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1 capa 2 1 Anatomia Crânio-Facial (Ossos e Músculos do Crânio e da Face) ................................................... 1 2 Laudos e documentos periciais, modelos e interpretação. .............................................................. 24 3 Biotipologia ................................................................................................................................................ 25 4 Identificação Craniométrica: estimativa de sexo, estatura, idade, fenótipo, cor da pele, por meio do estudo do crânio ..................................................................................................................................... 30 5 Noções de tanatologia .................................................................................................................... 42 Questões ........................................................................................................................................... 49 Candidatos ao Concurso Público, O Instituto Maximize Educação disponibiliza o e-mail professores@maxieduca.com.br para dúvidas relacionadas ao conteúdo desta apostila como forma de auxiliá-los nos estudos para um bom desempenho na prova. As dúvidas serão encaminhadas para os professores responsáveis pela matéria, portanto, ao entrar em contato, informe: - Apostila (concurso e cargo); - Disciplina (matéria); - Número da página onde se encontra a dúvida; e - Qual a dúvida. Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhá-las em e-mails separados. O professor terá até cinco dias úteis para respondê-la. Bons estudos 1 É com grande satisfação que apresento a vocês este curso de NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL E ODONTOLOGIA LEGAL projetado especialmente para atender às necessidades daqueles que se preparam para o concurso de PAPILOSCOPISTA da Polícia Civil do Distrito Federal. Conteúdo do edital: 1. Anatomia Crânio-Facial (Ossos e Músculos do Crânio e da Face). 2. Laudos e documentos periciais, modelos e interpretação. 3. Biotipologia. 4. Identificação Craniométrica: estimativa de sexo, estatura, idade, fenótipo, cor da pele, por meio do estudo do crânio. 5. Noções de tanatologia. Apresentação do curso A proposta do curso é facilitar o seu trabalho e reunir toda a teoria em um só material. Nosso curso será completo. Ao mesmo tempo, não exigirá muitos conhecimentos prévios, na maioria do curso. Portanto, se você está iniciando seus estudos no assunto, fique tranquilo, pois, nosso curso atenderá aos seus anseios perfeitamente. Se você já estudou os temas e apenas quer revisá-los, o curso também será bastante útil. Por isto sua preparação com afinco e dedicação pode ser seu diferencial. E aqui estou, junto a você, nesta batalha. Procuraremos a sua melhor preparação. Lembre-se que, como concursando, muitas vezes você se sente sozinho, desacreditado e sem muita confiança. Mas saiba que o trabalho do estudo é duro, solitário, cansativo e requer muita vontade e dedicação. Quando vier sua aprovação, sua vitória você verá que o seu sucesso pertence a todos (inclusive àqueles que nunca te apoiaram... mas assim é a vida). Força e pense sempre em você, nos seus familiares, naqueles por quem você tem amor. Desejo um excelente estudo e ótimos resultados nesta jornada. Muito boa sorte, dedicação e boa prova!!!! Você pode se perguntar qual o motivo de estudar ossos da face e como estes estariam relacionados com a identificação do indivíduo como disciplina para um concurso de papiloscopia. Acontece que muitas vezes a identificação papilar não é possível, principalmente quando há um estado avançado de decomposição do cadáver. Portanto, existe a necessidade de se identificar o indivíduo através de outras técnicas. E, dentre estas, existem as análises de ossos cranianos e dos dentes. Caso você tenha estudado Criminologia deve estar familiarizado com os estudos de LOMBROSO. Este cara foi um pioneiro no estudo antropológico com finalidade científica. A associação de conhecimentos científicos da Antropologia pode ser aplicada na prática ao Direito e à administração das leis. Denominamos de Antropologia Forense. Esta visa responder às questões relacionadas à identidade médico-legal e à identidade judiciária ou policial. O processo de identificação implica no uso do conhecimento médico (SCHMITT, CUNHA, PINHEIRO, 2006; KROGMAN, ISCAN, 1986) e das ciências correlatas; distintas da natureza médica, diz respeito à antropometria e à datiloscopia. Existe um interesse mútuo da área das ciências jurídicas e médicas em englobar de uma só vez a área de conhecimento da antropologia forense. No âmbito da investigação criminal, a antropologia biológica, por meio da antropometria, tem subsidiado métodos e técnicas para a identificação humana. Sobre essa contribuição, os trabalhos de Alphonse Bertillon (1853-1914), que relacionavam dados antropométricos com os da identificação, foram bastante usuais antes da criação de um processo de maior eficácia, alcançada pela papiloscopia, através da datiloscopia, e mais recentemente pelas análises biomoleculares comparativas. 1 Anatomia Crânio-Facial (Ossos e Músculos do Crânio e da Face) Prof. Dr. Wagner Luiz Heleno Bertolini 2 A Antropologia tradicional alcançou grande desenvolvimento graças à incorporação da pesquisa científica. Destacaram-se, fora do Brasil a British Association for the advancement of Science Section of Antropology (1822), a Société Ethnologique de Paris (1839), a Berliner Gessellschaft für Anthropologie, Ethnologie und Urgeschichte (1869) e a Société d´Anthropologie de Paris (1895), entre outras. Segundo Ávila (1958), foi Paul Broca (1824-1880) o impulsionador da Antropologia, criando o Laboratório de Antropologia da Escola de Altos Estudos em 1871 e a Escola de Antropologia de Paris, em 1876. No Brasil, essa escola francesa influenciou o desenvolvimento da antropologia física na segunda metade do século XIX. Surgem João Batista de Lacerda, José Rodrigues Peixoto, Roquete Pinto e Fróes da Fonseca, incentivador da antropologia física até a primeira metade do século XX. Para Bertillon o essencial é estudar o homem em relação com o meio que o cerca e com as espécies que o precederam. Os métodos de estudo da Antropologia Criminal no início do século XX incluíam as medições craniométricas, os índices cranianos, suas representações gráficas, as anomalias do crânio, as anomalias dentárias, o desenvolvimento cerebral, o estudo do indivíduo vivo, a identificação - à maneira de Bertillon, a datiloscopia, os caracteres psíquicos, dados biográficos, altura e peso, psicologia experimental, pletismografia (registro da psique), craniologia criminal, antropometria comparada, anomalias psíquicas, atavismo orgânico e psíquico, entre outras. A recorrência de alguns desses eixos temáticos na moderna Antropologia Forense ocorrem em relação ao processo da identificação de indivíduos (vivos ou mortos) e no estudo comportamental do agente do delito e da vítima na perspectiva de uma criminologia (CARVALHO, 1961, 1964; FERNANDES, FERNANDES, 1995), da dinâmica da agressão (MEGARGEE, HOKANSON, 1976) e da neurociência (BENNETT, HACKER, 1996). Em 1939, o médico Arídio Fernandes Martins exemplificou um modelo de exame de esqueleto humano, indicando sua completude, articulação, cor,mensurações e índices. Suas observações finais surpreendem: [...] Em nota final [...] seus ossos não apresentam fratura ou seus vestígios, assim como qualquer outro indício macroscopicamente observável de lesão anatomo-patológica. Das verificações acima relatadas pode o perito deduzir as seguintes conclusões: 1º) o esqueleto apresentado ao exame pertenceu a indivíduo do sexo masculino, dados os seus caracteres gerais e particularmente as constatações da pélvica; 2º ) o individuo era de idade adulta, preliminarmente pela sua forma dentária, seguramente com mais de 35 anos, dadas as sinostoses craneanas, menos de 50 anos por não estar ossificada a parte média da sutura coronal, sua idade pode, pois ser avaliada de 40 anos, em favor de que fala ainda a ossificação do ponto sagital posterior. Esta conclusão tirada de acordo com os dados de Topinard fica sujeita as restrições possíveis decorrentes de quaisquer condições individuais especiais; 3º) a sua estatura dadas as dimensões dos ossos longos pode ser avaliada em um metro e setenta centímetros, pelas tábuas de Manouvrier. Pelo conjunto dos caracteres ósseos pode-se afirmar que esse indivíduo era de raça branca. Dadas as rugosidades e asperezas pronunciadas dos membros superiores é plausível que ele tivesse profissão manual (MARTINS, 1939, p. 210-211). Os requisitos técnicos estabelecidos por Bertillon para a identificação humana fundamentavam-se na unicidade antropométrica entre os homens, a imutabilidade dessa característica após os 20 anos de idade, a praticabilidade das mensurações e a classificabilidade dos dados antropométricos individuais em fichas. Outros conjuntos sinaléticos descritos por Almeida Júnior (1956) incluem o uso de características morfológicas corporais objetivando a identificação. Assim, estariam incluídas a identificação otométrica (ângulo aurículo-temporal, diâmetros da orelha), craniográfica (tomada de perfil do crânio e comparação), geométrica (mensurações da face), dentária (forma da arcada, disposição dos dentes, anomalias), oftalmográfica (comparação de fotografias do fundo do olho), radiográfica (mensurações das falanges, metacarpo e metatarso), flebográfica (comparação da conformação superficial das veias do dorso da mão), palmar (comparação de desenhos dos sulcos palmares das mãos), poroscópica (comparação de poros por sua imutabilidade e individualidade) e umbilical (morfologia do umbigo). No Brasil, no caso de São Paulo, muitas décadas depois dos trabalhos realizados por Godoy (1936a, 1936b, 1937, 1947), Daunt e Godoy (1937) e Godoy e Júnior (1947), no extinto Laboratório de Anthropologia do Instituto de Identificação Gabinete de Investigações Criminais, o Núcleo de Antropologia do Instituto Médico Legal de São Paulo realiza exames de identificação médico-legal em cadáveres e esqueletos humanos. O trabalho do Núcleo inclui exames de confronto de características 3 individualizadoras da pessoa procurada, recuperando vínculos genéticos e dados dos registros médicos, hospitalares e odontológicos para comparação. Segundo Coelho e Júnior (2008), a rotina de trabalho integrada entre os Núcleos de Antropologia e de Odontologia Legal, vinculada aos papiloscopistas do necrotério do IML, o Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD), o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa e o Núcleo de Biologia e Bioquímica Laboratório de DNA do Instituto de Criminalística de São Paulo. Nos casos de material severamente decomposto, esses dois Núcleos estabelecem as possibilidades de coletar impressões digitais, encaminhando ao IIRGD dedos ou luvas cadavéricas. Os esqueletos humanos recebem tratamento diverso: a) Os parentes de vítimas suspeitas são entrevistados e recolhidos documentos médico-hospitalares e odontológicos, assim como dados para a identificação pessoal; b) Realizam-se perícias complementares nos locais de encontro dos restos humanos para a coleta complementar de ossos, fragmentos, dentes e outros materiais que serão essenciais no decorrer da perícia médico-legal; c) Realiza-se a limpeza do cadáver ou dos ossos e dentes humanos para possibilitar o estudo antropológico e odontológico; d) Convoca-se o dentista responsável pela elaboração dos documentos odontológicos referentes à vítima suspeita; e) Após as etapas anteriores, é encaminhado o material biológico da vítima e dos familiares para determinação do vínculo genético. A fundamentação dos procedimentos encontra-se no seguinte comentário: A existência de uma pessoa é definida pelo nascimento com vida e seu devido registro civil, assim como a pessoa deixa de existir legalmente com o devido assento de óbito no cartório de registro civil e, como se sabe, só se pode emitir a declaração de óbito da pessoa perfeitamente identificada (COELHO, JUNIOR, 2008). A Antropologia Forense está constituída, segundo Hunter (2002), por três grandes áreas: a identificação do grupo biológico, incluindo gênero, estatura e afinidade racial; identificação do indivíduo biológico, incluindo sua atividade laborativa, marcas de estresse, análise de DNA e reconstrução facial; e a identificação positiva, baseada na comparação dentária, anomalias congênitas e na superposição de fotografias sobre o crânio. Determinação do grupo de afinidade étnico-racial ou da ancestralidade através da craniometria (CARVALHO et al., 1987: 58-62, CROCE, JUNIOR, 1996: 37-45). Nesses casos existem programas que analisam os índices cranianos como o nasal, de prognatismo, transverso, horizontal e vertical, orbitário, entre outras mensurações, simultaneamente, indicando a situação racial do indivíduo em gráfico. Determinados traços podem indicar afinidades raciais como a proeminência dos zigomáticos, arqueamento do fêmur, entre outros. Determinados caracteres epigenéticos como os dentes incisivos em forma de pá (shovel-shaped), buraco parietal e suturas no osso maxilar podem indicar determinada afinidade étnico-racial. A determinação ou verificação da identidade pessoal post mortem por meio das evidências dentárias recebe o nome de odontologia forense ou odontologia legal (GRADWOHL, 1954:451; ARBENZ, 1988; HILLSON, 1996; OLIVEIRA et ali., 2002) vislumbra as formas da dentição (perda dentária), dentes supranumerários, anomalias de posição, oclusão, anomalias congênitas, alterações pre-mortem por tipo de ocupação, acidentes, doenças, afinidade racial, elementos de restaurações, queima, sinais de mordidas, cálculo etário em crianças, identificação de fragmentos dentários. A reconstrução facial tridimensional (STEWART, 1954; KROGMAN, 1986; UBELAKER, 1989; GEORGE, 1993; TAYLOR, 2001 e outros) e a bidimensional (UBELAKER, 1989; TAYLOR, 2001 e outros), a partir do crânio, além das sobreposições fotográficas crânio/foto da face, auxiliam na identificação de pessoas desaparecidas. A Odontologia Forense tem como objetos de estudo a identificação humana através da análise do complexo maxilo-mandibular, considerando: a) os traços de identificação não dentários, b) as informações obtidas através dos ossos cranianos, c) a análise dos tecidos e fluídos orais, d) a estimativa da idade pelo desenvolvimento dentário e outras características, e) os procedimentos laboratoriais, f) o emprego de registros médicos e odontológicos ante-mortem da vítima a ser identificada, g) análise de dentes em casos de desastre de massa, h) as marcas de mordidas e i) análise de remanescentes dentários de procedência arqueológica (ARBENZ, 1988; WHITTAKER, MACDONALD, 1989; BOWERS, BELL, 1997; CLEMENT, 2000). Exames em mortos e em materiais, com a emissão de laudos técnicos periciais, quando se torna impossível a identificação humana por meio da papiloscopia. Nesse tipo de exame, nos casos de identificação antropológica de esqueletos, a estimativada idade é obtida pela análise dos arcos dentários e respectivos dentes, pela pesquisa em próteses dentárias e em fragmentos dentários e análise de marcas de mordidas (COELHO, JUNIOR, 2008). Vejamos os principais ossos do crânio e da face. Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce 4 Vista Anterior do Crânio Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. Ossos da Órbita Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. 5 Vista Lateral do Crânio Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. Vista Lateral do Crânio Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. 6 Vista Medial do Crânio Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. Vista Superior do Crânio - Calota Craniana A parte superior do crânio é chamada de cúpula do crânio ou calvária. É atravessada por quatro suturas (articulações que permitem mínima mobilidade aos ossos do crânio): 1 - Sutura Coronal ou Bregmática: entre os ossos frontal e parietais 2 - Sutura Sagital: entre os dois parietais (linha sagital mediana) 3 - Sutura Lambdóide: entre os parietais e o occipital 4-Sutura Escamosa: entre o parietal e o temporal. Alguns Pontos Antropométricos do Crânio: Bregma - ponto de união das suturas sagital e coronal Lâmbda - ponto de união das suturas sagital e lambdóide Vértex - parte mais alta do crânio Gônio - ângulo da mandíbula Ptério - ponto de união dos ossos parietal, frontal, esfenóide e temporal Vista Superior do Crânio - Face Externa 7 Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. Fossas Cranianas É dividida em 3 fossas: Fossa Anterior, Fossa Média e Fossa Posterior. Fossa Anterior Limites: Lâmina interna do frontal à borda posterior da asa menor do esfenóide Ossos: Frontal, esfenóide e etmóide Forames: Forame Cego - passagem de uma pequena veia da cavidade nasal para o seio sagital superior Lâmina Crivosa - Passagem do I Par Craniano (Nervo Olfatório) Canal Óptico - Passagem do II Par Craniano (Nervo Óptico) e Artéria Oftálmica Fossa Média Limites: Borda posterior da asa menor do esfenóide à borda superior da porção petrosa dos temporais Ossos: esfenóide e temporal Forames: Fissura Orbitária Superior - Passagem do III Par Craniano (Nervo Oculomotor), IV Par Craniano (Nervo Troclear), V Par Craniano (Nervo Trigêmeo - Ramo Oftálmico), VI Par Craniano (Nervo Abducente) e a veia oftálmica Forame Redondo - Passagem do V Par Craniano (Nervo Trigêmeo - Ramo Maxilar) Forame Oval - Passagem do V Par Craniano (Nervo Trigêmeo - Ramo Mandibular) Forame Espinhoso - Passagem da Artéria Meníngea Média 8 Lácero ou Rasgado Anterior - não passa nada, é coberto por tecido fibroso Canal Carotídeo - Passagem da artéria carotídea Fossa Posterior Limites: Borda superior da porção do rochedo do temporal à lâmina interna do osso occipital Ossos: Temporal e occipital Forames: Meato Acústico Interno - Passagem do VII Par Craniano (Nervo Facial), VIII Par Craniano (Nervo Vestibulococlear) Forame Jugular - Passagem do IX Par Craniano (Nervo glossofaríngeo), X Par Craniano (Nervo Vago) e XI Par Craniano (Nervo Acessório) e veia jugular interna Canal do Hipoglosso - Passagem do XII Par Craniano (Nervo do Hipoglosso) Canal Condilar - Inconstante Forame Magno - Passagem do bulbo, meninges, líquor, artérias vertebrais, raízes espinhais e nervo acessório Estruturas das Fossas Cranianas Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. Ossos das Fossas Cranianas 9 Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. Vista Inferior do Crânio Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. Encontrei um material muito interessante na internet, em que se faz um amplo estudo sobre a identificação à partir dos ossos da face. Não é um assunto que necessariamente cairá na sua prova, mas, serve para se ter uma ideia de como anda a evolução de técnicas de identificação associadas com 10 a evolução da informática. Não se preocupe com os termos técnicos empregados. Apenas em acompanhar o desenrolar da pesquisa. Este trecho foi extraído do seguinte site: http://www.ciceromoraes.com.br/?p=1247, acessado em 09/01/2015. Reconstrução facial forense de uma pessoa viva com software livre (teste cego) No começo de 2012 iniciei efetivamente meus estudos no campo da reconstrução facial forense. Agora, um ano e meio depois, já lá se vão quarenta reconstruções, a maioria de humanos modernos, alguns hominídeos e até um tigre dentes-de-sabre. Durante esse tempo, nas palestras que ministrei, nos e-mails que recebi ou mesmo nos cursos oferecidos, as pessoas me questionavam acerca da precisão do método; se eu já havia testado ele em crânios de pessoas conhecidas (vivas ou não). Gráfico representando a precisão (em milímetros) em relação à pele do voluntário, obtida por escaneamento óptico. As áreas em azul representam áreas nas quais a face reconstruída ficou mais profunda que a face real, ao passo que áreas em amarelo representam regiões em que a face real ficou mais profunda que a malha reconstruída. Eu já havia feito algo nesse sentido, mas por motivos de sigilo técnico ou respeito à privacidade de voluntários, não havia publicado até então. Em face disso, me limitava a mostrar os trabalhos de grandes artistas como o russo Gerasimov, a inglesa Caroline WIlkinsons e a americana Karen T. Taylor. Felizmente, há alguns dias atrás, um parceiro de pesquisa, o Dr. Paulo Miamoto me enviou um crânio digitalizado a meu pedido, para que eu testasse uma técnica recém desenvolvida para “vestir” a pele nos músculos virtuais. Esse crânio, enviado sem muitas observações, porém com autorização de reconstrução por parte de seu “dono”, seria a primeira oportunidade que eu teria para mostrar um caso de reconstrução facial de uma pessoa viva, expondo o grau de precisão que os trabalhos alcançam. http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Captura-de-tela-de-2013-07-15-113922.png Felipe Farth Riscado11 Desenvolvimento do Trabalho Há alguns dias, comecei a testar uma série de modificadores do Blender, buscando uma opção que me permitisse “vestir” a pele em uma reconstrução. O objetivo era tornar o processo mais rápido, e, portanto, mais acessível a quem desejar replicá-lo, seja essa pessoa dotada de dons artísticos ou não. Consegui achar uma solução com um modificador chamado Shrinkwrap (e uma série de adaptações) como pode ser visto no vídeo acima. O crânio do vídeo é oriundo de outra reconstrução em andamento. Pode parecer algo quase imperceptível a um leigo em reconstrução, mas é uma “benção” para aqueles que estão colocando a mão na massa há pouco tempo. Voltando ao crânio previamente pelo Dr. Paulo Miamoto, isto me ofereceu a possibilidade de reconstruir uma pessoa viva e conhecida dele. Ele me pediu uma ajuda com a configuração do crânio em questão, pois ele teria que “montar” a estrutura, pois a tomografia era do tipo Cone Beam. Grosso modo, uma tomografia Cone Beam captura geralmente apenas uma parte de um crânio devido ao tomógrafo ter um campo de visão menor. É muita usada no meio odontológico e geralmente o equipamento é mais barato que um tomógrafo médico. Um fato interessante nessa história, é que todo o processo fora feito com software livre. Inicialmente, o Dr. Miamoto abriu as tomografias no InVesalius e filtrou apenas a parte que representava os ossos. Para fazer esse processo ele utilizou um tutorial que eu havia escrito, explanando o funcionamento básico do InVesalius:http://www.hardware.com.br/tutoriais/reconstrucao-3d-tomografias/pagina3.html http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Captura-de-tela-de-2013-07-16-175748.png 12 Em seguida, ele importou as três partes no Meshlab e alinhou-as no espaço 3D de modo que a parte face do crânio ficasse estruturada. Todos os passos desse processo foram feitos graças aos tutoriais disponível no canal do Mister P no Youtube: https://www.youtube.com/user/MrPMeshLabTutorials Depois do crânio montado, ele o exportou como um arquivo .ply e enviou-o com os seguintes dados do indivíduo para orientação da reconstrução: - Gênero: masculino; - Ancestralidade: miscigenação entre xantodermas (descendentes de japoneses) e leucodermas (brancos); - Idade: entre 20-30 anos. Ao receber o crânio, tive de simplificar a malha, pois a tomografia reconstruída havia gerado algumas áreas com bastante ruído, inerentes à técnica de captura de imagem em tomógrafos Cone Beam. Em seguida, reconstruí a área do crânio que faltava com outro crânio presente em meu banco de dados, https://www.youtube.com/user/MrPMeshLabTutorials http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Cranios_sharpen.jpg http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Cranios_remesh_sharpen.jpg http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Cranios_sharpen.jpg http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Cranios_remesh_sharpen.jpg 13 como preconizado por autores da área. Dessa forma, o trabalho seria feito mais tranquilamente, com mais referências espaciais. Com o crânio devidamente limpo e posicionado no plano de Frankfurt, foram colocados os medidores de profundidade, traçadas as projeções do nariz e o perfil da face. Como indivíduos asiáticos e nativos americanos (ameríndios) compartilham traços físicos antropológicos que tornam seus crânios indistinguíveis entre si, uma tabela para índios nativos do sudoeste da América do Sul (Rhine, 1983) foi utilizada como referência. Para dinamizar o processo, o conjunto englobando os músculos, cartilagens e glândulas fora importado de outro arquivo. Evidentemente que algumas alterações na forma precisariam ser feitas para que se adequassem ao crânio em estudo. http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Perfil.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Musculos.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Perfil.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Musculos.png 14 Aos poucos, um a um, os músculos são deformados e se adaptam ao crânio. Ao final todos os elementos são posicionados e ao contrário do que muitas pessoas pensam, mesmo com todos os músculos na face é difícil se ter uma ideia de como ficará o trabalho finalizado. http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Musculos_2.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Musculos_3.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Musculos_2.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Musculos_3.png 15 Para a configuração da pele, o trabalho segue a mesma linha usada nos músculos. Uma espécie detemplate geral é importado de outro arquivo. http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Pele_2.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Pele_5.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Pele_2.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Pele_5.png 16 E adaptado até que se adeque ao shape (forma) delineada pelo perfil, pelos músculos e pelos marcadores de profundidade. Podemos acompanhar a transformação progressiva de forma que a malha sofreu. http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Pele_3.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Passos.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Pele_3.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Passos.png 17 Ao colocar a pele e “vesti-la” aos músculos, eu desconfiei se tratar do crânio do próprio Dr. Miamoto. A forma do queixo e a vista levemente pela lateral denunciaram algumas características que são evidentes em fotografias (não conheço o Dr. Miamoto pessoalmente). Ao interroga-lo finalmente, pois nesse campo não podemos ter incerteza… ele me disse sim, se tratar de seu crânio. Nem preciso dizer que eu fiquei extremamente satisfeito com o resultado. Agora seria o momento de testar a qualidade da reconstrução em relação ao “dono” do crânio. http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Pele_4.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Faces_sharpen.jpg http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Pele_4.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Faces_sharpen.jpg 18 Um teste fora feito com uma fotografia, onde a malha foi posta sobre ela, no mesmo ponto de vista. Veja que os lábios quase se alinharam com o modelo 3D. O Dr. Paulo então fez no mesmoprocesso para filtrar a pele da tomografia e me enviou outro arquivo .ply. Em seguida, a mesma foi alinhada com a reconstrução, revelando uma compatibilidade bastante grande. http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/foto.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/cone.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/foto.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/cone.png 19 Por último um escaneamento a óptico da face (feito separadamente da tomografia) foi alinhado ao rosto em 3D. Perceba que novamente a linha dos lábios ficou bastante compatível, bem como a largura do nariz. Os dados da Malha 3D vs. Escaneamento a Óptico foram enviados ao CloudCompare e um gráfico 3D de compatibilidade foi gerado. Parte significativa da Malha 3D ficou apenas alguns poucos milímetros de distância da malha escaneada. A parte em azul que compreende a lateral dos lábios http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/laser.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Captura-de-tela-de-2013-07-15-113922.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/laser.png http://www.ciceromoraes.com.br/wp-content/uploads/2013/07/Captura-de-tela-de-2013-07-15-113922.png 20 tradicionalmente difere em relação ao escaneamento do indivíduo vivo, pois o levantamento da profundidade usado como referência para os marcadores fora feito em cadáveres que já haviam sofrido uma leve alteração em sua forma (desidratação e ação da gravidade no registro). Esse foi um exemplo de como uma reconstrução facial feita com software livre pode apresentar um alto grau de compatibilidade com o indivíduo vivo, desde que se cumpra todo o protocolo já estudado e testado pelas técnicas usuais. O uso de novas tecnologias e de ferramentas específicas do Blender 3D contribuem para um grau de compatibilidade maior das linhas de expressão da face, tornando o processo mais rápido e fácil para aquelas pessoas que desejam fazer uma reconstrução, mas, muitas vezes não tem uma formação voltada a arte. FIM. Então, meu caro concursando, deu para perceber que muitos estudos contribuem para melhorar e aperfeiçoar a Ciência Forense. MÚSCULOS DA FACE A seguir relaciono os músculos da face e suas principais propriedades. Couro Cabeludo O Epicrânio é uma vasta lâmina musculotendinosa que reveste o vértice e as faces laterais do crânio, desde o osso occipital até a sobrancelha. É formado pelo ventre occipital e pelo ventre frontal e estes são reunidos por uma extensa aponeurose intermediária: a gálea aponeurótica. * Ventre Occipital Origem: 2/3 laterais da linha nucal superior do osso occipital e processo mastóide Inserção: Gálea aponeurótica Inervação: Ramo auricular posterior do nervo facial Ação: Trabalhando com o ventre frontal traciona para trás o couro cabeludo, elevando as sobrancelhas e enrugando a fronte. * Ventre Frontal Origem: Não possui inserções ósseas. Suas fibras são contínuas com as do prócero, corrugador e orbicular do olho Inserção: Gálea aponeurótica Inervação: Ramos temporais Ação: Trabalhando com o ventre occipital traciona para trás o couro cabeludo, elevando as sobrancelhas e enrugando a fronte. Agindo isoladamente, eleva as sobrancelhas de um ou de ambos os lados GÁLEA APONEURÓTICA Couro Cabeludo A Gálea Aponeurótica reveste a parte superior do crânio entre os ventres frontal e occipital do occipitofrontal. Origem: Protuberância occipital externa e linha nucal suprema do osso occipital Inserção: Frontal. De cada lado recebe a inserção do temporoparietal Inervação: O ventre frontal e temporoparietal são supridos pelos ramos temporais, e o ventre occipital, pelo ramo auricular posterior do nervo facial Ação: Traciona para tras o couro cabeludo elevando a sobrancelha e enrugando a fronte, como uma expressão de surpresa. ORBICULAR DO OLHO Pálpebras Este músculo contorna toda a circunferência da órbita. Divide-se em três porções: palpebral, orbital e lacrimal. Origem: Parte nasal do osso frontal (porção orbital), processo frontal da maxila, crista lacrimal posterior (porção lacrimal) e da superfície anterior e bordas do ligamento palpebral medial (porção palpebral) Inserção: Circunda a órbita, como um esfíncter Inervação: Ramos temporal e zigomáticas do nervo facial Ação: Fechamento ativo das pálpebras CORRUGADOR DO SUPERCÍLIO Pálpebras Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce 21 Origem: Extremidade medial do arco superciliar Inserção: Superfície profunda da pele Inervação: Ramos temporal e zigomáticas do nervo facial Ação: Traciona a sobrancelha para baixo e medialmente, produzindo rugas verticais na fronte. Músculos da expressão de sofrimento Prócero Nariz Origem: Fáscia que reveste a parte mais inferior do osso nasal e a parte superior da cartilagem nasal lateral Inserção: Pele da parte mais inferior da fronte entre as duas sobrancelhas Inervação: Ramos bucais do nervo facial Ação: Traciona para baixo o ângulo medial da sobrancelha e origina as rugas transversais sobre a raiz do nariz Nasal (Transverso do Nariz) Nariz Origem: * Porção Transversal - Maxila, acima e lateralmente à fossa incisiva * Porção Alar - Asa do nariz Inserção: * Porção Transversal - Dorso do nariz * Porção Alar - Imediações do ápice do nariz Inervação: Ramos bucais do nervo facial Ação: Dilatação do nariz Depressor do Septo Nariz Origem: Fossa incisiva da maxila Inserção: Septo e na parte dorsal da asa do nariz Inervação: Ramos bucais do nervo facial Ação: Traciona para baixo as asas do nariz, estreitando as narinas Auricular Anterior Orelha Origem: Porção anterior da fáscia na zona temporal Inserção: Saliência na frente da hélix Inervação: Ramos temporais Ação: Traciona o pavilhão da orelha para frente e para cima Auricular Superior Orelha Origem: Fáscia da zona temporal Inserção: Tendão plano na parte superior da superfície craniana do pavilhão da orelha Inervação: Ramos temporais Ação: Traciona o pavilhão da orelha para cima Auricular Posterior Orelha Origem: Processo mastóide Inserção: Parte mais inferior da superfície craniana da concha Inervação: Ramo auricular posterior do nervo facial Ação: Traciona o pavilhão da orelha para trás Levantador do Lábio Superior Boca Levantador do Lábio Superior e Asa do Nariz Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce 22 Boca Origem: Processo frontal da maxila Inserção: Se divide em dois fascículos. Um se insere na cartilagem alar maior e na pele do nariz e o outro se prolonga no lábio superior Inervação: Ramos bucais do nervo facial Ação: Dilata a narina e levanta o lábio superior Levantador do Ângulo da Boca Boca Origem: Fossacanina (maxila) Inserção: Ângulo da boca Inervação: Ramos bucais do nervo facial Ação: Eleva o ângulo da boca e acentua o sulco nasolabial Zigomático Menor Boca Origem: Superfície malar do osso zigomático Inserção: Lábio superior (entre o levantador do lábio superior e o zigomático maior) Inervação: Ramos bucais do nervo facial Ação: Auxilia na elevação do lábio superior e acentua o sulco nasolabial Zigomático Maior Boca Origem: Superfície malar do osso zigomático Inserção: Ângulo da boca Inervação: Ramos bucais do nervo facial Ação: Traciona o ângulo da boca para trás e para cima (risada) Risório Boca Origem: Fáscia do masseter Inserção: Pele no ângulo da boca Inervação: Ramos mandibular e bucal do nervo facial Ação: Retrai o ângulo da boca lateralmente (riso forçado) Depressor do Lábio Inferior Boca Origem: Linha oblíqua da mandíbula Inserção: Tegumento do lábio inferior Inervação: Ramos mandibular e bucal do nervo facial Ação: Repuxa o lábio inferior diretamente para baixo e lateralmente (expressão de ironia) Depressor do Ângulo da Boca Boca Origem: Linha oblíqua da mandíbula Inserção: Ângulo da boca Inervação: Ramos mandibular e bucal do nervo facial Ação: Deprime o ângulo da boca (expressão de tristeza) Mentoniano Boca Origem: Fossa incisiva da mandíbula Inserção: Tegumento do queixo Inervação: Ramos mandibular e bucal do nervo facial Ação: Eleva e projeta para fora o lábio superior e enruga a pele do queixo Transverso do Mento Boca Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce 23 Não é encontrado em todos os corpos. Origem: Linha mediana logo abaixo do queixo Inserção: Fibras do depressor do ângulo da boca Inervação: Ramos mandibular e bucal do nervo facial Ação: Auxilia na depressão o ângulo da boca Orbicular da Boca Boca Não é encontrado em todos os corpos. Origem: Parte marginal e parte labial Inserção: Rima da boca Inervação: Ramos bucais do nervo facial Ação: Fechamento direto dos lábios Bucinador Boca Importante músculo acessório na mastigação, mantendo o alimento sob a pressão direta dos dentes. Origem: Superfície externa dos processos alveolares da maxila, acima da mandíbula Inserção: Ângulo da boca Inervação: Ramos bucais do nervo facial Ação: Deprime e comprime as bochechas contra a mandíbula e maxila. Importante para assobiar e soprar Ilustrações músculos da Face - Vista Anterior Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. Músculos da Face - Vista Lateral Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce 24 Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. A prática médico-pericial obedece a uma extensa e complexa relação de leis, decretos, portarias e instruções normativas, que estabelecem os limites de atuação dos setores administrativos e indicam quais as competências e atribuições do médico investido em função pericial. A aplicação dos dispositivos contidos nos principais diplomas legais (leis, decretos e portarias), todos da área federal, depende da avaliação médico-pericial. Vamos falar um pouco dos documentos médico-legais mais importantes: Atestado, notificação, auto, laudo e parecer. O que constitui o atestado médico e quais as suas partes? O atestado médico é a afirmação simples, exata e escrita de um fato e suas consequências. Tem por finalidade informar a capacidade ou incapacidade do indivíduo para a realização de determinado ato. Deve ter cabeçalho ou preâmbulo, a qualificação do examinado, o nome de quem solicitou, descrição do caso e, se absolutamente necessário, diagnóstico através do CID (Código Internacional de Doenças). Notificação 2 Laudos e Documentos Periciais, Modelos e Interpretação Prof. Dr. Wagner Luiz Heleno Bertolini Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce 25 A notificação é a comunicação compulsória às autoridades competentes de um fato médico por necessidade social ou sanitária sobre acidentes de trabalho ou doenças infecto-contagiosas (Código Penal, art. 269). Ex.: sarampo, tuberculose etc. Auto Auto é um relatório da perícia médica, ditado diretamente ao escrivão. Laudo Laudo é o documento feito por escrito pelo perito. São suas partes: preâmbulo – que contém nome do perito, seus títulos, nome da autoridade que o nomeou, motivo da perícia, nome e qualificação do indivíduo a ser examinado; histórico – que é a anamnese do caso, colheita de informações do fato, local, envolvidos etc; descrição – que é a parte mais importante, deve ser minuciosa ao relatar as lesões e sinais do indivíduo, e se envolver cadáver tem que constar os sinais da morte, identidade, exame interno e externo; discussão – que é o diagnóstico onde o perito externará sua opinião, relatório dos critérios utilizados; conclusão – que é o resumo do ponto de vista do perito, baseando-se nos elementos objetivos e comprovadores de forma segura; por fim respostas aos quesitos – eventualmente oferecidos pelas partes ou juízo. Parecer Parecer é um documento solicitado (sempre que o relatório médico suscitar dúvidas) por qualquer pessoa a um especialista (perito oficial ou qualquer médico fora da perícia, isto é, assistente técnico), procurando documentar o processo com resultados de exames e considerações médicas referentes a determinada situação de interesse jurídico. Ou seja, consultam, escrita ou verbalmente, um ou vários especialistas sobre o valor científico do laudo em questão. O parecer é a resposta, a conclusão. São suas partes: preâmbulo, exposição dos fatos, discussão do assunto, conclusão e respostas às perguntas. A chamada biotipologia humana e sua derivada, a biotipologia criminal, foram ciências que se desenvolveram no período do entreguerras e que a sua maneira buscavam o conhecimento completo da personalidade de cada indivíduo, a partir de ilações entre o corpo e o comportamento. Além de caracterizar seu conteúdo, o objetivo deste estudo é mapear a circulação destas doutrinas e identificar a rede de personagens e instituições científicas que as mobilizaram e lhes forneceram consequência social. Sob a direção do médico endocrinologista Nicolas Pende, a biotipologia ganhou difusão na Itália e fora dela, com destaque para a rede que acabou se consolidando com países de “cultura latina”, particularmente Espanha, Argentina e Brasil, recorte espacial da presente análise. Essas ciências, na verdade, constituíam expressões particularizadas de um conjunto mais amplo de disciplinas, práticas e representações, todas voltadas ao estudo e ao controle do corpo humano na busca da estabilização social. No período do entreguerras, diversos biodeterminismos encontraram reconhecimento e difusão, produzindo impactos na realidade e legando continuidades históricas. Os determinismos biológicos no entreguerras Tentar compreender – e conseguintemente controlar – o comportamento humano é utopia recorrentena história. Após a era iluminista, que libertou os homens dos desígnios divinos, novos determinismos vieram substituir aqueles. Por um lado, a maneira como a vida coletiva se organizava 3 Biotipologia Prof. Dr. Wagner Luiz Heleno Bertolini Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce Felipe Farth Realce 26 passava a fornecer o arcabouço para explicar as atitudes e os pensamentos dos indivíduos, configurando os polissêmicos determinismos sociais que vicejaram no século XIX, como o marxismo, o liberalismo e o positivismo comtiano. Por outro, desenvolvia-se uma tradição concorrente que concebia o corpo humano como o centro de gravidade da etilogia comportamental, caracterizando os diversos determinismos biológicos que se difundiram desde então e que condicionaram grande parte da história dos dois últimos séculos, vindo das primeiras experiências frenológicas do início da contemporaneidade, até as recentes promessas fáusticas da decodificação do genoma humano, ao redor da última virada de século. No meio do caminho, sob o influxo dos darwinismos sociais, desenvolveram-se os diversos racismos científicos, as eugenias estatais e a antropologia criminal, possibilitando novas legitimações de velhas hierarquias sociais e étnicas. Do embate entre os determinismos sociais e os determinismos biológicos, que em todo momento de alguma maneira foram conviventes, a resultante histórica acabou por produzir um movimento pendular entre os dois extremos, com hegemonias alternadas entre as duas grandes tradições. O período que ora nos interessa assistiu a uma sobrevaloração das chamadas “ciências da vida”, o que por sua vez tornou cada vez menos nítidas as fronteiras entre a política e a biologia. O holocausto perpetrado pelos nazistas é sem dúvida a expressão mais emblemática desse fenômeno, mas está longe de ser o único ou de dar conta de todas as complexidades doutrinárias, empíricas e institucionais envolvidas. Uma das novas ciências que surgiram no período do entre-guerras e que acabou fazendo parte central do arcabouço biodeterminista foi a chamada biotipologia humana. Seu principal propositor, dirigente doutrinário e articulador institucional foi o médico genovês Nicolas Pende (1880-1970). Em 1921, aparecia um artigo seu intitulado “Endocrinologia e Psicologia” e, dois anos depois, a obra “A aplicação da endocrinologia aos estudos dos criminosos – a Escola Positiva”. Pende passou a associar desvios de comportamento com perturbações endócrinas, afirmando, por exemplo, que “os hipertireoidianos-hipersupra- renalianos seriam majoritários entre os delinqüentes violentos e impulsivos, os hiperpituitários entre os assassinos frios e cínicos” (DARMON, 1991: 273). Essencialmente, se tratava de uma continuidade aprimorada das teses de seu compatriota Cesar Lombroso, considerado o criador da antropologia criminal, que perseguia na morfologia do corpo humano os estigmas identificadores de seres desviantes ou potencialmente desviantes. Mais do que isso, as ideias de Pende acabaram por fornecer uma sobrevida às teses lombrosianas, já há muito consideras precárias cientificamente, ao pretender associar a forma do corpo ao equilíbrio humoral, por sua vez concebido como condicionador decisivo do funcionamento do pensamento e da vontade. Segundo Pende, “(…) os hormônios das glândulas endócrinas, da mesma forma que influem sobre a constituição e sobre a forma harmônica do corpo, tomam também parte essencial na constituição e na forma do espírito” (PENDE, 1934:3). Dessa maneira, e por via da endocrinologia – sua especialidade –, Pende fornecia a ponte entre o comportamento de um indivíduo e a forma de seu corpo. Os hormônios literalmente faziam a mediação entre a esfera psíquica e a morfológica, e junto com a base representada pelo patrimônio hereditário, estruturavam a chamada Pirâmide de Pende. Não foram poucos os seus seguidores que explicitamente se congratularam com a recuperação de Lombroso, dessa maneira transformado de autor de quimeras grosseiras em gênio antecipador dos progressos da ciência. Dito de outro modo, o acervo teórico da endocrinologia permitia uma conciliação possível entre antropometria e psiquiatria, dentro do discurso da então chamada biotipologia constitucionalista, que procurava propor um paradigma abrangente, extensivo e integrador. Portanto, as disfunções endócrinas a um só tempo poderiam ser denunciadas por desarmonias morfológicas e denunciar desvios comportamentais. Quando procurava exemplificar, e assim dar concretude a tais biodeterminismos radicais, é que Pende parecia trazer de volta as mais clássicas formulações lombrosianas: O desenvolvimento exagerado do esqueleto e da cara, especialmente dos zigomas e da mandíbula; a exagerada longitude, quase simiesca, das articulações superiores; a grossura enorme das mãos e dos pés; o cútis, espesso e untuoso; quiçá também a hiper ou a hipoalgesia cutânea, notas que freqüentemente se acham em certas categorias de delinqüentes, são todas elas ‘notas somáticas’, próprias dos sujeitos que têm uma hiperfunção congênita ou adquirida da glândula pituitária, cuja relação com as funções psíquicas, e mais ainda com os poderes inibitórios e com o desenvolvimento do sentido moral, havemos exposto brevemente (PENDE, 1934. Na Argentina, o grupo liderado por Arturo Rossi, diretor do Instituto de Biotipología, Eugenesia y Medicina Social, e dileto discípulo de Pende, replicava esse gênero de determinismo humoral. Assim 27 que os assassinos “sanguinários congênitos”, conforme classificação de Pende, seriam em regra afetados por “hiperpituitarismo anterior, freqüentemente associado a hipopituitarismo posterior; além de hipogenitalismo e hipersuprarrenalismo” (BOSCH; ROSSI; RODRIGUEZ, 1934:14). O hábito morfológico que lhes seria característico seria “megalosplánico e hipervegetativo, brevilineo”. Já os “ladrões e os estafadores” possuiriam uma fórmula endócrina associada a “hipopituitarismo, distiroidismo e hipertimismo”, o que corresponderia a uma morfologia “microsplâcnica, hipovegetativa e longilínea” (idem). Leonídio Ribeiro, professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e diretor do Instituto de Identificação e de seu laboratório de Antropologia Criminal, e Waldemar Berardinelli, seu colega nessas instituições, faziam medicina nessa direção no Brasil. No trabalho que apresentaram conjuntamente no 1º Congresso Latinoamericano de Criminologia, realizado em Buenos Aires em julho de 1938, os autores afirmavam que os hiperpituitários teriam “estatura fora do normal, desproporcionados, mãos, pés, cabeça e mandíbula exageradamente desenvolvidos, tórax largo e curto, membros compridos, pele seborréica, com cicatrizes de acne na face e no dorso” (RIBEIRO; BERARDINELLI, 1938:530). Tal constituição corresponderia a um temperamento pouco emotivo e egoísta, com “tendências sexuais moderadas” e aversão “às preocupações abstratas e sintéticas”. A partir de um núcleo doutrinário derivado de formulações do gênero, e essa é uma hipótese central deste estudo, Pende logrou articular uma ampla rede de discípulos e aliados, para além de Gênova e da Itália e para muito além de seus núcleos institucionais de atuação, compreendendo desde autoridades governamentais e personalidades do mundo jurídico, a autoproclamados adeptos da Escola Italiana de vários outros países, da Europa e fora dela. Na perspectiva do sociólogo da ciência Bruno Latour: O problema do construtor de ‘fatos’ é o mesmo do construtor de ‘objetos’: como convencer outras pessoas, como controlar o comportamentodelas, como reunir recursos suficientes num único lugar, como conseguir que a alegação ou o objeto se disseminem no tempo e no espaço. Em ambos os casos, são os outros que têm o poder de transformar a alegação ou o objeto num todo duradouro (LATOUR, 2000). A tática embutida aqui é a da busca da imprescindibilidade social (LATOUR, 2000:197). Em outras palavras, da consolidação da rede de aliados: “A congregação de aliados desordenados e não- confiáveis vai, pois, sendo transformada lentamente em alguma coisa muito parecida com um todo organizado” (LATOUR, 2000:216). As estratégias para a construção de uma tal rede passavam, dentre outras coisas, pela circulação de palavras escritas em veículos legitimados e legitimadores, como revistas especializadas, anais de congressos e conferências e livros de autores reconhecidos. Os artigos dos líderes doutrinários da biotipologia, e de seus principais aliados, circularam intensamente pelas principais revistas da área. O próprio Nicolas Pende freqüentava com assiduidade tanto as páginas dos Anales de Biotipologia, Eugenesia e Medicina Social, dirigidos por Arturo Rossi, quanto as dos Arquivos de Medicina Legal e Identificação, cujo diretor era Leonídio Ribeiro. Mas por meio de tais revistas, também brasileiros e argentinos intercambiavam seus textos, sempre reverenciando a filiação à escola biotipológica e a suas teses centrais. Um levantamento da “permuta” de prefácios e de resenhas que os principais autores faziam entre suas obras pode fornecer, da mesma maneira, um mapa da circulação das idéias e da prática das mútuas legitimações: Pende escreveu o prólogo da edição italiana de Evolución de la sexualidad, de Gregorio Marañón, o principal difusor daquele na Espanha, que o retribuiu devidamente fazendo o mesmo com a primeira edição espanhola da obra Endocrinología, do médico italiano. (MARAÑÓN, 1975:165-7). Leonídio Ribeiro também contou com a boa vontade de Marañón, que prefaciou o seu Homossexualidade e endocrinologia (MARAÑÓN, 1975:169-178). Rossi, por sua vez, foi contemplado com um texto de Pende na apresentação de seu livro “Il diabete, patogenesi e terapia moderna”, prefácio devidamente reproduzido na revista sob sua direção (LA SECRETARÍA DE REDACCIÓN, 1934:2-3). Outra maneira de consolidar os laços e arregimentar as solidariedades se dava por meio das viagens. Arturo Rossi e Waldemar Berardinelli (ROSSI, 1937:20), por exemplo, realizaram visitas demoradas ao paradigmático Instituto de Biotipologia, dirigido e criado por Pende nas colinas de Gênova. O primeiro deles, e como derivação da sua experiência na Itália, quando do seu retorno criou a Asociación Argentina de Biotipología, Eugenesia y Medicina Social (VALLEJO, 2004:234). Mas antes de tudo isso, foi o próprio Pende que visitara a Argentina, onde proferiu um curso de aprofundamento em endocrinologia (idem). Já Berardinelli visitava com relativa freqüência o país vizinho, como por exemplo quando da inauguração da “Academia Americana de Endocrinologia y Felipe Farth Realce 28 Biotipología”, ocasião em que proferiu uma conferência acerca da biotipologia criminal, no início de 1938 (“EL Dr. Berardinelli entre nosotros”, 1938:4). Por outro lado, seu colega e conterrâneo, Leonídio Ribeiro, desembarcava em Turim em janeiro de 1935, para receber o Prêmio Lombroso referente ao ano de 1933 (CARRARA, 1935:V-VIII), a concessão do qual não deixava de ser em si mesma outra forma de fornecer legitimidades e estreitar relações. Por fim, ainda que sempre a título de exemplificação, devem ser mencionados os périplos que Gregorio Marañón realizou pela América Latina em 1927 e novamente dez anos depois, e que se tornaram acontecimentos para muito além do circuito científico atinente. Portanto, como já se intui, no que se refere à internacionalização da rede científica-institucional construída por meio da biotipologia, o estudo realizado permitiu identificar uma clara priorização de laços e intercâmbios entre a Itália, a Espanha, a Argentina e o Brasil. Que fosse assim também correspondia às próprias ideias eugênicas de Pende, voltadas a um conceito de “raça latina, responsável pelas maiores realizações culturais da humanidade” e subordinada a uma inconteste liderança italiana. Em um texto seu publicado na Argentina, o pai da biotipologia assim sintetizava suas ideias sobre o tema e vaticinava: A história então e a biotipologia das raças nos demonstram qual será o verdadeiro destino dos povos circum-mediterrâneos: aquele de reconstruir a unidade espiritual latina-mediterrânea, desde uma e outra desembocadura do grande mar, unidade mediterrânea que deve fazer resplandecer de uma luz novamente potente aquela primeira grande e poliédrica civilização que do Mediterrâneo oriental através de Grécia e Roma e de nosso Renascimento tem esclarecido em todos os tempos com seus grandes principios verdadeiramente humanos, vale dizer éticos, o caminho da humanidade (PENDE, 1935: 4). No entanto, a própria circulação das idéias em questão por esse universo as transformava algum tanto, por conta de deslocamentos não apenas de seus conteúdos e de suas ênfases, mas também dos seus “pontos de aplicação”. As teses pendianas da biotipologia humana recepcionadas na América Latina muitas vezes eram submetidas no meio do caminho ao influxo de sua manipulação por Gregorio Marañón, na Espanha, principalmente no que elas poderiam ser úteis na compreensão da gênese das “perversões sexuais” e na sua relação com o combate ao crime e ao ato antissocial. Sexo, gênero e endocrinologia Na Espanha, Marañón não apenas introduziu os ensinamentos biotipológicos de Pende, como foi o seu principal divulgador. O médico espanhol é um dos principais autores da “teoria da intersexualidade”, que sob sua interpretação trazia mobilizados os ensinamentos de Pende para a compreensão e tratamento dos desvios e perversões sexuais, consideradas assim as manifestações paradigmáticas da anormalidade endócrina. Foi a partir das teses de Marañón que a endocrinologia criminal proposta por Pende ganhou alguma imprescindibilidade científica e dessa forma maior presença cotidiana na busca da normalização social desde as instâncias médico-policiais do Estado. O principal trabalho de Marañón utilizado pelos médicos interessados no tema da biotipologia era La evolución de la sexualidad y los estados intersexuales, publicado em 1930 (MARAÑÓN, 1930). Na verdade, trata-se de uma segunda edição de Los estados intersexuales en la especie humana, de 1929 (MARAÑÓN, 1929). A definição dos chamados caracteres funcionais ali utilizada expressa claramente a atribuição de papéis sociais aos sexos que fazia Marañón. Como propriedades eminentemente femininas, estariam o instinto de maternidade e o cuidado direto da prole, a maior sensibilidade aos estímulos afetivos e menor disposição para o trabalho abstrato e criativo, menor aptidão para a impulsão motora ativa e para a resistência passiva, e voz de timbre agudo. Além de se caracterizar pelo oposto dessas propriedades, a “masculinidade”, por sua vez, poderia ser medida pela maior presença do instinto de atuação social, como expressão da “defesa do lar”. Várias questões culturais e ligadas ao comportamento resultavam assim determinadas pelo balanço hormonal. Portanto, se a maternidade seria a função sexual por excelência da mulher, o trabalho o seria para o homem (MARAÑON, 1929:56, grifo do autor). Consolidava-se, assim, enquanto formulação de fundo médico-biológico uma infinidade de clichês acerca da diferença entre os sexos, como a associação da racionalidade e da atitude ativa com o homem e da emoção e passividade com a mulher. Essas interpretações endocrinológicas dos papéis arquetípicos atribuídos aos gêneros não eram idiossincráticas dentroda escola biotipológica. Pende chamava a tireóide de “glândula da emoção”, e da “hiperfuncionalidade tireóide” feminina se poderia concluir que “nada é mais certo, desde o ponto de vista fisiológico, que o ditado „o homem pensa, a mulher sente‟” (PENDE, 1934:4). As secreções das glândulas sexuais ajudariam a reforçar tais diferenciações, conferindo ao homem “escassa emotividade, domínio de si mesmo, estabilidade psíquica, maior firmeza de inteligência, fazendo-o mais adaptável ao pensamento abstrato y mais independente. A mulher deve principalmente a esta 29 substância de origem sexual suas virtudes de ternura, de piedade, de abnegação, de doçura” (PENDE, 1934:6). Por conta de tais condicionamentos hormonais, o pensamento criador e o gênio artístico só poderiam ser características masculinas. Que algumas mulheres se tenham notabilizado nesses territórios a elas exóticos não constituía para Pende grande perturbação teórica: “É muito interessante o fato de que apresentavam atributos masculinos muitas das escassas mulheres de gênio com que conta a história” (idem). Para além da explicação da maior capacidade de ternura das mulheres, o balanço hormonal feminino justificava que, via de regra, sobre elas houvesse maior necessidade de vigilância. Isso porque a sua emotividade poderia implicar a falta de controle sobre o comportamento, e desvios de conduta e mesmo o crime poderiam ser o resultado. As secreções “exageradas e improvisadas da glândula tireóidea” poderiam provocar “emoções violentas de medo, de terror ou de cólera” (PENDE, 1934:4). E se o balanço endócrino feminino já seria por si mesmo causa de preocupação, mais ainda seriam as fases biológicas da vida da mulher que produziam natural e violentamente novos desequilíbrios hormonais. Desde a Argentina, Rossi e seus colegas refletiam assim sobre o tema: “Nas mulheres delinqüentes e nas prostitutas agressivas, costumam coincidir alguns atos puníveis com verdadeiras crises de ordem fisiológica, e que se referem sobretudo à puberdade, à menstruação, à gravidez e ao climatério (BOSCH; ROSSI; RODRIGUEZ, 1934:13). O descontrole emocional também caracterizaria os povos meridionais, e a explicação persistia biotipológica. Por essa via, Pende nos remete de volta a Marañón, sem deixar de fazer mais um exercício de aproximação entre corpo e espírito: Nos países meridionais, sobretudo ao largo das costas, por exemplo, nas de Sicilia e singularmente nas de Espanha, segundo a opinião do endocrinólogo de Madrid, meu amigo Marañón, é muito freqüente entre a população o tipo hipertiroideo, quer dizer, o tipo delgado, ágil de corpo e de mente, de pelos e sobrancelhas hirsutas, de ótima dentadura, de inteligência e sexualidade precoce, de grande emotividade e impulsividade, de inquietude motriz e cerebral; tipo meridional, que no que respeita ao delito, se caracteriza (…) pela tendência aos delitos passionais, impulsivos e sexuais, de forma bárbara, violenta, primitiva (PENDE, 1934:8). No Brasil, o grande difusor de Marañón foi Leonídio Ribeiro. Em 1938, o médico carioca publicava “Homossexualismo e endocrinologia”, livro prefaciado pelo próprio Marañón, como referido acima. Enquanto diretor da Revista Arquivos de Medicina Legal e Identificação, favoreceu ali o aparecimento recorrente de artigos do médico espanhol. Seu local de trabalho, dentro de um laboratório científico a serviço da polícia, permitiu-lhe “estudar” uma grande quantidade de delinqüentes, incluindo não poucos homossexuais, ou assim considerados. Em 1933, como já informado, foi agraciado com o Prêmio Lombroso, concedido pela Academia Real de Medicina Italiana, pela apresentação de um relatório de suas pesquisas científicas desenvolvidas no referido laboratório. Suas investigações, ali relatadas, tratavam de patologias da impressão digital, dos tipos sangüíneos dos índios guaranis, dos biotipos criminais afro-brasileiros e das relações entre a homossexualidade masculina e o mau funcionamento endócrino (LOMBROSO-FERRERO; ROMANESE; CARRARA, 1934:VII- IX). Para este último tema, Ribeiro realizou estudos em 195 homossexuais que foram colocados a sua disposição pelos cárceres da polícia do Rio de Janeiro. Esse estudo, de alguma forma, se tornou um padrão para outros legistas dedicados ao tema. Dessa forma, a acolhida que a medicina legal e a criminologia deram às idéias de Marañón acerca do tema da sexualidade permitiu o enriquecimento do repertório e do acervo teórico para a tarefa de identificação e enquadramento do indivíduo “anormal”. Extraído da publicação de LUIS ANTONIO COELHO FERLA. 30 ANTROPOLOGIA FORENSE É a área científica que estuda os restos mortais. Resulta da aplicação de conhecimentos de Antropologia às questões de direito no que diz respeito à identificação de restos cadavéricos (necroidentificação). Através dos ossos, podemos obter dados sobre o sexo, idade, estatura do falecido e pormenores da vida que a pessoa teve (hábitos alimentares, algumas doenças, lesões, etc.) É a aplicação prática de conhecimentos científicos básicos como a anatomia, fisiologia, bioquímica, patologia, tanatologia e criminalística, etc., no estudo analítico do corpo humano completo ou despojos, visando a identificação antropológica, a identidade civil, data e causa provável da morte. A pesquisa antropológica nos permite reconhecer, ou seja, conhecer de novo, afirmar, admitir como certo a identidade antropológica (pela antropometria); e a identidade civil em razão de informações peculiares e imutáveis que caracterizam cada indivíduo (arcada dentária, papiloscopia, DNA, íris). ANTROPOLOGIA FORENSE “Apesar de todos os humanos adultos terem os mesmos 206 ossos, não existem dois esqueletos iguais”. DOUTRINA CONSTITUCIONALISTA (BERARDINELLI, 1942) 1. Todos os indivíduos são diferentes, não há duas pessoas iguais. 2. O mesmo indivíduo é diferente de si mesmo a cada momento – momentos condicionais. 3. As diferenças individuais obedecem a determinadas leis. 4. O indivíduo é uma unidade, havendo indissolúvel correlação entre suas diversas partes e funções. 5. Dentro das diferenças há semelhanças que permitem agrupar os indivíduos em tipos. 6. O conhecimento do indivíduo normal deve preceder e servir de base ao estudo do indivíduo patológico. 7. Na gênese das doenças, as reações individuais têm importância igual ou superior às causas externas. ETAPAS DA IDENTIFICAÇÃO 1º etapa- Arqueologia forense. É feita uma escavação minuciosa do local onde se encontra o corpo. 2º etapa- Antropologia social. Consiste na coleta de informações ao redor da área do crime (entrevistas às pessoas da região, consulta em arquivos municipais, eclesiásticos e militares, etc.) 3º etapa- Investigação laboratorial. Há uma aplicação de técnicas como a osteologia humana (área que se debruça sobre o estudo dos ossos que compõe o esqueleto), paleopatologia (ramo da ciência que se dedica ao estudo das doenças do passado) e tafonomia (estudo sistemático da evolução de fósseis).Pode ainda ser feita uma reconstrução facial do cadáver e superposição fotográfica. EXAME DE INDIVÍDUO VIVO OU CADÁVER IDENTIDADE É o conjunto de caracteres físicos, funcionais ou psíquicos, normais ou patológicos, que individualizam determinada pessoa. Ernani Simas Alves (1965) IDENTIFICAÇÃO 4 Identificação Craniométrica: Estimativa de Sexo, Estatura, Idade, Fenótipo, Cor da Pele, por meio do Estudo do Crânio Prof. Dr. Wagner Luiz Heleno Bertolini31 Conjunto de procedimentos diversos para individualizar uma pessoa ou objeto. RECONHECIMENTO X IDENTIFICAÇÃO Reconhecimento é a identificação empírica. Identificação é o reconhecimento científico. IDENTIFICAÇÃO IDENTIFICAÇÃO GENÉRICA: Compreende a determinação da espécie, raça, sexo, idade, estatura etc. IDENTIFICAÇÃO ESPECÍFICA: Compreende a pesquisa de tudo aquilo que passa individualizar o examinado; cicatrizes, tatuagens, sinais profissionais, mutilações etc. PRINCIPIOS DA IDENTIFICAÇÃO: Unicidade Imutabilidade Perenidade Praticabilidade Classificabilidade IDENTIFICAÇÃO - MÉTODOS SIMPLES Cédulas de identidade ou registros. Fotografias. Testemunhas. Retrato falado. Vídeo. Sinais individuais. IDENTIFICAÇÃO - MÉTODOS COMPLEXOS Estudo Antropológico (antropometria) Métodos laboratoriais, químico/físicos. DNA – cabelo, secreções, manchas e etc. Superposição de imagens. Estudos de pontos Datiloscopia (papiloscopia) Arcada dentária Íris IDENTIFICAÇÃO ODONTOLEGAL Documentação produzida em função de atendimento odontológico: prontuário odontológico, radiografias, modelos de gesso, fotografias. Por se tratar de uma metodologia comparativa, é dividida em três etapas: exame dos arcos dentais do cadáver, exame da documentação odontológica e confronto odontolegal. IDENTIFICAÇÃO Em ambas as situações, vivos e mortos, se pode investigar: -averiguação da identidade de criminosos e alienados -averiguação da idade verdadeira -averiguação da paternidade -averiguação da maternidade -averiguação de consangüinidade -averiguação do sexo ASPECTO DO OSSO INUMADO Observações Tempo de morte Ossos recobertos de mofo 2 a 4 anos 32 Canal medular enegrecido 6 a 8 anos Ausência de cartilagens e ligamentos mais de 5 anos Desaparecimento das graxas dos ossos 5 a 10 anos Canal medular branco como a superfície mais de 10 anos Persistência de restos de polpa dentária até 14 anos Desaparecimento completo da polpa 16 a 20 anos Desaparecimento dos canais de Havers mais de 20 anos Osso quebradiço, frágil, superfície porosa mais de 50 anos MÉTODOS ANTROPOMÉTRICOS (estudo das dimensões das diversas partes do corpo humano) Bertillon (bertillonage) Geométrico de Matheios Odontológico de Amoedo Otométrico de Frigério MÉTODOS ANTROPOGRÁFICOS (estudo da anatomia do corpo humano) Craniográfico de Anfosso Onfalográfico de Bert e Viamay Flebográfico de Ameuille Radiográfico de Levinsohn Oftalmoscópico de Levinsohn EXAME DE DNA Pode ser realizado em qualquer tecido ou líquido orgânico. A identificação pelo DNA tornou obsoleta quaisquer outras técnicas prévias. MÉTODOS DERMOPAPILOSCÓPICOS Impressões digitais Impressões palmares Impressões plantares Poroscopia DACTILOSCOPIA A polpa dos dedos, a palma das mãos e as plantas dos pés têm linhas e saliências papilares de disposição variável. Estes desenhos aparecem em torno do 6º mês de vida intra-uterina, permanecem durante toda a vida do indivíduo, e continuam até algum tempo após a morte, quando são eliminados pelo fenômeno putrefativo, diferindo gêmeos univitelinos. IDENTIFICAÇÃO DO SEXO Depois da bacia, o crânio ocupa o segundo lugar. Utilizando dados objetivos (dimensões dos côndilos occipitais) e cálculos matemáticos relativamente simples, é possível obter valores de discriminação do dimorfismo sexual superiores a 90 %. IDADE A avaliação da idade dentária pode ser realizada mediante exames direto e indireto. Exame direto: É feito por meio de exame clínico, onde se verificará o número de dentes irrompidos, seqüência eruptiva, e estado geral dos elementos dentários ( cáries, exodontias, desgastes etc.) 33 Exame indireto: É feito pela análise de radiografias intra e extrabucais. Nesse tipo de exame é possível avaliar os itens constantes do exame direto e, principalmente, aqueles relacionados à mineralização dentária. Mineralização Técnica de Gustafsson A técnica baseia-se na utilização de dentes monorradiculares, quando são analisados seis pontos, a saber: A- Desgaste da superfície de oclusão; P- Periodontose; S- Desenvolvimento de dentina secundária no interior da cavidade pulpar; C- Deposição de cemento da raiz; R- Reabsorção da raiz; T- Transparência do ápice da raiz. Segundo Gustafsson, cada uma dessas observações, recebera notas de 0 a 3. Assim: A0 – ausência de desgaste; A1 – desgaste leve; A2 – desgaste que atinge a dentina; A3 – desgaste que atinge a polpa. P0 – ausência de periodontose; P1- inicio de periodontose; P2 – atinge mais de um terço da raiz; P3 – atinge mais de dois terços. S0 – ausência de dentina secundaria S1 – inicio de formação de dentina secundaria; S2 – dentina secundaria preenche metade da cavidade pulpar; S3 – dentina secundaria preenche quase completamente a cavidade pulpar. C0 – apenas o cemento natural; C1 – deposito de cemento maior que o normal; C2 – grande camada de cemento; C3 – abundante camada de cemento. T0- Ausência de transparência; T1- Transparência visível; T2- Transparência que atinge um terço da raiz; T3- Transparência que atinge dois terço da raiz. R0- Inexistência de reabsorção; R1- Pequena reabsorção; R2- Grau mais adiantado de reabsorção; R3- Grande área de reabsorção. Após a observação de cada um dos seis fenômenos preconizados, procede-se ao somatório dos pontos: An + Pn + Sn + Cn + Rn + Tn = soma dos pontos Obtido o somatório dos pontos, localiza-se no gráfico os valores correspondentes à idade fisiológica MODO E CAUSA DA MORTE A determinação da causa da morte é relativamente fácil quando o cadáver ainda apresenta toda a sua estrutura de tecidos, músculos e carne. Técnicas como raio‐x são de máxima importância nestes processos, e neste caso toda uma gama de características de interesse são exaltadas, como lesões ósseas, restos de metais, dentes serrados ou fragmentos de balas. 34 DADOS SOMATOSCÓPICOS COR DA PELE Melanina Epiderme (mais espessa, menos espessa) Sangue circulante (circulação periférica) Influência da luz solar ( qtdade melanina) DIFERENTES TONALIDADES DETERMINAÇÃO DA COR DA PELE ESCALA DE VON LUSCHMAN (escala cromática) Sempre usar duas tonalidades, uma mais clara e outra mais escura. Usar área protegida pelas vestes. DETERMINAÇÃO DA COR DA PELE POPULAÇÃO BRASILEIRA Brancos ou leucodermas Negros ou melanodermas Mulatos ou faiodermas Mamelucos (branco + índio) Cafuzo (negro + índio) PERÍCIA DE PÊLOS IMPORTÂNCIA MÉDICO-LEGAL Extrema resistência aos agentes químicos, inclusive ácidos concentrados Solubilidade em substâncias alcalinas concentradas (soda, potassa) Descorabilidade pelos oxidantes como cloro, acido clórico, bromo, água oxigenada, acido paracético. PÊLOS HOMEM # ANIMAIS Cilíndricos, flexíveis, colorido homogêneo Histologicamente, cutícula muito fina, córtex preponderante, medula nem sempre visível. BIOTIPOLOGIA Biótipo= tipo morfológico + temperamento INDIVIDUALIDADE FÍSICA INDIVIDUALIDADE PSÍQUICA BIÓTIPOS CORPORAIS NORMOLÍNEO BREVILÍNEO LONGILÍNEO O QUE É NORMAL???? VÁRIOS MÉTODOS ESTATÍSTICOS DETERMINAM. CLASSIFICAÇÃO DE BARBARA Determinação do biótipo craniofacial. Analisa desvios de medidas entre o crânio cerebral e o crânio visceral e classifica os indivíduos. ODONTOLEGISTA Pesquisa os dentes,
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