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Apostila Afro-Fundamental

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Prévia do material em texto

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS CEJA 
JOÃO DA SILVA RAMOS 
 
 
 
PORTUGUÊS 
 
 
 
 
 
 
Ensino de História da África e da cultura 
Afro-Brasileira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ENSINO FUNDAMENTAL 
QUEM SOMOS NÓS? 
 
 
 
 
“Negro” 
 
Pesa em teu sangue a voz de ignoradas origens. 
As florestas guardaram na sombra o segredo da tua história. 
A tua primeira inscrição em baixo-relevo 
foi uma chicotada no lombo. 
 
Um dia 
atiraram-te no bojo dum navio negreiro. 
E durante noites longas e longas 
vieste escutando o rugido do mar 
como um soluço no porão soturno. 
O mar era um irmão da tua raça. 
 
Uma vez de madrugada 
era uma nesga de terra e um porto. 
Armazéns com depósitos de escravos 
e a queixa dos teus irmãos amarrados 
em coleiras de ferro. 
Principiou aí a tua história. 
 
O resto 
que ficou para trás 
o Congo, as florestas e o mar 
continua a doer na corda do urucungo. 
 
Raul Bopp 
 
Cobra Nonato e Outros poemas, 6ª edição. 
Rio de Janeiro, São José, 19*56, página 89. 
 
 
 Desraizados de sua terra natal pela prepotência dos senhores que buscavam 
braços fortes para o trabalho duro no engenho, na mineração e nas fazendas, os negros 
chegaram ao Brasil marcados pela tragédia da escravidão. No poema O navio negreiro, 
Castro Alves, descreve o que se via no interior de um navio negreiro e a desumana 
condição do tráfico de escravos. Leia, com atenção, um fragmento desse poema. 
 
 
 
Um pouco da cultura afro-brasileira 
 
 Ao cruzar o Atlântico, os portugueses trouxeram da África muito mais do que 
imaginavam. Junto, vieram a música, a dança, a culinária – um povo, a quem temos um 
tributo a pagar, pois a influência de sua cultura está bastante presente na formação de nossa 
gente, como você verá no mapa a seguir. 
 
Herança da cultura africana 
 
 O negro está na formação da própria alma brasileira. Na música, por exemplo, há 
influência predominante dos escravos trazidos da África, principalmente no que se refere ao 
ritmo, onde a marcação é geralmente feita por atabaques ou tambores. Além deles, são 
instrumentos de origem africana a cuíca, o berimbau, o agogô, a cabaça ou chocalho, e a 
marimbá. 
 As músicas e danças africanas são conhecidas, de um modo geral, como batuques ou 
samba. Elas recebem, porém, nomes diversos, conforme a região do país. Com relação às 
danças, a de maior expressão são o carimbó, da região da Ilha de Marajó e Pará; o lundu, 
existente na Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro; o coco, do sertão de Alagoas; e o jongo, 
dançando em regiões cafeeiras. Uma das danças de maior tradição africana é a congada, um 
auto popular que homenageia os santos protetores dos negros, principalmente São Benedito. 
A congada existe em praticamente todo o país. 
 O samba brasileiro teve origem no batuque africano, um ritual de sapateado e palmas, 
executado ao som de cantigas e acompanhado geralmente de tambor, viola e pandeiro. 
 Com relação à influência africana na música e dança brasileiras, merece registro 
também a capoeira, dançada ao som de berimbau, que tem origem angolana e é difundida 
principalmente na Bahia e Rio de Janeiro. No período da colônia e império, a capoeira era 
considerada uma forma de rebeldia dos negros e sua prática proibida pelas autoridades. 
 
 
 A cultura brasileira também recebeu a influência africana na medicina popular, com a 
cura de doenças através da invocação dos deuses e espíritos dos mortos, benzeções e uso de 
ervas. A figura do preto benzedor subsiste mo meio rural e na periferia e dos grandes centro 
urbanos. 
 Ingredientes de origem africana também fazem parte do cotidiano da cozinha brasileira, 
que assimilou principalmente temperos, como a pimenta e o azeite de dendê. Os pratos 
africanos são mais comuns na Bahia, onde a cocada, o acarajé, o vatapá e o caruru acabaram 
virando símbolo da tradição daquele Estado. 
 Na literatura, principalmente oral, as lendas que os negros nos trouxeram da África 
influenciam toda uma vasta produção de nossos melhores escritores, Na verdade, sem 
contribuição do negro e do índio, nosso folclore seria muito mais pobre. 
 Ainda se pode dizer, sem medo de erro, que a própria língua que hoje usamos, para 
comunicar nossos mais profundos sentimentos e aspirações, não seria tão doce, se não 
estivesse enxertada de vocábulos negros, assim como de outros tantos de origem indígena. 
 A cultura africana está, pois, na música, na religião, na ciência, no folclore, nos 
costumes, nos hábitos e na formação da própria língua brasileira. 
 
FERREIRA, Moacyr Costa; Suplemento Literário do Jornal Minas Gerais, Maio, 1988. 
 
O navio negreiro 
 
 
IV 
Era um sonho dantesco... o tombadilho 
Que das luzernas avermelha o brilho. 
Em sangue a se banhar. 
Tinir de ferros... estalar de açoite... 
Legiões de homens negros como a noite, 
Horrendos a dançar... 
 
Negras mulheres, suspendendo às tetas 
Magras crianças, cujas bocas pretas 
Rega o sangue das mães: 
Outras moças, mas nuas e espantadas, 
No turbilhão de espectros arrastadas, 
Em ânsia e mágoa vãs! 
 
E ri-se a orquestra irônica, estridente... 
E da ronda fantástica a serpente 
Faz doudas espirais ... 
Se o velho arqueja, se no chão resvala, 
Ouvem-se gritos... o chicote estala. 
E voam mais e mais… 
 
 Presa nos elos de uma só cadeia, 
A multidão faminta cambaleia, 
E chora e dança ali! 
Um de raiva delira, outro enlouqueceu 
Outro, que de martírios embrutece. 
- Cantando, geme e ri... 
 
 
V 
Senhor Deus dos desgraçados! 
Dizei-me vós, Senhor Deus, 
Se eu deliro... ou se é verdade 
Tanto horror perante os céus?!... 
Ó mar, por que não apagas 
Co'a esponja de tuas vagas 
Do teu manto este borrão? 
 
Astros! noites! tempestades! 
Rolai das imensidades! 
Varrei os mares, tufão! ... 
 
ALVES, Castro. O Navio Negreiro 
 
 
 
 
 
Glossário 
 
- Dantesco: refere-se a cenas horríveis narradas por Dante Alighieri em sua obra Divina 
Comédia. 
- Trombadilho: parte do navio destinada a alojamento. 
- Luzernas: grande luz, clarão. 
- Açoite: chicote. 
- Turbilhão: redemoinho. 
- Espectros: fantasmas. 
- Vãs: inúteis. 
- Arquejar: ofegar. 
- Resvalar: escorregar. 
- Tufão: tempestade. 
 
 
 
 
Compreendendo o texto 
 
01 – Qual o tema abordado no poema O navio negreiro? 
 
02 – Que expressão o poeta utiliza, no primeiro verso, para demonstrar que a cena que se vê 
no nvaio negreiro parece ser irreal? 
 
03 – Nos versos “Quedas luzernas avermelha o brilho” / “Legiões de homens negros como 
a noite...”, a que se referem as palavras avermelha e negros? 
 
04 – Numere a segunda coluna pela primeira de acordo com as palavras (metáforas) utilizadas 
pelo poeta para designar: 
( 1) movimento dos escravos submetidos ao açoite ( ) borão 
( 2 ) gritos de dor dos escravos ( ) dança 
( 3 ) chicote ( ) serpente 
( 4 ) navio negreiro ( ) orquestra irônica, estridente 
05 – Por que o poeta utilizou a palavra borrão (31º verso) Para designar o navio negreiro? 
06 – Na quinta estrofe o poeta faz apelos a diversos elementos da natureza. Quais são eles? 
07 – Qual a finalidade desta invocação? 
08 – A apresentação das cenas descritas a bordo do navio correspondem, na sua opinião, à 
realidade? Justifique sua resposta. 
 
 
 
 
 Distanciados do seu grupo de origem e arrancados de sua cultura, os negros eram 
tratados como peças que só precisavam de manutenção e reposição. Diante desse desrespeito 
à condição humana, como a população escrava reagia? 
 
Passado ainda presente 
 Durante quatro séculos, navios negreiros partiram de Angola, do Congo, de 
Moçambique, da Guiné, da Nigéria e de outros países africanos, cruzando o Atlântico e 
aportando no litoral brasileiro. 
 O comércio livre de negros escravizados e o posterior tráfico negreiro, esse último 
ilegal, porém institucionalizado, tornaram-se negócios bastante rentáveis, pois colocava a 
pessoa do escravo sob a vontade do senhor, retirando-lhea condição de ser humano. Não 
importa qual fosse o trabalho, o escravo era parte de uma engrenagem e sua força de trabalho 
era cativa, na mesma medida em que seu corpo e sua vontade. 
 Apesar de trabalharem predominantemente em atividades agrícolas, os escravos 
também exerciam ofícios de artesãos, empregados domésticos, feitores, etc. Alguns sabiam 
ler e escrever, o que lhes dava um certo status dentro da comunidade e uma relativa autonomia, 
sobretudo se empregando em atividades urbanas. Essa condição de alguns escravos favoreceu 
o surgimento de lideranças de rebeliões escravas e movimentos políticos e sociais. Mas nas 
grandes plantações o trabalho era mais duro e coercitivo, pois os escravos eram 
constantemente vigiados. As faltas por eles cometidas eram punidas severamente, de acordo 
com a vontade do senhor e da lei. 
 A resposta do escravo a essa situação eram inúmeras, passando por lentidão no serviço 
e pequenos furtos da produção agrícola à fuga, à insubmissão ao trabalho e à violência contra 
os feitores e senhores de engenho, que podia chegar ao crime. Contudo, o foco de preocupação 
constante dos senhores de escravos e das milícias locais, centrava-se nas fugas e na formação 
de quilombos. 
 Os quilombos eram os locais onde os negros fugidos buscavam concretizar os seus 
sonhos de liberdade e representavam a possibilidade de negação da ordem vigente. O maior 
e mais conhecido deles foi o Quilombo dos Palmares, situado numa faixa de terra que ia do 
Rio São Francisco até a Serra da Barriga, no sertão de Alagoas. 
 Palmares instituiu, entre 1595 a 1695, um país independente onde os escravos 
rebelados viviam como homens lives, em uma sociedade multirracial com índios e brancos 
pobres. 
 Organizada pelos moldes africanos, a confederação constituía um Estado, no qual cada 
mocambo (ou cidade) tinha um chefe, que elegia o rei do Quilombo. 
 Foi nesse cenário que apareceu a figura de Zumbi, líder dos Palmares – assassinado 
pelas forças de repressão da Coroa Portuguesa no dia 20 de novembro de 1695. 
 
Compreendendo o texto 
 
01 – De que países africanos partiam os navios negreiros que apontavam no litoral brasileiro? 
 
02 – Por que o tráfico negreiro tornou-se um negócio bastante rentável em nosso país? 
 
03 – Que tipo de trabalho os escravos realizavam na comunidade em que viviam? 
 
04 – Que privilégios tinham os escravos que sabiam ler e escrever? 
 
05 – Esses benefícios concedidos a alguns escravos possibilitou o surgimento de quê? 
 
06 – De acordo com o texto, o trabalho, nas grandes plantações, era mais duro e coercitivo. O 
que acontecia com os escravos que cometiam faltas durante o trabalho? 
 
07 – Os escravos aceitavam passivamente os castigos que lhes eram impingidos pela vontade 
dos senhores e das leis? Como eles reagiam? 
 
08 – Qual a principal preocupação dos senhores e das milícias com relação aos escravos? 
 
09 – Quilombo era o lugar onde os escravos fugitivos se reuniam. Qual deles tornou-se o 
símbolo da resistência negra contra a escravidão no Brasil? Onde ele se situava? 
 
10 – De que forma o Quilombo de Palmares era constituído? Quem foi Zumbi? 
 
 
 
 
 
 
 Ao lado das lendas que emocionam e nos permitem penetrar um pouco mais na alma 
africana, deparamo-nos com palmas e cantos nativos acompanhados de ritmo hipnótico, 
místico, negro, mostrando que a África existe como uma saudade orgânica e natural. Saudade 
esta que se manifesta nas ruas, através das rodas de capoeira! 
 
A magia da capoeira 
 Enquanto o coração da raça bate pela força das mãos, o sentimento negro ginga por 
arte e magia das pernas. E repercute na luta. A luta é uma resposta à opressão, palavra-síntese 
que determina o germe da capoeira. 
 Sua origem está indefinida na palidez das controvérsias. Afirmações e suposições 
encontram-se e se desencontram. Como toda a tradição da capoeira foi passada oralmente, 
sua procedência tornou-se obscura. Ela tem certa semelhança com um tipo de luta existente 
na África, desde Angola, até a Nigéria, caracterizada por um dinâmico jogo de pernas. Seja 
como for, a tendência mais comum é considerá-la genuinamente brasileira, tendo surgido 
entre os escravos bantos oriundos de Angola. 
 Também não pode ser determinada com precisão a época em que começou a ser 
praticada, pois não existem documentos. Sabe-se apenas que circunstâncias especiais levaram 
o negro a desenvolver esse jogo – uma das formas mais eficientes de luta. 
 Para fugir à tirania do feitor, os negros se escondiam no mato fechado chamado 
capoeira. A ânsia de liberdade é que os levava a essa fuga quase romântica, sem planos e sem 
organização, numa fase anterior aos quilombos. Era alegre fugir. Mas essa alegria costumava 
durar pouco, pois havia homens especialmente treinados para capturá-los. Os famosos 
capitães-do-mato, também chamados capitães-do-campo, não davam outra alternativa ao 
negro, a não ser voltar para a fazenda. Normalmente cansado e subnutrido, o fugitivo via-se 
subjugado com facilidade. 
“Capitão-do-campo, veja que o mundo virou. 
Foi ao mato pegar negro, mas o negro lhe 
amarrou.” 
 Como reação a esse estado de coisas é que aos poucos foram-se aperfeiçoando passos 
de uma dança que, antes de tudo, era uma forma de luta. Logo reconhecida como muito 
valiosa para a defesa da liberdade, consistia em se esquivar dos golpes do adversário, porém 
mantendo-se perto, para o contra-ataque. A força não se fazia necessária, apenas malícia, 
agilidade. Quando atacado, o negro arredava o corpo, mas deixava o pé ou a mão. Fingia 
abandonar a luta, mas retornava de forma prevista. 
“Sua mãe é uma coruja que mora no oco do pau. 
Seu pai é um negro véio tocador de berimbau.” 
 
 A capoeira começou a firmar-se na vida do negro à medida que os capiães-do-mato 
não conseguiam mais cumprir sua missão. Humilhados, voltavam de mãos abanando depois 
de muito apanhar, ou não voltavam. 
 De forma cada vez mais obsessiva, a capoeira começou a fazer parte das preocupações 
dos senhores. Claro, pois um negro franzino, mesmo sozinha, era capaz de derrotar vários 
adversários. Foi a partir que ela passou a sofrer perseguições. Mas o negro, manhoso, 
disfarçou-se ainda mais, deu-lhes feições de dança acrobática. Agora sim, podia praticá-la nas 
barbas dos feitores. Dançando, batendo palmas, ao som do atabaque, ali mesmo no terreno ou 
na mata. Se não havia brancos por perto, treinavam golpes violentos, faziam luta verdadeira. 
 “Zum-zum-zum, capoeira mata um.” 
 Com a aproximação de alguém, o berimbau-de-boca, que acompanhamento a luta, 
alertava a todos com o toque “cavalaria”. Os escravos então camuflavam a violência, a 
agressividade, com a dança e com as ladainhas. 
 Em fins do século dezenove, tendo deixado de ser prática exclusiva de negros, tornou-
se popular. E apesar de ter sido adotada por nobres excêntricos e audazes intelectuais, 
continuou a ser representativa de uma classe econômica baixa. De qualquer modo, a 
introdução desse pessoal novo na capoeiragem criou uma figura típica: o malandro refinado, 
falante e gingador, que utilizava a capoeira para provocar desordem. 
 Perseguida em Salvador, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Santos e Santos, a 
capoeira foi praticamente extinta em quase todo o país. E a única luta brasileira estava, dessa 
forma, condenada ao desaparecimento. Foi quando, na Bahia, puxaram pela memória da 
capoeira. E alguém se lembrou do antigo disfarce: aquele utilizado pelos escravos para jogar 
sem molestados pelo feitor. 
“No jogo da capoeira, quem não joga mais, 
apanha!” 
 A partir desse momento, a roda de capoeira iniciou um novo ciclo com a incorporação 
de outros golpes e movimentos acrobáticos que a transformou num misto de luta, dança e 
ginástica. 
 
Cadernos do Terceiro Mundo 
Suplemento – Ed. Globo 
 
 
 
 
 
Compreendendo o texto 
 
01 – Como a capoeira tem uma certa semelhança com um tipo de luta existentena África, 
desde Angola até a Nigéria, tende-se a acreditar que ela é originária de qual país? 
 
02 – Que motivos levou o negro africano a desenvolver a capoeira? Onde ele se escondia para 
praticá-la? Quem o trazia de volta para o trabalho? 
 
03 – Para não ser subjugado com facilidade pelo capitão-do-mato, o negro passou a 
aperfeiçoar essa forma de luta. 
a) Qual era a finalidade da capoeira? 
b) Em que ela consistia? 
c) Por que não era necessário o uso de força durante a luta? 
d) Em que momento a capoeira passou a firmar-se na vida dos escravos? 
 
04 – Por que a capoeira passou a preocupar os senhores? 
 
05 – Diante das perseguições que a capoeira passou a sofrer, que estratégias o negro adotou 
para praticá-la diante dos senhores? 
 
07 – A capoeira passou, então, a ser proibida pelas autoridades. Em que estados brasileiros 
isso aconteceu? 
 
08 – Com o passar do tempo, porém, a capoeira reapareceu na Bahia. De que forma ela 
ressurgiu? 
 
 
 
 
 
 
Dia Nacional da Consciência Negra 
20 de novembro 
 
 O dia 20 de novembro, morte de Zumbi – o líder guerreiro do Quilombo de Palmares 
- , é dia especial, de reverência, para uma boa parcela dos afro-brasileiros, pois há mais de 
uma década a data vem sendo lembrada e comemorada como o Dia Nacional da Consciência 
Negra. 
 Em vez de festa, alegria e comilança, como era de se esperar numa comemoração, o 
20 de novembro é marcado por uma série de tos de protesto, debates e reflexões, que se 
reproduzem em diferentes pontos do Brasil, animados pelas entidades do movimento negro 
organizado no país. De acordo com elas, tais manifestações objetivam despertar o conjunto 
da sociedade para a situação de exclusão e marginalidade em que vive a maioria dos 
brasileiros de raízes africanas – uma realidade que só mudará quando for conhecida e 
reconhecida em todas as suas nuanças. 
 Perversa, tal realidade é também antiga. Começou a ser traçada mais ou menos entre 
1530 e1532, época em que Portugal partiu para a colonização e exploração organizada de suas 
colônias no além-mar, principiando por trazer os primeiros africanos escravizados para a Terra 
de Santa Cruz, Brasil, Daí em diante, e por mais de 350 anos, os escravos negros tornaram-se 
“as mãos e os pés” da nossa terra e de algumas de suas vizinhas americanas, reavivando-se, 
assim, um sistema de trabalho que já foi abolido há séculos no território europeu. Em 1830, 
data em que o tráfico negreiro foi oficialmente proibido no país, o Brasil já havia recebido 
cerca de 3,7 milhões de negros escravizados, o correspondente a 35% do total tangido para as 
Américas e Ilhas do Caribe, no mesmo século. 
 Aqui, apesar das condições desumanas de vida e trabalho – da destruição das relações 
familiares, incentivada pelos senhores, e das altas taxas de mortalidade infantil, agravadas 
pela ação das escravas que não queriam ver seus filhos nascerem em cativeiro - , a população 
negra cresceu e se multiplicou a ponto de representar, em 1888, cerca de 80% dos habitantes 
de províncias importantes como a Bahia e o Rio de Janeiro. 
 Última nação do mundo a suprimir o regimento escravista, o Brasil é hoje apontado 
por pesquisadores como a região que, fora da África, concentra a maior população negra e 
conserva suas tradições culturais milenares. Mas é também o país onde os afro-brasileiros 
permanecem, com raras e aclamadas exceções, ocupando o mais baixo degrau da pirâmide 
social, como lembram as entidades do Movimento Negro nas discussões abertas no dia 
dedicado a Zumbi. 
Nova Escola, Novembro,1993 
 
 
 
Trabalhando o texto 
 
01 – Por que dia 20 de novembro é um dia especial para os afro-brasileiros? 
 
02 – De que forma este dia é comemorado nos diferentes pontos do Brasil? 
 
03 – Qual o objetivo das entidades que participam do Movimento Negro? 
 
04 – De acordo com o texto, a partir de que é poca os primeiros africanos foram trazidos para 
a Terra de Santa Cruz?

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