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Determinantes sociais do processo saúde-doença: estilo e condições de vida nas sociedades contemp�âneas Caso clínico Gabriel, 3 anos de vida Trazido pela mãe ao Pronto Socorro Central da cidade. A mãe refere que há dois dias a criança iniciou com um quadro de perda do apetite, náuseas e dor abdominal. Ontem, a criança iniciou com diarreia volumosa e vômitos alimentares. Hoje, além da diarreia e vômitos, a criança não está conseguindo ingerir alimentos ou líquidos, além de não conseguir ficar em pé. Mãe nega febre e outras queixas Antecedentes pessoais: a mãe refere episódios semelhantes no último ano, embora esteja pior, desde que se mudaram do sítio que viviam no interior de SP para à cidade de São Bernardo do Campo Nascido parto vaginal, Apgar 9/10, aleitamento materno exclusivo até os 6 meses sem intercorrências relatadas na primeira infância. Mãe nega febre e contato com pessoas doentes, fica em casa e aguarda vaga na creche Vacinação: em dia Exame físico: criança em estado regular geral, prostrado, comunicante, desidratado 3+/4+, taquicárdico, hipocorado 2+/4, eupnéico, acianótico, anictérico. Abdome: sem alterações à inspeção, RHA+, timpânico, flácido, algo doloroso à palpação superficial, sem dor na descompressão súbita, sem massas ou visceromegalias palpáveis O que tem Gabriel? Principal vacina para se observar: vacina para rotavírus que as crianças tomam nos 2 e 3 meses de vida. Hipótese diagnóstica: desidratação grave, gastroenterocolite aguda Conduta: fazer hidratação intravenosa até à tolerância oral. Assim que possível, retorno gradual da alimentação. Proceder exames complementares (saber se é bactéria ou vírus) Obs: mesmo que a criança tenha tomado a vacina para rotavírus, há outros tipos de rotavírus. O mais comum de uma enterocolite que seja de origem bacteriana é a Coli (fezes). Evolução do quadro clínico Após três dias internado, Gabriel apresenta melhora da diarréia e dos vômitos, está hidratado e novamente se alimentando. Recebe alta para casa no quarto dia, sendo sua mãe orientada com relação aos cuidados de higiene no preparo da alimentação e a procurar a UBS para marcar acompanhamento de rotina Evolução quadro clínico 2 Após duas semanas de alta, Gabril apresenta um quadro semelhante ao anterior e a mãe leva à UBS Durante o atendimento à mãe conta que está com medo de que a ocorrência desses episódios de diarréia prejudiquem Gabriel pois conseguiu a vaga na creche e ele deverá começar no início da semana que vem. Pensando nos determinantes sociais envolvidos no caso, quais outras condições deveriam ser exploradas pela equipe de APS? APS: equipe de atenção primária à saúde ● Avaliação da curva de crescimento de Gabriel, marcos do seu desenvolvimento neuropsicomotor ● Perguntas sobre o seu hábito alimentar, hábitos da criança (como, com quem e onde brinca?) Está desfraldado? ● Compartilhando de fômites, incluindo escova de dentes ● Hábito intestinal nos períodos entre os episódios ● Quem mora com Gabriel? Qual a escolaridade dos cuidadores? ● Quem cuida de Gabriel? Além da mãe, também foi orientado sobre os cuidados de higiene e preparação da água e alimentos? A importância de saber a escolaridade dos cuidadores é saber se estão preparados e orientados quanto à higienização e preparo dos alimentos. Pensando no impacto que a saúde tem na vida de Gabriel, qual o problema de que sua doença não seja tratada adequadamente? ● Letargia, risco de morte ● Emagrecimento, baixa estatura ● Atraso do desenvolvimento psicomotor ● Os cuidadores terem que faltar ao emprego, afetando financeiramente à família ● Falta nas creches/escolas Com o tempo, essa situação pode comprometer o potencial da criança, no futuro, limitar suas opções profissionais e perpetuar o ciclo de pobreza familiar. Determinantes Sociais da Saúde (DSS) A expressão determinação social não deve ser entendida como uma relação imediata, direta, unívoca, do tipo causa-efeito, entre o social e o processo epidêmico, ou seja, uma relação linear entre o contexto social e o aparecimento ou a produção de epidemias. Determinação social Dupla conotação na relação entre o ‘’social’’ e o processo epidêmico: 1. Condições econômicas, políticas e sociais em que ocorre e se desenvolve o processo epidêmico 2. análise das práticas de intervenção e de controle que a sociedade adota frente ao processo mórbido Assim entendida, essa dupla determinação social, seja no nível das condições sociais gerais em que se desenvolve a doença, seja no nível das práticas historicamente definidas para enfrentar o problema, interfere na explicação que se elabora sobre o processo mórbido, condicionando assim o próprio saber, a visão teórica do que seja a doença. Determinantes sociais da saúde (DSS) ‘’DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população’’ Comissão Nacional sobre os determinantes sociais da saúde (CNDSS) ‘’Fatores e mecanismos através dos quais as condições sociais afetam a saúde e que potencialmente podem ser alterados através de ações baseadas em informação’’ Nancy Krieger (2001) APS abrangente Conceito com foco no esforço dos sistemas de saúde em: ● Melhorar a equidade no acesso; ● Empoderamento comunitário; ● Participação de grupos marginalizados e ● Ação nos determinantes sociais de saúde. ● Aumentar a equidade no acesso à saúde e outros serviços e recursos essenciais à saúde ● Promover empoderamento comunitário e reduzir vulnerabilidades sociais; ● Enfrentar os determinantes sociais e ambientais de saúde e reduzir a exposição ao risco. O que as pessoas percebem influenciar o estado da nossa saúde? ➔ Condições de vida da pessoa (educação, renda, trabalho) ➔ Estilo de vida (dieta, álcool, drogas, atividade física, amigos, hobbies, família, religião) ➔ Características físicas/biológicas (história familiar, carga genética, compleição física, obesidade e sobrepeso) ➔ Características psicológicas (atitude mental, pensamento positivo, resiliência) ➔ Serviços de saúde (acesso e desempenho) Literacia em Saúde A OMS em 1998 definiu como um conjunto de competências cognitivas e sociais e capacidade dos indivíduos para ganharem acesso à compreenderem e a usarem informação de formas que promovam e mantenham boa saúde. ‘’O conceito corresponde à capacidade de um indivíduo ou grupo social obter, processar e compreender informações básicas sobre saúde, que subsidiem a tomada de decisões neste domínio’’ A literacia em saúde é mais do que apenas a capacidade de ler, escrever e entender os números no contexto da saúde. É a capacidade cognitiva de entender e interpretar os significados da informação em saúde de forma escrita, falada ou digital. isso afeta se as são capazes de adotar ou desconsiderar ações relacionadas à saúde e tomar decisões no contexto da vida cotidiana’’ É a capacidade para tomar decisões em saúde fundamentadas, no decurso da vida do dia a dia - em casa, na comunidade, no local de trabalho, no mercado, na utilização do sistema de saúde e no contexto político; possibilita o aumento do controle das pessoas sobre a sua saúde, a sua capacidade para procurar informação e para assumir responsabilidades’’. As competências das pessoas em literacia em saúde incluem: 1. Competências básicas em saúde que facilitam a adoção de comportamentos protetores da saúde e de prevenção da doença, bem como o auto-cuidado; 2. Competências do doente, para se orientar no sistema de saúde e agir como um parceiro activo dos profissionais 3. Competências do consumidor, para tomar decisões de saúde na seleção de bens e serviços e agir de acordo com os direitos dos consumidores, caso necessário; 4. Competências como cidadão, através de comportamentos informados como o conhecimento dos seus direitos em saúde, participação no debate de assuntos de saúde e pertença a organização de saúde e de doentes.
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