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@medcomat_ Introdução As infecções das vias aéreas superiores (IVAS) são um dos agravos mais corriqueiros em atendimento médico, principalmente no meio pediátrico, mas também com grande importância na população adulta, tanto na atenção primária, como na emergência. Dentre as IVAS, as mais comuns são rinofaringite aguda, sinusite aguda, faringotonsilite e laringite. A faringotonsilite é um grupo de doenças inflamatórias e infecciosas que acometem a faringe, as tonsilas palatinas e as tonsilas faríngeas, sendo um dos principais distúrbios encontrados em ambulatórios de otorrinolaringologia, sendo popularmente conhecidas como “amigdalites” ou “dor de garganta”. As faringotonsilites representam cerca de 15% de todas as consultas médicas de atenção primária. Mais comuns na infância, têm seu pico de incidência no inverno e primavera, podendo variar entre quadros leves e intensos. A etiologia é bastante variada, podendo ser viral, bacteriana ou não infecciosa. A transmissão ocorre por gotículas de saliva e tem período de incubação de cerca de 1 a 4 dias. As infecções de etiologia viral representam 75% dos casos em menores de 3 anos e diminuem após a puberdade. No Brasil, 24% das faringotonsilites em crianças entre 2 e 12 anos são causadas por estrectococo beta-hemolítico do grupo A. Anatomia O anel linfático de Waldeyer é uma estrutura localizada na cavidade oral, sendo composto pelas tonsilas faríngeas (adenoide), tonsilas palatinas (amígdalas) e tonsila lingual, órgãos do tecido linfoide constituídos por linfócitos B e tecido conjuntivo. Apesar das tonsilas terem estrutura e localização anatômica diferentes, elas exercem uma mesma função e tem histologia semelhante. Elas formam um anel na cavidade oral e são responsáveis pela primeira linha de defesa dos tratos digestório e respiratório contra agentes externos. As tonsilas são órgãos linfoides secundários compostos primariamente por linfócitos, localizados na entrada da via aérea. Apresentam função de captação, processamento de antígeno e resposta primária, além de produção de anticorpos, mais especificamente a IgA, principalmente entre os 4 e 10 anos. A involução do tecido linfoide tende a ocorrer após a puberdade. Em relação aos anticorpos, a adenotonsilectomia cursa com redução inicial dos níveis de IgG e IgA séricos principalmente no primeiro mês pós-operatório. Após 3 meses, tais níveis já se restabeleceram. Essa variação não é suficiente para causar imunossupressão no indivíduo. As tonsilas palatinas (também conhecidas como amígdalas) representam o maior grupamento de tecido linfoide da orofaringe. Ficam localizadas lateralmente na orofaringe, entre os pilares tonsilares anterior e posterior, formando a maior parte do anel de Waldeyer. Normalmente restringem-se a orofaringe, porém, em vigência de inflamação, pode alcançar a nasofaringe e levar a obstrução nasal ou atingir a hipofaringe, levando a obstrução de vias aéreas. O nível de obstrução causado pelas tonsilas é avaliado pela classificação de Brodsky, variando entre os graus 0 e 4. Faringotonsilites @medcomat_ A tonsila faríngea (também conhecida como adenóide) é um agrupamento de tecido linfoide localizado na região póstero- superior da nasofaringe. Ela atinge seu desenvolvimento completo em torno do quinto ou sexto ano de vida, através do estímulo de antígenos externos, como vírus e bactérias. O seu aumento pode levar a obstrução nasal e diminuição do fluxo de ar. Após os sete anos, ocorre uma atrofia desta tonsila, que associada ao aumento do diâmetro da nasofaringe, leva a um melhor fluxo de ar na região. Não existe um sistema de classificação amplamente aceito para a descrição de seu tamanho. As tonsilas linguais são uma massa de tecido linfoide localizada de forma desorganizada na base da língua. Quando hipertrofiada, pode se estender para a valécula epiglótica, raramente, podendo levar a obstrução de vias aéreas. O aumento de seu tamanha comumente está associado a refluxo gastro-esofágico. Etiologia Vários vírus, bactérias e fungos podem causar faringotonsilites. Estima-se que mais de 50% de todas os casos de faringotonsilite sejam virais. Antes dos 2 anos as infecções são exclusivamente virais. Entre os vírus, os agentes mais comuns são: rinovírus (20%), coronavírus (5%), adenovírus (5%), herpes simples (4%), influenza (2%). Outros vírus comuns são parainfluenza, Coxsackie, vírus sincicial respiratório e vírus de Epstein-Barr. Dentre as etiologias bacterianas, o estreptococo beta-hemolítico do grupo A (EBHGA) representa cerca de 20-30% dos casos, seguido por hemófilos, moraxela, estafilococo dourado e pneumococo. A faringite aguda causada por EBHGA é de grande importância para a saúde pública devido a sua alta frequência e também pelo potencial de causar sequelas como febre reumática e glomerulonefrite difusa aguda pós-estreptocócica. O Streptococcus viridans é uma bactéria comum da microbiota da orofaringe, sendo a mais encontrada em indivíduos saudáveis, sendo um importante agente para inibição de crescimento de bactérias patogênicas na região. Quadro clínico As faringotonsilites são clinicamente classificadas em: 1. Amigdalite aguda: o quadro é de início rápido e sintomas evidentes; 2. Amigdalite recorrente: segundo a American Academy of Otolaryngology – Head and Neck Surgery, amigdalite recorrente é definida como 7 episódios de amigdalite em 1 ano, 5 episódios por ano em 2 anos consecutivos ou 3 episódios por ano em 3 anos consecutivos; 3. Amigdalite crônica: o quadro é de dor faríngea persistente, frequentemente associada a cálculos, ou cáseos, em tonsilas; 4. Hiperplasia amigdaliana: ocorre aumento volumétrico de amígdalas por hiperplasia do órgão, com obstrução nasal, roncos e apneia. Faringo. Virais As amigdalites de origem viral correspondem a 75% das faringoamigdalites agudas. Os principais agentes são: rinovírus (20%); coronavírus (5%); adenovírus (5%); herpes simples (4%); influenza (2%); parainfluenza (2%). Vírus menos comuns são Coxsackievirus, citomegalovírus, vírus Epstein-Barr (EBV) e HIV. A faringoamigdalite causada pelo EBV apresenta peculiaridades que serão detalhadas adiante. Quanto ao quadro clínico, os sintomas são leves. Os principais são dor de garganta e disfagia, podendo ocorrer mialgia, febre baixa, espirros e coriza hialina. Há eritema da mucosa faríngea e edema de tonsilas. Não se observa exsudato. E o tratamento consiste em terapias de suporte: analgésicos, anti-inflamatórios, hidratação e repouso. @medcomat_ As faringotonsilites de etiologia viral apresentam um quadro clínico de leve intensidade com dor faríngea, disfagia, tosse, febre baixa, coriza hialina, espirros e mialgia. Ao exame físico se observa hiperemia e edema de faringe e tonsilas palatinas, podendo ter, raramente, presença de exsudato. Linfadenomegalia cervical também é comum. Costuma ser uma infecção autolimitada com resolução espontânea em após cerca de 7 dias. Mononucleose Infecciosa A mononucleose infecciosa (MNI) apresenta caráter sistêmico e acomete, com maior frequência, adolescentes e adultos jovens. Seu agente é o vírus Epstein-Barr (EBV), da família Herpesviridae. Diversos agentes cursam com sintomas de MNI, as chamadas síndromes mononucleose-like, sendo os principais agentes e doenças citomegalovírus, toxoplasmose aguda, HIV agudo,Trypanosoma cruzi, herpes-vírus, adenovírus e Treponema pallidum – sífilis primária. Quadro clínico: tríade clássica de febre, dor faríngea e adenomegalia cervical. A tonsila pode estar hiperemiada, bem como recoberta por secreção purulenta ou pseudomembranosa. Os sinais sistêmicos são petéquias em palato (40%), icterícia (15%), hepatomegalia(10%) e esplenomegalia (50%). Esse diagnóstico deve ser considerado em pacientes cujos sintomas persistem mesmo durante antibioticoterapia. Geralmente os sintomas persistem por até 4 semanas; Hipertrofia amigdaliana + exsudato e pseudomemranas em criptas (poupam a úvula). Diagnóstico: baseia-se na urgência do quadro clínico e no hemograma. As sorologias levam dias para ficar prontas e não devem retardar o início do tratamento; Diagnóstico laboratorial: hemograma que evidencia linfocitose – linfócitos > 50% da população de leucócitos – com atipia linfocitária –10% ou mais dos leucócitos totais – e elevação de TGO e TGP. Sorologias: a) IgM pode ser detectado desde o início do quadro clínico, atingindo seu pico em 4 a 6 semanas. IgG pode apresentar-se permanentemente elevado; b) Teste de Paul-Bunnell-Davidsohn: positivo após 20 dias de doença, com alta sensibilidade e especificidade. Tratamento: baseia-se em terapias de suporte como hidratação e analgésicos. O uso de corticoides permanece controverso. Rash cutâneo pode ocorrer com o uso de penicilina-ampicilina, muitas vezes prescrito ao se considerar o quadro como de etiologia bacteriana; Complicações: na grande maioria dos casos, a mononucleose é autolimitada, no entanto algumas possíveis complicações são: a) Esplenomegalia: ocorre em cerca de 75% dos casos e regride espontaneamente; b) Rotura esplênica é um distúrbio raro que ocorre em casos mais intensos e deve ser abordado em caráter de urgência, com exérese do órgão; c) Anemia leve que, em geral, regride em 2 a 3 semanas; d) Distúrbio de ritmo cardíaco; e) Encefalite, meningite; f) Surdez súbita; g) Síndrome de Guillain-Barré. Patologias associadas: @medcomat_ a) Esclerose Múltipla (EM): recentes estudos mostram associação de EBV com EM. A infecção tardia pelo vírus parece ser um fator de risco para EM; b) Linfoma de Hodgkin: forte associação com infecção pelo EBV, principalmente em crianças; c) Carcinoma de rinofaringe: há também associação fisiopatológica entre EBV e esse carcinoma. Herpangina Agente Etiológico: Coxsakie A (enterovírus) Transmissão fecal-oral Crianças 1-7 anos Febre alta+ anorexia + odinofagia O seu principal sinal é a presença de vesículas nas tonsilas, pilares anteriores, palato e faringe posterior, que evoluem para úlceras esbranquiçadas circundadas por um halo eritematoso. É acompanhada de febre, disfagia, vômitos, cefaleia e polimicroadenopatia cervical. Também tem resolução espontânea em cerca de 10 dias. Tratamento: Suporte Doença mão-pé-boca Coxsackie A16 (enterovírus) Transmissão fecal-oral Crianças 1-7 anos Febre Alta + Anorexia + Odinofagia + Disfagia Vesículas disseminadas na cavidade oral Lesões cutâneas em palmas das mãos e plantas dos pés F. Bacterianas As amigdalites de etiologia bacteriana acometem de 20 a 40% dos indivíduos. Agentes etiológicos: Streptococcus pyogenes – estreptococo beta-hemolítico do grupo A – ocorre em 30% das faringotonsilites agudas em crianças em idade escolar e adolescentes. Mycoplasma pneumoniae ocorre entre os 9 e 20 anos, embora alguns autores discutam sua importância. Outras bactérias, como Staphylococcus aureus, Haemophilus sp. E Moraxella catarrhalis são menos comuns e em geral produzem betalactamase. Faringotonsilite estreptocócica Streptococcus pyogenes – estreptococo beta-hemolítico do grupo A. (principal etiologia) Mas também pode ser causada pelo streptococcus pyogenes grupos C e D. Reativação Staphylococcus aureus, Haemophilus sp. E Moraxella catarrhalis. Epidemiologia: a faringite aguda causada pelo estreptococo do grupo A tem importância em Saúde Pública devido à sua alta frequência e suas potenciais complicações, como febre reumática eglomerulonefrite difusa aguda; Causa mais comum: 5-15 anos 25% da população é portadora assintomática da SGA. @medcomat_ Quadro clínico: ocorre após os 3 anos, com pico entre 5 e 10 anos. A sintomatologia é composta por dor faríngea, odinofagia, febre acima de 38,5 °C, cefaleia, calafrios, dor abdominal. Pode haver toxemia e prostração, principalmente em adultos. O exame físico mostra hiperemia, aumento de tonsilas e exsudato purulento, além de adenomegalia em cadeia jugulodigástrica. Diagnóstico: é basicamente clínico. Entre os testes rápidos para a detecção do Streptococcus, o strepto test, feito por meio da coleta de secreção de orofaringe, permite identificar a presença de antígenos do Streptococcus; quando feito idealmente, tem uma sensibilidade de 95% e especificidade de 98% e é amplamente utilizado na prática clínica. Nos pacientes com grande suspeita clínica e resultado do teste rápido negativo, a cultura pode ser utilizada para elucidação diagnóstica, porém não se deve retardar o início da antibioticoterapia. O hemograma geralmente se apresenta normal ou com leucocitose com desvio à esquerda. Os exames sorológicos são de pequena utilidade, uma vez que a elevação dos títulos de anticorpos – antiestreptolisina O (ASLO), anti-hialuronidase, anti-DNAse B, antiestreptoquinase – ocorre 2 ou 3 semanas após a fase aguda. Tratamento: seguindo as orientações da Anvisa, o tratamento deve ser feito como segue: a) Primeira escolha é a penicilina G benzatina em dose única para adultos e crianças; Dose única 600.000 UI < 20kg/ 1.200.000 UI > 20kg + suporte. b) Medicações orais: Amoxicilina por 10 dias.( 40mg/kg/dia). Os macrolídeos – eritromicina, azitromicina – ficam limitados a casos de alergia a penicilina; Em caso de suspeita de germes produtores de betalactamase, a amoxicilina pode ser associada ao ácido clavulânico. Também se considera axetilcefuroxima ou cefaclor como opções; Em casos de resistência ou impossibilidade de administração oral, tratamento parenteral pode ser feito com ceftriaxona ou clindamicina. Quando o tratamento é iniciado prontamente, encurtam-se o período de transmissão, o tempo dos sintomas e a incidência de complicações supurativas. Adiar o tratamento até 9 dias após o início da faringite parece não aumentar o risco de febre reumática. Complicações As complicações se dividem em: Complicações não supurativas: a) Escarlatina: decorre da produção de endotoxinas pelo estreptococo. O quadro inclui rash cutâneo finamente papular e eritematoso, conferindo à pele um aspecto áspero. Observam-se febre, eritema de amígdalas e orofaringe. O sinal de Filatov consiste em palidez perioral, enquanto o sinal de Pastia se caracteriza pelo surgimento de hiperpigmentação em linhas de flexão. A língua “em framboesa” também é característica. O diagnóstico é clínico e o tratamento é feito com penicilina G intravenosa. b) Febre reumática: doença endêmica nos países em desenvolvimento. O pico de incidência ocorre entre 5 e 15 anos e os sinais e sintomas se manifestam de 2 a 3 semanas após um episódio de faringite estreptocócica. Os critérios de Jones modificados podem ser usados: quando há 2 critérios maiores ou 1 critério maior e 2 menores associados à evidência de infecção estreptocócica recente. Cardite e valvulite podem ser autolimitadas ou provocar degeneração valvar progressiva. Os critérios de Jones para o diagnóstico de febre reumática são: Evidências de infecção: Escarlatina recente; Presença de anticorpos (ASLO, antiestreptoquinase, anti-DNAse B); Cultura positiva. c) Glomerulonefrite: ocorre após infecção faríngea ou de pele, e a fisiopatologia não é totalmente elucidada. O paciente apresenta síndrome nefrítica 1 a 2 semanas após infecção de orofaringe. No tratamento, não há evidência de que a administração de penicilina diminua a taxa de ataque ou altere a história natural da glomerulonefrite; em casos mais intensos, indicam-se diuréticos. Restrição de sódio e líquidos deveser indicada; @medcomat_ d) Síndrome do choque tóxico estreptocócico: ocorre após infecção ou colonização estreptocócica de qualquer sítio Compreende hipotensão associada a ao menos 2 dos seguintes fatores: insuficiência renal, coagulopatia, anormalidades de função hepática, síndrome da angústia respiratória do adulto, necrose tecidual extensa e rash eritematomacular. e) Pandas Complicações supurativas: compreendem os abscessos, que geralmente se iniciam no espaço periamigdaliano – cápsula fibrosa entre a musculatura do palato mole e as amígdalas – e podem se estender para outros espaços cervicais profundos, principalmente o espaço parafaríngeo. a) Etiologia: em geral, as culturas são multimicrobianas. Os principais agentes encontrados são: anaeróbios, estreptococos beta- hemolíticos do grupo A, estafilococos, pneumococos e Haemophilus; b) Quadro clínico: os pacientes apresentam-se tipicamente com história de amigdalite aguda com agravamento do desconforto faríngeo unilateral; ocorrem halitose, odinofagia, disfagia e uma voz “abafada”. A presença de trismo, limitação na capacidade de abrir a cavidade oral, é fortemente sugestiva de abscesso; c) Exame físico: observa-se, principalmente, abaulamento anteromedial de pilar amigdaliano associado a rechaçamento lateral da úvula e trismo; d) Diagnóstico: baseia-se no quadro descrito; a avaliação com TC com contraste permite quantificar o volume e a extensão do quadro. A TC também permite avaliar a extensão do abscesso para os demais espaços cervicais; e) Tratamento: inicialmente, deve-se realizar a drenagem do abscesso, mantendo um pertuito aberto para manter a drenagem nos dias seguintes. Segundo as orientações da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia, a amigdalectomia não é recomendada. Uma vez drenado, deve-se iniciar antibioticoterapia, podendo-se utilizar amoxicilina + ácido clavulânico, ceftriaxona ou clindamicina. A corticoterapia também deve ser realizada. Na suspeita de abscesso periamigdaliano, deve-se realizar tomografia de pescoço para confirmar o quadro. E, em pacientes com flegmão, sem abscesso formado, deve-se considerar a ampliação do espectro do antibiótico, introduzindo-se amoxicilina + ácido clavulânico, associados a corticoterapia. Difteria Definição: a difteria é uma doença infecciosa agravada pela toxina diftérica, produzida por seu agente infeccioso; Etiologia: infecção pelo Corynebacterium diphtheriae, Gram positivo anaeróbio facultativo, produtor de endotoxina, responsável pelos fenômenos locais e sistêmicos da doença. Acomete, principalmente, crianças entre o primeiro e o sétimo anos de vida e hoje em dia é rara devido à vacinação antidiftérica; Quadro clínico: dor faríngea de início insidioso, febre baixa e prostração, odinofagia. Ao exame, observam-se pseudomembranas brancoacinzentadas sobre as amígdalas e invadindo os pilares anteriores até a úvula. As falsas membranas aderem à mucosa, resistem ao descolamento – deixam leito sangrante ao se destacarem – e não se dissociam na água. Há linfonodomegalia cervical, e nos casos mais graves, há intenso aumento do pescoço – pescoço taurino –, por comprometimento dos gânglios linfáticos dessa área; Complicações: miocardite, neurites periféricas, nefropatia tóxica, insuficiência renal aguda;encefalopatia. Diagnóstico: é confirmado pelo exame bacterioscópico direto e pela cultura de exsudatos faríngeos ou até de fragmento de pseudomembrana em meio de Klebs-Loeffler; Tratamento: internação e soroterapia específica: soro antidiftérico, intramuscular ou subcutâneo. Penicilina ou eritromicina devem ser utilizadas para assegurar a erradicação do foco infeccioso. Os comunicantes de um caso índice de difteria não vacinados, inadequadamente vacinados, vacinados há mais de 5 anos ou com situação vacinal desconhecida devem receber a vacina antidiftérica e ser submetidos à coleta de material de orofaringe @medcomat_ para cultura. No caso de serem portadores do bacilo, está indicada quimioprofilaxia com eritromicina. A difteria é uma doença de notificação compulsória e de investigação imediata e obrigatória. Angina de plaut-vicent Agente etiológico: o bacilo fusiforme Fusobacterium plaut- vincenti e o espirilo Spirochaeta dentium são saprófitos normais da cavidade bucal e adquirem poder patogênico quando em simbiose. Os fatores de risco são má higiene bucal e mau estado dos dentes e das gengivas. Acomete, principalmente, adultos jovens e adolescentes em estado nutricional inadequado. Quadro clínico: odinofagia importante unilateral e disfagia intensa, sem febre, com queda do estado geral. À oroscopia, observam-se ulceração da amígdala e pseudomembrana, desprendida e friável, sem tendência a estender-se, mas acarretando fenômenos de necrose e eliminação de exsudato de odor fétido.. Frequentemente acomete as gengivas e região periodontal concomitantemente. Gengivoestomatite necrosante Diagnóstico: quadro clínico com acometimento unilateral das lesões. O exame bacteriológico auxilia a evidenciar a natureza fusoespiralar do agente; Tratamento: penicilina por via parenteral ou metronidazol, gargarejos com soluções antissépticas e sintomáticos. A angina de Plaut-Vincent tem maior ocorrência em imunossuprimidos e pacientes com dentes em mau estado. Angina luética Treponema Pallidum Sífilis Lesão tumoral ulcerada unilateral. Pouca ou nehuma dor. Boca é o local extragenital + acometido pela sífilis Tonsilas, palato mole, gengiva. Diagnóstico: microscopia de campo escuro, VDRL, FTA-ABS. Tratamento: Penicilina benzatina -Dose única 2.400.000 UI @medcomat_ Faringite herpética Agente etiológico: HSV subtipos 1 e 2; Quadro clínico: a infecção primária é geralmente gengivoestomatite, mas pode se manifestar como faringite aguda ou mono-like. O quadro é mais comum nos primeiros anos de vida. Iniciase um quadro sistêmico e há evolução com lesões vesiculosas na orofaringe e nas tonsilas. Pode ser encontrada linfonodomegalia cervical e submentoniana. O quadro regride após 7 a 10 dias do pico das lesões. O vírus pode permanecer latente em gânglios nervosos sensitivos, voltando em situações de estresse; Complicações: as possíveis complicações acontecem em casos de infecção disseminada, comprometendo o sistema nervoso central ou os dermátomos; Diagnóstico: na maioria das vezes é clínico. Avaliação laboratorial pode ser feita por meio da cultura viral, com observação de células “balão” e por imunofluorescência contra as células infectadas. Outro método é o esfregaço de Tzanck, porém este não distingue entre HSV 1 ou 2. A PCR é utilizada em casos específicos, principalmente para diferenciação dos tipos virais. Por fim, a conversão sorológica também tem seu valor diagnóstico; Tratamento: baseia-se em sintomáticos, podendo utilizar aciclovir por 7 a 10 dias. Hiperplasia adenotonsilar A hiperplasia das tonsilas faríngeas, adenoide, e ou palatinas, amígdalas, é um distúrbio de etiologia ainda não esclarecida que acomete cerca de 5% das crianças de 2 a 10 anos. A hiperplasia adenoidiana tem, como principal sintoma, roncos noturnos com períodos de apneia. Clinicamente, os pacientes apresentam obstrução nasal persistente, respiração bucal, roncos com períodos de apneia noturna, bruxismo, sonolência diurna, diminuição da velocidade de crescimento e do ganho de peso. A cronicidade da hiperplasia, e principalmente da respiração oral, gera consequências descritas a seguir: Ao exame físico, observa-se aumento das tonsilas, sinais de hipotonia da musculatura do terço inferior da face, respiração oral persistente, projeção anterior da cabeça e voz anasalada. Os testes complementares mais utilizados para diagnóstico são: 1. Radiografia decavum em perfil: observa-se a redução do espaço da rinofaringe por aumento da adenoide. 2. Nasofibrolaringoscopia: permite a visualização direta da adenoide e avaliação do percentil aproximado de obstrução do espaço faríngeo. A avaliação da apneia noturna é basicamente clínica, por meio do questionamento aos pais sobre períodos de parada respiratória, salivação noturna, sono em posições específicas e principalmente de roncos. A polissonografia é pouco utilizada em crianças. O tratamento, em casos menos severos, com roncos e obstrução nasais intermitentes ou leves, pode ser feito com terapia clínica, com corticoterapia tópica nasal (budesonida, fluticasona, mometasona) associada a inibidores dos receptores de leucotrieno (montelucaste). @medcomat_ O tratamento cirúrgico, adenoidectomia ou adenoamigdalectomia, deve ser indicado quando há resistência ao tratamento clínico, obstrução do cavum maior do que 70%, presença de deformidade craniofacial, apneia do sono moderada a grave e otite média secretora associada. Tonsilites de Repetição As amigdalites de repetição também são bastante frequentes na faixa etária pediátrica. A etiologia das crises repetitivas não está totalmente elucidada, porém acredita-se que haja combinação de fatores imunológicos e de resistência bacteriana. O diagnóstico é clínico com base na história do paciente e no exame físico. Vale ressaltar que, apesar de geralmente associada, a hiperplasia amigdaliana nem sempre está presente, pois as infecções podem acontecer em tonsilas de tamanho normal. O tratamento durante os quadros infecciosos deve ser feito com antibioticoterapia. Segundo o consenso da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia, o tratamento cirúrgico deverá ser considerado quando ocorrerem: Cada episódio deve apresentar pelo menos uma das seguintes características: Diagnóstico O diagnóstico da faringotonsilite é basicamente clínico, baseado na história clínica e nos achados de exame físico. No entanto, os achados na doença estreptocócica e na não- estreptocócica são parecidos, dificultando a identificação clara da etiologia. Quando de há dúvida da etiologia, alguns testes podem ser realizados. O exame padrão-ouro para confirmação de EBHGA é cultura de orofaringe, porém leva entre 18 e 48 horas para se obter o resultado, o que atrasa o inicio do tratamento. Adiar o tratamento aumenta a incidência de complicações supurativas, mas não aumenta o risco de febre reumática, desde que a antibioticoterapia seja iniciada em até 9 dias após o primeiro sintoma. Além da cultura, existe a possibilidade de realizar teste rápido, com método de ELISA, que apresenta resultado em cerca de 15 minutos, com sensibilidade de 30 a 90% e especificidade de 95%. Esse teste tem alto custo e não é amplamente utilizado no Brasil Tratamento Em infecções virais, o tratamento não é especifico, sendo baseado em sintomáticos, para alívio da dor. Utiliza-se, então, analgésicos simples e anti-inflamatórios. Com exceção das infecções por estreptococo beta-hemolítico do grupo A, as faringotonsilites bacterianas também não precisam de tratamento antibiótico específico, apresentam curso autolimitado, com resolução espontânea. Então, o uso de sintomáticos para controle da dor também é indicado. Nesses casos, está indicado repouso no período febril, estímulo a ingesta hídrica e alimentos pastosos, analgésico e antitérmico como dipirona ou paracetamol e irrigação da faringe com solução salina isotônica morna. Havendo diagnóstico de infecção por EBHGA faz-se necessário o uso de antimicrobiano para encurtar a fase aguda e diminuir o risco de infecção. As drogas de primeira escolha são penicilina V oral na dose de 250 mg, 4X/ dia ou 500 mg, 2X/dia, por 10 dias em adolescentes e adultos ou amoxicilina oral na dose de 50 mg/Kg/dia, 1X/dia (máximo de 1000 mg/dia) ou 25 mg/Kg/dose (máximo de 500 mg/dose), 2X/dia , por 10 dias. Existe também a opção de penicilina G benzatina intramuscular na dose de 1.200.000 UI em adultos, dose única. A exérese cirúrgica da tonsila palatina pode ser indicada em algumas situações, como 7 ou mais episódios de faringotonsilite em 1 ano ou 5 ou mais episódios por ano em 2 anos consecutivos. Cada episódio dever ter temperatura axilar maior que 37,8, linfadenomegalia cervical maior que 2 cm, exsudato amigdaliano ou cultura positiva para EBHGA e tratamento antimicrobiano adequado. A amigdalectomia também é indicada caso haja abscesso periamigdaliano recorrente.
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