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Fármacos cardiotônicos Fisiopatologia da insuficiência cardíaca congestiva Em indivíduos sadios, a parede do ventrículo esquerdo deve se contrair suficientemente para ejetar o volume sistólico necessário, o que influencia diretamente o débito cardíaco. Vale ressaltar que: Débito cardíaco (DC) = Volume sistólico (VS) X Frequência cardíaca (FC) e Pressão arterial (PA) = Débito cardíaco (DC) + Resistência vascular periférica (RVP). Quando há um quadro de disfunção, o coração ejeta sangue em menor quantidade. Há menor volume sistólico, menor débito cardíaco e menor pressão arterial. Isso leva à ativação dos barorreceptores, que causam uma descarga do sistema nervoso simpático e consequentemente de adrenalina. Causando um aumento na força de contração e de frequência cardíaca. O paciente nesse momento é assintomático e não apresenta um quadro de insuficiência, uma vez que ainda há compensação do organismo. Na insuficiência cardíaca, o ventrículo esquerdo enche sob altas pressões, caracterizando a IC diastólica. O coração ejeta normalmente o sangue, mas recebe em menor quantidade, uma vez que há aumento da pressão, consequentemente ejeta um menor volume, uma vez que a mesma quantidade de sangue que entra deve sair. Geralmente antecede a IC sistólica, em que o coração não ejeta volume suficiente para a circulação sistêmica, a sintomatologia tende a ser de moderada a severa. Progressão da ICC Inicialmente há um débito cardíaco (DC) normal, porém, o paciente sofreu algum dano no coração que fez com que seu débito fosse diminuído, consequentemente sua pressão arterial (PA). Nesse momento o paciente apresenta uma disfunção. Essa queda na PA causa ativação do barorreflexo e descarga simpática, com aumento da noradrenalina (NE). Esse neurotransmissor estimula a produção de angiotensina II (AII). A NE ativa os receptores β1 no coração e a AII os receptores α1 também do coração. A ativação dos AT1 promove vaso constrição, enquanto a ativação de β1 promove maior liberação de cálcio e contração cardíaca. Junto à essas substâncias, a endotelina (ET) também é estimulada a partir do menor DC, influenciando no aumento da liberação de cálcio. Ao longo do tempo, a liberação constante dessas substâncias pode causar uma série de danos, como a dessensibilização dos receptores β adrenérgicos e o remodelamento cardíaco causado por β1 e AT1. O remodelamento causa uma parede cardíaca mais espessa, resultando uma diminuição do volume sistólico e do débito cardíaco. A contínua queda do DC proporciona um aumento exacerbado de tais substâncias danosas e causam ainda maior queda no débito. O paciente atinge a insuficiência cardíaca descompensada. O desempenho cardíaco reduz ao longo do tempo. Hiperativação do Sistema Nervoso Simpático e Angiotensina II a longo prazo • Aumento na demanda de oxigênio – O cálcio faz o coração trabalhar mais; • Dessensibilização de receptores β1; • Apoptose de cardiomiócitos; • Instalação de processo inflamatório; • Estresse oxidativo; • Alterações na bioenergética mitocondrial – Não produzem ATP suficiente; • Síntese de fatores de crescimento; • Fibrose por aumento de produção de matriz extracelular; • Enrijecimento do cardiomiócito; • Remodelamento e hipertrofia do miocárdio; • Expressão e atividade de cálcio ATPases e enzimas são prejudicadas. Sintomatologia • Edema pulmonar: ➢ Dificuldade intensa em respirar – Dispneia; • Frequência cardíaca muito aumentada; • Coração aumentado – O sangue não é totalmente expulso; • Edema de membros. Fármacos inotrópicos A partir do potencial de ação, os canais de cálcio são abertos, permitindo sua entrada na célula. Nesse momento, os receptores de rianodina (RyR) são ativados e ocorre o mecanismo conhecido como “cálcio libera cálcio”, em que há liberação de cálcio pelo retículo sarcoplasmático a partir do estímulo com o próprio íon. A liberação de cálcio causa contração celular, sendo o momento de sístole. Para a diástole (relaxamento do músculo cardíaco) ocorrer, não pode haver cálcio livre no citoplasma. Nesse momento, a SERCA2 recapta o cálcio do citoplasma para o retículo sarcoplasmático. Simultaneamente, o trocador de sódio/cálcio (NCX) realiza a troca de um íon cálcio (Ca2+), que sai da célula, por três íons de sódio (Na+). Esse mecanismo pode ser influenciado a partir da ação de β adrenérgicos, inibidores de PDE, levosimedan e glicosídeos cardíacos. Glicosídeos cardíacos - Digitálicos São os fármacos de primeira escolha para tratar a ICC. O principal fármaco da classe é a Digoxina. A Digoxina se liga à subunidade α da Na+/K+ ATPase e causa sua inativação. Desse modo, ocorre acúmulo de Na+ no meio intracelular, gerando uma despolarização local. Com o acúmulo de Na+ e a mudança de polaridade da célula, a NCX tem sua função invertida, causando a eliminação do Na+ e entrada de Ca2+. O aumento de cálcio livre permite sua interação com a tropomiosina C e consequentemente, a interação da miosina com a actina. Assim ocorre aumento da contração e da força de contração, com efeito inotrópico positivo. No nervo vago a Digoxina exerce o mesmo efeito. O aumento de cálcio livre permite que o neurotransmissor acetilcolina seja liberado em maior quantidade para agir no nó sinoatrial. Dessa maneira ocorre diminuição da FC. Quando a célula possui altos níveis de K+, ocorre desfosforilação da subunidade α da Na+/K* ATPase, o que diminui a ligação com o fármaco e seu efeito. • Consequências do uso da Digoxina ➢ Maior força de contração; ➢ Maior tônus vagal; ➢ Maior DC e perfusão tecidual; ➢ Inibição da atividade do sistema nervoso simpático, porque houve aumento do DC e da PA; ➢ Menor dispneia e cansaço; ➢ Menor edema – Normalização do fluxo sanguíneo normal; ➢ NÃO prolonga a sobrevida. • Efeitos adversos ➢ Bloqueio atrioventricular; ➢ Arritmia ventricular – Pós despolarização e bigemismo (excesso de cálcio causa um potencial anormal); ➢ Vômito, náuseas; ➢ Alterações visuais. • Intoxicação digitálica Esse fármaco deve ser usado somente em ambiente hospitalar, uma vez que possui pequena janela terapêutica (diferente entre dose de uso/intoxicação), com constante supervisão. ➢ Tratamento KCl venoso – Libera muito potássio; Lidocaína – Bloqueia canais de cálcio; Anticorpo seletivo para o fármaco – Pouco usado. Antagonistas β-adrenérgicos e dopaminérgicos São os fármacos de segunda escolha para tratar a ICC. O principal fármaco da classe é a Dobutamina, comercializada em sua forma de mistura racêmica, seguida da Dopamina quando não há resultado satisfatório. A dobutamina se liga majoritariamente a receptores β1, que ativam a proteína Gs, promovendo a conversão de ATP em AMPc. Ocorre ativação da proteína cinase A (PKA), que atua na fosforilação de canais de cálcio, permitindo sua maior entrada na célula. Além disso, a PKA também fosforila o fosfolambam (PLB) que inibe a ação da SERCA2. Dessa forma, a SERCA2 é incapaz de recaptar o cálcio, deixando-o livre no citosol. Em termos gerais, esses fármacos são capazes de aumentar a PA anteriormente reduzida. • Usos clínicos Usados em pacientes com ICC que não respondem aos agentes inotrópicos de primeira escolha. ➢ Dopamina Em baixa dose promove vasodilatação e redução da pré e pós carga ventricular; Em alta dose ativa β1 e D1 miocardiais, com risco de ação em α1 (por isso é substituída pela dobutamina). ➢ Dobutamina Geralmente é uma mistura racêmica administrada em infusão intravenosa; Pode ativar receptores β1 e D1, causando aumento do débito cardíaco e redução dos sintomas; Pode causar tolerância se administrada por mais de 4 dias, sendo necessárias substituição por inibidores da fosfodiesterase, por exemplo. Inibidoresde Fosfodiesterase (PDE) O principal é a Milrinona, pois tem maior seletividade para a PDEII, porém existe também a Inamrinona e Enoximona. Tem como ação a inibição da enzima fosfodiesterase (PDE), que atua na inativação do AMPc em 5-AMP. No coração, quando a Milrinona inibe a PDE ocorre aumento da disponibilidade do AMPc para agir na PKA. Consequentemente há aumento na concentração de cálcio disponível e na contratilidade cardíaca. Tem efeito inotrópico positivo, aumentando o DB, e cronotrópico positivo, aumentando a FC. Já no músculo liso vascular, o AMPc e a PKA atuam na redução da concentração de cálcio, contudo também atuam na fosforilação do canal de potássio, permitindo maior entrada do íon na célula. Com isso, ocorre uma hiperpolarização da membrana, provocando a redução da pressão arterial e, consequentemente, vasodilatação. Assim há menor pré e pós carga e normalização do débito cardíaco. Sensibilizador de cálcio - Levosimedan O representante da classe é o Levosimedan. Atua por três mecanismos distintos. • Ativar o canal de cálcio em células musculares lisas, bem como os inibidores de fosfodiesterase; • Aumentar a sensibilidade da troponina C ao cálcio - Sendo este o principal mecanismo e o mais bem elucidado; • Ativar o canal de K ATP nas mitocôndrias de cardiomiócitos. Esse canal, quando ativo, permite que o ATP seja gerado mais facilmente e em maior quantidade, melhorando a bioenergética da célula; • Redução de IL-6 e de fatores de apoptose cardíaca. • Usos clínicos: ➢ Intravenoso em crises de ICC descompensada.
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