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SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL E PRÁTICAS CAMBIAIS AULA 6 Prof. Henri Siro 2 CONVERSA INICIAL Nas aulas passadas, tratamos do funcionamento geral do mercado de moedas, incluindo as negociações envolvidas em derivativos de câmbio, os quais são muitíssimo utilizados como equivalentes à compra e venda de dólares. Nesta última aula da disciplina, falaremos um pouco sobre os produtos bancários ligados à taxa de câmbio, principalmente aqueles produtos destinados a exportadores e importadores. Os bancos são grandes participantes do mercado de moedas, incluindo o mercado futuro e o mercado de opções. Essas instituições acabam negociando nesses mercados e repassando algumas das condições desses negócios aos seus clientes, como produtos bancários. Por se tratarem de acordos entre clientes e banco, os produtos bancários adquirem as mais variadas características e configurações, e podem conter uma mistura entre as concessões de crédito, as características de ajustes pela diferença dos preços existente no mercado futuro e/ou o pagamento de um prêmio para fixar o preço do contrato de câmbio, assim como acontece no mercado de opções. Nesta aula, vamos procurar entender um pouco mais sobre características gerais das negociações possíveis com o banco. CONTEXTUALIZANDO Os bancos são grandes negociadores no mercado financeiro. Eles constituem uma parcela importante das negociações de dólar futuro e de opções, também no mercado primário e secundário de moedas à vista. Segundo a BM&F Bovespa (2017), em janeiro de 2017, do total de 1.377.068 contratos de dólar futuro que estão em aberto, os bancos eram responsáveis por 423.265 contratos, ou seja, 31% do mercado de contratos futuros. No mercado de opções, o percentual de participação é ainda maior, em torno de 37% desse mercado. Esses contratos não são posições que os bancos utilizam, necessariamente, para negociação de seu próprio interesse. O que os bancos realizam são negociações no contrato futuro e de opções, de modo a ter uma posição possível de repassar a seus clientes. Por exemplo, no caso de um NDF que veremos no Tema 5 desta aula, ao fixar um valor de contrato para o câmbio para seus clientes, o banco precisa ter algum local para fixar esse valor, para então repassar a seus clientes essa condição, sem assumir risco 3 cambial. O que o banco faz, então, é negociar esses contratos no mercado futuro, para não correr o risco dessas posições. O mercado de contratos futuros e de opções permitem operações com os resultados mais diferentes possíveis. Os bancos, sabendo dessas possibilidades, estabelecem produtos financeiros para seus clientes, a fim de atendê-los em suas necessidades. No entanto, o banco não oferece isso sem uma contraparte das negociações que ele mesmo faz. Da mesma forma isso ocorre com o dólar à vista. A partir das condições de mercado que o banco possui, ele pode repassar esses valores para seus clientes. Nos próximos Temas, vamos entender melhor um pouco dos produtos bancários, sobretudo envolvendo o financiamento de exportadores e importadores a partir de linhas de financiamento do exterior. TEMA 1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS Uma das principais funções dos bancos é a concessão de crédito (Banco Central, 2016). Os créditos são importantes agentes na economia por estimularem a economia, canalizando um fluxo de dinheiro que, de outra forma, não teria destino para empréstimos. Existem operações de crédito que são características daqueles que envolvem transações com o exterior. Existem instituições especializadas em operar na concessão de crédito e que envolvem negociações com moedas estrangeiras. “Os bancos de câmbio são instituições financeiras autorizadas a realizar, sem restrições, operações de câmbio e operações de crédito vinculadas às de câmbio, como financiamentos à exportação e a importação e adiantamentos sobre contratos de câmbio” (Tavares, 2014, p. 32). As operações de crédito ligadas ao mercado de câmbio visam a dois tipos de agentes: aquele que tem dólares a receber, ou seja, o exportador; aquele que tem dólares a pagar, ou seja, o importador. A utilização de crédito com origem financeira no exterior tem algumas vantagens. Inicialmente, as taxas de juros fora do país são, em geral, muito mais baixas do que as taxas de juros brasileiras. Como já colocamos em aulas passadas, enquanto no Brasil convivemos com taxa de juros ao redor de 11% ao ano para os títulos públicos brasileiros (Tesouro, 2017), títulos livres de risco dos Estados Unidos giram ao redor de 2% ao ano (Bloomberg, 2017). Assim, 4 as taxas de juros advindas de recursos em dólares americanos, por exemplo, costumam apresentar uma taxa muito mais atrativa de custo em juros. No entanto, por serem empréstimos em dólares, quem toma emprestado o crédito deverá pagar o equivalente do empréstimo também em dólares. Tavares (2014, p. 172) esclarece que “alguns produtos bancários oferecidos às empresas para reforço de capital de giro utilizam linhas externas e são indexados ao dólar. Nesses casos, a avaliação de risco de crédito deve incluir a avaliação da capacidade de a empresa tomadora suportar a volatilidade da taxa de câmbio”. Isso significa que, quando uma empresa empresta dinheiro em dólares, ela está sujeita à oscilação do preço da moeda. Mas, para empresas exportadoras, ter dívidas indexadas à variação cambial pode ser uma boa oportunidade de fazer uma proteção natural dos seus recebimentos. No caso de empresas importadoras, também pode ser uma maneira interessante de obter dinheiro para pagamento de seus produtos. Veremos isso melhor nos Temas 3 e 4 desta aula. Os empréstimos por meio de produtos bancários podem ser destinados para o comprador (buyer´s credit) do mercado ou para o vendedor (seller´s credit) (Borges, 2012). Isso acontece tanto para o caso de uma importação ou exportação. Para o caso de um exportador, quem é o comprador, ou seja, o buyer é a empresa estrangeira. O empréstimo para o buyer, nesse caso, é um empréstimo destinado para a empresa compradora, residente no exterior, que obtém uma dívida para pagamento dos produtos que estão sendo exportados pela empresa brasileira. O que nos é mais interessante, nesse caso, é o empréstimo bancário realizado pela empresa brasileira. Nesse caso, a empresa brasileira é a vendedora, portanto, a seller, e o empréstimo pode ser destinado para adiantar o recebimento dos recursos financiando recursos para empresa exportadora. Esses empréstimos podem ser destinados para a produção, ou seja, anteriores ao embarque (ACC), ou podem ser depois de embarcado o produto, para adiantar o recebimento do comprador. Para o caso de um importador, quem é o comprador, ou seja, o buyer é a empresa nacional. O empréstimo para o buyer, nesse caso, é um empréstimo destinado para a empresa nacional, a qual obtém uma dívida para pagar a empresa no exterior. A empresa nacional realiza um empréstimo em dólares para pagamento da empresa vendedora, a qual é residente fora do país e 5 precisa receber em moeda estrangeira. Quando o empréstimo é para o seller, nesse caso, o empréstimo é realizado pela empresa estrangeira para adiantar o recebimento programado da empresa importadora residente no Brasil. Quando o empréstimo é realizado pelo comprador (buyer), este está alongando o pagamento de suas compras, pagando os juros do empréstimo para obter um tempo adicional para o pagamento de suas obrigações. Quando o empréstimo é realizado pelo vendedor (seller), este está adiantamento o recebimento de suas vendas, podendo estar ou não ligado diretamente para a viabilização à produção dos produtos vendidos. Além do crédito, os bancos são importantes intermediadores das negociações internacionais, permitindo a conversão da moeda nacional em internacionale vice-versa, no mercado de dólar à vista. É sobre ele que trataremos no próximo Tema. TEMA 2 – CÂMBIO À VISTA O mercado à vista, diferente dos mercados futuro e de opções, envolve o pagamento e o recebimento da moeda. O mercado à vista pode ser dividido em mercado primário e secundário. Segundo a Bm&F Bovespa (2017), o mercado de câmbio primário é formado pelas operações de natureza comercial e financeira negociadas, contratadas e liquidadas com bancos autorizados de acordo com a legislação cambial nacional em vigor. As operações desta natureza sensibilizam a balança comercial e, consequentemente, o balanço de pagamentos. Já o mercado de câmbio secundário é formado pelas operações negociadas, contratadas e liquidadas entre instituições financeiras habilitadas, não impactando a balança comercial, uma vez que não decorrem efetivamente de uma operação de comércio exterior ou transferência de recursos para o exterior. Portanto, o mercado à vista é aquele que trata das intermediações entre agentes econômicos que compram/vendem em dólares. Envolve a compra/venda de dólares por pessoas físicas com as instituições financeiras. Portanto, a cotação do câmbio turismo também se refere ao mercado à vista, por se tratar da cotação do dólar para turismo no exterior. Além disso, podemos observar que pagamentos com cartão de crédito por produtos no exterior também estão incluídos nas transações que exigem a transação em moeda estrangeira, em que há a entrega da moeda para compras feitas fora do Brasil. No Brasil, há em torno de 189 instituições habilitadas para operar no mercado de câmbio (Banco Central, 2016b). “As operações de câmbio são realizadas entre bancos, corretores, distribuidores e outros agentes 6 especialmente autorizados. Esses agentes são denominados operadores de câmbio” (Tavares, 2014, p. 72). Como já colocamos na Aula 3, os operadores de câmbio estão entre os poucos a quem é permitido possuir conta com depósito em dólares. Essas instituições podem ter conta em dólar e podem operar no mercado à vista de dólar. Apesar de não existir um mercado central para a negociação do dólar, é possível negociá-lo na BM&F Bovespa. A vantagem em realizar a negociação de dólares na bolsa de valores é a de que todos os participantes podem saber, claramente, qual o preço negociado pelo ativo. Ou seja, mesmo que um participante não esteja negociando dólares na bolsa de valores, ele pode utilizar as informações daqueles que o fazem para ter uma referência do preço de negociação do dólar. Portanto, a possibilidade de negociar o dólar na bolsa de valores traz certa transparência e publicidade para o preço de negociação de dólares. As instituições, no entanto, não precisam, necessariamente, utilizar a bolsa de valores para realizar as negociações de dólares. O dólar com o qual somente os operadores de câmbio podem realizar negócios na BM&F Bovespa é chamado de dólar pronto. Ele possui a característica de ter de ser entregue em até dois dias úteis depois da negociação. As negociações envolvendo o dólar pronto de maneira aberta na bolsa de valores são só uma das várias maneiras de se realizarem negociações entre as instituições habilitadas a operar no mercado de câmbio. O mercado pronto na bolsa de valores é importante, mas a grande maioria dos negócios acontece fora da negociação aberta em bolsa de valores. Segundo a Bm&F Bovespa (2017b), a negociação mensal de dólar pronto está ao redor de U$300 milhões. Isso é muito pequeno se comparado com o volume de negociações dos grandes dealers, por exemplo, o Santander que registrou U$175 bilhões em um mês (Banco Central, 2017). Pela característica do mercado de câmbio, de não apresentar um único preço pela moeda, é possível que os participantes queiram realizar negociações sem que ninguém mais saiba dos preços e volumes dessas operações, os quais acabam acontecendo fora da bolsa de valores. Também, como não há a necessidade de existência de um mercado central, as transações acabam acontecendo de maneira bilateral. A Bm&F Bovespa (2017) ajuda a esclarecer, sobre as negociações que ocorrem fora da bolsa de valores, que uma de suas principais características é a não divulgação de informações acerca das transações realizadas, especialmente no que concerne aos preços. Isto é, os 7 participantes das negociações não sabem quais os preços que estão sendo tratados pelos demais agentes. É importante observar que o Banco Central mantém registro das principais negociações realizadas com o dólar à vista. Transações até U$3 mil são necessárias à apresentação de carteira de identidade e CPF, e, para transações acima de U$3 mil dólares, além desses documentos, a pessoa deve apresentar um documento que comprove a origem dos recursos (Portal Brasil, 2012). Todas essas operações devem ser registradas no Sistema Integrado de Registro de Operações de Câmbio. No caso comercial, transações acima de U$10 mil devem passar por registro no Banco Central, com limite máximo de U$100 mil. No próximo Tema, vamos tratar sobre crédito para exportação. TEMA 3 – CRÉDITO PARA EXPORTAÇÃO As exportações são extremamente importantes, pois trazem divisas para o país e representam o grau de competitividade internacional. Segundo O Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, em 2015 o Brasil exportou em torno de U$191 bilhões. O benefício de obter crédito advindo em moeda estrangeira está na isenção de IOF e nas menores taxas de juros internacionais. Portanto, para empresas que possuem atividade de comércio fora do Brasil, pode fazer sentido a busca por crédito em moeda estrangeira. No caso dos exportadores, uma dívida em dólar é um hedge natural de suas atividades. Como isso funciona? Imagine que um exportador realizou determinada venda e tem um valor a receber. Vamos supor que se trata de U$100 mil, os quais seriam equivalentes a R$300 mil. Vamos supor que o exportador optou por obter um financiamento nesse montante. Em vez de procurar um empréstimo de origem estrangeira, o exportador optou por obter um financiamento com os recursos com origem de moeda nacional, ou seja, adveio de uma instituição financeira o recurso, normalmente em reais, sem vínculo com a moeda estrangeira. Quando chegou o momento de o exportador receber os valores em dólares da sua venda, os quais permitiriam ao exportador quitar a dívida com o banco no Brasil, o dólar caiu para R$2,50/USD. Ou seja, em vez de receber R$300 mil pela sua venda para quitar 8 a dívida, agora o exportador receberá somente R$250 mil. O exportador terá problema em pagar suas dívidas, devido à queda do dólar. Agora vamos supor que, em vez de o exportador ter tomado empréstimos em reais, ele conseguiu financiamento advindo do exterior, em moeda internacional. Ou seja, o exportador terá uma dívida em dólares. Nesse caso, o exportador está devendo U$100 mil dólares para um banco estrangeiro. Vamos supor que ele receba suas exportações e o valor do real caia. Nesse caso, a sua receita irá diminuir. Mas como a sua dívida também está em moeda estrangeira, ela também reduziu. O exportador terá de pagar os mesmos U$100 mil dólares, independentemente da cotação do real. Mas e se o dólar subir? Nesse caso, o exportador não terá uma dívida maior em reais? É verdade, mas não é um problema, uma vez que a receita do exportador também aumentará. Por exemplo, se o exportador fez um empréstimo de U$100 mil quando a cotação do dólar estava R$3,00, nesse momento, ele passou a dever R$300 mil. Vamos supor que o dólar suba de R$3,00 para R$3,50. Depois da alta do dólar, o exportador continua devendo U$100 mil, os quais seriam equivalentes, depois da alta do dólar, a R$350 mil. Ou seja, a dívida aumentou por conta da alta do dólar. No entanto, suponha que o exportador tem uma receita para receber em dólares. Sua receita planejadaé de U$100 mil. Quando o dólar estava a R$3,00, ele esperava receber R$300 mil, mas, com a cotação do dólar a R$3,50, ele receberá, agora, R$350 mil. Ou seja, sua dívida aumentou em reais, mas sua receita também aumentou. É por isso que, para o exportador, uma dívida em moeda estrangeira pode ser um instrumento para dissolução dos riscos de pagamento das dívidas em uma situação de queda do dólar. Para as exportações, existem linhas de créditos específicas. As linhas de crédito para exportadores se dividem em dois tipos principais: pré-embarque (ACC) e pós-embarque (ACE). O primeiro se trata de capital para financiar a produção de bens anteriores à exportação, e o segundo se trata do adiantamento do recebimento dos embarques já realizados (Borges, 2012). ACC – Adiantamento sobre Contrato de câmbio – Para Tavares (2014, p. 172-173), o ACC “é, portanto, um empréstimo concedido antes do embarque dos produtos no qual a instituição financeira assume o risco de desempenho de exportação da empresa. O tomador de ACC deve apresentar um contrato de câmbio registrado no Banco Central do Brasil (BACEN), 9 caracterizando a exportação. Para a concessão do ACC, a instituição financeira utiliza linhas em moeda estrangeira captadas no exterior”. O maior prazo para um ACC é de 360 dias corridos, praticamente um ano antes à data do embarque do produto que será exportado. Portanto, uma ACC envolve, antes de tudo, um acordo comercial entre o exportador brasileiro e o comprador desse produto no exterior, e, a partir desse acordo comercial, o exportador pode solicitar um crédito, em moeda estrangeira, para a produção desse produto envolvido no acordo comercial. Quando o exportador embarca a mercadoria, ele pode entregar os documentos comprobatórios e deverá quitar sua dívida. Ou poderá transformar sua operação de ACC em uma operação ACE. Na Figura 1 a seguir, é possível observar os passos de enumerados do fluxo da obtenção e pagamento de uma ACC. Figura 1 – O fluxo para obtenção e pagamento de uma ACC Fonte: Borges, 2012, p. 94. Borges (2012, p. 94) descreve os passos de captação de recursos ACC, ilustrados na Figura 1, da seguinte forma: 1- Negociação entre as partes. 2- O banco capta recursos no exterior. 3- Contratação do câmbio de exportação (ACC). 4- O exportador utiliza os reais para produção – fase pré-embarque. 5- Embarque da mercadoria. 10 6- Mercadoria com destino ao país do importador. 7- Entrega dos documentos representativos da exportação. 8- O importador paga ao exportador em moeda estrangeira. 9- O exportador paga (liquida) o ACC em moeda estrangeira. 10- O banco paga sua dívida. Observe que uma ACC se trata de uma contratação de crédito com recursos advindos do exterior. ACE – Adiantamento sobre Cambiais Entregues – Tavares (2014, p. 173) esclarece que “o ACE é uma modalidade de crédito em que uma empresa exportadora recebe, antecipadamente, de um banco no Brasil o valor total ou parcial de um contrato de câmbio, em moeda nacional equivalente à moeda estrangeira, após o embarque das mercadorias e a apresentação de documentos de embarque e contrato de câmbio registrado no Bacen”. Portanto, trata-se de um adiantamento de um recebível exterior, em que o importador que está no exterior ainda deverá pagar à empresa exportadora que já embarcou o produto. No entanto, para adiantar o recebimento, a empresa exportadora contrata um ACE. No caso de a empresa já ter contratado um ACC, ou seja, um contrato de crédito pré-embarque, como a empresa importadora que está no exterior pode demorar a pagar pela mercadoria que será recebida, “é muito frequente que uma operação de ACC seja convertida em operação de ACE após a comprovação do embarque das mercadorias” (Tavares, 2014, p. 173). O ACE é liquidado uma vez que o importador que está no exterior pague pelo produto, de modo que o banco no exterior repassa o dinheiro no Brasil, e notifica o exportador e liquida o contrato de câmbio. Na Figura 2 a seguir, é possível observar os passos de enumerados do fluxo da obtenção e pagamento de uma ACE. Figura 2 – O fluxo para obtenção e pagamento de uma ACE. 11 Fonte: Borges, 2012, p. 98. Borges (2012, p. 98) descreve os passos de captação de recursos ACE, ilustrados na Figura 2, da seguinte forma: 1- Negociação entre as partes – venda a prazo para o importador. 2- O banco capta recursos no exterior. 3- Embarque da mercadoria. 4- Mercadoria com destino ao país do importador. 5- Entrega dos documentos representativos da exportação. 6- Contratação do câmbio de exportação – ACE. 7- O exportador recebe os reais – fase pós-embarque. 8- No vencimento, o importador paga ao exportador em moeda estrangeira. 9- O exportador paga (liquida) em moeda estrangeira o ACE. 10- O banco paga sua dívida. Outro instrumento de crédito vinculado ao mercado de crédito e à moeda estrangeira é a export note. Export Note – A export note se trata de um papel vinculado a uma receita no exterior. O exportador possui um valor a receber do seu comprador no exterior, mas ele prefere adiantar esse dinheiro, criando um papel de dívida com lastro no que ele tem a receber. Assim, quem emite a export note receberá o valor antecipadamente, mas um montante menor, pois o comprador da export note compra o papel com deságio. A diferença entre o valor pago e o que será 12 recebido será o ganho do investidor comprando a export note. Outro ponto importante é o de que “do ponto de vista do investidor, as export notes funcionam como hedge cambial, ou seja, uma proteção contra perdas cambiais. Empresas com dívidas em moeda estrangeira e, portanto, expostas ao risco cambial podem fazer operações de hedge cambial ao adquirir export notes – ativos indexados ao dólar” (Tavares, 2014, p. 174). Isso significa que uma empresa com dívida em dólares pode perder dinheiro com a alta do dólar, pois sua dívida crescerá. No entanto, ao comprar uma export note, essa empresa se protege da alta do dólar, pois o valor a ser recebido pela export note oscila também com a flutuação da taxa de câmbio. Portanto, se o dólar subir, a empresa endividada em dólares terá um valor maior a pagar, mas, por ter adquirido a export note, também terá um valor maior a receber. TEMA 4 – CRÉDITO PARA IMPORTAÇÃO A importação impacta negativamente na conta Balanço de Pagamentos do país. Importamos produtos porque não o possuímos ou porque ele é mais competitivo advindo de outros países. Assim, a importação é muito importante para suprir os consumidores ou as próprias fábricas com matérias-primas. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, as importações brasileiras de 2015 totalizaram U$171,4 bilhões de dólares. Como instrumento de crédito para o importador, existe a Carta de Crédito de Importação, em que o banco brasileiro garante ao exportador estrangeiro o pagamento da sua exportação, dando mais segurança à transação. Também existe crédito advindo das instituições financeiras estrangeiras. O Finimp Direto configura um crédito de uma instituição estrangeira para o importador brasileiro, enquanto com o Finimp Repasse o banco brasileiro recebe o crédito do exterior, o qual faz o repasse desse crédito ao importador. Na Figura 3, é possível observar como se dá o passo a passo do FINIMP, o financiamento para a importação. Figura 3 – Fluxograma de financiamento à importação (FINIMP) 13 Fonte: Borges, 2012, p. 112, adaptado pelo autor. Borges (2012, p. 98) descreve o fluxograma do FINIMP, ilustrado na Figura 3, da seguinte forma: 1- Negociação entre o importador e o exportador (pagamento à vista). 2- O importador solicita financiamento à importação no seu banco. 3- O banco do importador capta recursos no exterior pelo prazo do financiamento a ser concedido ao importador. 4- O banco do importador firma contratode financiamento de importação com o importador, estabelecendo todas as condições do financiamento. 5- O exportador prepara documentos de exportação. 6- O exportador embarca a mercadoria com destino ao Brasil. 7- O exportador envia os documentos representativos da exportação do importador. 8- O banco do importador autoriza o banco que emprestou a repassar os recursos ao banco do exportador. 9- O banco do exportador efetua o pagamento ao exportador (pagamento à vista). 10- O importador libera a mercadoria na alfândega. 11- No vencimento do financiamento, o importador paga sua dívida. 14 12- O banco do importador liquida sua dívida com o banco que emprestou os recursos. Pelo que foi exposto até o momento, pode-se observar que tanto no caso dos contratos de ACC, ACE e FINIMP a origem dos recursos é estrangeira. Portanto, possuem menores taxas de juros e não pagam IOF. Por isso é importante a caracterização dessa atividade com o mercado estrangeiro, para habilitar a empresa a estar isenta de IOF sobre esses empréstimos. No próximo Tema, vamos falar sobre NDF’s, que são instrumentos bancários para proteção cambial. TEMA 5 – NON DELIVERABLE FORWARD (NDF) A sigla de NDF é Non Deliverable Forward, ou Contrato a Termo de Moeda. É um contrato muito parecido com o Mercado Futuro. Trata-se de um contrato de fixação do preço da moeda, em que o que conta é a diferença da moeda entre o preço contratado e o preço final da moeda, no vencimento do contrato. Portanto, suas características são muito semelhantes ao contrato futuro de dólar, com a diferença que a NDF não apresenta a necessidade de ajuste diário das diferenças. O ajuste da diferença ocorre somente no vencimento do contrato. A NDF permite a proteção dos exportadores, importadores, devedores ou credores em moeda estrangeira a se proteger da oscilação de câmbio. Sua similaridade com o mercado futuro pode gerar a dúvida de qual é melhor: NDF ou contrato futuro de moeda estrangeira? Não há uma resposta certa a essa pergunta. O que devemos considerar são as diferenças entre o contrato futuro e o NDF para tomar uma decisão consciente. O Contrato Futuro costuma ser um tipo de contrato mais barato para negociação. Como as negociações ocorrem diretamente no mercado futuro, o custo da negociação do contrato futuro é a corretagem da intermediação e os emolumentos da bolsa de valores. Muitas corretoras oferecem descontos consideráveis da tabela de custos, de modo que os custos de operação de contratos futuros acabam sendo muito pequenos perto do valor financeiro negociado no contrato. No entanto, ao negociar um contrato futuro e a cotação da moeda fizer um movimento em sentido contrário à sua posição, será necessário desembolsar, todos os dias, o valor do Ajuste Diário. Também existe a necessidade do depósito das garantias. Portanto, apesar de, em geral, 15 apresentarem custos reduzidos para a fixação do câmbio, os contratos futuros apresentam a necessidade de fôlego financeiro para arcar com as oscilações diárias do dólar e dispor de um valor (pode ser um investimento) para colocar em garantia. Para empresas com pouco dinheiro em caixa de curto prazo, a negociação de contratos futuros acaba sendo mais difícil, por conta dessas exigências financeiras. O NDF é uma alternativa, portanto, para essas empresas com pouca disposição de caixa de curto prazo. Os custos do NDF são contratos diretamente com o banco. Apesar de os custos desse contrato tenderem a ser mais altos do que a negociação no mercado financeiro, não há necessidade de disposição de valores para o Ajuste Diário. A garantia também é acertada diretamente com o banco, mas, por ser um contrato bilateral, é possível ter flexibilidade sobre como essa garantia será disposta para o banco, e o que será utilizado como garantia. Como a NDF é negociada entre as partes, a taxa de câmbio e os detalhes do contrato são acordados livremente (CETIP, 2016). Em suma, o NDF pode ser um importante substituto dos contratos futuros para empresas que não possuem o fôlego financeiro de curto prazo de dispor de garantias e de dinheiro líquido para o ajuste diário. Enquanto o contrato futuro pode ser uma boa alternativa para empresas com maior fôlego financeiro, por ser, em geral, mais barato para quem o negocia do que a contração de NDF’s, as NDF’s podem ser utilizadas em conjunto com crédito, como um instrumento de fixar a cotação do crédito. Portanto, o contratante paga um prêmio para a fixação do câmbio, muito próximo do conceito existente no mercado de opções (CETIP, 2016). TROCANDO IDEIAS Além da obtenção de crédito bancário com recursos do exterior, também é possível a emissão de títulos de dívida abertamente para o mercado. A diferença, é que o recurso não advém de uma única instituição, mas é pulverizado pelo mercado, dando possibilidade de aumento da captação de recursos. A emissão de títulos de dívida no mercado estrangeiro é muito dependente das condições econômicas do país. Quando o país está com problema de confiança do ponto de vista do mercado financeiro internacional, reduzem-se os volumes de captação em moeda estrangeira, e também as taxas para a captação aumentam (OGLOBO, 2014). 16 O importante do mercado financeiro internacional é a obtenção de uma maior quantidade de recursos, taxas de juros mais baratas e prazos mais longos para pagamento das dívidas (Souza; Mergulhão, 2012). Isso porque, como já vimos anteriormente, o nível de juros dos empréstimos em moeda de países mais avançados é muito menor do que aquele do Brasil, o que também exige para aqueles que emprestam dinheiro condições menos favoráveis do que se consegue no mercado brasileiro. Mas é importante, neste momento, entender a diferença entre a emissão de títulos de dívida e a obtenção de crédito bancário. O crédito bancário é um empréstimo advindo de um banco, a emissão de valores mobiliários, considerados títulos de dívida privados, são dívidas emitidas pelas empresas e que podem ser compradas por diversos investidores, e renegociadas entre eles. NA PRÁTICA Em que tipo de empresa a contração de dívida em moeda estrangeira pode ser considerada como um hedge natural? Por quê? Dê um exemplo. As empresas exportadoras podem utilizar a dívida em moeda estrangeira para funcionar como um hedge natural de suas receitas. Se uma empresa exportadora obtém sua dívida com origem em recurso nacional, há a possibilidade de descasamento entre a receita e a dívida, porque, ao cair o dólar, a receita da empresa diminui em moeda nacional, mas a dívida da empresa, não. Enquanto que, ao obter um financiamento em moeda estrangeira, a dívida subirá e cairá em moeda nacional juntamente com a receita da empresa, ambas oscilando de acordo com a taxa de câmbio. Suponha que uma empresa exportadora realizou uma exportação no valor de U$100 mil dólares, mas ainda não os recebeu. Como a taxa do dólar está a R$3,00, a empresa, pensando no valor que irá receber, realiza um empréstimo de R$300.000,00 em um banco nacional. Quando chegou o momento de receber o valor da sua venda, a taxa de câmbio havia caído para R$2,50, de modo que a empresa recebeu, pelos U$100 mil dólares, o montante de R$250 mil. Mas a dívida da empresa permanece nos R$300 mil acrescidos dos juros. Essa diferença que gerou, devido à queda do dólar, pode colocar a empresa em dificuldades financeiras. Mas agora suponha que a empresa exportadora realizou o mesmo valor em vendas, mas, em vez de realizar um contrato de empréstimos em moeda 17 nacional, a empresa realiza um contrato de empréstimo de U$100 mil. Como o dólar estava a R$3,00 no momento da contratação da dívida, o total da sua dívida em reais era de R$300.000,00. No momento que recebeu o dinheiro de suas vendas, ou seja, os U$100 mil dólares em produtos que havia vendido, acotação do dólar havia caído para R$2,50. Isso significa que, em vez de receber R$300 mil pelas suas vendas, a empresa recebeu R$250 mil. E como ficou a sua dívida em reais? Como a dívida da empresa, agora, é em dólares, ela continua devendo U$100 mil + juros. Os U$100 mil da sua dívida já não valem mais R$300 mil, mas passaram a corresponder a R$250 mil. Ou seja, quando o dólar caiu, a empresa exportadora teve sua receita diminuída, mas, como sua dívida também estava em dólar, o valor, em reais, da dívida, também caiu. FINALIZANDO Os produtos bancários são importantes instrumentos para viabilizar os negócios internacionais. A segurança de pagamentos que os bancos oferecem para permitir que empresas em diferentes países realizem negociações entre si é função primordial para a manutenção das trocas comerciais entre países. Dentre os serviços bancários para as negociações internacionais, a obtenção de crédito em moeda estrangeira é um instrumento bancário muito relevante e potencializa tanto a produção nacional exportadora, quando a capacidade de importação de produtos para a produção de bens. Os bancos oferecem para os seus clientes, sejam empresas, pessoas físicas ou até mesmo outras instituições financeiras, condições flexíveis das negociações que obtêm no mercado de moedas como um todo, seja repassando proteção cambial, seja oferecendo taxas de câmbio, seja oferecendo crédito com origem estrangeira. A flexibilidade das negociações bilaterais que oferecem os bancos permite com que as empresas obtenham, com esses agentes financeiros, condições que não obteriam diretamente no mercado de moedas. As bolsas de valores oferecem instrumentos para proteção cambial, no entanto, estes funcionam de maneira padronizada. Os bancos são alternativas para captação de crédito e para proteção da variação cambial. 18 REFERÊNCIAS BANCO CENTRAL, 2016. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/pre/composicao/bc.asp>. Acesso em 9 jan. 2017. BANCO CENTRAL, 2016b. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/rex/IAMC/Port/Instituicoes/inst_autorizadas.asp>. Acesso em: 9 jan. 2017. BANCO CENTRAL, 2017. 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