Buscar

ETICA E CIDADANIA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 98 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 98 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 98 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FACULDADE ÚNICA 
DE IPATINGA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Enrique Carlos Natalino 
 
Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) (2020). Tem 
doutorado-sanduíche no German Institute of Global and Area Studies (Alemanha). Possui 
Mestrado em Administração Pública pela Escola de Governo da Fundação João Pinheiro 
(2011). É graduado em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo 
(USP) (2006). Tem experiência docente como professor nos cursos de Direito, Administra-
ção, Economia e Relações Internacionais da Pontíficia Universidade Católica de Minas 
Gerais (PUC-MG) e da Faculdade de Direito Novos Horizontes. 
ÉTICA E CIDADANIA 
 
1ª edição 
Ipatinga – MG 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL 
 
Diretor Geral: Valdir Henrique Valério 
Diretor Executivo: William José Ferreira 
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos 
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira 
Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa 
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva 
 Carla Jordânia G. de Souza 
 Rubens Henrique L. de Oliveira 
Design: Brayan Lazarino Santos 
 Élen Cristina Teixeira Oliveira 
 Maria Luiza Filgueiras 
 
 
 
 
 
 
 
 
© 2021, Faculdade Única. 
 
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza-
ção escrita do Editor. 
 
 
T314i 
 
 
Teodoro, Jorge Benedito de Freitas, 1986 - . 
Introdução à filosofia / Jorge Benedito de Freitas Teodoro. – 1. ed. Ipatinga, 
MG: Editora Única, 2020. 
113 p. il. 
 
Inclui referências. 
 
ISBN: 978-65-990786-0-6 
 
1. Filosofia. 2. Racionalidade. I. Teodoro, Jorge Benedito de Freitas. II. Título. 
 
CDD: 100 
CDU: 101 
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. 
 
 
 
 
 
NEaD – Núcleo de Educação as Distancia FACULDADE ÚNICA 
Rua Salermo, 299 
Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG 
Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 
www.faculdadeunica.com.br
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
Menu de Ícones 
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo 
aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. 
Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um 
com uma função específica, mostradas a seguir: 
 
 
 
São sugestões de links para vídeos, documentos científi-
co (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou 
links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Bibliote-
ca Pearson) relacionados com o conteúdo abordado. 
 
Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações impor-
tantes nas quais você deve ter um maior grau de aten-
ção! 
 
São exercícios de fixação do conteúdo abordado em 
cada unidade do livro. 
 
São para o esclarecimento do significado de determi-
nados termos/palavras mostradas ao longo do livro. 
 
Este espaço é destinado para a reflexão sobre questões 
citadas em cada unidade, associando-o a suas ações, 
seja no ambiente profissional ou em seu cotidiano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
SUMÁRIO 
 
ÉTICA E MORAL: CONCEITOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA ......................... 7 
1.1 O QUE É ÉTICA E MORAL? ...................................................................................... 7 
1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS CONCEITOS ............................................................ 8 
1.3 A RELAÇÃO ENTRE ÉTICA E MORAL ..................................................................... 10 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 14 
ÉTICA E MORAL NAS RELAÇÕES SOCIAIS .............................................. 19 
2.1 ÉTICA, MORAL E DIREITO ...................................................................................... 19 
2.2 ÉTICA NA POLÍTICA .............................................................................................. 22 
2.3 ÉTICA DAS CONVICÇÕES E ÉTICA DA RESPONSABILIDADE .............................. 23 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 28 
ÉTICA, MORAL E POLÍTICA: A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA ............. 33 
3.1 O CONCEITO DE CIDADANIA E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA ........................... 33 
3.2 CIDADANIA E DIREITOS FUNDAMENTAIS ............................................................ 37 
3.3 A CIDADANIA NO MUNDO GLOBALIZADO ........................................................ 39 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 46 
CIDADANIA NO BRASIL .......................................................................... 51 
4.1 A AFIRMAÇÃO DA IDEIA DE CIDADANIA NO BRASIL ........................................ 51 
4.2 A CIDADANIA NA REPÚBLICA ............................................................................. 55 
4.3 A CONSTITUIÇÃO-CIDADÃ .................................................................................. 57 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 61 
DESAFIOS DO EXERCÍCIO DA CIDADANIA NO BRASIL ......................... 67 
5.1 A CONSOLIDAÇÃO DA DEMOCRACIA APÓS 1988 ........................................... 67 
5.2 OS MEIOS DE EXERCÍCIO DA CIDADANIA .......................................................... 69 
5.3 A CULTURA DO PATRIMONIALISMO .................................................................... 72 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 75 
ÉTICA NAS RELAÇÕES DE TRABALHO: O CÓDIGO DE ÉTICA 
PROFISSIONAL ......................................................................................... 80 
6.1 ÉTICA, MERCADO E INSTITUIÇÕES ....................................................................... 80 
6.2 A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS ORGANIZAÇÕES ....................................... 81 
6.3 ÉTICA NAS BUROCRACIAS PÚBLICAS E PRIVADAS............................................. 84 
6.4 O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL .................................................................. 85 
6.5 ÉTICA E CIDADANIA NAS RELAÇÕES DE TRABALHO .......................................... 89 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 92 
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................... 96 
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 97 
 
UNIDADE 
01 
UNIDADE 
02 
UNIDADE 
03 
UNIDADE 
04 
UNIDADE 
05 
UNIDADE 
06 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
CONFIRA NO LIVRO 
 
A Unidade 1 aborda a definição dos conceitos de Moral e de Ética 
à luz do contexto histórico. Os conceitos de Moral e de Ética , co-
mo será visto, se referem a objetos distintos, mas guardam relações 
estreitas entre si. 
A Unidade 2 trata da aplicação dos conceitos de Ética e de Moral 
nas relações sociais. Direito e Política, dois campos das relações 
sociais, dialogam diretamente com a Moral e com a Ética. Esta 
unidade aborda ainda a diferença entre Ética das Convicções e 
Ética da Responsabilidade, dois conceito essenciais para a com-
preensão da ética no contexto social. 
 
 
A Unidade 3 aborda a temática da Ética, da Moral e da Política na 
construção do sentimento de cidadania. Aborda ainda a relação 
entre cidadania e a afirmação histórica dos direitos fundamentais, 
base da democracia. A unidade finaliza com a análise do fenô-
meno da cidadania em contexto de globalização. 
A Unidade 4 analisa como se deu a construção do pensamento 
sobre cidadania no Brasil, da Colônia até a República, à luzdas 
conquistas democráticas. Será visto de que modo a Constituição 
de 1988 pavimentou o caminho para o exercício da democracia 
em um contexto de liberdades, de separação de Poderes e de 
maior autonomia para as instituições. 
 
 
A Unidade 5 trata do desenvolvimento da cidadania no Brasil após 
a promulgação da Constituição de 1988. Analisa, dessa forma, 
como os cidadãos podem exercer seus direitos e quais os limites de 
atuação no Estado na salvaguarda dos direitos e garantias fun-
damentais. Por fim, aborda a problemática do patrimonialismo e 
como afeta o Estado de Direito 
A Unidade 6 analisa as questões éticas à luz das relações de traba-
lho. Compreenderá uma discussão sobre a ética no mercado, nas 
instituições e na burocracia, a responsabilidade social das organi-
zações e a ética nas burocracias. Por fim, analisa o fenômeno da 
normatização de comportamentos éticos, o Código de Ética Profis-
sional e a importância da ética e da cidadania no mundo do tra-
balho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
ÉTICA E MORAL: CONCEITOS E 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
 
 
 
 
 “A razão vos é dada para discernir o bem e o mal” 
Dante Alighieri, poeta italiano 
 
1.1 O QUE É ÉTICA E MORAL? 
A moral diz respeito aos grandes paradigmas e valores de um determinado 
grupo social em um dado tempo. Trata-se de um consenso coletivo para o compor-
tamento dos indivíduos e a condução da vida em comunidade. A ética, por sua 
vez, é a liberdade interior de cada indivíduo, isto é, aquilo que cada um considera 
ser bom ou ruim, vicioso ou virtuoso para si mesmo. 
Ética e moral são conceitos diferentes. A ética é a tradução etimológica do 
termo ethos (hábito, habitualidade, comportamento reiterado). O hábito revela a 
personalidade. Desse modo, não se pode avaliar a pessoa somente por um ato. A 
questão da ética é essencialmente prática e envolve pensar sobre aquilo que o 
sujeito faz enquanto ser agente e enquanto ser reagente. 
Há um convívio dialético entre ética (do indivíduo) e moral (do grupo). A de-
cisão ética não é simples fruto da cultura, mas também da história pessoal do indi-
víduo. Sócrates, um dos maiores filósofos da Humanidade, questionava os valores 
da sociedade da Grécia Antiga. Acusado de corromper o juízo da sociedade aten-
siense, Sócrates perguntava, entre outras questões, o que era o bem e o que era o 
mal, algo sem resposta até os dias de hoje. O ato socrático de questionar a moral 
estabelecida em sua época era visto como algo subversivo e desestabilizador, pois 
colocava em dúvida as verdades estabelecias. 
A Antropologia, ao estudar o homem como produtor de cultura, tem grande 
contribuição a dar ao estudo da ética. A Psicologia, por seu turno, discute como o 
indivíduo toma suas decisões pessoais. Por que tomou essa decisão? Do mesmo 
modo, a História e a Sociologia são ciências que ajudam a iluminar o entendimento 
da moral e da ética. 
 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
 
A Ética, entretanto, não é uma ciência. Seu objetivo não é produzir respostas 
absolutas para os problemas humanos. O que a Ética busca é especular sobre a 
ação humana e sobre os seus valores fundamentais. Os valores não são permanen-
tes, imutáveis ou aplicáveis a todas as situações. Sempre temos que decidir e fazer 
escolhas. Os indivíduos podem decidir de acordo com a moral do grupo ou contra 
a essa moral. Será que tudo o que é licito é moral? Será que tudo o que é legal é 
ético? Os valores são relativos e as decisões humanas são tomadas no calor das 
circunstâncias. A cada momento temos que decidir o que é bom ou ruim, o que 
fazer e o que não fazer, com base em nossa condição de indivíduo. 
 
1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS CONCEITOS 
O objeto da reflexão ética é o comportamento humano. É impossível susten-
tar uma comunidade imensa de pessoas vivendo sob uma única ética. Da mesma 
forma, é tarefa difícil estabelecer o limite entre o ético e o antiético. Isso se traduz 
em uma sensação de não se conhecer a barreira entre o que se pode e o que não 
se pode fazer. A principal característica das sociedades contemporâneas é a inse-
gurança. Isso se traduz em uma sensação permanente de desorientação social, 
confusão e incerteza. 
Existe um padrão de comportamento? E um valor universal? Qual é o valor 
absoluto? Não há respostas fixas para estas perguntas. Se por um lado a flexibiliza-
ção dos valores universais traz uma sensação inédita de liberdade, por outro a au-
sência de paradigmas de comportamentos dificulta enormemente a decisão. A 
multiplicidade de escolhas e de oportunidades passa a ser um instrumento opressor 
da liberdade. As dúvidas e as inseguranças passam a ser frequentes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
Como resposta a este cenário de incertezas, ocorre a chamada “tribaliza-
ção” da sociedade: as pessoas não se comportam segundo valores universais apli-
cáveis a todos, mas dentro dos valores do seu grupo. Essa instabilidade traz grandes 
impactos nos campos político, jurídico, social, cultural e religioso. Um comportamen-
to que as sociedades buscam diante dessa insegurança é a busca do passado ou 
de padrões tradicionais assentados em valores religiosos e familiares. 
Os grandes paradigmas da vida moderna passam por uma revisão profunda. 
Isso produz uma serie de transformações sociais. A crescente individualização das 
responsabilidades sociais leva à desagregação dos instrumentos sociais de decisão 
consensual, como a política. O Estado e Direito também parecem não ser mais ins-
trumentos eficazes para balizar os comportamentos humanos. 
Existe, ademais, a mentalidade que sobrevaloriza o homem capitalista em 
face da dimensão do social, do coletivo ou do político. Diante da sensação de 
desgoverno das funções estatais, da incapacidade de atender às necessidades 
fundamentais e da sensação de insegurança generalizada, as categorias universais 
são substituídas por valores individuais. 
A falta de parâmetros morais leva à insegurança nas decisões. Cada um pas-
sa a valer pelo que produz e pelo que consome. É mais importante ter do que ser. O 
mercado determina o que é a essência. E quem está fora do mercado? E quem 
não tem poder de troca? Neste contexto, a dignidade da pessoa humana acaba 
perdendo sentido e as pessoas que estão fora da relação de consumo são descon-
sideradas enquanto sujeitos. Nessa linha, a pergunta fundamental da ética (como 
agir) encontra uma resposta retórica nas questões relativas à exclusão social. 
Os povos antigos não conheceram a diferença entre o mundo da ação polí-
tica, o mundo do direito e o mundo do exercício do pensamento. Na Antiguidade, 
há uma certa integralidade dos pensamentos. Eles não tratavam as coisas de modo 
cartesiano, departamentalizando o saber humano. Os antigos lidavam com o mun-
do de modo muito integrado; não havia a separação entre direito e a moral. As 
sociedades medievais também não faziam essa distinção: havia um princípio geral 
que regia todas as áreas. O direito natural era a razão de tudo. 
A modernidade construiu a diferença entre direito e moral, principalmente a 
partir do pensamento do filósofo alemão Immanuel Kant. A filosofia de Kant diferen-
ciou o universo da norma moral e o universo da norma jurídica. Kant influenciou o 
jurista austríaco Hans Kelsen na construção da sua teoria pura do direito (1998). Kel-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
sen separou direito e moral para distanciá-los; ele queria determinar a autonomia 
do Direito. Para Kelsen (1998), direito é o conjunto de normas postas pelo Estado. 
A tarefa do jurista não era avaliar a justiça do sistema, mas compreender os 
critérios de validade das normas de acordo com a hierarquia. Para Kelsen, a ques-
tão da justiça não pertencia ao direito. Dessa forma, criou um abismo entre direito 
(decidir de acordo com o ordenamento) e moral (discutir os valores). 
 
1.3 A RELAÇÃO ENTRE ÉTICA E MORAL 
O estudo da Ética busca entendertodas as formas de mentalidade e estar a 
par de que um ethos dominante não existe sem que haja uma camada social do-
minante que o proclame. Toda vez que se definem normas de comportamento 
consideradas adequadas, passa a haver um aparato para proteger essas normas. 
Nesse sentido, ao estudarmos a ética, devemos também nos preocupar em 
pensar a diversidade das alternativas de comportamento possíveis. Importante en-
fatizar, nesse sentido, a relação entre ética, arbítrio e pluralidade. A universalização 
de qualquer tipo de verdade ética nos leva à definição de patamares rígidos. Tor-
na-se a moral de uma classe dominante sobre a moral das classes dominadas. 
O que está em questão é a construção do compartilhamento dos valores. 
Dessa forma, todo sistema ético busca, em primeiro lugar, proteger os valores que 
consagra. Muitos grupos sociais constroem sistemas de dominação com base na 
política, na religião ou em outros sistemas que formam a consciência de um grupo. 
Dessa maneira, a ética busca eliminar as diferenças e estabelecer regras de 
padrões de comportamento. No entanto, os valores não são tão absolutos que não 
possam dialogar com valores opostos. Um sistema ético, apesar de defender as suas 
verdades, deve praticar a tolerância, pois a moral de uns não pode se impor à mo-
ral de outros. 
Valores morais são passiveis de ajuste e de confronte com outros. Os grupos 
culturais opostos podem construir instrumentos para a abertura recíproca de valo-
res. Como é possível construir uma ética global em um contexto de diferenças entre 
os povos, nacionalismo exacerbado, contingentes humanos excluídos e oposição 
entre culturas? 
O filósofo alemão Juergen Habermas defende que só existe verdade en-
quanto experiência intersubjetiva. O autor se posiciona em confronto direto com a 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
verdade fundada na reflexão individual. Para Habermas, a verdade se constrói a 
partir do diálogo entre sujeitos que pensam diferentes. Ou seja, a chave para a 
busca da verdade é a aceitação da divergência como algo legítimo e natural. 
Somente por meio da comunicação se pode alcançar a colaboração, o entendi-
mento e o consenso. 
A moral é algo que avalia o outro para julgá-lo como pertencente ou não 
pertencente á uma comunidade. O próprio direito vem associado a uma moral. A 
linguagem transpassa valores por meio de certos termos e de palavras que expres-
sam visões de mundo. E elas se expressam por meio de cláusulas gerais: bom, ruim, 
justo, injusto, etc. A linguagem recebe uma grande bagagem da moral. Ela tam-
bém é transmissora desses valores. Todas as práticas discursivas são transmissivas de 
valores. O indivíduo que se vale da linguagem pratica juízos, requalificando-os o 
tempo todo. 
A ética, portanto, significa esfera da ação individual. Está contida dentro de 
um circuito de liberdade que lhe pertence. A moral é a grande instituição social 
que acaba sendo o arcabouço de sustentação de certas atitudes individuais res-
paldadas em conceitos pré-existentes. A moral, por outro lado, procura moldar o 
indivíduo a modelos sociais convenientes, não necessariamente bons. Configura, 
dessa forma, uma instituição social que produz mecanismos de controle e determi-
nam a execução de seus preceitos. 
Escolas e normas jurídicas são exemplos de instituições que contribuem para 
a homogeneização dos indivíduos. Instituições trazem estabilidade para o grupo e 
para a sociedade. A moral é um mecanismo de pasteurização dos comportamen-
tos. Ela permite julgar o que é conforme e o que é desconforme. Ela promove a 
agregação ou a segregação do outro. 
Nas relações morais é preciso verificar a relação de poder para determinar 
quais são os comportamentos adequados. A moral pode ser o principal instrumento 
ideológico de exercício do poder. A moral disfarça, suaviza e amortece a prática 
de poder. Ou seja, é um instrumento de adequação das identidades individuais. A 
moral fornece abrigo para a estrutura de poder. Ela pratica uma espécie de contro-
le conveniente em um certo contexto. Exemplificando, na Idade Média, era clara a 
associação entre poder e moral. A moral imposta era a da Igreja Católica, que de-
tinha o poder. 
A relação entre moral e poder pertence à própria dinâmica das relações so-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
ciais. Nesse sentido, é preciso observar com cautela os valores morais. Um curso de 
ética não é um curso de moral. A filosofia ética é uma prática aberta de reflexão. É 
necessário dimensionar e ponderar os valores, para avaliar se o valor é realmente 
válido. A moral do meio é a prática do exercício de dominação? 
 
 
 
É preciso, portanto, questionar o que é a moral. O discurso moral se mostra 
como um conjunto de valores inegáveis, fundamentais, impassíveis de contestação. 
A moral ultrapassa o tempo de seus criadores e influencia as gerações posteriores. E 
impõe um sacrifício dos valores individuais. 
Nessa direção, a ética se vale da capacidade de resistência que o indivíduo 
tem em face das pressões externas do meio. É a sua capacidade de ponderar en-
tre os conflitos internos e os valores das instituições sociais. Já a moral se baseia em 
um conjunto das sutis e não explicitas manifestações de poder sobre os indivíduos. A 
moral está inserida num contexto sócio-histórico. Não devemos assimilar a moral 
sem questioná-la, sob pena de nos transformarmos em meros reprodutores dos con-
ceitos morais do nosso tempo. 
O comportamento ético pressupõe, dessa forma, o questionamento da moral 
antes de absorvê-la. A moral defende o passado, o que foi consagrado e nos con-
vida a reproduzir esses valores. A ética flerta com o novo. O comportamento ético 
permite requalificar os valores. Isso dá abertura ao processo de alteração dos valo-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
res. 
Ou seja, os indivíduos podem resistir aos valores morais por meio da capaci-
dade de reflexão. Não existem leis morais eternas. Em outras palavras, a moral nos 
convida ao conforto e à segurança. A ética nos convida ao exercício responsável e 
refletido para nos tornarmos agentes e arquitetos de nossa própria existência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. (Enem 2010, 2ª aplicação) “A ética exige um governo que amplie a igualdade 
entre os cidadãos. Essa é a base da pátria. Sem ela, muitos indivíduos não se sen-
tem “em casa”, experimentam-se como estrangeiros em seu próprio lugar de 
nascimento. “ 
SILVA, R. R. Ética, defesa nacional, cooperação dos povos. OLIVEIRA, E. R (Org.) Segurança & defe-
sa nacional: da competição à cooperação regional. São Paulo: Fundação Memorial da América 
Latina, 2007 (adaptado). 
 
Os pressupostos éticos são essenciais para a estruturação política e integração 
de indivíduos em uma sociedade. De acordo com o texto, a ética corresponde 
a: 
 
a) valores e costumes partilhados pela maioria da sociedade. 
b) preceitos normativos impostos pela coação das leis jurídicas. 
c) normas determinadas pelo governo, diferentes das leis estrangeiras. 
d) transferência dos valores praticados em casa para a esfera social. 
e) proibição da interferência de estrangeiros em nossa pátria. 
 
2. (ENEM 2011, adaptado). O brasileiro tem noção clara dos comportamentos éti-
cos e morais adequados, mas vive sob o espectro da corrupção, revela pesquisa. 
Se o país fosse resultado dos padrões morais que as pessoas dizem aprovar, pa-
receria mais com a Escandinávia do que com Bruzundanga (corrompida nação 
fictícia de Lima Barreto). O distanciamento entre “reconhecer” e “cumprir” efeti-
vamente o que é moral constitui uma ambiguidade inerente ao humano, porque 
as normas morais são: 
 
a) decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, utópicas. 
b) parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de obrigação. 
c) amplas e vão além da capacidade de o indivíduo conseguir cumpri-las integral-
mente.d) criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à qual deve se submeter. 
e) mais vinculantes do que as normas jurídica 
 
3. (UNICAMP 2016, adaptada). Por que a ética voltou a ser um dos temas mais tra-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
balhados do pensamento filosófico contemporâneo? Nos anos 1960, a política 
ocupava esse lugar e muitos cometeram o exagero de afirmar que tudo era polí-
tico. 
José Arthur Gianotti, “Moralidade Pública e Moralidade Privada”, em Adauto Novaes, Ética. São 
Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 239. 
 
A partir desse fragmento sobre a ética e o pensamento filosófico, é correto afir-
mar que: 
 
a) o tema foi relevante no passado e apenas recentemente voltou a ocupar um 
espaço central na produção filosófica 
b) os impasses morais e éticos das sociedades contemporâneas reposicionaram o 
tema da ética como um dos campos mais relevantes para a filosofia 
c) o pensamento filosófico abandonou sua postura política após o desencanto com 
os sistemas ideológicos que eram vigentes nos anos 1960 
d) na atualidade, a ética é uma pauta conservadora, pois nas sociedades atuais, 
não há demandas éticas rígidas 
e) a ética foi incorporada pelas outras ciências, deixando de ser estudada nas últi-
mas décadas. 
 
4. (UNISC 2012) – Apresentados os enunciados abaixo, qual deles melhor caracteri-
za o tema da ética filosófica? 
 
a) a ética filosófica estuda a maneira como as pessoas agem dentro de uma de-
terminada sociedade 
b) a ética filosófica consiste em um conjunto de normas relativas à vida sexual das 
pessoas 
c) a ética filosófica é o estudo das normas que regem o exercício de uma determi-
nada profissão 
d) a ética filosófica é um discurso racional e argumentativo cujo objetivo é funda-
mentar critérios para avaliar as ações humanas, seja para louvá-las ou para cen-
surá-las 
e) a ética filosófica consiste na explicação das normas de comportamento que se 
encontram na bíblia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
5. (Leopoldino Rocha) O sujeito ético-moral é somente aquele que preencher os 
seguintes requisitos: 
 
a) ser consciente de si, mas não precisa reconhecer a existência dos outros como 
sujeitos éticos iguais a si. 
b) saber o que faz, conhecer as causas e os fins de sua ação, o significado de suas 
intenções e de suas atitudes e a essência dos valores morais. 
c) não precisa controlar interiormente seus impulsos, suas inclinações e suas paixões, 
deixando-as fluir livremente 
d) dizer o que as coisas são, como são e por que são. Enunciar, pois, juízos de fato 
e) ser responsável, mas não precisa reconhecer-se como autor da sua própria ação 
nem avaliar os efeitos e as consequências dela sobre si e sobre os outros 
 
 
6. (Unesp 2019) – Então, todos os alemães dessa época são culpados? 
 
– Esta pergunta surgiu depois da guerra e permanece até hoje. Nenhum povo é 
coletivamente culpado. Os alemães contrários ao nazismo foram perseguidos, 
presos em campos de concentração, forçados ao exílio. A Alemanha estava, 
como muitos outros países da Europa, impregnada de antissemitismo, ainda que 
os antissemitas ativos, assassinos, fossem apenas uma minoria. Estima-se hoje que 
cerca de 100 000 alemães participaram de forma ativa do genocídio. Mas o que 
dizer dos outros, os que viram seus vizinhos judeus serem presos ou os que os leva-
ram para os trens de deportação? 
(Annette Wieviorka. Auschwitz explicado à minha filha, 2000. Adaptado.) 
 
Ao tratar da atitude dos alemães frente à perseguição nazista aos judeus, o texto 
defende a ideia de que 
a) os alemães comportaram-se de forma diversa perante o genocídio, mas muitos 
mostraram-se tolerantes diante do que acontecia no país. 
b) esse tema continua presente no debate político alemão, pois inexistem fontes 
documentais que comprovem a ocorrência do genocídio. 
c) esse tema foi bastante discutido no período do pós-guerra, mas é inadequado 
abordá-lo hoje, pois acentua as divergências políticas no país. 
d) os alemães foram coletivamente responsáveis pelo genocídio judaico, pois a 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
maioria da população teve participação direta na ação. 
e) os alemães defendem hoje a participação de seus ancestrais no genocídio, pois 
consideram que tal atitude foi uma estratégia de sobrevivência. 
 
7. (Unesp 2018). Os homens, diz antigo ditado grego, atormentam-se com a ideia 
que têm das coisas e não com as coisas em si. Seria grande passo, em alívio da 
nossa miserável condição, se se provasse que isso é uma verdade absoluta. Pois 
se o mal só tem acesso em nós porque julgamos que o seja, parece que estaria 
em nosso poder não o levarmos a sério ou o colocarmos a nosso serviço. Por que 
atribuir à doença, à indigência, ao desprezo um gosto ácido e mau se o pode-
mos modificar? Pois o destino apenas suscita o incidente; a nós é que cabe de-
terminar a qualidade de seus efeitos. 
(Michel de Montaigne. Ensaios, 2000. Adaptado.) 
 
De acordo com o filósofo, a diferença entre o bem e o mal: 
 
a) representa uma oposição de natureza metafísica, que não está sujeita a relati-
vismos existenciais. 
b) relaciona-se com uma esfera sagrada cujo conhecimento é autorizado somente 
a sacerdotes religiosos. 
c) resulta da queda humana de um estado original de bem-aventurança e harmo-
nia geral do Universo. 
d) depende do conhecimento do mundo como realidade em si mesma, indepen-
dente dos julgamentos humanos. 
e) depende sobretudo da qualidade valorativa estabelecida por cada indivíduo 
diante de sua vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
8. (Enem PPL 2016) 
 
 
 
A figura do inquilino ao qual a personagem da tirinha se refere é o(a): 
 
a) constrangimento por olhares de reprovação. 
b) costume importo aos filhos por coação. 
c) consciência da obrigação moral. 
d) pessoa habitante da mesma casa. 
e) temor de possível castigo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
ÉTICA E MORAL NAS RELAÇÕES 
SOCIAIS 
 
 
 
“A astúcia do Direito consiste em valer-se do veneno da 
 força para evitar que ela triunfe“ 
Miguel Reale, jurista brasileiro 
2.1 ÉTICA, MORAL E DIREITO 
 O Direito é uma ordem social estabelecida em torno de um sistema 
sancionatório para garantir a aplicação da Justiça. Essa ordem busca estabelecer 
regras para o funcionamento da sociedade e prevê meios para exigir o seu cum-
primento, as sanções. Ele se vale da força para evitar que o mundo seja governado 
apenas por ela. 
Corresponde, na visão do jurista Jeremy Bentham, ao “mínimo ético” ou a um 
conjunto de normas morais consideradas relevantes por cada sociedade. A Moral, 
por sua vez, se caracteriza por ser um tipo de preceito comportamento desprovida 
de mecanismos de coação (MORRIS, 2002). 
O Direito prevê uma convivência social ordenada, na qual inexiste a possibi-
lidade de desordem ou anarquia. É um mecanismo de dominação que se vale de 
normas, instituições e decisões para controlar o comportamento das sociedades. As 
regras jurídicas são obrigatórias e coercitivas, pois emanam de uma fonte jurídica 
válida e de uma autoridade competente. Seu fim último é a realização da justiça 
do bem comum. 
Nesse sentido, diferentemente da Moral, que lida com preceitos sobre o 
comportamento humano despidos de mecanismos de coerção, o Direito é uma 
ordenação ética com capacidade de impor comportamentos pelo uso legitimado 
da força. A Moral se baseia em mecanismos de sanção individual (ressentimento, 
remorso e culpa) ou coletiva (discriminação, repulsa, exclusão e indignação), ao 
passo que o Direito se assenta em sanções coercitivas que se valem da imposição 
da força. O Direito não se vale de qualquer violência indiscriminada, mas da força 
organizada e aplicada segundo regras institucionalizadas. 
O Direito lida com o problema ancestral da busca da verdade e da justiça 
no exercício do poder. Seu fundamentofilosófico variou ao longo da Histórica histó-
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
ria, sendo considerada pelos gregos como uma técnica e pelos romanos como 
uma arte (a busca do bem e da equidade). Assim como as instituições são regras 
que estabelecem padrões de comportamento e geram previsibilidade, o Direito é 
um elemento de fidelização e conexão entre o passado e o futuro. 
Nesse sentido, o Direito não é neutro, mas um conjunto de práticas que visam 
realizar determinados valores fundamentais. O mais importante desses valores é a 
justiça, ou seja, dar a cada um aquilo que lhe é direito. A justiça é parte da moral e 
se baseia no senso de equilíbrio na distribuição de bens entre os homens. Sem vali-
dade, eficácia e justiça, não há sistema jurídico legítimo. 
O jurista austríaco Hans Kelsen, em “Teoria Pura do Direito”, afirma que a Jus-
tiça é um valor decorrente da Moral. No entanto, diferentemente das normas soci-
ais (Moral e Ética), o Direito é uma norma jurídica cuja legitimidade não se baseia 
apenas em valores, mas em critérios de validade. Ou seja, a norma jurídica é uma 
proposição hipotética dada por um poder institucionalizado (Estado) para estabe-
lecer normas de conduta (KELSEN, 1998). 
 A Moral lida com as concepções de um indivíduo ou de um conjunto de in-
divíduos acerca do que é lícito e justo. As regras de conduta morais são tão plurais 
quanto a sociedade e balizam o convívio social. E buscam, essencialmente, o aper-
feiçoamento de um indivíduo em relação à sua consciência ou a de seu grupo. Sua 
origem é a autoridade religiosa, a razão e a tradição. 
O Direito, por outro lado, é uma técnica de regulação do convívio social que 
se baseia em normas e que sanciona comportamentos contrários a elas. A fonte do 
Direito é o Estado e sua validade se baseia na sua origem. Somente são válidas as 
normas jurídicas produzidas por quem tem competência para tal. As sanções jurídi-
cas, por sua vez, são obrigatórias. Embora adote princípios morais como fundamen-
to de sua aplicação, o Direito pode conter também normais normas amorais. 
A Moral, por seu turno, influencia diretamente o Direito. Os legisladores são 
guiados por valores e ideias difusos na sociedade para produzir normas jurídicas. As 
normas jurídicas, nesse sentido, expressam regras morais que devem ser obrigatori-
amente cumpridas. As sociedades antigas, como visto, eram caracterizadas pela 
coincidência entre mandamentos jurídicos e morais. Já na Idade Média, as regras 
jurídicas constituíam um “mínimo ético”, ou seja, o núcleo duro das regras morais. 
Com a positivação do Direito (prevalência de normas escritas em códigos e 
leis), nos séculos XVIII e XIX, as regras jurídicas tornaram-se autônomas em relação à 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
moral. Dada a pluralidade de sistemas morais existentes (religião, família, trabalho 
etc), as autoridades competentes do Estado se limitaram a impor normas segundo 
critérios de validade. 
 
 
 
Os positivistas defendem que os indivíduos são livres para obedecer ou não 
às normas vigentes, de acordo com os seus valores morais e interesses. O custo do 
descumprimento dessas normas é a aplicação de sanções jurídicas. Os moralistas, 
por sua vez, sustentam que os operadores do Direito precisam buscar sempre a coe-
rência entre normais normas jurídicas e preceitos morais, sob pena de esvaziamento 
valorativo do Direito. Para eles, seria impossível estabelecer uma distinção entre Di-
reito e Moral, pois ambos caminham lado a lado. 
Portanto, é importante distinguir norma moral e norma jurídica. A normal mo-
ral decorre da experiência histórica da sociedade. Já a norma jurídica pode ser im-
posta pela autoridade mesmo que não corresponda à experiência da sociedade. 
A norma moral fala a linguagem da interioridade e da intencionalidade. É preciso 
haver correspondência entre a vontade interior e a exteriorização. Na norma jurídi-
ca, isso é irrelevante em diversas situações. Na norma jurídica, são necessários atos 
exteriores; a intencionalidade é um aspecto secundário. A norma moral não possui 
sanção (punição); já a norma jurídica possui sanção. 
A norma moral possui, entretanto, um grau de coercibilidade (possibilidade 
de punição) que muitas vezes é muito mais forte que a sanção jurídica, como a 
vergonha, o constrangimento e o arrependimento. Direito e moral não podem se 
separar. Como avaliar a legitimidade de um sistema jurídico? Essa avaliação não 
pode ser pautada unicamente sob o aspecto da moral. Após a Segunda Guerra 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
Mundial, com a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, foram defini-
das as diretrizes estruturantes do comportamento universal, de modo que os direitos 
humanos constituem o mínimo ético de um sistema jurídico. 
 
2.2 ÉTICA NA POLÍTICA 
A relação entre ética, moral e política é tão ancestral quanto a Humanida-
de. Desde os filósofos da Antiguidade até os cientistas políticos, juristas e escritores 
contemporâneos, o tema já foi abordado de maneira múltipla. O assunto desperta 
as atenções do ser humano desde os primórdios da civilização. Tratados, ensaios, 
romances e peças teatrais já foram escritas sobre essa questão, sem uma solução 
definitiva ou uma resposta correta para a problemática da moralidade nas relações 
sociais. 
Sendo o homem um ser essencialmente político – isto é, que vive na polis (ci-
dade) – sempre se pergunta sobre o que é agir moralmente. Da mesma forma que 
existe uma ética profissional, uma ética do trabalho, uma ética familiar e uma ética 
religiosa, a ética política trata trata da da distinção entre o que é moralmente lícito 
e ilícito. 
A aceitação de que a moral política se distingue do senso comum é um dos 
fundamentos da modernidade. Maquiavel afirmou, em “O Príncipe”, que a moral 
dos governantes não é a mesma dos governados. Nesse sentido, para obter êxito 
em sua missão de dominar os povos e governar as nações, antes de serem amados, 
os príncipes deveriam buscar serem temidos (MAQUIAVEL, 2010). 
Enquanto em outras atividades humanas o que se busca, essencialmente, é 
adequar os comportamentos às regras de conduta moral consensuais e estabele-
cidas, na relação entre política e moral, o debate é mais complexo. Ao contrário 
da ética médica, da ética esportiva ou da ética do trabalho, não existe um con-
senso sobre quais seriam os preceitos éticos da política. O que existe, fundamental-
mente, é a noção de que a moral política se reporta às ações de um indivíduo no 
que toca aos seus deveres para com os outros, e não consigo mesmo. 
Dessa forma, o foco do estudo da moral política não é a compreensão da-
quilo que é considerado lícito ou ilícito. Na perspectiva do filósofo e jurista italiano 
Norberto Bobbio, o que se busca compreender é “[...] se tem sentido colocar-se em 
termos morais o problema do admissível e do inadmissível no caso das ações políti-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 
cas” (BOBBIO, 2003, p. 161). 
Dessa forma, utilizando-se uma categoria de Maquiavel, é possível, por 
exemplo, distinguir os políticos do tipo “leão” e os do tipo “raposa”. Os primeiros ba-
seariam seu poder no uso da força; os segundos, no domínio da astúcia. Thomas 
Hobbes, em sua obra “O Leviatã”, assegurava que nenhuma moral estava acima 
da política. No estado de natureza, argumentava o filósofo inglês, a política não 
tinha nenhum conteúdo moral, baseando-se pura e simplesmente no exercício da 
força (MORRIS, 2002). 
A moral do mais forte sempre prevalecia e a sobrevivência era a única moral 
existente. No estado civil, impera a moral do soberano, isto é, daquele indivíduo es-
colhido pelos demais como aquele que distingue o justo do injusto. Portanto, a von-
tade do rei deveria ser a única e exclusiva fonte moral a ser obedecida. A noção 
de razão de Estado, que floresceu com o Estado moderno, aceita que, em circuns-
tâncias específicas edeterminadas, o soberano possa infringir os códigos morais 
prevalecentes para salvaguardar o seu poder. 
Assim, a ação política imporia ao seu praticante “[...] ações moralmente re-
prováveis, porém necessárias por causa da natureza e da finalidade da própria ati-
vidade” (BOBBIO, 2003, p. 168). Da mesma forma que o político teria uma moral 
própria, certas categorias profissionais, ao longo da História, também advogam a 
existência de um direito particular e de uma moral específica. Se existe uma ética 
inerente à política, existiria, do mesmo modo, uma ética aplicável a profissões de-
terminadas, como a dos médicos, dos padres e dos advogados. 
 
 
 
2.3 ÉTICA DAS CONVICÇÕES E ÉTICA DA RESPONSABILIDADE 
Quando refletimos sobre a importância da moral e da ética na vida pública, 
é importante entender como os valores morais e éticos guiam os homens públicos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 
em suas ações. Em seu clássico artigo “Política como Vocação”, o sociólogo ale-
mão Max Weber distingue três qualidades para a formação de um homem público 
(WEBER, 1965). Em primeiro lugar, a paixão à causa; e segundo lugar, o senso de 
responsabilidade; em terceiro lugar, o senso de proporção, isto é, a capacidade de 
manter distância dos fatos e dos homens, de modo a refletir com mais propriedade 
sobre os acontecimentos. Segundo Weber (1965), os homens precisam ainda supe-
rar a vaidade, pois o desejo de poder pode desvirtuar tanto a sua paixão quanto o 
seu senso de proporção. Ou seja, a vaidade poder tornar-se um fim em si mesmo, 
uma busca exclusiva pela exaltação do próprio ego. 
Existe uma ética própria para o mundo político? Para Weber (1965), na políti-
ca haveriam dois pecados mortais. Primeiro, não defender nenhuma causa, o que 
conduz o político à paralisia e à busca do brilho efêmero. Segundo, não possuir ne-
nhum senso de responsabilidade, o que o leva a abusar do poder como um fim em 
si mesmo, sem qualquer propósito maior. As causas que justificam o alcance do po-
der dependeriam das visões de mundo e convicções íntimas de cada político. Tais 
motivações podem ser humanistas, nacionalistas, sociais, religiosas e éticas. 
Nesse sentido, cabe indagar se existiria um “mínimo ético” na política que 
compatibilizasse as diversas causas que levam os políticos a almejar o poder. Seria a 
ética da política a mesma ética da religião? Segundo Weber (1965), a ética religio-
sa, contida nos Evangelhos, implica em comportamentos rígidos e que não admi-
tem meio-termo: é o “tudo ou nada”. A ética dos Evangelhos persegue verdades 
absolutas e incontestáveis, baseadas na convicção e na consciência individual. 
De acordo com Weber (1965), as condutas podem ser orientadas segundo 
duas lógicas: a ética da ética da convicção e a ética da responsabilidade. Isto não 
significa que a ética da convicção esteja desconectada de qualquer responsabili-
dade. O ponto central da ética da responsabilidade é a noção das consequências 
do ato humano e o reconhecimento do papel da vontade, da ação ou da omissão 
na produção de resultados. Quando se observa apenas ética da convicção, atri-
bui-se qualquer consequência dos atos humanos à vontade divina. Dessa forma, os 
homens isentam-se de qualquer compromisso, obrigação e prudência no dia a dia, 
pois seu destino estaria traçado. 
A questão mais sensível da ética da responsabilidade é o fato de que, para 
alcançar fins considerados nobres, os homens às vezes precisam recorrer a expedi-
entes considerados desagradáveis, desonestos ou perigosos. Assim, o ato de mentir, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
segundo a ética das convicções, é moralmente condenável. Já segundo a ética 
da responsabilidade, a mentira, muitas vezes, pode ser uma forma de se evitar um 
mal maior. Segundo Weber (1965), no entanto, nenhuma ética conseguiu, até hoje, 
definir o que seria uma finalidade considerada “eticamente boa” que justificasse o 
uso de métodos considerados moralmente perigosos, como o uso da força. 
 
 
 
Em que circunstâncias se justifica o uso da força para o alcance de fins con-
siderados justos? No caso de uma guerra ou de uma revolução, por exemplo, seria 
legítimo o recurso à violência para alcançar fins considerados justos? Os partidários 
da ética da convicção são unânimes ao afirmar que matar um outro ser humano é 
considerado um pecado mortal, sem qualquer exceção. Já sob o ponto de vista da 
ética da responsabilidade, em casos excepcionais, como o de uma ameaça à so-
brevivência do Estado ou da nação, seria moralmente justo o emprego da força e 
da violência armada para repelir uma invasão ao território nacional. 
Essa tensão entre meios e fins caracteriza a ética da responsabilidade. Nesse 
sentido, a violência poderia ser admitida como um meio do alcance de fins políti-
cos considerados nobres ou justos, como a sobrevivência nacional. Da mesma for-
ma, o debate entre a continuidade de uma revolução ou de uma guerra e a reali-
zação da paz depende, sobretudo, das condições em que os termos da paz são 
assinados. Se forem injustos, os partidários da ética da responsabilidade admitem a 
legitimidade da continuidade da revolução ou da guerra. 
As duas lógicas weberianas que conduzem a vida política: a Ética das Convicções e 
Ética da Responsabilidade: 
 Ética da responsabilidade é a noção das consequências do ato humano e o reco-
nhecimento do papel da vontade, da ação ou da omissão na produção de resulta-
dos. 
 Ética da convicção é a atribuição de qualquer consequência dos atos humanos à 
vontade divina. Dessa forma, os homens isentam-se de qualquer compromisso, obri-
gação e prudência no dia a dia, pois seu destino estaria traçado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
 
 
Para Weber (1965), é impossível conciliar a ética da convicção e a ética da 
responsabilidade, pois a primeira não admite concessões à segunda. A ética da 
convicção defende que os meios são mais importantes que os fins. Isto é, o mal só 
pode trazer o mal. A ética da responsabilidade, por sua vez, admite que os fins justi-
fiquem os meios. Ou seja, o mal, quando praticado com fins nobres, também pode 
produzir o bem. Todas as crenças religiosas enfrentam o problema da ética na polí-
tica. A questão mais sensível são as circunstâncias em que se admite e se legitima o 
uso da violência. Os políticos, ao praticarem a violência com a busca de um fim 
nobre, devem não apenas justificar o recurso à força, mas buscar seguidores que 
compartilhem de seus objetivos. 
Em síntese, Max Weber afirma que a política não pode abrir mão das ques-
tões éticas. Os homens que se dedicam à política, na visão do autor, devem estar 
cientes das consequências e impactos de seus atos. A salvação das almas, de um 
indivíduo e de seu grupo, não deve ser buscada por meio da política, mas da reli-
gião. O caminho da política, por sua vez, pressupõe o uso de algum tipo de violên-
cia para alcançar os objetivos pretendidos. Nesse sentido, é preciso esclarecer aos 
partidários da ética da convicção que quaisquer atos humanos geram consequên-
cias. A política, diferentemente da religião, exige que os homens tenham senso de 
proporção. Sendo assim, a política seria a arte do possível. 
Os partidários da ética da convicção acreditam que quaisquer atos humanos geram 
consequências, inclusive na política. Já para os adeptos da ética da responsabilidade, a 
política, diferentemente da religião, exige que os homens tenham senso de proporção. 
Sendo assim, convidamos você a refletir sobre a seguinte situação: 
 Um determinado país sofre um ataque externo e precisa tomar atitudes de defesa e 
ataque. No entanto, sua população não tem total conhecimento sobre os desdo-
bramentos dessa situação. Revelar tudo o que está acontecendo pode gerar pânico 
geral e piorar ainda mais o quadro, até mesmo dificultando as ações de defesa. Para 
a ética da convicção, a verdade deve estar acima de tudo. Contudo, preservarem 
sigilo determinadas informações ou até mesmo mentir sobre elas pode promover a 
segurança nacional. Para os adeptos da ética da responsabilidade, é preciso lançar 
mão do senso de proporção. Em que medida um chefe de Estado deve pender para 
uma das duas lógicas? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. (Enem 2010, 2ª aplicação) No século XX, o transporte rodoviário e a aviação civil 
aceleraram o intercâmbio de pessoas e mercadorias, fazendo com que as dis-
tâncias e a percepção subjetiva das mesmas se reduzissem constantemente. É 
possível apontar uma tendência de universalização em vários campos – por 
exemplo, na globalização da economia, no armamentismo nuclear, na manipu-
lação genética, entre outros. 
HABERMAS, J. A constelação pós-nacional: ensaios políticos. São Paulo: Littera Mundi, 2001 
(adaptado). 
 
Os impactos e efeitos dessa universalização, conforme descrito no texto, podem 
ser analisados do ponto de vista moral, o que leva à defesa da criação de nor-
mas universais que estejam de acordo com: 
 
a) os valores culturais praticados pelos diferentes povos em suas tradições e costu-
mes locais. 
b) os pactos assinados pelos grandes líderes políticos, os quais dispõem de condi-
ções para tomar decisões. 
c) os sentimentos de respeito e fé no cumprimento de valores religiosos relativos à 
justiça divina. 
d) os sistemas políticos e seus processos consensuais e democráticos de formação 
de normas gerais. 
e) os imperativos técnico-científicos, que determinam com exatidão o grau de justi-
ça das normas. 
 
2. (Enem 2010) A ética precisa ser compreendida como um empreendimento cole-
tivo a ser constantemente retomado e rediscutido, porque é produto da relação 
social se organize sentindo-se responsável por todos e que crie condições para o 
exercício de um pensar e agir autônomos. A relação entre ética e política é 
também uma questão de educação e luta pela soberania dos povos. É necessá-
ria uma ética renovada, que se construa a partir da natureza dos valores sociais 
para organizar também uma nova prática política. 
CORDI et al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2007 (adaptado). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
O Século XX teve de repensar a ética para enfrentar novos problemas oriundos 
de diferentes crises sociais, conflitos ideológicos e contradições da realidade. Sob 
esse enfoque e a partir do texto, a ética pode ser: 
 
a) compreendida como instrumento de garantia da cidadania, porque através de-
la os cidadãos passam a pensar e agir de acordo com valores coletivos. 
b) mecanismo de criação de direitos humanos, porque é da natureza do homem 
ser ético e virtuoso. 
c) meio para resolver os conflitos sociais no cenário da globalização, pois a partir do 
entendimento do que é efetivamente a ética, a política internacional se realiza. 
d) parâmetro para assegurar o exercício político primando pelos interesses e ação 
privada dos cidadãos. 
e) aceitação de valores universais implícitos numa sociedade que busca dimensio-
nar sua vinculação à outras sociedades. 
 
3. (Enem 2010). Na ética contemporânea, o sujeito não é mais um sujeito substan-
cial, soberano e absolutamente livre, nem um sujeito empírico puramente natural. 
Ele é simultaneamente os dois, na medida em que é um sujeito histórico-social. 
Assim, a ética adquire um dimensionamento político, uma vez que a ação do su-
jeito não pode mais ser vista e avaliada fora da relação social coletiva. Desse 
modo, a ética se entrelaça, necessariamente, com a política, entendida esta 
como a área de avaliação dos valores que atravessam as relações sociais e que 
interliga os indivíduos entre si. 
SEVERINO. A. J. Filosofia 
 
O texto, ao evocar a dimensão histórica do processo deformação da ética na 
sociedade contemporânea, ressalta: 
 
a) os conteúdos éticos decorrentes das ideologias político-partidárias. 
b) o valor da ação humana derivada de preceitos metafísicos. 
c) a sistematização de valores desassociados da cultura. 
d) o sentido coletivo e político das ações humanas individuais. 
e) o julgamento da ação ética pelos políticos eleitos democraticamente 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
4. (Enem 2009). Na década de 30 do século XIX, Tocqueville escreveu as seguintes 
linhas a respeito da moralidade nos EUA: “A opinião pública norte-americana é 
particularmente dura com a falta de moral, pois esta desvia a atenção frente à 
busca do bem-estar e prejudica a harmonia doméstica, que é tão essencial ao 
sucesso dos negócios. Nesse sentido, pode-se dizer que ser casto é uma questão 
de honra”. 
 
TOCQUEVILLE, A. Democracy in America. Chicago: Encyclopædia Britannica, Inc., Great Books 44, 
1990 (adaptado). 
 
Do trecho, infere-se que, para Tocqueville, os norte-americanos do seu tempo: 
 
a) buscavam o êxito, descurando as virtudes cívicas. 
b) tinham na vida moral uma garantia de enriquecimento rápido. 
c) valorizavam um conceito de honra dissociado do comportamento ético. 
d) relacionavam a conduta moral dos indivíduos com o progresso econômico. 
e) e) acreditavam que o comportamento casto perturbava a harmonia doméstica. 
 
5. (Enem 2017) “Uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro em-
prestado. Sabe muito bem que não poderá pagar, mas vê também que não lhe 
emprestarão nada se não prometer firmemente pagar em prazo determinado. 
Sente a tentação de fazer a promessa; mas tem ainda consciência bastante pa-
ra perguntar a si mesma: não é proibido e contrário ao dever livrar-se de apuros 
desta maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a sua máxima de ação seria: 
quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo emprestado e prometo 
pagá-lo, embora saiba que tal nunca sucederá”. 
 
KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980. 
 
De acordo com a moral kantiana, a “falsa promessa de pagamento” represen-
tada no texto: 
 
a) assegura que a ação seja aceita por todos a partir da livre discussão participati-
va. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
b) garante que os efeitos das ações não destruam a possibilidade da vida futura na 
terra. 
c) opõe-se ao princípio de que toda ação do homem possa valer como norma uni-
versal. 
d) materializa-se no entendimento de que os fins da ação humana podem justificar 
os meios. 
e) permite que a ação individual produza a mais ampla felicidade para as pessoas 
envolvidas. 
 
6. (Enem 2017). A moralidade, Bentham exortava, não é uma questão de agradar a 
Deus, muito menos de fidelidade a regras abstratas. A moralidade é a tentativa 
de criar a maior quantidade de felicidade possível neste mundo. Ao decidir o 
que fazer, deveríamos, portanto, perguntar qual curso de conduta promoveria a 
maior quantidade de felicidade para todos aqueles que serão afetados. 
 
RACHELS, J. Os elementos da filosofia moral. Barueri-SP: Manole, 2006. 
 
Os parâmetros da ação indicados no texto estão em conformidade com uma: 
 
a) fundamentação científica de viés positivista. 
b) convenção social de orientação normativa. 
c) transgressão comportamental religiosa. 
d) racionalidade de caráter pragmático. 
e) nclinação de natureza passional. 
 
7. (Enem 2017) “Se, pois, para as coisas que fazemos existe um fim que desejamos 
por ele mesmo e tudo o mais é desejado no interesse desse fim; evidentemente 
tal fim será o bem, ou antes, o sumo bem. Mas não terá o conhecimento, porven-
tura, grande influência sobre essa vida? Se assim é, esforcemo-nos por determi-
nar, ainda que em linhas gerais apenas, o que seja ele e de qual das ciências ou 
faculdades constitui o objeto. Ninguém duvidará de que o seu estudo pertença à 
arte mais prestigiosa e que mais verdadeiramente se pode chamar a arte mestra. 
Ora, a política mostra ser dessa natureza, pois é ela que determina quais as ciên-
cias que devem ser estudadas num Estado, quais são as que cadacidadão deve 
aprender, e até que ponto; e vemos que até as faculdades tidas em maior apre-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
ço, como a estratégia, a economia e a retórica, estão sujeitas a ela. Ora, como 
a política utiliza as demais ciências e, por outro lado, legisla sobre o que devemos 
e o que não devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das ou-
tras, de modo que essa finalidade será o bem humano. 
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Pensadores. São Pauto: Nova Cultural, 1991 (adaptado). 
 
Para Aristóteles, a relação entre o sumo bem e a organização da pólis pressupõe 
que: 
 
a) o bem dos indivíduos consiste em cada um perseguir seus interesses. 
b) o sumo bem é dado pela fé de que os deuses são os portadores da verdade. 
c) a política é a ciência que precede todas as demais na organização da cidade. 
d) a educação visa formar a consciência de cada pessoa para agir corretamente. 
e) a democracia protege as atividades políticas necessárias para o bem comum. 
 
 
8. (Enem/2013) “Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou 
temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas 
porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando ha-
ja de faltar uma das duas. Porque dos homens que se pode dizer, duma maneira 
geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e en-
quanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a 
vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele 
chega, revoltam-se.” 
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991. 
 
A partir da análise histórica do comportamento humano em suas relações sociais 
e políticas, Maquiavel define o homem como um ser: 
 
a) munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos outros. 
b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na política. 
c) guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e inconstantes. 
d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portando seus direitos 
naturais. 
e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 
ÉTICA, MORAL E POLÍTICA: A 
CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA 
 
 
 
 
“Que estranho desejo é ambicionar o poder e perder a liberdade” 
Francis Bacon, filósofo inglês 
 
3.1 O CONCEITO DE CIDADANIA E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
O conceito de cidadania, em sua versão moderna, nutriu-se das ideias surgi-
das na Itália, Inglaterra, França e Estados Unidos a partir da Idade Moderna. De Ni-
colau Maquiavel a Thomas Hobbes e de Jean Jacques Rousseau aos Federalistas 
norte-americanos, a base do pensamento político moderno, compreendido como 
um conjunto de teorias e de ideias relacionadas à busca da institucionalização dos 
conflitos, forjou-se numa pluralidade de correntes e de tradições envoltas na forma-
ção da linguagem e da prática política europeia nos séculos XVI a XVIII. 
Da matriz italiana, o republicanismo absorveu as lições de Maquiavel acerca 
da formação do humanismo cívico num contexto de reposicionamento do homem 
no centro do pensamento. Responsável por uma ruptura no pensamento ocidental 
e fundador da Ciência Política, o autor resgata o pensamento greco-latino para 
embasar as suas reflexões acerca das temáticas políticas de seu tempo. 
O pensamento de Maquiavel se tornou clássico por duas razões centrais: a 
ampla difusão no Ocidente e abrangência de largas temporalidades. Maquiavel 
aborda as constantes disputas de poder entre as cidades-Estado da península itáli-
ca, mostrando como a instabilidade e a imprevisibilidade eram inerentes à realida-
de contemporânea. 
Para Maquiavel, política e história também deveriam ser analisadas em con-
junto, já que o poder organizava historicamente as relações econômicas e sociais 
entre os indivíduos, via exercício da dominação e a busca do consenso. O autor 
desenvolve, nas duas obras, a ideia de que o corpo político se divide ante o desejo 
de dominação e de ser dominado, o que se nota, por exemplo, no relato dos confli-
tos entre as potências europeias da época e as cidades do norte italiano. Finalmen-
te, demonstra que a política se desenrola na dicotomia essência versus aparência, 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
mostrando como a política possui uma importante dimensão simbólica na constru-
ção de narrativas. 
A noção de cidadania desenvolvida por Maquiavel seria transformada na 
França, dois séculos depois. Jean Jacques Rousseau foi o mais notável dos filósofos 
do período Iluminista e o principal representante do republicanismo de matriz fran-
cesa. Em “O Espírito das Leis”, Rousseau ataca a Igreja e a instituição monárquica 
pelas desigualdades e pela miséria. Para conter a proliferação de uma sociedade 
profundamente desigual, prega um ideal democrático, rejeitando o estado históri-
co, construído desde tempos imemoriais, ao qual atribui a culpa pela desigualdade 
dos homens. 
Disseminador de ideais de coletividade e de cooperação, Rousseau propõe 
a composição de um novo Estado, não-tirano, opressor e fonte de desigualdades, 
mas de um organismo protetor, socialmente justo, sem privilégios e que tenha no 
povo a fonte de todo e qualquer poder. No fundo, a função deste novo Estado, 
pautado pela justiça e pelos direitos de todos os homens, era alcançar algo próxi-
mo da perfeição e da igualdade. 
Rousseau conecta, portanto, a formação da liberdade do cidadão à sobe-
rania popular. Há, portanto, uma possível aproximação entre o pensamento de Ro-
usseau e o de Maquiavel, na medida em que ambos procuram afirmar a necessi-
dade de legitimação do poder. Na visão de Rousseau, o homem não é um ser na-
turalmente sociável, mas socializável pelas circunstâncias e pela luta para sobrevi-
ver. 
Em “Discurso da origem da desigualdade entre os homens”, o autor argu-
menta que os direitos se formam a partir de um contrato de submissão dos homens 
a um poder. Nessa linha, ataca a noção de direitos naturais precedente, afirmando 
a necessidade de pactuação do corpo político para a afirmação das liberdades. 
Nesse sentido, sua obra trata da problemática do “contrato social”, associada à 
ideia de república e de igualdade entre os homens. Para Rousseau, a cidadania 
pressupõe a existência de simetria e de uma “vontade geral” entre os cidadãos, 
valorizando, dessa forma, o controle democrático e a prestação de contas. A 
noção contemporânea de cidadania, em um contexto democrático, se valeu do 
debate de ideias durante a formação histórica das instituições republicanas dos 
Estados Unidos da América. Texto clássico da Ciência Política, ‘O Federalista” (1788) 
consagrou-se como um conjunto de artigos escritos por Alexander Hamilton, James 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
Madison e John Jay, três dos Pais Fundadores da recém independente nação norte-
americana. 
Além de consagrados partícipes do processo de emancipação política do 
país, Hamilton, Madison e Jay tiveram atuação destacada no processo de elabora-
ção do texto constitucional dos Estados Unidos, no bojo da conclusão da Guerra da 
Independência e dos arranjos para a estabilização política interna. O objetivo da 
publicação desses artigos foi explicitar e debater os temas centrais discutidos no 
processo constituinte, em especial a centralização, a coordenação e o controle do 
poder. 
James Madison, em “O Federalista”, aborda a temática do controle do po-
der político e da contenção das ambições humanas. Advoga, nessa direção, a ne-
cessidade de instituir mecanismos capazes de afastar as tiranias e assegurar a exis-
tência das liberdades dentro do Estado, tornando-se um dos principais teóricos da 
existência de “checks and balances” (freios e contrapesos) entre as diversas instân-
cias e poderes. A teoria liberal da cidadania nutriu-se das lições de Montesquieu e 
da seiva madisonianapara consolidar o entendimento que consagrou a moderna 
tripartição de poderes do Estado. 
Em breves palavras, somente o poder poderia ser contido por outro poder, 
numa sucessão de mecanismos capazes de refrear o ímpeto autoritário dos gover-
nantes. Madison dialoga com a teoria do “governo misto”, existente na Inglaterra 
liberal do século XVIII, em que as funções governativas eram compartilhadas pelos 
três principais grupos sociais, favorecendo a harmonia, a convivência civil e a liber-
dade. 
Fruto de uma rebelião de cidadãos armados contra uma monarquia, nos Es-
tados Unidos estavam ausentes as condições para a existência desse modelo de 
organização social e política. Madison argumentava que o elemento inspirador da 
nova nação também não deveria ser a “virtude” das experiências republicanas da 
Antiguidade Clássica. Contrariamente ao “governo misto” e à “virtude” dos clássi-
cos da Grécia, ancorava-se na teoria da “tripartição de poderes” de Montesquieu, 
que defendia uma divisão das atribuições do poder de maneira horizontal entre três 
braços independentes e autônomos de governo: o Legislativo, responsável pela 
edição de normas; o Executivo, responsável pela sua aplicação; e o Judiciário, res-
ponsável por dirimir conflitos. 
A separação de poderes garantiria a autonomia, o equilíbrio e a liberdade, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
dissolvendo o poder absoluto em várias mãos. Madison preconizava a necessidade 
de se conter o mal das facções através do seu controle, não da sua eliminação. 
Compreendendo a sua natureza e risco, o autor buscava alguma forma de lidar 
com as diferentes forças sociais e políticas nascidas da diversidade de ideias, cren-
ças, opiniões e interesses, mas que poderiam ameaçar a estabilidade política dos 
governos e a existência dos regimes. 
Madison entendia que a eliminação das fações era algo incompatível com 
um sistema de liberdades, cuja missão principal do governo era salvaguardar. Um 
ponto central da visão madisoniana, nesse sentido, era a necessidade de equacio-
nar a vontade da maioria com os direitos das facções minoritárias, evitando que a 
primeira esmagasse as segundas. A existência de mecanismos de proteção das mi-
norias do abuso de poder era essencial para evitar a tirania. 
James Madison rompe com a tradição dos governos populares da Antigui-
dade ao defender o modelo de democracia representativa, em que as facções 
estariam representadas por um corpo político de cidadãos preparados para gover-
nar. A ampliação da base territorial de governo também seria importante. Por outro 
lado, a existência de governos representativos não eliminaria o mal das facções, 
tendo em vista a existência do risco de degeneração do poder em armadilhas fac-
cionárias capazes de levar à captura do governo por interesses contrários à vonta-
de geral. 
Desta forma, o remédio proposto não é a eliminação das facções, mas a sua 
multiplicação, de modo a pulverizar o poder num grande número de forças faccio-
sas de alcance local e limitado, cada uma delas incapaz de ameaçar a existência 
da liberdade. O objetivo é a neutralização das facções entre si, numa fórmula se-
melhante à teoria dos “checks and balances”. O interesse geral, resume Madison, 
se alcançaria através da coordenação dos interesses em conflito pelos poderes 
que interagem entre si, filtrando os excessos e compatibilizando a vontade da maio-
ria com os direitos das minorias. A atualidade dos textos dos autores norte-
americanos repousa em sua capacidade de pensar temas fundamentais da socie-
dade política moderna. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
 
 
 
3.2 CIDADANIA E DIREITOS FUNDAMENTAIS 
O conceito de cidadania não teve difusão uniforme no Ocidente. No ideário 
iluminista, ser cidadão significava ter a posse de direitos políticos uniformes e iguais. 
A ideia era a de que todos eram iguais perante a lei. Na concepção do universa-
lismo moderno, existe a ideia de igualdade como um ponto de partida. O papel do 
Estado é reduzido; ele confere a cidadania e define os direitos em abstrato. A Revo-
lução Francesa trouxe como conquista a Declaração de Direitos do Homem e do 
Cidadão. Nessa concepção, o Estado não atrapalha as relações entre os particula-
res. 
O Estado reconhece os direitos individuais, mas adota um papel de definir o 
que é o espaço da liberdade. O Estado reconhece o direito e se abstém de interfe-
rir nisso. Atribui direitos ao indivíduo e isso tem impactos sobre a concepção de ci-
dadania. No discurso liberal, há uma igualdade formal. Por exemplo, o voto de ca-
da cidadão tem o mesmo valor, independentemente de sua condição social ou 
financeira. 
Na concepção liberal de cidadania está presente a ideia da representativi-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
dade. O indivíduo pertence a uma ordem soberana e é esta ordem que o reco-
nhece como cidadão. Essa concepção é orientada por critérios político-jurídicos 
constitucionalizados. No Direito contemporâneo, encontraremos concepções que 
afirmam essa ideia, que é moderna. 
Nesse sentido, cidadão é aquele que é capaz de votar ou que está habilita-
do para receber votos. Votar e ser votado é o que define a condição de cidadão. 
No entanto, seria essa concepção é suficiente para a realização do ideário demo-
crático? Seria que é suficiente para atender às demandas sociais? 
A concepção moderna de cidadania se baseia em valores do ideário ilumi-
nista. Em primeiro lugar, não considera as diferenças concretas entre as pessoas. 
Assim, seria suficiente o afastamento do Estado para que sejam realizados os valores 
sociais. Em segundo lugar, não considera as oposições existentes dentro da própria 
sociedade. Bastaria a igualdade de fato, sem considerações sobre as desigualda-
des de fato que existem nas ruas. 
Na concepção tradicional de cidadania, o Estado concentra em si o poder 
da violência legitimada. Os indivíduos, por sua vez, têm uma participação política 
periférica. Onde está presente o Estado, não haveria espaço para o indivíduo. A 
participação política, nessa concepção liberal, seria restrita a ocasiões determina-
das nas quais o cidadão é chamado a votar. A realização da cidadania, portanto, 
dependeria de formalismos e burocracias e há um espaço muito pequeno para 
participação. Do mesmo modo, é o Estado quem definiria os direitos do cidadão, 
numa relação hierárquica entre quem dita as regras e quem obedece. 
Essa visão vem sendo solapada por uma série de ineficácias e déficits de 
atuação do Estado de Direito. Em seu lugar, tem-se construído uma nova concep-
ção de cidadania, com atuação proativa na construção dos espaços sociais. A 
cidadania, nessa concepção, pertenceria à sociedade civil e seria exercida como 
atividade realizadora de mecanismos que permitissem o acesso a direitos funda-
mentais. Há a ideia de efetividade de poucos bens ao invés da universalidade de 
muitos direitos. O que se valoriza é a experiência pragmática de justiça, provida 
não apenas pelo Estado, mas por organizações do Terceiro Setor. 
Diante da incapacidade do Estado de atendar às necessidades sociais, os 
atores sociais exerceriam papel auxiliar no provimento de bens públicos. A nova 
ideia social rompe o verticalismo do poder. Há um horizontalismo no qual a socie-
dade assume o papel do Estado nas políticas sociais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
 
A noção de cidadania não se baseia mais em parâmetros formais da teoria 
tradicional. Cidadania, hoje, tem um sentido ético-filosófico de acesso à dignidade 
da pessoa humana. O Estado não é suficiente como agente produtor de justiça e 
como promotor do bem-estar social. Em um contexto de esvaziamento do papel 
agregador do estado, são necessários outros agentes na afirmação da cidadania e 
na garantia de acesso a condições dignas de vida. 
Apesar dos padrões cada vez mais individualistas de comportamento moral, 
responsável por certa apatia global diante dasinjustiças, da miséria e da guerra, há 
reações importantes em curso no sentido de ampliar o engajamento e a participa-
ção da sociedade na vida pública. 
A democracia é o espaço privilegiado de exercício da cidadania. Administra 
os interesses gerais da coletividade e aperfeiçoa a racionalidade pública. Essa pro-
blemática constitui fonte de preocupação para filósofos, antropólogos, cientistas 
políticos, sociólogos e estudantes de todas as áreas. 
O atual estágio de evolução humana consegue avançar, pela emergente 
engenharia genética, até mesmo na manipulação dos caracteres hereditários da 
constituição da espécie. Há enorme risco de que se introduzam na natureza huma-
na, modificações que suprimam ou significativamente reduzam as suas característi-
cas transcendentes, criando condições para que se perpetue esse intransitivo con-
sumismo tecnológico de um novo tipo humano, cuja descartabilidade passe a fazer 
parte de sua natureza. 
 
3.3 A CIDADANIA NO MUNDO GLOBALIZADO 
A ideia de cooperação norteia a nova sociedade global. A busca da resolu-
ção de problemas comuns da humanidade induz as nações a ampliar o comparti-
lhamento de informações e a procurar caminhos para a superação de flagelos 
comuns como a fome, as guerras, a pobreza e a miséria. 
Essa interdependência entre Estados nacionais também trouxe novos desafi-
os para a sociedade civil em âmbito internacional. Com a diluição da soberania e 
a interconexão entre as economias, os Estados perderam o monopólio do seu po-
der de balizar a vida política e econômica. Nesse sentido, amplia-se, cada vez 
mais, o espaço de ação dos cidadãos na esfera pública para expressar suas ideias 
e seus interesses, intercambiando informações e buscando alcançar objetivos co-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
 
muns. 
O crescimento das Organizações Não-Governamentais, em escala mundial, 
é uma expressão dessa abertura do espaço público para novos atores não estatais. 
Cada vez mais, eles desempenham papéis relevantes nas sociedades, interferindo 
na política e na economia de diversas formas. A globalização econômica e a revo-
lução tecnológica fortaleceram o papel dessas instituições nas mais variadas searas 
da vida das nações. 
O contato cada vez mais estreito entre cidadãos de várias nacionalidades e 
a coincidência de interesses entre povos que vivem em espaços políticos distintos, 
pavimenta o caminho para o surgimento de uma verdadeira sociedade global e 
de uma autêntica cidadania mundial. Portanto, hoje já se pode falar no surgimento 
de um sentimento cidadão em escala planetária, alavancado pelas novas tecno-
logias, pelas ferramentas de comunicação, pelas redes sociais e pelo poder cada 
vez maior das organizações não-governamentais. 
O surgimento de uma governança global também impacta na formação do 
sentimento de cidadania. Organizações não-governamentais, mais do que os Esta-
dos e as empresas, conseguem mobilizar os cidadãos em defesa dos interesses de 
certas pautas políticas, econômicas e sociais: o meio ambiente, os direitos humanos, 
o desarmamento, o comércio justo, o respeito aos animais, a defesa de minorias 
etc. 
Essas organizações influenciam não apenas as pautas políticas nacionais, 
mas também na agenda das organizações internacionais. Um exemplo dessa parti-
cipação da sociedade civil tem sido observado nas conferências internacionais so-
bre ambiente e sustentabilidade, como a Rio-92, a Rio +20 e a Conferência de Paris, 
nas quais o envolvimento de grupos de ambientalistas, empresários, trabalhadores, 
acadêmicos e cientistas tem sido cada vez maior. Pautas como meio ambiente e 
direitos humanos atravessam as fronteiras e aproximam os cidadãos. São temas que 
possuem uma dimensão local, mas também global, gerando a mobilização da ci-
dadania. 
Como lidar com os desafios da cidadania global sem instituições adequadas 
para balizá-los? A cidadania nasceu como um conceito inerente à ordem interna 
dos Estados, mas se torna cada vez mais atrelado a uma perspectiva global. A for-
mação de uma opinião pública mundial interconectada com os desafios do pre-
sente traz grandes dilemas para a democracia e para a governabilidade contem-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
 
porâneas. 
A fraqueza dos mecanismos decisórios e a ausência de espaços para a atu-
ação da sociedade civil organizada é um problema. Inexiste, por exemplo, um par-
lamento mundial que vocalize as vozes dos cidadãos do mundo. Da mesma forma, 
não há um poder mundial capaz de implementar decisões coletivas de forma coe-
sa e organizada no espaço terrestre. A diluição da soberania dos Estados e o enfra-
quecimento do poder das instituições nacionais, ao mesmo tempo em que abre 
espaço para a atuação da sociedade civil, não traz soluções para os novos para-
digmas da sociedade internacional. 
Nesse sentido, surge a necessidade de institucionalização da cidadania e de 
buscar soluções políticas para lidar com os desafios da globalização econômica e 
da revolução tecnológica. O sistema de governança global se torna cada vez mais 
complexo: Estados nacionais, organizações governamentais, empresas transnacio-
nais, organizações não-governamentais, imprensa, indivíduos etc. Há uma plurali-
dade cada vez de instituições que interagem em escala planetária e que interfe-
rem na formação de uma cidadania mundial. 
Buscando superar os paradigmas tradicionais de funcionamento dos Estados 
nacionais, as organizações supranacionais desenvolveram mecanismos institucio-
nais de governança regional, como parlamentos e tribunais, de modo a abrigar a 
vontade dos cidadãos numa escala territorial maior. 
O problema central da governabilidade em escala mundial é o da legitimi-
dade das instituições. A ideia de legitimidade se relaciona com a noção de repre-
sentação do poder, de defesa dos direitos fundamentais e de segurança jurídica. 
Em outras palavras, a justificação do poder se baseava na capacidade do Estado 
de assegurar segurança, justiça, ordem, paz e liberdade para que os cidadãos bus-
cassem viver suas vidas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
 
 
 
Em um mundo cada vez mais marcado pela produção de riqueza em escala 
gigantesca e de intensos fluxos financeiros, os Estados nacionais perderam a capa-
cidade de assegurar desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais 
e promover o bem-estar coletivo. A intensificação da globalização deu ênfase aos 
processos de integração econômica e política, mas não avançou adequadamente 
no que diz respeito à ampliação dos espaços de participação democrática em 
escala mundial. 
Os Estados nacionais, portanto, não são mais capazes de assegurar a cida-
dania em escala global. Com a globalização e o aumento da interdependência, o 
cumprimento de suas funções tradicionais - garantir a paz, a segurança, a liberda-
de e o bem-estar – tem sido cada vez mais delegada e compartilhada por institui-
ções intergovernamentais e supranacionais. Com a ampliação das assimetrias entre 
as nações desenvolvidas e em desenvolvimento, é preciso cada vez mais pensar 
em mecanismos de redução das desigualdades socioeconômicas, base do exercí-
cio da cidadania. 
A globalização trouxe prosperidade, mas não oportunidades iguais para to-
dos. Ampliou a escala dos avanços tecnológicos, da integração regional e da pro-
dução de bens e serviços, mas não equalizou o acesso a eles. A ideia da democra-
tização dos espaços globais de poder permanece ainda muito distante. Somente 
os Estados nacionais foram capazes, até hoje, de colocar em prática sistemas de 
governança democráticos. 
Embora busquem ampliar os espaços de poder para a sociedade civil global, 
as instituições internacionais ainda não conseguiram reproduzir, em escala global, 
os procedimentos institucionalizados que os Estados nacionais forjaram ao longo da 
governa mundial, como os chefes de Estado, as Organizações Não Governamentais, os 
empresários, os proprietários

Continue navegando