Buscar

GESTÃO DE SEGURANÇA - APOSTILA I

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 194 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 194 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 194 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

GESTÃO DE SEGURANÇA . 
 
 
 
 
 
 
SEGURANÇA FÍSICA. SISTEMAS DE PROTEÇÃO. 
 
 
HISTÓRIA, METODOLOGIA E DOUTRINA. 
 
 
3ª EDIÇÃO - REVISTA E AMPLIADA 
(ISBN: 85-7579-027-7) 
 
 
 
 
 
 
 
 
Paulo Roberto Aguiar Portella 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
 
JANEIRO/2011 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
CAPÍTULO I – RAÍZES HISTÓRICAS E CONCEITOS. 
1.1 – Introdução ........................................................................................................ 5 
1.2 – A Segurança Física .......................................................................................... 31 
1.3 – Segurança e garantia. Elementos de doutrina ................................................... 32 
1.4 – Segurança Física. Campos de atividades .......................................................... 34 
1.5 – Conceitos fundamentais .................................................................................... 34 
 
CAPÍTULO II – A SEGURANÇA PRIVADA. 
2.1 – Antecedentes .................................................................................................... 36 
2.2 – O futuro da segurança privada .......................................................................... 38 
2.3 - A doutrina da segurança privada.........................................................................40 
2.4 – A segurança privada no Brasil 40 
2.5 - O mercado clandestino e ilegal .......................................................................... 47 
2.6 - Ética .................................................................................................................. 50 
 
CAPÍTULO III – DECISÃO E RESPONSABILIDADE. 
3.1 – O processo decisório ......................................................................................... 54 
3.2 – Responsabilidades. Caráter endógeno e exógeno. ............................................ 55 
3.3 – Criticidade e vulnerabilidade ............................................................................ 57 
3.4 – A corrente de proteção, seus elementos e sistemas .......................................... 59 
3.5 – Uma organização de segurança física. .............................................................. 61 
 
CAPÍTULO IV – RESPONSABILIDADES E RISCOS. 
4.1 – As responsabilidades. Os incidentes e os acidentes. ......................................... 64 
 4.2 – Os riscos 67 
4.3 – A Proteção necessária. Defesa em Profundidade. 84 
4.4 - A prevenção de riscos …………………………………………………….…. 89 
 
 
4.5 – Conceitos fundamentais……………………………………………………... 90 
 
CAPÍTULO V – BARREIRAS PERIMETRAIS. 
5.1 – Generalidades ................................................................................................... 91 
5.2 – Especificações ................................................................................................... 93 
5.3 – Postes e extensões ............................................................................................. 93 
5.4 – Outras barreiras ................................................................................................. 95 
5.5 – Portões e outras aberturas ................................................................................. 96 
5.6 – Zonas livres ....................................................................................................... 97 
CAPÍTULO VI – ILUMINAÇÃO DE PROTEÇÃO. 
6.1 – Generalidades .................................................................................................... 98 
6.2 – Tipos ................................................................................................................ 99 
6.3 – Unidades de iluminação .................................................................................... 100 
6.4 – Padrões de iluminação ..................................................................................... 101 
6.5 – Controles e manutenção .................................................................................... 103 
CAPÍTULO VII – ALARMES. 
7.1 – Alarmes e sensores de proteção ....................................................................... 105 
7.2 – Tipos ................................................................................................................. 106 
7.3 – Condições .......................................................................................................... 110 
 
CAPÍTULO VIII – COMUNICAÇÕES DE PROTEÇÃO. 
8.1 – Generalidades .................................................................................................... 113 
8.2 – Tipos ................................................................................................................. 114 
8.3 – Os recursos ........................................................................................................ 115 
 
CAPÍTULO IX – GUARDAS. 
9.1 – Generalidades .................................................................................................... 117 
9.2 – Efetivo de guardas ............................................................................................ 118 
9.3 – Limitações ......................................................................................................... 119 
9.4 – Qualificações .................................................................................................... 120 
9.5 – Treinamento ...................................................................................................... 123 
9.6 – Organização ...................................................................................................... 125 
 
 
9.7 – Ordens ............................................................................................................... 126 
9.8 – Relatórios .......................................................................................................... 127 
9. 9 –Conduta e estratégia de emprego ………………………………………… 128 
9.10 – Emergências .................................................................................................... 129 
9.11 – Forças de fins múltiplos .................................................................................. 130 
9.12 – Cães de guarda ................................................................................................ 131 
9.13 – Supervisão …………………………………………………...……………. 132 
 9.14 - A questão das drogas ………………………………………………...…… 135 
 
CAPÍTULO X – IDENTIFICAÇÃO E CONTROLES DE EMPREGADOS E VISITANTES. 
10.1 – Identificação .................................................................................................... 138 
10.2 – Fiscalização ..................................................................................................... 143 
10.3 – Controles e registros ....................................................................................... 144 
 
CAPÍTULO XI – CONTROLE DE VEÍCULOS, DOCUMENTOS E MATERIAIS ESPECIAIS. 
11.1 – Controle de veículos ....................................................................................... 149 
11.2 – Monitoração ................................................................................................... 151 
11.3 – Controle de documentos e materiais especiais……………………..………. 151 
 
CAPÍTULO XII – BLINDAGENS. 
 12.1 – Generalidades ………………………………………..…………………….. 156 
 12.2 – Blindagem e seus materiais ……………………………………………… 156 
 12.3 – Normatização ………………………………………………………….… 158 
 
 
CAPÍTULO XIII – SEGURANÇA DE DADOS E SISTEMAS. 
 
13.1 – As ameaças ....................................................................................................160 
13.2 – As medidas ..................................................................................................... 161 
13.3 – Os dispositivos legais ……………………….……………………………. 164 
 
 CAPÍTULO XIV – SEGURANÇA FÍSICA E SEGURANÇA PÚBLICA. 
14.1 – A segurança das instalações ............................................................................ 166 
 
CAPÍTULO XV – PLANEJAMENTO DE SEGURANÇA FÍSICA 
15.1 – Técnicas de redação ........................................................................................ 168 
 
 
15.2 – O processo de planejamento ........................................................................... 170 
15.3 – Relatório inicial (memento) ............................................................................ 175 
15.4 – Informações gerais sobre o memento ............................................................. 177 
15.5 – Análise de riscos ............................................................................................. 178 
15.6 – Diagnóstico ..................................................................................................... 180 
15.7 – Planejamento das garantias ............................................................................. 182 
 
CAPÍTULO XVI – POSIÇÃO DOUTRINÁRIA…………………………………………….186 
 
BIBLIOGRAFIA: ................................................................................................................... 191
 
 
5 
CAPÍTULO I – RAÍZES HISTÓRICAS E CONCEITOS 
 
1.1 – INTRODUÇÃO 
 
 O conhecimento acadêmico a respeito das instituições de segurança, até o quartel final 
do século passado, foi restrito praticamente ao que seus integrantes haviam escrito e se constituíam 
de histórias contadas ou de breves notícias. Até muito recentemente, salvo poucas e pontuais 
exceções, nem historiadores nem cientistas sociais haviam reconhecido a existência dessas 
instituições, nem mesmo do importante papel que elas representaram e ainda representam na vida 
social. 
 É dentro dessas limitações que procuraremos abordar o surgimento e o desenvolvimento 
dessas instituições, conceituadas muito amplamente como conjunto de pessoas autorizadas ao uso 
de força física (real ou por ameaça), para regular as relações interpessoais dentro de um grupo 
social, mediante autorização desse grupo, muito provavelmente como a grande conquista do 
processo civilizatório da humanidade, quando a urbanização da sociedade fez o homem 
experimentar a alteridade, a segurança material e afetiva e a proteção social. 
A palavra segurança é derivada dos advérbios latinos secure e securus, originalmente 
significando sem preocupação, em segurança ou isento de perigo. Modernamente tanto é utilizada 
significando um estado de ausência de perigo, como uma atividade para afastamento de 
riscos/perigos e até mesmo para denominar os próprios instrumentos de proteção. 
A atividade segurança, entendida como capacidade de ação humana, teve 
provavelmente início na transição da Era Paleolítica
1
 para a Era Mesolítica
2
, quando o homem 
percebeu a necessidade de se proteger contra os riscos oferecidos pela natureza e por seus 
semelhantes. Essa atividade evoluiu gradativamente ao longo da história humana, até configurar-se 
como função vital para a sobrevivência da espécie, provavelmente entre o final da Era Mesolítica e 
o início da Era Neolítica
3
, quando o homem passou a obedecer a códigos de conduta e procurar 
mediação para resolver suas demandas, abolindo a barbárie das primeiras comunidades agrícolo-
pastoris e iniciando uma fase civilizatória na qual habitaria cidades, nas quais construiria casas, 
templos, túmulos e palácios, para abrigar um conjunto social instituído em hierarquias de 
governantes e governados, onde as regras que regulariam o comportamento humano em sociedade 
 
1
 - Em torno de 60.000 anos a.C. 
2
 - Em torno de 12.000 anos a.C. 
3
 - Em torno de 7.000 anos a.C. Inicialmente regulado por códigos de conduta religiosa e costumeira, depois por códigos 
escritos, cujo exemplar mais antigo é o Código de Hamurabi, na antiga Mesopotâmia, por volta do ano 1.700 a.C. 
 
 
6 
usariam como vias de operação ou como cadeia de transmissão, os mitos, a religião, as tradições e 
os costumes, até desembocar na coerção institucional escrita. 
A função
 
 segurança, entendida como capacidade de ação humana organizada, se 
desenvolve como processo evolutivo originado na atividade individual e isolada, adquirindo 
aspectos mais elaborados dentro dos grupos, até aparecer como responsabilidade administrativa ou 
de governo, como observado nas cidades gregas do século VI a.C. sendo ampliada no Império 
Romano
4
, entrando em decadência na Idade Média Inicial
5
, vindo a recuperar-se no final da Alta 
Idade Média
6
, consolidando-se durante o Absolutismo, para se aperfeiçoar e se modernizar a partir 
do Renascimento europeu. 
O que aqui se almeja é a identificação do início da atividade e da função segurança, 
caracterizando instituições que, de alguma forma, tiveram como atribuição a execução de ações que 
hoje identificam a atividade genérica de segurança: as ações de inteligência 
(informação/investigação), de prevenção, de coerção/dissuasão/mediação e de assistência. Para 
tanto é necessário que se compreenda essa função e sua dupla originalidade. Se por um lado é 
instituição de proteção e controle social, por outro lado se constitui em clara afirmação de 
autoridade. 
Os historiadores de uma forma geral, costumam relacionar a capacidade de pensamento 
abstrato e do uso da linguagem com a forma de vida grupal cooperativa e o possível começo 
grosseiro das instituições sociais num período histórico em torno da Era Paleolítica Inferior. Nesta 
ocasião o homem primitivo abandonou suas práticas nômades de coletor e pilhador de alimentos e 
paulatinamente assumiu a atitude de caçador, agricultor e de pastor, estabelecendo vida sedentária. 
É nesta fase organizativa da vida social, onde já domestica alguns animais (o cão, com uma 
razoável margem de certeza), que o homem primitivo passa a conviver com suas primeiras 
preocupações a respeito da natureza como suprema expressão da espontaneidade, que indiferente à 
vida humana, não raro é hostil aos seres pertencentes ao seu reino, causando-lhes dano e 
desconforto. 
O homem, preocupado em proteger-se das intempéries e tendo já noções incipientes de 
segurança/insegurança, interessado em proteção relacionada ao que consumia, ao que acumulava e 
com a preservação de suas primitivas instituições grupais, ergue construções primitivas com o 
objetivo de proteger-se. Movido pelo sentimento gregário, organiza agrupamentos de moradia ainda 
ordenadas por mero instinto, dando origem às primeiras aldeias, sendo que algumas dessas se 
 
4
 - Do séc. I a.C. ao séc. V d.C. 
5
 - Do final do Império Romano do Ocidente ao séc. X. 
6
 - Séc. X I ao séc. XIII. 
 
 
7 
desenvolvem, alcançando um grande número de edificações e seguindo uma disposição mais 
ordenada. Com o passar do tempo e com os avanços do conhecimento humano, novos parâmetros 
de ordem, funcionalidade e segurança chegam como expressão de racionalidade, apesar do cenário 
físico da vida urbana tanto propiciar padrões de organização social, quanto propiciar violência, 
poluição e exposição de desigualdades. É muito provável que esteja localizada entre a Era 
Neolítica
7
 e a Idade dos Metais
8
 a utilização do cão já domesticado e de algum tipo de paliçada ou 
cercamento como elementos de segurança desses agrupamentos, o que ficou registrado em pinturas 
rupestres. 
Provavelmente nesta época, grupos de indivíduos foram autorizados a empregar a força 
física (real ou por ameaça) para regular as relações interpessoais dentro do grupo social a que 
pertenciam(famílias, clãs, tribos, grupos de interesse, comunidades territoriais, etc.). É muito 
provável que, desde o final da pré-história
9
 os grupamentos humanos estivessem sujeitos a 
diferentes tipos de sistemas de segurança, cada qual definido por um tipo diferente de unidade 
social existente, onde o uso interno da força (dentro da unidade social) fosse aceito como legítimo. 
É também muito provável, que a mente humana tenha evoluído dentre outras coisas, 
para acreditar e aceitar o sobrenatural, decorrendo que essa aceitação significou uma grande 
vantagem por toda a pré-história, quando o cérebro humano estava evoluindo. Com a crescente 
organização e complexidade das diversas sociedades que se formavam, a fé tornou-se um poderoso 
fator de união, pois acreditar nos mesmos deuses foi a base do surgimento das primeiras 
civilizações, onde ser estrangeiro significava antes de tudo, venerar outros deuses. A fé religiosa 
como fenômeno humano, tornou-se um instrumento de coesão social, mas também de dominação 
interna e de conquistas externas. Os sistemas religiosos criados representaram uma enorme 
vantagem para os que governavam, pois o regramento que a todos submetia tinha origem 
admitidamente divina, provindo de um mesmo núcleo sagrado da mesma origem dos governantes, 
cujas origens funcionais encontram-se nas funções sagradas e sobrenaturais dos primitivos xamãs 
ou sacerdotes, que ao conduzir a prática religiosa e estabelecer as ligações com as divindades, 
acabaram pela prática, poderes e autoridade acumuladas, tornando-se também os condutores das 
guerras, da mediação dos conflitos e por fim, da administração da sociedade que se formava. 
Nas sociedades que se formaram neste alvorecer da humanidade, num período 
compreendido pela Era Paleolítica Superior
10
 e o final da última Glaciação
11
 e como conseqüência 
 
7
 -Em torno de 7.500 a 5.000 a.C. 
8
 -Após 3.500 a.C. 
9
 - Era ágrafa, isto é, sem escrita. 
10
 - Entre 20.000 e 15.000 a.C. 
11
 - Entre 10.000 e 7.500 a.C. 
 
 
8 
de funções cognitivas superiores, muitas atividades humanas dentre elas uma agricultura primitiva e 
atividades de pastoreio começaram a ser praticadas e a produzir excedentes acumuláveis, que por 
conseqüência passaram a requerer uma atividade que assegurasse suas integridades, seja contra os 
efeitos da natureza, seja contra ações de seus semelhantes. Provavelmente nessa época estão 
localizadas as primeiras noções de atividade de segurança como capacidade de ação humana para 
preservar bens e valores, fundamentalmente diferente dos procedimentos anteriores, baseados no 
natural instinto de preservação e de defesa, comum a todo reino animal. 
Essa nova prática, embrionariamente fundamentada em proteção e controle, era apoiada 
no conceito de autoridade, um racionalismo cujos rudimentos já se faziam presentes na vida social 
da pré-história. Não importa aqui discutir o problema filosófico da autoridade, no que diga respeito 
à sua justificação
12
, pois qualquer que seja o fundamento admitido, os conceitos de proteção, 
controle e autoridade estarão presentes e unidos, a partir daí e ao longo de toda a história do 
homem. 
As primeiras civilizações ocidentais, surgidas nos vales dos rios Tigre, Eufrates e Nilo, 
que nos legaram memória tradicional ou escrita, registram a existência de leis, tribunais e de 
impostos ou tributos. Para impor o cumprimento dessas leis, para que os tribunais cumprissem suas 
funções e executassem suas decisões e para possibilitar a cobrança de impostos, essas civilizações 
teriam que possuir um corpo de proteção, que embora não tivesse essa destinação exclusiva, a 
executava de forma quase rotineira. Essas sociedades ainda pouco complexas, de uma forma geral, 
tiveram por costume atribuir a um grupo de pessoas escolhidas ou a funcionários administrativos e a 
seus exércitos, as funções de execução das leis, de cobrança de tributos e de manutenção da ordem. 
Os governantes, de uma forma geral, mantinham grupos armados. Por vezes para repelir invasores e 
sempre para manter a ordem instituída e defender a autoridade do Estado. Assim ocorreu nas 
civilizações Mesopotâmica e Persa, como também nas Hebraica, Egípcia, Hitita, Minóica e 
Miceniana, até o apogeu das sociedades ditas complexas, como a grega e a romana. 
Isto diz respeito tanto às instituições públicas quanto às instituições privadas, sendo 
razoável acreditar-se que as organizações de segurança tiveram originalmente caráter privado 
(compostas por cidadãos), não eram especializadas (possuíam outras atribuições) e não eram de 
caráter profissional (no sentido de não possuir preparo específico para realizar atividades de 
segurança e exercer habitualmente outra ocupação). É desse período histórico, possivelmente em 
torno do século VI a.C, que Fustel de Coulanges, citando o político e orador ateniense 
 
12
 - São distintas as seguintes doutrinas fundamentais: a Natureza ( o mais forte ou dominante), a Divindade (a ligação 
com o sobrenatural) e o Contrato (o consenso daqueles sobre os quais a autoridade é exercida). 
 
 
9 
Demóstenes
13
, in Timotheum, nos informa da existência da função polícia, dentre as magistraturas 
de Atenas, no período chamado de Democracia: 
“Vinham a seguir, os magistrados especialmente criados pela 
democracia, que não eram sacerdotes e velavam pelos interesses 
materiais da cidade. Primeiro os dez estrategos que se ocupavam 
dos problemas da guerra e da política; depois os dez astínomos que 
cuidavam da polícia; os dez agorânomos, que vigiavam os 
mercados da cidade e do Pireu; os quinze sitofilaces, que cuidavam 
da venda do trigo; os quinze metrônomos, que controlavam os 
pesos e as medidas; os dez guardas do tesouro; os dez recebedores 
de impostos e os onze encarregados da execução das sentenças.” 
Fustel de Coulanges (2000, p.262). 
A fundação da República em Roma
14
 já encontrou na cultura romana as Guardas 
Pretorianas
15
, os Lictores e os Magistrados encarregados de ministrar justiça, cumprir éditos e 
guardar tribunais e prisões. Essas guardas também executavam a função de proteção dos seus 
generais e das famílias patrícias. Durante o período republicano, cabia ao Senado de Roma a 
responsabilidade pela manutenção da ordem na capital e nas províncias; em Roma uma das 
magistraturas era atribuída a um Senador, que exercia a função de Prefeito
16
 e era responsável pela 
ordem na capital. No século III a.C. a aplicação da Lei romana era deixada a cargo dos cidadãos. As 
vítimas e seus familiares tinham permissão para capturar os que lhes tivessem feito mal e 
administrar a punição correspondente ou levar os acusados aos magistrados, geralmente com a 
ajuda de parentes e amigos, que então decidia ou não pela culpa e os devolvia aos seus captores 
para aplicação da punição que a Lei
17
 permitia, inclusive morte, escravidão ou pagamentos 
financeiros 
Quando Otaviano
18
 tornou-se Princeps no ano 27 a.C., liberou o Senado romano da 
responsabilidade da administração civil do Império, assumindo ele mesmo essa responsabilidade e 
para tal, criou o cargo de Praefectus Urbi, que tinha a responsabilidade dentre outras, de 
 
13
 -Considerado o maior dos oradores da antigüidade grega, viveu entre 384 e 322 a.C. 
14
 - Século VI a.C. 
15
 -Milícias no sentido primitivo do termo. Tropa diretamente sob as ordens do Comandante supremo do exército 
romano (magistrado supremo ou pretor). Na era imperial, tropas que salvaguardavam o poder imperial e protegiam 
fisicamente o Imperador, no formato criado por Otávio Augusto (Otaviano), em 27 a.C. 
16
 - Em latim Praefectus, part.pass. do verbo praeficio, significando por à frente ou estabelecer como chefe. Prefeito, 
governador, administrador, intendente ou chefe.Título também atribuído aos governadores de províncias romanas. 
17
 -Ius Civile e a Lei das Doze Tábuas. 
18
 - César Augusto, sobrinho-neto e herdeiro de Júlio César. 
 
 
10 
manutenção da ordem, contando para isso com um Praefectus Vigilium
19
 que dispunha de uma 
tropa composta por três coortes (regimentos). Por volta do ano 6 d.C., Roma institucionalizou uma 
força de segurança, que ficou conhecida por Vigiles, a qual por volta do século III d.C. já estava 
instalada por toda a capital, em postos fixos e ocupando-se do patrulhamento diurno e noturno, 
sendo essa a primeira estrutura pública de segurança, suficientemente documentada. 
Nos séculos I e II da nossa era, a segurança pública no Império Romano teve um caráter 
distintamente militar. Nas cidades ficavam aquarteladas tropas militares, denominadas Coortes
20
, 
com efetivo variável de 600 a 700 homens. As que executavam funções de polícia metropolitana 
eram chamadas de Vigiles e seus membros atuavam como policiais e como bombeiros, por vezes 
auxiliadas por milícias convocadas pelos magistrados, entre os cidadãos. Aos governos das 
Províncias romanas cabia o dever de perseguir os saqueadores de templos, salteadores de estradas, 
raptores e ladrões e puni-los, segundo a transgressão cometida. Quando a integração jurídica do 
império foi completada no séc. III.
21
, ampliando o direito de cidadania romana para todos os súditos 
livres, cabia a funcionários civis da administração imperial e às guarnições provinciais do exército 
romano a função de manutenção da ordem. 
No século I na Judéia, então província romana governada por Poncio Pilatos, além das 
centúrias romanas, também atuavam nas tarefas de segurança as guardas e milícias locais, como a 
guarda do templo do Sumo Sacerdote, em Jerusalém, conforme citado no Novo Testamento, no 
evangelho segundo São João (Jo, 18, 3.12), quando narra a prisão de Jesus, por ordem do Sumo 
Sacerdote Caifás: 
"………………………………………………………………… 
3. Judas, tomando um destacamento de soldados e alguns 
guardas cedidos pelos Sumo Sacerdote e fariseus, veio com lanternas e 
fachos e armas. 
………………………………………………………………… 
………………………………………………………………… 
12. Então o destacamento de soldados com o seu comandante, 
bem como os guardas judeus, prenderam Jesus e o amarraram. " 
 
 Em pontos mais afastados do império, como na Ásia Menor, as tarefas de segurança 
eram atribuídas a um funcionário civil denominado Irenarca, que dirigia um corpo de segurança 
 
19
 - Correspondente a Chefe de Polícia. 
20
 - Geralmente Coortes Auxiliares, encarregadas de deveres policiais (Vigiles), compostas por 06 Centúrias, cada uma. 
21
 -Decreto Imperial do ano 212 d.C. 
 
 
11 
não-militar. Também no Egito sob dominação romana, havia uma força policial bastante elaborada, 
bem distinta das tropas de ocupação, resultado da herança Ptolomáica
22
. A rede de estradas do 
império, já bastante sofisticadas e eficientes para a época, recebia a proteção de tropas que 
ocupavam seus pontos de convergência, denominados de stationes. 
A queda do Império Romano do Ocidente
23
, com a invasão dos povos bárbaros e a 
dissolução do poder imperial (central) possibilitou, se não condicionou, o surgimento do 
Feudalismo
24
 no espaço físico europeu e que caracterizou o que se convencionou chamar de Idade 
Média
25
. O enfraquecimento do poder central possibilitou que os senhores feudais fizessem guerras, 
cobrassem impostos, cunhassem moedas e administrassem justiça, o que anteriormente era 
prerrogativa imperial. O comércio passou a ter características locais e as populações ficaram a 
mercê dos saques e pilhagens, às vezes por parte do feudo vizinho ou dos estrangeiros, caso não 
tivessem a proteção do senhor do seu feudo. O colapso do Império Romano destruiu o sistema de 
segurança estatal e os grupos sociais passaram a valer-se de sistemas privados descentralizados ao 
extremo, como também passaram a ser a soberania política e a autoridade para criar leis. 
A partir da segunda metade do século IX e início do século X, os senhores feudais 
constituíram guardas ou estruturas militares para garantir seus domínios sem dependência de 
mercenários, inicialmente nas cidades, vilas e seu entorno, depois em campanhas pelo interior. No 
século XI observou-se um acentuado aumento da população européia, o renascimento da indústria, 
a ressurreição do comércio de longa distância e o aparecimento da burguesia, fatos que iriam 
modificar profundamente as relações existentes nos séculos seguintes. 
Nos séculos XII e XIII as vilas e cidades tiveram grande crescimento e desenvolvimento 
urbano, passando a cercar-se por muralhas. O mercado consumidor cresce vertiginosamente e 
aparecem as primeiras Comunas
26
; nelas organizaram-se as primeiras milícias, sendo instituída a 
vigilância noturna no interior das cidades medievais, que nesta época, foram cercadas por muralhas 
(muitas só o foram sob o efeito de guerras). Em conseqüência, muitas aldeias e vilas foram 
fortificadas, sendo a muralha o elemento mais importante da realidade física e simbólica das 
cidades medievais. Embora seja provável que motivos de segurança tenham dado origem à sua 
construção, nem por isso deixaram de constituir – inspirados nos modelos dos muros antigos ou 
lendários que definiam o espaço sagrado da cidade – o elemento essencial da tomada de consciência 
 
22
 - Algumas dessas eram tropas mais ou menos romanizadas de governantes-clientes dos romanos; outras foram 
recrutadas e formadas pelos próprios romanos. 
23
 --Século V d.C. 
24
 -Sistema sócio-político-econômico fundamentado na desigualdade social, na hierarquização da sociedade e nas 
relações servis de produção. 
25
 -Séculos V ao XV. 
26
 -Cidades que possuíam maior grau de autonomia em relação ao senhor feudal. 
 
 
12 
urbana na Idade Média. Nesta época em que a violência tornou-se endêmica, a segurança era um 
encargo do senhor feudal, em contrapartida ao dever que os servos tinham em relação ao senhor. 
O fato de estar ou não sob a proteção nominal de um senhor feudal, não significava 
porém estar livre de perigos, daí o surgimento e proliferação de Ordens Religiosas Militares entre os 
séculos XII e XIV, que atuaram como forças policiais ou de segurança, tanto nas vilas e cidades 
como principalmente na escolta armada para peregrinos, dignitários e para a transferência de 
valores. Dentre essas ordens, ressaltam as dos Templários, dos Hospitalários e dos Cavaleiros 
Teutônicos, pelo papel que desempenharam durante as Cruzadas
27
. 
Na Alta Idade Média, com o crescimento das cidades e como conquista do seus 
habitantes, estes assumiram por vontade própria e por concessão dos senhores feudais os encargos 
de vigilância e manutenção das muralhas e de suas portas, que em geral foram distribuídos entre as 
corporações de ofícios nela existentes. Porém, as cidades permaneceram sob a sombra do castelo 
senhorial, com as funções de repressão conservadas através da distribuição da alta justiça do senhor, 
das prisões, do pelourinho e do patíbulo. O prefeito da cidade e os escabinos (conselheiros), 
símbolos do exercício do poder da cidade, encarregavam-se da vigilância das portas e da vigilância 
noturna, recrutavam e comandavam a milícia comunal, bem como provinham o pagamento destes. 
Le Goff
28
 retrata o quadro existente em Paris na época: 
“A cidade empreende em meados do século XIII, a instauração de um sistema de 
policiamento, que coloca em primeiro plano o princípio do inquérito, em que a perseguição do 
crime se torna uma obrigação pública”. Jacques Le Goff (1992, p.175). 
O urbanismo medieval que caminha a passos lentos, segue agora visando quatro vetores 
principais: a limpeza, a regularidade, a beleza e a segurança. O grande perigo naquelas cidades era o 
incêndio;os quatro maiores crimes a evitar eram o incêndio, o roubo, o homicídio e o estupro. 
O século XIV é marcado pelo fortalecimento do poder real, que impõe a moeda real 
como meio de troca; que institui os tribunais reais superiores aos tribunais do feudo; a burguesia é 
fortalecida em detrimento da nobreza, surgindo os Estados Nacionais com seus exércitos 
encarregados da proteção do território, dos súditos e da manutenção da ordem interna. É dessa 
época a instituição do cheque bancário, inicialmente por necessidade de segurança, para evitar o 
transporte à longa distância de grandes valores, por caminhos inseguros; as casas bancárias já 
operantes desde o século anterior, começam a autorizar seus clientes a transferir fundos entre si, de 
praças diversas, sem que o dinheiro real mudasse de mãos; essas transferências escriturais, iniciadas 
 
27
 -Nome dado às expedições empreendidas entre os séculos XI e XII pela Europa cristã, contra os turcos muçulmanos 
que ocupavam Jerusalém. 
28
 -O mais importante historiador francês contemporâneo. 
 
 
13 
por ordens verbais por volta do ano de 1400, passaram a ser feitas mediante ordens escritas, como 
antecessoras do cheque atual. Por outro lado é o período marcado por guerras, fome e pestes. Já 
nesta época, às forças militares competiam a captura e a guarda dos infratores da Lei, a guarda das 
cidades (perímetro amuralhado e das portas), a guarda dos tribunais, auxílio aos magistrados e 
arrecadadores de impostos, patrulha das estradas e caminhos e uma incipiente atividade de guarda 
territorial. 
Em regra, nos idos entre a queda do Império Romano do Ocidente e o despertar 
medieval, os governos desconheceram teoria, estrutura ou instrumentalidade além do puro exercício 
da força do arbítrio, o que gerou precárias condições sociais e desordem. Neste quadro, o ato de 
governar começou a tomar forma na Idade Média como função reconhecida, com princípios, 
métodos, agências, parlamentos e burocracias, através das quais reagrupou autoridade, criou meios 
e adquiriu capacidade
29
. Gradualmente a soberania e a autoridade foram sendo reagrupadas com o 
aparecimento dos Estados Nacionais e possibilitando o aparecimento de cargos públicos 
diretamente providos pelo poder dos soberanos. Na Inglaterra do século XII apareceram os 
Xerifes
30
 nomeados pelos reis normandos, para administrar a segurança do reino. Para tal, poderiam 
contar com todos os homens saudáveis com idade superior a quinze anos e cobrar impostos 
daqueles que cometessem crimes. Na França do século XII, o Superintendente de Paris auxiliado 
por Comissários Investigadores e Sargentos, comandava uma pequena divisão de tropas militares 
montadas e patrulhas noturnas, das quais participavam todos os cidadãos do sexo masculino. Nessa 
mesma época, foram instituídos pelo monarca Felipe Augusto (1180 a 1223) os Prebostes, oficiais 
senhoriais ou da monarquia, com funções de aplicação da justiça. No século XIV foi criado o cargo 
de Intendente, nomeado e pago pelo Rei, para manter a ordem, administrar a justiça e coletar 
impostos em todo o reino; em Paris e nas demais grandes cidades foi criado o cargo de Tenente-
Geral da Polícia para dirigir uma guarda montada. 
O final da Idade Média, marcado pela queda do Império Romano do Oriente
31
, marca 
também o fortalecimento do poder real em detrimento dos senhores feudais e a consolidação dos 
Estados Nacionais, estabelecendo finalmente a falência do feudalismo e o surgimento do Estado 
Absolutista. É neste cenário que encontramos na França, uma organização chamada Marechausses, 
criada como conseqüência do aparecimento do Estado francês, força militar que durante séculos 
exerceu funções de segurança em todo o território. 
 
29
 - Com base em Tuchman, (p.17). 
30
 -Termo derivado de Shire-Reeve ou Prefeito de Distrito. Funcionário real e encarregado de velar pela Ordem Pública, 
nos Condados. 
31
 -Tomada de Constantinopla pelos turcos muçulmanos, em 29 de maio de 1453, sob o comando do Sultão Mehmed II. 
 
 
14 
Colocada pelos reis sob a responsabilidade dos Marechais, essa organização composta 
por guerreiros disciplinados era encarregada de controlar e vigiar outros guerreiros fugidos e 
entregues a pilhagens e saques. Progressivamente a competência desse gens d’ armes foi alargada 
ao conjunto da população. Sua denominação deriva da sua origem como polícia militar dos 
Marechais em campanha. No século XVI, o Rei Francisco I (1515 a 1547) incumbiu-a de velar pela 
tranqüilidade pública do reino, capturando os bandos de assaltantes e os assassinos que 
aterrorizavam os campos e escapavam à justiça dos tribunais das cidades. 
Nos séculos XVI e XVII, a atividade da organização em muito concorreu para assegurar 
a autoridade real e para a consolidação do Estado nacional. Comandada por um Preboste
32
 com 
poderes judiciários, julgavam eles próprios determinados delitos de menor gravidade e 
apresentavam aos tribunais os acusados de faltas mais graves. 
No final do século XVIII, a instituição já estava desdobrada em todo o território francês, 
implantada em postos fixos com pequenos efetivos e organizada em Brigadas e Companhias. Como 
conseqüência do processo revolucionário de 1789, bem como pelo reconhecimento dos constituintes 
revolucionários, teve sua denominação alterada para Gendarmerie National, designação que até 
hoje guarda. Ainda no século XVII, na sua segunda metade, já existia no reino de França, a função 
de Intendente de Polícia do Reino, com seus comissários e policiais, como nos informa Cathala 
(1975, p.13). 
Como conseqüência das Guerras Napoleônicas, a maior parte dos Estados europeus 
adaptaram ou criaram suas organizações de segurança com base no modelo operado em França
33
, 
excetuando-se neste caso a Inglaterra, os Estados Alemães e o sul da Itália
34
. Ainda como 
conseqüência da tendência da formação dos Estados nacionais e do absolutismo europeu, a 
europeização do Império Russo levada a efeito por Pedro, o Grande, no final do século XVII e 
início do século XVIII, ao firmar seu poder absoluto sobre toda a autonomia regional, criou um 
sistema de polícia nacional em todo o império, como forma de demonstração da autoridade imperial 
e para centralizar a modernização que pretendia realizar na função segurança. 
As dimensões privada e pública da atividade segurança, não como antagônicas mas 
como complementares, de uma forma geral e até o século XVII, nunca foram claramente distintas 
ou de fácil identificação. Nas antigas civilizações pré-helênicas, nas suas contemporâneas e nos 
impérios que depois se consolidaram, nem sempre a atividade pública era claramente distinta da 
atividade privada, se considerado o status dos agentes executores e o locus da execução. A começar 
 
32
 -Um preposto a quem eram delegadas autoridade e competência legal. 
33
 -No período consular de Napoleão, entre 1799 e 1804, já existia na estrutura do governo, o cargo de Ministro de 
Polícia. 
34
 -Somente adotado na totalidade do território após a unificação italiana, em 1861. 
 
 
15 
pelo próprio conceito de Justiça, se pública ou privada. Com a dissolução do Império Romano 
(ocidente) e a instalação do regime feudal, esta noção tornou-se ainda mais confusa, já que o Estado 
Feudal confundia-se com a propriedade do senhor. 
Foi a época da ambigüidade por excelência, inclusive nas relações de poder, onde o rei 
era senhor de seus vassalos e estes eram propriedade sua, mas que por sua vez possuíam seus 
próprios vassalos. Essa cadeia de obrigações e serviços pessoais se estendia ao próprio rei, que 
poderia ser vassalo de outro rei no que se referia a parte de suas terras. No grau mais baixo desta 
cadeia ficavam os escravos, que pouco a pouco evoluíram paraa condição de servos, homens não 
livres, presos ao solo do feudo onde nasceram, mas detentores de certos direitos. Em torno do 
século XIV, o despontar de um Estado principesco ou monárquico-centralizador começa a criar 
condições objetivas para o estabelecimento de diferenças entre estruturas públicas e privadas, com a 
ascensão da burguesia ao poder. 
Dificuldades de natureza política, econômica, administrativa e principalmente 
financeira, acumuladas nos três séculos seguintes, irão desaguar em descontentamento com o status 
quo que se cristalizou em duas teorias particulares, expressando as preocupações e as aspirações da 
burguesia européia, já rica e ascendente. A primeira delas foi a Teoria Liberal, de Loche, Voltaire e 
Montesquieu. A segunda, foi a Teoria Democrática de Rousseau. Embora antagônicas, muito 
tiveram em comum. 
Ambas se basearam na premissa de que o Estado era um mal necessário e que o governo 
deveria repousar numa base contratual. Cada qual tinha sua doutrina de soberania popular, ainda 
que com visões diferentes. Ambas sustentavam, em certa medida, os direitos fundamentais dos 
indivíduos e ambas encerravam elementos de atração para os que, por variados motivos, estavam 
insatisfeitos com o estado de coisas vigentes à época. A conseqüência foi revolucionária a partir da 
Independência Americana (1776) e da Revolução Francesa (1789), com a tripartição dos poderes do 
Estado, a separação do religioso e do laico, bem como a separação do público e do privado. A 
distinção entre as atividades públicas e privadas cria condições objetivas também para a fixação de 
critérios distintivos entre os segmentos empenhados nas atividades de segurança, permitindo 
distinguir com maior clareza as iniciativas estatais (segurança pública) e as iniciativas particulares 
(segurança privada). 
Em se tratando do Novo Mundo os esquemas vigentes na Europa se reproduzem, só que 
num espaço de tempo menor. Os colonizadores, até por questão cultural, tratam de reproduzir no 
Continente Americano os esquemas já consagrados e por eles dominados, vigentes nos reinos 
colonizadores que afinal representavam. No que é hoje os EUA, no inicio do século XVI, a 
 
 
16 
colonização se dá com a ocupação francesa ao sul e a inglesa ao norte da costa leste, com a 
instalação de feitorias e colônias. 
 No século XVII e em grande parte do século XVIII, a responsabilidade por fazer 
cumprir as leis foi sendo transferida gradativamente do cidadão comum para o especialista policial, 
com o aparecimento das primeiras organizações do gênero, em ambiente urbano. Nova Iorque, 
ainda com o nome de Nova Amsterdã, criou uma Vigilia Burguesa em 1643, um ano após ter sido 
fundada, porém só passou a pagar por esses serviços em 1712. A Guerra de Independência 
Americana (1776) e a unificação das Treze Colônias favoreceram a formação de forças de 
segurança para a defesa do território e o cumprimento das leis, ainda que baseada na idéia de defesa 
urbana. No interior, meio século depois da independência, as pequenas comunidades (núcleo da 
vida americana) ainda viviam à margem de toda autoridade central, unidas às comunidades vizinhas 
tão somente pelos laços de comércio, religião e cultura, onde prevalecia a idéia da capacidade 
individual e da associação dos cidadãos para cumprir e fazer cumprir as leis. 
Este quadro, que marcou a vida americana nos três primeiros séculos de ocupação 
territorial e que pontificou durante o período da unificação jurídico-administrativa do país, foi 
possível graças a três fatores que puderam superar a contradição entre liberalismo e estrutura 
política: a religião livremente fiel às tradições; a economia sã fundada na moral religiosa e a uma 
elite de homens conscientes dos valores básicos da civilização. Uma religião tanto mais arraigada 
na alma do povo quanto mais livre da contaminação estatal, pois fora justamente para proteger seu 
culto religioso de qualquer interferência governamental que os pioneiros trocaram o velho pelo 
novo mundo. Essa religião, popular e não oficial mas ao mesmo tempo conservadora e apegada às 
tradições, deu unidade moral mais profunda e mais decisiva, abrindo espaço a uma sociedade de 
confiança estruturada numa ética de lealdade, espontânea, de todos para com todos, fundada na 
liberdade para comprar e vender. Essa conjugação de fatores se condicionou e embasou a decisão 
político-jurídico-administrativa que deu margem a um estado totalmente inovador, condicionou 
também as instituições que lhe serviram como aparato estatal, dentre elas o aparelho de segurança à 
disposição do estado, onde conviviam e ainda convivem as organizações privadas e as organizações 
públicas. 
No século XIX, com a marcha para o Oeste, a ocupação do Meio-Oeste e da fronteira do 
Norte, bem como pela ocorrência da Guerra da Secessão (1861), as organizações de segurança 
foram ampliadas e disseminadas pelo território, com a missão principal de patrulha ostensiva 
preventiva e captura de criminosos. A missão de investigação ficava a cargo dos particulares 
(agentes privados), através de detetives contratados e caçadores de recompensas. Nova Iorque, a 
 
 
17 
maior cidade americana no início do século XIX, somente organiza sua força policial no ano de 
1845, com base no Departamento de Polícia criado em 1783. 
Já no final do século XIX e início do século XX, as forças de segurança pública se 
reorganizam e passam a importar modelos europeus de organização e prática policial, 
primeiramente da França e depois da Inglaterra, cuja força policial de Londres fora totalmente 
reformulada em 1829, por iniciativa do Ministro Robert Peel, baseada numa estrutura 
organizacional civil e estável, eficaz, militarmente organizada e sob controle do governo, em 
contraponto ao modelo napoleônico. O que se viu foi um confronto de distintos modelos de 
policiamento: de um lado o modelo anglo-saxão, com polícia descentralizada, não militar e que 
exercia a coerção por consenso; de outro o modelo francês, com polícia de estado, centralizada, 
militar e com baixa aprovação pública. É interessante ressaltar que somente em 1748 foi instituída 
na Inglaterra uma força de segurança de caráter permanente, profissional e remunerada com 
impostos recolhidos dos cidadãos, encarregada das patrulhas nas cidades e estradas, contando com 
investigadores e criadas as cortes de polícia, num modelo claramente inspirado na experiência 
francesa de substituir as milícias privadas dos grandes empresários e proprietários de terras. 
Sabemos que o instinto de autoproteção é comum aos integrantes do reino animal, 
dentre eles o homem. Antropólogos e sociólogos observam que o homem, desde seus representantes 
mais primitivos, experimentaram cuidados relativos tanto com a segurança individual como a do 
seu grupo de pertencimento face seus predadores, dentre eles, os seus semelhantes. 
Como atividade individual, os procedimentos de segurança evoluíram na medida das 
tecnologias que descobriu e passou a usar, facilitada pelo comportamento gregário que por instinto 
de defesa passou a adotar. Como função protetiva evoluiu, desde as formas mais primitivas de 
Estado até estruturas mais sofisticadas e modernas, ora como função senhorial, ora como função 
pública, sendo que em determinados períodos, de forma indistinta. 
As instituições de segurança de caráter público são dominantes nos dias de hoje, mas já 
vimos que uma grande parte delas foi originalmente de caráter privado, tendo convivido por um 
bom período como híbridos. Ao longo da história, conviveram estruturas de poder com hierarquias 
concorrentes. De um lado a hierarquia tradicional ou senhorial, caracteristicamente patrimonialista, 
pessoal e individualizada. De outro lado a hierarquia moderna, caracteristicamente pública, 
impessoal e padronizada. É evidente que apesar das instituições de segurança de caráter público dos 
dias atuais sejam, na sua maior parte pagas edirigidas pelos governos, este fato não inibe o 
emprego de instituições privadas de segurança, cujo emprego cresce enormemente, em particular 
nos países mais industrializados e mais avançados, o que permite concluir que as instituições 
 
 
18 
públicas não suplantaram permanentemente as instituições privadas e que o processo observado seja 
plenamente reversível. 
As instituições de segurança que existiram no Brasil desde o inicio da ocupação 
européia do território, também enquadram-se na questão dicotômica da natureza pública/privada de 
suas organizações. Coexistiram no Brasil durante a época colonial até a independência, diversas 
instituições com encargos de segurança sendo as principais a tropa regular da coroa portuguesa, os 
Regimentos de Milícias e as Companhias de Ordenanças
35
, além do serviço prestado pelos 
“Quadrilheiros.”
36
 
A tropa regular era um serviço militar, remunerado pela administração colonial e as 
demais, uma conseqüência da política de estímulo ao serviço militar não remunerado e não 
profissional, que apoiava-se essencialmente na distribuição de privilégios e recompensas aos 
detentores dos cargos superiores. O serviço militar não remunerado, prestado como dever cívico 
pelos cidadãos, foi um fenômeno registrado em variados períodos históricos da humanidade. Desde 
os tempos mais remotos e em épocas de crises, a população masculina fisicamente apta viu-se 
obrigada a participar de atividades militares, armadas e equipadas às suas próprias custas, que uma 
vez cessada a crise retornava à vida civil e aos seus afazeres. Tratava-se pois de um antigo sistema 
de recrutamento militar, baseado na solidariedade tribal e na responsabilidade coletiva. 
Este quadro se prolonga com pequenas variações no tempo e no espaço colonial, até o 
inicio do século XIX, quando a chegada da família real ao Brasil (em 1808), muda profundamente o 
quadro e favorece às alterações provocadas pela brusca sofisticação ocorrida na ex-colônia, 
transformada em sede do Reino. Ainda no ano de 1808 foi criada a Intendência Geral da Corte e do 
 
35
 - A estrutura militar no Brasil Colonial, compreendia três tipos específicos de força: os Corpos Regulares 
(conhecidos também por Tropa Paga ou de Linha ou de 1 ª linha), as Milícias (conhecidas também por Corpo de 
Auxiliares ou de 2ª linha) e as Ordenanças (conhecidas também por Corpos Irregulares ou de 3ª linha). Os Corpos 
Regulares eram a única força paga pela Fazenda Real. As Milícias ou Corpos de Auxiliares ou de 2ª linha, eram 
serviços não remunerados e obrigatório para os civis, constituindo-se em forças deslocáveis que prestavam serviço de 
apoio às Tropas Pagas, mas não ficavam ligados permanentemente à função militar como ocorria nas Tropas Regulares. 
As Ordenanças ou Corpos Irregulares ou de 3ª linha, atuavam como auxiliares do Exército Regular (1ª linha) e das 
Milícias (2ª linha), compreendendo todos os homens livres válidos entre 18 e 60 anos que ainda não tivesse sido 
recrutada pelas duas primeiras forças, excetuando-se os privilegiados. Isso excluía as mulheres, os jovens, os escravos e 
os indígenas mesmo aculturados. Seus componentes também não recebiam soldo e permaneciam em seus serviços 
particulares, até serem convocados. As Milícias e as Ordenanças estruturavam-se nas freguesias dos municípios, de 
acordo com o domicílio dos habitantes. Eram organizadas nas cidades e nas vilas, mas com instrução militar rudimentar 
ou inexistente e com escasso armamento. Geralmente seus integrantes faziam parte de grupos de segurança dos grandes 
proprietários de terra, comerciantes, exploradores de minas, etc. 
36
 - - Instituidos no Brasil em 1626, pelo Ouvidor Geral Luiz Nogueira de Brito, teve como modelo a atividade 
existente em Portugal desde 1383, atuando do anoitecer ao alvorecer. O Quadrilheiro nomeado para uma freguesia, 
chefiava vinte vizinhos para isso eleitos, para controlar uma área determinada da cidade, com o objetivo de evitar 
delitos, controlar desordens e auxiliar na captura e castigo dos culpados. Era serviço obrigatório e não remunerado. 
Citado por Francis Albert Cotta, em “Os quadrilheiros no caleidoscópio: um exercício de história comparada”, 
disponível em WWW.fafich.ufmg.br 
 
 
19 
Estado do Brasil, que absorveu e centralizou as atribuições de segurança de várias autoridades 
menores e foi o núcleo da instituição hoje conhecida como Polícia Civil. 
No ano seguinte foi criada uma instituição chamada de Divisão Militar da Guarda Real 
de Polícia, repetindo no Brasil idêntica organização existente em Lisboa, que passando por diversas 
denominações ao longo dos anos, hoje é conhecida por Polícia Militar. As duas inovações traziam 
para o Brasil estruturas mais modernas, resultado da experiência francesa espalhada na Europa, com 
organizações já profissionalizadas, centralizadas e especializadas, visando objetivamente a ordem 
pública na Corte do Brasil e que acabaram por favorecer o aparecimento de instituições de idêntica 
organização, no restante do território brasileiro. Com o retorno da família real ao continente 
europeu, foi criada no Brasil em 1822, uma instituição denominada Corpo de Guarda Cívica, 
organização não regular, não profissionalizada e não especializada, que seria reunida e atuaria em 
ações de segurança, apenas quando convocadas e que teve breve existência. 
A Independência em 1822 ocasionou uma divisão dentro da sociedade brasileira e 
também dentro das instituições de segurança existentes, motivadas pela perda ou obtenção de 
privilégios, pelo sentimento de lealdade ao reino antigo ou ao novo império que se instalava e por 
uma ainda pouco nítida idéia republicana, o que originou inúmeros movimentos separatistas e 
revoltas armadas ao longo de todo o Primeiro Império, alimentadas pelas características pessoais do 
Imperador D. Pedro I, sua visão absolutista de administrar e pelas novas regras do império que 
procurava consolidar, que alterou radicalmente a estrutura municipalista e de poderes locais da 
antiga colônia. A vida municipal no Brasil-Colônia era orientada pelas cartas de doação aos 
donatários das Capitanias, assim como pelas Ordenações do Reino, complementadas em muitos 
casos por acréscimos legais impostos para resolver questões tipicamente locais, tolerados pela 
administração do reino, desde que os interesses da metrópole portuguesa não fossem prejudicados. 
Com a Independência, houve uma nova orientação de governo no sentido de restringir os poderes 
municipais, sujeitando os Municípios aos poderes das Províncias (as ex-Capitanias), transformando 
as Câmaras Municipais em executoras do poder do Presidente da Província, nomeado pelo poder 
imperial. 
Com a abdicação de D. Pedro I em 1831, teve inicio um período de regências, até a 
declaração da maioridade de D. Pedro II, o segundo Imperador. Durante o primeiro período 
regencial, foi criada em 18 de agosto de 1831, uma milícia denominada de Guarda Nacional, a qual 
foi modelada com base em milícias já existentes em França e nos Estados Unidos. A nova 
organização teve intensa atuação no campo militar e de segurança, dentro do princípio de que as 
milícias seriam a melhor opção para a manutenção da ordem interna, deixando aos exércitos as 
tarefas de ataque e defesa. Essa tendência para utilizar forças de milícias não remuneradas pelo 
 
 
20 
governo e não profissionais, contrariava uma tendência já observada na Europa para empregar 
forças profissionais, especializadas e remuneradas pelo Estado em substituição as milícias privadas, 
movimento esse originado na Inglaterra em 1829, quando da iniciativa de Sir Robert Peel em 
reformular a polícia de Londres. 
A nova instituição criada em substituição aos corpos auxiliares das Milícias, 
Ordenanças e Guardas Municipais, tornou-se um importante elemento de emprego na manutenção 
da ordem interna e da integridade nacional,até 1850 quando foi reformulada, tendo inicio um longo 
período de declínio e praticamete desaparecido depois da Guerra do Paraguai
37
, até ser formalmente 
extinta em 1917. Seus remanescentes, não mais como cidadãos-soldados mas como "coronéis" da 
política local, até recentemente desenvolviam atuação político-partidária em determinadas regiões 
do interior brasileiro. A Guarda Nacional como instituição não pública (no sentido de não onerar o 
Estado com o pagamento de seus integrantes), não profissional e não especializada, foi aplicada 
intensamente em ações de segurança, juntamente com as instituições oficiais, de natureza pública, 
profissionais e especializadas existentes à época, assim como eram aplicadas as estruturas 
essencialmente privadas, principalmente no interior e zonas rurais, onde forças organizadas e 
mantidas por grandes proprietários e comerciantes, eram empregadas em segurança pessoal, 
patrimonial e na defesa de seus interesses. 
As primeiras referências sobre a necessidade de criação de uma milícia cívica, não 
profissional e composta por cidadãos, para atuar sob a autoridade de um Juiz, com a finalidade de 
representar a "força física" daquela autoridade, em substituição às desgastadas Ordenanças, tiveram 
lugar na Câmara dos Deputados por volta de 1830, dando margem a diversas propostas e 
discussões. As agitações de julho de 1831, os movimentos revoltosos do Exército e da Polícia, bem 
como a ineficiência da atuação das forças auxiliares (Milícias, Ordenanças e Guardas Civis) na 
manutenção da ordem interna, criaram as condições objetivas para que em agosto do mesmo ano 
fosse criada a Guarda Nacional e fossem extintos os corpos auxiliares das Milícias, Ordenanças e 
Guardas Municipais. A nova instituição foi incumbida da manutenção da ordem interna, para a 
defesa da Constituição, da liberdade, da independência, da integridade do Império, para manter a 
obediência às leis, conservar ou restabelecer a ordem e a tranqüilidade pública, como também para 
auxiliar o Exército na defesa das fronteiras e costas, tendo sido vista inicialmente como uma 
alternativa à própria existência de um exército nacional. 
A Guarda Nacional composta por cidadãos que prestavam seus serviços gratuitamente à 
nação, cujos serviços eram de natureza permanente, obrigatória e pessoal, englobava todos os 
cidadãos brasileiros até a idade máxima de sessenta anos, que fossem "filhos de família" e que 
 
 
21 
tivessem renda que os qualificasse como eleitores. A instituição foi organizada por Província do 
Império e distribuída pelos municípios, paróquias e curatos, estando subordinada sucessivamente 
aos Juizes de Paz, aos Juizes Criminais, aos Presidentes das Províncias e ao Ministro da Justiça do 
Império. Cabia à Câmara Municipal sua distribuição territorial por Seções de Companhia, 
Companhias, Batalhões e Legiões, possuindo organização variável de infantaria, cavalaria e 
artilharia, quando necessário. 
A originalidade da nova instituição estava na sua legislação que previa um sistema 
eletivo para os postos de Oficiais, através escrutínio individual e secreto, prevendo ainda o sistema 
 da maioria absoluta de votos para os postos mais elevados, sendo a eleição válida por quatro anos, 
permitida a reeleição. As despesas do governo com a corporação eram de pequena monta, 
restringindo-se à distribuição do armamento, instrumentos musicais, material de escritório e 
pagamento dos instrutores contratados. Os uniformes eram encargos dos próprios recrutados, que 
deveriam prestar serviços, preferencialmente no distrito onde residissem. 
A ideologia que sustentou o nascimento da Guarda Nacional, deu continuidade ao 
pensamento colonial do emprego de forças auxiliares não profissionais, que não onerassem o Estado 
e compostas por cidadãos interessados na manutenção da ordem. O seu emprego em muito 
contribuiu para a ordem interna, principalmente no aspecto de prevenção e repressão a anarquia e a 
homicídios, mas a falta de uma legislação adequada e a superposição de atribuições legais, veio a 
ocasionar conflitos com as instituições militares e policiais. 
Em setembro de 1850 o governo procedeu uma substancial modificação na legislação 
da corporação, que transformou sua característica básica de organização descentralizada e eletiva, 
para centralizada e hierarquizada, que somadas às alterações já realizadas para separar a função 
policial da função judicial e ao excesso de encargos atribuídos à Guarda Nacional, como escolta de 
valores, condução de presos, inspetores de quarteirão, guarda de alfândega, serviço de barreiras, de 
oficiais de justiça, sentinela de chafarizes, participações em paradas e desfiles militares, etc. , 
praticamente iniciou seu longo declínio, sendo praticamente desativada após a Guerra do Paraguai 
(1870), para ser extinta em 1917, como já mencionado. 
A história da Guarda Nacional refletiu as contradições da sociedade brasileira no século 
XIX. Naquela sociedade agrária de mentalidade familiar-patriarcal dominante, pensava-se em 
termos de privilégios pessoais e de classe. A obediência às leis em benefício do Estado, tinha pouca 
significação numa sociedade escravocrata e hierarquizada. As dificuldades de distribuição de justiça 
em regiões distantes dos grandes centros da época, as vinganças, as lutas pessoais e partidárias e a 
organização das forças políticas locais, afetaram fundamentalmente a própria estrutura da milícia. 
 
37
 -Travada entre dezembro de 1864 e março de 1870. 
 
 
22 
À medida que a Guarda Nacional foi perdendo sua característica de força paramilitar e 
de segurança e se transformando em força político-partidária, transformou-se também numa tropa 
de oficiais sem soldados, oficiais indicados e não mais eleitos, quase sempre escolhidos dentre os 
elementos de prestígio social e econômico, com finalidade político-eleitoral. E isso foi fatal para a 
corporação. 
A realidade exposta pela deflagração da Guerra do Paraguai deixou patente tanto a 
carência do Exército para enfrenta-la, como a incapacidade das Guardas Nacionais (já dominadas 
pelas elites regionais) para suprir essas carências e atuar como força auxiliar. A milícia sem 
treinamento satisfatório, enfraquecida e limitada desde as alterações introduzidas em 1850, pouco 
produzia e muito atrapalhava as atividades profissionais dos seus membros, sendo que no interior 
do país servia principalmente como instrumento de dominação política. As dificuldades vividas e as 
mazelas observadas no período de guerra (1864-1870), provocaram mudanças radicais no pós-
guerra, com o reconhecimento do valor das forças armadas e a valorização e o desenvolvimento das 
forças policiais profissionais, políticas governamentais adotadas no ocaso do império e no nascente 
período republicano que lhe seguiria. 
A proclamação republicana em 1889 transformou as antigas Províncias Imperiais em 
Estados, cuja união formava a nova federação. O conceito de federação deu margem ao 
entendimento equivocado de Estados independentes ou soberanos e não de Estados autônomos, o 
que concorreu para o aparecimento de um corpo legislativo estadual que consagrava organização 
judiciária independente do governo central, uma certa autonomia em matéria processual e também, 
maior ou menor separação da atividade policial da magistratura, no âmbito dos Estados. A idéia de 
Estados fortes para sustentar o ideal de uma união federalista, provocou uma corrida para o 
fortalecimento das forças policiais profissionais, estadualizadas com o advento da República. Assim 
sendo, alguns Estados passaram a ver suas forças policiais como verdadeiras forças armadas 
estaduais e as armaram como pequenos (alguns não tão pequenos) exércitos, alguns com artilharia,veículos blindados de combate e aviação de guerra. O treinamento passou a incluir táticas de 
infantaria e a organização foi militarizada, com evidentes prejuízos para sua aplicação no 
policiamento, o que veio a acarretar o aparecimento de diversas corporações, de efêmero emprego 
policial no âmbito dos Estados, como as Guardas Civis, Polícia de Vigilância, de Trânsito, 
Rodoviária, Especial e outras, que passaram a dividir com as forças policiais tradicionais (Militar e 
Civil), a responsabilidade pelo policiamento. 
A última década do século XIX e as duas primeiras do século XX, foram marcadas pelo 
confronto de correntes ideológicas que buscavam consolidar-se no cenário político-institucional da 
república nascente. Monarquistas versus Republicanos. Positivistas contra Liberais. Federalistas 
 
 
23 
antepondo-se a Centralistas. As transformações sociais decorrentes da abolição da escravatura e da 
mão de obra agora livre, chocando-se numa sociedade ainda escravocrata, com a dificuldade dos 
imigrantes e a novidade das ideologias libertárias por eles introduzidas. O aumento significativo da 
população e a sua urbanização, deu margem a uma tentativa de controle que já se fazia necessária. 
Em 1890, o país contava com 14 milhões de habitantes, que em 1900 já eram 17 milhões e que em 
1920 se elevaram para mais de 30 milhões de habitantes, com significativa parcela de imigrantes. 
Estes e outros problemas decorrentes agravaram o cenário onde conviviam um novo e híbrido 
Código Penal, aprovado em 1890 e que vigorou até 1942, cuja estrutura clássica remetia ao livre-
arbítrio, embora consagrando princípios positivistas, operando em conjunto com uma Constituição 
promulgada em 1891, totalmente inspirada na tradição liberal anglo-americana. É desse período, a 
criação da Escola de Polícia do Distrito Federal (em 1907), a regulamentação do Serviço Policial 
(em 30 de março de 1907) e a iniciativa (em 1908) de identificação universal da população, com a 
utilização do método Vucetich de datiloscopia. 
Foi também um período conturbado por rebeliões sucessivas e desestabilizadoras. A 
sublevação das fortalezas de Lages e Santa Cruz, em 1892. A Revolta de Canudos, a Revolução 
Federalista do Rio Grande do Sul e a Revolta da Armada, em 1893. Os levantes da Escola Militar, 
em 1895, 1904 e 1905. A Revolta da Chibata, em 1910. O levante do Forte de Copacabana, em 
1922, nos primórdios do Movimento Tenentista. A revolução do Rio Grande do Sul contra Borges 
de Medeiros, em 1923. A Revolução Paulista, em 1924. A Coluna Prestes, até 1926 e a Revolução 
de 1930, que encerraria este ciclo penoso que se chamaria de República Velha. 
Não só no quadro estatal as organizações de segurança se multiplicaram. Também 
novos organismos privados passaram a atuar na prestação de serviços para atividades comerciais e 
industriais, se bem que de maneira rudimentar e concentrada em vigilância patrimonial orgânica. 
Num aspecto mais largo e já em meados do século passado, as Guardas Noturnas - organizações 
privadas e tipicamente urbanas - passaram a operar, num limbo divisório e muito pouco nítido entre 
a atividade pública e a atividade privada, em praticamente todo o país, atendendo tanto necessidades 
individuais quanto coletivas, sempre remuneradas por entes privados e prestando um serviço de 
natureza pública. 
De uma maneira geral este quadro se repete por todo o país, principalmente nos centros 
urbanos e suas periferias, atravessando o final do Estado Novo quando no Rio de Janeiro, a Polícia 
Civil do Distrito Federal foi transformada em Departamento Federal de Segurança Pública (DFSP), 
por força do Decreto-Lei Nº 6.378, de 28 de fevereiro de 1945. O quadro pouco foi alterado nos 
períodos subseqüentes, conhecidos como redemocratização e desenvolvimentista até que nos anos 
sessenta e o movimento revolucionário de março de 1964, alterou fundamentalmente a história 
 
 
24 
republicana, tanto pelo ciclo de governos militares que lhe foi conseqüente, quanto pela reação de 
grupos políticos de esquerda que os contestaram de forma violenta. O final da década de sessenta e 
o inicio da década de setenta foi marcado por roubos a bancos e a outras instituições financeiras, 
bem como seqüestros e outras modalidades criminosas afins, com os objetivos de levantar fundos 
para financiar e divulgar a luta armada contra o regime militar. 
No inicio do ano de 1969 a luta armada achava-se em pleno curso, contando com 
organizações clandestinas operando principalmente em ambiente urbano, situação favorecida pela 
precariedade e pelo amadorismo com que as instituições financeiras, carros-fortes, paióis de 
explosivos e casas de armas eram protegidas. Foi sem dúvida, um período fértil para a atividade de 
guerrilha urbana, sendo que durante o ano de 1968 contabilizou-se um assalto a cada três semanas, 
contra carros-fortes e agencias bancárias, em São Paulo. Este número foi suplantado nos últimos 
cinco meses do ano de 1969, quando verificou-se a ocorrência de um assalto a cada seis dias. 
Foi a era do mito do "bandido-herói" e do banditismo visto como protesto político-
social, levando a extremos não só pelo culto da "malandragem" já tradicional na nossa cultura, mas 
também pela entronização das teses do sociólogo Eric Hobsbawn. Foi no Rio de Janeiro no inicio 
da década de 1980, a era do “bandido-cidadão” e da “favela como solução e não como problema”, o 
que colocou as favelas em área de exclusão da atuação policial. Foi também a era da acelerada e 
descontrolada favelização das maiores cidades brasileiras e da explosão dos índices de 
criminalidade, com ênfase nos homicídios e no tráfico de drogas. Com respeito a questão das 
drogas, é necessário apontar que antes de tornar-se um comércio com a amplitude e desenvoltura 
que hoje apresenta, o uso de drogas foi primeiramente considerada um prática marginal
38
, só 
assumindo ares de modismo e prática socialmente tolerada após ser defendida por parte da 
intelectualidade brasileira
39
, ora como um "caminho para a libertação" ora como "anestésico 
existencial", daí irradiando-se para a classe média urbana e para o povo em geral. 
Essa ideologia enganosamente “social,” que justificava atos criminosos como 
expressões naturais de uma sociedade injusta e desigual, passou a nortear um discurso falacioso que 
se apoiava na pobreza como razão de ser da criminalidade, sendo reforçado pela ideologização feita 
por políticos, intelectuais e outros formadores de opinião, na defesa dos “direitos humanos,” na 
verdade uma apropriação indevida e usada na defesa daqueles que atentavam contra o estado de 
direito. 
 
38
 - Embora a proibição do uso de ópio no Brasil seja de 1737, o uso sistemático de drogas como cocaína, morfina, ópio 
e outros derivados só começou a ser observado ao final da Primeira Grande Guerra (1918), sendo sua proibição oriunda 
do Decreto Federal N.º 4.294, de 06 de julho de 1921. 
39
 - Ver artigo do escritor João Ubaldo Ribeiro, membro da ABL, sob o título “Tirem suas próprias conclusões”, 
publicada no jornal O Globo, edição de 09 de maio de 2004, p. 07. 
 
 
25 
Essa fraude semântica e o uso demagógico do adjetivo “social” para distorcer os 
conceitos fundamentais de estado de direito e de justiça, deram margem a que, até hoje, 
organizações criminosas como o Comando Vermelho, PCC, MST e outras, possam ameaçar vidas e 
propriedades em nome de “direitos” e “justiça social,” atuando rotineiramente como instrumentos 
de chantagem e intimidação política. 
Criado o mercado, os traficantes aproveitaram a oportunidade, usando a violência como 
garantidora de seus mercados e a impunidade como fomento de suas atividades. Para que se entenda 
as conseqüências da onda de violência desse período, necessário se torna conhecer o quadro mais 
amplo formado pela época que a antecedeu e pela que lhe sucedeu. Ou seja, conhecera marcha da 
criminalidade ao longo do século XX, pelo menos nos seus aspectos mais gerais. 
Na cidade do Rio de Janeiro, a Taxa de Homicídios
40
 demorou cinqüenta anos (1900 a 
1950) para crescer cerca de duas vezes e meia. Em 1900 a taxa apurada foi de 1.8 homicídios por 
grupo de 100.000 habitantes, tendo pulado para 4.5 homicídios por grupo de 100.000 habitantes em 
1950, ocasião em que o país alcançou a marca de 50 milhões de habitantes e o Rio de Janeiro era a 
Capital Federal. Mais vinte anos se passaram para a Taxa de Homicídios praticamente dobrar, 
considerando a taxa de 4.5 em 1950 e a taxa de 8.6 em 1970. Note-se que na década seguinte, a 
Taxa de Homicídios dobrou novamente, sendo apurada a taxa de 17.3 em 1980. A situação agravou-
se na década seguinte (1980 a 1990), quando praticamente triplicou, saltando descontroladamente 
de 17.3 por grupo de 100.000 habitantes em 1980, para assustadores 58.9 em 1990. Essas são 
informações valiosas e apuradas pelo pesquisador brasileiro Ib Teixeira (p. 118/119). Em números 
mais concretos e palpáveis, no Estado do Rio de Janeiro ocorreram por dia, no ano de 1983, cerca 
de oito mortes provocadas por disparo de arma de fogo, número que praticamente triplicou em 
1994, com cerca de vinte e duas mortes por dia. Quase uma por hora. 
Se comparadas as situações dos Estados Federados em que estão localizadas as duas 
maiores cidades do país, isto é São Paulo e Rio de Janeiro, teremos que a Taxa de Homicídios 
(número de homicídios por grupo de 100.000 habitantes), nos anos de 1947 e 2000, apresentou um 
salto significativo em ambos os Estados, sendo apurado para o Rio de Janeiro um aumento de 9.3 
para 60.3 (quase sete vezes) e para São Paulo um aumento de 5.4 para 52.8 (quase dez vezes). Esse 
quadro poderá ser melhor entendido, se considerado face ao que ocorreu no território brasileiro 
como um todo e comparado a dados de mesma natureza, apurados em outros países do continente. 
Segundo dados divulgados pelo pesquisador Ib Teixeira (p. 194), no período compreendido entre o 
final dos anos setenta e o inicio dos anos oitenta, o Brasil apresentava uma Taxa de Criminalidade 
 
40
-Corresponde ao número de homicídios registrados numa determinada área física delimitada, divididos pela população 
da área considerada, multiplicado por 100.000. 
 
 
26 
estimada em 11.5, que será tomada como referencial para comparações com as taxas de outros 
países, sendo quase a mesma taxa apurada para a Venezuela (11.7), quase a metade da taxa 
mexicana (18.2), pouco superior a taxa americana (10.7), praticamente o triplo da taxa argentina 
(3.9) e quase cinco vezes as taxas uruguaia e chilena (2.6). A explosão descontrolada da 
criminalidade no Brasil, elevou a taxa brasileira apurada no período compreendido entre o final dos 
anos oitenta e o final dos anos noventa para 32.0, praticamente triplicando a taxa do período 
anterior (11.5) e representando no período considerado, o dobro da taxa venezuelana (15.2) e 
mexicana (17.8), o triplo da taxa americana (10.1), sete vezes a taxa argentina (4.8), oito vezes a 
taxa uruguaia (4.4) e quase onze vezes maior que a taxa chilena (3.0). 
Toda esse carga de violência teve custos elevados e crescentes, como por exemplo o 
custo da violência brasileira para o ano de 1995, estimado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em 
5% do Produto Interno Bruto (PIB) e o mesmo custo para o ano de 1999 estimado pelo Banco 
Interamericano de Desenvolvimento (BID) em 10.5% do PIB. Sobre estes custos com perdas de 
vidas, prejuízos diversos, prêmios de seguros, aparatos de segurança, etc., que montam a bilhões de 
reais, o IBGE estima que na última década foram cometidos no Brasil cerca de 250.000 homicídios, 
o que nos da uma medida da conjuntura na qual vivemos. Essa estimativa foi confirmada pela 
UNESCO
41
, com as publicações do Mapa da Violência III (referente ao ano de 2000) e do Mapa da 
Violência IV(referente ao ano 2002), que mostram uma consistente tendência de expansão da Taxa 
de homicídios no período 2000-2002, como também no período mais longo (1993-2002), onde foi 
constatado um salto em números absolutos de 30.586 para 49.640 homicídios no Brasil e um 
aumento na Taxa de Homicídios no Estado do Rio de Janeiro, de 41.2 por 100.000 habitantes 
(1993), para 56.5 por 100.000 habitantes (2002), com aumento de 55.2%. 
Tomando como exemplo o Estado de São Paulo, foram gastos pela União, pelo Estado e 
pelos Municípios do Estado de São Paulo, no ano de 1995, cerca de R$ 2 bilhões, gastos esses 
duplicados em 1999, sendo que o número absoluto de homicídios subiu de 9.821 em 1995, para 
12.930 em 1999, um aumento de quase 40%. Em se tratando de crimes contra o patrimônio, a 
situação também evoluiu de forma desfavorável, pois se na conjuntura de 1995 no Estado 
registrados 162.341 casos, em 2001 esse número subiu em quase 60%, sendo registrados 254.571 
casos. 
Nesta última década no Estado do Rio de Janeiro com relação à Taxa de Homicídios
42
, a 
situação mostra uma tendência de queda. Números do ano de 2007 já mostravam esse viés de baixa, 
 
41
 -Publicado em O Globo, edição de 08 de junho de 2004, p.03. 
42
 - A OMS considera patamar aceitável, uma Taxa de Homicídios de até 10 homicídios/ano, por grupo de 100 mil 
habitantes. Ver em “Las Condiciones de la Salud em las Américas”, Washington(DC), 1994 – OPS – Publicacion 
Científica, 549,v.I. Essa taxa apurada pelo IBGE em 2007 (BRASIL) correspondeu a 25,4 homicídios/100 mil 
 
 
27 
com taxa apurada de 39,4 por 100.000 habitantes. No ano de 2009, com taxa nacional de 25 
homicídios por 100.000 habitantes, o Estado do Rio de Janeiro apurou taxa de 34,6, sendo projetada 
para o corrente ano de 2010 uma taxa entre 29/30 e estimada para o ano da Copa do Mundo (2014), 
uma taxa não superior a 22 por 100.000 habitantes. 
A questão da violência e da criminalidade urbanas está intimamente ligada à questão 
das favelas
43
 e da sociedade operada nesses conjuntos de habitações precárias. Conceituadas 
(IBGE) muito elasticamente como um conjunto de habitações construídas em áreas públicas ou 
privadas, geralmente ocupadas ilegalmente (invadidas) e de forma desordenada, com infra-estrutura 
precária, onde os lotes não obedecem a um desenho regular, os acessos são tortuosos, geralmente 
não permitem a circulação de veículos e que caracterizam-se como locais onde as pessoas vivem 
apinhadas. A favelização como fenômeno tipicamente urbano, cresce a taxas muito elevadas e no 
Estado do Rio de Janeiro está presente em 48 dos seus 92 municípios, o que corresponde em 2003, a 
52% dos municípios. Dados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais, do IBGE (1999 a 
2003), mostram um crescimento de 35% no número de domicílios cadastrados em favelas do 
Estado, se consideradas os dados relativos aos anos de 1999 e 2003, o que corresponde no 
Município do Rio de Janeiro a 24.181 domicílios ou cerca de 1,6 milhão de pessoas residindo nas 
618 favelas cadastradas na cidade. Estudo divulgado em 2009 pelo Instituto Pereira 
Passos/Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, aponta o aumento de 218 novas favelas na cidade, 
em relação ao número de favelas cadastradas em 2004 (750 favelas), perfazendo um total de 968 
“comunidades”. A Fundação João Pinheiro/MG, em estudo elaborado para o Ministério das Cidades 
(2009), destaca que o Estado do Rio de Janeiro apresenta cerca de 400.000 domicílios em favelas, 
sendo que 327.500 na sua Região Metropolitana. Em julho de 2010, o Plano Municipal de 
Integração de Assentamentos Precários Informais (Morar Carioca/Prefeitura do Rio de Janeiro) 
tornou pública uma nova classificação metodológica, reconhecendo 144 grandes complexos de 
favelas e 481 favelas isoladas, num total de 625 unidades, sendo 122 não urbanizáveis, pois 
localizadas ou em áreas de

Continue navegando