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Ana Luiza Bittencourt DIREITO PENAL – PARTE GERAL I Introdução – conceitos preliminares O que é Direito Penal? - Sob o aspecto formal: é o conjunto de normas que qualificam comportamentos como infrações penais (crime ou contravenção) e define as sanções. - Sob o enfoque sociológico: o direito penal é um instrumento (assim como os outros ramos do direito) de controle social que mantém o status quo da sociedade e assegura a disciplina social. Direito Penal ou Direito Criminal? - O termo “Direito Penal” tem maior foco na pena; na sanção. O termo “Direito Criminal” tem maior foco no comportamento. Dessa forma, ambos os termos estão corretos. Política Criminal - É o conjunto de estratégias de combate à criminalidade. Cada país tem uma política criminal, podendo focar em diferentes coisas. Pensar em política criminal é pensar no futuro, na construção de um país com menos (!) crimes. Infrações Penais - Crime: ato proibido por lei > restante da legislação > reclusão/detenção -Contravenção: “crime anão” (menor) > Lei de Contravenções Penais (LCP) > prisão simples/multa > as penas são muito baixas e é raro ser preso por contravenção. Direito Penal Objetivo e Direito Penal Subjetivo - DP Objetivo: conjunto de normas penais impostas pelo Estado que está voltada para toda a sociedade > é o sistema jurídico-penal que permeiam todos os indivíduos. - DP Subjetivo: se refere a uma faculdade individual de agir de acordo com o direito objetivo > é a concretização da norma > foca no indivíduo que transgrediu alguma norma. Se confunde com o “ius puniendi” (direito de punir do Estado), que nasce quando alguém ofende o DP objetivo. Fontes do Direito Penal - De onde vem o DP? De onde vem os crimes? Quem cria os crimes? - FONTE MATERIAL = é a fonte de produção. Trata-se de quem cria o Direito Penal. Art. 22, I, CF. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (...). ATENÇÃO: existe apenas uma exceção em que se admite que os Estados possam legislar em matéria penal, quando o bem a ser tutelado for exclusivo daquele ente federativo: Art. 22, Parágrafo Único, CF: Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo > observe que para que os Estados possam legislar em matéria penal, conforme descrito (artigo 22, parágrafo único), é sempre necessário, que lei complementar federal autorize tal atividade legislativa estadual. O DIREITO DE PUNIR É MONOPÓLIO DO ESTADO. - Obs.: ESTATUTO DO ÍNDIO > exceção ao monopólio do Estado do “ius puniendi” > Art. 57. Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo com as instituições próprias, de sanções penais ou disciplinares contra os seus membros, desde que não revistam caráter cruel ou infamante, proibida em qualquer caso a pena de morte - FONTE FORMAL: fonte de revelação (exteriorização) do Direito Penal. É o meio de revelar o Direito Penal criado. Pode ser: * Imediata (direta) = criam normas de DP * Mediata (indireta) = influenciam na criação do DP FONTE FORMAL (DOUTRINA CLÁSSICA) FONTE FORMAL (DOUTRINA MODERNA) IMEDIATA - Lei. - Lei; - CF; - Tratados Internacionais DH; - Jurisprudência; - Princípios; - Atos Administrativos. MEDIATA - Costumes; - Princípios Gerais do Direito. - Doutrina. ATENÇÃO: - A Lei é a fonte formal incriminadora do direito penal, posto que não existe crime sem lei anterior que o defina (art. 1º do CP). - Medida Provisória NÃO PODE TRATAR DE DIREITO PENAL. Art. 62 da CF. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: I - relativa a: (…) b) direito penal, processual penal e processual civil; - Nem a Constituição Federal criminaliza condutas, em razão de seu processo difícil. Por isso ela reserva às Leis a incriminação das condutas > MANDADO CONSTITUCIONAL DE CRIMINALIZAÇÃO > explícitos ou implícitos: * explícitos: Art. 5º, XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais; Art. 5º, XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; Art. 5º, XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; Art. 5º, XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático * implícitos: como a Constituição prevê o direito à vida (art. 5º, caput), o legislador não poderia "descriminalizar" o homicídio > o direito à vida é um direito explícito, então se alguém tentar contra a vida, entende-se como proibido (como um mandado de criminalização implícito). Normas Penais - Preceito Primário: criminaliza a conduta > é o caput do artigo. - Preceito Secundário: estabelece as penas Ex.: - Norma Penal em Branco: exige/precisa de complementação do preceito primário. Sem esse complemento você não consegue entender a lei por completo. Ex.: uma lei que fale sobre drogas > é preciso de outra norma que defina o que é droga para efeitos da lei. A norma penal em branco pode ser: * homogênea: quando o complemento vem da mesma fonte legislativa que editou a norma em branco. Ex.: quando uma lei complementa outra lei > Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta” > O CP não diz quais são as causas de impedimento, sendo necessário o complemento do art. 1.521 do CC. * heterogênea: o complemento vem de fonte legislativa diferente da norma penal em branco. Ex.: uma portaria complementando uma lei > o art. 33 da Lei 11.343/06, é complementado por Portaria n. 344/98/MS, proveniente do Poder Executivo (Ministério da Saúde) e define o que é "droga". Tribunal Penal Internacional (TPI) - Criado pelo Estatuto de Roma, com sede em Haia – Países Baixos. - Decreto n 4.388/2002. - Foi criado no contexto de pós 2ª Guerra, em que se percebeu não existir um tribunal que julgasse crimes contra a humanidade; crimes gravíssimos. - Art. 5º, § 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. - O Tribunal possui característica complementar > só atua se o país onde ocorreu o crime se recusa a julgar > Preâmbulo do Estatuto de Roma; “... Sublinhando que o Tribunal Penal Internacional, criado pelo presente Estatuto, será complementar às jurisdições penais nacionais...” - O TPI julga apenas: o crime de genocídio; crimes contra a humanidade; crimes de guerra; crime de agressão. Obs.: o TPI julga PESSOAS. O julgamento de Estados é feito na Corte Internacional de Justiça (CIJ). A CIJ também é localizada em Haia, mas em outro prédio. Tratados Internacionais de Direitos Humanos e Direito Penal - É o Estado que se submete a tratados, exercendo a soberania. Nenhum tratado é imposto a um país se este não participa dele. - Tratados não criam crimes ou cominam penas para o Direito interno > somente fazem isso no âmbito internacional. Art. 121. Matar alguém: (PRECEITO PRIMÁRIO) Pena – reclusão, de seis a vinte anos. (PRECEITO SECUNDÁRIO) - Ex.: no Brasil não existia lei que definia o crime de Organização Criminosa, então valia-se da Convenção de Palermo para tratar desse assunto. Porém, o STF proibiu a aplicação da Convenção de Palermo com a justificativa de que um tratado não pode criminalizar condutas no âmbito interno, apenasinternacionalmente (como o TPI). Agora o Brasil tem lei definindo Organização Criminosa, com reflexos penais e processuais. *Controle de Convencionalidade - Há tratados no Brasil, como sobre Direitos Humanos, que se equivalem à Constituição. - Quando uma lei contraria a constituição, diz-se sobre inconstitucionalidade. Mas quando uma lei contraria um Tratado, diz-se sobre inconvencionalidade. - Se um Tratados DH converge à constituição no sentido de trazer mais benefícios (for mais protetiva) do que a própria constituição, vai valer a norma do Tratado DH. Isso está no art. 5°, §2.
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