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GINECOLOGIA IST's ulcerativas . SÍFILIS . ● O termo ‘sífilis’ originou-se de um poema, com 1.300 versos, escrito em 1530 pelo médico e poeta Girolamo Fracastoro em seu livro intitulado “Syphilis Sive Morbus Gallicus''. ● É causado pelo agente etiológico Treponema pallidum, que foi descoberto somente em 1905. ● É uma infecção bacteriana sistêmica de evolução lenta, crônica, curável e exclusiva do ser humano. ● Quando não é tratada, evolui para estágios de gravidade variada, podendo acometer diversos órgãos e sistemas do organismo. TRANSMISSÃO: ● A transmissão é por meio do contato sexual, mas também pode ser transmitida de forma vertical. ● Ela é maior nos estágios iniciais (primária e secundária), diminuindo sua transmissão ao passar do tempo (latente/tardia) e isso explica-se pela maior riqueza de treponemas nas lesões, comuns na sífilis primária (cancro duro) e na secundária (lesões muco-cutâneas). ● Em gestantes, a taxa de transmissão para o feto é de 80%. FASES DA SÍFILIS: ● A sífilis é classificada em (A) recente (primária, secundária e latente recente) com 1 ano de evolução e (B) tardia (latente tardia e terciária) com mais de 1 ano de evolução. ● SÍFILIS PRIMÁRIA: ● Após a infecção, o período de incubação é de 10 a 90 dias. ● O primeiro sintoma é o aparecimento de uma lesão única no local de entrada da bactéria (Cancro duro ou protossifiloma). ● Essa lesão é uma úlcera com borda bem definida e regular, base endurecida e fundo limpo, é indolor e ocorre no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, anus ou boca). ● A lesão se cura espontaneamente em até 2 semanas e o fato de ser indolor dificulta o diagnóstico e a detecção nessa fase inicial, já que, em geral, o paciente não tem queixa. ● SÍFILIS SECUNDÁRIA: ● Ocorre em média entre 6 semanas a 3 meses após a cicatrização do cancro, ainda que manifestações iniciais recorrentes do secundarismo possam ocorrer em alguns casos dentro de até 1 ano. ● Inicialmente, apresenta-se uma erupção macular eritematosa pouco visível (roséola), ocorrendo principalmente no tronco ou na raiz de membros. ● As lesões cutâneas progridem para lesões mais evidentes, papulosas eritemato acastanhadas, que podem atingir todo o tegumento, sendo mais frequente nas genitais. ● Habitualmente, podem atingir também a região palmar ou plantar, com um colarinho de escamação característico e não pruriginosa. ● Toda erupção sem causa determinada deve ser investigada com testes para sífilis. ● SÍFILIS LATENTE: ● Período em que não se observa nenhum sinal e sintoma, sendo que o diagnóstico é feito pelos testes. ● A maioria dos diagnósticos ocorre nesse período por reatividade do teste, sem pretensões. ● SÍFILIS TERCIÁRIA: ● Ocorre aproximadamente em 15 a 25% das infecções não tratadas, após um período variável de latência, podendo surgir entre 1 e 40 anos depois do início da infecção. ● A inflamação causada pela sífilis nesse estágio provoca destruição tecidual. ● É comum o acometimento do sistema nervoso e cardiovascular. DIAGNÓSTICO: ● EXAMES DIRETOS: Os exames diretos de sífilis representam a pesquisa e a detecção do T pallidum em amostras coletadas diretamente das lesões, sendo necessário a presença de lesões primárias ou secundárias. ● O exame mais comum é o de campo escuro, que possui alta sensibilidade e especificidade. Ele depende da experiência do técnico, mas é um teste eficiente e de baixo custo para diagnóstico direto de sífilis. ● Tem também a pesquisa direta com material corado, que é menos utilizado. ● Apesar da grande importância dos exames diretos, muitas vezes o paciente não tem a presença das lesões primárias ou secundárias necessárias para o diagnóstico com esses testes. ● TESTES IMUNOLÓGICOS: os testes imunológicos são os mais utilizados na prática clínica. Caracterizam-se pela realização da pesquisa de anticorpos em amostras de sangue total, soro ou plasma. Eles podem ser treponêmicos ou não-treponêmicos. ● TESTES TREPONÊMICOS: são testes que detectam anticorpos específicos produzidos contra os antígenos do Treponema e são os primeiros a se tornar reagentes. Eles podem ser utilizados como primeiro teste ou teste complementar. ● Dentre eles, tem-se o teste rápido (o mais utilizado), testes de hemaglutinação, teste de imunofluorescência indireta (FTA-abs) e ensaios imunoenzimáticos (ELISA). ● TESTES NÃO-TREPONÊMICOS: VDRL e RPR detectam anticorpos anticardiolipina não específicos para os antígenos do T. pallidum. ● São utilizados para o diagnóstico (como primeiro teste ou teste complementar) mas também são muito usados para o monitoramento da resposta ao tratamento e controle de cura. ● OBS: os anticorpos anticardiolipinas podem estar presentes em outras doenças, ou seja, ainda que raro, pode acontecer. INTERPRETAÇÃO DOS TESTES IMUNOLÓGICOS E CONDUTAS: TESTE TREPONÊMICO TESTE NÃO TREPONÊMICO REAGENTE + REAGENTE ● Diagnóstico de sífilis ● Importante avaliar a possibilidade de cicatriz sorológica: tratamento anterior documentado com queda da titulação em pelo menos 2 diluições. ● Quando sífilis, tratar, realizar monitoramento com teste não treponêmico e notificar. ● Caso confirmada cicatriz sorológica, apenas orientar. TESTE TREPONÊMICO TESTE NÃO TREPONÊMICO REAGENTE + NÃO REAGENTE ● Realiza-se um terceiro teste treponêmico com metodologia diferente do primeiro. ● Se reagente = diagnóstico de sífilis ● Se não reagente = não é sífilis ● Se não tiver terceiro teste disponível, avaliar a exposição de risco, sinais e sintomas e histórico de tratamento para definição de conduta TESTE TREPONÊMICO TESTE NÃO TREPONÊMICO NÃO REAGENTE + NÃO REAGENTE ● Não é nem necessário realizar teste complementar se o primeiro for não reagente e não houver nenhuma suspeita clínica. ● Representa uma ausência de infecção ou período de incubação (janela imunológica). ● Em caso de suspeita clínica, solicitar uma nova coleta de amostra em 30 dias. TRATAMENTO: ● Devido ao cenário epidemiológico atual, recomenda-se tratamento imediato com benzilpenicilina benzatina, após apenas 1 teste reagente para sífilis (seja treponêmico ou não-treponêmico), sobretudo em casos como: ● Gravidez; ● Vítima de violência sexual; ● Pessoas com sinais e sintomas de sífilis Primária/secundária; ● Pessoas com perda de seguimento; ● Pessoas sem diagnóstico prévio de sífilis. ● Mesmo com o tratamento iniciado, não é excluída a necessidade de um segundo teste, além do monitoramento laboratorial e o tratamento dos parceiros sexuais. ● SÍFILIS RECENTE: na sífilis com até 1 ano de evolução, utiliza-se Benzilpenicilina benzatina 24.000 UI, IM, dose única (1.200 UI em cada nádega). ● Em casos de alergia, utiliza-se Doxiciclina 100mg, 12/12 horas, VO, por 15 dias. ● No caso de gestantes, utiliza-se 3 doses. ● No seguimento, é feito teste não treponêmico (VDRL) trimestral, de modo que em gestantes deve ser mensal. ● SÍFILIS TARDIA: na sífilis tardia latente ou terciária, utiliza-se o mesmo tratamento porém a dose total proposta é de 72.000 UI, sendo administrada 24.000 UI por semana, no total de 3 semanas. ● A doxiciclina é utilizada na mesma composição, porém durante 30 dias. ● O segmento é o mesmo da sífilis recente. MONITORAMENTO: ● O monitoramento é fundamental para classificar a resposta ao tratamento, identificar possível reinfecção e definir a conduta para cada caso. ● No monitoramento, o ideal é solicitar o VDRL após o tratamento e ele vir como não reagente ou com queda na titulação em até 2 diluições durante 6 meses em sífilis recentes ou em até 12 meses em sífilis tardias. ● No caso de não ocorrer redução de titulação em 2 diluições no intervalo de 6 meses (sífilis recente) ou 12 meses (sífilis tardia) ou ocorrer aumento da titulação em 2 diluições ou recorrência de sinais e sintomas clínicos, deve-se avaliar a possibilidade de tratar novamente. ● OBS: A persistência dos resultados reagentes que acontecem em VDRL mesmo depois do tratamento adequadoe da queda de 2 diluições na titulação é denominado de cicatriz sorológica, quando é descartada nova exposição. Não caracteriza falha na terapêutica. . HERPES GENITAL . ● O HSV-1 e HSV-2 provocam lesões ulcerosas em qualquer parte do corpo com predomínio do 1 na região genital e do 2 nas lesões periorais. ● Período de incubação de 6 dias. QUADRO CLÍNICO: ● São caracterizadas pelo surgimento de lesões eritemato-papulosas de 1 a 3 mm de diâmetro, que evoluem rapidamente para vesículas sobre base eritematosa, muito dolorosas e de localização variável na região genital. ● O conteúdo dessas vesículas é geralmente citrino, raramente turvo. ● Pode ser acompanhado de manifestações gerais. ● Linfonodomegalia inguinal dolorosa bilateral está presente em 50% dos casos. ● Após a infecção genital, o HSV ascende pelos nervos periféricos sensoriais, penetra nos núcleos dos gânglios das células sensitivas e entra em um estado de latência. ● Por conta da persistência do vírus no organismo, é comum o desenvolvimento de novos episódios por reativação viral no período de 12 meses. Isso pode ser desencadeado por quadros infecciosos, exposição à radiação ultravioleta, traumatismos locais, menstruação, estresse físico ou emocional, antibioticoterapia prolongada e/ou imunodeficiência. ● O quadro clinico das recorrências pode ser precedido de coceira, queimação, mialgia e “fisgados” nas pernas, quadris e região anal. ● Apresentam-se como vesículas agrupadas sobre base eritematosa, que evoluem para pequenas úlceras arredondadas ou policíclicas. As lesões têm regressão espontânea em sete a dez dias, com ou sem cicatriz. ● A tendência natural dos surtos é se tornarem menos intensos e frequentes com o passar do tempo. TRATAMENTO: ● Aciclovir 200mg, 2 comprimidos, VO, 3x/dia, por 7-10 dias. ● Aciclovir 200mg, 1 comprimido, VO, 5x/dia (7h, 11h, 15h, 19h, 23h), por 7-10 dias. ● Iniciar o tratamento o mais precocemente possível. ● O tratamento pode ser prolongado se a cicatrização estiver incompleta após 10 dias de terapia. ● Em caso de recidiva: Aciclovir 200mg, 2 comprimidos, VO, 3x/dia, por 5 dias. ● Nas gestantes, é fundamental o tratamento. ● O tratamento local pode ser feito com compressas de solução fisiológica para higienização das lesões. ● Anagésicos orais podem ser utilizados, se necessário. ● É recomendado o retorno em uma semana para reavaliação das lesões. ● É importante mencionar que não há associação entre herpes simples genital e câncer. ● Também é importante tratar o parceiro. . CANCRÓIDE . ● É conhecido como cancro mole, cancro venéreo ou cancro de Ducrey. ● É causado pelo Haemophilus ducreyi. ● O período de incubação é de 3 a 5 dias, podendo se estender até 2 semanas. ● O risco de infecção pelo ato sexual é de 80%. ● Acredita-se que a infecção ocorra devido às múltiplas microabrasões epidérmicas durante o coito. QUADRO CLÍNICO: ● As lesões são dolorosas e múltiplas, com bordas irregulares. Apresentam contornos eritemato- edematosos e fundo heterogêneo, recoberto por exsudato necrótico, amarelado, com odor fétido que, quando removido, revela tecido de granulação com sangramento fácil. ● Geralmente, se localizam na fúrcula e face interna dos pequenos e grandes lábios. ● Em 30 a 50% das pacientes, a bactéria atinge os linfonodos inguino-crurais, formando o bubão, em que se tem tumefação sólida e dolorosa, evoluindo para liquefação e fistulização em 50% dos casos, tipicamente por orifício único. DIAGNÓSTICO: ● EXAME FÍSICO: O achado de úlcera dolorosa com adenopatia inguinal dolorosa é bastante sugestivo, sobretudo quando evolui para supuração. ● MICROSCOPIA DE MATERIAL CORADO: analisando o material corado pela técnica de coloração de Gram, é possível a visualização de bacilos gram-negativo típicos, de tamanho pequeno, agrupados em correntes do tipo “cardume de peixes” em material coletado das úlceras genitais. ● Na coleta do material biológico, tem-se a coleta do exsudato seroso da base da lesão, livre de outros eritrócitos, outros organismos ou restos de tecidos . ● O diagnóstico presuntivo de cancro mole é definido pela presença de uma ou mais lesões ulceradas, ausência de evidências do Treponema pallidum em exame de campo escuro ou teste sorológico, aspecto da úlcera e da linfadenopatia regional com características cancroides e teste negativo para herpes vírus na lesão ulcerada. TRATAMENTO: ● Azitromicina 500mg, 2 comprimidos, VO, dose única. ● O tratamento deve ser acompanhado com medidas locais de higiene. ● É importante também tratar os parceiros sexuais, mesmo assintomáticos. . LINFOGRANULOMA VENÉREO (LGV) . ● É também conhecido como mula, bubão climático ou linfogranuloma inguinal. ● É causado pela Chlamydia trachomatis, sorotipos L1, L2, L3. ● A manifestação clínica mais comum é a linfadenopatia inguinal e/ou femoral, já que esses sorotipos são altamente invasivos aos tecidos linfáticos. ● O período de incubação é de 3 a 21 dias. ● É uma doença sistêmica e crônica, cujos principais efeitos resultam em dano ao sistema linfático de drenagem da infecção. FASES: ● FASE DE INOCULAÇÃO: inicia-se por uma pápula, pústula ou ulceração indolor que desaparece sem deixar sequela e muitas vezes, pode nem ser notada pelo paciente. ● A lesão geralmente fica localizada na parede vaginal posterior, no colo uterino e em outras partes da genitália externa. ● FASE DE LINFÁTICA REGIONAL: na mulher, a localização da adenopatia depende do local da lesão de inoculação. ● A adenite pode evoluir em nódulos inguinais superficiais dolorosos ou bubões, que frequentemente rompem a pele com exsudação de descarga purulenta. ● A fistulização é por orifícios múltiplos (bico de regador), sendo característico. ● FASE DE SEQUELAS: marcada pela obstrução linfática crônica, responsável pelo edema característico da genitália externa. ● A lesão na região anal pode levar a proctite e proctocolite hemorrágica. ● O contato orogenital pode causar glossite ulcerativa difusa, com linfadenopatia regional. ● Podem ocorrer sintomas gerais, como febre, mal estar, anorexia, emagrecimento, sudorese noturna, artralgia e meningismo. DIAGNÓSTICO: ● O diagnóstico deve ser considerado em todos os casos de adenite inguinal, elefantíase genital e estenose uretral ou retal. ● Pode ser feito o teste ELISA (demora 4 semanas para ter ac no sangue), PCR, exame histopatológico ou cultura (utilizando o meio de McCoy). ● Na prática clínica, o diagnóstico específico é feito após exclusão de cancróide e sífilis. TRATAMENTO: ● Doxiciclina 100mg, VO, 1 comprimido, 2x dia, durante 21 dias. ● Uma alternativa, preferencial para gestantes, é a Azitromicina 500mg, 2 comprimidos, VO, 1x por semana por 21 dias. . DONOVANOSE . ● É uma IST crônica e progressiva, causada pela bactéria Klebsiella granulomatis. ● É conhecida também como granuloma inguinal, venéreo, tropical, contagioso ou esclerosante. ● Apresenta baixo contágio e acomete a pele, mucosas das regiões genitais, perianais e inguinais. ● O período de incubação varia de 30 dias a 6 meses (em média de cinquenta dias). TRANSMISSÃO: ● Especula-se que sua transmissão não seja feita somente pelo ato sexual, mas também por via fecal e auto inoculação. QUADRO: ● O quadro clínico inicia-se com ulceração de borda plana ou hipertrófica bem delimitada, com fundo granuloso de aspecto vermelho vivo e com sangramento fácil. ● A ulceração evolui lenta e progressivamente, podendo tornar-se vegetante ou ulcerovegetante. ● As lesões costumam ser múltiplas, sendo frequente a configuração em “espelho” nas bordas cutâneas e/ou mucosas. DIAGNÓSTICO: ● O diagnóstico é realizado por meio da identificação dos corpúsculos de Donovan, em esfregaço com coloração de Giemsa ou histopatológico. TRATAMENTO: ● Azitromicina 500mg, 2 comprimidos, VO, 1x por semana por pelo menos 3 semanas ou até a cicatrização das lesões. ● Devido à baixa infectividade, não é necessário tratar o parceiro.
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