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e-Book 2 Flávio Pajanian PESQUISA EM EDUCAÇÃO FÍSICA Sumário INTRODUÇÃO ������������������������������������������������� 3 PESQUISA DE CAMPO VERSUS PESQUISAS TEÓRICAS EM EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE ����������������������������������������� 4 PESQUISA TEÓRICA VERSUS PESQUISA DE CAMPO ��������� 5 PESQUISA CIENTÍFICA EM EDUCAÇÃO FÍSICA E ES- PORTES �������������������������������������������������������������������������������� 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & CONSULTADAS ��������������������������������������������27 3 INTRODUÇÃO Independentemente do nível, o trabalho do pesqui- sador depende de muita dedicação, muito estudo e uma boa dose de comprometimento com o pro- cesso de pesquisa� Assim, é essencial conhecer as características de cada tipo de trabalho, bem como escolher o tipo de pesquisa mais adequado aos objetivos de cada estudo� Neste módulo, falaremos especificamente sobre a pesquisa em educação física e esportes� Com isso, conheceremos os principais tipos de trabalhos acadêmicos, suas características e peculiaridades� Por fim, diferenciaremos as pesquisas teóricas das pesquisas de campo, além de explorar as características dos tipos de pesquisa mais utili- zados na área� 44 PESQUISA DE CAMPO VERSUS PESQUISAS TEÓRICAS EM EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE Para cada objetivo, tipo de fenômeno estudado, foco e perfil do pesquisador, podemos selecionar um tipo diferente de pesquisa� Pelo fato de a edu- cação física ser um campo bastante fértil para estudos científicos, pois possibilita diferentes abordagens, podemos utilizar os diferentes tipos de pesquisa que produzem os mais variados re- sultados, cabendo ao pesquisador selecionar o que for mais adequado às suas necessidades e particularidades do estudo� Antes de detalhar os tipos de pesquisa mais utili- zados na educação física e esportes, é importante tecer algumas considerações� Muitas são as pos- sibilidades de estudo nessa área� Podemos, por exemplo, conduzir pesquisas por meio do método quantitativo, do método qualitativo ou métodos mistos� Sendo assim, passemos às diferenças entre pesquisa teórica e pesquisa de campo� 55 PESQUISA TEÓRICA VERSUS PESQUISA DE CAMPO Considerando a conceituação mais básica, a pes- quisa científica pode ser dividida em pesquisa pura e pesquisa aplicada� Cervo, Bervian e Silva (2007) assim definem ambos os tipos: na pesquisa pura ou básica, o pesquisador tem como meta o saber, buscando satisfazer uma necessidade intelectual por meio do conhecimento; na pesquisa aplicada, o investigador é movido pela necessidade de con- tribuir para fins práticos mais ou menos imediatos, buscando soluções para problemas concretos� São, portanto, pesquisas que não se excluem nem se opõem� Os autores ainda salientam: “Ambas são indispensá- veis para o progresso das ciências e do ser humano: uma delas busca a atualização de conhecimentos para uma nova tomada de posição, enquanto a outra pretende, além disso, transformar em ação concreta os resultados de seu trabalho” (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007, p� 72)� A partir desse conceito mais amplo, desdobram-se os tipos de pesquisa que se adequam às mais variadas perspectivas, dimensões e abordagens dos estudos acadêmicos� Nessa perspectiva, Cervo, Bervian e Silva (2007) agrupam os diferentes tipos de pesquisa em três 66 importantes grupos: (i) pesquisa bibliográfica, (ii) pesquisa descritiva e (iii) pesquisa experimental� Assim, podemos considerar os estudos que compõem o grupo da pesquisa bibliográfica como teóricas, e aqueles que compõem o grupo das pesquisas descritivas e experimentais, pesquisas de campo� Apesar de uma aparente relação de oposição, as pesquisas teórica e de campo (ou pesquisa empírica) têm entre si uma relação muito mais de complementaridade� A pesquisa teórica permite discutir e/ou funda- mentar a teoria, além de questionar pressupostos, proposições e hipóteses, visando à sua confirmação ou refutação� Em algumas áreas do conhecimento, são bastante comuns as pesquisas puramente teóricas, em que não há necessidade de comprovação prática do fenômeno estudado� Contudo, em outras áreas, a comprovação empírica fortalece a sustentação da teoria, pois a coloca à prova por meio do estudo de fenômenos concretos� Na pesquisa empírica ou de campo, recorre-se aos métodos que se mostram mais adequados ao caso/objeto de estudo� De antemão, objetiva-se a comprovação do fenômeno observado por meio da 77 coleta de dados em campo, seja por observação ou experimentação� Embora a pesquisa empírica seja muito importante para a validação e comprovação da teoria, ela não é autossuficiente, como ocorre com a pesquisa teórica, pois é imprescindível que haja uma funda- mentação teórica capaz de legitimar tantos os dados coletados quanto os resultados dos experimentos� Assim, torna-se capaz de comprovar na prática o que se fundamenta na teoria, bem como contribui para a sistematização da teoria em questão� Além disso, é preciso recordar que Cervo, Bervian e Silva (2007) agrupam os diferentes tipos de pesquisa em três importantes grupos: a bibliográ- fica, a descritiva e a experimental. Encontramos, ainda, nesse grupo, os seminários de estudos e a pesquisa exploratória: y Pesquisa bibliográfica: é realizada a partir de uma profunda consulta à base de dados de pes- quisas sobre o tema, anteriormente realizadas e publicadas como artigos, livros, dissertações, teses, entre outros� Pode ser realizada isoladamente, quando demanda as etapas do trabalho científi- co, ou como uma parte de outras pesquisas do tipo descritiva ou experimental, visando a coletar achados prévios sobre um determinado problema ou fenômeno� 88 y Pesquisa descritiva: é realizada a observação do fenômeno no ambiente natural onde ocorre, para então registrá-lo, analisá-lo e correlacioná-lo a outros fenômenos ou fatos sem, no entanto, mani- pulá-los� Entre as formas que a pesquisa descritiva pode assumir, citamos os estudos descritivos, as pesquisas de opinião e de motivação, os estudos de caso e as pesquisas documentais� y Pesquisa experimental: neste tipo, ocorre a manipulação direta das variáveis relacionadas ao fenômeno estudado, a fim de possibilitar a investigação das relações entre causas e efeitos� Diferentemente da pesquisa descritiva, na qual ocorrem a observação, classificação e interpreta- ção dos fenômenos, “na pesquisa experimental, procura-se explicar como ou por que o fenômeno ocorre” (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007, p� 75)� y Seminário de estudos: método frequentemente utilizado como recurso de aprendizagem e avaliação em cursos superiores (graduação e pós-graduação)� Também pode ser organizado em eventos acadêmi- cos e, normalmente, conta com uma apresentação do pesquisador para uma plateia com interesse geral na área e específico na linha de pesquisa. O pesquisador introduz o assunto em sua fala e a plateia é convidada a participar da discussão, por meio de colocações e perguntas direcionadas� Ao final, deve-se produzir um relatório conclusivo, mas não definitivo, sobre o trabalho apresentado, que 99 pode ou não ser submetido às considerações dos participantes� Segundo Cervo, Bervian e Silva (2007, p� 76), são três as finalidades do seminário de estudos: � Transmitir informações extraídas de uma investigação científica, visando a atualizar conhe- cimentos sobre uma determinada área ou tema, divulgar novas conquistas da ciência e apontar novos caminhos para a investigação� � Discutir informações e promover a reflexão so- bre o tema exposto, a partir dos questionamentos e provocações do público expectador� � Extrair conclusões de ordem metodológicas, cognoscitivas ou de ordem prática� y Pesquisa exploratória: está relacionada aos primeiros passos de outras pesquisas e objetiva aprofundar os conhecimentos sobre um determinado fenômeno, a partir de levantamento bibliográfico, pessoas que tenhamtido contato com o fenôme- no estudado ou análise de outros estudos sobre o mesmo tema� Ainda, a pesquisa exploratória possibilita investigar abordagens diferentes sobre o mesmo tema, bem como auxilia na formulação de hipóteses� 1010 PESQUISA CIENTÍFICA EM EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES Pesquisa histórica Antes de nos aprofundar na pesquisa histórica, analise a definição a seguir: História é o exame e a explicação sistemáticos das mudanças, ou da falta delas, ocorridas ao longo do tempo nas relações humanas� Em nossa área, o termo relações humanas significa praticamente tudo o que está relacionado ao movimento e ao corpo� De fato, a subárea comumente chamada pelos acadêmicos de história do esporte enfoca exames e explicações sistemáticos de uma série de sistemas, entre eles os esportes, a saúde, o corpo, a medicina esportiva, o exercício, a recreação e o lazer (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012, p� 237)� A pesquisa histórica em educação física deve buscar indícios e significados de modificações ou manutenção de atitudes e comportamentos em relação ao esporte, isto é, sua conceituação mais ampla, incluindo o fitness em todas as suas vertentes e dimensões, a recreação e o lazer� Enquanto pesquisa teórica, o estudo histórico segue todos os procedimentos metodológicos da investigação científica. Por exemplo, levantamento 1111 e análise de dados obtidos em arquivos e registros de bibliotecas e outras fontes de informações histó- ricas; interpretação das informações obtidas à luz da teoria aplicável, em busca de padrões de com- portamento e evolução de experiências ocorridas no tempo; e a utilização dos resultados para contrapor ou confirmar teorias para embasar generalizações (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012)� Possíveis linhas de investigação histórica devem considerar simplesmente a imaginação do pesqui- sador� Isso porque a educação física e, principal- mente, o esporte compõem um campo riquíssimo para essa linha de pesquisa� O interesse do pesquisador será o ponto de partida e de motivação, bastando se questionar sobre o que fazer, o que pretende descobrir, qual é a curiosidade ou o interesse� Entre os tópicos estudados, podem constar as questões de gênero e diversidade, as políticas públicas e privadas para o desenvolvimento do esporte, o esporte como elemento da cultura e como negócio, desenvolvimento histórico do es- porte, atividade física e do lazer, entre outros� As possibilidades são amplas tanto para a pesquisa em fontes primárias de dados (evidências) quanto secundárias (livros, artigos e outras mídias)� 1212 Em A constituição histórica da educação física no Brasil e os processos da formação profissional (2009), Luís Rogério Albuquerque discute a trajetória histórica da educação física no Brasil� Saiba mais acessando https:// educere�bruc�com�br/arquivo/pdf2009/2934_1277�pdf� Pesquisa filosófica A princípio, a pesquisa filosófica pode ser conside- rada “contraditória” em relação à pesquisa empírica. Entretanto, a academia sinaliza positivamente para o crescimento da importância da compreensão filosófica nas relações originadas na atividade física e nos esportes� Esse movimento tem indicado uma importante relação de complementaridade entre investigações empíricas e estudos filosóficos, uma vez que [...] um dos objetivos fundamentais da filosofia é examinar a realidade utilizando procedimentos re- flexivos, e não as ferramentas empíricas da ciência. Desse modo, filósofos e cientistas não diferem tanto no que eles observam, mas em como eles estudam o objeto observado� Esses dois tipos de pesquisadores estão interessados, por exemplo, na compreensão do exercício� Por um lado, os cientistas empíricos tratam esse fenômeno olhando no microscópio coisas SAIBA MAIS 1313 como o tecido muscular, coletando dados sobre a respiração ou a pressão sanguínea e empregando procedimentos estatísticos para determinar a força de possíveis relações causais� Por outro lado, os filósofos refletem sobre o exercício e usam coisas como ideias e ideais, significados, experiência de vida, valores, relações lógicas e razões na tentativa de lançar alguma luz sobre o fenômeno (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012, p� 256)� O objeto da filosofia é a reflexão; sendo assim, a grande diferença entre as abordagens reside na capacidade de a investigação filosófica aprofun- dar a busca por respostas que as metodologias empíricas não conseguem alcançar� Permite a busca pelos significados e valores mais profundos dos fenômenos oriundos do objeto de estudo da educação física: o movimento humano. Os estudos empíricos permitem testar e compreen- der os processos elétricos, químicos, fisiológicos, biomecânicos, culturais, sociológicos e psicológicos ligados ao movimento� No entanto, é necessário refletir sobre significados, interesse, crenças, experiências prévias de vida, percepção dos indi- víduos sobre o movimentar-se como elementos influenciadores do comportamento. Nesse ponto, a investigação filosófica encontra seu objetivo, ou seja, sua razão de ser� 1414 A fim de aprofundar as investigações filosóficas e possibilitar a determinação de foco nos achados, há três subdivisões para os estudos reflexivos (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012, p. 258): y Metafísica: é tratada a natureza das coisas. y Axiologia: trata do valor das coisas. y Epistemologia: cuida da aquisição do conhe- cimento e da compreensão do seu estado� Já se perguntou por que as pessoas manifestam diferentes interesses sobre os diversos tipos de atividade física/ esporte? Então, de que maneira podemos transformar essa dúvida em um problema filosófico de pesquisa? Metanálise em educação física e esportes A revisão da literatura é parte essencial de toda e qualquer pesquisa, dado que o pesquisador recorre a uma teoria para desenvolver o novo estudo ou compará-lo a achados prévios, seja para confirma- ção ou questionamento� Contudo, em algumas situações, a revisão da litera- tura se configura, por si só, como a própria pesquisa científica, que envolve a reunião, análise, avaliação e síntese de parte da literatura já publicada� REFLITA 1515 Nessa perspectiva, Thomas, Nelson e Silverman (2012, p. 274) definem metanálise como a “técnica de revisão de literatura que contém uma metodo- logia definitiva e quantifica os resultados de vários estudos para uma métrica-padrão que permita o uso de técnicas estatísticas como meio de análise”� A metanálise deve obedecer a procedimentos obrigatórios, tal qual qualquer pesquisa científica, e ainda deve envolver a escolha de uma metodologia de análise definitiva e a quantificação dos estudos prévios em uma métrica-padrão, denominada ta- manho do efeito (TE)� Assim, a metanálise percorre estes passos: 1) Identificação de um problema de pesquisa. 2) Revisão da literatura segundo uma metodologia definitiva. 3) Revisão dos estudos identificados para inclu- são ou exclusão� 4) Identificação e codificação de características de estudo importantes� 5) Cálculo do tamanho do efeito (TE)� 6) Tratamento estatístico da amostra� 7) Apresentação e discussão dos resultados e conclusão� 1616 Em Metanálise de pesquisas sobre qualidade de vida, saúde e bem-estar subjetivo no envelhecimento (2015), de Jéssica Sobrinho Teixeira e Maria Elisa Caputo Ferreira, que construíram uma metanálise de pesquisas sobre qualidade de vida no envelhecimento� Saiba mais sobre o tema acessando https://periodicos.ufjf.br/index.php/ hurevista/article/view/2469 Survey Survey é uma técnica de pesquisa descritiva que busca determinar as práticas ou opiniões presen- tes em uma população específica. Pode ocorrer por meio de questionário, entrevista ou survey normativo� Esse tipo de pesquisa caracteriza-se pela aplica- ção de um roteiro de perguntas a uma população específica e de grandes proporções, mas a repre- sentatividade da amostra é mais importante do que o tamanho� Em geral, questionários e entrevistas têm a mesma estrutura,mas diferem quanto à forma de aplica- ção� Os questionários são autoaplicáveis, tanto em formato eletrônico quanto em papel, e podem conter perguntas abertas ou respostas múltiplas� Já as entrevistas dependem de um entrevistador SAIBA MAIS 1717 treinado, que faça o questionamento oralmente, seguindo um roteiro preestabelecido de perguntas fixas ou mais flexível, aprofundando conforme a necessidade� No survey normativo, em vez de perguntas são aplicados testes para medir desempenho, capa- cidade, crenças e atitudes para as quais devemos estabelecer normas específicas. A amostra deve ser do tipo transversal, incluindo pessoas de diferentes idades, gêneros e outras características que tornem o estudo o mais abran- gente possível� Um dos surveys normativos mais conhecidos é o Teste de Aptidão Física para Jovens da American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance (AAHPERD)� Originalmente aplicado em 8,5 mil meninos e meninas em uma amostra de abrangência nacional, no ano de 1958 nos Estados Unidos� Outros métodos de pesquisa descritiva em educação física e esportes Além dos métodos apresentados, Thomas, Nelson e Silverman (2012) apresentam outros tipos de pesquisa bastante utilizados no campo da edu- cação física e dos esportes: y Pesquisa desenvolvimental: por meio de es- tudos transversais e longitudinais, o pesquisador analisa as mudanças de comportamento e processo 1818 de maturação ao longo do tempo� Na maioria dos casos, é voltada ao acompanhamento de crianças e jovens, mas existem estudos sobre a população adulta e idosa� Nos estudos transversais, diferentes indivíduos são analisados nas diversas faixas etá- rias; nos estudos longitudinais, o acompanhamento é feito sempre com os mesmos participantes� Ambas as abordagens demonstram a existência de vantagens e desvantagens: ao passo que o estudo longitudinal possibilita o acompanhamen- to do mesmo indivíduo ao longo do tempo, pode sofrer baixas na amostra em função de ausências e abandonos por diversos motivos, e ainda leva muito mais tempo para ser concluído; por sua vez, os estudos transversais, apesar de poderem ser concluídos mais rapidamente, pode testar grupos etários que não pertencem à mesma população� Assim, cabe ao pesquisador analisar todos esses pontos e selecionar a abordagem mais adequada aos seus objetivos� y Estudo de caso: é um tipo de pesquisa em que se analisa mais profundamente um determinado caso/fenômeno, objetivando-se uma compreensão mais abrangente sobre situações semelhantes� Nesse tipo de estudo, o pesquisador, por meio do método qualitativo, procura obter uma quantida- de maior e mais profunda de informações sobre uma quantidade limitada de sujeitos� Muitas vezes, o estudo resume-se a analisar um único 1919 caso/fenômeno, admitido de antemão e que seja representativo de outras situações similares� Na literatura, encontram-se estudos de caso dos tipos descritivo, interpretativo e avaliativo: � Descritivos: os fenômenos são descritos deta- lhadamente, mas sem testar ou construir modelos teóricos� � Interpretativos: o pesquisador busca descrever os fenômenos e interpretar os dados, com vistas a estabelecer uma classificação e conceituação das informações que permitam a construção de uma teoria sobre determinado fenômeno� � Avaliativos: os estudos de caso avaliativos pos- sibilitam a avaliação da validade de determinado fenômeno através da descrição e interpretação� As fontes de dados para os estudos de caso são entrevistas, observações e documentos, podendo ser coletados a partir de uma ou mais fontes� y Análise de cargo: é um tipo de pesquisa bas- tante semelhante ao estudo de caso, mas com a finalidade específica de determinar a natureza de uma função profissional específica, as habilidades necessárias, tipos de treinamento e preparação, condições de trabalho, atitudes e comportamentos esperados para a posição� Este tipo visa a obter a maior quantidade de informações a respeito do cargo e os requisitos necessários para um desempenho adequado na função� As técnicas mais utilizadas 2020 para a coleta de dados são observação, aplicação de questionários e entrevistas� y Pesquisa observacional: é um método de coleta de dados que coloca o pesquisador em contato direto com o fenômeno/sujeito observado, per- mitindo maior clareza e fidedignidade em relação às informações coletadas, pois extingue o viés da percepção muitas vezes tendenciosa dos autorre- latos coletados via questionário e entrevista� Os dados coletados a partir das observações podem conter características tanto quantitativas quanto qualitativas� Obviamente, o método apresenta limitações, como a influência que o pesquisador pode exercer no comportamento do participante da pesquisa, o tempo gasto nas observações e pro- blemas logísticos� Além disso, é fundamental que o pesquisador cuide de outros pontos importantes, como definir cuidadosamente quais comportamen- tos serão e poderão ser observados, desenvolver habilidades de observação, limitar a quantidade de observações ou obter ajuda� Os pontos impor- tantes no delineamento da pesquisa observacional quais comportamentos serão observados, quais sujeitos serão observados, onde as observações serão realizadas, quantos eventos de observação serão feitos, em que tempo as observações serão realizadas, de que modo serão feitos e analisados os registros das observações� 2121 y Técnicas de pesquisa não intrusivas: ocorre quando o pesquisador não está presente no mo- mento da produção dos dados ou, quando está presente, age para não ser percebido� Basicamente, essas técnicas são usadas nas pesquisas em que o objetivo do estudo é coletar informações sobre as pessoas� Note-se que é muito importante considerar as preocupações éticas em função da privacidade e do consentimento informado aos participantes� y Pesquisa correlacional: procura investigar as relações entre variáveis� Diferentemente da pesquisa experimental, neste tipo não existe nem manipulação de variáveis nem tampouco a aplica- ção de tratamentos experimentais, ou seja, apenas a coleta de dados sobre duas ou mais variáveis e um exame minucioso sobre as relações existentes entre elas� Assim, os principais objetivos da pesqui- sa correlacional são a análise das relações entre variáveis e a predição� As limitações da pesquisa correlacional normalmente estão vinculadas à difi- culdade em selecionar as variáveis do estudo e da escolha dos testes mais adequados para medi-las� Pesquisa epidemiológica em educação física e esportes Epidemiologia é o estudo da distribuição e dos deter- minantes da saúde relacionados a estados ou eventos em populações específicas, bem como a aplicação desse estudo ao controle de problemas de saúde� 2222 De acordo com Thomas, Nelson e Silverman (2012), a quantidade de estudos observacionais voltados à saúde iniciou uma alta mais expressiva a partir de meados do século 20, muito em função do aumento em nível epidêmico de casos de doenças cardíacas e consequente crescimento no número de mortes� O objetivo dos estudos era identificar os fatores determinantes das doenças cardíacas e adotar as medidas preventivas� Surge, então, o campo da epidemiologia da atividade física� A atividade física tornou-se um importante elemento de saúde pública, já que os principais estudos come- çaram a pontar para uma alta relação entre baixos níveis de atividade física e o risco do desenvolvimento de doenças cardíacas e mortalidade em geral� Os estudos epidemiológicos partem da observação de comportamentos diferentes da população em relação aos fatores associados ao desenvolvi- mento de doenças associadas à inatividade físi- ca, pois uma parte da população observada opta naturalmente por ser ativa e outra parte escolhe o caminho contrário� Essa observação permite ao pesquisador compreender os resultados específi- cos de cada caso� Com isso, os estudos epidemiológicos mostram-seimportantes para a compreensão dos comporta- mentos que oferecem riscos à saúde, uma vez que 2323 os resultados obtidos são eticamente impossíveis de serem alcançados em uma eventual pesquisa experimental� Componentes da pesquisa epidemiológica: Distribuição: Frequência – prevalência, incidência, taxa de mortali- dade – padrões – pessoa, local, hora� Determinantes: Características definidas – associadas a mudanças em saúde� Aplicação: Translação – conhecimento para praticar� Pesquisa experimental Na pesquisa experimental, o pesquisador busca estabelecer as relações de causa e efeito, ou seja, uma variável dependente é manipulada para que se possa avaliar o efeito sobre a variável dependente� Para tanto, há três critérios, segundo Thomas, Nelson e Silverman (2012, p. 349): FIQUE ATENTO 2424 1) A causa deve preceder o efeito no tempo� 2) Deve haver correlação entre causa e efeito� 3) A correlação não pode ser explicada por outra variável� Pesquisa qualitativa A pesquisa qualitativa tem o objetivo de investigar atitudes, valores, percepções e motivações dos sujeitos� Sua preocupação primordial é compreen- der o fenômeno de maneira profunda, assim como oferecer informações de natureza mais subjetiva e latente� Os procedimentos para a construção de uma pes- quisa qualitativa não se diferenciam em relação a outros tipos de pesquisa� Portanto, envolvem a definição do problema de pesquisa, a formulação de proposições e a escolha do referencial teórico, a definição do método para a coleta de dados (entrevistas, grupo focal, observação, relatos, narrativas etc�), a coleta de dados (treinamento e estudo-piloto, seleção dos participantes, acesso ao ambiente etc.), a análise dos dados (classificação e categorização), a discussão dos resultados, a conclusão ou as considerações finais. 2525 Métodos mistos de pesquisa Os métodos mistos evolvem a combinação de elementos da pesquisa quantitativa e da pesquisa qualitativa� Podem apresentar um equilíbrio entre ambas ou a predominância de uma ou outra, em função do delineamento do estudo e dos objeti- vos do pesquisador� Em outras palavras, pode ser essencialmente quantitativa quando uma parte é qualitativa ou essencialmente qualitativa com um componente quantitativo (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012)� Assim, essa combinação de elementos quantitativos e qualitativos permite potencializar a obtenção dos resultados do estudo, dando mais profundidade às investigações complexas� 26 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste módulo, entramos em contato com os tipos de pesquisa em educação física e esportes� Com isso, pudemos aprofundar conceitos e definições, além das características das principais técnicas de investigação utilizadas no campo� É importante diferenciar a pesquisa teórica da pesquisa de campo, do mesmo modo que é im- portante diferenciar as pesquisas descritivas das pesquisas experimentais� Nesse aspecto, abordamos as particularidades dos principais tipos de pesquisa utilizados na educação física e esportes, enfatizando as aplicações e os procedimentos metodológicos� Para cada foco e objetivo de investigação, o pesqui- sador pode lançar mão de diversos procedimentos e modelos de estudo, que possibilitam achados importantes e replicáveis� No entanto, devemos salientar que nada pode substituir a capacidade criativa e o desejo de com- preender os fenômenos por parte do pesquisador� É o pesquisador que sempre representará o ponto de partida para toda e qualquer investigação e para a evolução do pensamento científico. Referências Bibliográficas & Consultadas APPOLINÁRIO, F� Metodologia científica� São Paulo: Cengage, 2016 [Minha Biblioteca]. CERVO, A� L�; BERVIAN, P� A�; SILVA, R� Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007 [Biblioteca Virtual]� FLICK, U� Introdução à metodologia de pesquisa: um guia para iniciantes. Porto Alegre: Penso, 2012 [Minha Biblioteca]� GALLIANO, A� G� O método científico: teoria e prática. São Paulo: Harbra, 1986. GIL, A� C� Como elaborar projetos de pesquisa� 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007 LAKATOS, E� M�; MARCONI, M� A� Metodologia do trabalho científico: projetos de pesquisa / pesquisa bibliográfica/ teses de doutorado, dissertações de mestrado, trabalhos de conclusão de curso. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017 [Biblioteca Virtual]� MASCARENHAS, S� A� Metodologia científica� São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012. NASCIMENTO, L� P� Elaboração de projetos de pesquisa: monografia, dissertação, tese e estudo de caso, com base em metodologia científica. São Paulo: Cengage Learning, 2012 [Minha Biblioteca]� SANTOS, J� A� Metodologia científica� 2� ed� São Paulo: Cengage Learning, 2011 [Minha Biblioteca]� SILVA, A� M� Metodologia da Pesquisa� 2� ed� Fortaleza: Universidade Aberta do Brasil, 2015. SHAUGHNESSY, J� J�; ZECHMEISTER, E� B�; ZECHMEISTER, J� S� Metodologia de pesquisa em psicologia. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012 [Minha Biblioteca]� TEIXEIRA, J� S�; FERREIRA, M� E� C� Metanálise de pesquisas sobre qualidade de vida, saúde e bem-estar subjetivo no envelhecimento� HU Revista, Juiz de Fora, v� 41, n� 1 e 2, jan�/ jun. 2015. p. 41-53. Disponível em: https:// periodicos�ufjf�br/index�php/hurevista/article/ view/2469/812. Acesso em: 4 jan. 2021. THOMAS, J� R�; NELSON, J� K�; SILVERMAN, S� J� Métodos de pesquisa em atividade física� 6� ed� Porto Alegre: Artmed, 2012. 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