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Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Departamento de Ciências da Vida - DCVida Núcleo Comum da Saúde Componente curricular: Biologia: Genética, Biologia Celular, Embriologia e Biologia Tecidual Prof. Dr. Jonatas Zeni Klafke CRBm 258 Aula 7 Genética Quantitativa e Herança Multifatorial A Genética das Mal-formações congênitas Classificação das características humanas 1. Características qualitativas ou descontínuas, condicionadas por herança monogênica, com fenótipos marcadamente diferentes, distribuição populacional descontínua e praticamente sem efeito ambiental; Classificação das características humanas 2. Características quantitativas ou contínuas, que se distribuem de maneira contínua na população, apresentando diversos fenótipos intermediários, de um extremo ao outro. As diferenças entre os indivíduos colocados ordenadamente, em relação a esses traços, são pequenas e mensuráveis, de modo que sua distribuição populacional se dá segundo uma curva normal ou em forma de sino. Sua herança é denominada quantitativa ou poligênica, consistindo em muitos genes (poligenes) situados em diferentes lócus, cada um com pequenos efeitos sobre a característica, produzindo mudanças quantitativas mensuráveis. Seus efeitos podem dar- se aumentando ou diminuindo a expressão de um caráter, sendo que, em geral, os poligenes têm efeitos aditivos, isto é, cumulativos, nenhum dos genes sendo dominante ou recessivo em relação aos outros. Esse tipo de herança é bastante influenciado pelo ambiente. Classificação das características humanas 3. Características semicontínuas ou quase contínuas, que apresentam aspectos tanto das características poligênicas quanto das monogênicas, isto é, são determinadas por vários genes, com influência ambiental variável, mas apresentam distribuição descontínua na população. Seu tipo de herança é denominado multifatorial. Herança multifatorial: conceito e tipos A expressão herança multifatorial designa um tipo de herança no qual estão envolvidos vários genes e diversos fatores ambientais. É também designada de herança complexa, devido às complexas interações entre diversos fatores genéticos e ambientais. Os vários genes envolvidos na herança multifatorial podem ser poligenes com efeitos aditivos; vários genes, um deles com um efeito principal ou maior; poligenes, com efeito maior de dois ou mais genes. Herança multifatorial – Poligenes Uma característica quantitativa ou contínua é influenciada por um grande número de genes, cada qual com um pequeno efeito no fenótipo. Grande número de classes fenotípicas e pequena contribuição de cada alelo. Poligenes – são genes com pequeno efeito em um caráter particular que podem suplementar uns aos outros produzindo efeitos quantitativos que podem ser mensuráveis. Acentuado efeito do ambiente. Exemplos de características multifatoriais ou Genética Quantitativa na espécie humana; Peso; Altura; Pressão sanguinea; Cor da pele; Cor dos olhos Pigmentação da pele em humanos: Quanto mais genes interagindo, maior a quantidade de combinações. Características multifatoriais com efeito de limiar Certas características multifatoriais, como grande parte das malformações congênitas, não têm uma distribuição contínua na população, existindo um limiar que separa os indivíduos em dois grupos: os normais e os afetados, sendo que entre estes últimos as anomalias variam de moderadas a graves. Nesse caso, a característica e sua herança são denominadas multifatoriais com efeito de limiar. Características quantitativas ou contínuas Se distribuem de maneira contínua na população, apresentando diversos fenótipos intermediários. Diferenças entre os indivíduos são pequenas e mensuráveis. Forma um gráfico em forma de sino segundo uma curva normal. p= genes para resistência. q= genes para suscetibilidade (deletérios). Aumento dos genes q enfraquecem a proteção. Fatores ambientais podem desencadear defeito congênito. A mostra a distribuição de uma característica multifatorial com efeito de limiar diferencial para os sexos, ilustrando os diferentes limiares para o sexo masculino (nesse caso, mais suscetível) e o feminino (menos suscetível). Reconhecendo a herança multifatorial. Os principais critérios para o reconhecimento da herança multifatorial são descritos a seguir. 1. Distribuição populacional da característica em forma de uma curva normal: As características multifatoriais se distribuem, em uma população, de acordo com uma curva normal. Essa curva, composta pela distribuição dos indivíduos em cada classe fenotípica, é devida à segregação casual dos alelos de diferentes lócus. Quando uma característica é determinada por um lócus com dois alelos codominantes (A e a), resultam três classes genotípicas e fenotípicas nos descendentes de heterozigotos Aa x Aa: 1/4 AA, 1/2 Aa e 1/4 aa. Distribuição de características multifatoriais, determinadas por: A – um par de alelos (3 fenótipos); B – dois pares de alelos (5 fenótipos); C – três pares de alelos (7 fenótipos); D – quatro pares de alelos (9 fenótipos); E – cinco pares de alelos (11 fenótipos); F – n pares de alelos (distribuição em curva normal). 2. Efeito de muitos genes situados em diferentes lócus e de diversos fatores ambientais: Se cada gene sofrer um pequeno efeito ambiental, os poligenes sofrerão esses efeitos somados ou multiplicados. Por exemplo, na altura, estão envolvidos metabolismo adequado (que depende de vários passos enzimáticos determinados geneticamente), hormônios (também condicionados geneticamente) e um ambiente que forneça alimentos balanceados (nesse ambiente, haverá fontes de variação: climática, socioeconômica, etc.). 3. A semelhança entre parentes pode ser expressa em termos de correlação ou de concordância entre gêmeos: Uma das maneiras de se verificar se uma característica é multifatorial é por intermédio de estudos de famílias, de gêmeos e de populações. Assim, a semelhança entre parentes pode ser expressa em termos de correlação ou de concordância entre gêmeos. 4. A herdabilidade indica se o papel dos genes na determinação de um fenótipo é grande ou pequeno: Herdabilidade: Proporção da variação fenotípica resultante de diferenças genéticas em relação à variação fenotípica total. h2= VG/VG+VA VG= variação genética VA= variação ambiental VG+VA= variação total, VT Quanto maior a herdabilidade, maior o papel dos fatores genéticos na determinação da característica. Herdabilidade em seres humanos Medida a partir de gêmeos idênticos separados ao nascimento. Característica H2 Estatura 0,88 Circunferência torácica 0,61 Circunferência abdominal 0,25 Pressão arterial 0,64 Frequência cardíaca 0,49 QI 0,69 Autismo 0,90 Alcoolismo 0,55 • 5. A medida média de uma característica, para a descendência, situa-se entre o valor médio observado para os genitores e o valor médio da população: A “regressão em direção à media” ou “lei da regressão filial” (como esse critério é chamado) é comum em estudos dos familiares de características métricas. Em geral, esse critério explica a observação de que genitores “extremos” na curva normal têm filhos que são, em média, menos excepcionais. Exemplo: na estatura, genitores com alturas extremas tendem a ter filhos com alturas localizadas a meio-termo entre a média da característica dos genitores e a média da população. 6. Risco de recorrência versus sexo do probando: Risco de recorrência é o risco de surgimento de um novo afetado em uma família na qual já existe um indivíduo afetado. Se a característica for de limiar e mais frequente em um sexo do que no outro (característica com limiar diferencial para os sexos), o risco de recorrência será maior para parentes de afetados do sexo menos suscetível.Por exemplo: na estenose pilórica, o risco para a prole de mulheres afetadas (sexo menos suscetível) é de 20%, enquanto o risco para a prole de homens afetados (sexo mais suscetível) é de 5%. 7. Risco de recorrência versus número de afetados: É o risco de surgimento de um novo afetado em uma família na qual já existe um indivíduo afetado. Maior quando há mais de um afetado na família. Supõe-se um grande número de genes deletérios na família. Ex. fissura labial; Risco após um filho afetado: 4% e após dois filhos afetados: 10% 8. Risco de recorrência versus gravidade do defeito Quanto mais grave a anomalia, maior o risco de recorrência. Quanto mais grave, maior o número de genes deletérios. Ex. fissura labial Unilateral: risco de recorrência de 2,5% Bilateral com fissura palatina: risco de recorrência de 5,6% 9. Risco de recorrência versus parentesco: A consanguinidade aumenta o risco de recorrência nos parentes em primeiro grau, caindo esse risco bruscamente nos parentes em segundo grau e gradualmente do terceiro grau em diante. Por exemplo: o risco de recorrência para fissura labial é de 40/1.000 para parentes em primeiro grau... Ex. fissura labial: 40/1.000 parentes em primeiro grau 7/1.000 parentes em segundo grau 3/1.000 parentes em terceiro grau 10. Risco de recorrência versus frequência populacional: Se representarmos a frequência populacional por p, o risco para parentes em primeiro grau de um afetado é igual à raiz quadrada dessa frequência (√ p). Portanto, quanto menor o risco populacional, maior o aumento relativo do risco para irmãos, o que não se aplica às características monogênicas. Por exemplo: para anencefalia com espinha bífida, a frequência populacional é de 1/130 e o risco de recorrência é de 1/20 (um aumento de 7 vezes em relação ao risco da população) Exemplos de características multifatoriais patológicas Hipertensão essencial Pressão arterial superior a 14/9 Não é uma doença, mas é um fator de risco. Associação de fatores genéticos, sexo, idade, ingestão de sal, obesidade, estresse, personalidade, profissão, ingestão de álcool, tabagismo e localização geográfica. Quase duas dezenas de genes envolvidos. Homens de 20 a 39 anos – risco de 2,5 em caso de parente de primeiro grau hipertenso, 3,8 quando dois ou mais parentes. Malformações congênitas Alterações cromossômicas Explicam 6% de todas as anomalias congênitas conhecidas. Herança monogênica Explica cerca de 8% das anomalias congênitas. Herança multifatorial Fatores genéticos associados a ambientais. Agentes teratogênicos Agem sobre o organismo em formação. Agentes teratogênicos: radiações, vírus, drogas, doenças maternas. Depende do tempo de exposição: curta (talidomida) ou longa duração (álcool), da dosagem... Malformações congênitas – tipos Anencefalia com ou sem espinha bífida 2F:1M Devido a falha no fechamento do tubo neural – deve ocorrer na quarta semana de desenvolvimento embrionário. Anencefalia – falha no desenvolvimento do encéfalo e do crânio Espinha bífida – falha no desenvolvimento da medula espinhal e coluna vertebral. Pode ser grave, incompatíveis com a vida até suaves (espinha bífida oculta). Mais frequente na Irlanda que na França, concepção no outono, idade materna acima de 40, em primogênitos, condição econômica desfavorável, regiões industriais, deficiência de ácido fólico. Brasil prevalência: 1,8 anencéfalos/1.000 nascimentos Malformações congênitas – tipos Deslocamento congênito do quadril 6F:1M Pode progredir para um acentuado deslocamento do quadril ou corrigir-se espontaneamente. Importante diagnóstico rápido. Predisposição: fragilidade da articulação coxofemoral; idade materna avançada; primogênito, nascimento no inverno, nível socioeconômico mais elevado. Correção é feita pelo engessamento imediato ou imobilização do quadril. 1:1.000 nascimentos Malformações congênitas – tipos Estenose pilórica 5M:1F Hipertrofia da camada muscular do estômago na região do piloro. Obstrui a passagem de alimento. Vômito, constipação intestinal, perda de peso pela desnutrição e desidratação. Correção cirúrgica urgente, leva à cura total. 2,5/1.000 meninos e 0,5/1.000 meninas Malformações congênitas – tipos Fissura labial, associada ou não à fissura palatina 2M:1F É característica de muitas síndromes (Patau, ex). Na maioria dos casos é multifatorial ou causada por teratógenos (talidomida, rubéola). Surge devido a defeitos na fusão entre os ossos faciais, entre a quinta e oitava semana de gestação. Parentes de afetados tendem a ter maxilar menos proeminente, faces retangulares ou trapezoides, cabeças grandes. No afetado, dificuldade na alimentação, fala e audição. Tratamento cirúrgico: fissura labial, até 3 meses; fissura palatina até 1 ano e meio; fissura labial com deformação do nariz, até 4 anos. Malformações congênitas – tipos Fissura palatina isolada 2F:1M Correção deve ser feita até 1 ano e meio de vida. Frequência 1/2.500 nascimentos. Malformações congênitas – tipos Pés tortos: Frequência 1-2/1.000
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