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1 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC GENÉTICA JULIANA OLIVEIRA HERANÇA MULTIFATORIAL Quando se fala de uma herança multifatorial, refere-se a uma herança que é condicionada por diversos fatores. Esses fatores são múltiplos por que não se restringem apenas a genética, mas também se relacionam com os fatores ambientais. É marcada pela herança poligênica + fatores ambientais, e essa soma confere a esse processo uma grande variabilidade fenotípica, visto que os fatores ambientais, principalmente, são difíceis de serem determinados e controlados. A maioria das malformações congênitas isoladas têm etiologia multifatorial. Essas malformações, as quais consistem em um processo de formação de uma estrutura anatômica histológica atípica, congênitas, pois são formadas no processo gestacional, e isoladas, pois sua ocorrência não está associada à uma cromossomopatia, no entanto, existem algumas mal formações que são isoladas, de forma que apesar do indivíduo não possui uma cromossomopatia, ele apresenta a malformação, logo, o cariótipo desse indivíduo está normal, ainda que ele possua essa síndrome cromossômica. Exemplos: ▪ Cardiopatia congênita. ▪ Fenda lábio-palatina. ▪ Fenda palatina. ▪ Estenose hipertrófica do piloro. ▪ Pé-torto congênito. ▪ Deslocamento congênito do quadril. ▪ Defeito do fechamento do tubo neural (é fechado na 3ª semana do período embrionário, na 3ª semana tem-se a formação do tecido nervoso primitivo e nesse momento pode ter algum defeito em seu fechamento). Algumas doenças crônicas muito frequentes na população também têm etiologia multifatorial, sendo condicionadas por questões genéticas e diversos fatores ambientais, como p.ex. HAS, DM (I e II), doença arterial coronariana, esquizofrenia e autismo. É importante perceber que os fatores ambientais são determinantes sim para essas doenças, não necessariamente para sua manifestação ou não, mas para sua expressão, podendo variar a gravidade do quadro. Em relação à diabetes, por exemplo, o indivíduo pode ter questões genéticas que o predisponha ao desenvolvimento dessa doença, mas também pode ter hábitos que contenha essa predisposição. FENÓTIPO COMPLEXO Os fenótipos complexos dos distúrbios multifatoriais podem ser divididos em duas grandes categorias: ➔ Carácteres quantitativos: Avaliados em medidas fisiológicas ou bioquímicas. Por exemplo peso e altura são duas características que podem ser medidas, mas ao falar de polidactilia, só se pode caracterizar em presente ou ausenta, sendo uma característica qualitativa. ➔ Carácteres qualitativos: Presença ou ausência da doença genética. Análise dos carácteres qualitativos: ▪ Agregação familiar da doença: Os indivíduos afetados podem estar agregados em famílias, porém a agregação familiar de uma doença não significa que está tenha uma contribuição genética. É importante determinar se a agregação é coincidência ou resultado de fatores comuns aos membros da família (genéticos ou ambientais). Isso porquê quando se avalia presença ou ausência, nem sempre está ligado ao fato dos indivíduos serem próximos geneticamente (compartilhamento de genes) e a exposição. Assim, pode-se comparar os indivíduos que vivem no mesmo ambiente e os indivíduos que vivem em ambientes diferentes para entender se é uma coincidência ou fator comum. ▪ Concordância e discordância: - Quando dois indivíduos relacionados na mesma família têm a mesma doença. - Quando apenas um membro do par de parentes é afetado e o outro não. Nesse sentido, avalia-se dois indivíduos em relação a uma característica e se esses dois apresentarem aquela característica, é por que eles são concordantes, no entanto, se um apresenta e o outro não é por que eles são discordantes. Medindo a agregação familiar em carácteres qualitativos: ▪ Risco relativo: Serve muito para o aconselhamento genético, no entanto, os cálculos são empíricos, pois, não vão levar em conta todos os agentes relacionados com tal patologia. O risco relativo vai ser a razão: P. da doença nos parentes de uma pessoa afetada Prevalência da doença na população geral Se liga: - Quanto maior o risco relativo, maior a agregação familiar, ou seja, maior probabilidade de se ter a doença. - Quanto mais comum for a doença, maior a probabilidade da agregação ser apenas uma coincidência e menor a probabilidade de ser resultante do compartilhamento de alelos que predispõem a doença. - Risco relativo igual a 1, quer dizer que a probabilidade de um familiar e a população geral terem a doença são iguais. Essa prevalência pode ser igual caso a população seja pouco miscigenada, de modo que os fatores ambientais p.ex. sejam bem semelhantes. - O estudo de caso-controle é uma outra forma de avaliação da agregação familiar. 2 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC GENÉTICA JULIANA OLIVEIRA ESTUDO PARA DETERMINAÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO RELATIVA DOS GENES E DO AMBIENTE Muitos desses estudos foram feitos pós guerra, de modo que muitos genes se separaram e passaram a viver em lugares bem distintos, após um tempo se reencontraram e os pesquisadores fizeram algumas análises, estudou-se o DNA, características fenotípicas desses indivíduos para entender a contribuição relativa dos genes e do ambiente. ➔ Concordância e compartilhamento de alelos entre parentes: - Quanto mais relacionados na mesma família, mais alelos dois indivíduos terão em comum. (casamento consanguíneos) - Quanto mais distante o parente, menos alelos serão compartilhados entre ambos. (primos distantes) - A frequência de concordância com que determinadas características aparecem nos dois indivíduos analisados vai aumentar de acordo com o grau de parentesco, logo, quanto mais próximo forem os indivíduos, maior vai ser a frequência de concordância. (gêmeos monozigóticos, parentes de 1º grau). ➔ Estudos em gêmeos: Esse estudo foi importante para a determinação relativa dos genes e do ambiente. Nesse caso, a concordância da doença menor que 100% em genes monozigóticos, é uma forte evidência de que fatores não-genéticos têm papel importante na doença. A maior concordância em gêmeos monozigóticos x dizigóticos é uma forte evidência de um componente genético para a doença. É importante analisar que a porcentagem que destoa da concordância pode estar sofrendo interferência dos fatores ambientais. ➔ Gêmeos separados; ➔ Limitações nos estudos em gêmeos; Entendendo a imagem Quando se pega esses dois indivíduos ou grupos para analisar a epilepsia não traumática, nota-se que a concordância é de 70%, isso quer dizer que em apenas 70 pares de genes, dos 100 que foram analisados, se apresentou a epilepsia nos dois. No entanto, em 30% dos genes que foram analisados, um apresentou epilepsia e outro não. Nesses 30%, provavelmente tem-se algum fator ambiental, comportamento ou exposição que inviabiliza a manifestação. O conhecimento dos fatores genéticos e dos fatores ambientais que influenciam uma doença multifatorial permitem: - Propor um risco de recorrência para novas gestações. - Afastar os fatores ambientas que podem aumentar os riscos nas próximas gestações. - Estabelecer métodos de diagnósticopré-natal. - Prevenir as doenças multifatoriais em termos populacionais. ➔ Aconselhamento genético deve levar em conta: - Características étnicas da população. - Fatores ambientais envolvidos na gestação. - Presença de outras crianças/adultos afetados na família. - Sexo da criança afetada. - Severidade da doença. O cálculo do risco é empírico, ou seja, baseado em dados populacionais. Logo, deve-se consultar a tabela pronta. CAUSAS AMBIENTAIS DE DEFEITOS CONGÊNITOS ➔ Substâncias químicas: ▪ Androgênicos: Graus variados de masculinização de fetos femininos. ▪ Álcool: Síndrome alcoólica fetal → retardamento do crescimento intra uterino, retardamento mental, microcefalia, anomalia oculares. ▪ Grandes doses de vit A: Anomalias faciais e defeitos no tubo neural. ▪ Tetraciclina: Dentes manchados e anomalias do esmalte. ▪ Talidomida: Deformidades nos membros, malformações do ouvido externo, cardíacas e gastrointestinais. Esses são fatores conhecidos e sabendo que potencializam a ocorrência de defeitos congênitos, podemos afastá-los. ➔ Agentes infecciosos e radiação: ▪ Citomegalovírus: Microcefalia, hidrocefalia, microftalmia, retardamento mental, calcificações cerebrais. ▪ Vírus da herpes simples: Microcefalia, microftalmia, displasia da retina. ▪ Vírus da rubéola: Catarata, glaucoma, surdez, microftalmia, defeitos cardíacos congênitos. ▪ Toxoplasma gondii: Toxoplasmose → Microcefalia, microftalmia, hidrocefalia, calcificações cerebrais. ▪ Treponema pallidum: Sífilis → Hidrocefalia, surdez, retardamento mental. ▪ Altos níveis de radiação ionizante: Microcefalia, retardamento mental, malformações esqueléticas. ➔ Defeito do fechamento do tubo neural: Ocorre quando o tubo neural, que se forma por volta da 3ª semana do desenvolvimento embrionário, não se fecha e devido a isso, apresenta quadros clínicos de importância médica. ▪ Incidência varia de acordo com a população: 3 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC GENÉTICA JULIANA OLIVEIRA - Irlanda: 6 em cada 1000 nascidos vivos. - EUA: 1-2 em cada 1000 nascidos vivos. ▪ Mais frequente no sexo feminino. ▪ Mais frequente após casos mais graves. ▪ Variabilidade fenotípica: Anencefalia (permite aborto), encefalocele, meningomielocele, espinha bífida. ▪ Influência ambiental (alto risco): - Hipertermia gestacional. - Uso de drogas na gestação (ácido valpróico → alta teratogenicidade). - Deficiência de ácido fólico. ▪ Aconselhamento genético: - Risco de recorrência: Pode ser feito um cálculo de risco de recorrência, em gestante ou em alguma mulher que esteja pensando em ter um filho. Esse cálculo deve ser feito de maneira geral, pensando no defeito de fechamento e de maneira específica, pensando nas consequências. Esse cálculo dever ser feito com base na incidência da população, para cada um dos casos e com base também na sua família, e, de acordo com isso pode- se aumentar a proporção. - Prevenção: O uso de ácido fólico (4mg/dia) é muito importante antes da gestação (reduz a incidência pela metade). - Diagnóstico pré-natal: Dosagem de alfa-fetoproteína no líquido amniótico. USG gestacional na 18ª semana. - Tratamento pré-natal: Cirurgia fetal da meningomielocele diminui as sequelas pós- natais da doença. - Prevenção populacional: Adição de ácido fólico no cereal matinal. Teste bioquímico de triagem pré-natal (alfa-fetoproteína no sangue materno). ➔ Diabetes tipo 1: ▪ 1/500 na população branca. ▪ Concordância em MZ 40%. ▪ Concordância em DZ 5%. ▪ Locus do MHC – 90% dos casos. ▪ Locus do MHC + fatores ambientais. ➔ Luxação congênita do quadril: É um processo de displasia que acontece na cabeça do fêmur que se encaixa no quadril, esse processo de displasia acaba ocasionando um encaixe inadequado. Geralmente ao nascer a criança é submetida a duas manobras: Barlow e Ortolani, onde suas pernas são movimentadas para frente e para trás, para um lado e para o outro, abrindo e fechado, a fim de se ter a percepção se há ou não alguma inadequação. ▪ Ocorrência em 1/1500 nascidos e 6x maior no sexo feminino com recorrência de 5%. ➔ Lábio leporino acompanhado ou não de palato fendido: ▪ Ocorrência em 1/1000. ▪ Chance aumenta com idade materna e paterna avançada. 4 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC GENÉTICA JULIANA OLIVEIRA ▪ Concordância 40% em MZ e 5% em DZ – herdabilidade igual a 40%. ▪ A chance de pais normais terem 1 filho afetado é de 0,1%. Sendo o primeiro afetado, a chance do segundo também ser é de 4%. A chance de um pai afetado ter o 1º filho afetado é de 4% e pode chegar a 15% se tiver 1 filho afetado. Logo, é considerada uma questão genética forte. ➔ Pé torto congênito: ▪ Ocorrência de 1 a 3/1000 e é 2x maior no sexo masculino. ▪ Cerca de 10% dos casos de PTC acompanham-se de outras malformações. ▪ O risco de recorrência aumenta quando se irmão, pai ou filho afetados. ▪ É uma condição de origem multifatorial, no entanto, tem-se uma hipótese de que se tem apenas um alelo autossômico recessivo determinando isso, de forma que a sua expressão é condicionada por um sistema poligênico.
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