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FACULDADE DE EMPREENDEDORISMO E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM
HISTÓRIA 
	
A ATUAÇÃO DOS ÍNDIOS NO ROMANTISMO E A IMPORTÂNCIA DESSE MÉTODO NO ENSINO MÉDIO
NOME (ALUNO)
							
SÃO PAULO
2021
 FACULDADE DE EMPREENDEDORISMO E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM 
HISTÓRIA
 
A ATUAÇÃO DOS ÍNDIOS NO ROMANTISMO E A IMPORTÂNCIA DESSE MÉTODO NO ENSINO MÉDIO
NOME (ALUNO)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a FAECH – Faculdade de empreendedorismo e Ciências Humanas, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em História.
 SÃO PAULO
 2021
FACULDADE DE EMPREENDEDORISMO E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU HISTÓRIA 
NOME (ALUNO)
 A ATUAÇÃO DOS ÍNDIOS NO ROMANTISMO E A IMPORTÂNCIA DESSE MÉTODO NO ENSINO MÉDIO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu da FAECH - Faculdade de empreendedorismo e Ciências Humanas, orientado pelo Prof. _____________________ como requisito parcial para obtenção do título de Especialização em História.
	
Aprovada em........de.................................de..........
A nota final do (a) estudante foi igual a _____ ( ).
___________________________________
 Prof.Orientador: 
 A ATUAÇÃO DOS ÍNDIOS NO ROMANTISMO E A IMPORTÂNCIA DESSE MÉTODO NO ENSINO MÉDIO
Nome do Autor[footnoteRef:0] – Fonte Tam. 12, recuo a direita [0: Mini-currículo do autor – Professora do Instituto Brasil de Ensino. Graduada em Serviço Social, especialista em Docência do Ensino Superior, trabalha atualmente no Instituto Brasil de Ensino /iBRA responsável metodológica nos cursos de pós-graduação. Email: coordenacaopedagogica@ibrasuperior.com.br Fonte Tam. 10 espaçamentos simples. Texto justificado.] 
Resumo:
Este artigo tem como objetivo analisar e comparar a figura do índio nas obras de José de Alencar e Gonçalves Dias, observando sob a perspectiva do herói nacional e a importância de inserção do assunto nos estudos do Ensino Médio. Abordando o Romantismo, corrente literária, surgido no século XVIII na Europa, tendo o ápice ainda na primeira metade do século XIX. O romantismo apresenta três divisões, respectivamente: indianista, ultra-romântica e condoreira, sendo a indianista o foco desta pesquisa. Os objetivos específicos deste artigo é, a príncipio, a contextualização do Romantismo, a construção da imagem indigena por José de Alencar e Gonçalves Dias, e por fim a importância da abordagem no Ensino Médio.A busca pela individualização do personagem brasileiro em fuga dos padrões de personalidade europeias é uma característica convergente nas obras de ambos os autores retratados nessa pesquisa. Como base teórica, este artigo apresenta influência de Barbosa (1999;2008), Bosi (1992), Candido (1999), Magalhães (2006), Santos (2009), entre outros.
Palavras-chave: indianista - identidade nacional - romantismo - formação do indivíduo - ensino médio
1. INTRODUÇÃO
	O foco desta pesquisa é observar, a partir das obras de dois grandes autores românticos, a importância de se estudar o romantismo indianista durante o Ensino Médio. Esses dois autores, José de Alencar e Gonçalves Dias, que escreveram O Guarani e I-Juca Pirama, respectivamente, consolidaram o que se chama de primeira geração romântica.
	O índio como o herói nacional é a característica em foco da primeira geração romântica: indianista, uma vez que em suas obras, os autores exploram, por diversas perspectivas, os pontos fortes encontrados na primeira civilização que constituía o Brasil, a fim de achar uma figura que pudesse se tornar a imagem do Brasileiro. 
	Paulatinamente, os autores passaram a expor a sua visão sobre o índio e, então, duas grandes obras surgiram, sendo uma delas poesia e a outra prosa. Embora haja a diferença na modalidade da escrita, ambas afunilam-se em torno do ser que é forte, polido, com princípios morais e éticos e, principalmente, na expressão de nacionalismo e pertencimento.
	Vale ressaltar que, esse sentimento de nacionalismo iminente resulta do processo de Independência do Brasil que ocorreu em 1822, sem esse ponto de virada histórica, não haveria a necessidade do povo que constituía essa terra chamada de Brasil, se entender como brasileiro. Segundo Antonio Candido (1999, p. 12):
A literatura brasileira, como as de outros países do Novo Mundo, resulta desse processo de imposição, ao longo do qual a expressão literária foi se tornando cada vez mais ajustada a uma realidade social e cultural que aos poucos definia a sua particularidade.
 	Durante o Ensino Médio, o adolescente também embarca nos questionamentos de “quem sou?” e “a o que eu pertenço?”, o que vai de encontra com o mesmo sentimento da sociedade da época do romantismo. Nesse contexto, o adolescente encontra suporte para encontrar as respostas que precisa ao mesmo tempo que pode se permitir a entender o que constitui o seu entorno.
2. A REPRESENTAÇÃO DO ÍNDIO NO ROMANTISMO E A ABORDAGEM NO ENSINO MÉDIO
O Romantismo é uma corrente literária que se iniciou na Europa em meados do século XVIII, tendo como marco inicial a publicação do romance “Os sofrimentos do jovem Werther”, em 1774, de Johann Wolfgang Von Goethe. Nesse mesmo momento histórico, o mundo passava por mudanças significativas marcadas por duas revoluções, a Francesa, a qual trouxe transformou os modos de governo, e a Industrial, a qual modificou os modos de produção e consumo.
Por meados do século XIX, o romantismo chega ao Brasil, em um período de insatisfação política, impostos abusivos, e desejo, em meio a elite, de emancipação política e econômica. De certo modo, esses acontecimentos que cercavam a sociedade brasileira, contribuíram para o surgimento de uma literatura nacional. 
Segundo Antonio Candido, crítico literário, a literatura brasileira passou por um processo de imposição semelhante ao de outros países do Novo Mundo, o qual a expressão literária foi se ajustando à realidade social e cultural e definiu a sua própria identidade. Tal afirmação pode ser confirmada através do nacionalismo expresso no romantismo brasileiro, o qual, mesmo absorvendo características do romantismo europeu, como subjetivismo e liberdade, apresentava uma característica particular do Brasil, a exaltação e reconhecimento do índio.
O lançamento do livro “Suspiros poéticos e saudades” em 1836, de Gonçalves de Magalhães, foi um precursor do Romantismo no Brasil e tinha características da primeira geração romântica como patriotismo, individualismo, nacionalismo e sentimentalismo. As três gerações românticas foram, respectivamente, indianista, mal do século e condoreira. 
O indianismo buscava uma identidade nacional própria, a qual encontrou na figura do índio uma particularidade brasileira. 
2.1 Indianismo: a primeira geração romântica 
	Santos (2009, p. 20) “O termo indianismo alcançou seu apogeu num complexo movimento que reuniu, ao mesmo tempo, os aspectos históricos e culturais à tentativa de libertação das formas cristalizadas nos movimentos literários anteriores, em especial, as do racionalismo clássico”. Nesse sentido, a primeira geração é marcada pela busca de temas nacionais e os autores encontraram no índio o afastamento dos ideais colonizadores portugueses, a lealdade e a coragem similar ao dos cavaleiros medievais, além de outros valores singulares. 
	Alguns temas abordados pelos autores se baseiam na natureza, no sentimentalismo, no ufanismo e no nacionalismo. O mito do bom selvagem também impulsionou os ideais indianistas, uma vez que o mito se dava pelo ser humano em seu estado natural, sem rompimento da sociedade. O bom selvagem pode ser notado na obra de José de Alencar, O Guarani, em que é presente a relação colonizado-colonizador.
	Esta fase foi marcada por autores como Gonçalves de Magalhães, precursor da corrente literária no Brasil, Gonçalves Dias e José de Alencar, que tiveram grande destaque na geração.
O índio de Joséde Alencar se diferenciava do índio de Gonçalves Dias. De acordo como o crítico Alfredo Bosi (1922, p.177) “o índio de Alencar entra em íntima comunhão com o colonizador” enquanto o índio de Gonçalves Dias apresentava uma esfera nostálgica da infância do próprio autor. 
As obras indianistas de Alencar constituem-se em três romances que descrevem três diferentes períodos na história do índio no Brasil, sendo eles, Ubirajara (1874) que tem como tema a chegada do colonizador, Iracema (1865) que retrata o primeiro contato com o colonizador e O Guarani (1857) que apresenta a convivência entre o nativo e o colonizador. 
Gonçalves Dias tivera obras indianistas como Os Timbiras (1857), I-Juca Pirama (1851), Marabá (1851), Canção do Exílio (1846), esta última conhecida pela exaltação da terra brasileira. 
A partir das obras “O Guarani” e “I-Juca Pirama”, pode-se construir uma análise sobre o período indianista mesmo sendo a primeira em formato de prosa e a segunda em poesia. Tais obras constituem conceitos e composições de visões diferentes, porém convergentes em torno da temática do herói Nacional. 
2.2 - José de Alencar e O Guarani:
	José de Alencar, cearense, frequentou camadas sociais altas do império, era filho do senador imperial José Martiniano de Alencar e de Ana Josefina. Estudou direito na renomada Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, atualmente pertencente à USP (Universidade de São Paulo), e frequentada por diversos importantes nomes da história brasileira. 
	Alencar foi advogado, político, jornalista, dramaturgo, romancista e escritor. Um dos maiores representantes do romantismo, foi influenciado pelo romance “A Moreninha” de Joaquim Manuel de Macedo, teve “O Guarani” como sua obra mais notória do período indianista, publicada em forma de folhetim no Diário do Rio de Janeiro antes de virar livro. 
Caracterizado pela fantasia que envolvia os leitores em suas obras, Alencar utiliza-se do mito do bom selvagem na obra O Guarani e descreve total comunhão entre o índio e o colonizador. Segundo Bosi (1992, p.180), tal mito do bom selvagem se apresenta na obra do autor como o colonizador sendo o “generoso feudatário” e o colonizado sendo “súdito fiel e bom selvagem”. 
O livro pertencente a primeira fase do romantismo, fase indianista, caracterizada por ser de cunho nacionalista e pela valorização do índio e criação deste em herói nacional. A obra tinha como intenção do autor retratar a realidade nacional da época, expor as belezas nacionais e identificar a figura puramente brasileira. 
As personagens Peri e Cecília vivem um romance intenso, que ultrapassa os limites da vida real, a qual Peri torna-se capaz de matar e morrer pela amada. A partir da seguinte passagem pode-se confirmar:
Em Peri o sentimento era um culto, espécie de idolatria fanática, na qual não entrava um só pensamento de egoísmo; amava Cecília não para sentir um prazer ou ter uma satisfação, mas para dedicar-se inteiramente a ela, para cumprir o menor dos seus desejos, para evitar que a moça tivesse um pensamento que não fosse imediatamente uma realidade (ALENCAR, 2005,p. 47).
A oportunidade de criar a própria visão da obra dentro da visão de Alencar, traz ao leitor um aprofundamento e interesse no enredo, podendo criar desejos e expectativas para a história. Outro fator interessante é a constante mudança de interpretação da obra, seria como se, ao ler, o leitor pudesse mudar a trajetória ou, simplesmente, pudesse ter várias facetas da mesma história em um único livro. Trazia na obra aventura, amor, emoção e ação, como era o desejo do público da época. 
	É perceptível a entrega do nativo a figura do colonizador, tal entrega é inconsciente e incondicional a medida que poderia levar ao sacrifío ou abdicação do próprio indivíduo. Peri, um índio, se apaixona por Ceci, uma mulher branca, e imerge-se na cultura europeia tida como civilizada para poder conquistar a amada. A partir disso, pode se confirmar a entrega do nativo ao branco em todas as esferas sociais, como trabalho, amor, liberdade e entre outras. 
	As características civilizatórias europeias (uma visão do europeu de ser pertencente a uma sociedade que deveria civilizar as outras, à medida que a Europa era o centro de desenvolvimento do mundo e portanto deveria servir de molde para as demais culturas ligadas à formação de tribos e proximidade com a natureza), fizeram com que Peri aprendesse o português, se vestisse como europeu, mudasse seus hábitos e se tornasse cristão a fim de ficar perto de sua amada. Peri se dedicou incessantemente a Ceci, a ponto de a idolatrá-la.
	Outro tópico explorado na obra é o contexto histórico do Brasil na época, um espelho do período medieval na Europa ao explorar valores e virtudes semelhantes aos cavaleiros. O índio era visto como sinônimo de bravura e pureza. A relação suserano-vassalo era presente, inclusive com a personagem de D. Antônio de Mariz como o Suserano ou Senhor Feudal, sua propriedade é descrita como similar a um castelo medieval, de acordo com a seguinte passagem da obra:
Estes, apesar das precauções que tomavam contra os ataques dos índios, fazendo paliçadas e reunindo-se uns aos outros para defesa comum, em ocasião de perigo vinham sempre abrigar-se na casa de D. Antônio de Mariz, a qual fazia às vezes de um castelo feudal na idade média. O fidalgo os recebia como um rico-homem que devia proteção e asilo aos seus vassalos; socorria-os em todas as suas necessidades, e era estimado e respeitado por todos que vinham, confiados na sua vizinhança, estabelecer-se por esses lugares (ALENCAR, 2005, p. 14 e 15).
A construção da história possui vertentes de epopéia caracterizando se por ações e feitos memoráveis de um herói histórico. Tal que a Independência do Brasil trouxe ao índio alencariano a figura que o brasileiro precisava no imaginário pós-colonial. Além do mais, Alencar explora o imaginário necessário e não o real, ou seja, ele criou o índio de acordo com as qualidades que a sociedade queria para se reconhecer ao invés do índio como este era de fato. O índio civilizado é uma metáfora criada para honrar o orgulho do brasileiro, o qual queria ser visto como civilizado, dotado de bons costumes, mas não queria se pôr como inferior ao europeu. Uma ironia crucial para a utilização do bom selvagem e da criação do índio como herói nacional. 
Segundo Alencar (2005) Peri era um guerreiro goitacá que abandonou sua tribo por Cecília, filha de D. Antônio Mariz. O índio guerreiro luta contra os aimorés. O povo que se revoltou com D. Antônio por conta da morte de uma índia da tribo. Nota-se que, Peri luta com outros índios para defender o pai de sua amada, logo se ressalta a comunhão e lealdade do colonizado com o colonizador.
A luta de Peri contra seus semelhantes pode ser vista no capítulo A Caçada:
[...] Segurava o arco e as flechas com a mão direita calda, e com a esquerda mantinha verticalmente diante de si um longo forcado de pau enegrecido pelo fogo.
Perto dele estava atirada ao chão uma clavina tauxiada, uma pequena bolsa de couro que devia conter munições, e uma rica faca flamenga, cujo uso foi depois proibido em Portugal e no Brasil.
Nesse instante erguia a cabeça e fitava os olhos numa sebe de folhas que se elevava a vinte passos de distância, e se agitava imperceptivelmente [...]
[...] Era uma onça enorme de garras apoiadas sobre um grosso ramo de árvore, e pés suspensos no galho superior, encolhia o corpo, preparando o salto gigantesco. (ALENCAR, 2005, p. 22 - 23).
No romance, o herói nacional é um autêntico dominado culturalmente, ou seja, Peri se submete a cultura do colonizador e só existe como herói após se submeter, antes disso, é como os aimorés, selvagem e bruto. 
Ceci é comparada a Virgem Maria, logo seria digna do sacrifício e serventia de Peri por ela, como perceptível no seguinte trecho:
Se Cecília julgasse que isto devia ser assim, pouco lhe importava o mais; porém, se o que tinha visto lhe causasse uma sombra de tristeza, e empanar um momento o brilho de seus olhos azuis, então era diferente. O índiosacrificaria tudo, antes do que consentir que um pesar anuviasse o rostinho faceiro de sua bela senhora. Assim, tranquilizado por esta ideia, ganhou a cabana, e dormiu sonhando que a lua lhe mandava um raio de sua luz branca e acetinada para dizer-lhe que protegesse sua filha na terra (ALENCAR, 2005, p. 48).
De acordo com Bosi (1992, p.180) “o mito alencariano reúne sob a imagem comum do herói, o colonizador, tido como generoso feudatário, e o colonizado, visto, ao mesmo tempo, como súdito fiel e bom selvagem”. Tais idealizações de José de Alencar, conduzem a obra um olhar harmônico e pacífico sobre Peri e a família europeia de Ceci, uma vez que, Peri tem combatido sozinho uma tribo inteira.
No decorrer do enredo, o herói é caracterizado pela sua coragem, honra e inteligência, qualidades que honram a consciência e os valores coletivos do herói nacional e do desejo social de ser visto com tais características. 
2.3 Gonçalves Dias e I-Juca Pirama
	A poesia de Gonçalves Dias, em especial I-Juca Pirama, destacou-se como marco da poesia indianista pelo dueto nacionalismo e índio como herói nacional. O poema I-Juca Pirama foi publicado em 1851 como parte do livro “Últimos Cantos” e seu título significa, em tupi, “aquele que vai ser morto”.
Para Antonio Candido (1999, p.41):
[...] “I-Juca Pirama”, obra de grande qualidade, narra a história de um prisioneiro que vai ser sacrificado ritualmente por uma tribo inimiga. O relato se desdobra como demonstração de virtuosismo, usando os mais variados metros e sugerindo com rara maestria tanto os movimentos quanto as emoções (1999, p. 41).
	Nesse sentido, o índio de Gonçalves Dias trás uma visão bravura, de ser guerreiro e extremamente ligado aos seus costumes e ao ambiente natural, sem se afastar do estereótipo do índio padrão. 
	No enredo, um índio tupi é capturado pelos timbiras, tribo inimiga, e súplica pela preservação da sua vida por amor ao seu pai inválido. Essa súplica é vista como covardia pelos timbiras, porém este consegue ser libertado. No entanto, seu pai condena sua atitude, pois um índio guerreiro não deve temer a morte. No seguinte trecho pode-se entender como se dá a condenação do pai:
"Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés (DIAS, 1969, p. 12).
	Baseado no contato que Gonçalves Dias teve com os índios durante a sua infância, a narrativa de I-Juca Pirama aborda o código de honra do povo índigena, o relacionamento do índio com as suas raízes , costumes e até mesmo o rito antropofágico. Diferenciando-se do contexto colonizador-colonizado, na história o índio morre pelas mãos de índios da mesma tribo a qual pertence, reafirmando a composição social existente dentro de uma tribo e quebrando o paradigma de índio “bonzinho, inocente”.
	Para Santos (2009), a morte do índio se fez digna ao trazer consigo o significado de amor ao seu pai. 
Assim, eximir-se do canto de bravura, para chorar e implorar pela vida do pai, não se torna um ato desprovido de sentido. Constitui-se, antes de tudo, um sinal de que o aparente fracasso tornar-se-ia motivo de uma experiência posterior (SANTOS, 2009, p. 163).
Também é ressaltado o sistemas de crenças de ancestralidade notado no respeito ao mais velho e a cultura já existente, reafirmando a honra que deve se ter na tribo para que esse sistema seja mantido. 
Portanto, I-Juca Pirama de Gonçalves Dias tornou-se símbolo de herói nacional pelo apreço a honra e pelo índio guerreiro que mesmo reconhecido como covarde, foi forte para lutar pelo amor de seu pai estando sozinho com os inimigos, e no final da história, tornou-se valente e uma lenda para os timbiras.
2.3 Indianismo: a importância para a formação do povo brasileiro
	De partida, o indianismo demonstra a identidade do povo brasileiro, que em 1822 após a independência, precisava desta identidade, e com certeza foi um ponto de partida para que o povo brasileiro pudesse começar a refletir o que torna de forma a identidade nacional.
	O espírito nacionalista fez com que José de Alencar e Golçalves Dias encontrassem no índio essa figura de identidade nacional clamada pelos brasileiros. Vale ressaltar que o índio já fazia parte da literatura brasileira desde o período literário, como dito por Grassi (2012, p.12-13):
A figura do indígena brasileiro aparece na literatura desde o Quinhentismo, com as cartas escritas para a metrópole portuguesa pelos cronistas, que narravam a terra recém-descoberta e seus habitantes, passando pelo Barroco e pelo Arcadismo, como tema de escritos diversos com forte dado informacional e catequizante, que se sobrepõem ao dado estético, caracterizador da obra literária. O índio retratado nestes textos ainda não é aquele típico representante da literatura nacional que visamos destacar, mas sim o índio da realidade pragmática, que precisava ter boa aparência e bons ânimos, para servir aos portugueses para aquilo que mais lhes aprouvesse dentro da ideologia de colonização.
	Apesar de que, sem uma análise do que o indianismo representa, muitos indivíduos podem não entender o seu papel fundamental e é através desse sentido que é necessário trabalhar esse momento da escola literária romântica durante as fases escolares. Durante o Ensino Médio, o adolescente está construindo o seu diálogo com a sociedade e se entendendo como um cidadão, logo a crítica se fomenta e é preciso que esse jovem compreenda-se como brasileiro e entenda a sua cultura.
	Através do Indianismo, o jovem tem o contato com princípio de identidade nacional e, consequentemente, consegue se dispor a pensar o quanto as características de identidade nacional se modificou, bem como pode reparar que na atual configuração de herói nacional.
	A imagem do índio criada durante o indianismo, sem dúvidas está atrelada a visão do índigena que a sociedade reproduz, a questão do índio como o selvagem, como aquele que tem sua vida em comunhão com a natureza, quando na verdade, o índigena já está atrelado a sociedade e não vive longe dos demais. Entender como essa dinâmica de construção da identidade se faz é uma importante ferramenta para quebrar os estereótipos como os ditos anteriormente.
	Aos 15, 16, 17 ou 18 anos, o adolescente está passando pela fase de se desconstruir, logo, muitos dos conhecimentos adquiridos nessa fase e que são capazes de quebrar paradigmas, serão marcantes para os jovens e serão bagagens a serem carregadas. Nesse sentido, desconstruir a imagem nacional e fazê-lo buscar entender quem é o povo brasileiro têm um significado de se conhecer também e poder compreender em que sociedade ele está inserido.
	Alinha-se, logo, a mesma necessidade que a população em 1822, ao tentar entender o que é o povo brasileiro, no entanto o objetivo ao apresentar o indianismo aos jovens, é trazer a eles a reflexão que a identidade nacional é rica de etnias e que não pode ser definida por apenas uma figura. Ao compreender o objetivo, coloca-se em pauta a necessidade de se não perpetuar o racismo, a xenofobia ou qualquer outra forma de preconceito.
	Habitualmente, os alunos do Ensino Médio começam a ter aulas sobre o romantismo no 2ºEM, logo após terem reflexões sobre outras escolas literárias como, por exemplo, o Quinhentismo e o Trovadorismo, o que pode servir de base para reflexões sobre o romantismo.
	É importante que haja o contato com as escolas literárias em ordem cronológica para que o aluno desenvolva um linha de raciocínio crítico a partir da análise de como a sociedade e a mentalidade dos escritores sofreram mudanças. Analisando o próprio romantismo, somente este possui três fases, com três focos diferentes e cada fase com escritores de visão diferente.
A experiência de se estudar o romantismo é enriquecedora para o âmbito pessoal, social e nacional. Seria como se todas as bolhas sociais pudessem ser exploradas em um único momento literário. 
Voltando-se para o períodoindianista, o romantismo permite a identificação do eu pertencente a uma sociedade e o questionamento do que é essa sociedade.
Claramente, existe um afunilamento entre história e literatura para a conceitualização do romantismo, em especial indianista, uma vez que esse sentimento nacionalista eminente só faz sentido quando o Brasil se torna uma única unidade nacional. Pela história, a nação se constitui de uma unidade territorial, com mesma identificação linguística e cultural, nesse sentido, o Brasil, um país marcado pela miscigenação racial e cultural, tinha a necessidade de encontrar uma ligação comum a todos, e encontraram na figura indigena, enfatizada pelos autores indianistas. 
3. METODOLOGIA
	Este artigo se baseia na pesquisa bibliográfica e científica, parte do princípio de que se precisa uma tese, uma síntese e uma antítese, trazendo a lealdade ao método científico. 
	Os autores trabalhados neste artigo são bastante reconhecidos no meio intelectual e constituem pesquisas reconhecidas no âmbito da literatura e baseiam-se, também, no método científico para construírem suas teorias e afirmações. Os principais autores trazidos aqui são: Barbosa (1999;2008), Bosi (1992), Candido (1999), Magalhães (2006), Santos (2009) e Grassi (2012).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
	O romantismo que surgiu na Europa com “Os sofrimentos de do jovem Werther”, em 1774, de Johann Wolfgang Von Goethe, tinha uma proposta e foco divergentes daquilo que ele veio se desenvolver no Brasil. Indubitavelmente, a base que se formula o romantismo se faz presente em toda e qualquer variante que constitui a escola literária. 
	O indianismo marcou um momento de valorização nacional, ou melhor, de tentativa de se criar uma identidade nacional. O Brasil foi um país colonizado por Portugal, por cerca de 322 anos, logo, ao se declarar a independência da metrópole o povo foi em busca de uma identidade pura que não fosse ditada pelos princípios da Corte Portuguesa. Nesse sentido, José de Alencar e Gonçalves Dias, assim como outros autores do mesmo período, encontraram no índio a visão do descolonizado, a final, era a sociedade que constituía o Brasil antes da chegada de Portugal e tivera sofrido genocídio, exploração e até mesmo abusos por parte dos Europeus. 
	O indígena que vive em comunhão com a natureza, tem valores morais bem instituídos e caracteriza-se como guerreiro que lutou contra o colonizador, muito embora não tenha perdido devido a desproporção de armamentos, poderia facilmente ser a figura que o sociedade brasileira procurava, uma vez que essa sociedade estava lutando para se afastar do colonizador.
	O Guarani,de José de Alencar, explorou também teorias europeias como o Bom Selvagem de Jean Jacques Rousseau. Tal teoria tentava analisar o selvagem que havia sido civilizado, para tanto havia se tornado o cidadão de bem a medida que continuava sendo selvagem por condições de sua natureza. Partindo dessa explicação, é possível perceber que, mesmo buscando o herói nacional, os autores não se desprendem das teorias europeias, muita menos do sentimento eurocêntrico de civilização.
	I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias, explora uma outra versão do índio, uma versão a qual havia sido construída a partir das suas memórias e experiências com os indígenas. Nessa versão, as características morais e éticas do índio se vale mais, visto que bravura, covardia, amor e honra são pontos bastante explorados.
	Para os adolescentes no Ensino Médio, esse contato com as visões de dois importantes autores e, consequentemente, de um momento histórico, contribui significamente na formação destes como cidadãos e também no encontro com a identidade nacional.
	A identidade nacional construída pelo romantismo, pouco se apresenta com a identidade nacional atual, logo propõe que o jovem faça questionamentos sobre si e a sociedade a qual vive. É uma possibilidade de se formar jovens mais conscientes sobre seu papel na sociedade e seu entendimento como indivíduo em um país multicultural como é o Brasil. 
	As três fases do romantismo permitem ao estudante explorar diversas camadas sociais que o compõem, como a crítica às instituições sociais, a valorização do sentimentalismo, e na fase indianista, o questionamentos dos valores morais.
	O indianismo não foi apenas voltado para o nacionalismo, pode também trazer diversos pontos de características morais. Em O Guarani, o Peri demonstra sua bravura, coragem e amor por Ceci, enquanto em I-Juca Pirama, o índio demonstra sua bravura, coragem e honra por amor ao seu pai enfermo. Essas características também se tornam presentes na vida do jovem que, ao adentrar a vida adulta, passa a necessitar fazer mais escolhas morais diante a uma sociedade julgadora.
	As dúvidas sobre o sim e o não, o certo e o errado, o ir ou o ficar, o amar ou se calar, são extremamente fortes durante a adolescência, principalmente,porque as emoções se tornam mais sensíveis. Analisando este contexto, ter um aparato literário para auxiliar o jovem a se entender fortalece as suas escolhas e o permite refletir com mais argumentos aquilo que precisa ser decidido.
	Para compreender o quanto jovem precisa de apoio para se entender no mundo, basta recorrer a onda de suicídios que atormentou a Europa, logo após os jovens lerem “Os Sofrimentos do Jovem Werther” de Goethe. Jovens enfrentam um momento difícil ao tomarem consciência da realidade, para uns esse momento é mais maleável, para outros pode ser desastroso, logo cabe ao professor, uma figura de autoridade e conhecimento, utilizar-se de sua sabedoria para auxiliar no crescimento desse jovem, sem dúvidas, um conselho de uma figura tal como o professor, faz muitas vezes, um jovem refletir sobre.
	Não basta apenas apresentar o conteúdo, é preciso também trazer a experiência e a reflexão para que não haja desinteresse e insignificância para o aluno. Segundo Paulo Freire, patrono de educação brasileira:
Não existe tal coisa como um processo de educação neutra. Educação ou funciona como um instrumento que é usado para facilitar a integração das gerações na lógica do atual sistema e trazer conformidade com ele, ou ela se torna a "prática da liberdade", o meio pelo qual homens e mulheres lidam de forma crítica com a realidade e descobrem como participar na transformação do seu mundo.
	Com essa citação, vale ressaltar que esse é o papel da literatura, ser capaz de mudar a realidade de quem se dispõe a aprender e a ensinar, disponibilizando-se como um momento de troca de saberes e experiências, à medida que possibilita novas reflexões.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BARBOSA, Frederico. Uma estrela colorida brilhante. In: ALENCAR, José de. O Guarani. São Paulo: FTD, p. 09−22, 1999.
BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. 3a ed 1 – reimpressão, 1992.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1977.
CANDIDO, Antonio. Iniciação à literatura brasileira: resumo para principiantes. 3a ed.– São Paulo: Humanitas / FFLCH/USP, 1999.
DIAS, Gonçalves. Antologia Poética. 5a ed. Rio de Janeiro: Agir, 1969.
GRASSI, Bruna Stephani Sanches. Os Avessos do País: Desconstrução dos Semióforos Nacionais em Antonio Callado. 2013.
MAGALHÃES, Luana Santana. A Figura do Índio na Literatura. Fortaleza, 2006.
MARQUES, José Wilton. Gonçalves Dias: o poeta na contramão (literatura e escravidão no romantismo brasileiro). São Carlos: Ed. UFSCar, 2010.
MOSCATO, Daniela Casoni. Traços de Peri: leituras do leitor José de Alencar para a composição do indígena em sua obra O guarani – 1857/ Assis, 2006.
OLIVEIRA, Maria Edith Maroca de Avelar Rivelli de. Letras de Memórias: o indígena como cronótopo da narrativa do passado no período imperial, dos estudos históricos ao romance indianista de José de Alencar (1820-1870), 2011.
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SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira. São Paulo: DIFEL, 1982.
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