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1 AS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOMOTRICIDADE E DA PSICOPEDAGOGIA PARA A APRENDIZAGEM NOS ANOS INICIAIS DAS CRIANÇAS Mardonia Matos Pinheiro Alencar. 1 RESUMO Neste trabalho serão abordadas questões com o objetivo de trazer alguns conceitos sobre a relevância da Psicopedagogia e da Psicomotricidade para o Ensino Infantil, apontando o comedimento e o desenvolvimento motor e intelectual da criança. Esse artigo tem caráter predominante qualitativo. Busca- se entender a importância de psicomotricidade e da psicopedagogia, como elas, estão vinculadas ao percurso de alfabetização e suas contribuições para a aprendizagem das crianças. Visto que, a essência da educação psicomotora é base principal para o itinerário de aprendizagem das crianças. Dessa maneira, tenta-se compreender como essas duas áreas contribuem para o desenvolvimento global da criança, considerando o físico, o afetivo e o cognitivo. Palavras-chave: Criança; Educação; Global; Psicomotricidade; Psicopedagogia. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como finalidade apresentar a história, conceitos, objetivos, e relevância do percurso da Psicopedagogia e da Psicomotricidade para os primeiros anos de escolarização das crianças e suas contribuições para a aprendizagem infantil. Para a compreensão do tema é importante observar a priori definições e conceitos, da Psicopedagogia no Brasil e a tentativa de absorver de cada fase, 1 Mardonia Matos Pinheiro Alencar, Pedagoga, pela Universidade de Guarulhos SP (2007), especialista em Educação para a Sexualidade, pela UNISAL - São Paulo-SP, (2010) especialista em Psicomotricidade (2015) , especialista em Docência para o Ensino Superior, pela FIC Salles, (2017) professora de Educação Infantil e Fundamental I na rede do Município de São Paulo, desde de 2010, e diretora de escola na mesma rede desde 2018. 2 respostas que descrevem como áreas tão distintas podem se completar, formando um novo paradigma que apontam soluções em rumos diferentes, porém com objetivos semelhantes. As abordagens foram apresentadas em capítulos. No primeiro capítulo o tema será sobre o histórico, definições, relevância e as contribuições da Psicopedagogia para o ensino e aprendizagem. Esse artigo descreve sobre a Psicomotricidade e sua importância na educação infantil; observando as etapas do desenvolvimento infantil; e os estágios do desenvolvimento segundo Piaget. O assunto será um breve olhar sobre o desenvolvimento infantil e sua relação com a psicomotricidade; a educação psicomotora e o desenvolvimento motor e a influência que a psicomotricidade tem no processo da aprendizagem e as etapas do desenvolvimento. Esse estudo, ainda observa o princípio da psicopedagogia e como ela chegou ao Brasil, o que permeiam a educação infantil e como a escola atende a sociedade. E o papel a psicopedagogia no processo da educação como um todo. Baseando-se na conjectura de que o professor, no seio da unidade de ensino, deve assumir um perfil de pesquisador-observador, o que colaborará para a execução dos propósitos da educação como um todo. Portanto para entendermos o papel da psicomotricidade nos primeiros anos escolares é necessário, definir o que significa desenvolvimento motor e as suas relações com a aprendizagem. Esses estudos justificam-se pela necessidade de entender como as questões da psicomotricidade e a auxílio da psicopedagogia podem contribuir nas escolas, vislumbrando a aprendizagem integral dos educandos, e como a formação dos profissionais de educação, mostra-se pertinente para que as crianças possam ter maiores possibilidades de aprendizado. Uma vez que, de fato, observa-se que os educadores na sua maioria não demonstram interesse em entender sobre a importância do desenvolvimento psicomotor dos seus educandos e quão são importante as contribuições da psicopedagogia e da psicomotricidade para a educação. “Não se concebe um psicopedagogo que trabalhe com o corpo estático e desconheça os movimentos desse no aprender. Não se concebe um psicomotricista que trabalhe com o corpo em movimento e não conheça o corpo discursivo do sujeito que aprende. É preciso que haja 3 uma interdisciplinaridade na ação ensinar-aprender para que o sujeito que aprende seja compreendido em sua totalidade, mesmo dentro de uma abordagem específica”. (Costa, 2001). DESCOBERTA DA PSICOPEDAGOGIA Em 1946 foram fundados os primeiros Centros Psicopedagógicos na Europa, por J. Boutonier e George Mauco, com direção médica e pedagógica. Estes centros uniam conhecimentos das áreas de Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, neles tentavam readaptar crianças com comportamentos socialmente inadequados na escola ou no lar e atender crianças com impedimentos de aprendizagem apesar demonstrarem serem inteligentes. (MERY apud BOSSA, 2000, p. 39). Estudavam uma coerência e abrangência entre conhecimentos psicanalíticos e pedagógicos por pesquisadores, psiquiatras, neuro-psiquiatras e educadores, entre eles Montessori, Decroly, Seguin e Esquirol, preocupados com fatores que intervinham em particular na aprendizagem, coordenação e planejamento de técnicas a serem aplicadas a princípio na educação infantil. Nessa época a realidade contava com muitos impedimentos e obstáculos por conta da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) em decurso, e a Era Industrial, que nesse momento apresentava duas grandes preocupações: a produtividade, focando lucros, e sua maior inimiga, a apatia, dificuldade que alguns trabalhadores apresentavam para produzir, observados somente após o contrato, gerando desmotivação e abandono do cargo. Aconteceram diversos casos semelhantes em áreas diferentes, a medicina passou então a observar convergências em tais operários, desconfiando a princípio de problemas que desencorajavam os mesmos de fora para dentro, ou seja, o meio, a forma como eram conduzidos, administrados, e concluiu-se que esse não era o mal, a insatisfação não era com o trabalho a ser realizado e sim a falta de capacidade em executá-lo, não percebida no ato da contratação. Houve uma mudança nas diretrizes após tal conclusão, ao contrário de se punir o empregado ou esperar que ele abdicasse ou abandonasse simplesmente o trabalho, passou-se então a observar as supostas dificuldades e estudar suas causas, para em seguida pesquisar e apontar alternativas para retificações. 4 No decorrer de dois séculos, tempo que durou a Sociedade Industrial (1750-1950), o maior desafio foi a eficiência, isto é, fazer o maior número de coisas no menor tempo, da melhor forma possível. A educação era vista como uma forma de controlar e preparar o indivíduo para o trabalho, sendo do mais simples até o mais complicado, e a sociedade capitalista visava sujeitos aptos para os diversos afazeres e trabalhos. Passado algum tempo saindo da era industrial para a era das novas tecnologias, os sujeitos são agora controlados não só pelas estações do ano, ou pela escola, passam também a receber influências dos meios de comunicação, o que provoca um aumento das interações entre os povos. Com a difusão de novas tecnologias e a mudança na base econômica, a sociedade já não se baseava mais na produção agrícola, nem na indústria, mas na produção de informações, serviços, símbolos (semiótica) e estética. Com um conjunto de situações provocadas pelo advento da indústria, tais como: o aumento da vida média da população, o desenvolvimento tecnológico, a difusão da escolarização e da mídia, o trabalho intelectual agora mais frequente que o manual, e a criatividade, mais importante que a simples execução de tarefas, passou-se a priorizar a qualidade de vida, a parte intelectual e a desestruturação do tempo e do espaço, ou seja, fazer uma mesma coisa em tempos e lugares diferentes simultaneamente, esse período é conhecido como a era da Tecnologia Informação e Conhecimentos(TICs), o que vem oferecer suas contribuições para o início dos estudos de casos e pesquisas nas questões das dificuldades de aprendizagens. O LUGAR DA PSICOPEDAGOGIA No âmbito da saúde, a medicina contava apenas com três áreas preocupadas com tais estudos: a oftalmologia, neurologia e psiquiatria, que já vinham pesquisando soldados atingidos aparentemente no mesmo ponto cerebral e com retornos completamente diferentes. Antes do acidente todos apresentavam comportamento básico, comum, e após a cirurgia e ou tratamento, mostravam-se irregulares, alguns sem nenhum prejuízo motor ou cerebral e outros com perdas diferenciadas, diagnosticadas em níveis pequenos, médios até severos. 5 Segundo GEARHART (1978) os esforços de estudiosos americanos, como Samuel Orton, resultaram em processos de tratamento altamente desenvolvidos dessas dificuldades, que incluíam, além de médicos, também psicólogos, foniatras, pedagogos e professores, que atendiam em clínicas, seguindo um modelo multidisciplinar. Esses procedimentos se iniciaram focando o comportamento, reflexo e rendimento adulto, seguindo numa linha de pesquisa que a longo prazo mostrou- se com seus efeitos e causas surgidos ainda na infância, que por falta de recursos e estudos mais elaborados, sem resultarem num laudo, passavam despercebido e só considerado na idade adulta no período de desempenho de funções e/ou responsabilidades. Algumas dessas providências já haviam sido tomadas também na América do Norte, onde tal percurso enfatizava a priori conhecimentos clínicos em relação aos bloqueios para aprendizagem. Começaram aparecer diversos rótulos, diferenciando os incapazes, inteligentes, deficientes mentais, deficientes físicos e os sensoriais. Com tudo isso, BOSSA (1994) complementa, o movimento europeu acabou por originar a Psicopedagogia, ao passo que o movimento americano proliferou a crença de que os problemas de aprendizagem possuíam causas orgânicas e precisavam de atendimento especializado, influenciando parte do movimento da Psicologia Escolar que, nessa época, determinava a forma de tratamento dada ao fracasso escolar. Esses conceitos aos poucos foram- se proliferando, entusiasmando inclusive outros países latinos americanos (Argentina) que com índice alto de deficientes de aprendizagem, buscavam há mais de 3 décadas, um novo método de trabalho de inclusão e reeducação escolar. Adotando então o currículo da Psicanálise e da Psicologia Genética, incluindo dados das áreas de linguagem e psicomotricidade, que somadas, favoreceriam a apresentação de resultados mais confiáveis. Essas informações europeias e americanas acabaram chegando ao Brasil pela da Argentina, ressaltando ainda que Buenos Aires, foi a primeira cidade a oferecer o curso de Psicopedagogia, contando também com renomados profissionais como Dr. Quirós, Jacob Feldmann, Sara Pain, Alícia Fernandez, 6 Ana Maria Muniz e Jorge Visca, responsáveis pelo início da construção e desenvolvimento de todo nosso conhecimento psicopedagógico. A PSICOPEDAGOGIA SURGE NO BRASIL Pode-se afirmar que a Psicopedagogia chegou ao Brasil efetivamente na década de 70, que até então, associava as dificuldades de aprendizagem às disfunções neurológicas, denominada DCM - Disfunção Cerebral Mínima, camuflando problemas sócios pedagógicos. A princípio baseou-se em modelos médicos de atuação, acompanhando Buenos Aires, onde os Centros de Saúde Mental e equipes de psicopedagogos atuavam fazendo diagnósticos e tratamento. Só então se formaram grupos de estudo em Porto Alegre- Rio Grande do Sul, com cursos de formação de especialistas em Psicopedagogia na Clínica Médico-Pedagógica com duração de dois anos. Estes estudiosos perceberam que após um ano de tratamento os problemas de aprendizagem de seus pacientes já estavam sanados, porém os mesmos não ofereciam condições para alta, pois apresentavam agora um distúrbio de personalidade como deslocamento de sintoma, notando a necessidade de focar o olhar e a escuta clínica psicanalítica. A IMPORTANCIA DA PSICOPEDAGOGIA Observa-se, no seio escolar, que crianças com algum bloqueio de aprendizagem frequentemente possuem problemas em mais de um aspecto. Alguns desafios para os profissionais de educação que lidam diretamente com as crianças, são diálogo com responsáveis das crianças, e a aceitação desses pais em ouvir que de fato aquela criança em especifico, necessita de ajuda e acompanhamento nos seus primeiros anos de escola, a necessidade de ajuda ou a falta dela, pode provocar na criança alterações em seu comportamento, ela pode ou não, entender, compreender a linguagem, podendo haver dificuldade de concentração, não se atentar à ouvir histórias, etc. Faz-se necessário para o profissional de educação, mesmo que brevemente compreender não apenas cada uma das deficiências, mas diferenciar uma das outras para assim buscar melhores possibilidades para o 7 seu aluno com dificuldades. Portanto é de grande relevância o papel do Psicopedagogo nas Instituições Escolares ou fora delas. Aqui vale um pensamento que contribui com esses aspectos: E nós? Diferentes dos animais e das plantas. Nos animais e nas plantas o DNA é receita completa; todas as informações estão lá. Mas nós somos diferentes. Nosso programa não está concluído. Temos que inventar o que está faltando. Há, em nossos corpos, um espaço vazio que nos desafia a criar. (Rubem Alves, 2006 p.146-147). Visto que as questões relacionadas a impedimentos de aprendizagens das crianças não desaparecem espontaneamente e afetam o modo como a criança percebe o mundo, de forma que influenciam a conduta em casa e seus relacionamentos dentro e fora de casa, bem como seu desempenho escolar. Quando um comportamento parecer descuidado ou mesmo propositadamente, perder objetos, se atrasar, ou fracassar em completar tarefas simples, pode estar relacionado com alguns problemas de aprendizagem da criança. Valeria para o professor, na sua formação inicial ter noções do estudo de psicopedagogia, no atendimento com os seus alunos em sala de aula e assim poder melhor ministrar o seu exercício docente. Incontestavelmente, não se pode rotular ou medicar o aluno com alguma deficiência no seu aprendizado. O docente deve-se atentar às necessidades e encaminhar ao especialista caso observe discrepância no tempo e faixa etária de ensino do aluno. Ao especialista cabe dar um diagnóstico a esse aluno, podendo assim começar um tratamento adequado, afim de que melhore seu desenvolvimento. O trabalho docente em parceria com os pais contribui também para que os responsáveis legais da criança, não criem expectativas superiores, sabendo o que será necessário para que seu filho tenha ganhos no seu desenvolvimento da melhor forma possível. Uma vez que dificuldades de aprendizagem tendem a produzir consequências emocionais marcantes, pois o não conseguir acompanhar o restante da turma, dia após dia, mesmo com esforço, sem conseguir, provoca frustações, ansiedade, causando irritação por não alcançar, ser o último da classe às vezes é saudável, mas ser sempre o último em tudo é prejudicial. 8 Identificar, as dificuldades de aprendizagem deve ser feito o mais rápido possível, cabendo aos educadores e aos pais identificá-las, observando o comportamento apresentado pelas crianças, tanto na escola, como em casa é grande relevância, o diálogo com a criança é muito pertinente afim de que juntos, busquem –se tratamento eficaz para essa criança, minimizando traumas e problemas graves no seu desenvolvimento. Qualquer criança que tenha dificuldades expressivas de aprendizagem deveria ter à sua disposição um conjunto de serviços adequados as suas necessidades, dentro do seu horário regular de frequência na Unidade Escolar, além de ser oferecido uma rede de proteção à essa criança,encaminhando-a a serviços educacionais especializados (psicologia, fonoaudióloga, terapia ocupacional, psicopedagógicos clínicos), para que ela possa atingir os seus objetivos. O professor por sua vez pode tentar adequar o seu currículo, para que esse aluno possa fazer suas tarefas, sem prejuízos de aprendizagem. A PSICOMOTRICIDADE O ser humano sempre valorizou o corpo, desde a Grécia Antiga percebemos o pensamento da cultura, que refletia o culto ao físico em suas obras, retratando em esculturas épicas. Durante muitos anos, os seres humanos eram entendidos por uma forma fragmentada, separando seu corpo da alma, sendo motivos de estudos e questionamentos dos grandes pensadores. Ao passar dos tempos vários pensamentos tentaram explicar essa relação entre corpo e mente; porém, com base em alguns pensamentos mais radicais, no século XIX o termo Psicomotricidade apareceu pela primeira vez num discurso médico, mais especificamente neurológico, para nomear as zonas do córtex cerebral, que estão situadas além das regiões motoras. A psicomotricidade é um termo utilizado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em razão das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultado de sua individualidade, sua linguagem e sua forma de socializar-se. Há três conhecimentos básicos que sustentam a psicomotricidade: o movimento, o intelecto e o afeto. 9 A psicomotricidade é uma ciência vinculada à outras ciências, que usa as descobertas das ´várias áreas já constituídas (a linguística, a sociologia, a psicanálise, a biologia, a psicologia, entre outras...). Pode-se definir a psicomotricidade como área transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências recíprocas e sistemáticas entre psiquismo e motricidade. As funções cognitivas, sócio emocionais, simbólicos, psicolinguísticas e motoras, são encaradas com uma forma integrada pela psicomotricidade, baseada numa visão holística do ser humano, no qual o processo de maturação, no qual o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas é chamado de psicomotricidade, ciência que tem como objetivo de estudo o homem por meio do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. De acordo com Piaget no Dicionário Terminológico a Experiência Física “Consiste em atuar sobre os objetos de modo a descobrir suas propriedades que então estão abstraídas destes objetos como tais:por exemplo sopesar um corpo para avaliar seu peso (Tradução Lino de Macedo 1978,p. 101) Com o aparecimento do método Psico-Cinético de Educação buscou-se uma primeira visão de psicomotricidade, criada pelo francês Jean Le Boulch, constituindo a origem dessa ciência. Esse método foi consagrado em Portugal entre as décadas de 1970 a 1980, como uma disciplina curricular do ensino primário. Já a psicomotricidade relacional foi criada por outros dois franceses: André e Anne Lapierre, que estudaram as possibilidades de crescimento e de aperfeiçoamento em que o sujeito aumente a capacidade de desenvolver em todos os aspectos sua personalidade. Desde a década de 1960, a Psicomotricidade havia sido introduzida no Brasil por meio dos profissionais que traziam informações da Europa, porém, foi na década de 1970 que a eclosão foi definitiva. As práticas eram direcionadas para a educação e reeducação Psicomotora. No ano de 1976, com a vinda do francês Françoise Désobeau, acabou sendo introduzida uma diferente visão, que foi denominada “Terapia Psicomotora”, que assumia uma postura na qual trocava as técnicas 10 instrumentais por várias atividades livres, valorizando atividades como os jogos e as brincadeiras. Em 1980 foi fundada a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, com apoio de Françoise Désobeau, que nesta época era presidente da Sociedade Internacional de Terapia Psicomotora proporcionando a disseminação da Psicomotricidade e o surgimento de um curso de graduação e vários de pós- graduação. Surgindo linhas originais, desenvolvidas por profissionais brasileiros, e em 2012, foi instituído o dia 19 de abril, data da fundação da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, o dia nacional do Psicomotricista. O desenvolvimento do estudo da psicomotricidade no Brasil, desenvolveu-se pela vertente da Educação Física e, até meados de 1980, só eram trabalhadas as crianças com problemas e dificuldades ligadas ás estruturas psicomotoras de base, como andar, saltar, correr, equilíbrio, lateralidade e noção espaço-corporal, entre outros problemas. Contemporaneamente, os educadores e outros profissionais que atuam dentro das escolas devem procurar especializar-se para atender a demanda que as crianças trazem para o ambiente escolar, a fim de transformar o conceito de reeducação para o de educação em sua definição mais ampla, dessa forma a psicomotricidade pode-se diferenciar e adquirir suas próprias especificidades. PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL A Psicomotricidade contribui para a formação e estruturação do esquema corporal e tem como objetivo principal incentivar a prática do movimento em todas as etapas da vida de uma criança, além de se divertirem, por meio dessas atividades, as crianças criam, interpreta e se relacionam com o mundo em que vivem. Por isso, os educadores devem vislumbrar, que os jogos e as brincadeiras ocupem um lugar de destaque na programação escolar desde os primeiros momentos de vida escolar dos alunos. A Psicomotricidade requer relacionamento por meio da ação, como um meio de tomada de consciência que une os aspectos humanos, corporal, mental, espiritual em relação as vivências na natureza e na sociedade. Vitor da Fonseca em 1988 dizia que: “A Psicomotricidade é atualmente concebida como a integração superior da motricidade, produto originário de uma relação inteligível entre a criança e o meio” 11 O desenvolvimento psicomotor é de suma importância na prevenção de problemas futuros na aprendizagem e na reeducação do tônus, da postura, da direcional idade, da lateralidade e do ritmo. A educação das crianças deve destacar a relação por meio do movimento de seu próprio corpo, considerando sua idade, a cultura corporal e dos seus interesses. O autor Le Boulch, afirma: A educação psicomotora é uma forma prática de ajudar a criança a dispor de uma imagem do “corpo operatório”, segundo a qual poderá exercer sua disponibilidade. Esta conquista passa por várias etapas do desenvolvimento motor, de equilíbrio, que correspondem às etapas da evolução psicomotora. A motricidade é a capacidade de realizar movimentos; e psicomotricidade, a educação de movimentos ou por meio de movimentos que provocam melhor uso das capacidades psíquicas. Pode-se definir psicomotricidade como a educação do movimento com atuação sobre o intelecto, numa relação entre pensamento e ação, englobando funções neurofisiológicas e psíquicas. A psicomotricidade pode ser vista como uma ciência que estabelece relação do homem com o meio interno e externo, é a ciência que tem como objetivo de estudo o homem por meio do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo, estando relacionada ao processo de maturação, no qual o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas, e é sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o cognitivo. A Psicomotricidade, também oferece grande contribuição e importância na resolução de problemas dentro da sala de aula, mas não é necessariamente a única solução para os problemas de crianças com dificuldades de aprendizagem, mesmo assim é um meio de auxiliar a criança a superar alguns obstáculos e prevenir possíveis inadaptações. O DESENVOLVIMENTO INFANTIL O desenvolvimento infantil é um assunto bastante relevante em todos os aspectos, pois é preciso que se tenha um desenvolvimento na integra, o que significa um desenvolvimentosocial e psicológico, por isso é fundamental que se possam oferecer as condições necessárias para a criança ter um desenvolvimento sócio afetivo adequado e desenvolver também a capacidade 12 de aprendizagem respeitando os limites da sua faixa etária. Desde muito cedo a criança desenvolve-se de forma relevante e dinâmica, o desenvolvimento físico corresponde a sua maneira de crescer com fatores genéticos e biológicos interferindo nesse processo. Outro fator relevante vem a ser o desenvolvimento social e afetivo, que deve ser levado em consideração no processo de aprendizagem, pois a personalidade da criança é a única e sua construção se dá nos primeiros anos de vida. E a base desse desenvolvimento dará estruturação à infância e a seguirá por toda a vida. Diante do exposto observa-se a importância da contribuição e influência do educador na formação da personalidade das crianças. Portanto, aqui também demonstra-se a necessidade de formação continuada dos docentes para que os educadores estejam preparados para os desafios no cotidiano da escola observando as fases do desenvolvimento das crianças e suas necessidades de aprendizagem Alguns estudiosos ofereceram suas contribuições vislumbrando fases de desenvolvimento e o que essas fases podem auxiliar na compreensão em cada momento de aprendizagem, entre estes se cita Piaget com os resultados dos seus estudos. De acordo com Piaget, a criança aprende construindo e reconstruindo o seu pensamento, por meio da assimilação e acomodação das suas estruturas. Esta construção do pensamento foi chamada de estágios: sensório-motor, simbólico, conceptual e das operações formais. O que Piaget define o primeiro estágio nas faixas etárias do zero aos dois anos, iniciando o desenvolvimento das coordenações motoras, no qual as crianças estão aprendendo a diferenciar os objetos do próprio corpo ao passo que os pensamentos das crianças estão vinculados ao concreto. Já o segundo estágio, o simbólico vai dos dois até perto dos sete anos, nesse período o pensamento da criança está centrada nela mesma, é um pensamento basicamente egocêntrico. Nesta fase que se apresenta a linguagem, como socialização da criança, que se dá por meio da fala, dos desenhos e das dramatizações. No terceiro estágio, o conceptual que vai dos sete até perto dos onze anos, a criança continua bastante egocêntrica, tendo dificuldades em se colocar 13 no lugar do outro. A predominância do pensamento está entroncada mais nas acomodações do que nas assimilações. O próximo estágio, das operações formais, vai por volta dos onze anos, até a vida adulta, é uma fase de transição, de criação de ideias e hipóteses do pensamento. A linguagem tem um papel fundamental para se comunicar. Devemos considerar alguns riscos que podem tirar o indivíduo desse curso normal do desenvolvimento motor, algumas condições biológicas ou ambientais que aumentam a probabilidade de déficits no desenvolvimento neuro- psicomotor da criança. Existem inúmeras causas para que isso aconteça, entre eles: baixo peso ao nascer, distúrbios cardiovasculares, respiratórios e neurológicos, infecções neonatais, desnutrição, nível educacional precário dos pais e prematuridade. Quanto mais fatores existem na vida do indivíduo mais será o seu comprometimento no desenvolvimento motor. Nem todas as crianças que passam por uma ou duas características dessas pode apresentar algum tipo de problema de desenvolvimento. Um desenvolvimento motor atípico não se vincula, necessariamente, à presença de alterações neurológicas ou estruturais, mesmo crianças que não apresentam sequelas graves podem apresentar comprometimento em algumas áreas de seu desenvolvimento neuro-psicomotor. Os maiores prejuízos estão ligados à memória, à coordenação visio-motora e à linguagem. A educação motora aplicada desde a Educação Infantil é preponderante para o sucesso dos alunos. Sendo fundamental a participação do professor como pesquisador, especialmente nos assuntos relacionados sobre psicomotricidade. O professor precisa estar atento e saber se a sua proposta de trabalho está de acordo com as necessidades das crianças, as quais estão sob sua responsabilidade e que caminhos deve buscar e pretende chegar. Na escola faz-se necessário trabalhar alguns aspectos do desenvolvimento motor como o equilíbrio, a lateralidade e o esquema corporal. FORMAÇÃO CONTINUADA E O PAPEL DOS DOCENTES O professor deve conhecer as etapas do desenvolvimento psicomotor da criança, características das faixas etárias, necessidades e interesses, para melhor elaborar a ação docente. É de suma importância o docente desenvolver 14 atividades sabendo para quem e para quais objetivos, e não de forma desordenada, arrolando-os como necessárias ao domínio do esquema do corpo, como se esta expressão tivesse apenas um significado. Todo o desenvolvimento psicomotor tanto de crianças ditas “normais” quanto de crianças que demonstram dificuldades requerem o auxílio constante do professor, por meio de estímulos oferecidos em sala de aula e de encaminhamentos aos profissionais em psicopedagogias, sempre que se forem necessário. O professor pode contribuir, em todos os níveis, desde a estimulação para o desenvolvimento cognitivo como para o desenvolvimento de aptidões e habilidades, na formação de atitudes, por meio de uma relação afetiva saudável e estável, criando um ambiente seguro e de bem-estar para seus alunos e, sobretudo, procurando e compreendendo os tempos, limites e potencialidades de aprendizagem das crianças. Dentro da área educacional, a psicomotricidade abrange um campo preventivo. É de suma importância formação continuada dos professores nesse aspecto. Dessa forma a educação motora irá auxiliar as crianças no processo de aprendizagem. É necessário que o educador tenha conhecimento do ritmo de desenvolvimento da criança e elabore as condições para o seu progresso contínuo. Na educação psicomotora, o professor deve ter como perspectiva de ensino inicial, mediar às ações das crianças nos aspectos: sentar, postura, aprender a ouvir, etc. Só após de atingir objetivo inicial é que a criança estará capaz de receber ordens, concentrar-se, usar a memória, executar tarefas do início ao fim. É de fato um processo lento, mas como em todas as outras áreas, o grande e principal objetivo é o de não deixar espaços entre as etapas. Para que o profissional de educação esteja preparado para os desafios da psicomotricidade no ambiente escolar junto aos seus alunos, faz-se necessário uma formação inicial, que aborde essas questões na academia na formação dos docentes. No entanto, há controvérsias em relação à formação inicial dos docentes, quando se considera o atual progresso científico e a rapidez com que as 15 mudanças ocorrem, nos diferentes campos. Dessa forma, minimizando as controvérsias a formação continuada nessa área, mostra-se relevante e poderá oferecer bases para um atendimento de qualidade. Essa busca de conhecimento deve ser oferecida nas diversas formas técnico-científico interdisciplinar e transdisciplinar. O professor deve compreender que precisa ser um pesquisador, questionador e estar sempre buscando novas informações, analisando-as e incorporando-as à sua formação inicial, dando prosseguimento para sua formação continuada. É importante destacar que, se entende como formação continuada, um processo complexo e multideterminado que ganha materialidade em múltiplos espaços e atividades, não se restringindo a cursos e ou treinamentos, e que favorece a apropriação de conhecimento, estimulando a busca de outros saberes e introduzindo uma fecunda inquietação contínua com o já formalizado. A formação continuada também acontece nas trocas de experiências com os demais educadores na unidade escolar, portanto é importante que oprofessor desenvolva habilidades de coletar, trabalhar, analisar e levantar hipóteses a respeito dos dados, encaminhando propostas para as questões encontradas a fim de discutir com o grupo da escola. A unidade escolar deve favorecer as condições, recursos, ferramentas, espaço para as discussões e debates. A disponibilidade da gestão escolar para as inovações são fatores que podem facilitar a inclusão de novas práticas em sala de aula, em decorrência de ações formadoras. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesse trabalho observa-se que o bom desenvolvimento motor contribui futuramente para o desenvolvimento não só físico, mas consequentemente afetivo e para o cognitivo das crianças. O estudo da psicomotricidade ajuda a compreender algumas alterações que podem vir a ocorrer e pode contribuir para solucionar muitos desses problemas, auxiliando o desenvolvimento holístico das pessoas. O principal objetivo da psicomotricidade é ajudar a criança a chegar a uma imagem do corpo operatório, permitindo que se desenvolva da melhor maneira 16 possível, tirando o melhor proveito de todos os seus recursos, preparando-a para as demais etapas do seu desenvolvimento humano. Observa-se se ainda, que a educação psicomotora quando trabalhada desde a educação infantil, atingirá melhores resultados, pois é nessa fase que a criança toma consciência de si, do seu corpo, das suas vontades, construindo sua personalidade, define seus pensamentos, ideias, tornando-se um ser único. Para que a psicomotricidade seja trabalhada desde a educação infantil é de grande importância que os profissionais da educação estejam em constante formação, devendo atentar-se à novas pesquisas e métodos a fim de contribuir efetivamente na aprendizagem dos seus alunos. Portanto, para que os alunos possam ter um desenvolvimento integral em todos os aspectos humanos, o professor além de dar conta da sua formação deve também, conhecer os procedimentos do desenvolvimento infantil e as funções psicomotoras, e ainda saber perceber em sala de aula, as especificidades de cada educando para que assim possa organizar, planejar suas aulas e ações, promovendo uma aprendizagem de qualidade. Dessa forma, para que a educação integral do sujeito, sobretudo de crianças as contribuições da psicomotricidade e da psicopedagogia, se fundem em um “corpo”, que busca entender integralmente um “corpo”. Por fim parafraseando a citação durante o estudo, como poderia um psicomotricista conhecer um corpo em movimento, não buscar conhecer um corpo psíquico, assim como um psicopedagogo, buscaria conhecer um corpo psíquico desvinculado de um corpo que se movimenta. REFERÊNCIAS ALVES, Azevedo Rubem. Entre A Ciência e a Sapiência, o dilema da educação; Edições. São Paulo: Loyola, 2005, p.146-147. BATTRO, Antonio M; MACEDO, Lino, Tradução. Dicionário Terminológico de Jean Piaget. São Paulo: Pioneira, 1978, p.101. BATISTA, Cecília Guarnieri. Crianças com problemas orgânicos: contribuições e riscos de prognósticos psicológicos. Educar em Revista, Curitiba, v. 23, nº jan.-jun., p. 45-63, 2004. 17 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial (SEESP). Convenção da Organização dos Estados Americanos. Brasília, 2001. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial (SEESP). Declaração de Salamanca. Brasília, 1994. CARVALHO, Rosita Edler. Temas em educação especial. 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