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1 Literatura CearenseNotas IntrodutóriasCURSO Charles Ribeiro Pinheiro e Lílian Martins
Realizaçãoaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
c
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s
e
Copyright © 2020 Fundação Demócrito Rocha
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)
João Dummar Neto
Presidente
André Avelino de Azevedo
Diretor Administrativo-Financeiro
Marcos Tardin
Gerente Geral
Raymundo Netto
Gerente Editorial e de Projetos
Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis
Analistas de Projetos
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)
Viviane Pereira
Gerente Pedagógica
Marisa Ferreira
Coordenadora de Cursos
Joel Bruno
Designer Educacional
CURSO LITERATURA CEARENSE
Raymundo Netto
Coordenador Geral, Editorial e Estabelecimento de Texto
Lílian Martins
Coordenadora de Conteúdo
Emanuela Fernandes
Assistente Editorial
Amaurício Cortez
Editor de Design e Projeto Gráfico
Miqueias Mesquita
Diagramador
Carlus Campos
Ilustrador
Luísa Duavy
Produtora
Este curso é parte integrante do programa Circuito de Artes e Juventudes 2019, 
Pronac nº 190198, processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a Secretaria 
Especial da Cultura do Ministério da Cidadania.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD 
Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949
Todos os direitos desta edição reservados à:
Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora 
CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará 
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148
fdr.org.br 
fundacao@fdr.org.br
Circuito de Artes e Juventudes 2019Circuito de Artes e Juventudes 2019Circuito de Artes e Juventudes 2019Circuito de Artes e Juventudes 2019Circuito de Artes e Juventudes 2019Circuito de Artes e Juventudes 2019Circuito de Artes e Juventudes 2019Circuito de Artes e Juventudes 2019Circuito de Artes e Juventudes 2019Circuito de Artes e Juventudes 2019Circuito de Artes e Juventudes 2019Circuito de Artes e Juventudes 2019Circuito de Artes e Juventudes 2019Circuito de Artes e Juventudes 2019, , 
Pronac nº 190198, processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a Secretaria Pronac nº 190198, processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a Secretaria Pronac nº 190198, processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a Secretaria Pronac nº 190198, processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a Secretaria Pronac nº 190198, processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a Secretaria Pronac nº 190198, processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a Secretaria Pronac nº 190198, processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a Secretaria Pronac nº 190198, processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a Secretaria 
Especial da Cultura do Ministério da Cidadania.Especial da Cultura do Ministério da Cidadania.
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Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949
C977 
Curso Literatura Cearense / vários autores ; organizado por 
Raymundo Netto; coordenação de Lílian Martins; ilustrado por Carlus 
Campos - Fortaleza, CE : Fundação Demócrito Rocha, 2020.
192 p. ; 25cm x 29,5cm. - (Curso Literatura Cearense; 12v.).
ISBN: 978-65-86094-22-0 (Coleção)
ISBN: 978-65-86094-23-7 (Fascículo 1)
1. Literatura brasileira. 2. Literatura cearense. I. Netto, Raymundo. II. 
Martins, Lílian. III. Campos, Carlus. IV. Título. V. Série.
CDD869.31
2020-881 CDU821.134.3(813.1)
lá! Seja muito bem-vindo(a) 
ao curso Literatura Cearense
da Fundação Demócrito Ro-
cha (FDR) em parceria com a 
Universidade Federal do Ceará 
(UFC). Este curso, com 140h, 
que tem apoio da Lei Federal 
de Incentivo à Cultura, é ofer-
tado GRATUITAMENTE e com-
pletamente na modalidade de 
Educação a Distância (EaD), para todos os 
estados do país, por meio de nosso Am-
biente Virtual de Aprendizagem (AVA).
Os fãs e estudiosos da nossa Literatura 
Brasileira terão, agora, a possibilidade de 
ampliar seu repertório de saberes, conhe-
cendo um pouco mais sobre a literatura 
produzida no estado cearense, seja por 
autores nascidos no Ceará ou que nele dei-
xaram seu maior legado literário. Além de 
nomes como o de José de Alencar, fi guram 
neste curso, outros pertencentes a escolas, 
academias, movimentos e agremiações 
literárias que conhecemos e/ou estamos 
familiarizados desde a escola. Porém, aqui, 
também evidenciamos a presença de auto-
res e autoras que, por motivos outros, ain-
da são pouco conhecidos do grande públi-
co, a despeito de seu talento ou produção, 
proporcionando, assim, a alegria da desco-
berta, o fomento a novos estudos e pesqui-
sas, a ampliação da crítica literária de alto 
teor epistemológico e, quem sabe, o seu 
interesse leitor e/ou editorial.
No curso, percorreremos 12 módulos 
que vão desde o século XIX à Contempo-
raneidade, abrangendo ainda escritores 
independentes e agremiações de maior 
relevo em consonância com diferentes 
estudos nas Artes e, sobretudo, em Litera-
tura Brasileira. Dessa forma, pretendemos 
Aprochegar-se
Chegar bem perto; 
aproximar-se, 
achegar-se, abeirar-se.
Epistemologia
Estudo dos postulados, 
conclusões e métodos 
dos diferentes ramos 
do saber científi co, ou 
das teorias e práticas 
em geral, avaliadas 
em sua validade 
cognitiva, ou descritas 
em suas trajetórias 
evolutivas, seus 
paradigmas estruturais 
ou suas relações com a 
sociedade e a história; 
teoria da ciência.
desenvolver subsídios teóricos para a for-
mação de estudantes, professores, pes-
quisadores e demais interessados acerca 
da Literatura Cearense, sistematizando e 
aprofundando esses conhecimentos em 
seu aspecto histórico-cultural.
Parafraseando o pensamento do fi ló-
sofo norte-americano Richard Rorty: “A 
literatura não faz progresso por tornar-se 
mais rigorosa, porém, por tornar-se mais 
criativa.” Neste sentido, este curso inova ao 
criar um novo compêndio de estudos para 
a nossa formação em Literatura Brasileira 
às cores de nossos “verdes mares bravios”. 
Nosso objetivo é ampliar, criar possibi-
lidades diferentes de análise para o campo 
literário, propiciando instâncias signifi ca-
tivasde interação mediante o uso da Lite-
ratura Cearense no panorama artístico na-
cional, abrindo campo para a renovação 
de estudos, temas, obras e autores, e pro-
movendo a integração e o conhecimento 
desta literatura entre as demais literaturas 
de estados brasileiros participantes. 
Vamos juntos aprender para transfor-
mar! Pois, como já nos ensinava Paulo 
Freire: “A alegria não chega apenas no 
encontro do achado, mas faz parte do 
processo da busca.” Busquemos, então, 
conhecer mais e aprender cada vez mais 
sobre este tesouro que é a literatura de um 
país, o nosso país, e que nos sintamos fe-
lizes ao nos reconhecer parte dele através 
do contato com diferentes obras e autores. 
Quem sabe assim, aprendamos a valorizar 
a diversidade cultural brasileira por meio 
da contribuição artística e intelectual de 
seus escritores de todas as suas regiões. 
Acesse agora o nosso AVA, se inscreva e 
compartilhe o nosso curso. Bom aprendizado!
cursos.fdr.org.br
Lílian Martins
COORDENADORA DE CONTEÚDO
* Trecho do poema 
“Terra Bárbara”, 
publicado em livro 
homônimo (1965). 
APROCHEGUE-SE!
Na minha terra, as estradas são tortuosas 
e tristes como o destino de seu povo errante.
Jáder de Carvalho*
achegar-se, abeirar-se.achegar-se, abeirar-se.
Estudo dos postulados, 
conclusões e métodos 
dos diferentes ramos dos diferentes ramos 
do saber científi co, ou 
das teorias e práticas das teorias e práticas 
cognitiva, ou descritas cognitiva, ou descritas 
paradigmas estruturais paradigmas estruturais paradigmas estruturais paradigmas estruturais paradigmas estruturais 
ou suas relações com a ou suas relações com a 
sociedade e a história; sociedade e a história; sociedade e a história; sociedade e a história; sociedade e a história; 
Eu sou de uma terra que o povo padece / 
Mas nunca esmorece, procura vencê,/
Da terra adorada, que a bela caboca/ De riso 
na boca zomba no sofrê./
Não nego meu sangue, não nego meu nome,/ 
Olho para fome e pergunto: o que há?/
Eu sou brasilêro fi o do Nordeste,/ Sou cabra 
da peste, sou do Ceará.
[...]
Patativa do Assaré
em Cante lá que eu canto cá.
poema “Sou cabra da pes-
te”, do qual destacamos 
um trecho acima, é um dos 
mais conhecidos de auto-
ria de Patativa do Assaré. 
Publicado no livro Cante lá 
que eu canto cá, o poema 
expressa a condição so-
frida do homem cearense 
que, apesar das difi cul-
dades do meio em que vive, não esmorece 
e tem resiliência para vencer. Ele é defi nido 
como “cabra da peste”, expressão nordesti-
na que designa homem valente, corajoso e 
batalhador. Desta forma, o poeta situa sua 
condição expressando-a de modo múltiplo. 
Ele se identifi ca como o sujeito do tipo cabra 
da peste, o cearense, nordestino e brasileiro.
SABATINA
Patativa do Assaré (1909-2002) foi 
um poeta e repentista brasileiro, 
considerado um dos principais 
representantes da arte popular 
nordestina do século XX. O 
seu poema “Triste partida”, 
em 1964, foi musicado e 
gravado por Luiz Gonzaga 
(1912-1989), o que lhe 
rendeu projeção nacional. 
Seus versos, traduzidos em 
vários idiomas, são temas 
de estudos em diversas 
universidades pelo mundo, a 
exemplo da Universidade de 
Sorbonne, na França, em sua 
disciplina “Literatura popular 
universal”. Estudaremos mais 
sobre ele adiante. Por ora, 
aproveite para assistir o poeta 
declamando “Sou cabra da 
peste” no link a seguir, do 
canal do Museu de Arte Kariri: 
https://www.youtube.com/
watch?v=FNZTn6w8cXQ
1.
O PIONEIRISMO ARTÍSTICO-
CULTURAL CEARENSE
SABATINA
 (1909-2002) foi 
um poeta e repentista brasileiro, 
considerado um dos principais 
representantes da arte popular 
nordestina do século XX. O 
seu poema “Triste partida”, 
em 1964, foi musicado e 
gravado por Luiz Gonzaga 
(1912-1989), o que lhe 
rendeu projeção nacional. 
Seus versos, traduzidos em 
vários idiomas, são temas 
de estudos em diversas 
universidades pelo mundo, a 
exemplo da Universidade de 
Sorbonne, na França, em sua 
disciplina “Literatura popular 
universal”. Estudaremos mais 
sobre ele adiante. Por ora, 
aproveite para assistir o poeta 
declamando “Sou cabra da 
peste” no link a seguir, do 
canal do Museu de Arte Kariri: 
https://www.youtube.com/
watch?v=FNZTn6w8cXQ
O PIONEIRISMO ARTÍSTICO-
4 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
CONFEITOSEm outros trechos, Patativa descreve vá-rias imagens do Ceará, considerando, desta 
vez, não apenas a sua condição de um se-
quioso topônimo, mas como terra fértil do 
vaqueiro e do jangadeiro, e, o mais interes-
sante, uma terra de escritores, pois cita o 
poeta Juvenal Galeno e o romancista José 
de Alencar. Logo, percebemos que o poeta 
tem consciência do lugar a que pertence e 
da tradição literária que veio antes dele. 
Esse conhecimento literário, também o im-
pulsiona na criação da sua própria poesia 
de expressão matuta, gênero da poesia po-
pular, cearense e brasileira. Mas, com isso, 
você deve estar se perguntando: de onde 
vem essa tradição literária cearense?
Desde o início do século XIX, o Ceará 
tem-se mostrado pleno de atividades lite-
rárias. Berço de José de Alencar (1829-
1877), romancista mais representativo do 
Romantismo brasileiro e o responsável 
pelo projeto de identidade nacional da Li-
teratura Brasileira. 
No início da década de 1870, fomos um 
dos estados pioneiros na divulgação da fi lo-
sofi a positivista no Brasil, por meio da Acade-
mia Francesa (1873-1875). O primeiro estado 
brasileiro a abolir a escravidão, em 1884. So-
mos também pioneiros na divulgação da es-
tética simbolista por meio da irreverente Pa-
daria Espiritual (1892-1898). Antecedemos, 
em dois anos, a criação de uma Academia 
de Letras no Brasil, com a Academia Cea-
rense, em 1894. Veio de uma cearense, Emília 
Freitas, em 1899, a primeira publicação de um 
romance de fantasia científi ca, ou, como pre-
ferem afi rmar pesquisadores a exemplo de 
Constância Lima Duarte, o primeiro roman-
ce fantástico brasileiro, A rainha do ignoto. 
E foi também uma cearense, Rachel de Quei-
roz, em 1977, a primeira mulher a ingressar na 
Academia Brasileira de Letras e a primeira a 
mulher a receber o Prêmio Camões, o maior 
da Língua Portuguesa, em 1993.
 Embora esses diferentes marcos históri-
cos demonstrem o pioneirismo artístico-cul-
Tradição
É oriundo do 
termo latino traditio/
onis, “ato de entregar”, 
um derivado do verbo 
tradere, “entregar, 
passar adiante”. A 
palavra signifi ca 
“passar algo a alguém”, 
como costumes, 
cerimônias, hábitos, 
características de um 
grupo. No sentido 
antropológico, é 
herança cultural, 
mas também o 
reaprendizado das 
relações de vivências 
profundas entre os 
homens e o seu meio, 
permitindo, portanto, 
a consciência do 
pertencimento.
tural cearense, a literatura produzida nestas 
plagas ainda margeia o espaço do campo 
do poder destinado à Literatura Brasileira. 
Uma das respostas para se entender este fe-
nômeno pode estar na própria concepção e 
formação do Estado brasileiro, que, desde o 
início de seu Período Colonial, demonstrou 
ser um país continental, com múltiplas cul-
turas e expressões. A difi culdade de acesso 
dos grandes centros urbanos e políticos na-
cionais, concentrados majoritariamente nas 
regiões sul e sudeste do país, a essas diferen-
tes culturas e expressões oriundas de regiões 
menos prestigiadas socioeconomicamente, 
e vice-versa, além de, mais tardiamente e 
especialmente no século XIX, a própria di-
nâmica editorial no Brasil, também em efer-
vescência nesses eixos no referido período, 
podem nos fornecer pistas que nos condu-
zam a pontos de refl exão sobre o país e a sua 
histórica política cultural. Daí podemos nos 
Neste curso, pretendemos dar voz 
aos pesquisadores e críticos de 
literatura, lançando nesse espaço de 
construção de conhecimento os seus 
conflitos teóricos e/ou conceituais, 
cabendo as cursistas pesquisá-los, 
estudá-los, compará-los, ler a obra 
em questão, claro, e tirar as suas 
próprias conclusões.
Por exemplo, enquanto alguns 
estudiosos como Constância LimaDuarte e Otacílio Colares concordam 
ser A rainha do ignoto – que em sua 
primeira edição trazia o subtítulo 
“romance psicológico – o primeiro 
romance fantástico brasileiro, 
Sânzio de Azevedo e Almeida Fischer 
defendem que o romance romântico 
é, à luz de Todorov, maravilhoso 
e não fantástico. 
Campo do Poder
Para o sociólogo 
francês Pierre Bourdieu 
(1996), “o campo do 
poder é o espaço das 
relações de força entre 
agentes ou instituições 
que têm em comum 
possuir o capital 
necessário para ocupar 
posições dominantes 
nos diferentes 
campos (econômico 
ou cultural, 
especialmente)”. 
Portanto, no campo 
do poder existem 
sujeitos pertencentes 
às classes dominantes, 
pessoas reais 
possuidoras de capital 
econômico, detentoras 
de poder material, 
que interferem na 
sociedade em prol 
de seus interesses.
rias imagens do Ceará, considerando, desta 
vez, não apenas a sua condição de um se-
quioso topônimo, mas como terra fértil do 
vaqueiro e do jangadeiro, e, o mais interes-
sante, uma terra de escritores, pois cita o 
poeta Juvenal Galeno e o romancista José 
de Alencar. Logo, percebemos que o poeta 
tem consciência do lugar a que pertence e 
da 
Esse conhecimento literário, também o im-
pulsiona na criação da sua própria poesia 
de expressão matuta, gênero da poesia po-
pular, cearense e brasileira. Mas, com isso, 
você deve estar se perguntando:
vem essa tradição literária cearense?
tem-se mostrado pleno de atividades lite-
rárias. Berço de 
1877), romancista mais representativo do 
Romantismo brasileiro e o responsável 
pelo projeto de identidade nacional da Li-
teratura Brasileira. 
dos estados pioneiros na divulgação da fi lo-
sofi a positivista no Brasil, por meio da 
mia Francesa
brasileiro a abolir a escravidão, em 1884. So-
mos também pioneiros na divulgação da es-
tética simbolista por meio da irreverente 
daria Espiritual
em dois anos, a criação de uma 
de Letras no Brasil
rense, em 1894. Veio de uma cearense, Emília 
Freitas, em 1899, a primeira publicação de um 
romance de fantasia científi ca, ou, como pre-
ferem afi rmar pesquisadores a exemplo de 
Constância Lima Duarte, o 
ce fantástico brasileiro
E foi também uma cearense, Rachel de Quei-
roz, em 1977, a primeira mulher a ingressar na 
Academia Brasileira de Letras e a primeira a 
mulher a receber o 
da Língua Portuguesa, em 1993.
cos demonstrem o pioneirismo artístico-cul-
Tradição
É oriundo do 
termo latino traditio/
onis, “ato de entregar”, 
um derivado do verbo 
tradere, “entregar, 
passar adiante”. A 
palavra signifi ca 
“passar algo a alguém”, 
como costumes, 
cerimônias, hábitos, 
características de um 
grupo. No sentido 
antropológico, é 
herança cultural, 
mas também o 
reaprendizado das 
relações de vivências 
profundas entre os 
homens e o seu meio, 
permitindo, portanto, 
a consciência do 
pertencimento.
CURSO literatura cearense 5
questionar: culturalmente, é possível crer em 
uma unidade nacional? Para uma maior re-
fl exão, precisamos nos debruçar na História. 
Em, 1926, Gilberto Freyre lançou o seu 
Manifesto Regionalista, em que desenvolve 
basicamente dois temas interligados: (1) a 
defesa da região enquanto unidade de or-
ganização nacional e (2) a conservação dos 
valores regionais e tradicionais do Brasil, 
em geral, e do Nordeste, em particular. 
O que Freyre afi rma é que o único 
modo de ser nacional no Brasil é ser 
primeiro regional. Qual seria, então, o 
nosso propósito: procurar entender a di-
versidade brasileira ou defender uma ho-
mogeneidade talvez idealizada? 
E se levarmos essa questão para o cam-
po dos estudos literários, será que estamos 
dispostos a trazer as “literaturas periféricas” 
para o centro do cânone literário nacional, 
ocupando, assim, o espaço invisibilizado 
a elas durante um século e meio em seus 
manuais didáticos e pela própria crítica tida 
como especializada? Afi nal, como diz Wilson 
Martins, a história literária “é feita de exclu-
sões e se defi ne tanto pelo que recusa e igno-
ra, quanto pelo que aceita e consagra.” Cla-
ro que estas perguntas e esse debate ainda 
estão longe de alcançar um consenso, mas 
esperamos provocar em você, cursista, inte-
resse em repensar o lugar da literatura pro-
duzida na cidade/estado em que mora, e o 
espaço que dizem a ela pertencer ou não nos 
estudos da denominada Literatura Brasileira. 
Iremos refl etir sobre esses questiona-
mentos ao longo deste módulo que obje-
tiva servir também de introdução aos pro-
blemas relacionados ao estudo da própria 
produção literária no Ceará. 
Trabalharemos com uma abordagem his-
toriográfi ca, discutindo a origem da Literatura 
Cearense apontada por diferentes historiado-
res que tratam do tema e a sua contribuição 
para a constituição da Literatura Brasileira, 
além do debate das relações entre o Ceará e 
os demais centros culturais do país, levando 
em conta as categorias regional e nacional.
Cânone Literário
É um conjunto e 
seleção de obras que 
permanecem com o 
tempo e se destinam 
ao estudo por sua 
suposta qualidade 
estética superior. Essa 
seleção, enquanto 
favorece a algumas 
obras, invisibiliza 
muitas outras, a 
partir de critérios 
considerados por 
vezes controversos, 
questionados por sua 
ligação com o poder 
representado por uma 
classe dominante.
PASSANDO 
A LIMPO
O escritor Pedro Nava, no livro Baú 
de ossos (1972), ao falar do grêmio 
Padaria Espiritual, do qual seu pai 
foi membro, o associou ao movimento 
modernista de 1922, por conta de dois 
itens do Programa de Instalação – 
uma espécie de estatuto – que enaltecia 
o emprego da fl ora, da fauna e da 
cultura brasileira em detrimento de 
elementos estrangeiros que povoavam 
com frequência a literatura da época 
(1892). Por conta disso, até hoje, muita 
gente erroneamente cita a Padaria 
Espiritual como precursora do 
Modernismo brasileiro. 
Sânzio de Azevedo, no opúsculo 
Padaria Espiritual, em 1970, ou seja, dois 
anos antes de Pedro Nava, já indicava 
essa característica no Programa de 
Instalação. Entretanto, afi rmava que 
esses itens apenas antecedem ao 
Modernismo por remeter a ideais 
nacionalistas posteriormente 
defendidos por seus integrantes. 
Entretanto, os ditos “padeiros”, em suas 
produções literárias, em nada tinham 
de modernistas. Eram essencialmente 
parnasianos, simbolistas, naturalistas e 
realistas. Inclusive, essa defesa bem-
humorada de elementos nacionais 
pela Padaria remete mais ao projeto 
romântico do que ao modernista. A 
Padaria tem o mérito de, por meio 
de Phantos (1893), de Lopes Filho, 
ser uma das precursoras da estética 
simbolista no Brasil, publicado um mês 
antes de Broquéis de Cruz e Souza. 
Aprenderemos mais sobre 
a Padaria Espiritual e o Simbolismo 
no módulo 6 deste curso, de autoria 
de Sânzio de Azevedo. Aguarde!
6 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
MALACA
CHETAS
Quem primeiro escreveu sobre os 
Oiteiros foi o pesquisador Dolor Barreira. 
Toda a documentação que tinha 
em mãos lhe chegou por meio do 
historiador Raimundo Girão, que 
salvou esses registros após a casa do 
barão de Studart ter sido invadida 
pelas águas das chuvas que inundaram 
muitos de seus arquivos depois de 
sua morte. O barão colecionava esses 
originais recebidos do duque de 
Palmela, fi lho do governador Sampaio. 
Muito se perdeu, escreveu Girão para a 
Revista do Instituto do Ceará.
2.
REGISTROS 
DA PRODUÇÃO 
LITERÁRIA 
NO CEARÁ
esde os Oiteiros (1813) até 
hoje, são diversas as gera-
ções de escritores e intelec-
tuais cearenses que se or-
ganizaram em grupos, cujos 
integrantes, na maioria, sen-
tiam-se incomodados com o 
cenário que denominavam 
de “marasmo cultural”. Daí o 
desejo de inspirar o senso crí-
tico e estético entre a população por meio 
de diversas ações e até a publicação de re-
vistas, jornais, antologias etc. 
Mozart Soriano Aderaldo nos diz que “a 
colonização de nossa capitania, depois pro-
víncia e hoje estado, foi tardia e descontínua. A 
tentativa de Pero Coelho de Sousa (1603-1606) 
fracassou anteo primeiro fl agelo de natureza 
climática que o homem branco europeu teve 
de enfrentar no Ceará” (apud MARTINS, 1984). 
Além da exploração portuguesa, em 1649, o ter-
ritório cearense foi ocupado pelos holandeses, 
tendo à frente Matias Beck. Essa ocupação du-
rou até 1654, quando os portugueses expulsa-
ram os holandeses. Durante o resto do período 
colonial, não houve acontecimentos culturais 
que transformassem o status quo da província. 
Temos os primeiros registros literários es-
critos quando o português Manuel Inácio de 
Sampaio (1778-1856) veio assumir o gover-
no-geral da capitania do Ceará. Entusiasta 
das letras, ele organizava, por volta de 1813, 
algumas tertúlias no seu palácio. Nessas 
reuniões, denominadas depois de Oiteiros, 
participavam alguns homens letrados, da 
época, que recitavam vários tipos de gêne-
ros poéticos, principalmente os sonetos.
Membros dos Oiteiros eram José Pache-
co Espinosa (? -1814), Antônio de Castro e 
Silva (1787-1862), Pedro José da Costa Bar-
ros (1779-1839), padre Lino José Gonçalves 
de Oliveira (?) e Manuel Correia Leal (?). A 
poesia e odes produzidas por este grupo 
de feição neoclássica era povoada por elo-
gios ao governador Sampaio e celebrava os 
feitos de sua administração pública. Pode-
mos observar esse tom elogioso no soneto 
abaixo, intitulado “Para o chafariz da vila da 
Fortaleza”, de Pacheco Espinosa.
Tertúlia
A palavra vem do 
castelhano “tertúlia” 
e signifi ca reunião 
familiar ou entre 
amigos, que se reúnem 
frequentemente 
para discutir temas e 
assuntos literários ou 
musicais.
CURSO literatura cearense 7
Esta que, vês, curioso passageiro 
Límpida Fonte, clara, sussurrante,
De cristalinas águas abundante, 
Que o Sítio faz ameno, e lisonjeiro: 
Este manancial de água, o primeiro, 
Que fez surgir na Vila arte prestante, 
Para a sede saciar o caminhante, 
O sábio, o nobre, o rico, o jornaleiro: 
Edifi cada foi incontinenti, 
No memorável, ótimo Governo, 
De Sampaio, Varão reto, ciente. 
Como ao Povo mostrou amor Paterno, 
Para todo o seu bem foi diligente, 
Nesta Fonte deixou seu nome eterno.
(apud Azevedo, 1976, p. 20-21). 
Este soneto nos parece ser um tipo de 
produção mais alinhada aos interesses po-
líticos de agradar o governador do que de 
elaborar uma literatura ousada ou criativa, 
com objetivos estéticos bem delineados. 
O mérito dos Oiteiros é, contudo, históri-
co, pois essas reuniões palacianas, mesmo 
com feição supostamente aristocrática, de-
senvolveram um tipo de sociabilidade lite-
rária, ensaiando os primeiros passos para 
uma literatura no Ceará. 
Para Artur Eduardo Benevides (1976), 
os Oiteiros eram “uma espécie de justa ou 
prélio intelectual, de origem portuguesa, 
realizando-se nos fi ns das festas de cará-
ter religioso ou profano, após solenidades 
maiores. Eles assinalam, no Ceará, a aber-
tura da vida intelectual e artística”. 
SABATINA
É do aracatiense Pedro José da 
Costa Barros (1779-1839) a legenda 
escrita em latim na placa de pedra 
lioz portuguesa fi xada na muralha do 
Forte Nossa Senhora da Assunção (de 
frente para a av. Leste-Oeste) quando 
de sua inauguração. Diz: “Ano de 1817. 
As naus escarneciam de mim quando 
eu era um monte informe; agora que 
sou uma grande fortaleza, de longe 
tomam-se de respeito. Aqui, reinando 
D. João VI, Sampaio me fundou bela: o 
engenho de [Silva] Paulet resplandece. 
Os donativos dos cidadãos me 
tornaram forte pelas muralhas, e dos 
dispêndios reais me fazem forte pelas 
armas. Costa Barros fez.”
Este soneto nos parece ser um tipo de 
produção mais alinhada aos interesses po-
líticos de agradar o governador do que de 
elaborar uma literatura ousada ou criativa, 
com objetivos estéticos bem delineados. 
O mérito dos Oiteiros é, contudo, históri-
co, pois essas reuniões palacianas, mesmo 
com feição supostamente aristocrática, de-
senvolveram um tipo de sociabilidade lite-
rária, ensaiando os primeiros passos para 
uma literatura no Ceará. 
Para Artur Eduardo Benevides (1976), 
os Oiteiros eram “uma espécie de justa ou 
prélio intelectual, de origem portuguesa, 
realizando-se nos fi ns das festas de cará-
ter religioso ou profano, após solenidades 
maiores. Eles assinalam, no Ceará, a aber-
tura da vida intelectual e artística”. 
engenho de [Silva] Paulet resplandece. 
Os donativos dos cidadãos me 
tornaram forte pelas muralhas, e dos 
dispêndios reais me fazem forte pelas 
armas. Costa Barros fez.”
Sânzio de Azevedo (1976) ainda com-
plementa: 
Sua poesia não se afastava dos louvores 
aos heróis e aos governantes, com o que 
seguiam um dos postulados neoclássicos 
de Luís Antônio Verney, teórico da corren-
te em Portugal; mas, ainda impregnados 
de racionalismo barroco, os poetas dos 
Oiteiros não se entregaram aos temas 
pastoris, a fi m de embelezar a realidade. 
Daí, sua produção versifi cada, que não se 
eleva pela grandeza do estro, não poder 
ser considerada puramente arcádica ou 
neoclássica. (1976, p. 19).
Apesar de ser ainda os Oiteiros o registro 
mais antigo de expressão literária no Ceará, 
ele não é uma unanimidade quando o as-
sunto se trata do marco inicial da Literatura 
Cearense. A partir do fi nal do século XIX, há 
um esforço por parte de diferentes intelec-
tuais em sistematizar um estudo acerca da 
produção literária cearense. 
8 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
Contribuíram para essa construção his-
toriográfi ca e literária: Antônio Sales (1868-
1840), Dolor Barreira (1893-1967), Abelardo 
F. Montenegro (1912-2010), Artur Eduardo 
Benevides (1923-2014), Braga Montenegro 
(1907-1979), Otacílio Colares (1918-1988), 
Sânzio de Azevedo (1938), Mário Linhares 
(1889-1965), Edigar de Alencar (1901-1993), 
José Ramos Tinhorão (1928), Nilto Maciel 
(1945-2014), entre outros.
Antônio Sales foi o primeiro autor a 
formalizar uma historiografi a da Lite-
ratura Cearense, publicando, em 1897, o 
artigo “Pelo Ceará intelectual”, na Revista 
Brasileira, de José Veríssimo. Nela, associa 
a literatura às atividades jornalísticas, si-
tuando o início da literatura no Ceará, em 
1824, coincidindo com o aparecimento do 
primeiro jornal cearense, O Diário do Gover-
no do Ceará, tendo como principal redator 
o padre Mororó. Tanto Sales, quanto Má-
MALACA
CHETAS
Você deve ter achado estranho os 
pontos de interrogação nas datas de 
nascimento de alguns dos nossos 
personagens, não? Mas, calma, antes 
de pensar que isso foi um erro de 
edição, saiba que na verdade esses 
sinais representam a falta de registro 
biográfi co mais completo de cada 
um deles, a partir da investigação do 
pesquisador Dolor Barreira. O que nos 
mostra que, mesmo sabendo tão pouco 
sobre cada um deles, ainda assim eles 
foram imortalizados na historiografi a 
literária, além de emprestarem seus 
nomes a logradouros da cidade, como 
as ruas Costa Barros e Castro e Silva.
rio Linhares, em História Literária do Ceará 
(1948), concordam que o marco literário 
cearense foi a publicação de Prelúdios Poé-
ticos (1856), de Juvenal Galeno, do qual fala-
remos no segundo módulo de nosso curso. 
Entretanto, para Tristão de Ataíde, o 
marco teria sido dois anos mais tarde, em 
1859, quando da chegada, no Ceará, da Co-
missão Científi ca Exploradora, da qual fazia 
parte o poeta Gonçalves Dias. Não obstan-
te, o poeta Cruz Filho, ao escrever a obra
História do Ceará (1931), fi xa o ano de 1872, 
data do início das atividades da Academia 
Francesa do Ceará, agremiação que divul-
gou e defendeu as ideias positivistas no es-
tado, como marco do princípio de nossa li-
teratura – embora a agremiação fosse mais 
fi losófi ca do que literária.
Se tomarmos por critério as evidências 
materiais, de registros históricos, levando 
em conta o critério da produção escrita, 
concordamos com Dolor Barreira e Sânzio 
de Azevedo, que defendem os Oiteiros como 
sendo as primeiras manifestações da li-
teratura no Ceará, pois não há registros 
anteriores a elas. Em seu livro Literatura Cea-
rense (1976), Sânzio de Azevedo traz à tona, 
além das discussõesde Antônio Sales, Mário 
Linhares e Dolor Barreira acerca das origens 
da Literatura Cearense, também aquelas 
sobre os critérios historiográfi cos que defi ni-
riam o autor cearense para além do requi-
sito “natalidade”. De acordo com Sânzio: 
a literatura às atividades jornalísticas, si-
tuando o início da literatura no Ceará, em 
1824, coincidindo com o aparecimento do 
primeiro jornal cearense, O Diário do Gover-
no do Ceará, tendo como principal redator 
o padre Mororó. Tanto Sales, quanto Má-
sobre cada um deles, ainda assim eles 
foram imortalizados na historiografi a 
literária, além de emprestarem seus 
nomes a logradouros da cidade, como 
as ruas Costa Barros e Castro e Silva.
tado, como marco do princípio de nossa li-
teratura – embora a agremiação fosse mais 
fi losófi ca do que literária.
Se tomarmos por critério as evidências 
materiais, de registros históricos, levando 
em conta o critério da produção escrita, 
concordamos com Dolor Barreira e Sânzio 
de Azevedo, que defendem os Oiteiros como 
sendo as primeiras manifestações da li-
teratura no Ceará
anteriores a elas. Em seu livro 
rense (1976), Sânzio de Azevedo traz à tona, 
além das discussões de Antônio Sales, Mário 
Linhares e Dolor Barreira acerca das origens 
da Literatura Cearense, também aquelas 
sobre os critérios historiográfi cos que defi ni-
riam o autor cearense
sito “natalidade”. De acordo com Sânzio: 
CURSO literatura cearense 9
discordamos do sistema adotado pelo emi-
nente historiador Guilherme Studart (barão 
de Studart), em seu Dicionário Biobiblio-
gráfi co Cearense, em que só são incluídas 
pessoas nascidas no Ceará, não obstante 
algumas haverem deixado muito cedo a 
terra do berço. Assim, deixa de fi gurar um 
Rodolfo Teófi lo, por haver nascido aciden-
talmente na Bahia, fi gurando, porém, um 
Oscar Lopes, do qual se pode dizer que so-
mente nasceu aqui...” (1976, p. 15).
Como vimos, Sânzio de Azevedo defen-
de a inclusão, por exemplo, do nome de Ro-
dolfo Teófi lo (1863-1932), entre os autores 
cearenses, cujo nome não foi citado no refe-
rido Dicionário... do Barão de Studart, por-
que apesar de ter nascido na Bahia, o au-
tor de A Fome fez categoricamente a maior 
e melhor defesa de sua “cearensidade” ao 
afi rmar: “sou cearense porque quero!”, além 
de ter construído toda a sua obra literária, 
historiográfi ca e científi ca no Ceará, a partir 
do homem e da paisagem cearense. 
Como o livro de Sânzio pretendia ser 
um manual didático-historiográfi co para os 
estudos de Literatura Cearense, posterior-
mente adotado como obra de referência 
para a disciplina homônima no curso de 
Letras da Universidade Federal do Ceará, os 
critérios de inclusão de autores se deram no 
âmbito temático e regionalista. 
Assim como Dolor Barreira, em Literatura 
Cearense, Sânzio inclui: (1) autores nascidos 
aqui e que aqui produziram literariamente, 
como Juvenal Galeno, Oliveira Paiva, Fil-
gueiras Lima e inúmeros outros; (2) auto-
res nascidos em outros estados, mas que 
produziram literariamente entre nós, como 
Rodolfo Teófi lo [Bahia], Pápi Júnior [Rio de 
Janeiro], Alf. Castro [Pernambuco] ou De-
mócrito Rocha [Bahia]; (3) autores que se 
ausentaram, mas ainda assim escreveram 
SABATINA
Para o fi lósofo Zygmunt Bauman 
(2005), a ideia de pertencer a uma 
nação ou comunidade apenas 
por nascimento é uma convenção 
intensamente construída pela 
humanidade. O pertencimento ou 
a identidade, na modernidade, não 
são defi nitivos nem tão sólidos assim, 
mas negociáveis e revogáveis; tudo 
depende das decisões que o indivíduo 
toma, do caminho que percorre e da 
maneira como age.
obras cearenses, como Domingos Olímpio, 
Gustavo Barroso, e outros (1976, p. 15).
Outro ponto interessante neste critério de 
Sânzio de Azevedo é a inclusão de José de 
Alencar (1829-1877) apenas com a obra Ira-
cema e O sertanejo. O pesquisador considera 
Alencar um autor mais integrado ao cânone 
da Literatura Brasileira, visto que seu projeto 
de romance romântico previa abordar vários 
personagens e paisagens da cultura brasilei-
ra, não se detendo ao cenário cearense.
Há na obra também outro ponto de 
discordância, desta vez, acerca do escritor 
Franklin Távora (1842-1888). Para Azevedo, 
mesmo tendo o autor nascido em Baturi-
té, interior cearense, Franklin Távora ainda 
criança foi morar em Pernambuco, onde se 
formou e produziu boa parte de sua obra li-
terária. Seu projeto bibliográfi co era construir 
uma Literatura do Norte – como se intitulava 
o Nordeste à época –, e, assim, publicou O 
Cabeleira (1876), O matuto (1878) e Lourenço 
(1878), narrativas que evidenciavam a história 
10 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
de Pernambuco como uma representa-
ção cultural dessa região e, portanto, 
não deveria ser ele considerado um 
escritor cearense.
Entretanto, Dolor Barreira e, pos-
teriormente, Artur Eduardo Benevi-
des, em Evolução da poesia e do roman-
ce cearense (1976), adotaram apenas o 
critério de nascimento em suas pesquisas e, 
dessa forma, situam o romance Os índios do 
Jaguaribe (1862), de Franklin Távora, como 
o primeiro romance cearense, o que Sân-
zio de Azevedo (1976) discorda, ao afi rmar 
que mesmo sendo “uma glória para o Ceará 
[...] o escritor nada produziu que se relacio-
ne ao menos com a terra natal” (idem, p. 16).
Apesar das discordâncias históricas, há 
um ponto em comum entre esses historia-
dores e pesquisadores ao tentar estabelecer 
um início para a Literatura Cearense, que 
são os critérios historiográfi cos aqui abor-
dados. Esses critérios repousam na ideia de 
representatividade, identidade, regionali-
dade e, nos dias atuais, também o de per-
tencimento. Ou seja, não se trata de aspec-
tos valorativos entre escritores e/ou obras, 
tampouco, de regiões. Cada crítico e/ou 
pesquisador literário, à sua maneira, faz sua 
seleção e estabelece critérios para abordar 
a literatura. Cabe a nós tentar ao máximo ler 
e ter contato com o maior número diferente 
de obras literárias, críticas e historiográfi cas, 
observando suas divergências e confl uên-
cias. Desse mosaico, construiremos nossas 
próprias fundamentações teóricas, defi nin-
do as nossas escolhas sempre a partir de 
pesquisa, estudo e refl exão crítica. 
Afi nal, a literatura, assim, como as demais 
linguagens artísticas, é também balizada 
pela pesquisa científi ca que nos exige dedi-
cação, comprometimento e muitas leituras.
de Pernambuco como uma representa-
ção cultural dessa região e, portanto, 
não deveria ser ele considerado um 
Entretanto, Dolor Barreira e, pos-
teriormente, Artur Eduardo Benevi-
Evolução da poesia e do roman-
 (1976), adotaram apenas o 
critério de nascimento em suas pesquisas e, 
Os índios do 
 (1862), de Franklin Távora, como 
, o que Sân-
zio de Azevedo (1976) discorda, ao afi rmar 
que mesmo sendo “uma glória para o Ceará 
[...] o escritor nada produziu que se relacio-
idem, p. 16).
Apesar das discordâncias históricas, há 
um ponto em comum entre esses historia-
dores e pesquisadores ao tentar estabelecer 
um início para a Literatura Cearense, que 
são os critérios historiográfi cos aqui abor-
dados. Esses critérios repousam na ideia de 
representatividade, identidade, regionali-
dade e, nos dias atuais, também o de per-
. Ou seja, não se trata de aspec-
tos valorativos entre escritores e/ou obras, 
tampouco, de regiões. Cada crítico e/ou 
pesquisador literário, à sua maneira, faz sua 
seleção e estabelece critérios para abordar 
a literatura. Cabe a nós tentar ao máximo ler 
e ter contato com o maior número diferente 
de obras literárias, críticas e historiográfi cas, 
observando suas divergências e confl uên-
cias. Desse mosaico, construiremos nossas 
próprias fundamentações teóricas, defi nin-
do as nossas escolhas sempre a partir de 
Afi nal, a literatura, assim, como as demais 
linguagens artísticas, é também balizada 
pela pesquisa científi ca que nos exige dedi-
cação, comprometimento e muitas leituras.
CURSO literatura cearense 11
3.
INTERSEÇÕESLITERÁRIAS: 
CEARÁ E BRASIL
Amanhã se der o carneiro, o carneiro/ 
vou-me embora daqui pro Rio de Janeiro/
As coisas vêm de lá,/ eu mesmo vou buscar/
e vou voltar em videotapes e revistas 
supercoloridas/
pra menina meio distraída repetir a minha voz/
Que Deus salve todos nós/ e Deus guarde todos 
nós...
Ednardo e Augusto Pontes
canção “Carneiro”, de Ed-
nardo e Augusto Pontes, 
nos fala do tema da mi-
gração e do fascínio que a 
metrópole urbana, o Rio de 
Janeiro, exercia nos jovens 
artistas cearenses na déca-
da de 1970. Estes artistas 
mantinham o desejo de se 
fi rmar no mercado fono-
gráfi co que, invariavelmente, dependia do 
acesso ao grande “centro” econômico e cul-
tural do país que estava não no Ceará, mas 
na cidade carioca, ao menos naquela épo-
ca. Hoje, com o advento da globalização e 
a democratização ao acesso pelas plata-
formas virtuais de streaming popularizadas 
com a internet, as redes sociais e as novas 
tecnologias de informação e comunicação, 
algumas culturas estão mudando. 
3.
INTERSEÇÕES 
LITERÁRIAS: 
CEARÁ E BRASIL
Amanhã se der o carneiro, o carneiro/ 
vou-me embora daqui pro Rio de Janeiro/
As coisas vêm de lá,/ eu mesmo vou buscar/
e vou voltar em videotapes e revistas 
pra menina meio distraída repetir a minha voz/
Que Deus salve todos nós/ e Deus guarde todos 
Ednardo e Augusto Pontes
canção “Carneiro”, de Ed-
nardo e Augusto Pontes, 
nos fala do tema da mi-
gração e do fascínio que a 
metrópole urbana, o Rio de 
Janeiro, exercia nos jovens 
artistas cearenses na déca-
da de 1970. Estes artistas 
mantinham o desejo de se 
fi rmar no mercado fono-
gráfi co que, invariavelmente, dependia do 
acesso ao grande “centro” econômico e cul-
tural do país que estava não no Ceará, mas 
na cidade carioca, ao menos naquela épo-
ca. Hoje, com o advento da globalização e 
a democratização ao acesso pelas plata-
formas virtuais de streaming popularizadas 
com a internet, as redes sociais e as novas 
tecnologias de informação e comunicação, 
algumas culturas estão mudando. 
12 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
BOLACHINHASEm outras palavras, viver da própria arte era o grande sonho desses artistas, assim 
como fazer sucesso, alcançar o grande pú-
blico, aparecer nas revistas e tocar nas gran-
des rádios. Em outras palavras, saltar do 
plano local/regional para o nacional.
Ao compararmos a situação do eu-lírico 
da letra da música com a situação do artis-
ta local, percebemos que não existem dife-
renças entre as difi culdades na produção e 
na divulgação das realizações artísticas, no 
país, sejam elas musicais, literárias, teatrais 
etc. Para essa discussão, uma contribuição 
importante é a de Antônio Candido em For-
mação da Literatura Brasileira (1959), na qual 
interpreta a literatura como um sistema lite-
rário, um fenômeno complexo e orgânico, or-
ganizado em torno do triângulo “autor-obra-
-público”. Essa interação dinâmica permite a 
continuidade da tradição. Resumindo: para 
que haja literatura, é preciso haver o conjun-
to integrado: escritores, obras e leitores.
O conjunto desses três elementos dá 
lugar a um tipo de comunicação em que a 
literatura aparece como um sistema simbó-
lico, pelo qual os homens expressam e in-
terpretam diferentes esferas da realidade e 
profundos dramas da humanidade. 
Quando um escritor toma consciência que 
integra um sistema literário, ou seja, faz parte 
de uma complexa cadeia na qual há circula-
ção de obras de escritores de tempos remo-
tos ou mais recentes, ocorre “a transmissão da 
tocha” (1981, p. 24). Essa metáfora é utilizada 
por Cândido para indicar que a literatura, por 
meio da leitura, ocasiona a existência de no-
vos autores e constrói uma continuidade li-
terária. Antônio Cândido nos explica que:
É uma tradição [...] isto é, transmissão de 
algo entre os homens, e o conjunto de ele-
mentos transmitidos, formando padrões 
que se impõem ao pensamento ou ao com-
portamento, e aos quais somos obrigados 
a nos referir, para aceitar ou rejeitar. Sem 
esta tradição não há literatura, como fenô-
meno de civilização (1981, p. 24).
A canção “Carneiro” foi composta 
pelo músico Ednardo e o poeta 
Augusto Pontes no bar do Anísio, 
famoso espaço da boêmia cearense 
na avenida Beira-Mar, em Fortaleza, 
na década de 1970. A música 
figurou no LP O romance do pavão 
mysteriozo, lançado pela RCA Victor, 
em 1974. O sucesso do álbum 
projetou Ednardo nacionalmente, 
tendo suas canções veiculadas em 
novelas da Rede Globo de Televisão. 
Assista ao clipe da música “Carneiro” 
no link: https://www.youtube.com/
watch?v=-e58na36-ps
A literatura é esse movimento: ocorre 
quando há o ato da leitura. Por isso é tão 
importante ampliar os espaços de leitura, 
seja onde for, e democratizar o acesso às 
obras literárias. Não podemos nos restringir 
aos espaços das escolas, bibliotecas ofi ciais 
ou agremiações e academias. As bibliotecas 
comunitárias e os clubes de leitura vêm nos 
provando que é possível levar o livro, a leitu-
ra e a literatura a qualquer lugar.
É necessário refl etir também que se eu 
não conheço uma obra ou um acervo lite-
rário, eu não os valorizo. Da mesma forma, 
se eu desconheço as obras de autores e au-
toras de meu estado ou região, detendo-me 
apenas ao que a mídia ou as grandes editoras 
nos oferecem como best-sellers, perdemos a 
oportunidade de conhecer esse legado lite-
rário, de nos reconhecer ou de compreender-
mos o sentido de identidade que povoa essas 
obras que falam de nós. Da mesma forma, 
as universidades devem provocar e estimular 
essa busca, promover esse encontro com a 
literatura produzida em seu estado. 
Por isso, entendemos a tradição literá-
ria de modo crítico e não enxergamos os 
escritores passivos diantes dos autores 
do passado. A tradição torna social a ex-
periência individual, tendo o poeta como 
mediador, que interliga o passado e o pre-
sente por meio da linguagem literária. Por-
tanto, ao se contemplar o estudo da Lite-
ratura Cearense, estamos empreendendo 
um esforço para entendermos as heranças 
culturais transmitidas pelas distintas gera-
ções de escritores, cuja produção constitui 
um capital cultural da região.
Nessa relação entre o regional e o nacio-
nal, Alfredo Bosi nos alerta que o Brasil deve 
ser entendido como uma cultura plural:
Estamos acostumados a falar em cultu-
ra brasileira, assim, no singular, como se 
existisse uma unidade prévia que agluti-
nasse todas as manifestações materiais e 
espirituais do povo brasileiro. Mas é claro 
que uma tal unidade ou uniformidade 
parece não existir em sociedade moder-
na alguma e, menos ainda, em uma so-
ciedade de classes (1992, p. 308).
Existem variadas culturas brasileiras, 
não apenas em relação a etnias, mas tam-
bém nos níveis educacionais e sociais. E a 
ideia de cultura está intimamente ligada à 
colonização. Para Bosi, a categoria “coloni-
zação” não tem apenas uma natureza polí-
tica, mas é um processo ao mesmo tempo 
material e simbólico: as práticas econômi-
cas dos seus agentes estão fortemente vin-
culadas aos seus modos de representação 
de si e dos outros (1992, p. 15). Logo, inter-
pretamos o Brasil como uma variedade de 
centros culturais regionais.
CURSO literatura cearense 13
O pensamento de Bosi (1992) e Cândido 
(1981) nos auxiliam a entender que o Brasil 
não é nem pode ser um espaço cultural 
homogêneo, e essa discussão levamos à li-
teratura. Desde o século XIX, os artistas e es-
critores buscavam os centros econômicos e 
culturais do país para publicar suas obras e se 
tornar conhecidos perante uma elite cultural. 
Para essa discussão, citamos Antônio 
Sales que, em seu artigo sobre a literatura 
do Ceará, ressalta seu engajamento: 
Somos pela Pátria unida para que seja for-
te; mas, em troca de nossa lealdade, exigi-
mos que não nos tratem como um parente 
pobre e rústico, de quem se pode caçoar ou 
apenas merece um sorriso de benevolên-
cia protetora. O Ceará não é apenas uma 
expressão geográfi ca no mapa do Brasil, 
um joão-ninguém na comunidadenacio-
nal (apud GIRÃO, 1987).
No trecho, Sales se contrapõe a um dis-
curso de que há um centro hegemônico cul-
tural. Portanto, é preciso estabelecer um pro-
cesso dialético entre o “centro nacional” e os 
centros regionais. Citamos “centro nacional”, 
pois ainda há um discurso político e cultural 
que tenta legitimar e homogeneizar a Litera-
tura Brasileira a partir de um cânone literário. 
Alguns de nossos escritores, assim como Ed-
nardo e outros músicos, precisaram ir ao Su-
deste na tentativa de validar e legitimar sua 
obra artística. Até quando essa migração 
será imposta ou necessária?
Temos o intuito de construir uma 
discussão acerca da formação da Lite-
ratura Brasileira, a princípio pelo estu-
do da Literatura Cearense, parte indis-
sociável dela, estimulando que outros 
estados também procurem conhecer e 
pesquisar a sua historiografi a e bibliogra-
fi a, considerando as diferenças e singula-
ridades regionais e problematizando as 
desigualdades políticas e econômicas que 
têm repercussão na divulgação e na circu-
lação de suas literaturas.
14 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
O pensamento de Bosi (1992) e Cândido 
o Brasil 
não é nem pode ser um espaço cultural 
, e essa discussão levamos à li-
teratura. Desde o século XIX, os artistas e es-
critores buscavam os centros econômicos e 
culturais do país para publicar suas obras e se 
tornar conhecidos perante uma elite cultural. 
Para essa discussão, citamos Antônio 
Sales que, em seu artigo sobre a literatura 
Somos pela Pátria unida para que seja for-
te; mas, em troca de nossa lealdade, exigi-
mos que não nos tratem como um parente 
pobre e rústico, de quem se pode caçoar ou 
apenas merece um sorriso de benevolên-
cia protetora. O Ceará não é apenas uma 
expressão geográfi ca no mapa do Brasil, 
um joão-ninguém na comunidade nacio-
No trecho, Sales se contrapõe a um dis-
curso de que há um centro hegemônico cul-
tural. Portanto, é preciso estabelecer um pro-
cesso dialético entre o “centro nacional” e os 
centros regionais. Citamos “centro nacional”, 
pois ainda há um discurso político e cultural 
que tenta legitimar e homogeneizar a Litera-
tura Brasileira a partir de um cânone literário. 
Alguns de nossos escritores, assim como Ed-
nardo e outros músicos, precisaram ir ao Su-
deste na tentativa de validar e legitimar sua 
estados também procurem conhecer e 
pesquisar a sua historiografi a e bibliogra-
fi a, considerando as diferenças e singula-
ridades regionais e problematizando as 
desigualdades políticas e econômicas que 
têm repercussão na divulgação e na circu-
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
FAÇA 
ACONTECER
REFERÊNCIAS 
BIBLIOGRÁFICAS 
AZEVEDO, Sânzio de. Literatura 
Cearense. Fortaleza: Academia Cearense 
de Letras, 1976.
BARREIRA, Dolor. História da Literatura 
Cearense. Fortaleza: Ins� tuto do Ceará, 4. 
vol. 1948, 1951, 1954 e 1962.
BAUMAN, Z. Iden� dade: entrevista a 
Benede� o Vecchi. Tradução Carlos Alberto 
Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. 
BENEVIDES, Artur Eduardo. Evolução da 
poesia e do romance cearense. Fortaleza: 
Imprensa Universitária/UFC, 1976.
BOSI, Alfredo. Dialé� ca da colonização. 
São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
BOURDIEU, Pierre. As regras da arte:
gênese e estrutura do campo literário. 
Tradução Maria Lúcia Machado. São 
Paulo: Companhia das Letras, 1996.
CÂNDIDO, Antônio. Formação da Literatura 
Brasileira: momentos decisivos. 6. ed. Belo 
Horizonte, Ed. Ita� aia, 1981. v. I e II.
GIRÃO, Raimundo; MARTINS FILHO, 
Antônio. O Ceará. Ed. Fac-símile. Fortaleza: 
Fundação Waldemar Alcântara, 2011.
GIRÃO, Raimundo; Sousa Maria da 
Conceição. Dicionário da Literatura 
Cearense. Fortaleza: Imprensa Ofi cial do 
Ceará – IOCE, 1987. 
MARTINS, Claudio (org.). A Quinzena: 
propriedade do Club literário. Fortaleza: 
Academia Cearense de Letras, 1984.
MOTA, Leonardo. A Padaria Espiritual. 2. 
Ed. Fortaleza: UFC, 1994.
4.
CONCLUSÃO
pós essa travessia inicial 
pela Literatura Cearense, 
aprendemos que um escri-
tor local não fala somente 
da sua terra natal, mas, ao 
fazê-lo, parte de suas pró-
prias experiências e vivên-
cias. Ao pisar em seu chão, 
salta para infi nitos territó-
rios da linguagem, conse-
guindo acessar o código linguístico que tra-
ta da condição pertinente a toda e qualquer 
literatura: a condição humana. 
Fato: muitos estudiosos e leitores que 
transitam pela Literatura Brasileira, mesmo 
residentes no estado cearense, desconhecem 
os autores e as obras publicadas no Ceará. 
É por isso que é tão pertinente ampliar 
esses pontos de acesso, evitando uma lite-
ratura exclusiva, restrita àqueles já reconhe-
cidos e consagrados. Nós, enquanto leitores 
críticos e refl exivos, temos o poder de eleger 
e consagrar obras esquecidas e obscurecidas 
pelo tempo ou pela história ofi cial, mas que 
têm tanto apuro estético quanto aquelas. 
E não é Tzvetan Todorov que nos ensina 
que a literatura nos faz descobrir mundos que 
nos colocam em continuidade com as experi-
ências das outras pessoas e nos ajudam com-
preender a nossa casa e a nós mesmos?
Este curso pode ser um excelente cami-
nho para entendermos nossas particula-
ridades culturais, e é essa diversidade que 
nos enriquece culturalmente. Não nos es-
queçamos de Casimiro de Abreu, quando 
afi rma “todos cantam a sua terra, também 
vou cantar a minha”. Ou mesmo Tólstoi: 
“Fale de sua aldeia e estará falando do mun-
do”. Então, que possamos juntos aprender 
a descobrir a beleza de nossos quintais.
E, no próximo módulo, estudaremos os 
românticos. Prepare o coração.
É provável que onde você mora – na 
sua rua, bairro, cidade, estado – 
exista um(a) escritor(a) interessante 
e uma obra a ser descoberta com o 
ato mágico da sua leitura. Que tal 
fazermos dessa experiência de deleite, 
um espaço de partilha? Crie um clube 
de leitura de autores da sua cidade, 
região ou estado, e seja também 
um(a) multiplicador(a) literário(a). 
Já pensou como será rica esta 
experiência? Não deixa de nos contar 
depois o que achou dessa atividade 
de imersão literária.
CURSO literatura cearense 15
4.
CONCLUSÃO
AUTORES
Charles Ribeiro Pinheiro 
Graduado em Letras pela Universidade Federal do 
Ceará (2008), mestre em Literatura Comparada pela 
UFC, e doutor em Literatura Comparada, também 
pela UFC. Participante do grupo de pesquisa “Espaço 
de Leituras: cânones e bibliotecas”, foi coordenador 
do projeto de extensão e docência “O entre-lugar 
na Literatura cearense”. Atua como revisor, redator, 
roteirista e autor de livros didáticos de Literatura.
Lílian Martins
É jornalista, tradutora, professora, pesquisadora e 
militante em Literatura Cearense. Mestre em Literatura 
Comparada pela UFC, vencedora do Prêmio Bolsa de 
Fomento à Literatura da Fundação Biblioteca Nacional 
e Ministério da Cultura e do Edital de Incentivo às Artes 
da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor).
ILUSTRADOR
Carlus Campos 
Artista gráfi co, pintor e gravador, começou a carreira 
em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. Na 
construção do seu trabalho, aborda várias técnicas 
como: xilogravura, pintura, infogravura, aquarelas 
e desenho. Ilustrou revistas nacionais importantes 
como a Caros Amigos e a Bravo. Dentro da produção 
gráfi ca ganhou prêmios em salões de Recife, São 
Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Realização
Apoio
Patrocínio
b
l
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t
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r
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t
u
r
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CURSO 2
Paulo de Tarso Pardal
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Paulo de Tarso Pardal
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Sob as Asas 
da Jandaia
Romantismo PARTE I 
Realização
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s
e
1.
ALÇAR VOO: 
APRESENTAÇÃO
Romantismo, um dos princi-
pais movimentos artísticos 
do século XIX, teve como 
marco inaugural no país a 
publicação de Suspiros poé-
ticos e saudades, de um con-
troverso Gonçalves de Ma-
galhães (1811-1882).
Emoções à fl or da pele, 
coração saindo pela boca, 
não podemos deixar de destacar o papel 
essencial que os romances românticos ti-
veram na construção do público leitor bra-
sileiro. Ou seja, eu e você!
Nem de longe pretendemos abarcar 
tudo ou a todos nesses módulos que vi-
rão, mas esperamos despertar em cada 
um dos cursistas a curiosidade e o inte-
resse pelo estudo, pesquisa e leitura de 
algumas das obras produzidas no estado 
do Ceará e de seus autores que este breve 
espaço ousa trazer à luz.
Neste módulo, em primeira parte, conver-
saremos sobre o Romantismo, em especial 
de algumas de suas manifestações no Ceará. 
Por ser um tema, além de saboroso, mui-
to complexo e diverso, optamos pelos seguin-
tes recortes temáticos: o indianismo e o re-
gionalismo de José de Alencar (1829-1877) e o 
regionalismo de Juvenal Galeno (1836-1931). 
Preparem os seus lenços e que as lágri-
mas adocicadas brotem de seu coração: 
eles chegaram!
1.
ALÇAR VOO: 
APRESENTAÇÃO
não podemos deixar de destacar o papel 
essencial que os romances românticos ti-
veram na 
sileiro. Ou seja, eu e você!
Nem de longe pretendemos abarcar 
tudo ou a todos nesses módulos que vi-
rão, mas esperamos despertar em cada 
um dos cursistas a curiosidade e o inte-
resse pelo estudo, pesquisa e leitura de 
algumas das obras produzidas no estado 
do Ceará e de seus autores que este breve 
espaço ousa trazer à luz.
Neste módulo, em primeira parte, conver-
saremos sobre o Romantismo, em especial 
de algumas de suas manifestações no Ceará. 
Por ser um tema, além de saboroso, mui-
to complexo e diverso, optamos pelos seguin-
tes recortes temáticos: o indianismo e o re-
gionalismo de 
regionalismo de 
Preparem os seus lenços e que as lágri-
mas adocicadas brotem de seu coração: 
eles chegaram!
18 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
2.
AFINAL, O QUE É 
O ROMANTISMO?
Talvez eu seja o último romântico
Dos litorais desse Oceano Atlântico
Só falta reunir
A Zona Norte à Zona Sul
Iluminar a vida
Já que a morte cai do azul.
Lulu Santos, Sérgio Cardoso 
e Antônio Cicero, “Tudo Azul”
ocê já ouviu, muitas vezes, 
ao longo da sua vida, as 
palavras “romântico”, “ro-
mance” e “romantismo”. E, 
com certeza, tais palavras 
estavam associadas à pai-
xão, ao sofrimento, à fanta-
sia, à irrealidade, às coisas 
que não existem no nosso 
mundo real, ou seja, coisas 
idealizadas. Saiba, pois, que toda a base 
da corrente estética, que denominamos 
Romantismo, predominante no Brasil por 
mais de 40 anos, foi exatamente esse culto 
àquilo que não era real.
Você também deve estar se pergun-
tando a razão de tudo isso: por que “aqui-
lo não real” era tão sedutor aos leitores e 
leitoras? Imagine o porquê de escritores 
– e também escritoras –, convivendo em 
um período extremamente difícil, dada a 
limitação das sociedades da época, esco-
lheram por escrever sobre aquilo que não 
fazia parte do cotidiano real delas. Espero 
que, ao longo da sua leitura, cursista, você 
encontre essa resposta.
Primeiramente, entenda que o escritor 
romântico construía um mundo ideali-
zado e fazia do seu personagem um ser 
fantasioso, heroico, embora o ambiente, o 
espaço fi ccional em que a trama aconte-
cia, muitas vezes, era descrito com muito 
realismo. Contudo, assistir a um passeio 
de personagens como Peri ou Iracema, por 
exemplo, pelas ruas do Rio de Janeiro ou 
mesmo nas areias da beira-mar de Forta-
leza era impossível. A fantasia entra neste 
ponto, já que, na composição do persona-
gem romântico, a beleza sem igual ou as 
raras virtudes humanas, somente eles, os 
heróis clássicos, possuíam.
 No momento de construção da nar-
rativa de seus personagens – por en-
quanto, refiro-me apenas à ficção –, os 
autores queriam caracterizá-los com to-
das as boas e sublimes qualidades do ser 
humano, para mais impressionar os lei-
tores, que sentiam-se representados nas 
ações das personagens, identificavam-se 
com seus ideais, pois, afinal, muitos de 
nós, desde crianças, queremos ser ou 
nos vemos como heróis ou heroínas de 
qualquer coisa. 
Naqueles tempos, a nova classe social 
fantasiava-se dentro de padrões criados 
pelos seus autores preferidos, fosse nos 
livros ou nos folhetins dos jornais. A vida 
como aventura e a morte como possibili-
dade passou a fazer parte do imaginário 
coletivo daquela época. 
O romântico, dessa maneira, passou a 
sentir-se um porta-voz dos ideais coletivos, 
porque ele tinha consciência de que o Bra-
sil, por exemplo, estava mudando, social e 
politicamente, e essa mudança deveria nos 
distinguir dos demais países. 
É aqui que entra outro grande pilar do 
Romantismo e uma das suas principais ca-
racterísticas: o nacionalismo. 
Trama/Enredo
Sucessão de 
acontecimentos que 
constituem a ação de 
uma obra de fi cção.
Narrativa
Exposição de um 
acontecimento ou 
de uma série de 
acontecimentos mais 
ou menos encadeados, 
reais ou imaginários, 
por meio de palavras 
ou de imagens.
Folhetim
Texto literário 
(crônicas, fragmentos 
de romances ou 
novelas etc.) impresso 
de forma seriada na 
parte inferior da página 
de um jornal/periódico 
(rodapé), com o 
objetivo de vender 
mais exemplares. 
Muitos deles se diziam 
dirigir-se ao sexo 
frágil, crendo que 
elas, as mulheres, 
seriam as maiores 
leitoras da literatura 
fi ccional – não à toa, 
muitos autores se 
dirigiam a elas em 
suas interlocuções 
–, assim como eram 
elas também as 
protagonistas de 
grandes clássicos da 
época, em especial, nos 
romances urbanos. Os 
folhetins, que tiveram 
origem na França, 
fi zeram um sucesso 
absurdo no Brasil e 
foram responsáveis 
pelo lançamento e 
êxito de muitos de 
nossos autores, como 
Joaquim Manuel de 
Macedo (1820-1882). 
A moreninha foi um 
dos folhetins mais 
populares do país, 
antes mesmo de ser 
publicado em livro.
CURSO literatura cearense 19
Publicada em Paris (Dauvin et 
Fontaine, Libraires) em 1836 e 
trazendo como lema “tudo pelo Brasil 
e para o Brasil”, a revista Nitheroy é 
apontada como um dos marcos da 
instauração do Romantismo no Brasil. 
Teve apenas 2 números e seus artigos 
não se restringiam à arte (o primeiro 
número traz um extenso artigo sobre 
cometas). Seus redatores eram: 
Gonçalves de Magalhães, Francisco 
de Sales Torres Homem, Manuel de 
Araújo Porto Alegre. 
Entre seus artigos, “Ensaio sobre a his-
tória da literatura no Brasil”, assinado 
por Gonçalves de Magalhães. Para ler a 
revista Niterói na íntegra, acesse:
https://digital.bbm.usp.br/handle/
bbm/6859
Alguns fatos históricos contribuíram para o 
surgimento desse discurso de nacionalidade:
a. A transferência da corte portu-
guesa para o Brasil;
b. A chegada ao Brasil de algumas mis-
sões estrangeiras compostas por 
cientistas e artistas, entre elas as 
de 1816 (Auguste de Saint-Hilaire e 
a Missão Artística Francesa) e 1817 
(Friedrich von Martius e a Missão 
Artística Austríaca), com o intuito 
de conhecer o recém-criado Reino 
Unido de Portugal, Brasil e Algar-
ve (1815), e que além de divulgar os 
ideais liberais e nacionalistas euro-
peus, vislumbravam nas exuberantes 
fauna e fl ora do Novo Mundo e na 
fi gura nativa do seu índio elementos 
fundantes da identidade brasileira; e
c. A Proclamação da Independên-
cia (1822), responsável, natural-
mente, entre outros, por um grande 
impacto cultural.
Todas essas movimentações sociais, 
econômicas e políticas, como é de se espe-
rar e acontece no mundo inteiro, reverbe-
raram no meio artístico. Na verdade, elas 
provocaram a criação de um imaginário
e ideal de brasilidade, que impregnou 
o pensamento daqueles que por aqui vi-
viam... e também escreviam.
Na literatura, que é o que nos cabe,te-
mos o ano de 1836 como marco do início 
do Romantismo brasileiro, quando da pu-
blicação do livro Suspiros poéticos e sau-
dades de Gonçalves de Magalhães no país 
e, na França, da Nitheroy: revista brasilien-
se, que circulou por apenas dois números. 
Nela, Magalhães publica o “Ensaio sobre 
a história da literatura brasileira”, conside-
rado o nosso primeiro manifesto românti-
MALACA
CHETAS
co. Nesse ensaio, Magalhães afi rma: “Cada 
povo tem sua literatura, como cada ho-
mem o seu caráter, cada árvore o seu fruto.”
No texto, lamenta a inexistência de estudos 
sobre a história da literatura brasileira no pró-
prio Brasil e reclama que os estudos realiza-
dos em outros países nada ou pouco disses-
sem sobre a nossa literatura, citando apenas 
– e com defasagem – o poeta árcade Cláudio 
Manuel da Costa (1729-1789), o inconfi dente 
“Glauceste Satúrnio”. Também critica os poe-
tas brasileiros que não aprenderam a olhar 
para o seu povo nem para a “Natureza virgem 
com tanta profusão”, limitando-se a importar 
temas, formas e valores portugueses.
Falando em olhar para o nosso povo, re-
conhecer o nosso ambiente e suas peculia-
ridades, adentraremos, agora, a geração in-
dianista do nosso Romantismo, lembrando, 
como defende Luiz Roncari, em sua Literatu-
ra Brasileira: dos primeiros cronistas aos últi-
mos românticos, que indianismo não signifi -
ca apenas tomar como tema e assunto da 
literatura o indígena e seus costumes. Em 
outras obras anteriores também os índios 
apareciam, como em Caramuru, de Santa 
Rita Durão, e especialmente em Uraguai, de 
Basílio da Gama. “Tal realização implicava 
também e principalmente a construção de 
um novo ponto de vista e de uma nova visão 
do indígena, apreciado agora menos como 
uma realidade racial que como outra reali-
dade ética e cultural, distinta da europeia.”
É evidente que a exaltação de um “índio 
ideal” era uma maneira de exaltar a nossa 
terra e de valorizar um povo oprimido e em 
extinção e de enfatizar nossa independên-
cia social e cultural de Portugal. 
Todo esse ideário – com generosa visão 
da pátria e do semelhante – fez com que os 
leitores se sentissem parte dessa história 
toda, daí aquela tal identifi cação com os 
personagens que já conversamos aqui. 
20 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
O índio na literatura do século XIX está ali-
cerçado na ideia de que, no Brasil, desde os 
primeiros momentos da colonização, sem-
pre teve um lugar especial: o índio é bom 
por natureza – a bondade natural de que 
falaram os enciclopedistas. Evidentemente, 
o índio não era assim, “mas deveria ser”, este 
foi o enfoque, a fantasia da escola românti-
ca. Esta é a tese, por exemplo, de Agripino 
Grieco (1888-1973), que diz que o índio de 
Alencar é uma “linda mentira”. Dessa forma, 
confrontar o índio literário, esse homem li-
vre e incorruptível, com o índio real – ainda 
hoje muito desconhecido e pouco compre-
endido – que vivia refugiado no interior do 
país não tem sentido, pois o índio literário é 
mais imaginação do que observação da rea-
lidade. Assim, enquanto na Europa, os gran-
des valores eram personifi cados por cavalei-
ros medievais, no Brasil, eram nos indígenas 
que encontravam corpo.
José de Alencar tinha plena consciên-
cia disso. Em Como e porque sou romancista
(1893), Alencar conta um pouco de seu pro-
jeto literário. Explica como escreveu e criou 
suas personagens e narra sobre o fazer literá-
rio do romance O Guarani, considerado pela 
crítica literária a expressão do nacionalis-
mo romântico e a consolidação da fi gura 
do herói tipicamente brasileiro: “N’O Gua-
rani o selvagem é um ideal, que o escritor 
intenta poetizar, despindo-o da crosta gros-
seira de que o envolveram os cronistas, e ar-
rancando-o ao ridículo que sobre ele proje-
tam os restos embrutecidos da quase extinta 
raça.”(ALENCAR, 1893, p. 47) Nas páginas 
dessa obra, percebemos o quanto Alencar 
era consciente da corrente estética à qual se 
fi liou. Pretendia ser nacionalista a partir da 
exaltação da natureza, da volta ao passado 
histórico e da criação do herói nacional na 
fi gura do índio. Em O Guarani a idealização 
do indígena reunia todas as qualidades do 
PASSANDO 
A LIMPO
Embora Gonçalves de Magalhães, poeta 
favorito e amigo de dom Pedro II, seja 
fi gura imprescindível na história do 
Romantismo brasileiro, o seu poema 
épico Confederação dos tamoios (1856) 
foi redondamente desqualifi cado pelo 
jovem José de Alencar, sob pseudônimo 
“Ig”, ainda redator do Diário do Rio de 
Janeiro, tanto por motivos formais 
(gramática, estilo e metrifi cação), pela 
ausência de unidade, quanto pela 
falta de imaginação na descrição dos 
costumes indígenas, assim como da 
própria natureza. Também criticou 
a escolha do modelo épico, no qual 
dizia: “a forma com que Homero cantou 
os gregos não serve para cantar os 
índios”. Seria incrível imaginar que o 
pensamento reformador tão propagado 
por Magalhães não atingisse a sua 
própria obra. A polêmica obra Cartas 
sobre a Confederação dos Tamoios, de 
Alencar, publicada ainda em 1856, pode 
ser acessada, na íntegra, na Biblioteca 
Digital do Senado Federal:
https://www2.senado.leg.br/bdsf/
handle/id/242822
BOLACHINHAS
Segundo José Alencar, em Como 
e porque sou romancista, a sua 
inspiração para O Guarani “caiu na 
imaginação da criança de nove anos, 
ao atravessar as matas e sertões no 
Norte, em jornada do Ceará à Bahia.”
SABATINA
Como e porque sou romancista é uma 
autobiografi a intelectual de Alencar. A 
obra representa importante testemunho 
para a nossa compreensão não só da 
personalidade do autor cearense, mas 
também dos alicerces de sua formação 
literária. O texto sob a forma de carta, 
foi escrito em 1873 e publicado em 
1893, pela Tipografi a Leuzinger (RJ), 
16 anos após a sua morte. Para lê-lo, 
basta acessar o material complementar 
disponível na sua biblioteca virtual 
do AVA. Lá, além desse título, existem 
outras obras de apoio para os seus 
estudos em Literatura. Aproveite! E caso 
queira acessá-lo da Biblioteca da Unesp:
https://bibdig.biblioteca.unesp.
br/bitstream/handle/10/6498/
como-e-porque-sou-romancista.
pdf?sequence=2&isAllowed=y
cavaleiro medieval, mas com a originalidade 
da ligação com a terra selvagem brasileira. 
Para Lilia Schwarcz, em Um monar-
ca nos trópicos, o Romantismo brasileiro 
inseriu-se em um plano político de cunho 
nacionalista, e não apenas em um movi-
mento estético. De perfi l eminentemente 
estratégico, encarregou-se de fazer as pa-
zes com o indígena pelo passado de barbá-
rie e intolerância, que ora comportava uma 
leitura honrosa. É dessa leitura que nos fala 
Schwarcz que iremos estudar a seguir.
CURSO literatura cearense 21
3.
O GUARANI: 
ROMANCE 
DE FUNDAÇÃO 
DO POVO 
BRASILEIRO
Um índio descerá de uma 
estrela colorida, brilhante
De uma estrela que virá 
numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul
Na América, num claro instante
Depois de exterminada 
a última nação indígena
E o espírito dos pássaros 
das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais 
avançada das mais avançadas
 das tecnologias 
Virá
Impávido que nem Muhammad Ali
Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri
Virá que eu vi.
Caetano Veloso, em “Um índio”
osé de Alencar é considerado um 
dos fundadores do romance bra-
sileiro. Entre outros objetivos, ele 
queria representar, através da fi c-
ção, toda a variedade do país, do 
sertão à corte, e, de certa forma, 
conseguiu, já que seus romances 
perfazem todo o caminho da di-
versidade dos tipos brasileiros 
desde “Arnaldo”, o vaqueiro cearense (de 
Quixeramobim), um herói do sertão, no livro 
22 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
MALACA
CHETAS
Outra característica da escola é a com-
paração com a natureza, evocando o sím-
bolo de perfeição. Vejamos na obra: “Peri, 
primeiro de todos, tu és belo como o sol, 
e fl exível como a cana selvagem...”; Outro 
exemplo é o fragmento: “ A nação Goitacá 
tem cem guerreiros fortes como Peri;mil ar-
cos ligeiros como o voo do gavião.”
O autor romântico comparava as pro-
tagonistas com a natureza para dizer da 
perfeição e da beleza de ambos: perso-
nagens e natureza. Por essa razão a natu-
reza é sempre idealizada e sempre pre-
sente na fi cção romântica.
O mito do “bom selvagem”, de Rosseau, 
que afi rma ser o homem bom por nature-
za, sendo o viver em sociedade a causa da 
sua degradação moral, muito contribuiu 
para que o indianismo fosse uma tendên-
cia generalizada do Romantismo. Aqui, 
vestido com a cor local, o índio literário do 
romance encarna a bondade natural que 
O Guarani obteve muito sucesso do 
público e da crítica quando lançado 
em 1857. Porém os leitores da época 
acostumados com a leitura de 
folhetins, surpreenderam-se com o 
formato livro (romance) ainda não 
tão bem desenvolvido no Brasil. Com 
esse lançamento, o novo gênero 
literário ganhou força e passou a ser 
produzido com maior frequência 
entre os escritores no país. Outra 
curiosidade dessa publicação, é que 
José de Alencar deixou o seu enredo ao 
gosto do público, alterando a história 
conforme a opinião que recebia 
constantemente dos seus leitores das 
páginas do Diário do Rio de Janeiro.
O sertanejo (1875), ao gaúcho, em O gaúcho 
(1870), ambas obras regionalistas, como 
passando pela corte de “Aurélia Camargo”, 
no clássico Senhora (1875), romance urba-
no e de costumes. Como dissemos, o autor 
exaltou em suas obras aquele que se tornou 
o símbolo nacional do romantismo: o ín-
dio. São representantes da fase indianista 
do Romantismo brasileiro – também de-
nominada nativista – as obras: O Guarani 
(1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874).
Embora a primeira obra de literatura 
cearense de Alencar seja Iracema (1865), 
discorreremos um pouco sobre O Guarani
(1857), pois este romance inaugural da fi cção 
indianista no Brasil traz muitos dos elemen-
tos que caracterizam a escola romântica.
Publicado originalmente como folhetim, a 
obra narra, através da história de amor do ín-
dio Peri e a jovem lusa Ceci, o tema da misci-
genação entre o índio e o branco. Para Ângela 
Gutierrez, “a sugestão do conúbio entre dois 
seres harmoniosos e superiores, símbolos 
das raças indígena e branca, ratifi ca a obser-
vação de Doris Sommer (2004, p. 179) de que 
Alencar alinhava-se a von Martius, ‘um histo-
riador que identifi cava a mestiçagem como 
a matriz da brasilidade’”. O que fi ca implícito 
em O Guarani será, oito anos depois, explicita-
do com o nascimento de Moacir, fi lho da dor, 
em Iracema”. (GUTIERREZ, 2009, p. 10) 
A descrição de Peri é clara: “Enquanto 
falava [Peri], um assomo de orgulho selva-
gem da força e da coragem lhe brilhava nos 
olhos negros, e dava certa nobreza ao seu 
gesto. Embora ignorante, fi lho das fl orestas, 
era um rei; tinha a realeza da força.”
Esse exagero está em todos os capí-
tulos do romance. Isto, porém, não é um 
defeito e, sim, uma característica da 
escola. Era assim que os personagens ro-
mânticos se posicionavam diante do mun-
do, exagerando, sendo demasiadamente 
apaixonados e, por isso, sofrendo muito. 
Essa era a postura romântica. 
ele deveria ter já que vivia harmonicamen-
te com os seus e com a natureza. 
A afi nidade entre o público e o indianis-
mo deve-se ao nativismo: a valorização do 
índio ia ao encontro dos desejos, dos sen-
timentos e do conteúdo emocional dos lei-
tores que compunham majoritariamente a 
classe burguesa. Logo após o processo de 
Independência, desenvolveu-se entre nós 
o sentimento de nacionalidade, e nada 
melhor do que um herói para representar 
este anseio. Isto não quer dizer que o Brasil 
pudesse viver, naquele período, sem o por-
tuguês, pelo contrário, o Brasil era comple-
tamente dependente da coroa portuguesa. 
Não podendo valorizar o negro, o fi ccionista 
voltou-se para o índio, heroicizando-o. 
Antonio Candido afi rma ser Alencar “o 
único escritor de nossa literatura a criar um 
mito heroico, o de Peri” e explica: “Assim 
como Walter Scott fascinou a imaginação 
da Europa com seus castelos e cavaleiros, 
Alencar fi xou um dos mais caros modelos 
da sensibilidade brasileira: o do índio ideal 
[...]” (CANDIDO,1969, p. 223-4)
CURSO literatura cearense 23
MALACA
CHETAS
A canção “Maracatu Fortaleza”, 
de autoria de Pingo de 
Fortaleza e Rosemberg Cariry, 
foi tema ofi cial do Maracatu Az 
de Ouro no início da década 
dos anos 2000. 
A música ganhou videoclipe 
com direção de Petrus Cariry e 
está disponível no canal Pingo 
de Fortaleza Solar, do artista 
cearense João Wanderley 
Roberto Militão, conhecido 
simplesmente como Pingo 
de Fortaleza. Confi ra no link: 
https://www.youtube.com/
watch?v=nijgoEZrWyM
4.
IRACEMA: LENDA 
DO CEARÁ
Iracema hoje quer ser moderna
Loura a força, ela deseja ser
Mas a cor que lhe veste o corpo
é de cabocla que a faz sofrer
O estrangeiro foi para não voltar
Deixou o seu fi lho que não quer mais ver.
Pingo de Fortaleza e Rosemberg Cariry, 
em “Maracatu Fortaleza” 
romance Iracema (1865) 
é considerado, segundo 
o pesquisador Sânzio de 
Azevedo, a primeira obra 
de literatura cearense de 
José de Alencar. Acerca 
de Iracema, nos explica o 
pesquisador: “No Ceará, o 
Indianismo é representado 
precisamente por uma das 
obras principais do movimento brasileiro, 
Iracema.” (AZEVEDO, 1976, p.51).
A paisagem e a cultura da sua terra foi o 
que de mais especial José de Alencar nos 
deixou, mesmo dentro dos cânones da épo-
ca. O nacionalismo, que toda a doutrina ro-
mântica possui, teve em Alencar um vigoro-
so pintor. Essa ideia de terra nossa, de país 
nosso, de cultura nossa está em quase todos 
os seus livros. Em dois deles, toda a paisa-
gem exuberante do Ceará foi essencial, para 
fi rmar um imaginário regional: Iracema e O 
sertanejo como veremos mais a seguir.
Observe o que Alencar diz, no prólogo 
da primeira edição de Iracema oferecido 
pelo “fi lho ausente” à terra natal:
MALACA
CHETAS
24 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
Verdes mares bravios de minha terra natal, 
onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba;
Verdes mares, que brilhais como líquida 
esmeralda aos raios do sol nascente, per-
longando as alvas praias ensombradas 
de coqueiros; […]
Onde vai a afouta jangada, que deixa rápi-
da a costa cearense, aberta ao fresco terral 
a grande vela? […]
Três entes respiram sobre o frágil lenho que 
vai singrando veloce, mar em fora.
Um jovem guerreiro cuja tez branca não 
cora o sangue americano; uma criança e 
um rafeiro que viram a luz no berço das fl o-
restas, e brincam irmãos, fi lhos ambos da 
mesma terra selvagem (...) (ALENCAR, 2005)
Perceba que, nesse trecho, encontra-
mos, além da paisagem, o mito da origem. 
O livro inicia trazendo o fi m da história de 
Iracema e de Martim, o “guerreiro branco”, 
cujos descendentes comporão nosso povo: 
este é o mito. A criança na jangada, o Moa-
cir (“fi lho da dor”, “o que vem da dor”, em tu-
pi-guarani) é símbolo da mistura das raças, 
é o branco e o índio compondo a diversida-
de cultural do povo brasileiro.
Ao longo da narrativa, surge a nossa 
paisagem geográfi ca: Ipu, chapada da Ibia-
paba, Meruoca, Uruburetama, Maranguape, 
Parangaba, Sapiranga, Messejana etc. 
Os meninos brincam na sombra do outão 
com pequenos ossos de reses, que fi gu-
ram a boiada. Era assim que eu brincava, 
há quantos anos, em outro sítio, não mui 
distante do seu. A dona da casa, terna e 
incansável, manda abrir o coco verde, ou 
prepara o saboroso creme do buriti para 
refrigerar o esposo, que pouco há recolheu 
de sua excursão pelo sítio, e agora repousa 
embalando-se na macia e cômoda rede. 
[…]
Talvez me desvaneça amor do ninho, ou se 
iludam as reminiscências da infância avi-
vadas recentemente. Se não, creio que, ao 
abrir o pequeno volume, sentirá uma onda 
do mesmo aroma silvestre e bravio que lhe 
vem da várzea. Derramao, a brisa que per-
passou os espatos da carnaúba e na rama-
gem das aroeiras em fl or.
O livro é cearense. Foi imaginado aí, na 
limpidez desse céu cristalino azul, e depois

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