo e garantindo a participação popular; - foi garantido, através do trabalho dos participantes, o compromisso com 13 milhões de pessoas que necessitam de assistência; - e juntos começamos a construir uma nova ordem social através da nossa luta no resgate inegociável da vergonhosa dívida social brasileira e da certeza de transformar em direito aquilo qlfe até então foi dado como esmola. Deputada MARIA DE LOURDES ABADIA Coordenadora-Geral do I Simpósio Nacional de Assistência Social 15 AGRADECIMENTOS Vivemos o I Simpósio Nacional sobre Assistência Social com a plena consciência de que estávamos começando a resgatar a grande injustiça para com 13 milhões de brasileiros deficientes e idosos sem previdência, que até hoje têm recebido a caridade pública ou privada, apenas. O direito de cidadania foi reconhecido quando da elaboração da Carta Magna e agora mostramos os caminhos para torná-la realidade. É nosso dever, na qualidade de Presidente do Simpósio, agradecer a todos aqueles que tornaram o evento um sucesso. Destacamos a Coorde- nadora, Deputada Maria de Lourdes Abadia, ligada profissionalmente ao setor, não apenas por sua formação de Assistente Social, mas por sua vivência no trato com os necessitados, quando de sua passagem pelas Administrações Regionais das Cidades-Satélites de Brasília. A Secretária-Geral, Maria Inês de Bessa Lins, incansável, eficiente, presti- mosa, foi a mola mestra do Simpósio, secundada pela Secretária-Adjunto Anamélia Ribeiro Correia de Araújo que, com tempo integral, dedicouo melhor de si mesma para que a fase preparatória e a de realização não necessi- tassem de nznhum reparo. Conseguiu. Ainda nosso agradecimento ao Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Paes de Andrade; Diretor-Geral, Adehnar Silveira Sabino; Secretá- rio-Geral da Mesa, Hélio Dutra; Diretor do Departamento de Comissões, Carlos Brasil de Araújo que, nas suas respectivas áreas de atuação, viabilizaram o Simpósio e contribuíram para o êxito que logramos alcançar. Deputado RAIMUNDO BEZERRA Presidente 17 SESSÃO DE ABERTURA O SR. DEPUTADO RAIMUNDO BEZERRA Presidente Declaramos aberto o I Simpósio Nacional sobre Assistência Social. Convidamos, para fazer parte da Mesa, S. Ex' o Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Paes de Andrade; S. Ex' o Ministro da Previdência, Dr. Jáder Barbalho; S. Ex' o Ministro da Saúde, Dr. Seigo Tsuzuki; o Dr. José Carlos Mello, representando o Dr. João Alves Filho, Ministro do Interior; o Dr. Antônio Alves, representando a Dra. Dorothéa Werneck, Ministra do Trabalho; a Coordenadora-Geral deste simpósio, Deputada Maria de Lour- des Abadia; Dr. Aderbal Antônio de Oliveira, representando o Ministro da Educação, Deputado Carlos Sant' Anna. Passamos a palavra à Coordenadora-Geral deste simpósio, Deputada Maria de Lourdes Abadia. A SRA. DEPUTADA MARIA DE LOURDES ABADIA Coordenadora-Geral Sr. Presidente da Comissão de Saúde, Previdência e Assistência Social, Deputado Raimundo Bezerra, Exm' Sr. Deputado Paes de Andrade, Presi- dente da Câmara dos Deputados; Exm' Sr. Ministro da Previdência e Assis- tência Social, Sr. Jáder Barbalho; representante da Sr' Ministra _do Trabalho, Dorothéa Werneck; representante do Sr. Ministro da Educação, Carlos Sant' Anna; Exm' Sr. Ministro da Saúde, Seigo Tsuzuki; Exm' Dr. José Carlos Mello, representante do Ministro do Interior, Dr. João Alves; demais autori- dades aqui presentes, colegas assistentes sociais e representantes de instituições assistenciais, primeiramente, gostaria de registrar minha alegria, como assis- tente social, por ter sido designada para coordenar o I Simpósio Nacional sobre Assistência Social, após a promulgação da nova Constituição brasileira. De fato, esta é uma responsabilidade muito grande, e sabedora da nossa triste realidade social, podemos medir essa responsabilidade de coordenar um simpósio dessa ordem. 19 !fi.· .. 1 " 11 Wi Quero dar as boas-vindas a todos, representantes de instituições, pessoas que se deslocaram de outros Estados, pessoas de Brasília que se fazem presen- tes neste momento de tantas dificuldades, e dizer-lhes que este simpósio é o primeiro passo de um longo trabalho que temos pela frente. É o primeiro passo no sentido de convocarmos a sociedade e todos os seus segmentos para, juntos, discutirmos a nossa realidade social e propormos alternativas e solu- ções, porque acredito, todos os problemas, nós já conhecemos. O diagnóstico da nossa realiàade socíai está estampado em cada dia, em cada mom~nto nas ruas, nas pontes e divulgado pelos meios de comuni- cação. Há que se ter disposição, boa vontade e vontade política no sentido de resolver e intervir nessa realidade social. Conclamo todos os presentes, toda a sociedade brasileira a fim de que juntos, possamos intervir nessa realidade social. Agradeço muito a presença de todos, das autoridades, conscientes tam- bém dessa responsabilidade, fazem-se presentes, principalmente aqueles que atenderam nosso convite para sugerir, debater e juntos elaborarmos esta pro- posta de lei orgânica da assistência social. É um momento oportuno, porque é hora em que o Congresso Nacional está sendo desmoralizado perante a sociedade brasileira. Diz-se que o Congresso é representado por um bando de pessoas que foram eleitas e que não cumprem com o seu dever. Isso fere muito aqueles que trabalham e estão concretizando compromissos feitos durante suas campanhas. Seria bom 1nanterrno-nos alerta contra essa campa- nha de desmoralizaçâo das instituições democráticas do País. Infelizmente, temos alguns colegas que não estão correspondendo ao mandato que lhes foi conferido pelo povo, mas há aqueles que estão trabalhando. Acredito que este simpósio vá mostrar, também à sociedade brasileira, que o Congresso tem de ser respeitado, porquanto sem ele em pleno funcionamento, o,que está sendo ameaçada é a democracia brasileira. Meus companheiros, bem-vindos. Como Coordenadora, e acho que posso falar em nome do Presidente Raimundo Bezerra - que não tem medido esforços no cumprimento do capítulo que temos de legislar, que é o da saúde, previdência e assistência social - posso afirmar que vamos apresentar ao Brasil e ao povo brasileiro as leis complementares que faltam, no menor tempo possível. Conclamo a todos no sentido de transformar em direito aquilo que até hoje nos foi dado como esmola. Bem-vindos e muito obrigada. (Palmas.) O SR. DEPUTADO RAIMUNDO BEZERRA Presidente Sr. Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Paes de Andrade; Sr. Ministro da Previdência, Jáder Barbalho; Sr. Ministro da Saúde, Seigo 20 Tsuzuki; Sr. José Carlos de Mello, representante do Sr. Ministro João Alves Filho, do Interior; Dr. Antônio Alves, representante da Sr• Ministra do Traba· lho, Sr' Dorothéa Werneck; Dr. Aderbal Antônio de Oliveira, representante do Sr. Ministro da Educação, Deputado Carlos Sant'Anna; minha cara amiga e colega, Deputada Maria de Lourdes Abadia, a quem agradecemos a operosi- dade nesta difícil missão de coordenar o I Simpósio Nacional Sobre Assistência Social. Já podemos antever o sucesso deste simpósio, porque os preparativos foram encaminhados de m::ineira a atingir os objetivos que almejamos - convocar a sociedade brasileira para participar, nesta Casa, de- assunto da mais alta relevância, qual seja de transformar a assistência social em direito do cidadão e não em esmola, como até hoje acontece. Meus colegas Parlamentares, demais participantes funcionários da Casa, Senhoras e Senhores: O Estado moderno, por imposição da sociedade, passa a interpretar como direito de cidadania a saúde, o trabalho, a educação, o esporte, o lazer, a preservação do meio ambiente, a livre manifestação de pensamento, a liber- dade política, religiosa, o respeito às etnias minoritárias, a não discriminação de sexo, raça e cor. Entende, também, que a assistência social está incluída entre os direitos de cidadania, e que é dever do Estado, como uma de suas funções, prestar todo tipo de assistência que dignifique o homem na sua essência. A idéia de esmola ou ação altruística, tanto coletiva como_ privada, foi sepultada, considerando que são iguais perante a Pátria o hígido, o defi- ciente, o pobre, o rico, o analfabeto, o letrado. A nova Constituição, quando incluiu a assistência na seguridade social, com destaque que a torna indepen- dente e auto-sustentável, entendeu a definição de assistência social como um direito de pessoa humana e não como uma benesse que, meritoriamente, lhe fosse destinada. Este 1 Simpósio Nacional vai receber subsídios dos mais diversos setores envolvidos com assistência social, para que os Parlamentares possam transfor- mar em prática o que em tão boa hora foi aprovado na Constituição. A Comissão de Saúde, Previdência e Assistência Social promoveu três Simpósios, este mês, com o mesmo objetivo: convocar a sociedade para trazer suas expe- riências e propostas para a complementação da Carta Magna. O Simpósio de Saúde e o de Previdência, podemos considerar, foram coroados de êxito, atingindo o objetivo colimado. Esperamos que este Simpósio da Assistência Social que ora iniciamos tenha o mesmo caminho, ou ultrapasse os anteriores. A Assistência Social no Brasil é caótica, desordenada, sem objetivos definidos, com contínuas mudanças de direção e sem uma lei orgânica que determine os critérios e parâmetros para o seu funcionamento. Teremos agora, aproveitando as vivências de instituições dirigidas por verdadeiros sacerdotes na arte de servire ajudar o próximo, a oportunidade de transformar o deficiente físico, mental, o idoso, em pessoas merecedoras .do respeito da Nação. Nosso trabalho é hercúleo, mas todos aqueles que dele participam já têm como 21 prêmio o sentimento interior de estar fazendo algo por seu semelhante, um dos pilares que justificam uossa existência. Preparemos o caminho para aqueles que por desígnios do destino têm necessidade de ajuda. Que a recebam como um direito de cidadão, um dever do Estado e um ato de solidariedade humana de todos, que têm no semelhante um irmão. Treze milhões de brasileiros foram lembrados; façamos com que nunca mais sejam esquecidos. Mais uma vez, sentimo-nos gratificados, porque a sociedade acorreu ao nosso chamamento comparecendo a este simpósio. Agradecemos, em nome do País, a participação de todos. Em nosso nome pessoal, expressamos o nosso muito obrigado aos dedica- dos servidores da Comissão de Saúde, Previdência e Assistência Social, nas pessoas das secretárias Maria Inês de Bessa Lins e Anamélia Ribeiro Correia de Araújo. Vamos ao trabalho, vamos pagar a dívida para com treze milhões de brasileiros. Tenho dito. (Palmas.) O SR. SEIGO TSUZUKI Ministro da Saúde Exm' Sr. Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Paes de Andra- de; Exm9 Sr. Jáder Barbalho, Ministro da Previdência e Assistência Social; Exm' Sr. Deputado Raimundo Bezerra, Presidente da Comissão de Saúde e Previdência Social da Câmara dos Deputados; Sr. Antônio Alves, no mo- mento representando a Ministra do Trabalho, Dorothéa Werneck; Sr. Aderbal Antônio Oliveira, neste momento representando o Ministro da Educação, o Deputado Carlos Sant'Anna; Sr. José Carlos Mello, neste momento repre- sentando o Ministro do Interior o Sr. João Alves Filho; Exm• Sr• Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Geral deste simpósio. Parlamen- tares e demais autoridades presentes, senhoras e senhores. Sinto-me honrado em participar deste evento e parabenizo esta Casa pelo brilhantismo com que vem desempenhando suas atribuições em conjunto com a sociedade civil, promovendo discussões participativas e democrátic~s, como esta para a preparação das leis complementares do terceiro segmento da seguridade social previsto na Constituição: a Assistência Social. É com satisfação que saliento a orientação dada por este poder, para que o presente debate se caracterize pelo compromisso de resgatar as ações de assistência social não como paliativas, e sim como efetivas medidas de erradicação da miséria absoluta existente em vários segmentos sociais. Assim, estaremos evitando discussões e tratamentos estigmatizantes com definição de metas prioritárias para o devido enfrentamento do problema. Após a Revolução de 1930, a legislação previdenciária estabeleceu clara distinção entre a assistência devida aos cidadãos engajados na força de trabalho 22 como contraprestação de suas contribuições e aquela prestada aos desafor- tunados com nítido sentido caritativo. Hoje, com o advento da Nova República e de acordo com o processo de transição democrática respaldado e garantido pela Constituição, podemos reverter este quadro, devendo a assistência social perder a sua antiga conotação de beneficência ou misericórdia para se tornar um eficiente instrumento de ação pública, na solução de desigualdades resultantes de limitações naturais impeditivas de participação no processo produtivo. Assim, a assistência social se imporia como questão inerente à cidadania, garantindo a satisfação das necessidades essenciais como mínimo indispensável à sobrevivência humana. Nas comunidades onde ainda não foi definido um serviço de assistência social adequado, institucionalizado e participativo, independente de classe social, haverá sempre um maior número de pessoas marginalizadas em função de disCriminações inaceitáveis decorrentes de sua condição natural. Creio que não me fica mal aproveitar a expressividade deste evento para fazer de público o que até hoje nunca fiz: um ensaio de justificativa. Esta justificativa pode dar ensejo a que saiamos um pouco do âmbito sempre limitado de decisões, para irmos ao encontro dos problemas, e sobretudo das opções que se apresentam ao setor saúde, hoje, como alternativa indispen- sável à redução do contingente de necessitados, tornando-os aptos a se reinse- rirem na sociedade. A intenção - muito forte - é a de que o Ministério da Saúde possa continuar o processo de descentralização, registrando as idéias aqui expressas, para o planejamento da sua função maior de articular, coordenar, definir e divulgar os objetivos, as intenções, as perplexidades e a amplitude da grande missão que deve desempenhar no País: garantir a saúde como Um direito de todos e dever do Estado. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. DEPUTADO PAES DE ANDRADE Presidente da Câmara dos Deputados Sr. Presidente Raimundo Bezerra, Coordenadora-Geral deste simpósio, Deputada Maria de Lourdes Abadia, Ministro Jáder Barbalho, Ministro Seigo Tsuzuki, Srs. representantes do Ministro da Educação, do Ministro do Traba- lho e do Ministro do Interior, integrantes da Mesa, minhas senhoras, meus senhores, inicialmente quero congratular-me com o Deputado Raimundo Be- zerra, que preside, com alto espírito público e competência, este simpósio, com a Deputada Maria de Lourdes Abadia e com todos que aqui se encontram. Este é um simpósio indiscutivelmente da mais alta importância porque do debate aberto, democrático, livre, nascerão os subsídios para lastrear uma 23 política que, .amanhã, se poderá transformar na Lei Orgânica da Assistência Social. A Deputada Maria de Lourdes Abadia disse, com muita propriedade, que o Poder Legislativo está vivendo uma hora difícil - atacado e agredido - e que, no entanto, pelos seus representantes, haveria de se fortalecer. Fortalecido está, até porque se encontra no centro das decisões nacionais. O Poder Legislativo, que foi tantas vezes mutilado e posto em recesso compulsório, tendo suas prerrogativas e predicamentos usurpados em mais de uma oportunidade, golpeado diversas vezes ao longo de uma História, deu ao Brasil uma Constituição progressista, que retrata as aspirações nacionais e que haverá de ser duradoura. Esta Carta Magna haverá de ser u1n instrumento jurídico para a plena realização do homem, para o exercício permanente da liberdade, para a aplicação correta da justiça, para a defesa dos direitos humanos e da soberania nacional. Esta Constituição pode não ser perfeita - até porque a perfeição está distante do contexto político institucional das nações. Já dizia o grande mestre do Direito Constitucional, Léon Duguit, que a eterna quimera dos homens é querer incluir nas Constituições a perfeição que eles não têm. Rui foi mais preciso, ao dizer que o Brasil precisava, já àquela época, de uma Constituição sensata, sólida, de uma Constituição praticável, política nos seus defeitos e humana nas suas contradições. Esta Constituição que o Poder Legislativo colocou nas mãos do povo é sólida, praticável; veio para ficar, para ser cumprida e respeitada pelo povo. O Poder Legislativo, vai cumprir sua tarefa histórica de completar esta Constituição, através de leis complementares e ordinárias. As Constituições do Brasil perdera1n-.se ou foram rasgadas, ou abriram caminhos para as rupturas institucionais exatamente por falta de aplicabilidade resultante da falta de regulamentação. Ao congratular-me com os senhores, que promovem este simpósio, quero dizer, e mais uma vez reafirmar, que o Poder Legislativo vai colocar-se no centro das decisões nacionais. E, aqui, uma questão de fundo, para encerrar: diante de tantas agressões, diante de uma divulgação distorcida e deformada dos nossos trabalhos, diante da projeção de uma imagem que não é a do Poder Legislativo, quero dizer, até me indagando: quanto custa ao povo o Poder Legislativo, a pedra angular do regime representativo? Quanto custa ao povo a Câmara dos Deputados? Custa0,40% do Orçamento da União. Quanto custam ao povo a Câmara dos Deputados, o Senado Federal e o Tribunal de Contas da União? Menos de 1 % do Orçamento da União. Quanto custaria ao povo e à Nação o regime ditatorial sem Parlamento, em que sindicatos não têm voz nem voto, os direitos humanos são desrespeitados, a soberania nacional está posta a preç.o no mer- cado internacional? Meu abraço e minhas congratulações. 24 Quero dizer que, na Presidência da Câmara, pretendo ser - serei, sim - um servidor da Pátria, um guardião da Constituição e do Regimento. (Palmas.) O SR. JÁDER BARBALHO Ministro da Previdência e Assistência Social Exm' Sr. Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Paes de Andra- de; Exm' Sr. Deputado Raimundo Bezerra, Presidente da Comissão de Saúde, Previdência e Assistência Social; Exm' Sr• Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Geral deste Simpósio de Assistência Social; Exm' Sr. Ministro da Saúde, Seigo Tsuzuki; Sr. representante do Ministro do Interior; Sr. repre- sentante do Ministro da Educação; Sr. representante da Sr• Ministra do Traba- lho; Sr'-'5 e Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, em primeiro lugar, desejo manifestar meus cumprimentos à Comissão de Saúde, Previ- dência e Assistência Social da Câmara dos Deputados. Pela terceira vez, tenho a oportunidade de comparecer, em tão curto e~paço de tempo, a simpósios realizados por esta Co1nissão, o que demonstra o imenso interesse em buscar, a curto prazo, ouvindo a sociedade, subsídios para a elaboração de legislação complementar referente à lei orgânica da saúde, ao plano de benefício e custeio da Previdência Social. E hoje, neste encontro, para a Lei Orgânica da Assistência Social. Isto, acima de tudo, demonstra a importância do Parlamento brasileiro, a elevada sensibilidade dos Srs. Congressistas de buscarem subsídios nessa discussão com ·os mais diversos segmentos da sociedade, com vistas a elaborar um texto legal capaz de refletir os anseios da sociedade brasileira. Sr. Presidente, Deputado Raimundo Bezerra, a presença do Ministro da Previdência e Assistência Social neste encontro e sua palavra poderiam até certo ponto, ser consideradas gratuitas ou até mesmo interpretadas como saudosistas, já que, seguramente, caberia melhor e com maior desenvoltura ao Ministro do Interior tratar da questão relativa à assistência social, eis que esta, hoje, não mais se encontra no âmbito da Previdência Social. Hoje, de assistência social o meu Ministério tem apenas a denominação, já que organismos como LBA, Funabem e Secretaria de Ação Comunitária estão no âmbito do Ministério do Interior. Mas. cu não poderia perder a oportun'idade de comparecer a este encon- tro. 1nanifcstar n1cu apreço a esta Comissão e declinar que, no curso do atual Governo. enquanto a assistência social esteve no :1111hito de competência do Ministério da Previdência. os recursos cresccr<~ill. Devo afirmar que chega- ra111 até. no ano de llJX7. a cerca de)\,;. do orça1ncnto glohal da Previdênciü Social e. cn1 1988, a cerca de 4r'{ . ..J.Uando cn1 anos anteriores a rubrica 25 relativa à assistência social chegava a apenas 1,5%. Isso demonstra, portanto, o interesse do atual Governo no que diz respeito à assistência social no Brasil. Entendo, e aqui foi dito de forma clara e precisa pela Coordenadora deste simpósio, pelo Sr. Presidente desta Comissão e pelo Ministro da Saúde, que a visão de assistência social não pode ser a de esmola, de benesse. Gostaria, como Ministro da Previdência Socia'.l, de ressaltar que em uma sociedade moderna e justa deve-se ampliar cada vez mais os benefícios da Previdência Social com vistas à eliminação do assistencialismo.- Quando possível, incorporar todos os trabalhadores no mercado de trabalho, onde todas as pessoas efetiva- mente tenham direito ao emprego neste País. Quando todas as pessoas estive- rem abrangidas pela Previdência Social, seguramente o assistencialismo desa- parecerá, e aí, o Brasil efetivamento terá alcançado os patamares de uma sociedade moderna e acima de tudo justa. Creio que este seja o desejo de todos. Neste momento, temos a obrigato- riedade de reconhecer que não alcançamos esse patamar. O papel a ser desen- volvido pela assistência social é, portanto, fundamental, porque temos vários brasis, a riqueza convivendo ao lado da pobreza, a ostentação ao lado de bolsões de miséria. Então, a presença da assistência social ainda é um fator importante na eliminação das profundas desigualdades que permeiam a socie- dade brasileira. Gostaria, Sr. Presidente, que V. Ex• e os participantes deste encontro me permitissem fazer um desabafo também - porque verifiquei aqui que se acabaram transformando, de alguma sorte, tanto o discurso da Deputada Abadia quanto o do Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Paes de Andrade, num certo desabafo. Tenho assistido, com certa intraqüilidade, proclamar-se que existe um rombo na Previdência Social. Quero aproveitar o ensejo, em que pese ao tema de hoje tratar de assistência social, para informar a V. Ex" que não existe rombo nem déficit na Previdência Social. Se existe, não é na Previdência Social. Esta, com os recursos recolhidos de empregadores e empregados, vem cumprindo com os seus deveres. No mês de ·maio último, resgatou o que foi estabelecido na nova Constituição: .a velha e justa aspiração de recompor aposentadorias, pensões e prestações continuadas, isto é, benefícios diversos que, ao longo do tempo, tornaram-se defasados em face do processo inflacionário, numa tremenda injustiça funda- mentalmente para com os aposentados e pensionistas. Foi a Previdência, sem qualquer aparte de recurso externo, exceto o dela, quem pagou a recomposição de maio e ainda disp.õe de meios para pagar a de junho, sem problemas. As questões que afetam a Previdência Social, a médio e a curto prazos, independem da sua administração. Se há déficit de caixa, não é na Previdência Social, que espera lhe sejam concedidas as fontes de custeio listadas pela Constituição, de forma prioritária, porque exatamente com a Previdência Social é que a Assembléia Nacional Constituinte cometeu as maiores injustiças no que diz respeito ao capítulo da seguridade 26 social. Sabemos e entendetnos que seguridade social não é relativa apenas à Previdência Social. Pedimos licença para proclamar que, no capítulo da seguridade social, as responsabilidades listadas, factuais, são co1n relação à Previdência, inclusive com prazos constitucionais estabelecidos, e já cumpri- mos o pr.imeiro. Reivindicamos, entáo, que seja dado tratamento prioritário à Previdência Social, no que diz respeito às responsabilidades que ela tem. Além disso, a Previdência Social neste País, oriunda das Caixas de Pecúlio, dos Institutos diversos, os IAPAS, que depois foram reunidos no Simpas, surgiu fundamen- talmente com o objetivo de uma política previdenciária, isto é, de benefícios. Hoje, a Previdência Social e particularmente o atual Governo vêm inves- tindo recursos consideráveis no setor saúde. Enquanto em 1987, investimos 49% em benefícios da previdência, investimos em assistência médico-hospitalar 22,45%. Em 1988, investimos 49,49% em benefícios, e em assistência médica, 23,86%. Sabe o Ministro da Saúde, porque trabalhamos juntos, o quanto a Previdência Social hoje, através do SUDS, sustenta a saúde no Brasil no campo da assistência médico-hospitalar com dinheiro recolhido dos empre- gados e empregadores do País. Alguns setores da imprensa, de forma equivocada, vêm proclamando rombo e déficit na Previdência Social. O Ministro dessa Pasta aproveita este auditório para dizer que não há rombo nem existe déficit na Previdência Social, e que, se forem carreados os recursos relativos ao Finsocial para a Previdência, teremos condições de implantar o novo plano de benefícios da Previdência Social sem dificuldade alguma e amparar os cento e quarenta milhões de brasileiros em assistência médico-hospitalar, particularmenteno que respeita à questáo de benefícios. Eram estas, Sr. Presidente, as considerações que desejava fazer. Aproveito a oportunidade para dizer que, em que pese à Previdência ter defeitos, equívocos e precisar se modernizar, não aproveitem este momento para transformá-la em bode expiatório. Mais .do que isso, Sr. Presidente, é necessário que esta Comissão esteja atenta à interpretação que se está pretendendo dar à seguridade social. Há gente pensando em seguridade social para demarcar terra indígena. Há gente pensando em seguridade social para manter o Programa Padre Cícero, no Nordeste. Entendemos que seguridade social é coisa bem distinta desses programas. Portanto, gostaria de aproveitar, aqui e agora, para deixar essas questões bem claras, particularmente, para a imprensa que, de forma equivocada, repito, vem tratando desinformadamente o assunto e informando mal a opiniáo pública brasileira com relação ao que se passa no momento no Ministério da Previdência e Assistência Social. (Muito bem! Palmas.) 27 ENCERRAMENTO O SR. DEPUTADO RAIMUNDO BEZERRA Presidente Antes de encerrarmos esta primeira etapa dos trabalhos, quero agradecer a presença aos membros da Mesa, e também dar uma notícia que, acredito, é do interesse de toda a Nação, principalmente porque está aqui uma pessoa que trouxe essa informação. Em cumprimento a dispositivo constitucional, a Lei Orgânica da Saúde, a Lei Orgânica da Assistência Social e o Plano de Custeies e Benefícios da Previdência Social, que deveriam ter chegado a esta Casa até o dia 5 de abril e aqui não aportaram, deverão chegar amanhã, de acordo com informa- ções dadas pelos Srs. Ministros Ronaldo Costa Couto e Jáder Barbalho. A Comissão de Saúde, Previdência e Assistência Social sente-se feliz, porque agora terá os instrumentos necessários para fazer sua intervenção nas leis orgânicas e no Plano de Custeias 1~ ·Benefícios, inclusive para emendar a Lei de Diretrizes Orçamentárias, que já tramita nesta Casa. Infelizmente, por atraso do Poder Executivo, a nossa Comissão ficou tolhida e não pôde avançar naq~ilo que era seu propósito. Já poderíamos ter correspondido aos anseios da Nação, quanto à nossa missão de completar a Carta Magna recém- promulgada, mas lamentavelmente não pudemos emendar aquilo que constitu- cionalmente é de competência do Poder Executivo. Felizmente, a partir de amanhã, teremos esses instrumentos, e acreditamos que, em tempo recorde, daremos à Nação a resposta, no que concerne à seguridade social, à saúde, previdência e assistência social, antes do tempo que estipula a Constituição no seu Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, de que teremos completado nossa missão. Agradeço sensibilizado a presença de todos que aqui vieram para esta sessão inaugural do I Simpósio Nacional sobre Assistência Social. Encerramos os trabalhos, concedendo o prazo de cinco minutos para abrirmos a mesa-redonda marcada para hoje. Está encerrada a sessão. (Pal- mas.) 28 MESA-REDONDA - 30-5-89 COORDENADORA: Deputada Anna Maria Rattes TEMA: Diretrizes Constitucionais na Assistência Social EXPOSITORES: - Diretrizes Constitucionais na Assistência Social Deputada Sandra Cavalcanti - Critérios, clientela, benefícios, serviços e entidade de assistência social Prof. Vicente de Paula Faleiros - Conceitos e funções da política de assistência social no Brasil - Prof•. Potyara Amazoneida P. Pereira -As APAE no Brasil - perspectivas e diretrizes Dr. Elpídio Araújo Néris - O deficiente na sociedade brasileira Vereadora Célia Camargo Leão Edelmuth - Meninos e meninas de rua Prof. Benedito Rodrigues dos Santos - A assistência social e o idoso - Sr. Oswaldo Lourenço 29 ABERTURA O SR. DEPUTADO RAIMUNDO BEZERRA Presidente A mesa-redonda programada para a manhã de hoje, em prosseguimento ao I Simpósio Nacional sobre Assistência Social, terá como lema principal "Diretrizes Constitucionais na Assistência Social". Teremos, como coorde- nadora dessa mesa-redonda a DeputadaAnna Maria Rattes; como expositores, a Deputada Sandra Cavalcanti, o Prof. Vicente de Paula Faleiros, a Prof' Potyara Amazoneida P. Pereira, Dr. Elpídio Araújo Néris, a Prof• Célia Camargo Leão Edelmuth, o Prof. Benedito Rodrigues dos Santos e o Sr. Oswaldo Lourenço. Convidamos os nominados a se fazerem presentes à mesa dos trabalhos, ao mesmo tempo em que passamos a presidência destes traba- lhos à Deputada Anna Maria Rattes. A SRA. DEPUTADA ANNA MARIA RATTES Coordenadora Gostaríamos que os participantes deste encontro fossem tomando lugar no auditório para podermos começar a exposição desta primeira mesa-redonda. Esta será composta de três expositores e quatro lideranças comunitárias, que terão respectivamente vinte e quinze minutos para seus pronunciamentos. EXPOSITORES A SRA. DEPUTADA SANDRA CAV ALCANTI Expositora Sr• Presidente da mesa-redonda, Deputada Anna Maria Rattes; Exm• Sr• Coordenadora deste simpósio, Deputada Maria de Lourdes Abadia, a quem, de público, quero dar os parabéns pela excelência do trabalho executado e pelo resultado excepcional colhido neste simpósio; prezados companheiros que compõem esta mesa de debates; senhoras e senhores dirigentes de entida- des ligadas ao problema de assistência social; profissionais liberais que traba- lham nessa área; Exm• Sr• Presidente da Funabem, Marina Bandeira, que vejo, com muita alegria, neste plenário. 31 Virou moda dizer que a Constituição é que está atrapalhando a vida do País, por ser parlamentarista em um sistema presidencialista. Também, porque, numa total irresponsabilidade, na hora de elaborá-la, os Deputados inventaram uma porção de favores para determinados setores e esqueceram-se de localizar os recursos para esses favores. De sorte que, se posta em prática, quebrará o País. Provavelmente, os senhores já leram isso em inúmeros edito- riais, vêem todos os dias nos jornais a Constituição ser responsabilizada pelo clima de caos, confusão e desordem gerado pelas dificuldades que o País atravessa. É uma boa desculpa esfarrapada, porque as dificuldades são bem anterio- res à Constituição, podendo até ser localizadas: elas nasceram muito mais da irresponsabilidade e da impunidade do Poder Executivo do que dos atos do Poder Legislativo. É preciso que isso seja dito de forma muito clara, até para não parecer que estamos aqui discutindo matéria da mais completa e total irresponsabilidade e que, o que aqui está posto como diretriz constitu- cional na área de assistência Social, não vai poder ser implementado, pelo fato de, na prática, não poder ser conseguido. Peço perdão por este tom de desabafo e por esta forma aberta de dizer as coisas. Acho que, ein uma mesa-redonda, quando daqui a pouco vamos ouvir e decidir questões e responder perguntas das partes interessadas - e vão ser muitos os que vão falar -, é bom que, desde logo, pelo menos, este tipo de argumento seja desmanchado. Não é verdade que os defeitos desta Constituição residam no fato de termos, pela primeira vez na história dos textos constitucionais brasileiros, nos debruçado sobre uma expressiva parcela da população brasileira que não era mencionada nas Constituições anteriores. Poderia até ter sido alvo de atenção e providências porque, se as Constituições anteriores não tinham capítulo expresso sobre seguridade social, previdência e assistência social, sobre a criança, o adolescente, o idoso, a família, sobre as pessoas portadoras de deficiências, nem por isso elas deixa- ram de existir; elas existiram ao longo de toda a nossa vida. E se havia um artigo declarando que eram todos iguais perante a lei, de uma forma muito mais ampla, em todas as Constituições anteriores, nada teria impedido que houvesse por parte das autoridades um cuidado muito grande com esse setor da nossa população. Por que é que o Constituinte de 87/88 decidiu tornar mais explícitas as intenções da Carta Constitucional nessa matéria? Exatamente para ver seconseguia, afinal, acordar o Poder Executivo para essas suas responsabi- lidades, até porque estas não são as áreas que conseguem fazer lobby nos corredores, não do Poder Legislativo, mas nos do Poder Executivo. Se há lobbies nesta Casa, e houve na hora de elaborarmos o texto, lobbies muito mais sérios existem há 1nuitos anos circulando nos corredores ministeriais, nos corredores do Tesouro Nacional, quando da elaboração da Lei Orçamen- tária pelo Executivo, para colocar ali seus interesses. E não são essas categorias, 32 as mais frágeis da nossa estrutura social, que consegue1n fazer suas vontades serem entendidas e atendidas. Então, vamos remover, logo de saída, essa afir1nação que não é verda- deira. No texto constitucional, no art. 195, quando definimos de forma muito clara quais seriam os recursos que financiariam a seguridade social, está dito, sem faltar vírgulas ou adjetivos, que a seguridade social será financiaÇa por toda sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei - esta lei vai nascer certamente até deste simpósio-, mediante recursos piovenientes dos Orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e das seguintes contribuições sociais .. Portanto, ninguém imagine que, para sustentar os programas de assistên- cia social, só há um recurso válido: o de meter a mão no bolso do trabalhador brasileiro. Não. Há recurso válido, o das contribuições sociais. É um deles. Mas o que está dito aqui é que a seguridade social vai-se sustentar dos Orça- mentos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios. Então, não é da contribuição direta do trabalhador e do empregador que vai nascer o recurso para sustentar a seguridade social. É dos iinpostos que são pagos por todos os brasileiros, formando os orçamentos. Até porque, se não pagás- semos impostos, não teríamos necessidade de ter governo. O governo, nos regimes democráticos, desde João Sem-Terra, na Inglaterra, existe apenas porque há gente pagando impostos. Se não existissem impostos, o governo não teria o que fazer, a não ser discursos e, assim mesmo, a partir do mo1nento em que não fosse pago para fazer discursos também não os faria mais. Então, essa diretriz constitucional é a primeira e a mais importante. Temos de ter uma legislação estabelecendo, nos Orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios o que deve ser encaminhado para a seguridade social. As contribuições diretas, aquelas que são listadas, são: "Dos emprega- dores, incidentes sobre as folhas de salários, o faturamcnto e o lucro" - aqui esta Constituição inovou - "dos trabalhadores", que pagam em cima dos seus salários, e isto é o que já existia; "e receita de concursos de prognós- ticos". Aqui já existia sem que tivéssemos uma legislação mais clara sobre a 1natéria como pretendemos ter. Portanto, aqui está sinalizado, para que seja colocado na Lei Orgânica da Assistência Social: o que é retirado da receita de concursos de prognósticos será destinado à assistência social ta1n- bém. "§ l' As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social constarão dos re_spectivos orçamentos, não inte- grando o Orçamento da União." Este é um dado também importante, porque isto também era objeto muitas vezes de complicação. A União repassava ao Estado, o Estado repas- sava ao Município; a União já tinha cumprido a sua obrigação, o Estado, com o dinheiro repassado da União, dizia que tinha cumprido a sua; o Muni- 33 cípio, com o dinheiro repassado do Estado, dizia que tinha cumprido a sua, e, na verdade, era apenas uma parcela que passeava de escala. Agora, não; no Orçamento da União terá de constar o que ela destinará para a seguridade social; idem do Orçamento do Estado e do Orçamento do Município: "Art. 195. . ............................................................................ . § 2° A proposta de orçamento de seguridade social será elaborada de forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde, previdência social e assistência social ( ... )." Isto aqui é uma indicação clara. Poderá não constar do texto da Consti- tuição. Não chega, digamos, a ser um princípio constitucional, 1nas uma dire- triz. Isto, no fundo, significa que não vamos trabalhar três pessoas de forma desintegrada e desperdiçada em cima de uma mesma área. Conjugaremos esforços para economizar recursos. Esta é a diretriz desse parágrafo. Depois, vem uma série de observações: "Art. 195. . ............................................................................ . § 5' Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser cria- do, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total." Isto é o lógico. Deveria ser o óbvio, mas como não vinha sendo nem lógico, nem óbvio, precisou ser posto como uma diretriz no texto da Consti- tuição. "Art. 195 "§ 6' As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei( ... )." Esta lei deveria ter chegado aqui cm abril, e só chegará amanhã. Portanto, exigirá de nós um tempo recorde para conseguir elaborá-la e votá-la. "Art. 195. . ............................................................................ . § 7' São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes da assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei." Portanto, toda a imensa legião de obras de assistência social co1n fins filantrópicos, sem fins lucrativos, que seguram e sustentam todo o trabalho de assistência social no País, terão, nesta lei, disciplinada a forma pela qual ficarão isentas de contribuições para a seguridade social, já que o trabalho delas é uma forma de contribuição, alén1 de outras isenções que deverão ser estudadas no texto da lei que também terá de ser elaborada. Na mesa-redonda de amanhã, tercinas exposição sobre "Critérios para isenções das contribuições de seguridade, imunidades das entidades assisten- ciais e recuperação do valor dos auxílios na assistência social", por conta da Dr' Tereza de Jesus Costa do Amaral, Coordenadora do CORDE. Deve ser, portanto, u1na contribuição 1nuito importante, uma vez que ela está atuan- do de forma objetiva e límpida nesta área. Isto posto apenas para levantar algumas questões que considero funda- mentais para quem já lidou con1 este assunto e lida de perto há 1nuitos anos, seria interessante que os participantes, ao longo dos debates, pudessem trazer 34 para a coordenação deste simpósio suas contribuições sobre como vêem as entidades das quais fazem parte, dirigem ou participam. Como cada uma dessas entidades vê o aproveitamento desses recursos c1n termos de patrimô- nio, de recursos humanos, de reciclagem para o aproveitamento melhor do trabalho na área especializada e no atendimento à população carente que, neste setor, é imensa no País, principalmente as entidades ligadas ao esforço de habilitação e reabilitação de pessoas portadoras de deficiência. Não reabili- tação simplesmente, mas habilitação, que é, no fundo, no fundo, o cerne de toda a nossa movimentação em torno da matéria. É claro que, quando atribuímos à Constituição o equívoco de ter a1npliado a· presença dos recursos do Estado neste área - e diz-se que istoº ocorreu sem os recursos - é porque estamos de fato vivendo dois retratos: um do que já está sinalizado no texto constitucional para todos nós como direitos; e o outro, .uma estrutura anterior que ainda não se adaptou, até por falta de legislação. Provavelmente, a inaioria das questões que serão aqui levantadas cairão em cheio no ponto: como é que a Previdência e Assistência Social, o Ministério do Interior, o Ministério da Saúde, o INAMPS, a Legião Brasileira de Assistên- cia, enfim, atenderão ao que já está aqui, que é o moderno; o atual, o que se quer, - se a estrutura dessas entidades está ligada ao que existia e ainda precisa ser mudada? Este é o quadro que estamosenfrentando, muito parecido até com o quadro político, porque está ocorrendo em todos os outros setores. Não é privilégio das entidades assistenciais que atuam nesta área estarem encontrando dificuldades para se localizar nos orçamentos, afim de conseguir recursos para pagar o que lhes é cobrado. Isto está acontecendo em todas as demais áreas. A Constituição abriu um leque de perspectivas e de expectativas, e atrás dele vem uma série de leis, uma legislação ordinária e complementar encarre- gada de tornar tudo isso factível, plausível, realizável e não houve e nem há tempo material para se chegar até lá. Aí, sim, as razões podem ser apresen- tadas por muitos. Ouvi aqui várias versões do porquê dessa demora. Estou vendo a Câmara dos Deputados e o Senado Federal tomando providências enérgicas contra os faltosos, dizendo que vão ter descontados os proventos, que vai acontecer isso e aquilo, quando nada disso resolverá proventos, que vai acontecer isso e_aquilo, quando nada disso resolverá proble- ma algum. O problema é muito mais fundo e sério e está há 99 anos atrapa- lhando o Governo e a atividade dos brasileiros, que é o sistema de governo atrasado e incapaz de responder aos anseios da população. Isto seria abordado e1n outra oportunidade, em outra questão. Não vou sair do nosso tema. Mas, só para letnbrar: se estivéssemos vivendo há muito mais tempo do que eu desejaria em um sistema de governo parlamentar, com Gabinete e Câmara passíveis de dissolução, nada disso estaria acontecendo. Cada vez que um Gabinete não desse conta do recado, se o governo andasse mal, cairia. E quantos governos tivc1nos de agüentar durante quatro, cinco ou seis anos, desejando que eles já tivessem caído 35 há muito tempo. E a Câmara, não conseguindo dar conta do recado, quantas vezes o povo se arrependeu' da n1aneira co1no votou e gostaria de ver isso tudo renovado? Então não é por aí. Para consertar esse marasmo temos, de fato, outro remédio. No momento, o que te1nos é um sistema de governo horrível, rígido, paralisante, de confronto permanente, de litígio entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo, e quem sofre com isso é o povo, porque o atraso que daí decorre atinge realmente a massa da população. Se tivésse1nos co1no alterar isso, tudo be111. No mo1nen- to, não temos. Vamos tentar então correr com a nossa lei. A lei vai responder 1nuito be1n a essas questões, e a principal delas é a que fica como parâ1netro para essa parte da mesa-redonda. Na elaboração do texto constitucional o constituinte não foi irresponsável. Colocou todos os recursos possíveis para sustentar as responsabilidades nele definidas. Só está faltando que a Lei de Diretrizes Orçamentárias chegue a tempo de dar respaldo ao que está colocado nesse texto. Para terminar, gostaria de deixar isso bem registrado nesta reunião. Foi o mais espetacular avanço que um país conseguiu num texto constitucional em relação à sua população, que precisava ser olhada com respeito, que precisava deixar de receber favores e que tinha direito a ser tratada no mesmo nível de cidadania do restante da população brasileira. Ê a mais moderna das contribuições que poderíamos ter dado a um texto constitucional. Ê a primeira vez que a criança aparece com todos os seus direitos listados; que o adolescente ali está com todos os seus direitos listados; que o idoso é olhado como deve ser, e, principalmente, é a primeira vez que, de fato, a pessoa portadora de deficiência pode até continuar ao longo da sua vida física com a diferença, com o handicap negativo, mas não do pondo de vista de cidadania. Quer dizer, 13 milhões de brasileiros são iguais a todos os outros perante a lei. Muito obrigado pela atenção. (Palmas.) O SR. VICENTE DE PAULA FALEIROS Expositor Sr•' Deputadas Anna Maria Rattes, Sandra Cavalcanti, Maria de Lourdes Abadia, Benedita da Silva, ilustres membros da Mesa, prezados colegas partici- pantes, a questão da assistência social é muito complexa e minhas reflexões aqui são fruto de um debate de muitos ineses entre colegas que participaram da tentativa de eleborar um anteprojeto de lei orgânica da assistência social. Como associado do Sindicato dos Assistentes Sociais e membro de grupo de trabalho, minha reflexão não representa a posição oficial dessas entidades, mas a do pesquisador, do debatedor, do militante nessa área da assistência social. A complexidade dessa discussão itnplica, em prin1eiro lugar, a·definição do que é pobre. Se não tivermos bem claro o conceito de pobreza, não poderemos atender ao que está disposto na própria Constituição. 36 O art. 6\' da Constituição estatui que são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência, a proteçãd à materni- dade e à infância e a assistência aos desamparados. Já o 203, que trata especifi- ca1nente da assistência, diz que a Previdência Social deve garantir u1n benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuírem 1neios de prover da própria subsistência. Então, há necessidade de comprovação ou não de pobreza, para se retirar o atestado de óbito ou se fazer o registro de nascimento gratuitamente. É fundan1ental, ao tratarmos da assistência, discutir essa questão, porque a primeira impressão que se tem, quando se discute a pobreza, é de que a grande maioria da população brasileira é pobre e todos, mais ou menos, se inclue1n nessa categoria. Se tomarmos co1no critério, por exernplo, a linha de pobreza abaixo dos três salários 1nínin1os, encontraremos aí 70% ou até mais, dependendo da região, da população considerada pobre. E, se passarmos agora a um conceito mais rigoroso, vamos ver que muitos definem pobreza como destituição, como falta de meios de subsistência, carência. São expressões que escutamos todos os dias. Alguns pesquisadores também colocam a defini- ção de pobreza nesses ter1nos. Mas pobreza não pode ser definida como "falta" apenas, nem pode ser vista como dívida a ser paga. Não se define em que termos essa dívida está colocada, e muito menos pode ser definida como vagabundagem, porque é co1num ainda, na nossa sociedade, penalizar o pobre, confundi-lo com o vagabundo. Também não podemos culpar o pobre dizendo que a causa da pobreza é inerente a urna falha individual da pessoa. Nesses termos, como o tempo é relativamente curto, podemos entender o que é pobreza e daí definirmos a clientela da assistência social. A pobreza é urna relação social de exclusão da participação econômica e político-social da ·sociedade, dos benefícios da riqueza dessa sociedade. A pobreza é uma relação social porque, se existe aqueles que são excluídos, é porque há um grupo que se apropria da riqueza. Então, não podemos_ entender a pobreza con10 crin1c, como falha, tnas corno utna relação que tem corno conseqüência a iinpossibilidade de auto-stistentar-sc. Essa i1npossibilidadc é uma conseqüência dessa relação de exclusão social. E,stou falando de in1possi,-. bitidade que é dada pelas condições nas, quais as pessoas se encontram. E por isso que o conceito, en1bora seja 1nais ou n1enos claro, teorica1nente, na prática é 1nuito difícil de ser 1nedido. Nos países onde há urna política mais definida em relação à pobreza, como Estados Unidos, Canadá, França, Suécia e mesmo a Costa Rica, na América Latina, há a definição de uma linha que separa os absolutamente pobres dos relativamente pobres - relativamente, porque a pobreza pode ser vista sob o ponto de vista absoluto, etn u1na definição descritiva, empírica, em que há falta de atendimento das necessidades básicas, relativamente à riqueza, através da renda média do país. Sabemos que a renda média no Brasil representa um indicador muito falho, vago. E corno a história de duas pessoas em que urna come um frango e 37 a outra nada come. Na média, cada uma come a metade. Então, a renda média não representa uma visão real da distribuição da renda na sociedade. Se dissermos que no Brasilhá uma renda de dois mil dólares per capita anuais, não estaremos mostrando as profundas desigualdades existentes onde há diferença entre os 10% de renda inferior e os 10% de renda superior, de 46 salários mínimos. Então, que critério adotar para definir esta pobreza relativa? No Brasil, não temos o hábito de falar a este respeito, de pensar nos pobres em termos globais. Por isso torna-se difícil abordar a questão. O . que se te1n feito ultitnamente é tomar como parâmetro o salário mínilno, como linha estritamente mínima de situação dos pobres. Mesmo neste caso, torna-se difícil. Por isso, sugerimos, para definir a linha de pobreza, tomar um quarto do salário mínimo per capita da renda familiar. Esse critério está sendo assumido tanto no IPEA, quanto no IBGE e no Relatório Jaguaribe - Brasil: Reforma ou Caos. Esse critério nos dá uma indicação inicial do nú1nero dos estritan1ente pobres no País. Segundo dados, ainda não publicados, do IBGE, mas de fonte oficial, relativos ao ano de 1987, do PNAD, existem, no Brasil, atualmente, 34.290.923 pessoas com renda até u1n quarto do salário mínimo per capita mensal. Do total de 3.692.937 famílias, 3.296.000 têm filhos de zero a 17 anos, o que representa 9,6% do total das famílias brasileiras. O número de famílias com pessoas de zero a 17 anos, sem qualquer rendimento, é de 487.897. Esses números são assustadores, porque, apesar de se referirem a apenas 10% do número de famílias, representam um número extremamente grande de pessoas que sequer alcançam um quarto do salário mínimo per capita. Diante deste fato, as políticas sociais existentes são extre1namente precá- rias, porque não há uma sistemática nacional, nem regional, para um atendi- mento contínuo e juridicamente estabelecido. Daí a maior importância deste Simpósio aqui, na Câmara dos Deputados, para discutirmos não só os direitos já consagrados na Constituição, mas também as formas práticas de colocarmos a questão da assistência em uma sistemática global e coordenada. O que existe são políticas isoladas que dependem de pessoas ou de grupos e volun- tários que fazem inúmeros esforços para poder trabalhar a assistência social na prática. Muitas vezes, essas políticas são marcadas pelo clientelismo, pelo favoritismo, pela intermediação de favores em troca de lealdade, e caracteri- zam-se pela su:l inconstância. Exemplo disso são as fa1nosas campanhas do frio, do cobertor, de casas, em situações de emergência. O sistema de ajuda baseia-se no voluntariado. É preciso, portanto, articular essas políticas. No anteprojeto de lei, no qual participamos, a preocupação foi colocar como clientela de uma política sistemática apenas grandes categorias que são contempladas na Constituição e que são excluídas do mercado de trabalho. As crianças, os idosos, e os deficientes, já que dentro de uma ótica liberal não podemos propor a substituição do trabalho pela assistência. Essa é a 38 grande briga dos liberais. Nos países que têm uma política liberal de assistência o importante é não prejudicar a 1não-de-obra cotn a assistência. E nesse sentido a proposta inscreve-se até numa ótica liberal, porque considera crian- ças, deficientes e idosos como os beneficiários da assistência, dentro dessa linha de pobreza. Mas é fundamental também colocar como critério a organi- zação sistemática de uma política de assistência que respeite também a Consti- tuição, que é a descentralização, a responsabilidade dos Estados e Municípios, a nível federal, era necessário colocar uma coordenação geral da assistência através, talvez, de un1 instituto de assistência social que coordene essa política e que respeite a organização estadual e municipal com a participação da população, para que possa1nos distinguir na assistência as incapacidades das dificuldades. Porque mesmo para essa população incapaz de trabalhar, como a dos idosos, dos deficientes, e dos pobres, há momentos em que há dificuldades eventuais. E o critério da incapacidade na política de assistência vem do Século XVII, na lei dos pobres, da Inglaterra, que distingue os aptos dos inaptos, os capazes dos incapazes. Mas isso, como bem salientou a Deputada Sandra Cavalcanti, não pode ser visto a não ser sob a ótica da cidadania. Quer dizer, tratar dos incapacitados para o trabalho numa política de assistên- cia, mas como cidadãos que contribuem socialmente para a Nação, toda política de assistência deve ter como critério funda1nental essa ótica da cidadania. Finalmente, ter um controle da população sobre essa política, que é o que está no art. 204 da Constituição, e u1na fiscalização mais rigorosa do Estado, para que todos os abusos sejam coibidos, a fim de que não se usem as crianças, os idosos, os deficientes para também se obter u1na intermediação privada desses serviços. Já que criticamos tanto a intermediação pública, clientelística, é preciso também que haja um controle das intermediações privadas, para que haja um sistema único de assistência social e que essa renda 1nínima, que já foi implantada em outros países, possa se constituir numa questão política a ser resolvida a médio prazo, à medida que o salário mínimo for se elevando, possa contribuir para a erradicação desta faixa de população extremamente pobre. (Palmas.) A SRA. POTYARA AMAZONEIDA P. PEREIRA Expositora Prezados participantes, promotores deste Simpósio e companheiros de Mesa, preliminarmente gostaria de informar que minha fala sobre conceitos e funções da assistência social não tem caráter ineramente acadêmico ou escolar. Está vinculada a um propósito prático, de subsidiar substantivamente a lei que deverá regulamentar a assistência social na nova Constituição. Tanto é assim, que o que será dito por mim agora serviu de subsídio ou de fundamen- tação teórica ao Anteprojeto de Lei Orgânica de Assistência Social, ao qual o Prof. Vicente já se referiu, preparado por um grupo diversificado de colabora- 39 dores, sob a coordenação da Universidade de Brasília, do IPEA, do IPLAN e da SEPLAN. Este anteprojeto, trabalhado a várias mãos, durante seis meses de inten- sivos estudos, foi, desde as suas pritneiras versões, submetido à crítica de vários interlocutores, a nível nacional e local, inclusive de lideranças comuni- tárias no Distrito Federal, resultando e1n um texto que, embora provisório, esperamos tenha cumprido dois grandes objetivos. Primeiro, o de mobilizar o maior número possível de pessoas e1n torno da necessidade de se debater e de se repensar criticamente a assistência social no Brasil. O segundo, oferecer aos legisladores uma proposta de lei que valorize os gvanços constitucionais nessa área, principalmente no que diz respeito à participação da comunidade na formulação e no controle da política da assistência social, a descentralização dessa política, a questão da redistribuição de renda embutida na alocação dos recursos para essa área, etc. Efetivamente, falar de assistência social é tarefa difícil, principalmente porque a assistência social não tem sido; através do tempo, um assunto que inereça interesse científico. Apesar de a assistência social ser um fato relevante do ponto de vista prático\ empírico, histórico, existem poucas contribuições no sentido de conceituá-la, de melhor demarcar o seu espaço de conhecimento e a identificar as suas propriedades essenciais. Isso não só no Brasil ou no Terceiro Mundo, onde as condições de pesquisa nessa área são sabidamente adversas, mas também nos países ricos do Oci- dente, berço do padrão pós-liberal de desenvolvimento capitalista que produziu o chamado welfare state, ou estado de bem-estar. Mesmo lá, a assistência social é considerada uma atividade eminentemente prescritiva, operativa, vin- culada à órbita do planejamento ou da execução de medidas técnico-admi- nistrativas reguladoras das desigualdades sociais. Isso significa que, quando a assistência social tem que ser conceituada ou abstraída de uma forma conceitual, ela o é não pelo seu conteúdoe substân- cia com base na dinâmica da realidade em que se constitui e se processa, mas geralmente co1n base na sua manifestação feno1nenológica, nas suas orien- tações programáticas, gerando, inclusive alguns equívocos conceituais. O pri- meiro equívoco é que a assistência social geralmente é definida pelas suas funções. Ora, conceituar a assistência social pelas suas funções é incorrer num vício metodológico, é conceituar a assistência social pelas conseqüências que ela produz ou que pretende produzir. Assim, a assistência social passa a ser vítima de um raciocínio circular finalístico vicioso que nunca diz o que ela é mas o que ela se propõe a ser. Assim, por exe1nplo, se em deter1ninados programas a assistên:ia social tem a função de distribuir renda ela é definida como aquele coniunto de medidas que visa a distribuir renda. Se em outro programa ela tem a função de resgatar a dívida social é definida como aquele conjunto de medidas que visa a resgatar a dívida social. 40 Então fica claro o caráter tautológico vicioso repetitivo dessas definições que, além de ingênuas, em nada avançam teoricamente. Um outro equívoco na conceituação da assistência social é o de que geralmente ela é definida pelo lugar da sua elaboração. Assim como é no aparelho do Estado que ela é sistematizada, orçada, formalizada, avaliada, deduz-se automaticamente que ela é uma iniciativa exclusiva do Estado, ou seja, a assistência social neste caso passa a ser produto da inteligência governamental ou dos burocratas e tecnocratas, em desconsideração à autono- mia relativa da sociedade. O Estado passa a ser sujeito, a sociedade passa a ser objeto, e temos aí uma visão essencialista do Estado com relação à conceituação da assistência social. Com efeito, é preciso considerar que a assistência social tem várias e diferentes funções. Assim, pelo fato de ser uma atividade ubíqua, quer dizer, que se encontra ao mesmo tempo no capitalismo, nó socialismo, nas sociedades de livre empresa e naquelas de economia mais centralizada, ela pode por isso mesmo, ter funções diferenciadas e funcionar, inclusive, de forma perver- sa, diferente daquela que foi programada. Portanto, conceituar a assistência social pelas suas funções apesar de ser necessário - eu não estou aqui discordando do fato de estabelecermos e explicitarmos as funções da assistência social, é preciso que se faça - é incorrer num vício metodológico que não tem absolutamente importância do ponto de vista teórico. Os limites desses dois equívocos conceituais de que eu falei, definir a assistência social ou conceituá-la pelas suas funções ou pelo lugar de sua elaboração, são evidentes alimentações desses equívocos. O primeiro é o total desprezo pelo que é central no esforço de conceituação de qualquer política, é o seu caráter contraditório, não no sentido de incoerência mas no sentido dialético do termo de relação de opostos. Assistência social na verdade, é um processo que resulta da relação entre interesses opostos: do capital, do trabalho ou entre o interesse de uma lógica da rentabilidade e o interesse da lógica das necessidades sociais dentro de uma mes1na ordem social. Assim sendo, a assistência é produto de uma relação conflituosa e, portan- to, não pode ser definida mecanicamente como um cálculo programático nem pode ser entendida como um ato espontâneo de lucidez ou boa-vontade de quem está no poder. É preciso considerar, e isso é importante, que no processo da sua consti- tuição e desenvolvimento a assistência social tem sido alvo da participação da sociedade através dos tempos, embora nem sempre a sociedade tenha conseguido a assistência que defende ou que merece. Na verdade a assistência ~ocial, no 1ncu ponto de vista, con10 sinônin10 de protcç<""io universal ou de direito social, tal como consta na Constituição é aquela política da qual se vale a lógica das necessidades sociais para impor limites ao poderio e 41 à prepotência da lógica da rentabilidade. Assim sendo, da não tem caráter meratnente residual como muitos pensam. A assistência social para mün é aquele elemento estrutural do modo de produção capitalista que problematiza, por dentro deste modo de produção, a sua tendência para a desigualdade e para a injustiça. É a assistência social, pois, do meu ponto de vista, que deselitiza e universaliza as demais políticas de bem-estar capitalistas já que essas políticas estão sempre dominadas pela lógica da rentabilidade. Eu poderia até dizer que é a assistência social que fornece o caráter social ao Estado. Quando o Estado passou a se interessar pelo aspecto social foi porque ele desenvolveu o seu lado assistencial. Da mesma for1na as políticas de bem-estar só se tornaram políticas sociais na medida em que elas desenvolveram também o seu compro- metimento co1n a lógica das necessidades sociais, ou seja, desenvolveram o seu lado assistencial. Contudo, a assistência social, por ser produto de uma relação contraditória, pode ser capturada pela lógica da rentabilidade e submetida a seus desígnios, principalmente quando a população se vê impe- dida de participar da sua formulação e do controle dessa política. Por isso, no meu ponto de vista, é possível vislumbrar dois tipos de assistência social: uma strictu sensu, capturada e fortemente dominada pela lógica da rentabilidade econômica e, por isso, prejudicada pela sua identifi- cação com a justiça. Tal assistência é uma caricatura dos valores defendidos pelas lógicas das necessidades sociais, já que ela não impõe barreiras ao domínio crescente da lógica da acumulação sobre a lógica da eqüidade. É o que muitos chamam de assistencialismo; é o que prepondera, inclusive no Brasil. A outra assistência social lato sensu, é aquela assistência social que per- passa as demais políticas sociais impondo limites à sua tendência à elitização. Assin1, enquanto a primeira assistência social age no limite e por fora das políticas de bem-estar, a política de assistência social lato sensu se instala no interior dessas políticas, problematizando ou esgaçando a sua tendência à elitização com sua proposta de universalização. É, pois, a assistência social lato sensu que impede a autonomização da lógica da rentabilidade econômica no interior das políticas sociais. Suas características: ela é vocacionada para as necessidades sociais, que são históricas, necessidades de classe de um conjunto de pessoas. Diferente, pois, das necessidades animais que são naturais e constantes, as sociais são históricas e foi em cima da questão de necessidades históricas que montan1os o nosso Anteprojeto de Lei Orgânica da Assistência Social. A assistência social lato sensu também é um meio e não um fim em si mesma, porque a sua função básica é a de estender direitos que tendem a ficar concentrados no âmbito daqueles que já possuem recursos materiais e de poder. Ela é redistributiva e não simplesmente distributiva, porque se pauta por um jogo de soma zero, ou seja, aquele jogo em que se tira de quem tein para dar a quem não tein, e neste caso ela reivindica transferência 42 do topo da pirâmide social para sua base, o que difere de uma política simples- mente distributiva. Ela é dependente da participação da sociedade da comuni- dade na sua dinâmica e no seu desenvolvimento, pois sendo a restrição da lógica da rentabilidade ou da acumulação, se constitui numa arena de choques de intere.sses que não podem ser resolvidos por decretos, portarias, progra1nas. Têm de ser resolvidos politica1ncntc. Ela é sistc1nática e contínua; não é uma assistência social contingencial e ad hoc. Ela é mesmo uma política de assistência social. E neste caso ela direfe frontalmente da política social strictu sensu ou da assistência social strictu sensu. Eu sempre conftindo assistên- cia social com política social - e já digo por que, embora não tenha dito no início. Para mitn, assistência social é uma política social, e não um aspecto. Ela é uma política social
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