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1 
 
Pentateuco 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
Pentateuco 
 
 
IBETEL 
Site: www.ibetel.com.br 
E-mail: ibetel@ibetel.com.br 
Telefax: (11) 4743.1964 - Fone: (11) 4743.1826 
R. Gal. Fco. Glicério, 1412 – Centro – Suzano/SP – Cep 08674-002 
 
 
3 
 
Pentateuco 
 
 
 
(Org.) Profº. Pr. VICENTE PAULA LEITE 
 
 
Pentateuco 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
Apresentação 
 
Estávamos em um culto de doutrina, numa sexta-feira destas quentes do 
verão daqui de São Paulo e a congregação lotada até pelos corredores 
externos. Ouvíamos atentamente o ensino doutrinário ministrado pelo Pastor 
Vicente Paula Leite, quando do céu me veio uma mensagem profética e o 
Espírito me disse “fale com o pastor Vicente no final do culto”. Falei: - Jesus 
te chama para uma grande obra de ensino teológico para revolucionar a 
apresentação e metodologia empregada no desenvolvimento da Educação 
Cristã. 
 
Hoje com imensurável alegria, vejo esta profecia cumprida e o IBETEL 
transbordando como uma fonte que aciona apressuradamente com eficácia o 
processo da educação teológico-cristã. 
 
A experiência acumulada do IBETEL nessa década de ensino teológico 
transforma hoje suas apostilas, produtos de intensas pesquisas e eloqüente 
redação, em noites não dormidas, em livros didáticos da literatura cristã com 
uma preciosíssima contribuição ao pensamento cristão hodierno e aplicação 
didática produtiva. Esta correção didática usando uma metodologia eficaz que 
aponta as veredas que leva ao único caminho, a saber, o SENHOR e 
Salvador Jesus Cristo, chega as nossas mãos com os aromas do nardo, da 
mirra, dos aloés, da qual você pode fazer uso de irrefutável valor pedagógico-
prático para a revolução proposta na gênese de todo trabalho. 
 
E com certeza debaixo das mãos poderosas do SENHOR ser um motor 
propulsor permanentemente do mandamento bíblico: “Conheçamos e 
prossigamos em conhecer ao Senhor...”. Por certo esta semente frutificará na 
terra boa do seu coração para alcançar preciosas almas compradas pelo 
Senhor Jesus. 
 
 
Dr. Messias José da Silva 
In memorian 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Pentateuco 
 
Prefácio 
 
Este Livro do Pentateuco, parte de uma série que compõe a grade curricular 
do curso em Teologia do IBETEL, se propõe a ser um instrumento de 
pesquisa e estudo. Embora de forma concisa, objetiva fornecer informações 
introdutórias acerca dos seguintes pontos: Pentateuco; Livro de Gênesis; 
Livro de Êxodo; Livro de Levítico; Livro de Números e Livro de Deuteronômio. 
 
Esta obra teológica destina-se a pastores, evangelistas, pregadores, 
professores da escola bíblica dominical, obreiros, cristãos em geral e aos 
alunos do Curso em Teologia do IBETEL, podendo, outrossim, ser utilizado 
com grande préstimo por pessoas interessadas numa introdução ao 
Pentateuco. 
 
Finalmente, exprimo meu reconhecimento e gratidão aos professores que 
participaram de minha formação, que me expuseram a teologia bíblica 
enquanto discípulo e aos meus alunos que contribuíram estimulando debates 
e pesquisas. Não posso deixar de agradecer também àqueles que 
executaram serviços de digitação e tarefas congêneres, colaborando, assim, 
para a concretização desta obra. 
 
 
 
Profº. Pr. Vicente Leite 
Diretor Presidente IBETEL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
 
Declaração de fé 
 
O que é doutrina? À luz da Bíblia, doutrina é o ensino bíblico normativo, 
terminante, final, derivado das Sagradas Escrituras, como regra de fé e 
prática de vida, para a igreja, para seus membros. Ela é vista na Bíblia como 
expressão prática na vida do crente. As doutrinas da Palavra de Deus são 
santas, divinas, universais e imutáveis. 
 
A palavra "doutrina" vem do latim doctrina, que significa "ensino" ou 
"instrução”, e se refere às crenças de um grupo particular de crentes ou 
mesmo de partidários. O Velho Testamento usa a palavra leqach, que vem do 
verbo laqach, "receber". O sentido primário é "o recebido". Aparece com o 
sentido de "doutrina" ou "ensinamento", como lemos "Goteje a minha doutrina 
como a chuva" (Dt 32.2); "A minha doutrina épura" (Jó 11.4); "Pois vos dou 
boa doutrina; não deixeis a minha lei" (Pv 4.2). Com o passar do tempo a 
palavra veio significar o ensino de Moisés que se encontra no Pentateuco. 
 
As palavras gregas para "doutrina", no Novo Testamento, são didaque e 
didaskalia, que significam "ensino". Essas palavras transmitem a idéia tanto 
do ato de ensinar como da substância do ensino. A primeira aparece para 
indicar os ensinos gerais de Jesus: "E aconteceu que, concluindo Jesus este 
discurso, a multidão se admirou da sua doutrina" (Mt 7.28). "Jesus respondeu 
e disse-lhes: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. Se 
alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é 
de Deus ou se eu falo de mim mesmo” (Jo 7.16,17). 
 
A mesma palavra aparece para "doutrina dos apóstolos" (At 2.42), que 
parece ser uma indicação das crenças dos apóstolos. A segunda tem o 
mesmo sentido e aparece em Mateus 15.9 e Marcos 7.7. É, portanto, nas 
epístolas pastorais que elas aparecem com o sentido mais rígido de crenças 
ou corpo doutrinal da igreja - a Teologia propriamente dita. 
 
O que é Credo? Credo vem do latim e significa "creio", e desde muito cedo na 
história do Cristianismo é mais que um conjunto de crenças. É uma confissão 
de fé. Ele tem como objetivo sintetizar as doutrinas essenciais do cristianismo 
para facilitar as confissões públicas, conservar a doutrina contra as heresias 
e manter a unidade doutrinária. Encontramos no Novo Testamento algumas 
declarações rudimentares de confissões fé: A confissão de Natanael (Jo 
1.50); a confissão de Pedro (Mt 16.16; Jo 6.68); a confissão de Tomé (Jo 
20.28); a confissão do Eunuco (At 8.37); e artigos elementares de fé (Hb 6.1-
2). 
 
7 
 
Pentateuco 
 
O IBETEL crê: 
 
O IBETEL professa fé pentecostal alicerçada fundamentalmente no que se 
segue: 
 
Cremos em um só Deus eternamente subsistente em três pessoas: o Pai, o 
Filho e o Espírito Santo (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29). 
 
Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa 
para a vida e o caráter cristão (2Tm 3.14-17). 
 
No nascimento virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua 
ressurreição corporal dentre os mortos e sua ascensão vitoriosa aos céus (Is 
7.14; Rm 8.34; At 1.9). 
 
Na pecaminosidade do homem que o destituiu da glória de Deus, e que 
somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus 
Cristo é que o pode restaurar a Deus (Rm 3.23; At 3.19). 
 
Na necessidade absoluta no novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder 
atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno 
do reino dos céus (Jo 3.3-8). 
 
No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna 
justificação da alma recebidos gratuitamente na fé no sacrifício efetuado por 
Jesus Cristo em nosso favor (At 10.43; Rm 10.13; 3.24-26; Hb 7.25; 5.9). 
 
No batismo bíblico efetuado por imersão do corpo inteiro uma só vez em 
águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o 
Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6; Cl 2.12). 
 
Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a 
obra expiatória e redentora de Jesus no Calvário, através do poder 
regenerador, inspirador e santificador do Espírito Santo, que nos capacita a 
viver como fiéis testemunhas do poder de Jesus Cristo (Hb 9.14; 1Pe 1.15). 
 
No batismo bíblico com o Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a 
intercessão de Cristo, com a evidência inicial de falar em outras línguas, 
conforme a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46; 19.1-7). 
 
Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja 
para sua edificação conforme a sua soberana vontade (1Co 12.1-12). 
 
 
8 
 
 
 
Na segunda vinda premilenar de Cristo em duas fases distintas. Primeira - 
invisível ao mundo, para arrebatar a sua Igreja fiel da terra, antes da grande 
tribulação; Segunda- visível e corporal, com sua Igreja glorificada, para reinar 
sobre o mundo durante mil anos (1Ts 4.16.17; 1Co 15.51-54; Ap 20.4; Zc 
14.5; Jd 14). 
 
Que todos os cristãos comparecerão ante ao tribunal de Cristo para receber a 
recompensa dos seus feitos em favor da causa de Cristo, na terra (2Co 5.10). 
 
No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis, (Ap 
20.11-15). 
 
E na vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis e de tristeza e tormento 
eterno para os infiéis (Mt 25.46). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
Pentateuco 
 
Sumário 
 
Apresentação 
Prefácio 
Declaração de fé 
 
CAPÍTULO 1 
Pentateuco 
1.1. Introdução ao Estudo da Bíblia 
1.2. Introdução ao Estudo do Pentateuco 
1.2.1. O termo 
1.2.2. Autoria 
1.2.3. Teoria documentária da Alta Crítica 
1.2.4. Ambiente do mundo bíblico 
 
CAPÍTULO 2 
Livro de Gênesis 
2.1. O título do livro 
2.2. A autoria 
2.3. Data e ocasião 
2.4. Dificuldades de interpretação 
2.5. Características e temas 
2.6. Estudos no Livro de Gênesis 
2.6.1. A Criação 
2.6.2. A Imagem de Deus 
2.6.3. A Queda (Gn 3.6) 
2.6.4. O Dilúvio 
2.6.5. A raça humana começa novamente 
2.6.6. A torre de Babel 
2.6.7. A aliança da Graça de Deus 
2.6.8. O concerto de Deus com Abraão, Isaque e Jacó 
 
CAPÍTULO 3 
Livro de Êxodo 
3.1. Autor 
3.2. Data e ocasião 
3.3. Dificuldades de interpretação 
3.4. Características e temas 
3.5. Estudos no livro de Êxodo 
3.5.1. “Sou o que Sou”: A auto-revelação de Deus (Êx 3.15) 
3.5.2. A Páscoa 
3.5.3. A Lei do Antigo Testamento (Êx 20.1, 2) 
3.5.4. Os Dez Mandamentos (20.1, 2) 
3.5.5. O Tabernáculo e suas peças 
3.5.6. O Sumo Sacerdote e sua Indumentária 
 
10 
 
 
 
CAPÍTULO 4 
Livro de Levítico 
4.1. O título e destinatário do livro 
4.2. Autoria do livro 
4.3. Lugar e ocasião 
4.4. Características e temas 
4.5. Estudos no livro de Levítico 
4.5.1. A Presença Divina 
4.5.2. Santidade 
4.5.3. Expiação através do Sacrifício 
4.5.4. O Dia da Expiação 
4.6. Os Sacrifícios Levíticos 
4.6.1. Ofertas 
4.6.2. Holocausto 
4.6.3. Oferta de manjares 
4.6.4. Sacrifício pacífico 
4.6.5. Por expiação do pecado 
4.6.6. A oferta pela culpa 
4.6.7. As festas solenes ao Senhor (Cap. 16, 23 e 25) 
 
CAPÍTULO 5 
Livro de Números 
5.1. Data e Momento do Livro 
5.2. A autoria do livro 
5.3. Características principais de Números 
5.4. Números e seu cumprimento no Novo Testamento 
5.5. Tipos de ilustração de Jesus 
5.5.1. O Nazireu 
5.5.2. A Fita Azul 
5.5.3. A Vara Florescente de Arão 
5.5.4. A Novilha Vermelha 
5.5.5. As Serpentes Abrasadoras 
5.5.6. As Cidades de Refúgio 
5.6. Estudos no Livro de Números 
5.6.1. O recenseamento militar (1.1-54) 
5.7. A Lei dos ciúmes do marido contra sua mulher (5.11-31) 
5.7.1. A causa dos ciúmes (5.11-15) 
5.7.2. Provas do crime (5.16-31) 
5.8. O Voto dos Nazireus (6.1-21) 
5.8.1. Condições para o Voto do Nazireu (6.1-8) 
5.8.2. Penas destinadas às infrações involuntárias (6.9-12) 
5.8.3. Como finda o voto do Nazireu (6.13-21) 
5.9. A Coluna de Nuvem e de Fogo (9.15-23) 
5.10. A Revolta de Coré, Datã e Abirã (16.1-50) 
5.11. Balaão (Cap. 22-25) 
5.11.1. Balaão vacila (Cap. 22) 
5.11.2. As profecias de Balaão (Cap. 23 e 24) 
11 
 
Pentateuco 
 
5.11.3. O ensino de Balaão (Cap. 25) 
5.11.4. Lições práticas 
 
CAPÍTULO 6 
Livro de Deuteronômio 
6.1. Título e fundo histórico 
6.2. Data e ocasião 
6.3. Autoria do livro 
6.4. Propósito 
6.5. Características e temas 
6.6. Importância de Deuteronômio 
6.7. Quatro fatos principais caracterizam Deuteronômio 
6.8. O livro de Deuteronômio e seu cumprimento no Novo Testamento 
6.9. Estudos no livro de Deuteronômio 
6.9.1. O concerto de Deus com os Israelitas 
6.9.2. O concerto renovado nas planícies de Moabe 
6.9.3. Os três propósitos da Lei (Dt 13.10) 
6.9.4. Profetas (Dt 18.18) 
6.9.5. Deuteronômio Demônios (Dt 32.17) 
6.9.6. Shemá e a Trindade 
6.9.7. Os Dízimos (14.22-29) 
6.9.8. Cidades de Refúgio (19.1-13) 
6.9.9. A despedida de Moisés (32.44-33.29) 
 
Referências 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
 
 
Capítulo 1 
 
Pentateuco 
 
1.1. Introdução ao Estudo da Bíblia 
 
A prova concludente do amor divino encontra-se no fato de que Deus se 
revelou ao homem, e esta revelação ficou registrada na Bíblia. Nascida no 
Oriente e revestida da linguagem, do simbolismo e das formas de pensar 
tipicamente orientais, a Bíblia tem, não obstante, uma mensagem para a 
humanidade toda, qualquer que seja a raça, cultura ou capacidade da 
pessoa. Contrasta com os livros de outras religiões porque não narra uma 
manifestação divina de um só homem, mas uma revelação progressiva 
arraigada na longa história de um povo. Deus revelou-se em determinados 
momentos da história humana. Diz C. O. Gillis: “Não se pode entender a 
verdadeira religião... sem entender-se o fundo histórico por via do qual nos 
chegaram estas verdades espirituais”. 
 
A Bíblia é uma biblioteca de 66 livros escritos por 40 autores num período de 
1500 anos; não obstante, nela se desenvolve um único tema que une todas 
as partes, a redenção do homem. O Antigo Testamento foi escrito na maior 
parte em hebraico (algumas passagens curtas em aramaico). 
Aproximadamente 100 anos antes da era cristã todo a Antigo Testamento foi 
traduzido para o grego. O Novo Testamento foi escrito na língua grega. 
Nossa Bíblia é uma tradução dessas línguas originais. 
 
A palavra “Bíblia” vem da palavra grega “biblios”. A palavra “Testamento” 
quer dizer “aliança” ou pacto. O Antigo Testamento é a aliança que Deus fez 
com o homem quanto à sua salvação, antes de Cristo vir. No Antigo 
Testamento encontramos a aliança da lei. No Novo Testamento encontramos 
a aliança da graça que veio por Jesus Cristo. Uma conduzia à outra (Gl 3.17-
25). O Antigo Testamento começa o que o Novo completa. O Antigo se reúne 
ao redor do Sinai. O Novo ao redor do Calvário. O Antigo está associado com 
Moisés. O Novo com Cristo (Jo 1.17). 
 
Os autores foram reis e príncipes, poetas e filósofos, profetas e estadistas. 
Alguns eram instruídos em todo o conhecimento da sua época e outros eram 
pescadores sem cultura. Alguns livros logo se tornam antiquados, mas este 
Livro atravessa os séculos. 
 
13 
 
Pentateuco 
 
1.2. Introdução ao Estudo do Pentateuco 
 
1.2.1. O termo 
 
O Termo Pentateuco é a denominação mais comum para descrever os 
primeiros cinco livros da Bíblia. Deriva do grego pente (cinco) e teuchos (rolo) 
e, dessa forma, descreve o número desses escritos, não o seu conteúdo. 
Pentateuco é um modo adequado de identificar esses livros. Em virtude dos 
mais de dois mil anos de uso, ele está profundamente enraizado na tradição 
cristã. Entretanto, um termo mais preciso e informativo é Torá (hebraico 
torah). Esse nome baseia-se no verbo yarah, ensinar. Torá é, portanto, 
ensino. Uma atenção cuidadosa a esse fato levará à apreciação do conteúdo 
do Pentateuco, bem como do seu propósito fundamental: instruir o povo de 
Deus acerca do próprio Deus, do povo e dos propósitos divinos concernentes 
ao povo. 
 
A enorme quantidade de material legal no Pentateuco (metade de Êxodo, a 
maior parte de Levítico, grande parte de Números e praticamente todo o 
Deuteronômio) levou à designação comum Lei ou Livros da Lei. Essa 
maneira de ver o Pentateuco desfrutava a sanção do uso que se fazia dele no 
antigo mundo judaico, e mesmo no Novo Testamento não é de todo sem 
razão. Entretanto, estudos recentes têm mostrado de modo conclusivo que o 
Pentateuco é essencialmente um manual de instrução (daí torah) cujo 
propósito era guiar Israel, o povo da aliança, na peregrinação diante de seu 
Deus. Por exemplo, Gênesis, embora contenha poucas leis, ainda assim 
instrui o povo de Deus mediante suas narrativas da história primeva e dos 
patriarcas. A lei formava“a constituição e os regulamentos” da nação 
escolhida. Torá é, portanto, a denominação mais adequada para descrever 
todo o conteúdo e o propósito dessa parte mais antiga da Bíblia. 
 
1.2.2. Autoria 
 
Até o iluminismo do século XVIII, havia consenso entre as tradições judaica e 
cristã de que o testemunho do Pentateuco revelava Moisés como seu autor. 
Tanto o Antigo (Dt 1.5; 4.44; 31.9; 33.4; Js 8.31-34; 1Rs 2.3; 2Rs 14.6; 23.25; 
2Cr 23.18; Ed 3.2; Ne 8.1; Ml 4.4) como o Novo Testamento (Lc 2.22; 24.44; 
Jo 1.17; 7.19; At 13.39;28.23; 1Co 9.9; Hb 10.28) sustentam a tradição da 
autoria mosaica. Alguns intérpretes, antes do Iluminismo, levantaram 
questões incidentes sobre discrepâncias cronológicas. Observaram, por 
exemplo, a referência aos reis de Israel em Gênesis 36.31, a referência de 
Moisés a si mesmo como varão “mui manso, mais do que todos os homens 
que havia sobre a terra (Nm 12.3), e o relato que ele fez de sua própria morte 
(Dt 34.5-12). Tais referências, porém, podem ser explicadas ou como 
resultado da revelação divina sobre o futuro ou mais provavelmente como 
14 
 
 
 
exemplos de acréscimos posteriores ao texto. Aqueles que aceitam Moisés 
como personagem histórica, cuja vida e experiência são evidenciadas pelas 
Escrituras (Êx 2.10-11; Hb 11.23-24) devem admitir a possibilidade genuína 
de ele ser o autor dos escritos que tradicionalmente levam seu nome”. 
 
Muitos estudiosos declaram positivamente as contribuições significativas de 
Moisés para a formação do Pentateuco, mas sustentam que a forma final 
desses livros evidencia algum trabalho de edição posterior à época de 
Moisés. Esses críticos de modo algum negam a inspiração divina do 
Pentateuco ou a contabilidade de sua história. Antes, afirmam que após a 
morte de Moisés Deus continuou a estimular o povo da fé de modo que este 
desenvolvesse com cuidado as verdades ensinadas por Moisés. Entre os 
indícios de que os relatos foram recontados após a morte de Moisés 
encontram-se Deuteronômio 34, em especial 34.10-12, que parece refletir 
uma longa história de experiência com profetas que não conseguiram se 
igualar a Moisés. Outros indícios são as notas históricas que parecem refletir 
uma época posterior à conquista da terra dos cananeus por Israel (Gn 12.6; 
13.7) e identificam nomes de lugares que aparentemente foram atualizados 
para os que eram usados depois da morte de Moisés (compare Gn 14.14 
com Js 19.47 e Jz 18.29). 
 
1.2.3. Teoria documentária da Alta Crítica 
 
Há dois séculos, eruditos de tendência racionalista puseram em dúvida a 
paternidade mosaica do Pentateuco. Criaram a Teoria Documentária da Alta 
Crítica, segundo a qual os primeiros cinco livros da Bíblia são uma 
compilação de documentos redigidos, em sua maior parte, no período de 
Esdras (444 a.C.) No entender desses autores, o documento mais antigo que 
se encontra no Pentateuco data do tempo de Salomão. Julgam que o 
Deuteronômio é uma “fraude piedosa” escrita pelos sacerdotes no reinado de 
Josias tendo em mira promover um avivamento; que o Gênesis consiste, 
mormente em lendas nacionais de Israel. 
 
Muitos estudiosos conservadores acham provável que Moisés, ao escrever o 
livro do Gênesis, tenha empregado genealogias e tradições escritas (Moisés 
menciona especificamente “o livro das gerações de Adão”, em Gênesis 5.1). 
William Ross observa que o tom pessoal que encontramos na oração de 
Abraão a favor de Sodoma, no relato do sacrifício de Isaque, e nas palavras 
de José ao dar-se a conhecer a seus irmãos “é precisamente o que 
esperaríamos, se o livro de Moisés fosse baseado em notas biográficas 
anteriores”. Provavelmente, essas valiosas memórias foram transmitidas de 
uma geração para outra desde tempos muito remotos. Não nos causa 
estranheza que Deus possa ter guiado Moisés a incorporar tais documentos 
em seus escritos. Seriam igualmente inspirados e autênticos. 
15 
 
Pentateuco 
 
Também é notável haver alguns acréscimos e retoques insignificantes de 
palavras arcaicas, feitos à obra original de Moisés. É universalmente 
reconhecido que o relato da morte de Moisés (Dt 34) foi escrito por outra 
pessoa (o Talmude, livro dos rabinos, o atribui a Josué). Gênesis 36.31 indica 
que havia rei em Israel, algo que não existia na época de Moisés. Em 
Gênesis 14.14 dá-se o nome “Dã” à antiga cidade de “Laís”, nome que lhe foi 
dado depois da conquista. Pode-se atribuir isto a notas esclarecedoras, ou a 
mudanças de nomes geográficos arcaicos, introduzidos para tornar mais 
claro o relato. Provavelmente foram agregados pelos copistas das Escrituras, 
ou por algum personagem (como o profeta Samuel). Não obstante, estes 
retoques não seriam de grande importância nem afetariam a integridade do 
texto. Assim, pois, são contundentes tanto as evidências internas como a 
externa de que Moisés escreveu o Pentateuco. Muitos trechos contêm frases, 
nomes e costumes do Egito, indicativos de que o autor tinha conhecimento 
pessoal de sua cultura e de sua geografia, algo que dificilmente teria outro 
escritor em Canaã, vários séculos depois de Moisés. Por exemplo, 
consideremos os nomes egípcios: Potifar (dom do deus do sol, Ra), Zafnate-
Paneá (Deus fala; ele vive), Asenate (pertencente à deusa Neit) e On, antigo 
nome de Heliópolis (Gn 37.36; 41.45, 50). Notemos, também, que o autor 
menciona até os vasos de madeira e os de pedra que os egípcios usavam 
para guardar a água que tiravam do rio Nilo. O célebre arqueólogo W. F. 
Albright diz que no Êxodo se encontram em forma correta tantos detalhes 
arcaicos que seria insustentável atribuí-los a invenções posteriores. 
 
Também, pelas referências feitas com relação a certos materiais do 
tabernáculo, deduzimos que o autor conhecia a península do Sinai. Por 
exemplo, as peles de texugos se referem, segundo certos eruditos, às peles 
de um animal da região do mar Vermelho; a “onicha”, usada como ingrediente 
do incenso (Êx 30.34) era da concha de um caracol da mesma região. 
Evidentemente, as passagens foram escritas por alguém que conhecia a rota 
da peregrinação de Israel e não por um escritor no cativeiro babilônico, ou na 
restauração, séculos depois. 
 
Do mesmo modo, os conservadores mostram que o Deuteronômio foi escrito 
no período de Moisés. O ponto de referência do autor do livro é o de uma 
pessoa que ainda não entrou em Canaã. A forma em que está escrito é a dos 
tratados entre os senhores e seus vassalos do Oriente Médio no segundo 
milênio antes de Cristo. Por isso, estranhamos que a Alta Crítica tenha dado 
como data destes livros setecentos ou mil anos depois. 
 
A Arqueologia também confirma que muitos dos acontecimentos do livro do 
Gênesis são realmente históricos. Por exemplo, os pormenores da tomada de 
Sodoma, descrita no capítulo 14 do livro de Gênesis, coincidem com 
assombrosa exatidão com o que os arqueólogos descobriram. (Nisto se 
16 
 
 
 
incluem: os nomes, movimento dos povos, e a rota que os invasores tomaram 
chamada “caminho real”. Depois do ano 1200 a.C., a condição da região 
mudou radicalmente, e essa rota de caravanas deixou de ser utilizada). O 
arqueólogo Albright declarou que alguns dos detalhes do capítulo 14 nos 
levam de volta à Idade do Bronze (período médio, entre 2100 e 1560 a.C.). 
Não é muito provável que um escritor que vivesse séculos. 
 
Além do mais, nas ruínas de Mari (sobre o rio Eufrates) e de Nuzu (sobre um 
afluente do rio Tigre) foram encontradas tábuas de argila da época dos 
patriarcas. Nelas se descrevem leis e costumes, tais como as que permitiam 
que o homem sem filhos dessa sua herança a um escravo (Gênesis 15.3), e 
uma mulher estéril entregasse sua criada a seu marido para suscitar 
descendência (Gênesis 16.2). Do mesmo modo, as tábuas contêm nomes 
equivalentes ou semelhantes aos de Abraão, Naor (Nacor), Benjamim e 
muitos outros. Por isso, tais provas refutam a teoria da Alta Crítica de que o 
livro do Gênesis é uma coletânea de mitos e lendas do primeiro milênio antes 
de Cristo. A Arqueologia demonstra cada vez maisque o Pentateuco 
apresenta detalhes históricos exatos, e que foi escrito na época de Moisés. 
Há razão ainda para se duvidar de que o grande líder do êxodo foi seu autor? 
 
1.2.4. Ambiente do mundo bíblico 
 
Quando Abraão chegou à Palestina, esta já era uma ponte importante entre 
os centros culturais e políticos daquela época. Ao norte achava-se o império 
hitita; ao sudoeste, o Egito; ao oriente e ao sul, Babilônia; e ao nordeste o 
império assírio. Ou seja, que os israelitas estavam localizados em um ponto 
estratégico e não isolado geograficamente das grandes civilizações. 
 
A maioria dos historiadores acha que a planície de Sinar, situada entre os rios 
Eufrates e Tigre, foi o berço da primeira civilização importante, chamada 
Suméria. No ano 2800 haviam edificado cidades florescentes e haviam 
organizado o governo em cidades-estados; também haviam utilizado metais e 
tinham aperfeiçoado um sistema de escrita chamada cuneiforme. Quase ao 
mesmo tempo, desenvolvia-se no Egito uma civilização brilhante. É provável 
que quando Abraão se dirigiu para o Egito, tenha visto pirâmides que 
contavam mais de 500 anos. 
 
A região onde se desenvolveu a primeira civilização é chamada “fértil 
crescente” (pela forma do território que abrange). Estende-se de forma 
semicircular entre o Golfo Pérsico e o mar Mediterrâneo, até ao sul da 
Palestina. O território é regado constantemente por chuvas e rios caudalosos, 
como o Eufrates, o Tigre, o Nilo e o Orontes, o que possibilita uma agricultura 
produtiva. No interior desta região está o deserto da Arábia, onde há 
escassas chuvas e pouca população. Ali, no fértil crescente, surgiram os 
17 
 
Pentateuco 
 
grandes impérios dos amorreus, dos babilônios, dos assírios e dos persas. O 
mais importante para nós, todavia, é que ali habitou o povo escolhido de 
Deus e ali nasceu o Homem que seria o Salvador do mundo. 
 
Toda a região compreendida entre os rios Eufrates e Tigre chama-se 
Mesopotâmia (meso: entre; potamos: rio). No princípio denominava-se 
“Caldéia” à planície de Sinar, desde a cidade de Babilônia, ao sul, até ao 
Golfo Pérsico; mas posteriormente o termo “Caldéia” passou a designar toda 
a região da Mesopotâmia (a mesma área chamava-se também Babilônia). 
Abrangia muito do território do atual Iraque, e era provavelmente o local da 
torre de Babel. 
 
O território da Palestina é relativamente pequeno. Desde Dã até Berseba, 
pontos extremos no norte e no sul, respectivamente, há uma distância de 
apenas 250 quilômetros. O território tem desde o mar Mediterrâneo até ao 
mar Morto, 90 quilômetros de largura; e o lago de Genesaré (mar da Galiléia) 
dista aproximadamente 50 quilômetros do mar Mediterrâneo. A área total de 
Canaã equivale, em tamanho a sétima parte do Uruguai ou a um terço do 
Panamá. Contudo, nesta porção tão pequena do globo terrestre, Deus 
revelou-se ao povo israelita, e ali o Verbo eterno habitou entre os homens e 
realizou a redenção da raça humana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
 
 
Capítulo 2 
 
Livro de Gênesis 
 
Uma introdução ao livro do Gênesis, teria de ser muito extensa e, neste caso, 
abranger a maior parte das questões relativas à origem e ao autor, ou então 
demasiadamente concisa de forma a deixar a crítica dos principais pontos ao 
lugar que lhe compete no respectivo texto. Portanto, optamos em dizer neste 
intróito, apenas que, as primeiras palavras do Gênesis, que tratam da 
Cosmogonia, são plenas de solene majestade. Sem adornos nem fantasias 
inúteis, impressionam justamente por isto. Somente Deus existia naquele 
tempo, com a sua Onipotência e a sua vontade de criar o mundo. Este 
conceito tão elevado da realidade e do pensamento humano está expresso 
de maneira simples e sem nenhum esclarecimento sobre o feito maravilhoso 
da Criação. 
 
2.1. O título do livro 
 
O título “Gênesis”, como aparece em nossas Bíblias, é a tradução em grego, 
do referido título em hebraico. O título em hebraico deriva da primeira palavra 
do livro: bereshith (“no princípio”), e significa “origem, fonte, criação, ou 
começo dalguma coisa”. Gênesis, portanto, é “o livro dos começos”. 
Caracteriza perfeitamente o conteúdo do livro, ou seja, o princípio do 
universo, o princípio do homem, o princípio do pecado, o princípio da 
salvação, o princípio do povo hebraico, e bem assim o princípio de muitos 
outros acontecimentos e fenômenos ocorridos na história do mundo. 
 
2.2. A autoria 
 
Ainda que não é opinião geral atribuir-se o livro a Moisés, esta é a nossa 
posição. Mesmo porque não foi ainda apresentada qualquer outra teoria bem 
fundada que nos levasse a pensar o contrário. Não quer isto dizer, no 
entanto, que Moisés não se tenha servido de fontes de qualquer espécie para 
a elaboração da sua obra. Uma possível indicação de Moisés ter utilizado 
registros históricos existentes ao escrever Gênesis, é a repetida expressão 
através do livro: “estas são as gerações de” (hb. e’lleh toledoth), que também 
admite a tradução: “estas são as histórias por” (ver 2.4; 5.1; 6.9; 10.1; 11.10, 
27; 25.12, 19; 36.1, 9; 37.2). Portanto, ninguém pode dizer com certeza que 
esta frase constitua um subtítulo que indique a fonte da qual a informação foi 
derivada, embora seja de admitir, com reservas, naturalmente, que Moisés 
19 
 
Pentateuco 
 
teve presente essas fontes, talvez gravadas em tábuas de barro, e 
procedentes de Noé, Sem, Terá e outros. Mera possibilidade é certa, mas 
admissível. 
 
Não podemos excluir Gênesis do testemunho do Novo Testamento que 
afirma ser Moisés (século XV a.C.) o autor do Pentateuco. Mais 
especificamente, nosso Senhor disse “pelo motivo de que Moisés vos deu a 
circuncisão” (Jo 7.22; At 15.1), a qual é mencionada somente em Gn 17. Não 
surpreende que o fundador da teocracia de Israel tenha lançado este 
fundamento magistral da lei. A narrativa histórica de Gênesis estabeleceu os 
fundamentos teológicos e éticos da Torá: o relacionamento ímpar de Israel 
com Deus mediante a aliança (Dt 9.5) e as suas leis singulares (a lei do 
sábado). Além do mais, desde que os mitos da criação são básicos nas 
religiões pagãs, é natural que Moisés tivesse incluído um relato da criação 
em oposição aos mitos pagãos. Este relato constitui-se, ainda, em alicerce 
para a lei mediada por Moisés. 
 
Embora o autor de Gênesis não seja mencionado em nenhuma parte do livro, 
o testemunho do restante da Bíblia, é que Moisés foi o autor de todo o 
Pentateuco (isto é, os cinco primeiros livros do Antigo Testamento) e, 
portanto, de Gênesis (1Rs 2.3; 2Rs 14.6; Ed 6.18; Ne 13.1; Dn 9.11-13; Ml 
4.4; Mc 12.26; Lc 16.29,31; Jo 7.19-23; At 26.22; 1Co 9.9; 2Co 3.15). Além 
disso, os antigos escritores judaicos e os primeiros dirigentes da igreja são 
unânimes em testificar que Moisés foi o escritor de Gênesis. Uma vez que o 
relato de Gênesis no seu todo é de data anterior a Moisés, o papel deste ao 
escrever Gênesis foi, em grande parte, reunir sob a inspiração do Espírito 
Santo, todos os registros escritos e orais disponíveis, desde Adão até a morte 
de José, como os temos hoje preservados em Gênesis. 
 
O testemunho da própria Bíblia a favor da autoria mosaica é apoiado por 
informações extrabíblicas. Os onze primeiros capítulos de Gênesis têm 
muitos paralelos e diferenças propositais com os mitos do antigo Oriente 
Próximo anteriores à época de Moisés e conhecidos por ele (os relatos da 
criação mesopotâmicos tais como Enuma Elish e os relatos do dilúvio tais 
como os encontrados na Epopéia de Atrahasis e na décima primeira tábua da 
Epopéia de Gilgamesh). Os nomes e os costumes nas narrativas dos 
patriarcas (caps. 12-50) refletem acuradamente a era em que viveram, 
sugerindo um autor antigo que dispunha de documentos confiáveis. Os textos 
de Ebla (século XXIV a.C.) mencionam Ebrium, que pode ser o mesmo Héber 
de Gn 10.21, e os textos de Mari (século XVIII a.C.) atestam a existência de 
nomes como Abraão, Jacó e amorreu. A prática de conceder um direito de 
primogenitura (istoé, de privilégios adicionais para o filho mais velho, 25.5-
6,32-34; 39.3-4; 43.33; 49.3) era difundida no antigo Oriente Próximo. A 
venda de uma herança (25.29-34) é documentada em diferentes períodos 
20 
 
 
 
nesta era. A adoção de um escravo pelo seu senhor (15.1-3) é encontrada 
em uma carta de Larsa, na antiga Babilônia, e a adoção de Efraim e 
Manassés por seu avô (48.5) pode ser comparada com uma adoção 
semelhante de um neto em Ugarit (século XIV a.C.). A doação de uma 
escrava como parte de um dote e a sua apresentação ao marido pela mulher 
infértil (16.1-6; 30.1-3 e notas) são mencionadas nas leis de Hamurábi (c. 
1750 a.C.). Esses e outros fatos semelhantes corroboram a confiabilidade 
histórica da narrativa de Gênesis. 
 
2.3. Data e ocasião 
 
Considerando as evidências bíblicas e extrabíblicas que relacionam Gênesis 
e o seu conteúdo a Moisés e a sua era, podemos concluir razoavelmente que 
o livro remonta ao século XV a.C. Indubitavelmente, por exemplo, desde que 
Davi (c. 1000 a.C.) compôs o relato da criação de Gn 1 em música (SI 8), 
requer-se uma data de composição no segundo milênio para Gn 1. Os 
leitores devem observar, porém, que embora ocasionalmente apareçam no 
texto palavras conhecidas somente a partir da metade do segundo milênio, a 
gramática do Pentateuco foi ocasionalmente atualizada, assim como alguns 
nomes de lugares (14.14). Também a lista de reis em 36.31-43 foi 
aparentemente acrescentada após a época de Saul. 
 
O propósito de Gênesis, a exemplo da sua autoria e data, não pode ser 
examinado senão com relação ao seu lugar dentro do Pentateuco como um 
todo. O Pentateuco é uma combinação ímpar de história e lei, uma história 
que explica as origens de suas leis. Por exemplo, as narrativas de Gênesis 
explicam o rito da circuncisão (17.9-14). A proibição de comer o músculo 
ciático (32.32) e a observância do sábado (2.2-3). Ainda mais importante, a 
sua narrativa apresenta a eleição de Israel por Deus para um relacionamento 
único mediante a aliança com Deus, a fim de abençoar o mundo caído. Esse 
relacionamento pactual consiste na promessa feita por Deus aos patriarcas 
de fazer da sua descendência eleita uma grande nação e no compromisso da 
nação escolhida em obedecer-lhe para, assim, tornar-se uma luz para os 
gentios. Gênesis narra as origens dessa nação redentora, retrocedendo aos 
primórdios da humanidade e do mundo e, assim, do conflito entre o reino de 
Deus e o reino de Satanás, no qual esta nação haveria de desempenhar um 
papel crucial. 
 
2.4. Dificuldades de interpretação 
 
A tensão entre Gênesis e a ciência moderna sobre as origens do universo e 
dos seres vivos é, em grande parte, resolvida quando se reconhece que 
ambas as partes falam a partir de perspectivas diferentes. Gênesis preocupa-
se com quem criou e por quê, não com o como e quando. A ciência não pode 
21 
 
Pentateuco 
 
responder àquelas questões e Gênesis, em grande parte, mantém silêncio 
quanto a estas (2,5-6,11). 
 
Por cerca de um século, os estudiosos adeptos da “hipótese documentária” 
têm declarado que Gênesis é uma composição de documentos conflitantes: J 
(de Javé, “o SENHOR”). E (de Elohim, “Deus”). D (de Deuteronomista) e P 
(de escritor sacerdotal). Muito embora esse esquema ainda seja amplamente 
aceito, poucos ainda acreditam que esses documentos possam ser usados 
para reconstruir a história de Israel, uma vez que todos os supostos 
documentos contêm o que se considera serem matérias “antigas” e 
“recentes”. Em outras palavras, os quatro alegados documentos de fato 
compartilham elementos e características que se supunha pertencerem a 
apenas uma dessas fontes hipotéticas (p.ex. J contém matéria que 
supostamente seria encontrada somente em E). É certo que, na composição 
dos documentos no antigo Oriente Próximo, era comum a combinação de 
documentos escritos mais antigos, e é provável que o próprio Moisés tenha 
feito uso delas (5.1). Além do mais, muitos estudiosos hoje questionam os 
critérios usados para identificar essas supostas fontes e enfatizam, ao 
contrário, a unidade do texto tal como o temos. Por exemplo, o relato do 
dilúvio, antes apontado como um exemplo clássico da hipótese documentária, 
é visto hoje como portador de excepcional integridade (6.9-9.29). 
 
2.5. Características e temas 
 
Pelo estudo da estrutura literária de Gênesis, destacam-se os aspectos que 
seguem. Após o prólogo, Gênesis divide-se em dez partes, cujo início é 
caracterizado pela fórmula: “Esta é a genealogia (ou 'história') de”. Esse título 
é seguido por uma genealogia da pessoa referida na fórmula ou por episódios 
envolvendo os seus descendentes mais notáveis. Os primeiros três relatos 
pertencem ao mundo pré-diluviano e os sete últimos ao período posterior ao 
dilúvio. Os três primeiros relatos formam um paralelo com o quarto, quinto e 
sexto relatos: 
 
a) narrativas sobre o desenvolvimento universal da humanidade na 
criação e na recriação após o dilúvio (relatos um e quatro, 
respectivamente); 
b) genealogia das linhagens da redenção a partir de Sete e Sem (relatos 
dois e cinco); 
c) as narrativas sobre as alianças com Noé e Abraão (relatos três e 
seis). 
 
 
 
 
22 
 
 
 
Os dois pares finais de narrativas expandem a linhagem abraâmica, 
contrastando os seus filhos rejeitados, Ismael e Esaú (relatos sete e nove). 
Com as histórias sobre os descendentes eleitos, Isaque e Jacó, 
respectivamente (relatos oito e dez). 
 
A chave para compreensão das narrativas é, geralmente, oferecida em uma 
revelação que serve de abertura às mesmas: por exemplo, a promessa a 
Abraão (12.1-3); o sinal pré-natal da rivalidade entre Jacó e Esaú (25.22-23); 
e os sonhos de José (37.1-11). Uma seção de transição encontra-se ao final 
dos relatos (p.ex., 4.25-26; 6.1-8; 9.18-29; 11.10-26). 
 
A seção que conclui a última narrativa contém fortes vínculos com o Livro de 
Êxodo, terminando com um juramento que José obteve dos seus irmãos de 
que, quando Deus viesse em seu socorro e os reconduzisse a Canaã, 
levariam consigo o seu corpo embalsamado (50.24-25; Ex 13.19). 
 
O enfoque do livro nas origens de Israel desdobra-se diante de questões que 
afetam o mundo. Moisés nos diz que, antes que Deus elegesse os patriarcas, 
os pais de Israel (caps. 12-50), a humanidade afirmou a sua independência 
de Deus buscando o conhecimento do bem e do mal à parte de Deus e em 
desafio ao seu mandamento (caps. 2; 3). Os seres humanos comprovaram a 
sua depravação pela religiosidade de fachada, fratricídio e vingança irrestrita 
(Caim, cap. 4); pela tirania, haréns e os contínuos maus desígnios (os reis 
pré-diluvianos, 6.1-8); e por erguerem um anti-reino contra o próprio Deus 
(Ninrode e a torre infame, 10.8-12; 11.1-9). O veredicto de Deus sobre a 
humanidade permanece: “é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua 
mocidade” (8.21). 
 
Certamente de forma tão maravilhosa e soberana como Deus transformou a 
escuridão e o vazio por ocasião da criação da terra (1.2) em um habitat 
glorioso para a humanidade e lhe trouxera descanso (1.3-2.3), assim também 
Deus soberanamente elegeu em Cristo o seu povo da aliança para derrotar a 
Satanás (3.15) e para abençoar o mundo depravado (12.1-3). Ele elegeu 
incondicionalmente os patriarcas, Abraão, Isaque e Jacó, e prometeu fazer da 
sua descendência eleita a nação destinada a abençoar a terra, uma 
promessa que acarretava em uma semente, terra e rei eternos (12.1-3,7; 
13.14-17; 17.1-8; 26.2-6; 28.10-15). Antes de Jacó nascer e ter praticado o 
bem ou o mal. Deus o escolheu, e não a Esaú, o seu irmão gêmeo mais 
velho (25.21-23). Ele escolheu Jacó, apesar deste ter trapaceado o seu 
irmão, enganado o seu pai e blasfemado contra Deus (cap. 27). Deus usou 
até mesmo os delitos escandalosos de Judá contra Tamar, além do ousado 
ardil a que ela recorreu, para fazer continuar a linhagem messiânica (cap. 
38). O Rei celeste demonstrou o seu governo glorioso preservando 
miraculosamente as matriarcas em haréns pagãos (12.10-20; capo 20)e 
23 
 
Pentateuco 
 
abrindo os seus ventres estéreis (17.15-22; 18.1-15; 21.1-7; 25.21; 29.31; 
30.22). Ele não levou em conta os costumes e tradições quando escolheu o 
filho mais jovem (Jacó), não o mais velho (Esaú), para herdar a bênção 
(25.23). Profecias flagrantes e tipos sutis são testemunhos incontestáveis de 
que Deus dirige a história. Por exemplo, Noé profetizou a submissão de 
Canaã a Sem (9.24-26), e o grande êxodo liderado por Moisés foi prefigurado 
quando Deus libertou Abraão e Sara com riquezas da opressão do Egito 
(12.10-20). 
 
Deus inclinou o coração dos seus eleitos a confiarem em suas promessas e a 
obedecerem aos seus mandamentos. Contra toda esperança, Abraão confiou 
que Deus lhe daria uma descendência incontável e o legislador diz que Deus 
lhe imputou isso como justiça (15.6). Confiante nas firmes promessas de 
Deus, Abraão renunciou aos seus direitos sobre a terra (cap. 13) e Jacó, 
agora chamado “Israel” e apegando-se somente em Deus (cap. 22), devolveu 
simbolicamente o direito de primogenitura a Esaú (cap. 33). No começo da 
narrativa de José, Judá vendeu José como escravo (37.26-27), mas, no fim, 
o ex-mercador de escravos dispôs-se a tornar-se um escravo em lugar de 
seu irmão (44.33-34). Firmado na verdade de que o desígnio gracioso de 
Deus trouxera o bem a partir de pecados tão atrozes como o assassinato e o 
tráfico de escravos, José perdoou seus irmãos sem recriminação (45.4-8; 
50.24). 
 
O que começou em Gênesis cumpre-se em Cristo. A genealogia iniciada no 
cap. 5 prossegue no cap. 11 e termina com o nascimento de Jesus Cristo (Mt 
1; Lc 3.23-27). Ele é, em última análise, o descendente prometido a Abraão 
(12.1-3; GI 3.16). Os eleitos são abençoados nele porque somente ele, por 
sua obediência ativa e passiva, satisfez as exigências da lei e morreu em 
lugar deles. Todos os que são batizados em Cristo e unidos com ele pela fé 
são descendentes de Abraão {GI 3.26-291. As arrojadas profecias e as 
prefigurações sutis em Gênesis mostram que Deus está escrevendo uma 
história que conduz ao descanso em Cristo. No limiar da profecia bíblica, Noé 
predisse que os jafetitas encontrariam salvação através dos semitas, uma 
profecia que se cumpriu no Novo Testamento (9.27), e Deus mesmo 
proclamou que o descendente da mulher destruiria Satanás (3.15). Este 
descendente é Cristo e sua Igreja (Rm 16.20). A apresentação da noiva para 
Adão prefigura a apresentação da Igreja a Cristo (2.18-25; Ef 5.22-321; o 
sacerdócio de Melquisedeque é como o do Filho de Deus (14.18-20; Hb 7); e 
assim como o Israel redimido da escravidão no Egito encontrou descanso, 
subsistência e refúgio na Terra Prometida, a Igreja redimida do mundo 
amaldiçoado encontra a vida em Cristo (13.15). O paraíso perdido pelo 
primeiro Adão é restaurado pelo último Adão. Esta história sagrada, unificada 
assim de forma tão maravilhosa, certifica que o enfoque de Gênesis é Cristo. 
 
24 
 
 
 
2.6. Estudos no Livro de Gênesis 
 
2.6.1. A Criação 
 
2.6.1.1. A Criação do Universo (1.1-2.3) 
 
Como considerar a descrição em causa? Ciência, fábula ou revelação? Se, 
por ciência, entendermos a disposição sistemática dum ramo do saber, 
diremos, então, que a descrição nada tem de “científico”. E ainda bem, pois 
se fosse utilizada a linguagem científica do século XX, como a entenderiam 
os leitores dos séculos precedentes? E mesmo os atuais necessitariam duma 
adequada preparação científica. Nesse caso ainda, não seria de prever que 
passados cem ou duzentos anos fosse já considerada antiquada aquela 
linguagem? A narração do Gênesis não foi, portanto, redigida em moldes 
científicos, talvez para melhor mostrar a sua inspiração divina. Poderíamos, 
no entanto, fazer a seguinte interrogação: -- Não sendo científica quanto à 
forma, será a descrição do Gênesis científica quanto à substância, ou quanto 
ao conteúdo? Serão de admitir erros ou pelo menos inexatidões na narração 
bíblica. Graves conflitos têm surgido entre prematuras conclusões da ciência 
e supostas deduções científicas da Escritura. Mas estudos ulteriores têm 
vindo provar que, por um lado, não eram válidas as conclusões científicas, 
ou, então, por outro, eram mal interpretadas no texto as afirmações 
científicas. 
 
Quanto a se supor uma fábula a narração do Gênesis, quer no sentido 
popular, quer no sentido clássico, não é fácil de admitir-se. Pois no primeiro 
caso tratar-se-ia duma obra puramente imaginária, e no segundo duma 
exposição simbólica dum fato com certas verdades abstratas, que de outro 
modo seriam incompreensíveis. Trata-se, sim, duma narração dos 
acontecimentos que não seriam compreendidos, se fossem descritos com a 
precisão formal da ciência. É neste estilo simples mas expressivo que a 
divina sabedoria se manifestou claramente aos homens, indo assim ao 
encontro das necessidades de todos os tempos. Os fatos apresentam-se 
numa linguagem abundante e rica, que é possível incluir todos os resultados 
das pesquisas científicas. 
 
O primeiro capítulo do Gênesis não há dúvida que supõe a revelação divina. 
Pelas muitas versões, algumas delas correntes já entre os pagãos da 
Antigüidade, é fácil concluir-se que esta revelação é anterior a Moisés. Não 
deve, no entanto, considerar-se como uma nova versão das tradições 
politeístas dos fenícios ou dos babilônicos; porque acima de tudo a obra 
criadora de Deus só por Deus poderia ser revelada. E essa revelação não 
deixou de ser preservada de qualquer contaminação pagã ou corrupção 
supersticiosa, encontrando-se perfeita e inviolável nos cinco livros de Moisés. 
25 
 
Pentateuco 
 
Sob o aspecto científico nada se sabe acerca da origem das coisas. Mas o 
certo é que a Geologia, através do estudo dos fósseis, vem confirmar, cada 
vez mais, as diferentes fases da criação que Gn 1 nos descreve 
pormenorizadamente. Baseados em motivos meramente teóricos, vários 
comentadores supõem que a criação original de Deus foi destruída por uma 
terrível catástrofe. Assim o verso 1 descreve o ato inicial de Deus, que deu a 
existência ao universo; o verso 2 o estado desse universo arruinado “sem 
forma e vazio”, se bem que não se faça qualquer alusão à catástrofe 
provocadora dessa ruína; os restantes versos fazem uma análise da obra de 
Deus na reconstituição desse universo. Trata-se duma teoria, ainda hoje 
muito seguida, para resolver certos problemas que, no fim de contas, 
continuam insolúveis, e é contestada por fortes argumentos lingüísticos. A 
chamada teoria da “lacuna” não assenta em bases firmes e é desmentida 
pela própria Geologia. 
 
2.6.1.2. No Princípio (bereshith) 
 
No princípio, criou Deus (Gn 1.1). A expressão “No princípio” é enfática, e 
chama a atenção para o fato de um princípio real. Outras religiões antigas, ao 
falarem da criação, afirmam que esta ocorreu a partir de algo já existente. 
Referem-se à história como algo que ocorre em ciclos perpétuos. A Bíblia 
olha para a história de modo linear, com um alvo final determinado por Deus. 
Deus teve um plano na criação, o qual Ele levará a efeito. Várias conclusões 
decorrem da verdade contida no primeiro versículo da Bíblia. Uma vez 
que Deus é a origem de tudo quanto existe, os seres humanos e a natureza 
não existem por si mesmos, mas devem a Ele sua existência e a sua 
propagação. Toda existência e forma de vida são boas se estão corretamente 
relacionadas com Deus e dependentes dEle. Toda vida e criação pode ter 
relevância e propósito eternos. Deus tem direitos soberanos sobre toda a 
criação, em virtude de ser seu Criador. Num mundo caído, Ele reafirma esses 
direitos mediante a redenção (Êx 6.6; 15.13; Dt 21.8; Lc 1.68; Rm 3.24; Gl 
3.13 ;1Pe 1.18). 
 
2.6.1.3. O Deus da criação 
 
2.6.1.3.1. Eterno 
 
Deus se revela na Bíblia como um ser infinito, eterno, auto-existente e como 
a Causa Primária de tudo o que existe. Nunca houve um momento em que 
Deus não existisse. Conforme afirma Moisés: “Antes que os montes 
nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidadea 
eternidade, tu és Deus” (Sl 90.2). Noutras palavras, Deus existiu eterna e 
infinitamente antes de criar o universo finito. Ele é anterior a toda criação, no 
céu e na terra, está acima e independe dela (1Tm 6.16; Cl 1.16). 
26 
 
 
 
2.6.1.3.2. Transcendente 
 
Deus é diferente e independente da sua criação homens, anjos, espíritos ou 
coisas físicas ou materiais (Êx 24.9-18; Is 6.1-3; 40.12-26; 55.8,9; Ez 1). Deus 
não deve jamais ser nivelado aos seres humanos, ou qualquer outro ser que 
Ele criou. Seu ser e sua existência pertencem a uma dimensão totalmente 
diferente. Ele habita numa esfera de vida perfeita e pura, em tudo acima da 
sua criação. Ele não é parte da sua criação, nem sua criação é parte dEle. 
Além disso, os crentes não são Deus e nunca serão “deuses” como afirma a 
Nova Era. Sempre seremos seres limitados e dependentes de Deus, mesmo 
na era do porvir. Embora exista uma distinção extrema entre Deus e toda 
criação, Deus também está presente e ativo em todo o mundo. Ele vive e se 
manifesta entre seus fiéis, que se arrependem dos seus pecados e que vivem 
pela fé em Cristo (Ex 33.17-23; Is 57.15; ver Mt 10.31; Rm 8.28; Sl 2.20). 
 
2.6.1.3.3. Criador 
 
Deus criou todas as coisas em “os céus e a terra” (1.1; Is 40.28; 42.5; 45.18; 
Mc 13.19; Ef 3.9; Cl 1.16; Hb 1.2; Ap 10.6). O verbo “criar” (hb.”bara”) é 
usado exclusivamente em referência a uma atividade que somente Deus 
pode realizar. Significa que, num momento específico, Deus criou a matéria e 
a substância, que antes nunca existiram. A Bíblia diz que no princípio da 
criação a terra estava informe, vazia e coberta de trevas (1.2). Naquele tempo 
o universo não tinha a forma ordenada que tem agora. O mundo estava 
vazio, sem nenhum ser vivente e destituído do mínimo vestígio de luz. 
Passada essa etapa inicial, Deus criou a luz para dissipar as trevas (1.3-5), 
deu forma ao universo (1.6-13) e encheu a terra de seres viventes (1.20-28). 
O método que Deus usou na criação foi o poder da sua palavra. Repetidas 
vezes está declarado: “E disse Deus...” (1.3, 6, 9, 11, 14, 20, 24, 26). Noutras 
palavras, Deus falou e os céus e a terra passaram a existir. Antes da palavra 
criadora de Deus, eles não existiam (Sl 33.6,9; 148.5; Is 48.13; Rm 4.17; Hb 
11.3). Toda a Trindade, e não apenas o Pai, desempenhou sua parte na 
criação. O próprio Filho é a Palavra (“Verbo”) poderosa, através de quem 
Deus criou todas as coisas. No prólogo do Evangelho segundo João, Cristo é 
revelado como a eterna Palavra de Deus (Jo 1.1). “Todas as coisas foram 
feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3). 
Semelhantemente, o apóstolo Paulo afirma que por Cristo “foram criadas 
todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis... tudo foi 
criado por Ele e para Ele” (Cl 1.16). Finalmente, o autor do Livro de Hebreus 
afirma enfaticamente que Deus fez o universo por meio do seu Filho (Hb 1.2). 
Semelhantemente, o Espírito Santo desempenhou um papel ativo na obra da 
criação. Ele é descrito como “pairando” (“se movia”) sobre a criação, 
preservando-a e preparando-a para as atividades criadoras adicionais de 
Deus. A palavra hebraica traduzida por “Espírito” (ruah) também pode ser 
27 
 
Pentateuco 
 
traduzida por “vento” e “fôlego”. Por isso, o salmista testifica do papel do 
Espírito, ao declarar: “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus; e todo o 
exército deles, pelo espírito (ruah) da sua boca” (Sl 33.6). Além disso, o 
Espírito Santo continua a manter e sustentar a criação (Jó 33.4; Sl 104.30). 
 
2.6.1.4. O propósito criação 
 
Deus tinha razões específicas para criar o mundo. Deus criou os céus e a 
terra como manifestação da sua glória, majestade e poder. Davi diz: “Os céus 
manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” 
(Sl 19.1; cf. 8.1). Ao olharmos a totalidade do cosmos criado - desde a 
imensa expansão do universo, à beleza e à ordem da natureza - ficamos 
tomados de temor reverente ante a majestade do Senhor Deus, nosso 
Criador. Deus criou os céus e a terra para receber a glória e a honra que lhe 
são devidas. Todos os elementos da natureza - o sol e a lua, as árvores da 
floresta, a chuva e a neve, os rios e os córregos, as colinas e as montanhas, 
os animais e as aves - rendem louvores ao Deus que os criou (Sl 98.7,8; 
148.1-10; Is 55.12). Quanto mais Deus deseja e espera receber glória e 
louvor dos seres humanos! 
 
Deus criou a terra para prover um lugar onde o seu propósito e alvos para a 
humanidade fossem cumpridos. Deus criou Adão e Eva à sua própria 
imagem, para comunhão amorável e pessoal com o ser humano por toda a 
eternidade. Deus projetou o ser humano como um ser trino e uno (corpo, 
alma e espírito), que possui mente, emoção e vontade, para que possa 
comunicar-se espontaneamente com Ele como Senhor, adorá-lo e servi-lo 
com fé, lealdade e gratidão. Deus desejou de tal maneira esse 
relacionamento com a raça humana que, quando Satanás conseguiu tentar 
Adão e Eva a ponto de se rebelarem contra Deus e desobedecer ao seu 
mandamento, Ele prometeu enviar um Salvador para redimir a humanidade 
das conseqüências do pecado (ver 3.15). Daí Deus teria um povo para sua 
própria possessão, cujo prazer estaria nEle, que o glorificaria, e que viveria 
em retidão e santidade diante dEle (Is 60.21; 61.1-3; Ef 1.11, 12; 1Pe 2.9). A 
culminação do propósito de Deus na criação está no livro do Apocalipse, 
onde João descreve o fim da história com estas palavras: “... com eles 
habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o 
seu Deus” (Ap 21.3). 
 
2.6.1.5. A criação do homem 
 
A criação do homem é o apogeu da obra criadora de Deus. É a Trindade 
quem delibera, sem qualquer intervenção ou consulta feita aos anjos. A 
expressão “à nossa imagem, conforme à nossa semelhança” no texto, são 
sinônimos, e compreendem-se à face do paralelismo da poesia hebraica. 
28 
 
 
 
Trata-se duma semelhança natural e moral. É dessa semelhança com Deus 
que deriva todo o domínio do homem sobre as criaturas. 
 
2.6.1.5.1. O homem é formado 
 
“Formou” 2.7, Heb. yatsar, rigorosamente “formou” ou “fez”. O corpo do 
homem não é certamente diferente à restante criação material, e Deus 
aparece agora a formar esse corpo duma substância já existente. A 
semelhança entre a estrutura física dos animais e a do homem deve atribuir-
se, não a uma espécie de desenvolvimento natural, mas a um ato especial de 
Deus em conformidade com os Seus eternos desígnios, e que poderiam ter 
sido muito diferentes. A finalidade desta narração é explicar melhor o 
significado do ato divino indicado por bara' em 1.27, sobretudo para frisar 
que, ao contrário do que se passara com a criação dos outros seres, Deus 
formou o homem “soprando-lhe nos narizes o fôlego da vida” (2.7). E assim o 
formou à Sua imagem e semelhança. Pó da terra (7). Heb. 'adamah, que 
significa a terra ou solo arável, que se encontra à superfície da terra. E daí 
deriva o nome do homem. Excetuando os casos do 1.26 e 2.5, onde o artigo 
seria inadmissível, a narração hebraica emprega sempre o artigo (“o Adão”) 
até 2.20, onde o termo passou a ser um nome próprio, sem artigo, portanto. 
Alma vivente (7). Heb. nephesh. Cfr. “criatura vivente” (1.20) e “alma vivente” 
(1.24. 
 
2.6.2. A Imagem de Deus 
 
As Escrituras ensinam (Gn 1.26-27; 5.1; 9.6; 1Co 11.7; Tg 3.9) que Deus fez 
o homem e a mulher à sua própria imagem, assim de que os seres humanos 
são semelhantes a Deus, como nenhuma outra criatura terrena é. A 
dignidade especial dos seres humanos está no fato de, como homens e 
mulheres, poderem refletir e reproduzir - dentro de sua própria condição de 
criaturas - os santos caminhos de Deus. Os seres humanos foram criados 
com esse propósito e, num sentido, somos verdadeiros seres humanos na 
medida em que cumprimos esse propósito. 
 
O que tudo envolve essa imagem de Deus na humanidade não está 
especificado em Gn 1.26-27, mas o contexto da passagem nos ajuda a defini-
lo. Otexto de Gn 1.1-25 descreve Deus como sendo pessoal, racional 
(dotado de inteligência e vontade), criativo, governando o mundo que criou, e 
um ser moralmente admirável (pois tudo o que criou é bom). Assim, a 
imagem de Deus refletirá essas qualidades. Os versículos 28-30 mostram 
Deus abençoando os seres humanos que acabara de criar, conferindo-lhes o 
poder de governar a criação, como seus representantes e delegados. A 
capacidade humana para comunicar-se e para relacionar-se tanto com Deus 
como com outros seres humanos aparece como outra faceta dessa imagem. 
29 
 
Pentateuco 
 
Por isso, a imagem de Deus na humanidade, que surgiu no ato criador de 
Deus, consiste em: 
 
a) Existência do homem como uma “alma” e “espírito” (Gn 2.7), isto é, 
como ser pessoal e autoconsciente, com capacidade semelhante à de 
Deus para conhecer, pensar e agir; 
b) Ser uma criatura moralmente correta - qualidade perdida na queda, 
porém agora progressivamente restaurada em Cristo (Ef 4.24; Cl 
3.10); 
c) Domínio sobre o meio ambiente; 
d) Ser o corpo humano o meio através do qual experimentamos a 
realidade, nos expressamos e exercemos domínio e (e) na 
capacidade que Deus nos deu para usufruir a vida eterna. 
 
A queda deformou a imagem de Deus não só em Adão e Eva, mas em todos 
os seus descendentes, ou seja, em toda a raça humana. Estruturalmente, 
conservamos essa imagem no sentido de permanecermos seres humanos, 
mas não funcionalmente, por sermos agora escravos do pecado, incapazes 
de usar nossos poderes para espelhar a santidade de Deus. A regeneração 
começa em nossa vida o processo de restauração da imagem moral de Deus. 
Porém, enquanto não formos inteiramente santificados e glorificados, não 
podemos refletir, de modo perfeito, a imagem de Deus em nossos 
pensamentos e ações como fomos criados para fazer e como o Filho de Deus 
encamado refletiu na sua humanidade (J0 4.34; 5.30; 6.38; 8.29, 46). 
 
2.6.3. A Queda (Gn 3.6) 
 
Na Carta aos Romanos, Paulo afirma que toda a humanidade está por 
natureza sob a culpa e o poder do pecado, sob o reino, da morte e sob a 
inescapável ira de Deus (Rm 1.18-19; 3.9, 19; 5.17, 21). Ele relaciona a 
origem desse estado ao pecado de um homem – Adão –, que ele descreve 
como nosso ancestral comum (At 17.26; Rm 5.12-14; cf. 1Co 15.22). Paulo, 
como apóstolo, deu sua interpretação autorizada à história registrada em Gn 
3, onde encontramos a narrativa da queda, a desobediência humana original, 
que afastou o homem de Deus e da santidade, e lançou-o no pecado e na 
perdição. Os principais pontos dessa história, vista pelas lentes da 
interpretação de Paulo, são: 
 
1) Deus fez do primeiro homem o representante de toda a sua 
posteridade, exatamente do mesmo modo como faria de Cristo o 
representante de todos os eleitos de Deus (Rm 5.15-19; cf. 8.29-30; 
9.22-26). Em ambos os casos, o representante envolveu aqueles a 
quem representou nos resultados de sua ação pessoal, quer para o 
bem (no caso de Cristo), quer para o mal (no caso de Adão). Esse 
30 
 
 
 
arranjo divinamente estabelecido, pelo qual Adão determinou o 
destino de seus descendentes, e tem sido chamado de a “aliança das 
obras”, ainda que essa frase não ocorra nas Escrituras; 
2) Deus colocou Adão num estado de felicidade e prometeu a ele e a 
sua posteridade confiná-los nesse estado permanentemente se, 
nesse estado, Adão mostrasse fidelidade, obedecendo ao 
mandamento de Deus, não comendo da árvore descrita como a 
“árvore do conhecimento do bem e do mal” (Gn 2.17). Aparentemente, 
a questão era se Adão aceitaria Deus determinar o que era bom e mal 
ou se procuraria decidir isso por si mesmo, independentemente do 
que Deus lhe tinha dito; 
3) Adão, levado por Eva - que por sua vez foi induzida pela serpente 
(Satanás disfarçado, 2Co 11.3,14; Ap 12.9) - afrontou a Deus 
comendo do fruto proibido. Como conseqüência, primeiro de tudo, a 
disposição mental que se opõe a Deus e se engrandece a si mesmo, 
expressa no pecado de Adão, tomou-se parte dele e da natureza 
moral que ele transmitiu aos seus descendentes (Gn 6.5; Rm 3.9-20). 
Em segundo lugar, Adão e Eva foram dominados por um senso de 
profanação e culpa, que os levou a ter vergonha e medo de Deus - 
com justificada razão. Em terceiro lugar, eles foram amaldiçoados 
com expectação de sofrimento e morte e foram expulsos do Éden. Ao 
mesmo tempo, contudo, Deus começou a mostrar-lhes graça 
salvadora. Fez para eles vestimenta para cobrir sua nudez e 
prometeu-lhes que, um dia, a Semente da mulher esmagaria a cabeça 
da serpente. Essa promessa prenunciou a Cristo. 
 
Ainda que essa história, de certo modo, seja contada em estilo figurado, o 
Livro de Gênesis pede-nos que a leiamos como história. No Gênesis, Adão 
está ligado aos patriarcas e, através deles, por genealogia, ao resto da raça 
humana (caps. 5; 10-11), fazendo dele uma parte da história, tanto quanto 
Abraão, Isaque e Jacó. Todas as principais personalidades do Livro de 
Gênesis, depois de Adão - exceto José - são mostradas claramente como 
pecadoras de um modo ou de outro, e a morte de José, como a morte de 
quase todos os outros na história, é cuidadosamente registrada (Gn 50.22-
26). A afirmação de Paulo: “em Adão, todos morrem” (1Co 15.22) só torna 
explícito aquilo que o Gênesis já deixa claramente implícito. 
 
É razoável afirmar que a narrativa da queda sozinha dá uma explicação 
convincente para a perversão da natureza humana. Pascal disse que a 
doutrina do pecado original parece uma ofensa à razão, porém, uma vez 
aceita, dá sentido total à condição humana. Ele estava certo; e a mesma 
coisa poderia e deveria ser dita a respeito da própria narrativa da queda. 
 
 
31 
 
Pentateuco 
 
2.6.4. O Dilúvio 
 
O dilúvio foi o castigo divino universal sobre um mundo ímpio e impenitente. 
O apóstolo Pedro refere-se ao dilúvio para relembrar a seus leitores que 
Deus outra vez julgará o mundo inteiro no fim dos tempos, mas agora por 
fogo (2Pe 3.10). Tal julgamento resultará no derramamento da ira de Deus 
sobre os ímpios, como nunca houve na história (Mt 24.21). Deus conclama os 
crentes atuais, assim como Ele fez com Noé na Antigüidade, para avisarem 
os não-salvos sobre esse dia terrível e instar com eles para que se 
arrependam dos seus pecados, e se voltem para Deus por meio de Cristo, e 
assim sejam salvos. 
 
2.6.4.1. A Condição da humanidade Pré-diluviana 
 
Nos dias de Noé, o pecado abertamente se manifestava no ser humano, de 
duas principais maneiras: a concupiscência carnal (Gn 6.2) e a violência (Gn 
6.11,12). A degeneração humana não mudou; o mal continua irrompendo 
desenfreado através da depravação e da violência. Hoje em dia, a 
imoralidade, a incredulidade, a pornografia e a violência dominam a 
sociedade inteira. 
 
2.6.4.2. O arrependimento de Deus (Gn 6.6) 
 
Deus se revela, já nestes primeiros caps. da Bíblia, como um Deus pessoal 
para com o ser humano, e que é passível de sentir emoção, desagrado e 
reação contra o pecado deliberado e a rebelião da humanidade. Aqui, a 
expressão arrependeu-se significa que, por causa do trágico pecado da raça 
humana, Deus mudou a sua disposição para com as pessoas; sua atitude de 
misericórdia e de longanimidade passou à atitude de juízo. A existência de 
Deus, o seu caráter e seus eternos propósitos traçados permanecem 
imutáveis (1Sm 15.29; Tg 1.17), porém, Ele pode alterar seu tratamento para 
com o homem, dependendo da conduta deste. Deus altera, sim, seus 
sentimentos, atitudes, atos e intenções, conforme as pessoas agem diante da 
sua vontade (Êx 32.14; 2Sm 24.16; Jr 18.7-10; 26.3,13,19; Ez 18.4-28; Jn 
3.8-10). Essa revelação de Deus como um Deus que pode sentir pesar e 
tristeza, deixa claro que Ele, em relação à sua criação, age pessoalmente, 
como no recesso de uma família. Ele tem um amor intenso pelos seres 
humanos e solicitude divina ante a penosa situação da raça humana (Sl 
139.7-18). 
 
2.6.4.3. O Varão Chamado Noé (Gn 6.9) 
 
Em meio à iniqüidade e maldade generalizadasdaqueles dias (Gn 6.5), Deus 
achou em Noé um homem que ainda buscava comunhão com Ele e que era 
32 
 
 
 
varão justo. Reto em suas gerações equivale dizer que ele se mantinha 
distanciado da iniqüidade moral da sociedade ao seu redor. Por ser justo e 
temer a Deus e resistir à opinião e conduta condenáveis do público, Noé 
achou favor aos olhos de Deus (Gn 6.8; 7.1; Hb 11.7; 2Pe 2.5). Essa retidão 
de Noé era fruto da graça de Deus nele, por meio da sua fé e do seu andar 
com Deus (Gn 6.9). A salvação no Novo Testamento é obtida exatamente da 
mesma maneira, isto é, mediante a graça e misericórdia de Deus, recebidas 
pela fé, cuja eficácia conduz o crente a um esforço sincero para andar com 
Deus e permanecer separado da geração ímpia ao seu redor (v. 22; 7.5, 9, 
16; At 2.40). Hebreus 11.7 declara que Noé foi feito herdeiro da justiça que é 
segundo a fé. O Novo Testamento também declara que Noé não somente era 
justo, como também pregador da justiça (2Pe 2.5). Nisso, ele é exemplo do 
que os pregadores devem ser. 
 
2.6.4.4. A Arca (Gn 6.14) 
 
A palavra hebraica aqui traduzida como arca, significa um objeto apropriado 
para flutuar, e ocorre somente aqui e em Êx 2.3,5 (onde a mesma palavra 
refere-se ao cesto flutuante em que o nenê Moisés foi colocado). A arca de 
Noé era semelhante a uma barcaça de tamanho colossal. Sua capacidade de 
carga corresponde à de mais de 300 vagões ferroviários. Calcula-se que a 
arca podia comportar cerca de 7.000 tipos de animais. Hebreus 11.7 assinala 
a arca como um tipo de Cristo, aquele que é o meio de salvação do crente, 
para livrá-lo do juízo e da morte (1Pe 3.20, 21). 
 
2.6.4.5. O pacto (Gn 6.18) 
 
Deus, mediante o seu pacto, prometeu a Noé que este seria salvo do 
julgamento que ia ocorrer através do dilúvio. Noé correspondeu ao pacto de 
Deus, crendo nEle e na sua palavra (Gn 6.13; Hb 11.7). Sua fé foi 
demonstrada quando ele temeu (Hb 11.7) e quando construiu a arca e entrou 
nela (Gn 6.22; 7.7; 1Pe 3.21). 
 
2.6.4.6. Uso Neotestamentário do dilúvio 
 
A referência ao dilúvio encontrada no Novo Testamento serve de advertência 
de que Deus é o justo juiz de todo o mundo e castigará inexoravelmente o 
pecado e livrará da prova os piedosos (2Pe 2.5-9). No tempo de Noé, Deus 
destruiu o mundo com água, mas no futuro vai fazê-lo com fogo (2Pe 3.4-14). 
Será o prelúdio para estabelecer uma nova ordem, na qual habitará a justiça. 
O caráter repentino e inesperado do dilúvio exemplifica a maneira pela qual 
ocorrerá a segunda vinda de Cristo e mostra que o crente deve estar 
preparado em todos os momentos para aquele dia (Mt 24.36-42). Também o 
apóstolo Pedro viu um paralelo entre o batismo em água e a salvação de Noé 
33 
 
Pentateuco 
 
e sua família no meio das águas (1Pe 3.20-22). A água simboliza tanto o 
juízo de Deus sobre o pecado como seu resultado (o do pecado), a morte. O 
batismo significa que o crente se une espiritualmente a Jesus em sua morte e 
ressurreição. À semelhança de Noé na arca, o crente em Cristo passa ileso 
pelas águas do juízo e morte a fim de habitar em uma nova criação. No 
Calvário todas as fontes do grande abismo foram rompidas, e as águas do 
juízo subiram sobre Cristo, porém nenhuma gota alcança o crente porque 
Deus fechou a porta. 
 
2.6.4.7. Eventos cataclísmicos 
 
De conformidade com Gênesis 7.11, 12 dois eventos cataclísmicos 
precipitaram o dilúvio: a implosão dos imensos reservatórios de águas 
subterrâneas, talvez causada por terremotos e maremotos, produziu ondas 
gigantescas em série, geradas nos oceanos, além das chuvas torrenciais que 
caíram sobre a terra por quarenta dias. Em conseqüência disso, todos os 
seres viventes fora da arca, que normalmente viviam na terra seca, 
morreram, tanto homens como animais (vv. 16, 17; 7.21, 22; Mt 24.37-39; 
1Pe 3.20; 2Pe 2.5). Foi somente depois de 150 dias que a água começou a 
baixar (v. 24). A arca finalmente repousou numa das montanhas de Arará (na 
Armênia), a uns 800 km de onde começou o dilúvio (Gn 8.4). A terra 
enxugou, e Noé desembarcou da arca 377 dias depois de iniciado o dilúvio 
(8.13, 14). Em 2 Pedro 3.6 está escrito que o mundo antediluviano pereceu. 
Esta palavra sugere que, devido às tremendas convulsões ocorridas na terra, 
sua topografia antediluviana foi grandemente modificada, tanto física quanto 
geologicamente, em relação à terra que agora existe (2Pe 3.7a). O relato do 
dilúvio fala-nos, tanto do julgamento do mal, como da salvação (Hb 11.7). O 
dilúvio, trazendo a total destruição de toda a vida humana fora da arca, foi 
necessário para extirpar a extrema corrupção moral dos homens e mulheres 
e para dar à raça humana uma nova oportunidade de ter comunhão com 
Deus. 
 
2.6.4.8. A extensão do dilúvio 
 
Qual foi a extensão do dilúvio? Foi universal ou limitado à área do Oriente 
Médio? O Gênesis diz que as águas cobriram as montanhas mais altas e 
destruíram toda a criatura (fora da arca), sob os céus (7.19-23). Não 
obstante, há diferença de opiniões entre eruditos evangélicos. Alguns 
pensam que se refere somente à terra habitada daquele tempo, pois o 
propósito divino era destruir a humanidade pecaminosa. Dizem que o uso 
bíblico da expressão “toda a terra” amiúde significa a terra conhecida pelo 
autor (Gn 41.57; Dt 2.25; Rm 10.18). 
 
34 
 
 
 
Por outro lado, os que crêem que o dilúvio foi universal notam que o relato 
bíblico emprega expressões fortes e as repete dando a impressão de um 
dilúvio universal. Perguntam: Qual era a extensão da população humana? 
Parece-lhes possível que esta se houvesse estendido até à Europa e África. 
Além do mais, certos estudiosos crêem que as grandes mudanças na crosta 
terrestres e repentinas e drásticas alterações no clima de áreas geográficas, 
como Alasca e Sibéria, podem ser atribuídas ao dilúvio. Talvez, com o 
transcurso do tempo, os geólogos encontrem evidências conclusivas para 
determinar qual seja a interpretação correta. 
 
Têm sido encontradas em diferentes continentes tradições que aludem a um 
grande dilúvio, inclusive detalhes da destruição de toda a humanidade, 
exceto uma única família e a escapatória em um barco. A famosa epopéia de 
Gilgames, poema babilônico, contém muitas semelhanças com o relato 
bíblico, embora seja politeísta em seu enfoque. Parece que o dilúvio deixou 
uma impressão indelével na memória da raça, e que as tradições, por mais 
corrompidas que estejam, testificam do fato que houve um dilúvio. 
 
Em Gênesis 7.19 lê-se: “E as águas prevaleceram excessivamente sobre a 
terra; e todos os altos montes que havia debaixo de todo o céu foram 
cobertos”. Observa-se que, a água elevou-se a ponto de cobrir todos os altos 
montes, que havia debaixo de todo o céu; isto é, a terra inteira foi coberta 
pelas águas. Isto significa um dilúvio universal, e não apenas uma gigantesca 
inundação local, confinada a uma pequena porção da terra (2Pe 3.6). 
 
2.6.4.9. Estabelece-se a nova ordem do mundo 
 
Ao sair da arca, Noé entrou em um mundo purificado pelo juízo de Deus; 
figurativamente era uma nova criação e a humanidade começaria de novo. A 
primeira coisa que Noé fez foi oferecer um grande sacrifício a Deus como 
sinal de sua gratidão pelo grande livramento passado e como consagração 
de sua vida a Deus para o futuro. Deus estabeleceu a nova ordem dando 
provisões básicas pelas quais a vida do homem se regeria na terra depois do 
dilúvio: 
 
a) Para dar segurança ao homem prometeu que as estações ficariam 
restabelecidas para sempre; 
b) Reiterou o mandamento de que o homem se multiplicasse; 
c) Confirmou o domínio sobre os animais dando-lhe permissão para 
comer sua carne, porém, não o seu sangue; 
d) Estabeleceu a pena capital; 
e) Fez aliança com o homem prometendo-lhe que jamais voltaria a 
destruir a terra por meio de um dilúvio. 
 
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Pentateuco 
 
Por que foi proibido comer o sangue? Alguns estudiosos crêem que o sangue 
é o símbolo da vida, a qual só Deus pode dar; portanto, o sangue pertence a 
Deus e o homem não deve tomá-lo. Há,porém, uma explicação mais bíblica. 
A proibição preparou o caminho para ensinar a importância do sangue como 
meio de expiação (Lv 17.10-14). O sangue representa uma vida entregue na 
morte. Deus estabeleceu a pena capital para restringir a violência. O homem 
é de grande valor e a vida é sagrada, pois “Deus fez o homem conforme a 
sua imagem”. Martinho Lutero viu neste mandamento a base do governo 
humano. Se o homem recebe autoridade de outros em certas circunstâncias, 
também tem autoridade sobre coisas menores, tais como propriedades e 
impostos. O apóstolo Paulo confirma que tal poder é de Deus, e que a pena 
capital está em vigor (Rm 13.1-7). O magistrado não traz debalde sua espada 
(instrumento de execução). 
 
Deus fez um pacto com Noé e com toda a humanidade prometendo não mais 
destruir o mundo por um dilúvio. Ao presenciar a terrível destruição pelo juízo 
de Deus, o homem poderia perguntar-se: “Valerá a pena edificar e semear? 
Pode ser que haja outro dilúvio e arrase tudo”. Mas, para dar-lhe segurança 
de que a raça continuaria e o homem teria um futuro garantido, Deus fez 
aliança com ele. Deixou o arco-íris como sinal de sua fidelidade. É provável 
que o arco-íris já existisse, mas agora reveste-se de novo significado. Ao ver 
o arco-íris nas nuvens de tormenta, o homem se lembraria da promessa 
misericordiosa de Deus. 
 
2.6.5. A raça humana começa novamente 
 
Noé surge, sob a bênção de Deus, como o segundo cabeça da raça humana. 
Observe-se os paralelos entre as bênçãos dadas a Noé e as que foram 
dadas a Adão (Gn 1.28-29). Houve estimulações divinas também. Primeira, 
referente ao alimento. Segundo o versículo 3 parece que somente depois do 
dilúvio é que o alimento animal foi permitido ao homem. Essa permissão 
talvez tenha sido dada em conexão com o sacrifício de Noé, e é possível que 
aqui tenhamos a origem da “festa” do holocausto, da qual o próprio adorador 
participava. A proibição de comer-se sangue nessa festa pode ser equiparada 
com um instrutivo contraste com a proibição do jardim do Éden. A “árvore” 
proibida, cuja abstenção era sinal de obediência, estabeleceu a santidade da 
lei; o “sangue” proibido, cujo derramamento era o sinal da propiciação divina, 
estabeleceu a santidade da graça. A segunda estipulação dizia respeito ao 
derramamento do sangue. Essa solene advertência (versículos 5 e 6) 
preservou a santidade da vida humana. “Sangue” representa aquele mistério 
que chamamos de “vida”. É uma dádiva exclusiva de Deus, e o homem não 
tem o direito de tirá-la. O mais alto motivo possível é empregado aqui, 
“porque Deus fez o homem conforme a sua imagem”. 
 
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2.6.6. A torre de Babel 
 
Babel. Os orgulhosos edificadores da cidade tinham-na chamado de Babel 
(portão ou corte de Deus), mas o Senhor, aproveitando a palavra usada, e 
dando-lhe outro significado, derivadamente, baseando a palavra numa raiz 
semelhante, também a chamou de Babel (confusão). 
 
Gn 11.1-4: “E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala. E 
aconteceu que, partindo eles do Oriente, acharam um vale na terra de Sinar; 
e habitaram ali. E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-
los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume, por cal. E disseram: Eia, 
edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus e 
façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de 
toda a terra”. 
 
Os acontecimentos registrados nesta seção são anteriores às divisões 
resultantes da humanidade, as quais são esboçadas em Gn 10. A expressão 
“Duma mesma língua, e duma mesma fala”, lit., “um lábio e uma palavra”, 
significando que todos falavam da mesma maneira, tanto quanto à pronúncia 
como quanto ao vocabulário. A unidade original da linguagem humana, 
embora longe de ser demonstrável, torna-se cada vez mais provável. Sinear 
é a planície dos rios Tigre e Eufrates. A região do Arará certamente ficava a 
noroeste de Sinear, pelo que a migração, se é que não tomou uma rota 
circular, deve ter sido feita da direção oriental. A palavra hebraica, 
miqqedhem, é bastante vaga, e aparece novamente em Gn 13.11, onde é 
traduzida novamente como oriente, que é a tradução correta num e noutro 
lugar. Queimemo-los. Os tijolos eram usualmente secados ao sol, mas em 
Birs Nimrude ainda podem ser encontrados tijolos queimados. Isso não 
apenas demonstra o estágio avançadíssimo a que já haviam chegado as 
artes de edificação antiga, mas também serve para dar testemunho sobre a 
verdade desta narrativa. O betume aqui mencionado é a mesma coisa que 
asfalto. Cujo cume toque nos céus. A cidade e a torre tinham a intenção 
primária de servir de seguridade defensiva e de domínio político. É possível, 
igualmente, que a torre tivesse uma significação religiosa e astrológica. O 
hebraico diz literalmente “cujo topo seja o céu”, e isso pode significar que ali 
eram pintados os sinais do zodíaco e que haviam outros desenhos celestes. 
Entretanto, em vista do uso dessa frase em Dt 1.28, e também não nos 
esquecendo do fato que os antigos babilônios se ufanavam da altura de seus 
templos, esta expressão não contém necessariamente qualquer referência 
astrológica. 
 
O plano de centralização proposto pelo homem parece ter sido considerado 
por Deus como indesejável: é possível que em seus motivos mais profundos 
fosse um ato de auto-suficiência humana e de rebelião contra Deus. É 
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Pentateuco 
 
altamente significativo que “Babel” (Babilônia), no relato bíblico, representa, 
em todas as páginas bíblicas, até o Apocalipse, a idéia de federação humana 
materialista e humanista em oposição a Deus. As razões para Deus ter 
destruído aqueles planos humanos provavelmente tinham em vista 
primeiramente tratar de modo eficaz com o perverso motivo da oposição, e, 
em segundo lugar, realizar Seu desígnio que os homens cobrissem toda a 
superfície da terra e desenvolvessem seus recursos. Note-se que Deus não 
destruiu a torre; Ele confundiu a linguagem e espalhou o povo. Não é 
asseverado aqui um milagre súbito. A confusão da linguagem pode ter sido 
efetuada mediante a orientação e o apressamento providencial das 
tendências naturais dos homens formarem dialetos, à base dos quais se 
separariam em vários grupos com diferentes simpatias e interesses. 
 
2.6.7. A aliança da Graça de Deus 
 
Nas Escrituras, as alianças são acordos solenes, negociados ou impostos 
unilateralmente, que ligam as partes umas às outras em relações 
permanentes, definidas, com promessas específicas, com reivindicações e 
obrigações de ambos os lados (p.ex., a aliança do casamento, em MI 2.14). 
 
Quando Deus faz uma aliança com suas criaturas, só ele estabelece as 
condições, como mostra sua aliança com Noé e seus descendentes (Gn 9.9). 
Quando Adão e Eva fracassaram em obedecer os termos da aliança das 
obras, Deus não os destruiu, mas revelou a sua aliança da graça, 
prometendo-lhes um Salvador (Gn 3.15). A aliança de Deus descansa sobre 
sua promessa, como fica claro da sua aliança com Abraão. Ele chamou 
Abraão para ir à terra que ele lhe daria e prometeu abençoá-lo e a todas as 
famílias da terra através dele (Gn 12.1-3). Abraão atendeu a chamada de 
Deus, porque creu na promessa de Deus; foi a sua fé na promessa de Deus 
que lhe foi creditada como justiça (Gn 15.6; Rm 4.18-22). A aliança de Deus 
com Israel, no Sinai, está na forma dos tratados de suserania do antigo 
Oriente Próximo. Estas são alianças impostas unilateralmente por um rei 
poderoso sobre um rei vassalo e um povo servo. 
 
Ainda que a aliança do Sinai exigisse obediência às leis de Deus, sob a 
ameaça de maldição, ela era uma continuação da aliança da graça (Ex 3.15; 
Dt 7.7-8; 9.5-6). Deus deu os mandamentos a um povo que ele já havia 
redimido e reivindicado como seu (Ex 19.4; 20.2). A graciosa promessa da 
aliança de Deus foi posteriormente definida por meio de tipos e sombras da 
lei dada a Moisés. O fracasso dos israelitas em guardar a aliança de Deus 
mostrou a necessidade de uma nova aliança que assegurasse o

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