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1 
 
 
 
 
LINGUÍSTICA II (CEL0582/5674810) 
9001 
Professor: 
 
 
2 
 
 
LINGUÍSTICA II 
A LINGUÍSTICA E SUAS CORRENTES 
TEÓRICAS 
Olá! 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
1. Rever o conceito de Linguística; 
2. discutir a relação entre Linguística e doutrina gramatical; 
3. conhecer, brevemente, algumas correntes teóricas da Linguística, a saber: 
Gerativismo, Sociolinguística eFuncionalismo; 
4. compreender a importância da Linguística na formação do futuro professor de 
Língua Portuguesa. 
1 Linguística – uma ciência moderna 
Embora a investigação sobre a linguagem humana seja antiga, a Linguística, ciência 
que a tem como objeto de estudos, é relativamente nova. Destaca-se sua projeção 
ao se firmar como a primeira ciência humana. Nas 
palavras de Aldo Bizzocchi, O fantástico mundo da linguagem. 
“Hoje, porém, a maioria das ciências humanas tem rigor metodológico 
comparável ao das ciências naturais e usa ferramentas como a lógica e a 
matemática para descrever seus objetos de estudo e construir teorias 
complexas. 
Para que as ciências humanas adquirissem esse rigor, foi decisiva a 
contribuição da linguística. Ela foi a primeira dessas disciplinas a se 
constituir como ciência, no final do século 18, com método e objeto 
próprios e bem definidos, emprestando depois às demais o seu método 
de pesquisa.” (BIZZOCCHI, 2000). 
Para entender o caráter científico da Linguística, faz-se necessário 
apresentar alguns de seus 
pressupostos (cf. CUNHA et al., 2009): 
3 
 
A partir de uma metodologia bem definida, busca-se sistematizar as observações 
sobre a linguagem, relacionandoas a uma teoria construída para esse propósito. 
Observa-se a capacidade da linguagem, a partir de enunciados falados e escritos, 
que são investigados e descritos à luz de princípios teóricos, que podem ser 
validados por meio de análise de enunciados produzidos em várias línguas. Embora 
a escrita também seja considerada pela Linguística. Cabe dizer que seu foco 
principal é a língua falada, uma vez que é a modalidade de uso da língua 
desenvolvida naturalmente pelo indivíduo a partir do contato com seus familiares. 
Como busca a comprovação empírica dos fatos, a maioria das correntes linguísticas 
contemporâneas trabalha com dados verificáveis por meio de observações e 
experiências. 
É uma ciência descritiva. Por isso, não há, em suas análises, qualquer tipo de 
julgamento ou preconceito em relação a determinados usos. Propõe-se a entender 
o funcionamento das línguas. 
Desse modo, podemos concluir que o trabalho dos linguistas, cientistas que se 
dedicam à Linguística, é estudar a linguagem humana através da observação de 
como as línguas naturais se estruturam e funcionam, a fim de se obter não só 
descrições adequadas dessas línguas naturais, mas também entender mais sobre a 
natureza da linguagem. 
Saiba mais 
 
Embora a escrita também seja considerada pela Linguística, cabe dizer que seu foco principal é 
a língua falada, uma vez que é a modalidade de uso da língua desenvolvida naturalmente pelo 
indivíduo a partir do contato com seus familiares. 
2 Linguística e a doutrina gramatical 
Depois de rever os objetivos da investigação linguística, vamos continuar a nossa 
revisão e abordar a relação entre Linguística e doutrina gramatical. Começaremos 
com uma citação que ilustra, muitíssimo bem, essa 
relação: 
“A Linguística não se compara ao estudo tradicional da gramática; ao 
observar a língua em uso o linguista procura descrever e explicar os fatos: 
os padrões sonoros, gramaticais e lexicais que estão sendo usados, sem 
avaliar aquele uso em termos de um outro padrão: moral, estético ou 
crítico.” (PETTER, Margarida. Linguagem, língua e Linguística. In. FIORIN, 
José Luiz. Introdução à Linguística. 
São Paulo: Contexto, 2002, p. 17). 
2.1 Analisemos as seguintes construções: 
1 - “Os 
livros 
4 
 
chegaram.
” 2 - “Os 
livro 
chegou.” 
O que um linguista e um gramático diriam sobre os exemplos apresentados em (1) 
e (2)? 
Um gramático diria que apenas (1) está de acordo com a prescrição e que (2) 
apresenta um “erro” em relação às regras de concordância. E o linguista? Qual seria 
o seu comentário? 
Sabemos que a Linguística, por conta de seu caráter científico, não julga os 
enunciados de uma língua. Não há preconceitos ou rótulos de “certo” e “errado” no 
que se refere a construções comumente observadas no uso da língua. Por isso, um 
linguista, ao analisar os exemplos (1) e (2), diria que ambos são enunciados lógicos 
e coerentes, comuns nos contextos comunicativos da Língua Portuguesa. O exemplo 
(2), embora siga um modo de combinação que difere daquele apresentado nas 
gramáticas normativas, apresenta regras gramaticais próprias. 
Para o linguista, que não tem como objetivo fazer julgamentos de correto-incorreto, 
as falas do juiz e do mecânico estariam adequadas ao contexto comunicativo em 
que se encontram. As construções utilizadas 
refletem o nível de escolarização dos personagens. Por exemplo, o juiz, por ser 
altamente escolarizado e estar em uma situação comunicativa formal, faz uso do 
pronome oblíquo “o” para se referir ao senhor Marcos Mattos. Por sua vez, o 
mecânico Ademir, analfabeto, usará o pronome “ele” na função de objeto direto 
(“arrumá ele”). Para o gramático, que considera um determinado uso da língua 
como correto, apenas a fala do juiz estaria correta, pois há muitos usos, na fala do 
mecânico, que não condizem com a prescrição. 
O linguista e o gramático diriam que a fala do E.T. é agramatical, pois sua construção 
não obedece às regras de funcionamento da nossa língua, à gramática intuitiva que 
cada falante tem. O extraterrestre, como não é um falante nativo do português, 
apresenta uma construção com um modo de combinação possível no português. 
3 As correntes da Linguística 
Já entendemos que Linguística corresponde ao estudo científico da linguagem 
humana. Assim como ocorre em outras ciências, podemos ter diferentes maneiras 
de compreender o mesmo objeto de estudo. Desse modo, a Linguística apresenta 
algumas correntes teóricas, que vão investigar a linguagem humana sob 
perspectivas diferentes. Vamos a uma breve apresentação de algumas delas. 
Teremos como foco as correntes linguísticas que serão abordadas em nossa 
disciplina, a saber: Gerativismo, Sociolinguística e Funcionalismo. Vale dizer que há 
outras não menos importantes. 
5 
 
 
Costuma-se atribuir o nascimento da Linguística moderna no ano de 1916 à 
publicação do Curso de Linguística Geral, obra do linguista suíço Ferdinand de 
Saussure. Sabemos que, na realidade, as bases da Linguística moderna já haviam 
sido lançadas ao longo do século XIX a partir do trabalho de muitos linguistas que 
tinham como foco os estudos de comparação entre línguas diferentes. 
As ideias de Saussure, apresentadas no CLG, ganharam tanto destaque que, no 
século XX, surge uma das mais importantes escolas científicas: o Estruturalismo, 
que firmou sua influência não só na Linguística, mas também em outras áreas como 
a Sociologia, a Antropologia, a Psicanálise, a Filosofia etc. 
O estruturalismo de Saussure, embora considere a “língua” como um fato social, se 
atém ao caráter formal e estrutural do fenômeno linguístico, uma vez que a concebe 
como uma estrutura. 
 
Em 1957, o linguista Noam Chomsky promove uma verdadeira revolução nos 
estudos da linguagem ao propor uma abordagem caracterizada pela ausência do 
componente social: a língua passa a ser vista como um fenômeno mental. Para 
Chomsky e sua teoria Gerativa (ou Gerativismo), a capacidade humana de falar e 
entender uma língua é o resultado de uma capacidade genética. Seu objetivo era 
propor uma teoria explicativa que pudesse contemplar não só as frases realizadas, 
mas também aquelas que seriam, potencialmente, produzidas pelo falante. 
Como uma reação aos modelos formais de análise linguística do Estruturalismo e do 
Gerativismo, na década de 1960, nos Estados Unidos, surge a Sociolinguística, que, 
na sua vertente variacionista,tem como nome principal o linguista William Labov. 
A Sociolinguística propõe novamente a focalização do aspecto social, mas sob o 
ponto de vista da variação e a possibilidade de sistematizá-la. Assim, tem-se como 
6 
 
pressuposto teórico a ideia de que toda língua muda com o tempo e varia em função 
de aspectos geográficos e sociais. 
Em 1975, as análises funcionalistas ganham destaque na linguística norte-
americana a partir dos trabalhos de Dwight Bolinger. Ainda como uma oposição às 
ideias estruturalistas e gerativistas, surge uma teoria que tem como objetivo 
explicar a língua com base no contexto linguístico e na situação extralinguística: o 
Funcionalismo, corrente teórica que tem como foco de interesse a relação entre 
estrutura gramatical das línguas e os contextos de comunicação em que são 
utilizadas. Sobre o Funcionalismo europeu, Cunha (2009) afirma: “atribui-se aos 
membros da Escola de Praga, que se originou no Círculo Linguístico de Praga (...), as 
primeiras análises na linha funcionalista.” (p.159). 
Fique ligado 
 
Como dissemos anteriormente, em Linguística II, vamos nos ater a uma breve apresentação 
dessas três correntes linguísticas. É importante dizer que não existe pressuposto teórico melhor 
ou pior. Vamos entender que essas áreas terão como objeto de estudo a linguagem verbal 
humana, cada uma com um foco diferente de análise. 
4 A Linguística é a salvação? 
Depois de conhecermos, brevemente, outras correntes linguísticas, vamos encerrar 
a nossa primeira aula, refletindo sobre o papel da Linguística na formação do futuro 
professor de Língua Portuguesa. 
À medida que conhecemos melhor as correntes gerativistas, sociolinguísticas e 
funcionalistas, vamos ampliando a nossa visão sobre a língua e passamos a refletir 
sobre a aplicação dos resultados das pesquisas linguísticas nessas áreas na questão 
do ensino. Como as inovações introduzidas pela Linguística podem nos ser úteis 
para tratar algumas ideias preconcebidas e amplamente difundidas pela doutrina 
gramatical? 
Sobre esse aspecto, é preciso ter cuidado. Retomamos um trecho do item “A 
salvação na Linguística?”, de Celso Pedro Luft (1997): 
“Nenhum ensino em crise pode ser salvo pela simples troca de uma teoria 
por outra, ainda que esta, como a Linguística, seja do mais alto nível 
científico. Porque não é esse o problema.(...) 
O lugar da Linguística, antes de mais nada, é nos cursos de graduação e 
pós-graduação, onde é ministrada a futuros técnicos, pesquisadores, 
especialistas do ramo, professores, autores de livros didáticos. 
Ensinar Linguística no 1º e 2º Grau é uma insensatez. As teorias 
gramaticais estão em evolução constante, sua abordagem exige 
maturidade mental, capacidade de reflexão e abstração. 
O que a Linguística traz de positivo ao ensino de línguas são as noções 
fundamentais de linguagem e língua, de variedades e registros; a noção 
de que não há língua que não evolua; a noção de que o uso e os fatos 
devem prevalecer sobre preconceitos normativistas – sobretudo, a noção 
de que a língua é um saber interior, pessoal, dos falantes, de onde o ensino 
deve partir e em que deve, sempre, se basear. (LUFT, 1997: 97) 
7 
 
Mas tudo isso é o embasamento teórico imprescindível que deve guiar o 
professor em suas aulas práticas, e não se transformar em matéria de 
ensino. O ensino tem de ocupar-se com o manejo 
efetivo da língua, falada e escrita.” 
(LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade: por uma nova concepção da 
língua materna e seu ensino. Porto Alegre: L&PM, 1985, p.96-97.) 
Hoje, não é mais possível conceber um ensino que não considere os avanços 
trazidos pelas pesquisas científicas em relação aos fenômenos linguísticos. 
Felizmente, o Ministério da Educação está atento a isso. Vale destacar, no entanto, 
que essas reflexões devem fazer parte apenas da formação do professor de Língua 
Portuguesa. Como salientou Luft, não podemos “trocar uma teoria por outra” 
(p.96). 
O que vem na próxima aula 
Na próxima aula, você vai estudar: 
• O Gerativismo; 
• a faculdade da linguagem; 
• a Gramática Universal (GU); 
• o conceito de princípios e de parâmetros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
LINGUÍSTICA II 
O GERATIVISMO: FACULDADE DA 
LINGUAGEM 
Olá! 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
1. Conhecer o contexto histórico em que se insere o Gerativismo; 
2. conhecer o conceito de Faculdade da Linguagem; 
3. definir Gramática Universal (GU); 
4. distinguir princípios e parâmetros; 
5. comparar Empirismo e Racionalismo. 
Imaginem a seguinte situação: vocês acharam um filhote de macaco na rua e 
resolveram criá-lo como se fosse um bebê. Ele, aos poucos, se adaptou ao novo lar: 
consegue, sem problemas, segurar a mamadeira para mamar, dorme no berço como 
qualquer outra criança, adora ficar no seu colo... O tempo foi passando, o macaco foi 
crescendo, mas a questão é: se o macaco fosse uma criança normal, ou seja, sem 
patologia, o que aconteceria neste momento? 
Pois é, ele começaria a falar! 
Você acha que isso iria acontecer com o seu macaco? 
Não! Vamos entender o porquê com o Gerativismo. 
1 O Gerativismo 
O Gerativismo é uma corrente da Linguística, que teve início nos Estados Unidos, em 
1957, e tem como nome principal o linguista Noam Chomsky. 
A corrente da linguística que teve início no final da década de 1950, a partir das 
pesquisas de Noam Chomsky, também é conhecida como Linguística Gerativa, ou 
Teoria Gerativa, ou, ainda, Gramática Gerativa. 
9 
 
 
A teoria gerativista recebe esse nome, pois, segundo ela, a partir de um conjunto de 
regras, é possível produzir um número ilimitado de sequências linguísticas. Assim, 
seria impossível apresentar uma lista com-pleta das frases previstas pelas regras da 
língua. Poderíamos pensar, por exemplo, no seguinte: quantas frases seriam 
produzidas a partir da estrutura “SUJEITO + PREDICADO”? 
Noam Chomsky é linguista e cientista político norte-americano. 
Para conhecer um pouco mais sobre a vida de Chomsky, leia o artigo “Dentro da 
cabeça de Chomsky” ( 
https://super.abril.com.br/cultura/dentro-da-cabeca-de-noam-chomsky/). 
Em 1957, Chomsky publica seu livro “Estruturas sintáticas” (do inglês, Syntactic 
Structures), que marca o início do Gerativismo e promove uma revolução nos 
estudos linguísticos. Vale ressaltar que a Teoria Gerativa passou, ao longo dos anos, 
por uma série de reformulações, chegando, na década de 1990, ao Programa 
Minimalista (PM). Muitos autores, por isso, preferem se referir à teoria como um 
“Programa de investigação gerativista”. Os gerativistas buscam descrever e explicar, 
abstratamente, o que é e como funciona a linguagem humana. Por isso, propõem-se 
a elaborar um modelo teórico formal, inspirado na matemática. 
Devido à sua formação (matemática, psicologia, filosofia e linguística), Chomsky, no 
Gerativismo, parte do pressuposto de que é possível descrever algebricamente a 
língua humana, a partir de esquemas abstratos. Por isso, pode-se dizer que a base 
filosófica da teoria é o RACIONALISMO, que vê no pensamento, na razão, a fonte 
principal do conhecimento humano. 
Os racionalistas defendem a ideia de que a fonte principal do conhecimento humano 
é a mente, uma vez que os seres humanos recebem um número de faculdades 
específicas, cujo papel fundamental é permitir a aquisição do conhecimento. Vale 
ressaltar que no Empirismo, tal método matemático não é aceito e a experiência é o 
ponto de partida do conhecimento. 
2 Gerativismo: A Faculdade da Linguagem 
A partir da década de 1950, os estudos da linguagem, que eram guiados por uma 
postura behaviorista, passaram por expressivas transformações a partir das ideias 
de Chomsky. 
https://super.abril.com.br/cultura/dentro-da-cabeca-de-noam-chomsky/
10 
 
Segundo a visão behaviorista, o ser humano adquire a linguagem por imitação, ou 
seja, tudo é aprendido por condicionamento. Um dos principais defensores do 
BEHAVIORISMO foi o psicólogo americano Skinner (19041990), responsável pela 
descriçãode mecanismos de controle das ações humanas por estímulo e resposta. 
O linguista norte-americano Leonard Bloomfield é outro nome importante do 
behaviorismo. Segundo ele, a partir de estímulos, a criança, nos primeiros anos de 
vida, repete sons vocais. O processo envolve a visão, o tato (manuseio de objetos), a 
audição e a imitação do som até que ela, como um hábito, fixe determinada palavra 
e passe a usá-la. 
 
Segundo Chomsky, a linguagem é uma capacidade inata, está inscrita no DNA do ser 
humano. Por isso, na situação apresentada no início da aula, o macaco, ainda que 
seja criado apenas entre humanos, jamais desenvolverá a linguagem, que nele não é 
inata. Pelo fato de ser uma capacidade humana inata, ou seja, de fazer parte da 
constituição cerebral de todos os seres humanos sem patologias, as línguas devem 
apresentar 
características universais. 
Além do caráter universal da linguagem humana, Chomsky destaca um aspecto 
muito importante na linguagem humana: a criatividade. Todos os indivíduos, 
independentemente do seu nível de escolaridade, apresentam uma capacidade de 
criar infinitamente frases novas, das mais simples às mais complexas. A criatividade 
da linguagem humana é um fator que nos distingue dos animais e não poderia ser 
explicada tendo como base as ideias 
behavioristas. 
3 Como o cérebro é visto no Gerativismo? 
Para entender a proposta gerativista, é preciso conhecer o modo como Chomsky e 
seus seguidores compreendem a mente/cérebro do homem. 
Segundo Martins (2006), os gerativistas adotam uma visão modularista, 
mente/cérebro são entendidos como um sistema complexo, com uma estrutura 
altamente diferenciada e com ‘faculdades’ separadas, como, por exemplo, a 
faculdade da linguagem e a faculdade dos conceitos. 
Segundo Chomsky, da mesma maneira como sistemas complexos ou ‘órgãos do 
corpo’ – como o córtex visual e o sistema circulatório – têm suas propriedades 
11 
 
exclusivas e são estudados separadamente, com suas teorias próprias, também os 
diferentes sistemas cognitivos ou ‘faculdades’ da mente – como a faculdade da visão 
e a faculdade da linguagem – devem ser estudados separadamente. (cf. Chomsky, N. 
(1986) Knowledge of language : its nature, origin and use. New York: Praeger.) 
4 Gramática Universal (GU): princípios e parâmetros. 
O modelo gerativista, proposto por Noam Chomsky, considera que os seres humanos 
nascem dotados de uma faculdade da linguagem que é um componente da 
mente/cérebro especificamente dedicado à língua e marca a diferença fundamental 
entre os homens e os outros seres do planeta. O que fornece ao homem essa 
capacidade inata para falar é a faculdade da linguagem, geneticamente transmitida, 
biologicamente determinada e, portanto, inerente a toda espécie humana. 
Desse modo, não importa que uma criança seja falante de inglês, espanhol, russo ou 
português: todas possuem a mesma faculdade da linguagem, já que todo ser humano 
está predisposto a adquirir sua língua natural, a menos que possua algum problema 
patológico. 
Língua natural, língua materna ou língua nativa são expressões utilizadas para se 
referir à língua que o ser humano adquire a partir do ambiente linguístico que o 
cerca. 
Chomsky considera que a mente humana é composta por sistemas cognitivos, 
organizados em módulos. Assim, a faculdade da linguagem estaria em um desses 
módulos. Seguindo a tese da modularidade da mente, tem-se a hipótese do 
inatismo, segundo a qual há uma estrutura mental inata ou estado inicial que 
possibilita aos seres humanos adquirirem sua língua natural. 
Essa estrutura mental inata é chamada na teoria gerativista de Gramática Universal 
(GU). 
A GU é o estado inicial da faculdade da linguagem. Há, na GU, princípios e 
parâmetros. Os princípios são comuns a todas as línguas, apresentam caráter 
universal e são responsáveis por explicar a organização das línguas naturais. Já os 
parâmetros são específicos de uma língua e reconhecidos a partir dos dados 
linguísticos do ambiente do indivíduo em fase de aquisição de linguagem. 
Apresentam-se de modo binário, ou seja, com o valor positivo (+) ou negativo (-). O 
valor (+) indica que aquele parâmetro está presente na língua; já o valor negativo (- 
) sinaliza a ausência daquela característica. 
4.1 Entendendo os princípios e parâmetros 
Tendo como foco a descrição da GU, os gerativistas propõem uma teoria chamada 
de Princípios e Parâmetros. Kenedy (2009, p. 135) nos lembra que "essa teoria 
possui pelo menos duas fases: a fase da teoria da regência e da ligação (TRL), que 
perdurou por toda a década de 1980, e o programa minimalista (PM), em 
desenvolvimento desde o inicio da década de 1990 até o presente". 
Apresentamos, abaixo, um exemplo de um princípio e de um parâmetro: 
12 
 
 
Tendo como base o português e o inglês, vamos perceber que, em inglês, esse sujeito 
tem que ser produzido, o mesmo não acontecendo em português. 
Observe os exemplos: 
1) Português: Ø Chove. 
2) Inglês: It rains. 
3) Português: Eu vi o menino ontem. 
4) Português: Ø Vi o menino ontem. 
5) Inglês: I saw the boy yesterday. 
6) Inglês: * Ø Saw the boy yesterday. 
Nós, como falantes nativos do português, sabemos, perfeitamente, que podemos 
produzir enunciados como os apresentados em (1), (3) e (4). Isso acontece porque, 
na nossa língua, o sujeito pode ou não ser nulo nas sentenças finitas. O falante tem a 
opção de escolher. O símbolo (Ø) significa a existência de uma categoria vazia, ou 
seja, a posição não está ocupada por um elemento morfologicamente realizado, mas 
existe e não pode ser preenchida por nenhum outro elemento. 
5 Relembrando 
Vimos que nascemos com um sistema único de princípios inatos, enraizado na nossa 
mente/cérebro, dedicado exclusivamente à linguagem: a GU. A GU é o estado inicial 
da faculdade da linguagem e é constituída de princípios universais e parâmetros 
específicos de cada língua. Sendo assim, podemos dizer que todas as línguas 
humanas possuem propriedades comuns já que todos nós nascemos com o mesmo 
aparato genético. 
Então, por que falamos línguas diferentes? 
6 Gramática Universal e Gramática Particular 
No processo de aquisição de uma língua, o indivíduo vai, gradativamente, fixando os 
valores dos parâmetros a partir do contato com os dados linguísticos da sua língua 
nativa. À medida que os valores desses parâmetros são fixados pelo indivíduo 
Princípio “Todas as sentenças, independentemente da língua, têm a função sintática sujeito.” 
Parâmetro 
do sujeito 
nulo 
Uma língua admite ou não sujeito nulo nas sentenças finitas.” 
13 
 
durante a aquisição, uma gramática é construída, ou seja, a gramática particular de 
sua língua. 
O termo “gramática” é polissêmico, ou seja, apresenta várias acepções. Quando 
usamos o termo “gramática”, aqui, estamos nos referindo aos conhecimentos que 
um falante tem de sua língua materna, aos mecanismos de funcionamento de uma 
língua. Não estamos nos referindo à gramática normativa ou à gramática tradicional. 
O que vem na próxima aula 
Na próxima aula, você vai estudar: 
• A aquisição da linguagem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
LINGUÍSTICA II 
AQUISIÇÃO DA 
LINGUAGEM 
Olá! 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
1. Conhecer o processo de aquisição da linguagem segundo o Gerativismo; 
2. identificar as etapas no processo de aquisição da linguagem; 
3. comparar algumas teorias de aquisição da linguagem, a saber: inatismo, 
behaviorismo e cognitivismo. 
1 Aquisição da Linguagem 
Quem tem filhos ou convive com crianças sabe que, “num piscar de olhos”, as 
crianças já começam a falar. Sabemos que há etapas a serem seguidas, mas temos a 
certeza de que esse processo acontece de forma bem 
rápida. 
“Na realidade, a faculdade da linguagem nada tem de trivial. O vocabulário 
médio de um adulto em sua língua nativa, por exemplo, alcança em torno 
de 50 mil palavras, codificadas por cerca de 40 unidades distintivas de 
som de fala (fonemas). Veja que tanto o vocabulárionumeroso quanto o 
pequeno inventário de fonemas deveriam ser desfavoráveis à existência 
da linguagem no homem: temos poucos códigos para distinguir muitos 
itens. 
Apesar disso, após o curto período de aquisição de linguagem, entre dois 
e três anos de idade, nos integramos a uma comunidade linguística e, sem 
nenhum esforço, usamos essa língua com mais 
naturalidade do que um estrangeiro que passou anos tentando aprendê-la 
depois de adulto.” 
Pelo que vimos, segundo o Gerativismo, já nascemos com uma capacidade inata para 
desenvolver uma língua. No entanto, por que não saímos da barriga da nossa mãe 
15 
 
falando? Poderíamos fazer também outras perguntas: “Se já nascemos com as nossas 
pernas completamente formadas, por que não saímos da barriga da nossa mãe 
andando?” ou “Se temos um sistema visual, por que não distinguimos todas as cores 
logo após o parto?” 
Assim como o sistema motor e o sistema visual, o nosso sistema linguístico também 
passa por um processo de maturação. Podemos perceber que as crianças também 
vivenciam etapas até conseguirem andar sozinhas, sem a ajuda de adultos ou sem o 
apoio em objetos. Com a linguagem, não é diferente. Vamos entender como se dá a 
aquisição da linguagem? 
“A acuidade visual se refere à capacidade do sujeito em detectar, separar 
ou discriminar um objeto no espaço. 
(...) Ao nascimento, a acuidade visual humana é muito reduzida, quando 
comparada a de um adulto. Um bebê, ao nascimento, enxerga dez a vinte 
vezes menos que um adulto. Isso significa que somente estímulos muito 
grandes poderão ser vistos pelo bebê. No entanto, há um rápido 
desenvolvimento desta função nos primeiros 6-12 meses de vida. (...) 
Assim como a acuidade visual, a habilidade de discriminar contrastes de luminâcia 
está presente ao 
nascimento, mas é extremamente pobre em desempenho se comparada 
com a de um adulto. 
Fique ligado 
 
(...) Estudos recentes mostram que até a 4ª semana de vida, o bebê discrimina pobremente um 
estímulo colorido de um estímulo branco de mesma intensidade de brilho, ou seja, até o final do 
primeiro mês de vida, a visão de cores praticamente inexiste, limitando-se à região 
laranjaavermelhada do espectro cromático. Nos três meses seguintes há o aparecimento gradual 
da visão de cores.” 
2 O Processo de Aquisição da Linguagem 
O processo de aquisição da linguagem é algo muito interessante. O fato de as 
crianças, já por volta dos três anos, serem capazes de fazer uso da sua língua de 
modo tão eficiente leva-nos a pensar como essas línguas são adquiridas. Muito cedo, 
qualquer criança surpreende os adultos com a sua capacidade de produzir e 
compreender os enunciados da sua língua. Podemos dizer que ela: 
“Não repete simplesmente o que lhe dizem: com as regras que depreendeu das frases 
ouvidas, forma inúmeras outras, inclusive nunca ouvidas. Quer dizer, desde as 
primeiras etapas a criança ‘cria’ suas frases. Essa criatividade é justamente o traço 
característico da gramática que a criança internaliza. 
16 
 
Fique ligado 
 
A ‘graça’ da linguagem infantil não está nos erros que comete, mas nas suas engenhosas 
tentativas (com muitas criações individuais) de utilizar o código fornecido pelos adultos.” 
Mamãe, eu fazi isso sim! 
Eu pesadelei a noite toda! 
Eu vou vassourar a casa! 
Certamente, vocês já devem ter ouvido algumas crianças produzirem estruturas 
assim ou bem parecidas. O que podemos, então, pensar? 
As crianças percebem como a língua a qual foram expostas funciona, elas captam 
aquilo que é regular em seu sistema linguístico. A partir daí, criam seus enunciados. 
Nesse processo de criação, aparecem elementos que, embora sejam construídos 
obedecendo às regras de funcionamento da língua, não foram as formas consagradas 
pelos seus usuários. Assim, o adulto entende o que a criança quis dizer e acha graça 
da forma produzida. 
 
Tomemos como exemplo o verbo “vassourar”. Se temos, em português, o substantivo 
“pincel” e o verbo “pincelar”, poderíamos, perfeitamente, ter o verbo “vassourar”, já 
que temos o substantivo “vassoura”. No entanto, o uso consagrou a forma “varrer”, 
embora “vassourar” apresente um processo de formação produtivo na língua. 
De fato, enunciados assim levam-nos a crer que há um componente genético inato, 
específico para desenvolver uma língua, como vimos na nossa aula passada. Esses e 
outros exemplos corroboram a ideia de que o cérebro humano não nasce como um 
“quadro em branco”, uma “tábula rasa”, como afirmam os behavioristas – se você 
quiser rever esse assunto, volte à aula 2. 
Por conta da questão do inatismo, Chomsky (1981) considera mais apropriado falar 
em “crescimento da linguagem” e não em “aprendizado” ou “aquisição”. Afinal de 
contas, apenas adquirimos algo que não temos. 
17 
 
Como vimos na aula passada, a criança não nasce com uma capacidade para 
desenvolver a língua X ou a língua Y. A predisposição biológica do ser humano vai 
permitir que ele desenvolva uma língua a partir dos dados linguísticos do ambiente 
que o cerca. A exposição a esses dados faz com que o indivíduo acione um certo valor 
de parâmetro para que a criança componha a gramática de sua língua particular. 
Fique ligado 
 
Vale destacar que a exposição a esses dados linguísticos acontece de modo natural: na fala 
espontânea de adultos, há enunciados truncados, hesitações, falhas em geral. No entanto, apesar 
disso, a criança consegue perceber o que é ou não regular na sua língua. 
3 As Etapas do Processo de Aquisição da Linguagem 
Em relação ao processo de aquisição da linguagem, as pesquisas mostram que a 
criança vai internalizando o sistema gramatical de maneira gradual, por etapas. 
Independentemente da língua a que a criança está exposta, todas elas, em fase de 
aquisição da linguagem, adquirem primeiro as palavras de conteúdo (“formais”: 
substantivos, adjetivos, verbos), só depois as palavras gramaticais (“estruturais”: 
pronomes, preposições etc.). 
Tudo acontece aos poucos. A criança desenvolve a capacidade de nomear e faz uso 
de substantivos. Em seguida, começa a fazer uso de elementos mais abstratos como 
verbos e adjetivos. Ela começa, então, a produzir estruturas sintáticas simples até 
chegar às estruturas mais complexas. Aproximadamente, aos 5 ou 6 anos, a criança 
já é, como diz Chomsky, um “adulto linguístico”. Essa uniformidade no processo de 
aquisição é, para os gerativistas, um indicativo de uma faculdade da linguagem, 
comum à espécie humana. 
 
NENÊ PAPÁ 
AUAU MORDE 
BONECA 
ÁGUA 
18 
 
Assim, podemos dizer que as crianças não nascem com a gramática da sua língua 
pronta para ser usada. Se um bebê, filho de pais americanos for criado por pais 
japoneses, desenvolverá o japonês. Se criado por pais brasileiros, desenvolverá o 
português. E se a criança não for exposta a uma língua durante a infância? E o caso 
das chamadas “crianças selvagens”? 
Vimos que a explicação behaviorista da aquisição da linguagem não consegue 
explicar o fato de os sistemas linguísticos terem como uma de suas características 
essenciais a produtividade e a criatividade. Assim, podemos dizer que o processo de 
aquisição não depende da imitação. Sabemos que todo indivíduo, exceto aquele com 
alguma complicação patológica, irá desenvolver uma língua. Isso independe de sua 
condição social. No entanto, é preciso estar exposto a um sistema linguístico. 
Há, na literatura, uma série de relatos de casos de crianças que, em virtude de 
motivos de natureza diversa, tiveram o acesso aos dados de um sistema linguístico 
negado. Por isso, não desenvolveram sua língua natural no período da infância, 
como, normalmente, acontece. 
A história de Mogli, personagem da Disney inspirado no livro de Rudyard Kipling, 
menino criado por lobos, ilustra casos reais como o da menina Genie, um dos casos 
mais conhecidos na literatura. 
Essa criança, que havia sido afastada de qualquer exposição à língua dos 20 (vinte) 
meses aos 13 (treze) anos e 7 (sete) meses de vida, quando inserida novamente no 
convíviosocial, teve o desenvolvimento da linguagem em dois aspectos bastante 
diferenciados do de crianças normais, ou seja, daquelas crianças que adquirem 
linguagem durante o período normal de aquisição de linguagem. 
 
Se por um lado Genie apresentou uma rápida aquisição do vocabulário, mostrando 
uma habilidade semântica superior àquela alcançada por crianças normais em igual 
período de tempo, por outro lado, ela apresentou uma pobre elaboração morfológica 
e um reduzido emprego de estruturas sintáticas complexas em sua fala, 
mostrando uma habilidade sintática bastante defasada em relação às crianças 
normais. 
A partir dessas observações e da análise de testes neuropsicológicos aplicados a 
Genie, que revelaram seu amadurecimento conceptual e sensorial-motor, pode-se 
concluir que o conhecimento cognitivo apresentado por Genie não foi suficiente para 
sua aquisição sintática e morfológica. 
19 
 
Saiba mais 
 
Cognitivo 
1. Ref. à cognição, capacidade de aquisição de conhecimento, ou ao conhecimento: 
desenvolvimento cognitivo humano. 
2. Ref. à função e ao processo mental do tratamento das informações (percepção, 
memória,raciocínio etc.) 
3. Psi. Ref. aos processos da mente envolvidos na percepção, na representação, no 
pensamento,nas associações e lembranças, na solução de problemas etc. 
[F.: Do lat. cognitus + -ivo.] (Fonte: Dicionário on-line Caldas Aulete) 
Para conhecer mais sobre a história da Genie, assista ao vídeo Genie – A menina selvagem. 
https://www.youtube.com/watch?v=u97ii-aInF8 
4 Algumas teorias de aquisição 
 
 
INATISMO – Chomsky, com sua hipótese inatista, assume que há um 
componente inato para a 
aquisição da linguagem e independente da cognição. Para 
ele, a experiência 
Noam Chomsky 
funciona apenas como um “gatilho” (do inglês, trigger) para 
acionar uma 
capacidade que é inata. 
https://www.youtube.com/watch?v=u97ii-aInF8
20 
 
Para B. F. Skinner, behaviorista, todo 
comportamento/aprendizado linguístico ou 
não é resultado de um processo de reforço e privação. 
Segundo a proposta BEHAVIORISMO behaviorista, “a criança vê a mamadeira 
(estímulo) e diz ‘papá’. Se ela conseguir 
– B. F. Skinner que lhe deem a mamadeira, será reforçada positivamente, 
‘aprenderá’ que quando 
quiser comida deve dizer ‘papá’”. (SANTOS, Raquel. A 
aquisição da linguagem. In: FIORIN, J. L. (org.) Introdução 
à linguística, vol. 1. São Paulo: Contexto, 2002.). 
O cognitivismo vincula a linguagem à cognição. Essa 
proposta foi desenvolvida por Jean Piaget. Segundo ele, 
desde o seu nascimento, a criança constrói o 
conhecimento a partir do contato com o meio. Pode-se 
perceber que a teoria 
COGNITIVISMO 
atribui um grande valor à experiência, mas não chega a ter 
base empirista, pois, 
– Jean Piaget de acordo com Piaget, a criança é responsável por construir o 
conhecimento com base na experiência com o mundo 
físico, ou seja, o conhecimento está na ação 
sobre o ambiente. 
Saiba mais 
 
“O conhecimento linguístico de uma criança em um determinado momento reflete as estruturas 
cognitivas que foram desenvolvidas antes e que determinam esse conhecimento. (...) A 
linguagem é vista como porta para cognição.” (SANTOS, Raquel. A aquisição da linguagem. In: 
FIORIN, J. L. (Org.) Introdução à linguística. vol. 1. São Paulo: Contexto, 2002.) 
5 Debate Chomsky-Piaget 
Em 1975, houve um debate entre Chomsky e Piaget sobre aquisição do 
conhecimento. Para saber mais, leia o que disse Piaget sobre a psicogênese dos 
conhecimentos e qual foi a resposta de Chomsky: https://www.ufrgs.br 
/psicoeduc/piaget/chomsky-para-piaget/ 
 
https://www.ufrgs.br/psicoeduc/piaget/chomsky-para-piaget/
https://www.ufrgs.br/psicoeduc/piaget/chomsky-para-piaget/
21 
 
 
LINGUÍSTICA II 
O GERATIVISMO E A DICOTOMIA 
COMPETÊNCIA E DESEMPENHO 
Olá! 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
1. Distinguir competência e desempenho; 
2. identificar o conceito de gramaticalidade; 
3. reconhecer a competência como objeto de estudos da Linguística para Chomsky; 
4. conhecer a representação arbórea do Gerativismo; 
5. conhecer algumas críticas ao Gerativismo. 
1 Competência versus Desempenho 
Vamos começar a nossa aula com um teste. Apresente as sentenças abaixo a um 
grupo de indivíduos falantes nativos da língua portuguesa. Selecione indivíduos de 
diferentes níveis de escolaridade e até mesmo analfabetos. Você pode ler ou 
escrever as sentenças para o seu informante. Peça a ele para, com base na própria 
intuição, dizer qual(is) sentença(s) pode(m) ser entendida(s). 
1) Eu comi um bolo delicioso. 
2) Quantas fatias de bolo você já comeu? 
3) Que fatia você comeu quantas do já bolo? 
Certamente, independentemente do nível de escolaridade do seu informante, você 
terá como resposta que a sentença (3) não faz sentido, não é mesmo? Por que isso 
acontece? 
Uma das preocupações da teoria gerativa é compreender como é possível que os 
falantes nativos de uma língua tenham intuições sobre as construções sintáticas que 
ouvem e produzem. 
A partir dos resultados do teste, foi possível perceber que seus informantes, 
intuitivamente, disseram que (1) e (2) são sentenças possíveis na língua, ou seja, 
gramaticais. Por outro lado, todos avaliaram a sentença (3) como anormal, estranha, 
não é mesmo? Logo, podemos dizer que essa sentença é agramatical, ou seja, causa-
22 
 
nos um estranhamento, não ouvimos ninguém falando assim. Por isso, vamos 
sinalizá-la com um asterisco (*), cuja função é marcar essa agramaticalidade: 
 
Como conseguimos reconhecer sentenças gramaticais e agramaticais? Só 
conseguimos isso porque temos um conhecimento implícito da nossa língua. Todos 
os falantes nativos de uma língua, independentemente de terem ou não frequentado 
a escola, apresentam esse conhecimento, que é inconsciente e natural e não está, de 
modo algum, relacionado ao conhecimento das regras normativas da língua. 
Ao fazer a atividade, você percebeu o quanto a intuição do falante sobre o que faz 
parte ou não da nossa língua é importante. Além disso, foi possível notar que os 
conceitos de gramaticalidade/agramaticalidade não recobrem, de modo algum, os 
conceitos de “certo” e “errado” estabelecidos pela gramática normativa. 
Fique ligado 
 
Para os gerativistas, esse conhecimento intuitivo e internalizado que temos é chamado de 
competência linguística. Quando essa competência é colocada em uso, temos o desempenho 
linguístico do indivíduo, ou seja, o uso concreto da língua. 
2 Objeto de Estudo da Linguística para Chomsky: a 
Competência Linguística 
Chomsky estabelece uma distinção entre a competência linguística do falante e seu 
desempenho. A proposta teórica gerativa assume que à Linguística interessa o 
estudo da competência. 
Competência: é o conhecimento subjacente e internalizado que o falante tem de sua 
língua. Graças à competência, os falantes apresentam um conhecimento ilimitado do 
seu sistema linguístico. Assim, conseguem perceber se uma determinada sentença é 
gramatical ou agramatical, ou seja, se obedece ou não às regras de combinação do 
seu sistema linguístico. 
E o que é o desempenho? 
DESEMPENHO (ou performance): é uso que o falante faz da língua. O desempenho 
relaciona-se ao que Saussure denominou fala. Vale lembrar que o desempenho 
linguístico de um indivíduo está relacionado a diversos fatores como atenção, 
23 
 
memória, visão de mundo etc. Por exemplo, se um indivíduo for tímido e falar pouco, 
isso não significa que a sua competência linguística é inferior a de outros indivíduos. 
A questão envolve apenas a sua atuação, mas não o seu conhecimento internalizado. 
Fique ligado 
 
LEIA UM COMENTÁRIO IMPORTANTE SOBRE AS DICOTOMIAS “LÍNGUA X FALA” E 
“COMPETÊNCIA X DESEMPENHO” 
Embora o conceito de fala de Saussure e o conceito de desempenho de Chomsky sejam 
equivalentes, na visão do linguista estruturalista, a principal função da língua é a interação social. 
Para Chomsky, a língua apresenta uma função cognitiva. 
Vamos observar mais algunsexemplos: 
1) Vou comprar dois pão. 
2) Vou comprar dois pães. 
3) *Comprar dois vou pães. 
Um falante nativo da Língua Portuguesa saberá que é possível produzir enunciados 
como (1) e (2), mas que (3) é um enunciado que não faz parte da língua e é, por isso, 
agramatical (*). Produzir “dois pão” ou “dois pães” é apenas uma diferença 
percebida no desempenho, que não se relaciona ao conhecimento linguístico que o 
falante tem internalizado. (1) e (2), portanto, apresentam a mesma estrutura. 
A análise linguística, segundo Chomsky, deve descrever as regras que governam a 
estrutura da competência. Para ele, os linguistas não devem investigar o 
desempenho, ou seja, o comportamento do indivíduo, mas sim a competência dos 
falantes, já que ela é puramente linguística. Assim, Chomsky considera que a 
Linguística pode contribuir para a compreensão da organização da mente humana. 
3 A Noção de Constituinte e a Representação 
Arbórea 
Com o objetivo de descobrir o que há de universal na linguagem humana, o primeiro 
modelo teórico gerativista, chamado de gramática transformacional, passou por 
várias mudanças ao longo das décadas de 1960 e 1970. Como afirma Kenedy (2009, 
p.131), “os objetivos dessa fase do gerativismo consistiam em descrever como os 
constituintes das sentenças eram formados e como tais constituintes 
transformavam-se em outros por meio da aplicação de regras”. Segundo Mioto et at 
(2005), um constituinte é “uma unidade sintática construída hierarquicamente, 
embora se apresente aos olhos como uma sequência de letras ou aos ouvidos como 
uma 
sequência de sons” (MIOTO et al., 2005, p. 45) 
24 
 
Desse modo, a partir de um conjunto limitado de regras sintáticas, os indivíduos são 
capazes de produzir infinitas sentenças gramaticais. Assim, essas sentenças são 
formadas a partir da combinação dos constituintes e da aplicação de determinadas 
regras capazes de formar outras sentenças. Como o foco da investigação gerativista 
é a sintaxe, busca-se descrever essas regras sintáticas que possibilitam a “geração” 
de infinitos enunciados. Por essa razão, pode-se pensar em uma “metáfora 
computacional” por converter a língua em um algoritmo matemático. 
Vejamos, abaixo, a representação arbórea - pode-se dizer diagrama arbóreo, 
representação arbórea, árvore sintática, ou, simplesmente, árvore - apresentada em 
Kenedy (2009): 
 
Temos uma sentença (S) “O estudante leu o livro.”, formada por um sintagma 
nominal (SN) “o estudante” e o sintagma verbal (SV) “leu o livro”. Por sua vez, 
percebemos que o SN é formado pelo determinante (DET) “o” e pelo nome 
“estudante”. Já no SV “leu o livro”, temos o verbo (V) e o SN “o livro”, que funciona 
como seu complemento. 
Fique ligado 
 
Tendo como base essa regra sintática (S → SN SV), você já pensou em quantos enunciados 
podemos produzir? 
Veja mais árvores apresentadas em Kenedy (2009). Dessa vez, temos duas 
estruturas diferentes. Além da voz ativa, temos também a representação da 
sentença na voz passiva, formada a partir da primeira, que é considerada a sua 
estrutura de base. Como mostra o autor, para “dar conta da relação entre estruturas 
diferentes, mas relacionadas, os gerativistas formularam as regras 
transformacionais. Essencialmente, uma transformação forma uma estrutura a 
partir de uma outra previamente existente. 
25 
 
3.1 Transformação Passiva 
 
Regras de Transformação 
seleção do Verbo “ser” + “particípio”; 
movimento de objeto para a posição de 
sujeito; manifestação do agente com 
Sintagma Preposicionado (SP). 
 
Saiba mais 
 
A estrutura previamente formada é chamada de estrutura profunda, e a estrutura dela derivada 
chama-se estrutura superficial” (KENNEDY, 2009, p. 132). 
26 
 
Fique ligado 
 
Como entender mais sobre o nosso sistema linguístico? 
Tendo como objetivo ressaltar o lado biológico do Gerativismo, proposto por Chomsky, estudos 
sob essa perspectiva procuram verificar o modo como a linguagem está representada no cérebro. 
O foco desses estudos pode ser o processo de aquisição ou de perda da linguagem. 
Assim, com o estudo sobre a aquisição da linguagem, busca-se explicar a relação que 
se estabelece entre a capacidade inata da criança para o desenvolvimento linguístico 
da Gramática Universal (GU) e a experiência linguística a qual ela é exposta na 
formação da gramática particular de sua língua. 
A partir do estudo sobre as patologias da linguagem, busca-se avaliar teorias 
linguísticas sobre indivíduos normais e chegar à organização da linguagem, 
objetivando entender mais a respeito da representação da linguagem na 
mente/cérebro. 
Fique ligado 
 
A fim de entendermos como funciona a linguagem, tendo o cérebro humano como base, surgiram 
os estudos de patologia da linguagem, como os de afasia – a qual se caracteriza por ser um déficit 
especificamente linguístico decorrente de lesão em uma ou mais áreas relacionadas à linguagem 
no cérebro – que se mostraram muito importantes nos estudos neurolinguísticos (cf. TAVARES, 
2008). 
Uma das críticas mais frequentes aos estudos gerativistas diz respeito ao fato de o 
foco central da teoria ter sido o desenvolvimento da competência linguística no nível 
da sintaxe. 
Alguns críticos, embora aceitem a distinção competência versus desempenho 
proposta por Chomsky, desenvolvem um modelo que contempla, além do 
componente sintático, os componentes fonológico e semântico. No entanto, há 
outros críticos que, severamente, rejeitam a ênfase dedicada pelo modelo gerativista 
à investigação sobre a natureza da representação da competência dos falantes. Para 
eles, o desempenho dos falantes deve ser considerado e investigado . 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
LINGUÍSTICA II 
A SOCIOLINGUÍSTICA: VARIAÇÃO E 
MUDANÇA NAS LÍNGUAS 
Olá! 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
1. Conhecer o início da corrente sociolinguística; 
2. compreender qual é o objeto de estudos da Sociolinguística e sua visão de língua; 
3. comparar, brevemente, Estruturalismo, Gerativismo e Sociolinguística; 
4. distinguir variação linguística de mudança linguística; 
5. identificar os tipos de variação linguística, a saber: geográfica (ou diatópica), 
social (ou diastrática), e deregistro (ou diafásica). 
No Gerativismo, vimos que, apesar de todos os seres humanos nascerem dotados de 
uma capacidade genética, desenvolvemos a língua a que fomos expostos quando 
criança. Nós, nascidos no Brasil e criados por pais brasileiros, desenvolvemos a 
Língua Portuguesa. A questão é: a Língua Portuguesa é utilizada da mesma maneira 
por todos os seus falantes nativos? Quais diferenças podem ser observadas? 
Veja alguns exemplos que ilustram a nossa realidade linguística: 
 
28 
 
Os exemplos apresentados ilustram a nossa realidade linguística. Ao observarmos 
as pessoas, em situações reais de comunicação, perceberemos que a língua falada é 
heterogênea e diversificada. No entanto, por que será que, apesar de tanta 
heterogeneidade, conseguimos nos entender? Será que podemos usar a língua de 
uma maneira 
aleatória e arbitrária? Vamos refletir sobre isso com a Sociolinguística. 
A Sociolinguística é uma corrente da Linguística que tem como objeto de estudo a 
língua. 
“Para essa corrente, a língua é uma instituição social e, portanto, não pode ser 
estudada como uma estrutura autônoma, independente do contexto situacional, da 
cultura e da história das pessoas que a utilizam como meio de comunicação.” 
(CEZARIO, Maria Maura & VOTRE, Sebastião. Sociolinguística. In: MARTELOTTA, 
Mário (Org.) Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2009) em uso real, 
relacionando a estrutura linguística e aspectos extralinguísticos do indivíduo que a 
utiliza, tais como sexo, idade, escolaridade, região em que vive, nível de 
escolarização etc. Por isso, tem como foco principal a questão da variação 
linguística. 
1 Como a Sociolinguística Começou? 
As correntes teóricas vigentes no início do século XX, Estruturalismo e Gerativismo, 
não demonstraram preocupação com a variaçãolinguística, pois não tinham como 
objeto de estudos a fala. Saussure a desprezava devido ao seu caráter individual e 
heterogêneo. Chomsky, por sua vez, utilizava os dados fornecidos pelo desempenho 
apenas como um caminho para entender mais a competência linguística. 
Saiba mais 
 
Embora a preocupação com a variação linguística tenha surgido por volta de 1930, o termo 
“sociolinguística” surge pela primeira vez em 1950 e passa a designar uma importante corrente 
linguística em 1960, com a influência de alguns autores, dentre eles, William Labov. 
Em nossa disciplina, teremos como foco a chamada “Sociolinguística Variacionista” 
ou “Teoria da Variação”, proposta por William Labov, nos Estados Unidos, na década 
de 1960. Labov foi o responsável por destacar a importância dos fatores sociais na 
explicação da variação linguística. Seus estudos reforçavam a ideia de que havia 
uma regularidade por trás do aparente “caos” da realidade do uso linguístico. Para 
ele, a Linguística possui um caráter social. Por isso, em suas análises, o linguista não 
deve abstrair a língua de seu uso real, uma vez que o indivíduo a desenvolve e dela 
se utiliza para poder viver em sociedade. 
29 
 
2 Fenômenos Inerentes às Línguas do Mundo: 
Variação e Mudança Linguística 
Todos nós vivemos em uma sociedade e já sabemos que isso só é possível porque 
dominamos o mesmo sistema linguístico. Nós somos “linguistas natos” (embora 
muitas pessoas não tenham ainda parado para pensar nisso), pois somos capazes 
de tecer algumas considerações sobre o nosso sistema linguístico com muita 
propriedade. 
Por exemplo, conseguimos distinguir enunciados que não fazem parte da nossa 
língua (“The book is on the table .”), identificar sentenças que não foram bem 
estruturadas (“Menino o vi eu.”), reconhecer diferentes pronúncias (“m/é/nino”, 
“m/ê/nino”, “m/i/nino”) etc. 
O mais interessante é que tudo isso independe do nosso nível de escolarização. 
Indivíduos com pouquíssima ou nenhuma escolarização são capazes de perceber 
quando duas pessoas são “estrangeiras” ao ouvi-las conversar, o que mostra seu 
reconhecimento do que faz ou não parte da língua que fala. 
A nossa atuação como “linguistas” nos possibilita perceber que a Língua Portuguesa 
não é falada da mesma maneira por todos os indivíduos em todas as regiões do 
Brasil. Também sabemos que o modo como a nossa 
língua é utilizada hoje não é igual ao modo como era utilizada no século passado. 
Por quê? 
A língua é essencialmente dinâmica. Segundo a Sociolinguística, devemos entender 
que a variação e a mudança linguísticas são fenômenos inerentes às línguas. 
No entanto, essa percepção não é percebida pela maioria dos indivíduos. É comum 
ouvirmos algumas pessoas comentarem que “a nossa língua está piorando”, “a nossa 
língua está sendo deturpada” etc. Há pessoas que dizem que os brasileiros são muito 
criativos e gostam de “inventar” novas formas linguísticas. Ainda há aqueles que 
dizem que os brasileiros são preguiçosos e, por isso, mudam o modo como as 
palavras são pronunciadas. 
Todavia, é preciso ter em mente que a variação e a mudança não são fenômenos 
exclusivos da Língua Portuguesa. Todos os sistemas linguísticos apresentam esses 
dois fenômenos. Pode-se usar como exemplo desse fato a Língua de Sinais Brasileira 
(LIBRAS), que, apesar de ser uma língua visoespacial, é um sistema linguístico como 
qualquer outro e, por isso, apresenta a variação linguística. 
2.1 Os Sotaques dos Sinais (Rachel Bonino) 
Paola Ingles Gomes cursa a 8ª série em São Paulo em uma tradicional escola 
municipal para deficientes auditivos no bairro da Aclimação, a Helen Keller. Como 
outros colegas adolescentes, costuma ir à festa junina promovida pelo Instituto 
Santa Teresinha, um evento que virou referência entre estudantes surdos de todo o 
país. 
Paola conversava com um amigo de outro estado numa dessas comemorações 
anuais quando, entre risos, sinalizou que ele era um "palhaço", um tolo. O sinal 
usado indicava uma bola no nariz, assim como usam os palhaços. O rapaz não 
30 
 
entendeu a "gíria" e coube a Paola indicar o contexto da palavra, por meio de outros 
sinais. 
Fique ligado 
 
Casos assim se repetem a cada interação entre deficientes auditivos de regiões diferentes, mas 
que adotam a mesma gramática gestual adotada pela LIBRAS, sigla para Língua de Sinais 
Brasileira. Nesse universo sem sons, há gírias, regionalismos e até mesmo o que podemos chamar 
de sotaques. (Adaptado do artigo Os sotaques dos Sinais. Revista Língua Portuguesa.) 
É importante destacar que toda mudança pressupõe variação, mas a existência de 
formas em variação não implica a ocorrência de mudança. Vamos ilustrar com o 
pronome “você”. Sabemos que o “você” vem do pronome de tratamento Vossa 
Mercê. A trajetória de mudança pode ser assim descrita: 
Vossa Mercê > vosmecê > vossuncê > suncê > você > cê. 
Você acha que a mudança de “vossa mercê” para “você” aconteceu do dia para a 
noite? 
Não! Ao longo do processo de mudança, provavelmente as formas coexistiram, ou 
seja, havia, na mesma época, indivíduos que produziam “vossa mercê”, enquanto 
outros, “vosmecê”. Podemos comparar o processo como uma luta de boxe. Há duas 
formas “lutando”, ou seja, coexistindo em um sistema linguístico, até que uma delas 
“vença” a luta e passe a existir sozinha. 
2.2 “Você” e “Cê” 
Em uma língua, para que a mudança seja efetivada, há etapas em que a forma 
linguística passa por um processo de variação e, nesse caso, as formas coexistem até 
que uma delas caia em desuso e a outra continue sendo utilizada. Atualmente, no 
português brasileiro, percebemos a utilização, em alguns contextos, das formas 
“você” e “cê”. Por enquanto, as duas formas não são intercambiáveis em todos os 
contextos. 
Saiba mais 
 
Podemos produzir: “Você vai lá?” ou “Cê vai lá?”, mas não “Cê e o João vão lá?”, que seria um 
enunciado agramatical. Por isso, não podemos dizer se o “você” vai deixar de ser utilizado a favor 
do “cê”. 
31 
 
3 Tipos de variação linguística: geográfica (ou 
diatópica), social (ou diastrática), e de registro (ou 
diafásica) 
Com a Sociolinguística, foi possível estabelecer alguns tipos de variação linguística. 
Destacaremos, aqui, três tipos básicos: 
a) Variação geográfica (ou diatópica) – está relacionada a diferenças linguísticas que 
ocorrem em função do 
espaço físico. 
Veja abaixo exemplos de variação geográfica: 
Exemplo: Português Brasileiro (PB) e Português Europeu (PE) 
Vejam, em (1), um trecho da edição brasileira do livro O diário de um mago de Paulo 
Coelho e, em (2), da tradução portuguesa. 
1: "Tirou de dentro uma garrafa de vinho, tomou um gole e me estendeu. Enquanto 
eu bebia, perguntei quem era 
o cigano. (....) 
- Você não está me respondendo. Vocês dois se olharam como velhos conhecidos. E 
eu tenho a impressão de queconheço ele também (....)" 
2: "Tirou de dentro uma garrafa de vinho, tomou um gole e estendeu-ma. Enquanto 
bebia, perguntei quem era o 
cigano. (....) 
- Não estás a responder-me. Ambos se olharam como velhos conhecidos. E tenho a 
impressão de que também o 
conheço (....)" 
b) variação social (ou diastrática) – são as variações percebidas entre grupos 
socioeconômicos. Compreende os seguintes fatores: idade, sexo, profissão, nível de 
escolarização, classe social. 
Veremos agora um exemplo de variação social. 
O trecho de Paulo Mendes Campos ilustra a questão da variação em função da idade 
dos indivíduos: 
"Outro dia um senhor de cinquenta anos me falava da mãe dele mais ou menos 
assim: 
- Se há alguém que eu adoro neste mundo é minha mãezinha. Ela vai fazer 73 
anos no dia 19 de maio. Está forte,graças a Deus, e muito lúcida. Há 41 anos que está 
viúva, papai, coitado, faleceu muito moço...(...) 
Deu-se que no mesmo dia encontrei um rapaz de 18 anos, que contou mais ou menos 
assim: 
32 
 
- Velha bacaninha é a minha. Quando ela está meio adernada, mais prá lá do 
que prá cá, ela ainda me dá umabroncazinha. Bronca de mãe não pega, meuchapa. 
Eu manjo ela todinha: lá em casa só tem bronca quando ela encheu a cara demais. A 
velha toma prá valer!..." 
c) variação de registro (ou diafásica) – observa-se, neste tipo de variação, o grau de 
formalidade do contexto comunicativo ou do canal utilizado para a comunicação (a 
fala, o e-mail, o jornal etc.) 
Exemplo: Leia a transcrição de um trecho da fala do ator Plínio Marcos ao dirigir-se 
aos detentos da Casa de Detenção de São Paulo para ensinar formas de prevenção 
contra a AIDS. (Disponível em http://www.filologia. 
org.br/viiicnlf/anais/caderno07-14.html) 
“Aqui é bandido: Plínio Marcos. Atenção, malandragem! Eu num vô pedir nada, vô 
te dá um alô! Te liga aí: AIDS é uma praga que rói até os mais forte, e rói devagarinho. 
Deixa o corpo sem defesa contra a doença. Quem pegá essa praga está ralado de 
verde e amarelo, de primeiro ao quinto, e sem vaselina. Num tem dotô que dê jeito, 
nem reza brava, nem choro, nem vela, nem ai, Jesus. Pegou AIDS, foi pro brejo! Agora 
sente o aroma da perpétua: AIDS pega pelo esperma e pelo sangue, entendeu? Pelo 
esperma e pelo sangue. 
Eu num tô te dando esse alô pra te assombrá, então se toca! Não é porque tu tá na 
tranca que virou anjo. Muito pelo contrário, cana dura deixa o cara ruim! Mas é 
preciso que cada um se cuide, ninguém pode valê prá ninguém nesse negócio de 
AIDS. Então, já viu: transá, só de acordo com o parceiro, e de camisinha!” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno07-14.html
http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno07-14.html
http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno07-14.html
33 
 
 
LINGUÍSTICA II A 
PESQUISA 
SOCIOLINGUÍSTICA 
Olá! 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
1. Compreender a relação entre língua e sociedade; 
2. identificar os pressupostos metodológicos da pesquisa sociolinguística; 
3. conhecer os conceitos de variável e de variante linguística; 
4. identificar alguns fenômenos linguísticos em variação no Português Brasileiro. 
No processo de variação linguística, podemos perceber que algumas variantes são 
mais aceitas que outras. Além disso, é preciso considerar as variáveis linguísticas e 
extralinguísticas relevantes para descrever o fenômeno que se está estudando. Mas 
afinal, o que é variante linguística? E variável? 
As Noções de Variável e de Variante 
O objetivo da Sociolinguística é estudar a língua em seu contexto social, isto é, em 
situações reais de uso. Utilizase, portanto, como ponto de partida, os dados obtidos 
da fala de indivíduos que pertencem a uma comunidade 
linguística (ou comunidade de fala). 
“Um conjunto de pessoas que interagem verbalmente e que compartilham 
um conjunto de normas com respeito aos usos linguísticos. Em outras 
palavras, uma comunidade de fala se caracteriza não pelo fato de se 
constituir por pessoas que falam do mesmo modo, mas por indivíduos 
que se relacionam, por meio de redes comunicativas diversas, e que 
orientam seu comportamento verbal por um mesmo conjunto de regras. 
(...) A depender do alcance e dos objetos de um trabalho de natureza 
34 
 
sociolinguística, podemos selecionar e descrever comunidades de fala 
como a cidade de New York, ou a cidade do Rio de Janeiro, de São Paulo, 
de Belém. Ou o povo ianomâmi, que vive na Estado do Amapá. Ou, ainda, 
as comunidades dos pescadores do litoral do Estado do Rio de Janeiro, 
da ilha de Marajó, dos estudantes de Direito, dos rappers etc." (ALKMIN, 
Tânia Maria. Sociolinguística: parte I. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. 
(Orgs.). Introdução à Linguística: domínios 
e fronteiras. v.1. São Paulo: Cortez, 2001). 
Ocê... Você... Ei ... 
Ao analisarmos uma comunidade linguística, podemos perceber a existência de 
diferentes modos de falar, ou seja, há variedades linguísticas. Por trás do “caos 
linguístico”, é possível identificar regularidade e sistematicidade na variação. 
O que é um sociolinguista? Sociolinguista é o linguista que se especializou na área 
da Linguística chamada Sociolinguística. A tarefa desse profissional é entender os 
contextos que favorecem essa área. 
Vamos ilustrar o conceito de variante e de variável linguística com a variação nos 
pronomes pessoais na primeira pessoa do plural, exemplo citado em Cezario e 
Votre (2009): 
“A gente fala muito.”; “Nós falamos muito.” 
O que você está fazendo? 
Estou escrevendo um texto, mas estou em dúvida de qual texto deixar. 
“Nós” e “a gente” são formas utilizadas pelos falantes da Língua Portuguesa e aceitas 
pelas pessoas em geral. É possível pensar que, em uma situação comunicativa, 
produzir “nós falamos” possa ser considerado mais formal do que “a gente fala”, 
mais informal. Temos, portanto, duas variantes para a utilização do pronome. 
"O termo 'variante' é utilizado para identificar uma forma que é usada ao lado de 
outra na língua sem que se verifique mudança no significado básico." (CEZARIO, 
Maria Maura, VOTRE, Sebastião. Sociolinguística. In: MARTELOTTA, Mário (Org.) 
Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2009). 
Uma pesquisa sociolinguística sobre o assunto teria como foco investigar em que 
contexto social um indivíduo escolheria produzir uma forma e não outra, se há 
diferenças nos usos de “nós” e de “a gente” na fala de adultos, jovens e crianças, se 
indivíduos analfabetos e escolarizados produzem mais uma forma do que outra, se 
a diferença relaciona-se ao nível socioeconômico do indivíduo etc. 
O conjunto de variantes linguísticas é denominado “grupo de fatores” ou “variável 
linguística”. Podemos ter variáveis linguísticas e extralinguísticas. As primeiras 
referem-se às motivações linguísticas para que certa variante seja utilizada (por 
exemplo, verbos que motivem o uso de “a gente” em lugar de “nós”). 
Pode-se dizer que são as motivações internas à língua (fatores fonológicos, 
morfológicos, sintáticos etc.). As segundas referem-se a aspectos relacionados ao 
indivíduo que produziu a variante, tais como: sexo, idade, escolaridade, classe social 
a que pertence, grau de formalidade da situação comunicativa, região em que vive 
etc. 
A gente fala? Nós falamos! A gente falamos? Ou nós fala? 
35 
 
Além de “a gente fala” e “nós falamos”, poderíamos pensar em outras possibilidades 
também muito frequentes: “a gente falamos” e “nós fala”. Essas duas variantes são 
consideradas mais estigmatizadas, ou seja, ao produzir uma dessas duas formas, o 
indivíduo pode sofrer algum tipo de preconceito. O importante, para o 
sociolinguista, é identificar o que motiva o fenômeno da variação. 
Importante! Veja como representar uma variável e uma variante, tendo como base 
a questão da concordância, fenômeno em variação no Português Brasileiro. 
Quando a variável indica o fenômeno em variação, ela aparece entre parênteses 
angulares (<>). Assim, no caso da marcação de plural do sintagma nominal, em 
Língua Portuguesa, a variável seria <s>. No entanto, as formas linguísticas em 
variação são representadas por colchetes ([ ]). No caso da marcação de plural do 
sintagma nominal, as variantes são [s] e [Ø] (as casas amarelas/as casaØ amarelaØ). 
Como a Sociolinguística preocupa-se em investigar a relação entre língua e 
sociedade, a análise da fala de um indivíduo permite-nos identificá-lo. Assim, 
diferenciamos cada comunidade e refletimos sobre a inserção do indivíduo em 
diferentes grupamentos, estratos sociais, faixas etárias e níveis de escolaridade: “O 
indivíduo, inserido numa comunidade de fala, partilha com os membros dessa 
comunidade uma série de experiências e atividades. Daí resultam várias 
semelhanças entre o modo como ele fala a língua e o modo dos outros indivíduos. 
Nas comunidades organizam-se grupamentos de indivíduos constituídos por traços 
comuns, a exemplo de 
religião, lazeres, trabalho, faixa etária, escolaridade, profissão e sexo. Dependendo 
do número de traços que as pessoas compartilham, e da intensidade da convivência, 
podem constituir-se subcomunidades linguísticas, a exemplo dos jornalistas, 
professores, profissionaisda informática, pregadores e estudantes.” (VOTRE, S.; 
CEZARIO, M. Sociolinguística. In: MARTELOTTA, E. (Org.) Manual de linguística. 
São Paulo: Contexto, 2009). 
Podemos, assim, ilustrar a relação entre língua e aspectos sociais com a diferença 
na fala de homens e mulheres. O modo como homens e mulheres usam a língua vai 
depender dos papéis desempenhados por esses elementos na sociedade. Em zulu, 
uma língua falada na África, a mulher é proibida de pronunciar algumas palavras 
(nome do genro, por exemplo, e palavras que apresentem semelhança fônica com o 
nome do genro). 
36 
 
 
 
Em português, embora o marido possa dizer “Esta é a minha mulher”, não é possível 
que a mulher produza “Este é o meu homem”, pois em determinados contextos, esse 
enunciado soa vulgar. (VOTRE; CEZARIO, 2009, p. 149). O objeto de estudo da 
pesquisa sociolinguística* é a língua falada em situações reais de comunicação. 
Busca-se, a partir da análise da fala espontânea, descrever e explicar o modo como 
o falante faz uso da língua. 
O sociolinguista busca demonstrar que a variação é sistemática e previsível. A 
pesquisa sociolinguística tem como objeto de estudo o uso da língua falada em 
situações naturais de comunicação. É realizada a partir de gravações de um número 
determinado de informantes com características específicas. Para se investigar a 
variação e a mudança, dados de língua escrita também podem ser utilizados. As 
análises têm como ponto de partida os dados estatísticos obtidos na língua falada. 
A pesquisa pode ser feita em tempo real (o linguista observa o fenômeno em duas 
ou mais épocas, a partir da comparação de entrevistas atuais com entrevistas 
antigas, por exemplo, para verificar se duas formas estão em variação ou se são um 
caso de mudança) ou em tempo aparente (o linguista grava amostras de 
37 
 
informantes de diferentes faixas etárias para observar se uma forma ocorre mais 
na fala de crianças e jovens do que na de adultos e idosos). 
Fenômenos Linguísticos em Variação no Português 
Brasileiro 
Agora que já sabemos que, no que se refere à língua, não há usos melhores ou piores, 
feios ou bonitos, vamos conhecer alguns fenômenos linguísticos em variação no 
Português do Brasil? 
Observe o diálogo abaixo: 
“Você viu a Cráudia?” 
“Eu vi ela na lojinha da esquina, consertano uma rôpa.” 
“Será que ela vai trazê os livro novo que pedi?” 
“Não sei. É melhor esperar ela.” 
A análise do diálogo apresentado nos permite verificar os seguintes fenômenos 
linguísticos em variação no português brasileiro: 
Eliminação das marcas de plural redundantes (os livros novos/os livro novo) 
Assimilação: transformação do –ndo em –no (consertando > consertano). 
Retomada do objeto direto anafórico (Você viu a Cláudia? Sim, eu a vi. Sim, eu vi ela. 
Sim, eu vi Ø.). 
Redução do ditongo OU (roupa > rôpa). 
Rotacismo: troca do “l” pelo “r” (Cráudia, Framengo, pranta). 
Saiba mais 
 
Para conhecer a explicação sobre esses fenômenos linguísticos em variação no português 
brasileiro, leia o livro “A língua de Eulália”, de Marcos Bagno. 
 
 
 
 
38 
 
 
LINGUÍSTICA II 
A NOÇÃO DE ERRO PARA A 
SOCIOLINGUÍSTICA 
Olá! 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
1. Conhecer a noção de erro para a Sociolinguística; 
2. discutir a questão do preconceito linguístico. 
Vamos começar a nossa aula com um teste. Veja as frase a seguir: 
“Os m/ê/ninUs foram buscá a r/ô/pa correndo.” 
“Os m/i/ninU foi buscá a r/ô/pa correNO.” 
“Os m/é/ninUs foram buscá a r/ô/pa correndo.” 
“Os m/é/ninUs foram buscá a r/ô/pa correndo.” 
Há uma forma “correta” de se produzir a sentença oralmente? O que fez você julgar 
que uma forma era “melhor” que outra? Para responder a essas perguntas, vamos 
discutir alguns assuntos importantes nesta aula. 
1 A Relação entre Língua e Sociedade 
Voltando à atividade proposta no início da aula, todos nós conseguimos entender o 
que as personagens queriam dizer. Reconhecemos que, apesar de a sentença ter 
sido escrita de uma forma – segundo os padrões normativos – tivemos diferentes 
modos de produção oral. 
Analisando as produções orais da sentença “Os meninos foram buscar a roupa 
correndo.”, somos capazes de perceber algumas semelhanças e diferenças. Vimos, 
por exemplo, que todas as personagens: 
produziram os elementos linguísticos na mesma 
ordem (sujeito + verbo); utilizaram os fonemas 
da Língua Portuguesa; usaram os mesmos itens 
lexicais (menino, roupa). 
39 
 
A análise do modo como a sentença foi produzida nos possibilita perceber que há 
aspectos em comum (a supressão do –r do infinitivo - “buscá”) e aspectos distintos 
(variação na pronúncia da palavra “menino”; concordância verbal – “os meninos 
foram”/ “os menino foi”) na produção oral das personagens. 
Sabemos que a comunicação é fundamental para a vida em uma sociedade. Por isso 
precisamos compartilhar o mesmo código, ou seja, a mesma língua. Vimos que a 
língua apresenta variações que podem ocorrer em função do grupo, da região 
geográfica, do contexto. 
Desse modo, reconhecemos que há variedades de uso da língua. No entanto, 
analisando essas variedades, percebemos que há muitos elementos gramaticais e 
lexicais que são comuns a elas. Por isso, todos os indivíduos que compartilham a 
mesma língua conseguem se entender muitíssimo bem. 
2 A Noção de Erro para a Sociolinguística e a 
Questão do Preconceito Linguístico. 
Por que não há erro nos diferentes modos de produzir a sentença “Os meninos 
foram buscar a roupa correndo.”? 
Para a Sociolinguística, não há erro, mas sim diferenças que são passíveis de serem 
explicadas pela teoria linguística. O que acontece, geralmente, é um comportamento 
de intolerância linguística que leva à rejeição certas variedades de uso da língua. 
Deve-se observar que um item pode ser considerado ‘errado’ pelas regras de 
gramática normativa, mas não pelas regras do grupo a que o falante pertence. 
Vejamos um trecho da transcrição da entrevista oral do informante Francisco, que 
faz parte do corpus do Grupo de Estudos Discurso e Gramática. Nela, o 
entrevistador pergunta ao informante o modo de fazer a massa de pão, 
e ele responde: 
“Bota a massa na masseira... eh... tanto... não... tanto que bota... bota... duas 
lata na masseira... eh... quatr/ eh... duzentas gramas de ( ) que é uma 
química que tem... bota... eh... fermento... aí bota a masseira pra bater... no:: 
normal dela e depois bota ela/ aumenta ela... (sem ter) limite... pra ela 
bater... pra aprontar a massa... depois da massa ( ) passa na... na 
modeladora... depois da::/ depois passa na divisora... aí bota em cima da 
mesa e separa... os pedaços de cima da mesa... 
(Informante Francisco, CA supletivo. VOTRE, Sebastião Josué; OLIVEIRA, 
Mariângela Rios de (Orgs.) Corpus Discurso & Gramática. A língua falada 
e escrita na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 
UFRJ, 1995. (mimeogr.). 
No trecho apresentado, percebemos algumas formas que vão de encontro aos usos 
prescritos pelo padrão. 
Deve-se levar em consideração que o papel dos gramáticos é descrever regras de 
funcionamento da língua, tendo como base a norma padrão, um modelo ideal de 
40 
 
língua que deve ser ensinado e aprendido na escola e utilizado pelos falantes cultos, 
ou seja, aqueles indivíduos com alto nível de escolarização. Usos como os 
apresentados na transcrição, embora não sejam estabelecidos pela norma padrão, 
são comuns em outras variedades de uso da língua, rotuladas como “impróprias”, 
“inadequadas”, “erradas 
”. Fique ligado 
 
IMPORTANTE! 
Os resultados de pesquisas como as do Projeto Nurc (Norma Linguística 
Urbana Culta) ilustram diferenças entre o português padrão e o português 
culto, ou seja, aquilo que, de fato, é utilizado pelos indivíduos que dominam a 
variedade padrão. Para conhecer mais sobre o Projeto Nurc. 
Antes de avançar, leia o texto Sobre o conceito de falante culto “Quem é 
falante culto?”. 
 
3 Por que Existe o Preconceito Linguístico? 
De um modo geral, há, na sociedade, váriasformas de preconceito: em relação ao 
sexo, à raça, à opção sexual etc. Pode-se dizer que o preconceito linguístico é apenas 
um desses tipos. O estigma que certas variedades de uso da língua adquirem não 
tem relação com fatores linguísticos, mas sim extralinguísticos, tais como 
desprestígio social, econômico, cultural, político, entre outros. Assim, julga-se o 
indivíduo pelo modo como utiliza a língua sem levar em conta outros fatores como 
seu nível de escolarização, a classe social à qual pertence etc. 
Para a Sociolinguística, o preconceito linguístico não possui embasamento científico 
já que, segundo pesquisas, cada época determina o que considera como forma 
padrão, ou seja, as línguas mudam e a definição de ‘certo’ também. Podemos 
destacar, como exemplos, as formas “dereito”, “despois”, “premeiramente”, 
encontradas no texto de Pero Vaz de Caminha (1500), que faziam parte do 
português padrão daquela época. 
4 Por fim... 
Devemos entender que um indivíduo com pouca ou nenhuma escolarização não 
pode apresentar o mesmo desempenho linguístico de um indivíduo com o ensino 
superior. Um indivíduo altamente escolarizado passou por anos de escolarização e 
pôde ter acesso à norma padrão, diferentemente do primeiro indivíduo. 
Devemos entender que não podemos estabelecer julgamentos de valor, pois as 
diferenças linguísticas existem. 
Assim, não há variante boa ou má, dialeto superior ou inferior, língua rica ou pobre. 
41 
 
 
LINGUÍSTICA II 
O FUNCIONALISMO: PRESSUPOSTOS 
TEÓRICOS BÁSICOS 
Olá! 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
1. Conhecer a corrente funcionalista; 
2. entender os conceitos de língua e linguagem segundo o funcionalismo; 
3. discutir, segundo a visão funcionalista, o papel dos marcadores discursivos em 
contextos de fala espontânea. 
Vamos iniciar a nossa aula com um desafio. Analise os dois enunciados abaixo: 
• Você é bonita. 
• Bonita é você. 
Você acha que podemos usar o enunciado (1) e o enunciado (2) em qualquer 
contexto ou que há contextos que vão favorecer a utilização de (1) e não de (2)? 
O desafio é criar dois contextos distintos: um em que, certamente, usaríamos o 
enunciado (1) e outro em que usaríamos o (2). Vamos ao trabalho? 
 
42 
 
 
Você, provavelmente, criou contextos muito próximos dos apresentados aqui. 
Intuitivamente, perceberam uma diferença nas sentenças, já que não tiveram 
dificuldades de pressupor em qual situação comunicativa o 
enunciado (1) seria utilizado e não o (2), ou vice-versa. 
A tarefa nos leva a pensar se devemos tratar esses enunciados como sentenças 
diferentes ou como versões alternativas para dizer a mesma sentença. Vamos 
refletir sobre isso com base no Funcionalismo? 
Um breve histórico do Funcionalismo: o funcionalismo europeu e o surgimento do 
funcionalismo americano. 
O Funcionalismo surge como um movimento da corrente estruturalista. Muitos 
autores (CUNHA, 2009; CUNHA, OLIVEIRA & MARTELOTTA, 2003) atribuem aos 
linguistas do Círculo Linguístico de Praga, fundado em 1926, as primeiras análises 
de cunho funcionalista, pois, para eles, a língua é um “sistema funcional” e, por isso, 
deve ser usada para um determinado fim. As ideias dos funcionalistas de Praga 
foram fundamentais para os trabalhos de orientação funcionalista que surgiram 
posteriormente. 
Círculo Linguístico de Praga 
“O nome da Escola de Praga é associado frequentemente ao de F. de 
Saussure, embora ela não tenha sido reivindicada pelo linguista genebrês. 
O laço estabelecido entre ambos se explica mais pelos traços comuns 
desencadeados a posteriori do que por um parentesco genético. A 
atividade da escola de Praga se estende de outubro de 1926 a Segunda 
Guerra mundial; se os participantes dos Trabalhos foram numerosos 
(contam-se entre eles Français L. Brun, L. Tesnière, J. Vendryès, É. 
Benveniste, G. Gougenheim, A. Martinet), os protagonistas foram 
incontestavelmente S. Karchevski, R. Jakobson e N. S. Trubetskoi. As 
43 
 
teorias (chamadas “teses”) da escola de Praga, apresentadas em 1929, se 
encontram ilustradas principalmente nos oito volumes dos Trabalhos do 
Círculo de Linguística de Praga, publicados de 1929 a 1938. 
A metodologia do Círculo de linguística de Praga se fundamenta sobre 
uma concepção da língua analisada como um sistema que possui uma 
função, uma finalidade (a de se exprimir e de se comunicar) e, em 
consequência, com os meios próprios a este fim. Sem considerar 
intransponível a distinção entre método sincrônico e método diacrônico, 
os linguistas do Círculo de Praga se preocupam mais com os fatos da 
língua contemporânea, porque só estes últimos constituem um material 
completo nos quais se pode ter um ‘sentimento direto’. A comparação das 
línguas não deve ter por único fim considerações genealógicas; com efeito, 
ela pode permitir o estabelecimento de tipologias de sistemas linguísticos 
sem parentesco algum. Estabelecem-se, assim, as leis que dão conta do 
endeamento de fatos, já que, no domínio da língua, existia a tendência de 
explicar as mudanças isoladas e produzidas acidentalmente.” (Praga 
(Escola de). In: Dubois, J. et al. Dicionário 
de linguística. São Paulo: Cultrix, 2006.) 
Os linguistas de Praga focalizavam as funções associadas à organização interna do 
sistema linguístico como na fonologia. Os modelos funcionalistas mais recentes 
ocupam-se em investigar “as funções que a linguagem pode desempenhar nas 
situações comunicativas, dando maior ou menor peso aos aspectos cognitivos 
relacionados à comunicação.” (CUNHA, 2009, p.159) 
Na década de 70, na Costa Oeste dos Estados Unidos, como uma reação à linguística 
formalista, realizada pelos estruturalistas e pelos gerativistas, surge o 
Funcionalismo norte-americano: 
“É por volta de 1975 que as análises linguísticas explicitamente classificadas como 
funcionalistas 
começam a proliferar na literatura norte-americana. Essa corrente surge 
como reação às impropriedades constatadas nos estudos de cunho 
estritamente formal, ou seja, nas pesquisas estruturalistas e gerativistas. 
Os funcionalistas norte-americanos advogam que uma dada estrutura da 
língua não pode ser proveitosamente estudada, descrita ou explicada sem 
referência à sua função 
comunicativa (...)” (Cunha, 2009, p. 163) 
Tendo como foco uma linguística baseada no uso, os linguistas Sandra Thompson, 
Paul Hopper e Talmy Givón se destacaram como funcionalistas. Em seus trabalhos, 
é possível perceber a tendência em considerar o contexto linguístico e a situação 
extralinguística nas análises. Acesse o link e veja as informações SOBRE A OBRA “ 
FUNCIONALISM AND GRAMMAR”, DE TALMY GIVÓN 
 (https://www.scielo.br/scielo.php? 
script=sci_arttext&pid=S0102-44501997000200008). 
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44501997000200008
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44501997000200008
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44501997000200008
44 
 
No Brasil, estudos de base funcionalista começam a se destacar na década de 80, a 
partir dos trabalhos de pesquisadores preocupados em investigar os fatores 
comunicativos e cognitivos para entender o funcionamento 
da língua falada e escrita. 
Os Conceitos de Língua e de Linguagem Segundo a 
Proposta Funcionalista 
Tendo como base o Funcionalismo, vale refletir sobre o modo como a língua e a 
linguagem são concebidas. Deixase de lado a ideia de que a linguagem é a forma de 
expressão do pensamento, já que os funcionalistas a concebem como instrumento 
de interação social. Segundo eles, é preciso investigar a motivação para os fatos da 
língua, ou seja, explicar as regularidades observadas no uso interativo da língua, um 
vez que ela é concebida como uma estrutura maleável, adaptativa. 
Assim, estuda-se a língua em situação real de comunicação, verificando o modo 
como os usuários da língua se comunicam eficientemente. Esses usuários são vistos 
como os responsáveis pelo estado e forma da língua. Para os funcionalistas, em um 
contexto

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