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I-Simposio-Nacional-de-Assistencia-Social

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(;ârnara dos 
061. 3) 
A 
nc1a S íal 
í)1ev1cll:lr1cia o /~ssístência Social 
MESA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS 
- 1989-1991 -
Presidente: Dep. PAES DE ANDRADE 
1" Vice-Presidente: Dep. INOCÊNCIO DE OLIVEIRA 
2" Vice-Presidente: Dep. WILSON CAMPOS 
l• Secretário: Dep. LUIZ HENRIQUE 
2" Secretário: Dep. EDME TA V ARES 
3• Secretário: Dep. CARLOS COITA 
4• Secretário: Dep. RUBERVAL PILOTTO 
SUPLENTES DE SECRETÁRIOS 
1' Suplente: Dep. FERES NADER 
29 Suplente: Dep. FLORJCENO PAIXÃO 
3• Suplente: Dep. ARNALDO FARIA DE SÁ 
4• Suplente: Dep. JOSÉ MELO 
DIRETORIA-GERAL DA CÂMARA DOS DEPUTADOS 
Diretor-Geral: ADELMAR SILVEIRA SABJNO 
SECRETARIA-GERAL DA MESA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS 
Secretário-Geral: HÉLIO DUTRA 
ANAIS 
DO , . 
I SIMPOSIO NACIONAL 
SOBRE ASSISTÊNCIA SOCIAL 
Tema: LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL 
CÂMARA DOS DEPUTADOS 
ANAIS 
DO 
I SIMPÓSIO NACIONAL 
SOBRE ASSISTÊNCIA SOCIAL 
Tema: LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL 
Realizado pela Comissão de Saúde, Pre-
vidência e Assistência Social da Câmara 
dos Deputados, nos dias 30 e 31 de maio 
e 1' de junho de 1989. 
Centro de Documentação e Informação 
Coordenação de Publicações 
BRASÍLIA - 1989 
,2' 3 i>: lr;-r; /·ty 16 c1:S 
CÂMARA DOS DEPUTADOS 
DIRETORIA LEGISLATIVA 
Diretor: Antônio Neuber Ribas 
CENTRO DE DOCUMENTAÇÂO E JNFORMAÇÂO 
Diretor: Aristeu Gonçalves de Melo 
COORDENAÇÂO DE PUBLICAÇÂO 
Diretora: Maria Liz da Silva Braga 
Diagramação: Fernando Almeida 
SÉRIE: AÇÂOPARLAMENTAR 
N• 38 
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~'/\)d_. 
PRESIDENTE DO SIMPÓSIO 
Deputado Raimundo Bezerra 
COORDENADORA-GERAL 
Deputada Maria de Lourdes Abadia 
COMISSÃO DE SAÚDE, PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL 
Presidente: Deputado Raimundo Bezerra 
Vice-Presidentes: Deputado Ivo Lech 
Abigail Feitosa 
Alarico Abib 
Alceni Guerra 
António Salim Curiati 
Arnaldo Faria de Sá 
Ary Valadão 
Benedita da Silva 
Borges da Silveira 
Carlos Mosconi 
Carlos Virgílio 
Célia de Castro 
Chico Humberto 
Djenal Gonçalves 
Doreto Campanari 
Edmi\son Valentim 
Eduardo Moreira 
Elias Murad 
Erico Pegoraro 
Eunice Michiles 
Floriceno PaiXão 
Francisco Amaral 
Gandi Jamil 
Genésio Bernardino 
Geraldo Alckmin Filho 
Ivo Lech 
Deputado Elias M urad 
Deputado Arnaldo Faria de Sá 
EFETIVOS 
Jesualdo Cavalcanti 
João Paulo 
Joaquim Sucena 
Jofran Frejat 
Jorge Uequed 
José Carlos Coutinho 
José Queiroz 
José Viana 
Júlio Costamilan 
Lauro Maia 
Mauro Sampaio 
Maria de Lourdes Abadia 
Messias Soares 
Miraldo Gomes 
Moisés Avelino 
Nelson Seixas 
Orlando Pacheco 
Pedro Canedo 
Raimundo Bezerra 
Raimundo Rezende 
Roberto Jefferson 
Ruy Nedel 
Sandra Cavalcanti 
Uldurico Pinto 
Vingt Rosado 
[I 
li 
Adhemar de Barros Filho 
Adylson Motta 
Anna Maria Rattes 
Anníbal Barcellos 
António Britto 
Arolde de Oliveira 
Bernardo Cabral 
Celso Dourado 
Dalton Canabrava 
Euclides Scalco 
Farabulini Júnior 
Francisco Rolün 
Gcrson Peres 
Ivo Mainardi 
João de Deus 
Júlio Cainpos 
Secretária: Maria Inês de Bessa Lins 
SUPLENTES 
Leonel Júlio 
Lúcia Braga 
Manuel Domingos 
Márcio Braga 
Mattos Leão 
Maurício Campos 
Octávio Elísio_ 
Osvaldo Bender 
Oswaldo Almeida 
Paulo Marques 
Paulo Paim 
Rubem Medina 
Saulo Coelho 
Simão Sessim 
Tidei de Litna 
Vicente Bago 
SUMÁRIO 
Pág. 
APRESENTAÇÃO................................................................... 15 
AGRADECIMENTOS............................................................... 17 
SESSÃO DE ABERTURA: 
Deputado Raimundo Bezerra, Presidente ................................. . 
Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Geral ........... . 
Deputado Raimundo Bezerra, Presidente ................................. . 
Dr. Seigo Tsuzuki, Ministro da Saúde ...................................... . 
Deputado Paes de Andrade, Presidente da Câmara dos Deputados 
Dr. Jáder Barbalho, Ministro da Previdência e Assistência Social.. ... 
ENCERRAMENTO: 
19 
19 
20 
22 
23 
25 
Deputado Raimundo Bezerra, Presidente .......... .,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 
MESA-REDONDA -30-5-89 
Coordenadora: Deputada Anna Maria Rattes 
Tema: DIRETRIZES CONSTITUCIONAIS NA ASSISTÊNCIA 
SOCIAL 
ABERTURA: 
Deputado Raimundo Bezerra, Presidente.................................. 31 
DeputadaAnnaMariaRattes, Coordenadora.............................. 31 
EXPOSITORES: 
- Diretrizes constitucionais na assistência social 
Deputada Sandra Cavalcanti . ... . . . . . . . . . . . . .. . . . . .. . . . . . . . . .. . . . . . . . .. . . 31 
- Critérios, clientela, benefícios, serviços e e.ntidade de assistência 
social 
Prof. Vicente de Paula Faleiros 
Membro do Sindicato dos Assistentes Sociais - DF . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 
1 
'~ 
M 
- Conceitos e funções da política de assistência social no Brasil 
Prof' Potyara Amazoneida P. Pereira 
Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Políticas 
Sociais - NEPPOS/UnB . .. ...... .. ..... .. . ... .. ......... ... .. . . . .......... 39 
- As AP AE no Brasil - perspectivas e diretrizes 
Dr. Elpídio Araújo Néris 
Vice-Presidente para Assuntos Inteniacionais da Federação Na-
cional das AP AE e Membro do Conselho Deliberativo da Liga 
Internacional de Associações Pró-Deficientes Mentais.............. 43 
- O deficiente na sociedade brasileira 
Vereadora Célia Camargo Leão Edelmuth . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . · 47 
- Meninos e meninas de rua 
Prof. Benedito Rodrigues dos Santos 
Coordenador do Movimento Nacional de Meninos e Meninas 
~~........................................................................... 51 
-A assistência social e o idoso 
Sr. Oswaldo Lourenço 
Presidente da Confederação Brasileira de Aposentados e Pensio-
nistas .. . . . . . . .. . . . . ... . . . . ..... ... . . . ....... .. .. . . . . . . . . . . . .. . . . . .. . . . . .. . . ... .. . 55 
Deputada Anna Maria Rattes, Coordenadora......................... 59 
ENCERRAMENTO: 
Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Geral............ 59 
MESA-REDONDA - 31-5-89 
Coordenador: Deputado Geraldo Alckmin Filho 
Tema: A REALIDADE SÓCIO-ECONÔMICA BRASILEIRA 
EOQUADROATUALDAASSISTÊNCIASOCIAL 
ABERTURA: 
Deputado Raimundo Bezerra, Presidente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 
Deputado Geraldo Alckmin Filho, Coordenador......................... 64 
EXPOSITORES: 
-A realidade sócio-econômica brasileira e o quadro atual da assis-
tência social 
Dr. João Ribeiro de Oliveira e Souza 
Secretário de Serviços Sociais -DF........ .......... ....... ... .... .... 64 
-Credenciamento das instituições - critérios, fiscalização e con-
trole 
Dr. Adherbal Antônio de Oliveira 
Presidente do Conselho Nacional de Serviços Sociais - CNSS/ 
MEC............................................................................. 73 
~Critérios para isenções das contribuições de seguridade, imuni-
dades das entidades assistenciais e recuperação do valor dos auxí-
lioS na assistência social 
Dr• Teresa de Jesus Costa do Amaral 
Coordenadora-Geral da Coordenadoria Nacional para Integração 
de Pessoa Portadora de Deficiência -CORDE... .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 
-A LBA no Brasil 
Dr. Irapoan Cavalcanti de L yra 
Presidente da Legião Brasileira de Assistência - LBA . . . . . . . . . . . . . . 84 
-A relação do setor público com o privado e interfaces na Assis-
tência Social 
Dr• Marina Bandeira de Carvalho 
Presidente da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor -
Funabem ....................................................................... 88 
- Experiência de descentralização e gestão comunitária a nível esta-
dual 
Dr• Adelayde Júlia de Lima Soares 
Presidente da Fundação do Bem-Estar Social do Pará - FBESP 
- Programas assistenciais no Brasil 
Dr. Nelson Proença 
Secretário Especial da Habitaçãoe Ação Comunitária -SEHAC 
ENCERRAMENTO: 
91 
98 
Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Geral............ 109 
MESA-REDONDA-1°-6-89 
Coordenador: Deputado Nelson Seixas 
Tema: MODERNIZAÇÃO E GESTÃO DEMOCRÁTICA DA 
ASSISTÊNCIA SOCIAL-TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS 
ABERTURA: 
Deputado Nelson Seixas, Coordenador .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . 113 
Deputado Raimundo Bezerra, Presidente .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 114 
Deputado Nelson Seixas, Coordenador .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . 115 
EXPOSITORES: 
- Orçamento e financiamento da Assistência Social - critérios 
para credenciamento das instituições 
Dr. Pedro Pullen Parente 
11 
i1 
Secretário de Orçamento e Finanças/Seplan . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 
~Organização e participação comunitária 
Prof. Pedro Demo 
Técnico do Iplan/Ipea........ .. . . . . .. . . . . . .. . . . . .. .. . . . .. . . . . . . . . ... . . . . .. . . . 119 
-Estrutura organizacional e competência da União, estados e mu-
nicípios na Assistência Social 
Dr• Aldaíza Sposati 
Secretária das Administrações Regionais da Prefeitura do Muni-
cípio de São Paulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 
-REPRESENTANTES DA COMISSÁO NACIONAL DAS 
TRABALHADORAS RURAIS DA CONTAG 
(espaço concedido pelo Deputado Nelson Seixas para reivindi-
cações, leitura e entrega de documento) . . . . .. .. . . . .. . . . . . . . . . . . .. . . . . .. . 130 
- Experiência de descentralização e municipalização da Assistência 
Social 
Prof. Diogo Lordello de Mel/o 
Assessor Especial para Assuntos Internacionais do Instituto Bra-
sileiro de Administração Municipal - IBAM .. . . . . .. . . . . . . . . . . . .. .. . . . 133 
-A Igreja e a Assistência Social 
Pe. Marino Bohn 
Secretário Nacional de Cáritas Brasileira................................ 137 
- Uma proposta de sistematização do conceito e funções de Assis-
tência Social 
Dr• Ivanisa Maria T. Martins 
Dr. Paulo de Tarso Carletti 
Secretaria Nacional de Assistência Social do MPAS................ 141 
ENCERRAMENTO: 
Deputado Nelson Seixas, Coordenador..................................... 150 
SESSÁO PLENÁRIA DE ENCERRAMENTO 
ABERTURA 
Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Geral ........... . 
APRESENTAÇÁO DOS RELATÓRIOS DOS 
GRUPOS DE TRABALHO 
Grupo 1 - Tema: Definição de Assistência Social; funções, princí-
pios, diretrizes e campo de atuação 
Deputada Benedita da Silva, Coordenadora e Relatora 
Ilza Maria Pereira Sant'Ana, Relatora ....................... . 
155 
156 
Grupo 2 - Tema: Organização, gestão e competência da União, 
Estado e Município na área da Assistência Social; revisão 
do papel das instituições federais hoje 
Albamaria Paulino de Campos Abigail, Relatora . . . . . . . . . . 157 
Grupo 3 - Tema: Participação da população: 
a) na formulação das políticas de Assistência Social e 
controle das ações em todos os níveis (art. 204, inciso 
II); 
b) na gestão administrativa da Assistência Social (art. 
194, inciso VII) 
Vitória Gois de Araújo, Relatora .. .. .. .. .. .. . .. .. .. .. .. .. .. .. . 16.0 
Venina Chiappin, Relatora...................................... 162 
Grupo 4 - Tema: Financiamento da Assistência Social no contexto 
do orçamento da seguridade social 
Eni Maria Monteiro Barbosa, Relatora....................... 163 
Grupo 5 - Tema: Qualificação dos beneficiários e a operaciona-
lização de benefícios e serviços da Assistência Social 
(art. 203, inciso V) 
Dalva Maria de Souza Moura, Relatora .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 166 .· 
Grupo 6 - Tema: Relação entre setor público e privado na Assis-
tência Social e definição de entidades beneficentes; crité-
rios de isenção, credenciamento e fiscalização 
Lizair Guarino, Relatora .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .... .. .. .. .. . 168 
Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Ge-
~... .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170 
Deputado Raimundo Bezerra, Presidente .. .. .. .. .. .. .. .. .. 170 
Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Ge-
ral ..................................................................... 174 
APRESENTAÇÃO DE MOÇÕES............................................... 179 
CONSIDERAÇÕES FINAIS: 
Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Geral............ 189 
Maria de Fátima Azevedo Ferreira............................................ 189 
José Dias............................................................................ J 90 
Alice Costa Cantuária .. .. . ... .. .. .. .. .. .... .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ... .. .... J 90 
Eni Maria Monteiro Barbosa................................................... 19 l 
ENCERRAMENTO: 
Deputada Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Geral . . . . . . . . . . . . 191 
ANEXOS: Proposta de Anteprojeto da Lei Orgânica da Assistência 
Social, trabalhos e documentos apresentados à Comissão de Saú-
de, Previdência e Assistência Social .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 199 
APRESENTAÇÃO 
A idéia da realização do I SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE ASSISTÊN-
CIA SOCIAL nasceu da determinação e vontade política do Presidente da 
Comissão de Saúde, Previdência e Assistência Social, Deputado Raimundo 
Bezerra; da consciência e compromisso social dos parlamentares da referida 
comissão; e, principalmente, do justo apelo de 13 milhões de pessoas que 
sofrem as conseqüências de um quadro reconhecidamente perverso. 
Durante três dias 533 pessoas de diversas regiões do Pais, no geral técnicos, 
professores, estudiosos, parlamentares, autoridades, representantes de entidades 
sociais, sindicais, trabalhadores e lideranças comunitárias tiveram oportunidade 
de obter informações, trocar idéias e formular propostas. 
O Simpósio constituiu-se num espaço democrático de livre debate com 
setores envolvidos com a Assistência Social no Brasil e serviu como instrumento 
para reafirmar os pontos de consenso, explicitar as divergências, registrar as 
opiniões e colher sugestões para formular a Lei Orgânica da Assistência Social. 
Acreditamos que os objetivos propostos foram plenamente alcançados: 
- o Congresso Nacional cumpriu com seu papel de "caixa de ressonância 
da pluralidade de interesses que representa" abrindo suas portas ao povo e 
garantindo a participação popular; 
- foi garantido, através do trabalho dos participantes, o compromisso 
com 13 milhões de pessoas que necessitam de assistência; 
- e juntos começamos a construir uma nova ordem social através da 
nossa luta no resgate inegociável da vergonhosa dívida social brasileira e da 
certeza de transformar em direito aquilo qlfe até então foi dado como esmola. 
Deputada MARIA DE LOURDES ABADIA 
Coordenadora-Geral do 
I Simpósio Nacional de 
Assistência Social 
15 
AGRADECIMENTOS 
Vivemos o I Simpósio Nacional sobre Assistência Social com a plena 
consciência de que estávamos começando a resgatar a grande injustiça para 
com 13 milhões de brasileiros deficientes e idosos sem previdência, que até 
hoje têm recebido a caridade pública ou privada, apenas. 
O direito de cidadania foi reconhecido quando da elaboração da Carta 
Magna e agora mostramos os caminhos para torná-la realidade. 
É nosso dever, na qualidade de Presidente do Simpósio, agradecer a 
todos aqueles que tornaram o evento um sucesso. Destacamos a Coorde-
nadora, Deputada Maria de Lourdes Abadia, ligada profissionalmente ao 
setor, não apenas por sua formação de Assistente Social, mas por sua vivência 
no trato com os necessitados, quando de sua passagem pelas Administrações 
Regionais das Cidades-Satélites de Brasília. 
A Secretária-Geral, Maria Inês de Bessa Lins, incansável, eficiente, presti-
mosa, foi a mola mestra do Simpósio, secundada pela Secretária-Adjunto 
Anamélia Ribeiro Correia de Araújo que, com tempo integral, dedicouo 
melhor de si mesma para que a fase preparatória e a de realização não necessi-
tassem de nznhum reparo. Conseguiu. 
Ainda nosso agradecimento ao Presidente da Câmara dos Deputados, 
Deputado Paes de Andrade; Diretor-Geral, Adehnar Silveira Sabino; Secretá-
rio-Geral da Mesa, Hélio Dutra; Diretor do Departamento de Comissões, 
Carlos Brasil de Araújo que, nas suas respectivas áreas de atuação, viabilizaram 
o Simpósio e contribuíram para o êxito que logramos alcançar. 
Deputado RAIMUNDO BEZERRA 
Presidente 
17 
SESSÃO DE ABERTURA 
O SR. DEPUTADO RAIMUNDO BEZERRA 
Presidente 
Declaramos aberto o I Simpósio Nacional sobre Assistência Social. 
Convidamos, para fazer parte da Mesa, S. Ex' o Presidente da Câmara 
dos Deputados, Deputado Paes de Andrade; S. Ex' o Ministro da Previdência, 
Dr. Jáder Barbalho; S. Ex' o Ministro da Saúde, Dr. Seigo Tsuzuki; o Dr. 
José Carlos Mello, representando o Dr. João Alves Filho, Ministro do Interior; 
o Dr. Antônio Alves, representando a Dra. Dorothéa Werneck, Ministra 
do Trabalho; a Coordenadora-Geral deste simpósio, Deputada Maria de Lour-
des Abadia; Dr. Aderbal Antônio de Oliveira, representando o Ministro 
da Educação, Deputado Carlos Sant' Anna. 
Passamos a palavra à Coordenadora-Geral deste simpósio, Deputada 
Maria de Lourdes Abadia. 
A SRA. DEPUTADA MARIA DE LOURDES ABADIA 
Coordenadora-Geral 
Sr. Presidente da Comissão de Saúde, Previdência e Assistência Social, 
Deputado Raimundo Bezerra, Exm' Sr. Deputado Paes de Andrade, Presi-
dente da Câmara dos Deputados; Exm' Sr. Ministro da Previdência e Assis-
tência Social, Sr. Jáder Barbalho; representante da Sr' Ministra _do Trabalho, 
Dorothéa Werneck; representante do Sr. Ministro da Educação, Carlos 
Sant' Anna; Exm' Sr. Ministro da Saúde, Seigo Tsuzuki; Exm' Dr. José Carlos 
Mello, representante do Ministro do Interior, Dr. João Alves; demais autori-
dades aqui presentes, colegas assistentes sociais e representantes de instituições 
assistenciais, primeiramente, gostaria de registrar minha alegria, como assis-
tente social, por ter sido designada para coordenar o I Simpósio Nacional 
sobre Assistência Social, após a promulgação da nova Constituição brasileira. 
De fato, esta é uma responsabilidade muito grande, e sabedora da nossa 
triste realidade social, podemos medir essa responsabilidade de coordenar 
um simpósio dessa ordem. 
19 
!fi.· .. 1 
" 11 
Wi 
Quero dar as boas-vindas a todos, representantes de instituições, pessoas 
que se deslocaram de outros Estados, pessoas de Brasília que se fazem presen-
tes neste momento de tantas dificuldades, e dizer-lhes que este simpósio é 
o primeiro passo de um longo trabalho que temos pela frente. É o primeiro 
passo no sentido de convocarmos a sociedade e todos os seus segmentos para, 
juntos, discutirmos a nossa realidade social e propormos alternativas e solu-
ções, porque acredito, todos os problemas, nós já conhecemos. 
O diagnóstico da nossa realiàade socíai está estampado em cada dia, 
em cada mom~nto nas ruas, nas pontes e divulgado pelos meios de comuni-
cação. Há que se ter disposição, boa vontade e vontade política no sentido 
de resolver e intervir nessa realidade social. 
Conclamo todos os presentes, toda a sociedade brasileira a fim de que 
juntos, possamos intervir nessa realidade social. 
Agradeço muito a presença de todos, das autoridades, conscientes tam-
bém dessa responsabilidade, fazem-se presentes, principalmente aqueles que 
atenderam nosso convite para sugerir, debater e juntos elaborarmos esta pro-
posta de lei orgânica da assistência social. É um momento oportuno, porque 
é hora em que o Congresso Nacional está sendo desmoralizado perante a 
sociedade brasileira. Diz-se que o Congresso é representado por um bando 
de pessoas que foram eleitas e que não cumprem com o seu dever. Isso 
fere muito aqueles que trabalham e estão concretizando compromissos feitos 
durante suas campanhas. Seria bom 1nanterrno-nos alerta contra essa campa-
nha de desmoralizaçâo das instituições democráticas do País. Infelizmente, 
temos alguns colegas que não estão correspondendo ao mandato que lhes 
foi conferido pelo povo, mas há aqueles que estão trabalhando. Acredito 
que este simpósio vá mostrar, também à sociedade brasileira, que o Congresso 
tem de ser respeitado, porquanto sem ele em pleno funcionamento, o,que 
está sendo ameaçada é a democracia brasileira. 
Meus companheiros, bem-vindos. 
Como Coordenadora, e acho que posso falar em nome do Presidente 
Raimundo Bezerra - que não tem medido esforços no cumprimento do 
capítulo que temos de legislar, que é o da saúde, previdência e assistência 
social - posso afirmar que vamos apresentar ao Brasil e ao povo brasileiro 
as leis complementares que faltam, no menor tempo possível. Conclamo a 
todos no sentido de transformar em direito aquilo que até hoje nos foi dado 
como esmola. 
Bem-vindos e muito obrigada. (Palmas.) 
O SR. DEPUTADO RAIMUNDO BEZERRA 
Presidente 
Sr. Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Paes de Andrade; 
Sr. Ministro da Previdência, Jáder Barbalho; Sr. Ministro da Saúde, Seigo 
20 
Tsuzuki; Sr. José Carlos de Mello, representante do Sr. Ministro João Alves 
Filho, do Interior; Dr. Antônio Alves, representante da Sr• Ministra do Traba· 
lho, Sr' Dorothéa Werneck; Dr. Aderbal Antônio de Oliveira, representante 
do Sr. Ministro da Educação, Deputado Carlos Sant'Anna; minha cara amiga 
e colega, Deputada Maria de Lourdes Abadia, a quem agradecemos a operosi-
dade nesta difícil missão de coordenar o I Simpósio Nacional Sobre Assistência 
Social. Já podemos antever o sucesso deste simpósio, porque os preparativos 
foram encaminhados de m::ineira a atingir os objetivos que almejamos -
convocar a sociedade brasileira para participar, nesta Casa, de- assunto da 
mais alta relevância, qual seja de transformar a assistência social em direito 
do cidadão e não em esmola, como até hoje acontece. 
Meus colegas Parlamentares, demais participantes funcionários da Casa, 
Senhoras e Senhores: 
O Estado moderno, por imposição da sociedade, passa a interpretar como 
direito de cidadania a saúde, o trabalho, a educação, o esporte, o lazer, 
a preservação do meio ambiente, a livre manifestação de pensamento, a liber-
dade política, religiosa, o respeito às etnias minoritárias, a não discriminação 
de sexo, raça e cor. Entende, também, que a assistência social está incluída 
entre os direitos de cidadania, e que é dever do Estado, como uma de 
suas funções, prestar todo tipo de assistência que dignifique o homem na 
sua essência. A idéia de esmola ou ação altruística, tanto coletiva como_ privada, 
foi sepultada, considerando que são iguais perante a Pátria o hígido, o defi-
ciente, o pobre, o rico, o analfabeto, o letrado. A nova Constituição, quando 
incluiu a assistência na seguridade social, com destaque que a torna indepen-
dente e auto-sustentável, entendeu a definição de assistência social como 
um direito de pessoa humana e não como uma benesse que, meritoriamente, 
lhe fosse destinada. 
Este 1 Simpósio Nacional vai receber subsídios dos mais diversos setores 
envolvidos com assistência social, para que os Parlamentares possam transfor-
mar em prática o que em tão boa hora foi aprovado na Constituição. A 
Comissão de Saúde, Previdência e Assistência Social promoveu três Simpósios, 
este mês, com o mesmo objetivo: convocar a sociedade para trazer suas expe-
riências e propostas para a complementação da Carta Magna. O Simpósio 
de Saúde e o de Previdência, podemos considerar, foram coroados de êxito, 
atingindo o objetivo colimado. Esperamos que este Simpósio da Assistência 
Social que ora iniciamos tenha o mesmo caminho, ou ultrapasse os anteriores. 
A Assistência Social no Brasil é caótica, desordenada, sem objetivos 
definidos, com contínuas mudanças de direção e sem uma lei orgânica que 
determine os critérios e parâmetros para o seu funcionamento. Teremos agora, 
aproveitando as vivências de instituições dirigidas por verdadeiros sacerdotes 
na arte de servire ajudar o próximo, a oportunidade de transformar o deficiente 
físico, mental, o idoso, em pessoas merecedoras .do respeito da Nação. Nosso 
trabalho é hercúleo, mas todos aqueles que dele participam já têm como 
21 
prêmio o sentimento interior de estar fazendo algo por seu semelhante, um 
dos pilares que justificam uossa existência. 
Preparemos o caminho para aqueles que por desígnios do destino têm 
necessidade de ajuda. Que a recebam como um direito de cidadão, um dever 
do Estado e um ato de solidariedade humana de todos, que têm no semelhante 
um irmão. Treze milhões de brasileiros foram lembrados; façamos com que 
nunca mais sejam esquecidos. 
Mais uma vez, sentimo-nos gratificados, porque a sociedade acorreu ao 
nosso chamamento comparecendo a este simpósio. Agradecemos, em nome 
do País, a participação de todos. 
Em nosso nome pessoal, expressamos o nosso muito obrigado aos dedica-
dos servidores da Comissão de Saúde, Previdência e Assistência Social, nas 
pessoas das secretárias Maria Inês de Bessa Lins e Anamélia Ribeiro Correia 
de Araújo. 
Vamos ao trabalho, vamos pagar a dívida para com treze milhões de 
brasileiros. Tenho dito. (Palmas.) 
O SR. SEIGO TSUZUKI 
Ministro da Saúde 
Exm' Sr. Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Paes de Andra-
de; Exm9 Sr. Jáder Barbalho, Ministro da Previdência e Assistência Social; 
Exm' Sr. Deputado Raimundo Bezerra, Presidente da Comissão de Saúde 
e Previdência Social da Câmara dos Deputados; Sr. Antônio Alves, no mo-
mento representando a Ministra do Trabalho, Dorothéa Werneck; Sr. Aderbal 
Antônio Oliveira, neste momento representando o Ministro da Educação, 
o Deputado Carlos Sant'Anna; Sr. José Carlos Mello, neste momento repre-
sentando o Ministro do Interior o Sr. João Alves Filho; Exm• Sr• Deputada 
Maria de Lourdes Abadia, Coordenadora-Geral deste simpósio. Parlamen-
tares e demais autoridades presentes, senhoras e senhores. 
Sinto-me honrado em participar deste evento e parabenizo esta Casa 
pelo brilhantismo com que vem desempenhando suas atribuições em conjunto 
com a sociedade civil, promovendo discussões participativas e democrátic~s, 
como esta para a preparação das leis complementares do terceiro segmento 
da seguridade social previsto na Constituição: a Assistência Social. 
É com satisfação que saliento a orientação dada por este poder, para 
que o presente debate se caracterize pelo compromisso de resgatar as ações 
de assistência social não como paliativas, e sim como efetivas medidas de 
erradicação da miséria absoluta existente em vários segmentos sociais. 
Assim, estaremos evitando discussões e tratamentos estigmatizantes com 
definição de metas prioritárias para o devido enfrentamento do problema. 
Após a Revolução de 1930, a legislação previdenciária estabeleceu clara 
distinção entre a assistência devida aos cidadãos engajados na força de trabalho 
22 
como contraprestação de suas contribuições e aquela prestada aos desafor-
tunados com nítido sentido caritativo. 
Hoje, com o advento da Nova República e de acordo com o processo 
de transição democrática respaldado e garantido pela Constituição, podemos 
reverter este quadro, devendo a assistência social perder a sua antiga conotação 
de beneficência ou misericórdia para se tornar um eficiente instrumento de 
ação pública, na solução de desigualdades resultantes de limitações naturais 
impeditivas de participação no processo produtivo. 
Assim, a assistência social se imporia como questão inerente à cidadania, 
garantindo a satisfação das necessidades essenciais como mínimo indispensável 
à sobrevivência humana. 
Nas comunidades onde ainda não foi definido um serviço de assistência 
social adequado, institucionalizado e participativo, independente de classe 
social, haverá sempre um maior número de pessoas marginalizadas em função 
de disCriminações inaceitáveis decorrentes de sua condição natural. 
Creio que não me fica mal aproveitar a expressividade deste evento para 
fazer de público o que até hoje nunca fiz: um ensaio de justificativa. Esta 
justificativa pode dar ensejo a que saiamos um pouco do âmbito sempre 
limitado de decisões, para irmos ao encontro dos problemas, e sobretudo 
das opções que se apresentam ao setor saúde, hoje, como alternativa indispen-
sável à redução do contingente de necessitados, tornando-os aptos a se reinse-
rirem na sociedade. 
A intenção - muito forte - é a de que o Ministério da Saúde possa 
continuar o processo de descentralização, registrando as idéias aqui expressas, 
para o planejamento da sua função maior de articular, coordenar, definir 
e divulgar os objetivos, as intenções, as perplexidades e a amplitude da grande 
missão que deve desempenhar no País: garantir a saúde como Um direito 
de todos e dever do Estado. 
Muito obrigado. (Palmas.) 
O SR. DEPUTADO PAES DE ANDRADE 
Presidente da Câmara dos Deputados 
Sr. Presidente Raimundo Bezerra, Coordenadora-Geral deste simpósio, 
Deputada Maria de Lourdes Abadia, Ministro Jáder Barbalho, Ministro Seigo 
Tsuzuki, Srs. representantes do Ministro da Educação, do Ministro do Traba-
lho e do Ministro do Interior, integrantes da Mesa, minhas senhoras, meus 
senhores, inicialmente quero congratular-me com o Deputado Raimundo Be-
zerra, que preside, com alto espírito público e competência, este simpósio, 
com a Deputada Maria de Lourdes Abadia e com todos que aqui se encontram. 
Este é um simpósio indiscutivelmente da mais alta importância porque 
do debate aberto, democrático, livre, nascerão os subsídios para lastrear uma 
23 
política que, .amanhã, se poderá transformar na Lei Orgânica da Assistência 
Social. 
A Deputada Maria de Lourdes Abadia disse, com muita propriedade, 
que o Poder Legislativo está vivendo uma hora difícil - atacado e agredido 
- e que, no entanto, pelos seus representantes, haveria de se fortalecer. 
Fortalecido está, até porque se encontra no centro das decisões nacionais. 
O Poder Legislativo, que foi tantas vezes mutilado e posto em recesso 
compulsório, tendo suas prerrogativas e predicamentos usurpados em mais 
de uma oportunidade, golpeado diversas vezes ao longo de uma História, 
deu ao Brasil uma Constituição progressista, que retrata as aspirações nacionais 
e que haverá de ser duradoura. Esta Carta Magna haverá de ser u1n instrumento 
jurídico para a plena realização do homem, para o exercício permanente 
da liberdade, para a aplicação correta da justiça, para a defesa dos direitos 
humanos e da soberania nacional. Esta Constituição pode não ser perfeita 
- até porque a perfeição está distante do contexto político institucional das 
nações. Já dizia o grande mestre do Direito Constitucional, Léon Duguit, 
que a eterna quimera dos homens é querer incluir nas Constituições a perfeição 
que eles não têm. Rui foi mais preciso, ao dizer que o Brasil precisava, 
já àquela época, de uma Constituição sensata, sólida, de uma Constituição 
praticável, política nos seus defeitos e humana nas suas contradições. Esta 
Constituição que o Poder Legislativo colocou nas mãos do povo é sólida, 
praticável; veio para ficar, para ser cumprida e respeitada pelo povo. O Poder 
Legislativo, vai cumprir sua tarefa histórica de completar esta Constituição, 
através de leis complementares e ordinárias. 
As Constituições do Brasil perdera1n-.se ou foram rasgadas, ou abriram 
caminhos para as rupturas institucionais exatamente por falta de aplicabilidade 
resultante da falta de regulamentação. 
Ao congratular-me com os senhores, que promovem este simpósio, quero 
dizer, e mais uma vez reafirmar, que o Poder Legislativo vai colocar-se no 
centro das decisões nacionais. 
E, aqui, uma questão de fundo, para encerrar: diante de tantas agressões, 
diante de uma divulgação distorcida e deformada dos nossos trabalhos, diante 
da projeção de uma imagem que não é a do Poder Legislativo, quero dizer, 
até me indagando: quanto custa ao povo o Poder Legislativo, a pedra angular 
do regime representativo? Quanto custa ao povo a Câmara dos Deputados? 
Custa0,40% do Orçamento da União. Quanto custam ao povo a Câmara 
dos Deputados, o Senado Federal e o Tribunal de Contas da União? Menos 
de 1 % do Orçamento da União. Quanto custaria ao povo e à Nação o regime 
ditatorial sem Parlamento, em que sindicatos não têm voz nem voto, os direitos 
humanos são desrespeitados, a soberania nacional está posta a preç.o no mer-
cado internacional? 
Meu abraço e minhas congratulações. 
24 
Quero dizer que, na Presidência da Câmara, pretendo ser - serei, sim 
- um servidor da Pátria, um guardião da Constituição e do Regimento. 
(Palmas.) 
O SR. JÁDER BARBALHO 
Ministro da Previdência e Assistência Social 
Exm' Sr. Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Paes de Andra-
de; Exm' Sr. Deputado Raimundo Bezerra, Presidente da Comissão de Saúde, 
Previdência e Assistência Social; Exm' Sr• Deputada Maria de Lourdes Abadia, 
Coordenadora-Geral deste Simpósio de Assistência Social; Exm' Sr. Ministro 
da Saúde, Seigo Tsuzuki; Sr. representante do Ministro do Interior; Sr. repre-
sentante do Ministro da Educação; Sr. representante da Sr• Ministra do Traba-
lho; Sr'-'5 e Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, em primeiro 
lugar, desejo manifestar meus cumprimentos à Comissão de Saúde, Previ-
dência e Assistência Social da Câmara dos Deputados. 
Pela terceira vez, tenho a oportunidade de comparecer, em tão curto 
e~paço de tempo, a simpósios realizados por esta Co1nissão, o que demonstra 
o imenso interesse em buscar, a curto prazo, ouvindo a sociedade, subsídios 
para a elaboração de legislação complementar referente à lei orgânica da 
saúde, ao plano de benefício e custeio da Previdência Social. E hoje, neste 
encontro, para a Lei Orgânica da Assistência Social. Isto, acima de tudo, 
demonstra a importância do Parlamento brasileiro, a elevada sensibilidade 
dos Srs. Congressistas de buscarem subsídios nessa discussão com ·os mais 
diversos segmentos da sociedade, com vistas a elaborar um texto legal capaz 
de refletir os anseios da sociedade brasileira. 
Sr. Presidente, Deputado Raimundo Bezerra, a presença do Ministro 
da Previdência e Assistência Social neste encontro e sua palavra poderiam 
até certo ponto, ser consideradas gratuitas ou até mesmo interpretadas como 
saudosistas, já que, seguramente, caberia melhor e com maior desenvoltura 
ao Ministro do Interior tratar da questão relativa à assistência social, eis 
que esta, hoje, não mais se encontra no âmbito da Previdência Social. Hoje, 
de assistência social o meu Ministério tem apenas a denominação, já que 
organismos como LBA, Funabem e Secretaria de Ação Comunitária estão 
no âmbito do Ministério do Interior. 
Mas. cu não poderia perder a oportun'idade de comparecer a este encon-
tro. 1nanifcstar n1cu apreço a esta Comissão e declinar que, no curso do 
atual Governo. enquanto a assistência social esteve no :1111hito de competência 
do Ministério da Previdência. os recursos cresccr<~ill. Devo afirmar que chega-
ra111 até. no ano de llJX7. a cerca de)\,;. do orça1ncnto glohal da Previdênciü 
Social e. cn1 1988, a cerca de 4r'{ . ..J.Uando cn1 anos anteriores a rubrica 
25 
relativa à assistência social chegava a apenas 1,5%. Isso demonstra, portanto, 
o interesse do atual Governo no que diz respeito à assistência social no Brasil. 
Entendo, e aqui foi dito de forma clara e precisa pela Coordenadora 
deste simpósio, pelo Sr. Presidente desta Comissão e pelo Ministro da Saúde, 
que a visão de assistência social não pode ser a de esmola, de benesse. Gostaria, 
como Ministro da Previdência Socia'.l, de ressaltar que em uma sociedade 
moderna e justa deve-se ampliar cada vez mais os benefícios da Previdência 
Social com vistas à eliminação do assistencialismo.- Quando possível, incorporar 
todos os trabalhadores no mercado de trabalho, onde todas as pessoas efetiva-
mente tenham direito ao emprego neste País. Quando todas as pessoas estive-
rem abrangidas pela Previdência Social, seguramente o assistencialismo desa-
parecerá, e aí, o Brasil efetivamento terá alcançado os patamares de uma 
sociedade moderna e acima de tudo justa. 
Creio que este seja o desejo de todos. Neste momento, temos a obrigato-
riedade de reconhecer que não alcançamos esse patamar. O papel a ser desen-
volvido pela assistência social é, portanto, fundamental, porque temos vários 
brasis, a riqueza convivendo ao lado da pobreza, a ostentação ao lado de 
bolsões de miséria. Então, a presença da assistência social ainda é um fator 
importante na eliminação das profundas desigualdades que permeiam a socie-
dade brasileira. 
Gostaria, Sr. Presidente, que V. Ex• e os participantes deste encontro 
me permitissem fazer um desabafo também - porque verifiquei aqui que 
se acabaram transformando, de alguma sorte, tanto o discurso da Deputada 
Abadia quanto o do Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Paes 
de Andrade, num certo desabafo. Tenho assistido, com certa intraqüilidade, 
proclamar-se que existe um rombo na Previdência Social. Quero aproveitar 
o ensejo, em que pese ao tema de hoje tratar de assistência social, para 
informar a V. Ex" que não existe rombo nem déficit na Previdência Social. 
Se existe, não é na Previdência Social. Esta, com os recursos recolhidos de 
empregadores e empregados, vem cumprindo com os seus deveres. No mês 
de ·maio último, resgatou o que foi estabelecido na nova Constituição: .a 
velha e justa aspiração de recompor aposentadorias, pensões e prestações 
continuadas, isto é, benefícios diversos que, ao longo do tempo, tornaram-se 
defasados em face do processo inflacionário, numa tremenda injustiça funda-
mentalmente para com os aposentados e pensionistas. 
Foi a Previdência, sem qualquer aparte de recurso externo, exceto o 
dela, quem pagou a recomposição de maio e ainda disp.õe de meios para 
pagar a de junho, sem problemas. As questões que afetam a Previdência 
Social, a médio e a curto prazos, independem da sua administração. Se há 
déficit de caixa, não é na Previdência Social, que espera lhe sejam concedidas 
as fontes de custeio listadas pela Constituição, de forma prioritária, porque 
exatamente com a Previdência Social é que a Assembléia Nacional Constituinte 
cometeu as maiores injustiças no que diz respeito ao capítulo da seguridade 
26 
social. Sabemos e entendetnos que seguridade social não é relativa apenas 
à Previdência Social. Pedimos licença para proclamar que, no capítulo da 
seguridade social, as responsabilidades listadas, factuais, são co1n relação à 
Previdência, inclusive com prazos constitucionais estabelecidos, e já cumpri-
mos o pr.imeiro. 
Reivindicamos, entáo, que seja dado tratamento prioritário à Previdência 
Social, no que diz respeito às responsabilidades que ela tem. Além disso, 
a Previdência Social neste País, oriunda das Caixas de Pecúlio, dos Institutos 
diversos, os IAPAS, que depois foram reunidos no Simpas, surgiu fundamen-
talmente com o objetivo de uma política previdenciária, isto é, de benefícios. 
Hoje, a Previdência Social e particularmente o atual Governo vêm inves-
tindo recursos consideráveis no setor saúde. Enquanto em 1987, investimos 
49% em benefícios da previdência, investimos em assistência médico-hospitalar 
22,45%. Em 1988, investimos 49,49% em benefícios, e em assistência médica, 
23,86%. Sabe o Ministro da Saúde, porque trabalhamos juntos, o quanto 
a Previdência Social hoje, através do SUDS, sustenta a saúde no Brasil no 
campo da assistência médico-hospitalar com dinheiro recolhido dos empre-
gados e empregadores do País. 
Alguns setores da imprensa, de forma equivocada, vêm proclamando 
rombo e déficit na Previdência Social. O Ministro dessa Pasta aproveita este 
auditório para dizer que não há rombo nem existe déficit na Previdência 
Social, e que, se forem carreados os recursos relativos ao Finsocial para a 
Previdência, teremos condições de implantar o novo plano de benefícios da 
Previdência Social sem dificuldade alguma e amparar os cento e quarenta 
milhões de brasileiros em assistência médico-hospitalar, particularmenteno 
que respeita à questáo de benefícios. 
Eram estas, Sr. Presidente, as considerações que desejava fazer. 
Aproveito a oportunidade para dizer que, em que pese à Previdência 
ter defeitos, equívocos e precisar se modernizar, não aproveitem este momento 
para transformá-la em bode expiatório. Mais .do que isso, Sr. Presidente, 
é necessário que esta Comissão esteja atenta à interpretação que se está 
pretendendo dar à seguridade social. Há gente pensando em seguridade social 
para demarcar terra indígena. Há gente pensando em seguridade social para 
manter o Programa Padre Cícero, no Nordeste. Entendemos que seguridade 
social é coisa bem distinta desses programas. 
Portanto, gostaria de aproveitar, aqui e agora, para deixar essas questões 
bem claras, particularmente, para a imprensa que, de forma equivocada, 
repito, vem tratando desinformadamente o assunto e informando mal a opiniáo 
pública brasileira com relação ao que se passa no momento no Ministério 
da Previdência e Assistência Social. (Muito bem! Palmas.) 
27 
ENCERRAMENTO 
O SR. DEPUTADO RAIMUNDO BEZERRA 
Presidente 
Antes de encerrarmos esta primeira etapa dos trabalhos, quero agradecer 
a presença aos membros da Mesa, e também dar uma notícia que, acredito, 
é do interesse de toda a Nação, principalmente porque está aqui uma pessoa 
que trouxe essa informação. 
Em cumprimento a dispositivo constitucional, a Lei Orgânica da Saúde, 
a Lei Orgânica da Assistência Social e o Plano de Custeies e Benefícios 
da Previdência Social, que deveriam ter chegado a esta Casa até o dia 5 
de abril e aqui não aportaram, deverão chegar amanhã, de acordo com informa-
ções dadas pelos Srs. Ministros Ronaldo Costa Couto e Jáder Barbalho. A 
Comissão de Saúde, Previdência e Assistência Social sente-se feliz, porque 
agora terá os instrumentos necessários para fazer sua intervenção nas leis 
orgânicas e no Plano de Custeias 1~ ·Benefícios, inclusive para emendar a 
Lei de Diretrizes Orçamentárias, que já tramita nesta Casa. Infelizmente, 
por atraso do Poder Executivo, a nossa Comissão ficou tolhida e não pôde 
avançar naq~ilo que era seu propósito. Já poderíamos ter correspondido aos 
anseios da Nação, quanto à nossa missão de completar a Carta Magna recém-
promulgada, mas lamentavelmente não pudemos emendar aquilo que constitu-
cionalmente é de competência do Poder Executivo. Felizmente, a partir de 
amanhã, teremos esses instrumentos, e acreditamos que, em tempo recorde, 
daremos à Nação a resposta, no que concerne à seguridade social, à saúde, 
previdência e assistência social, antes do tempo que estipula a Constituição 
no seu Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, de que teremos 
completado nossa missão. 
Agradeço sensibilizado a presença de todos que aqui vieram para esta 
sessão inaugural do I Simpósio Nacional sobre Assistência Social. 
Encerramos os trabalhos, concedendo o prazo de cinco minutos para 
abrirmos a mesa-redonda marcada para hoje. Está encerrada a sessão. (Pal-
mas.) 
28 
MESA-REDONDA - 30-5-89 
COORDENADORA: 
Deputada Anna Maria Rattes 
TEMA: 
Diretrizes Constitucionais na Assistência Social 
EXPOSITORES: 
- Diretrizes Constitucionais na Assistência Social 
Deputada Sandra Cavalcanti 
- Critérios, clientela, benefícios, serviços e entidade de assistência social 
Prof. Vicente de Paula Faleiros 
- Conceitos e funções da política de assistência social no Brasil 
- Prof•. Potyara Amazoneida P. Pereira 
-As APAE no Brasil - perspectivas e diretrizes 
Dr. Elpídio Araújo Néris 
- O deficiente na sociedade brasileira 
Vereadora Célia Camargo Leão Edelmuth 
- Meninos e meninas de rua 
Prof. Benedito Rodrigues dos Santos 
- A assistência social e o idoso 
- Sr. Oswaldo Lourenço 
29 
ABERTURA 
O SR. DEPUTADO RAIMUNDO BEZERRA 
Presidente 
A mesa-redonda programada para a manhã de hoje, em prosseguimento 
ao I Simpósio Nacional sobre Assistência Social, terá como lema principal 
"Diretrizes Constitucionais na Assistência Social". Teremos, como coorde-
nadora dessa mesa-redonda a DeputadaAnna Maria Rattes; como expositores, 
a Deputada Sandra Cavalcanti, o Prof. Vicente de Paula Faleiros, a Prof' 
Potyara Amazoneida P. Pereira, Dr. Elpídio Araújo Néris, a Prof• Célia 
Camargo Leão Edelmuth, o Prof. Benedito Rodrigues dos Santos e o Sr. 
Oswaldo Lourenço. Convidamos os nominados a se fazerem presentes à mesa 
dos trabalhos, ao mesmo tempo em que passamos a presidência destes traba-
lhos à Deputada Anna Maria Rattes. 
A SRA. DEPUTADA ANNA MARIA RATTES 
Coordenadora 
Gostaríamos que os participantes deste encontro fossem tomando lugar 
no auditório para podermos começar a exposição desta primeira mesa-redonda. 
Esta será composta de três expositores e quatro lideranças comunitárias, que 
terão respectivamente vinte e quinze minutos para seus pronunciamentos. 
EXPOSITORES 
A SRA. DEPUTADA SANDRA CAV ALCANTI 
Expositora 
Sr• Presidente da mesa-redonda, Deputada Anna Maria Rattes; Exm• 
Sr• Coordenadora deste simpósio, Deputada Maria de Lourdes Abadia, a 
quem, de público, quero dar os parabéns pela excelência do trabalho executado 
e pelo resultado excepcional colhido neste simpósio; prezados companheiros 
que compõem esta mesa de debates; senhoras e senhores dirigentes de entida-
des ligadas ao problema de assistência social; profissionais liberais que traba-
lham nessa área; Exm• Sr• Presidente da Funabem, Marina Bandeira, que 
vejo, com muita alegria, neste plenário. 
31 
Virou moda dizer que a Constituição é que está atrapalhando a vida 
do País, por ser parlamentarista em um sistema presidencialista. Também, 
porque, numa total irresponsabilidade, na hora de elaborá-la, os Deputados 
inventaram uma porção de favores para determinados setores e esqueceram-se 
de localizar os recursos para esses favores. De sorte que, se posta em prática, 
quebrará o País. Provavelmente, os senhores já leram isso em inúmeros edito-
riais, vêem todos os dias nos jornais a Constituição ser responsabilizada pelo 
clima de caos, confusão e desordem gerado pelas dificuldades que o País 
atravessa. 
É uma boa desculpa esfarrapada, porque as dificuldades são bem anterio-
res à Constituição, podendo até ser localizadas: elas nasceram muito mais 
da irresponsabilidade e da impunidade do Poder Executivo do que dos atos 
do Poder Legislativo. É preciso que isso seja dito de forma muito clara, 
até para não parecer que estamos aqui discutindo matéria da mais completa 
e total irresponsabilidade e que, o que aqui está posto como diretriz constitu-
cional na área de assistência Social, não vai poder ser implementado, pelo 
fato de, na prática, não poder ser conseguido. 
Peço perdão por este tom de desabafo e por esta forma aberta de dizer 
as coisas. Acho que, ein uma mesa-redonda, quando daqui a pouco vamos 
ouvir e decidir questões e responder perguntas das partes interessadas -
e vão ser muitos os que vão falar -, é bom que, desde logo, pelo menos, 
este tipo de argumento seja desmanchado. Não é verdade que os defeitos 
desta Constituição residam no fato de termos, pela primeira vez na história 
dos textos constitucionais brasileiros, nos debruçado sobre uma expressiva 
parcela da população brasileira que não era mencionada nas Constituições 
anteriores. Poderia até ter sido alvo de atenção e providências porque, se 
as Constituições anteriores não tinham capítulo expresso sobre seguridade 
social, previdência e assistência social, sobre a criança, o adolescente, o idoso, 
a família, sobre as pessoas portadoras de deficiências, nem por isso elas deixa-
ram de existir; elas existiram ao longo de toda a nossa vida. E se havia 
um artigo declarando que eram todos iguais perante a lei, de uma forma 
muito mais ampla, em todas as Constituições anteriores, nada teria impedido 
que houvesse por parte das autoridades um cuidado muito grande com esse 
setor da nossa população. 
Por que é que o Constituinte de 87/88 decidiu tornar mais explícitas 
as intenções da Carta Constitucional nessa matéria? Exatamente para ver 
seconseguia, afinal, acordar o Poder Executivo para essas suas responsabi-
lidades, até porque estas não são as áreas que conseguem fazer lobby nos 
corredores, não do Poder Legislativo, mas nos do Poder Executivo. Se há 
lobbies nesta Casa, e houve na hora de elaborarmos o texto, lobbies muito 
mais sérios existem há 1nuitos anos circulando nos corredores ministeriais, 
nos corredores do Tesouro Nacional, quando da elaboração da Lei Orçamen-
tária pelo Executivo, para colocar ali seus interesses. E não são essas categorias, 
32 
as mais frágeis da nossa estrutura social, que consegue1n fazer suas vontades 
serem entendidas e atendidas. 
Então, vamos remover, logo de saída, essa afir1nação que não é verda-
deira. No texto constitucional, no art. 195, quando definimos de forma muito 
clara quais seriam os recursos que financiariam a seguridade social, está dito, 
sem faltar vírgulas ou adjetivos, que a seguridade social será financiaÇa por 
toda sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei - esta lei 
vai nascer certamente até deste simpósio-, mediante recursos piovenientes 
dos Orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios 
e das seguintes contribuições sociais .. 
Portanto, ninguém imagine que, para sustentar os programas de assistên-
cia social, só há um recurso válido: o de meter a mão no bolso do trabalhador 
brasileiro. Não. Há recurso válido, o das contribuições sociais. É um deles. 
Mas o que está dito aqui é que a seguridade social vai-se sustentar dos Orça-
mentos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios. Então, 
não é da contribuição direta do trabalhador e do empregador que vai nascer 
o recurso para sustentar a seguridade social. É dos iinpostos que são pagos 
por todos os brasileiros, formando os orçamentos. Até porque, se não pagás-
semos impostos, não teríamos necessidade de ter governo. O governo, nos 
regimes democráticos, desde João Sem-Terra, na Inglaterra, existe apenas 
porque há gente pagando impostos. Se não existissem impostos, o governo 
não teria o que fazer, a não ser discursos e, assim mesmo, a partir do mo1nento 
em que não fosse pago para fazer discursos também não os faria mais. 
Então, essa diretriz constitucional é a primeira e a mais importante. 
Temos de ter uma legislação estabelecendo, nos Orçamentos da União, dos 
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios o que deve ser encaminhado 
para a seguridade social. 
As contribuições diretas, aquelas que são listadas, são: "Dos emprega-
dores, incidentes sobre as folhas de salários, o faturamcnto e o lucro" -
aqui esta Constituição inovou - "dos trabalhadores", que pagam em cima 
dos seus salários, e isto é o que já existia; "e receita de concursos de prognós-
ticos". Aqui já existia sem que tivéssemos uma legislação mais clara sobre 
a 1natéria como pretendemos ter. Portanto, aqui está sinalizado, para que 
seja colocado na Lei Orgânica da Assistência Social: o que é retirado da 
receita de concursos de prognósticos será destinado à assistência social ta1n-
bém. 
"§ l' As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios 
destinadas à seguridade social constarão dos re_spectivos orçamentos, não inte-
grando o Orçamento da União." 
Este é um dado também importante, porque isto também era objeto 
muitas vezes de complicação. A União repassava ao Estado, o Estado repas-
sava ao Município; a União já tinha cumprido a sua obrigação, o Estado, 
com o dinheiro repassado da União, dizia que tinha cumprido a sua; o Muni-
33 
cípio, com o dinheiro repassado do Estado, dizia que tinha cumprido a sua, 
e, na verdade, era apenas uma parcela que passeava de escala. Agora, não; 
no Orçamento da União terá de constar o que ela destinará para a seguridade 
social; idem do Orçamento do Estado e do Orçamento do Município: 
"Art. 195. . ............................................................................ . 
§ 2° A proposta de orçamento de seguridade social será elaborada de 
forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde, previdência social e 
assistência social ( ... )." 
Isto aqui é uma indicação clara. Poderá não constar do texto da Consti-
tuição. Não chega, digamos, a ser um princípio constitucional, 1nas uma dire-
triz. Isto, no fundo, significa que não vamos trabalhar três pessoas de forma 
desintegrada e desperdiçada em cima de uma mesma área. Conjugaremos 
esforços para economizar recursos. Esta é a diretriz desse parágrafo. 
Depois, vem uma série de observações: 
"Art. 195. . ............................................................................ . 
§ 5' Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser cria-
do, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total." 
Isto é o lógico. Deveria ser o óbvio, mas como não vinha sendo nem 
lógico, nem óbvio, precisou ser posto como uma diretriz no texto da Consti-
tuição. 
"Art. 195 
"§ 6' As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser 
exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei( ... )." 
Esta lei deveria ter chegado aqui cm abril, e só chegará amanhã. Portanto, 
exigirá de nós um tempo recorde para conseguir elaborá-la e votá-la. 
"Art. 195. . ............................................................................ . 
§ 7' São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades 
beneficentes da assistência social que atendam às exigências estabelecidas 
em lei." 
Portanto, toda a imensa legião de obras de assistência social co1n fins 
filantrópicos, sem fins lucrativos, que seguram e sustentam todo o trabalho 
de assistência social no País, terão, nesta lei, disciplinada a forma pela qual 
ficarão isentas de contribuições para a seguridade social, já que o trabalho 
delas é uma forma de contribuição, alén1 de outras isenções que deverão 
ser estudadas no texto da lei que também terá de ser elaborada. 
Na mesa-redonda de amanhã, tercinas exposição sobre "Critérios para 
isenções das contribuições de seguridade, imunidades das entidades assisten-
ciais e recuperação do valor dos auxílios na assistência social", por conta 
da Dr' Tereza de Jesus Costa do Amaral, Coordenadora do CORDE. Deve 
ser, portanto, u1na contribuição 1nuito importante, uma vez que ela está atuan-
do de forma objetiva e límpida nesta área. 
Isto posto apenas para levantar algumas questões que considero funda-
mentais para quem já lidou con1 este assunto e lida de perto há 1nuitos anos, 
seria interessante que os participantes, ao longo dos debates, pudessem trazer 
34 
para a coordenação deste simpósio suas contribuições sobre como vêem as 
entidades das quais fazem parte, dirigem ou participam. Como cada uma 
dessas entidades vê o aproveitamento desses recursos c1n termos de patrimô-
nio, de recursos humanos, de reciclagem para o aproveitamento melhor do 
trabalho na área especializada e no atendimento à população carente que, 
neste setor, é imensa no País, principalmente as entidades ligadas ao esforço 
de habilitação e reabilitação de pessoas portadoras de deficiência. Não reabili-
tação simplesmente, mas habilitação, que é, no fundo, no fundo, o cerne 
de toda a nossa movimentação em torno da matéria. É claro que, quando 
atribuímos à Constituição o equívoco de ter a1npliado a· presença dos recursos 
do Estado neste área - e diz-se que istoº ocorreu sem os recursos - é porque 
estamos de fato vivendo dois retratos: um do que já está sinalizado no texto 
constitucional para todos nós como direitos; e o outro, .uma estrutura anterior 
que ainda não se adaptou, até por falta de legislação. 
Provavelmente, a inaioria das questões que serão aqui levantadas cairão 
em cheio no ponto: como é que a Previdência e Assistência Social, o Ministério 
do Interior, o Ministério da Saúde, o INAMPS, a Legião Brasileira de Assistên-
cia, enfim, atenderão ao que já está aqui, que é o moderno; o atual, o que 
se quer, - se a estrutura dessas entidades está ligada ao que existia e ainda 
precisa ser mudada? Este é o quadro que estamosenfrentando, muito parecido 
até com o quadro político, porque está ocorrendo em todos os outros setores. 
Não é privilégio das entidades assistenciais que atuam nesta área estarem 
encontrando dificuldades para se localizar nos orçamentos, afim de conseguir 
recursos para pagar o que lhes é cobrado. Isto está acontecendo em todas 
as demais áreas. 
A Constituição abriu um leque de perspectivas e de expectativas, e atrás 
dele vem uma série de leis, uma legislação ordinária e complementar encarre-
gada de tornar tudo isso factível, plausível, realizável e não houve e nem 
há tempo material para se chegar até lá. Aí, sim, as razões podem ser apresen-
tadas por muitos. Ouvi aqui várias versões do porquê dessa demora. 
Estou vendo a Câmara dos Deputados e o Senado Federal tomando 
providências enérgicas contra os faltosos, dizendo que vão ter descontados 
os proventos, que vai acontecer isso e aquilo, quando nada disso resolverá 
proventos, que vai acontecer isso e_aquilo, quando nada disso resolverá proble-
ma algum. O problema é muito mais fundo e sério e está há 99 anos atrapa-
lhando o Governo e a atividade dos brasileiros, que é o sistema de governo 
atrasado e incapaz de responder aos anseios da população. Isto seria abordado 
e1n outra oportunidade, em outra questão. 
Não vou sair do nosso tema. Mas, só para letnbrar: se estivéssemos 
vivendo há muito mais tempo do que eu desejaria em um sistema de governo 
parlamentar, com Gabinete e Câmara passíveis de dissolução, nada disso 
estaria acontecendo. Cada vez que um Gabinete não desse conta do recado, 
se o governo andasse mal, cairia. E quantos governos tivc1nos de agüentar 
durante quatro, cinco ou seis anos, desejando que eles já tivessem caído 
35 
há muito tempo. E a Câmara, não conseguindo dar conta do recado, quantas 
vezes o povo se arrependeu' da n1aneira co1no votou e gostaria de ver isso 
tudo renovado? Então não é por aí. 
Para consertar esse marasmo temos, de fato, outro remédio. No momento, 
o que te1nos é um sistema de governo horrível, rígido, paralisante, de confronto 
permanente, de litígio entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo, e quem 
sofre com isso é o povo, porque o atraso que daí decorre atinge realmente 
a massa da população. Se tivésse1nos co1no alterar isso, tudo be111. No mo1nen-
to, não temos. Vamos tentar então correr com a nossa lei. A lei vai responder 
1nuito be1n a essas questões, e a principal delas é a que fica como parâ1netro 
para essa parte da mesa-redonda. 
Na elaboração do texto constitucional o constituinte não foi irresponsável. 
Colocou todos os recursos possíveis para sustentar as responsabilidades nele 
definidas. Só está faltando que a Lei de Diretrizes Orçamentárias chegue 
a tempo de dar respaldo ao que está colocado nesse texto. 
Para terminar, gostaria de deixar isso bem registrado nesta reunião. Foi 
o mais espetacular avanço que um país conseguiu num texto constitucional 
em relação à sua população, que precisava ser olhada com respeito, que 
precisava deixar de receber favores e que tinha direito a ser tratada no mesmo 
nível de cidadania do restante da população brasileira. Ê a mais moderna 
das contribuições que poderíamos ter dado a um texto constitucional. Ê a 
primeira vez que a criança aparece com todos os seus direitos listados; que 
o adolescente ali está com todos os seus direitos listados; que o idoso é 
olhado como deve ser, e, principalmente, é a primeira vez que, de fato, 
a pessoa portadora de deficiência pode até continuar ao longo da sua vida 
física com a diferença, com o handicap negativo, mas não do pondo de vista 
de cidadania. Quer dizer, 13 milhões de brasileiros são iguais a todos os 
outros perante a lei. Muito obrigado pela atenção. (Palmas.) 
O SR. VICENTE DE PAULA FALEIROS 
Expositor 
Sr•' Deputadas Anna Maria Rattes, Sandra Cavalcanti, Maria de Lourdes 
Abadia, Benedita da Silva, ilustres membros da Mesa, prezados colegas partici-
pantes, a questão da assistência social é muito complexa e minhas reflexões 
aqui são fruto de um debate de muitos ineses entre colegas que participaram 
da tentativa de eleborar um anteprojeto de lei orgânica da assistência social. 
Como associado do Sindicato dos Assistentes Sociais e membro de grupo 
de trabalho, minha reflexão não representa a posição oficial dessas entidades, 
mas a do pesquisador, do debatedor, do militante nessa área da assistência 
social. 
A complexidade dessa discussão itnplica, em prin1eiro lugar, a·definição 
do que é pobre. Se não tivermos bem claro o conceito de pobreza, não 
poderemos atender ao que está disposto na própria Constituição. 
36 
O art. 6\' da Constituição estatui que são direitos sociais a educação, 
a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência, a proteçãd à materni-
dade e à infância e a assistência aos desamparados. Já o 203, que trata especifi-
ca1nente da assistência, diz que a Previdência Social deve garantir u1n benefício 
mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não 
possuírem 1neios de prover da própria subsistência. Então, há necessidade 
de comprovação ou não de pobreza, para se retirar o atestado de óbito ou 
se fazer o registro de nascimento gratuitamente. 
É fundan1ental, ao tratarmos da assistência, discutir essa questão, porque 
a primeira impressão que se tem, quando se discute a pobreza, é de que a 
grande maioria da população brasileira é pobre e todos, mais ou menos, se 
inclue1n nessa categoria. Se tomarmos co1no critério, por exernplo, a linha de 
pobreza abaixo dos três salários 1nínin1os, encontraremos aí 70% ou até 
mais, dependendo da região, da população considerada pobre. E, se passarmos 
agora a um conceito mais rigoroso, vamos ver que muitos definem pobreza 
como destituição, como falta de meios de subsistência, carência. São expressões 
que escutamos todos os dias. Alguns pesquisadores também colocam a defini-
ção de pobreza nesses ter1nos. Mas pobreza não pode ser definida como 
"falta" apenas, nem pode ser vista como dívida a ser paga. Não se define 
em que termos essa dívida está colocada, e muito menos pode ser definida 
como vagabundagem, porque é co1num ainda, na nossa sociedade, penalizar 
o pobre, confundi-lo com o vagabundo. Também não podemos culpar o pobre 
dizendo que a causa da pobreza é inerente a urna falha individual da pessoa. 
Nesses termos, como o tempo é relativamente curto, podemos entender o 
que é pobreza e daí definirmos a clientela da assistência social. 
A pobreza é urna relação social de exclusão da participação econômica 
e político-social da ·sociedade, dos benefícios da riqueza dessa sociedade. A 
pobreza é uma relação social porque, se existe aqueles que são excluídos, é 
porque há um grupo que se apropria da riqueza. Então, não podemos_ entender 
a pobreza con10 crin1c, como falha, tnas corno utna relação que tem corno 
conseqüência a iinpossibilidade de auto-stistentar-sc. Essa i1npossibilidadc é 
uma conseqüência dessa relação de exclusão social. E,stou falando de in1possi,-. 
bitidade que é dada pelas condições nas, quais as pessoas se encontram. E 
por isso que o conceito, en1bora seja 1nais ou n1enos claro, teorica1nente, 
na prática é 1nuito difícil de ser 1nedido. 
Nos países onde há urna política mais definida em relação à pobreza, 
como Estados Unidos, Canadá, França, Suécia e mesmo a Costa Rica, na 
América Latina, há a definição de uma linha que separa os absolutamente 
pobres dos relativamente pobres - relativamente, porque a pobreza pode 
ser vista sob o ponto de vista absoluto, etn u1na definição descritiva, empírica, 
em que há falta de atendimento das necessidades básicas, relativamente à 
riqueza, através da renda média do país. 
Sabemos que a renda média no Brasil representa um indicador muito falho, 
vago. E corno a história de duas pessoas em que urna come um frango e 
37 
a outra nada come. Na média, cada uma come a metade. Então, a renda 
média não representa uma visão real da distribuição da renda na sociedade. 
Se dissermos que no Brasilhá uma renda de dois mil dólares per capita 
anuais, não estaremos mostrando as profundas desigualdades existentes onde 
há diferença entre os 10% de renda inferior e os 10% de renda superior, 
de 46 salários mínimos. Então, que critério adotar para definir esta pobreza 
relativa? 
No Brasil, não temos o hábito de falar a este respeito, de pensar nos 
pobres em termos globais. Por isso torna-se difícil abordar a questão. O 
. que se te1n feito ultitnamente é tomar como parâmetro o salário mínilno, 
como linha estritamente mínima de situação dos pobres. Mesmo neste caso, 
torna-se difícil. Por isso, sugerimos, para definir a linha de pobreza, tomar 
um quarto do salário mínimo per capita da renda familiar. Esse critério está 
sendo assumido tanto no IPEA, quanto no IBGE e no Relatório Jaguaribe 
- Brasil: Reforma ou Caos. Esse critério nos dá uma indicação inicial do 
nú1nero dos estritan1ente pobres no País. 
Segundo dados, ainda não publicados, do IBGE, mas de fonte oficial, 
relativos ao ano de 1987, do PNAD, existem, no Brasil, atualmente, 34.290.923 
pessoas com renda até u1n quarto do salário mínimo per capita mensal. Do 
total de 3.692.937 famílias, 3.296.000 têm filhos de zero a 17 anos, o que 
representa 9,6% do total das famílias brasileiras. O número de famílias com 
pessoas de zero a 17 anos, sem qualquer rendimento, é de 487.897. Esses 
números são assustadores, porque, apesar de se referirem a apenas 10% 
do número de famílias, representam um número extremamente grande de 
pessoas que sequer alcançam um quarto do salário mínimo per capita. 
Diante deste fato, as políticas sociais existentes são extre1namente precá-
rias, porque não há uma sistemática nacional, nem regional, para um atendi-
mento contínuo e juridicamente estabelecido. Daí a maior importância deste 
Simpósio aqui, na Câmara dos Deputados, para discutirmos não só os direitos 
já consagrados na Constituição, mas também as formas práticas de colocarmos 
a questão da assistência em uma sistemática global e coordenada. O que 
existe são políticas isoladas que dependem de pessoas ou de grupos e volun-
tários que fazem inúmeros esforços para poder trabalhar a assistência social 
na prática. Muitas vezes, essas políticas são marcadas pelo clientelismo, pelo 
favoritismo, pela intermediação de favores em troca de lealdade, e caracteri-
zam-se pela su:l inconstância. Exemplo disso são as fa1nosas campanhas do 
frio, do cobertor, de casas, em situações de emergência. O sistema de ajuda 
baseia-se no voluntariado. É preciso, portanto, articular essas políticas. 
No anteprojeto de lei, no qual participamos, a preocupação foi colocar 
como clientela de uma política sistemática apenas grandes categorias que 
são contempladas na Constituição e que são excluídas do mercado de trabalho. 
As crianças, os idosos, e os deficientes, já que dentro de uma ótica liberal 
não podemos propor a substituição do trabalho pela assistência. Essa é a 
38 
grande briga dos liberais. Nos países que têm uma política liberal de assistência 
o importante é não prejudicar a 1não-de-obra cotn a assistência. E nesse 
sentido a proposta inscreve-se até numa ótica liberal, porque considera crian-
ças, deficientes e idosos como os beneficiários da assistência, dentro dessa 
linha de pobreza. Mas é fundamental também colocar como critério a organi-
zação sistemática de uma política de assistência que respeite também a Consti-
tuição, que é a descentralização, a responsabilidade dos Estados e Municípios, 
a nível federal, era necessário colocar uma coordenação geral da assistência 
através, talvez, de un1 instituto de assistência social que coordene essa política 
e que respeite a organização estadual e municipal com a participação da 
população, para que possa1nos distinguir na assistência as incapacidades das 
dificuldades. Porque mesmo para essa população incapaz de trabalhar, como 
a dos idosos, dos deficientes, e dos pobres, há momentos em que há dificuldades 
eventuais. E o critério da incapacidade na política de assistência vem do 
Século XVII, na lei dos pobres, da Inglaterra, que distingue os aptos dos 
inaptos, os capazes dos incapazes. Mas isso, como bem salientou a Deputada 
Sandra Cavalcanti, não pode ser visto a não ser sob a ótica da cidadania. 
Quer dizer, tratar dos incapacitados para o trabalho numa política de assistên-
cia, mas como cidadãos que contribuem socialmente para a Nação, toda política 
de assistência deve ter como critério funda1nental essa ótica da cidadania. 
Finalmente, ter um controle da população sobre essa política, que é o que 
está no art. 204 da Constituição, e u1na fiscalização mais rigorosa do Estado, 
para que todos os abusos sejam coibidos, a fim de que não se usem as crianças, 
os idosos, os deficientes para também se obter u1na intermediação privada 
desses serviços. Já que criticamos tanto a intermediação pública, clientelística, 
é preciso também que haja um controle das intermediações privadas, para 
que haja um sistema único de assistência social e que essa renda 1nínima, 
que já foi implantada em outros países, possa se constituir numa questão 
política a ser resolvida a médio prazo, à medida que o salário mínimo for 
se elevando, possa contribuir para a erradicação desta faixa de população 
extremamente pobre. (Palmas.) 
A SRA. POTYARA AMAZONEIDA P. PEREIRA 
Expositora 
Prezados participantes, promotores deste Simpósio e companheiros de 
Mesa, preliminarmente gostaria de informar que minha fala sobre conceitos 
e funções da assistência social não tem caráter ineramente acadêmico ou 
escolar. Está vinculada a um propósito prático, de subsidiar substantivamente 
a lei que deverá regulamentar a assistência social na nova Constituição. Tanto 
é assim, que o que será dito por mim agora serviu de subsídio ou de fundamen-
tação teórica ao Anteprojeto de Lei Orgânica de Assistência Social, ao qual 
o Prof. Vicente já se referiu, preparado por um grupo diversificado de colabora-
39 
dores, sob a coordenação da Universidade de Brasília, do IPEA, do IPLAN 
e da SEPLAN. 
Este anteprojeto, trabalhado a várias mãos, durante seis meses de inten-
sivos estudos, foi, desde as suas pritneiras versões, submetido à crítica de 
vários interlocutores, a nível nacional e local, inclusive de lideranças comuni-
tárias no Distrito Federal, resultando e1n um texto que, embora provisório, 
esperamos tenha cumprido dois grandes objetivos. Primeiro, o de mobilizar 
o maior número possível de pessoas e1n torno da necessidade de se debater 
e de se repensar criticamente a assistência social no Brasil. O segundo, oferecer 
aos legisladores uma proposta de lei que valorize os gvanços constitucionais 
nessa área, principalmente no que diz respeito à participação da comunidade 
na formulação e no controle da política da assistência social, a descentralização 
dessa política, a questão da redistribuição de renda embutida na alocação 
dos recursos para essa área, etc. Efetivamente, falar de assistência social 
é tarefa difícil, principalmente porque a assistência social não tem sido; através 
do tempo, um assunto que inereça interesse científico. Apesar de a assistência 
social ser um fato relevante do ponto de vista prático\ empírico, histórico, 
existem poucas contribuições no sentido de conceituá-la, de melhor demarcar 
o seu espaço de conhecimento e a identificar as suas propriedades essenciais. 
Isso não só no Brasil ou no Terceiro Mundo, onde as condições de pesquisa 
nessa área são sabidamente adversas, mas também nos países ricos do Oci-
dente, berço do padrão pós-liberal de desenvolvimento capitalista que produziu 
o chamado welfare state, ou estado de bem-estar. Mesmo lá, a assistência 
social é considerada uma atividade eminentemente prescritiva, operativa, vin-
culada à órbita do planejamento ou da execução de medidas técnico-admi-
nistrativas reguladoras das desigualdades sociais. 
Isso significa que, quando a assistência social tem que ser conceituada 
ou abstraída de uma forma conceitual, ela o é não pelo seu conteúdoe substân-
cia com base na dinâmica da realidade em que se constitui e se processa, 
mas geralmente co1n base na sua manifestação feno1nenológica, nas suas orien-
tações programáticas, gerando, inclusive alguns equívocos conceituais. O pri-
meiro equívoco é que a assistência social geralmente é definida pelas suas 
funções. Ora, conceituar a assistência social pelas suas funções é incorrer 
num vício metodológico, é conceituar a assistência social pelas conseqüências 
que ela produz ou que pretende produzir. Assim, a assistência social passa 
a ser vítima de um raciocínio circular finalístico vicioso que nunca diz o que 
ela é mas o que ela se propõe a ser. 
Assim, por exe1nplo, se em deter1ninados programas a assistên:ia social 
tem a função de distribuir renda ela é definida como aquele coniunto de 
medidas que visa a distribuir renda. 
Se em outro programa ela tem a função de resgatar a dívida social é 
definida como aquele conjunto de medidas que visa a resgatar a dívida social. 
40 
Então fica claro o caráter tautológico vicioso repetitivo dessas definições que, 
além de ingênuas, em nada avançam teoricamente. 
Um outro equívoco na conceituação da assistência social é o de que 
geralmente ela é definida pelo lugar da sua elaboração. Assim como é no 
aparelho do Estado que ela é sistematizada, orçada, formalizada, avaliada, 
deduz-se automaticamente que ela é uma iniciativa exclusiva do Estado, 
ou seja, a assistência social neste caso passa a ser produto da inteligência 
governamental ou dos burocratas e tecnocratas, em desconsideração à autono-
mia relativa da sociedade. 
O Estado passa a ser sujeito, a sociedade passa a ser objeto, e temos 
aí uma visão essencialista do Estado com relação à conceituação da assistência 
social. 
Com efeito, é preciso considerar que a assistência social tem várias e 
diferentes funções. Assim, pelo fato de ser uma atividade ubíqua, quer dizer, 
que se encontra ao mesmo tempo no capitalismo, nó socialismo, nas sociedades 
de livre empresa e naquelas de economia mais centralizada, ela pode por 
isso mesmo, ter funções diferenciadas e funcionar, inclusive, de forma perver-
sa, diferente daquela que foi programada. 
Portanto, conceituar a assistência social pelas suas funções apesar de 
ser necessário - eu não estou aqui discordando do fato de estabelecermos 
e explicitarmos as funções da assistência social, é preciso que se faça -
é incorrer num vício metodológico que não tem absolutamente importância 
do ponto de vista teórico. 
Os limites desses dois equívocos conceituais de que eu falei, definir a 
assistência social ou conceituá-la pelas suas funções ou pelo lugar de sua 
elaboração, são evidentes alimentações desses equívocos. O primeiro é o 
total desprezo pelo que é central no esforço de conceituação de qualquer 
política, é o seu caráter contraditório, não no sentido de incoerência mas 
no sentido dialético do termo de relação de opostos. Assistência social na 
verdade, é um processo que resulta da relação entre interesses opostos: do 
capital, do trabalho ou entre o interesse de uma lógica da rentabilidade e 
o interesse da lógica das necessidades sociais dentro de uma mes1na ordem 
social. 
Assim sendo, a assistência é produto de uma relação conflituosa e, portan-
to, não pode ser definida mecanicamente como um cálculo programático nem 
pode ser entendida como um ato espontâneo de lucidez ou boa-vontade de 
quem está no poder. 
É preciso considerar, e isso é importante, que no processo da sua consti-
tuição e desenvolvimento a assistência social tem sido alvo da participação 
da sociedade através dos tempos, embora nem sempre a sociedade tenha 
conseguido a assistência que defende ou que merece. Na verdade a assistência 
~ocial, no 1ncu ponto de vista, con10 sinônin10 de protcç<""io universal ou 
de direito social, tal como consta na Constituição é aquela política da qual 
se vale a lógica das necessidades sociais para impor limites ao poderio e 
41 
à prepotência da lógica da rentabilidade. Assim sendo, da não tem caráter 
meratnente residual como muitos pensam. A assistência social para mün é 
aquele elemento estrutural do modo de produção capitalista que problematiza, 
por dentro deste modo de produção, a sua tendência para a desigualdade 
e para a injustiça. 
É a assistência social, pois, do meu ponto de vista, que deselitiza e universaliza 
as demais políticas de bem-estar capitalistas já que essas políticas estão sempre 
dominadas pela lógica da rentabilidade. Eu poderia até dizer que 
é a assistência social que fornece o caráter social ao Estado. Quando o Estado 
passou a se interessar pelo aspecto social foi porque ele desenvolveu o seu 
lado assistencial. Da mesma for1na as políticas de bem-estar só se tornaram 
políticas sociais na medida em que elas desenvolveram também o seu compro-
metimento co1n a lógica das necessidades sociais, ou seja, desenvolveram 
o seu lado assistencial. Contudo, a assistência social, por ser produto de 
uma relação contraditória, pode ser capturada pela lógica da rentabilidade 
e submetida a seus desígnios, principalmente quando a população se vê impe-
dida de participar da sua formulação e do controle dessa política. 
Por isso, no meu ponto de vista, é possível vislumbrar dois tipos de 
assistência social: uma strictu sensu, capturada e fortemente dominada pela 
lógica da rentabilidade econômica e, por isso, prejudicada pela sua identifi-
cação com a justiça. 
Tal assistência é uma caricatura dos valores defendidos pelas lógicas das 
necessidades sociais, já que ela não impõe barreiras ao domínio crescente 
da lógica da acumulação sobre a lógica da eqüidade. É o que muitos chamam 
de assistencialismo; é o que prepondera, inclusive no Brasil. 
A outra assistência social lato sensu, é aquela assistência social que per-
passa as demais políticas sociais impondo limites à sua tendência à elitização. 
Assin1, enquanto a primeira assistência social age no limite e por fora 
das políticas de bem-estar, a política de assistência social lato sensu se instala 
no interior dessas políticas, problematizando ou esgaçando a sua tendência 
à elitização com sua proposta de universalização. É, pois, a assistência social 
lato sensu que impede a autonomização da lógica da rentabilidade econômica 
no interior das políticas sociais. 
Suas características: ela é vocacionada para as necessidades sociais, que 
são históricas, necessidades de classe de um conjunto de pessoas. Diferente, 
pois, das necessidades animais que são naturais e constantes, as sociais são 
históricas e foi em cima da questão de necessidades históricas que montan1os 
o nosso Anteprojeto de Lei Orgânica da Assistência Social. 
A assistência social lato sensu também é um meio e não um fim em 
si mesma, porque a sua função básica é a de estender direitos que tendem 
a ficar concentrados no âmbito daqueles que já possuem recursos materiais 
e de poder. Ela é redistributiva e não simplesmente distributiva, porque se 
pauta por um jogo de soma zero, ou seja, aquele jogo em que se tira de 
quem tein para dar a quem não tein, e neste caso ela reivindica transferência 
42 
do topo da pirâmide social para sua base, o que difere de uma política simples-
mente distributiva. Ela é dependente da participação da sociedade da comuni-
dade na sua dinâmica e no seu desenvolvimento, pois sendo a restrição da 
lógica da rentabilidade ou da acumulação, se constitui numa arena de choques 
de intere.sses que não podem ser resolvidos por decretos, portarias, progra1nas. 
Têm de ser resolvidos politica1ncntc. Ela é sistc1nática e contínua; não é 
uma assistência social contingencial e ad hoc. Ela é mesmo uma política 
de assistência social. E neste caso ela direfe frontalmente da política social 
strictu sensu ou da assistência social strictu sensu. Eu sempre conftindo assistên-
cia social com política social - e já digo por que, embora não tenha dito 
no início. Para mitn, assistência social é uma política social, e não um aspecto. 
Ela é uma política social

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