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ANÁLISE DE CRÉDITO E RISCO AULA 3 Prof. Cleverson Luiz Pereira 2 CONVERSA INICIAL O propósito principal desta aula é conhecer uma metodologia de avaliação de crédito. Ao utilizarmos uma sistemática de análise, poderemos buscar os dados coletados nas bases internas e externas, avaliar sua veracidade e levantar riscos inerentes ao cliente consumidor de crédito e à operação a ser contratada por ele. A sistemática que será apresenta em nossa aula será a mais utilizada pelo mercado financeiro na hora de conceder crédito, a avaliação dos Cs do crédito. Por meio dela, será possível desenhar um perfil do cliente, da operação e ainda realizar um levantamento de possíveis riscos e, de acordo com o grau, como podemos gerenciá-lo. CONTEXTUALIZANDO A probabilidade de sucesso em uma análise de crédito está no fato de seus analistas serem preparados. Quanto mais capacitados e experientes forem os analistas de crédito, maiores serão as chances de cautela na análise das operações de crédito. Nas aulas anteriores, desenvolvemos estudos de fundamentação de uma análise, pois abordamos o conceito e a prática do crédito, riscos que uma operação e um cliente tomador de crédito podem gerar quando emprestam dinheiro, descobrimos o objetivo de um crédito na atividade comercial e empresarial, coletamos e registramos dados em caráter interno (cliente) e externo (mercado) e agora é chegada a hora de analisarmos uma proposta de crédito apurando o perfil do cliente, da operação e avaliando os riscos que estaremos expostos ao conceder o valor. De acordo com Arruda, Na grande maioria das vezes a ferramenta mais utilizada para análise de crédito são os 5 Cs do crédito criado em 1972 por Weston e Brigham que é composto por: Caráter, Capacitação, Capital, Condições e Colateral. Em 2000, no Brasil, Silva acrescentou o 6º “C” que acrescentaria a análise Conglomerado. A análise Conglomerado objetiva estudar o tomador e suas unificações em grupos de outras empresas e famílias. 3 A técnica dos Cs do crédito possui variações em suas aplicações de uma instituição ou empresa para outra. Isso ocorre em virtude da política praticada por cada uma delas. Um ponto muito importante que deve ser observado em nossos estudos é o fato de que as técnicas de avaliação de crédito são aplicadas a um cenário considerado lícito, ou seja, não se espera avaliar golpistas, estelionatários, entre outros que buscam crédito com intuito de cometer crimes. Para esses malfeitores, os princípios de coleta de dados e verificação da veracidade das informações podem inibir ações criminosas deles. Portanto, a análise de crédito parte do princípio de que o tomador de crédito e o cedente possuem uma relação comercial sustentada para ocorrer a concessão de recursos monetários ou não de uma para o outro. TEMA 1 – ANÁLISE DE CRÉDITO: OBJETIVO E IMPORTÂNCIA Quando um cliente chega ao banco e deseja emprestar dinheiro, rapidamente, o atendente busca atualizar seus dados por meio de documentos comprobatórios e, na sequência, pergunta o valor de crédito necessário, o prazo para pagamento e qual a finalidade do dinheiro. Muitos questionam o motivo que os bancos perguntam sobre a finalidade do dinheiro. O motivo é parte integrante da análise do crédito, pois saber se o cliente utilizará o valor de forma útil e consciente é importante para tomar a decisão de conceder, uma vez que ele pode estar com as finanças deficitárias e, ainda assim, querer comprar um carro novo sem o momento corresponder com suas necessidades. Segundo Rodrigues (2011), Para fazer uma concessão de crédito com critérios e gestão de risco devem respeitar as seguintes etapas: - análise retrospectiva do cliente para observar comportamento; - análise de tendências da situação futura do cliente; - capacidade creditícia do cliente, levando em consideração seu comportamento passado, sua situação atual e as tendências a que estará sujeito. Em resumo, podemos dizer que a concessão de crédito é uma avaliação de informações sobre o perfil passado, atual e futuro do tomador de crédito, seja ele pessoa física ou pessoa jurídica. Os históricos exponenciais de inadimplência em qualquer instituição, seja ela financeira ou empresa, vem de encontro a falhas ou falta de observação 4 específica em uma das etapas abordadas. Isso muitas vezes se deve ao fato de busca por crescimento quantitativo e não qualitativo por parte do ofertador do crédito. A busca por resultados em um mercado competitivo levou as empresas a muitas vezes ignorar fundamentos e parâmetros para conceder crédito, buscando apenas vender, mesmo que no futuro a inadimplência possa corroer seu lucro. Para isso a importância de estruturar uma análise de crédito transparente e efetiva passou a ser necessidade básica em um mercado cada vez mais veloz em informações geradas pela tecnologia. A facilidade de levantar e armazenar dados e informações por meio da tecnologia e a busca pela qualidade na hora de conceder crédito fizeram da política creditícia no país uma verdadeira propulsora de crescimento ao Produto Interno Bruto do Brasil, assim como em outras economias do mundo. TEMA 2 – AVALIAÇÃO DE DOCUMENTOS E CRUZAMENTO DE INFORMAÇÕES Todos os dados coletados para uma análise e concessão de crédito devem vir acompanhados por documentos que comprovem a existência real dessas informações. Os bancos e as empresas possuem disponíveis para uso softwares altamente qualificados a fim de descobrir se os documentos apresentados são verdadeiros ou falsos. Para isso, é necessário tempo e recursos humanos capazes de realizarem de forma detalhada uma avaliação qualitativa nos documentos recepcionados. A maioria dos bancos e instituições financeiras atua com o conceito de crédito investigativo, isto é, avaliar toda a documentação enviada e gerar um perfil do tomador de crédito, por meio do qual as informações podem ser confirmadas e cruzadas para apresentar a uma analista um documento de proposta de crédito com dados embasados. Para termos uma noção da importância dos documentos levantados, vamos levar em consideração o caso prático apresentado a seguir. O Sr. Antunes é gerente de um banco e concedeu o valor de R$ 100 mil para a empresa JUTAS Ltda. no ano passado com o prazo de pagamento em 24 parcelas. Na etapa de coleta de dados, ele não se atentou a pedir cópias atualizadas das matrículas dos imóveis em nome da empresa conforme o cadastro inicial que a empresa tinha no banco desde agosto de 2000. Atualmente 5 a empresa JUTAS Ltda. está com 3 parcelas atrasadas do capital de giro e o banco do Sr. Antunes solicitou a ele que a cobrança seja conduzida de forma judicial. Em termos jurídicos, quanto mais provas documentadas tivermos do tomador de crédito, maior será sua responsabilidade sobre o compromisso de honrar o pagamento do crédito com o cedente. No entanto, quando foi realizada a operação, não se atentaram à atualização dos documentos dos imóveis, não avaliando documentos na base de dados e, assim, a empresa Jutas vendeu 70% de seus imóveis, sendo que os 30% restantes não cobrem o valor de dívida do capital de giro. A falha pode acarretar uma perda de crédito ou conforto de o cliente manter atrasada a operação, uma vez que o banco não atualizou suas informações e não percebeu que ele reduziu seu patrimônio. Por isso, essa fase investigativa em avaliar e cruzar informações é fundamental para reduzir possíveis perdas no futuro. Vejamos os documentos de suma importância para análise de documentos e cruzamento das informações: Documentos importantes a serem coletados na pessoa jurídica: cartão CNPJ, Contrato Social original e últimas alterações, BP (Balanço Patrimonial) e DRE (Demonstrativo de Resultados no Exercício) dos últimos 3anos, balancete dos meses mais recentes, comprovante de endereço da empresa, matrículas de imóveis, documento de veículos (CRLV), declaração mensal de faturamento dos últimos 3 anos assinados pelo contador e sócios da empresa, relação do endividamento bancário, declaração do imposto de renda da empresa do último ano. documentos particulares dos sócios: RG, CPF, comprovante de residência, declaração de imposto de renda e documentos comprobatórios dos bens imóveis e móveis. De posse desses documentos, podemos confrontar informações consultando cartórios, sites de informações sobre a idoneidade da empresa e sócios. Além disso, verificar o posicionamento estratégico de mercado, a concentração de receitas em poucos clientes, entre outros. Com isso, nosso dossiê de informações fortalecerá a decisão favorável e com segurança de um analista. 6 Documentos importantes a serem coletados na pessoa física: RG, CPF, cópia dos últimos três registros em carteira de trabalho, comprovante de renda (holerite e IRPF), comprovante de residência e de propriedades de bens. Mediante a posse desses documentos, é possível realizar o cruzamento de dados para fortalecer a responsabilidade do tomador de crédito bem como as informações prestadas por ele. TEMA 3 – CONFIRMAÇÃO DA VERACIDADE DAS INFORMAÇÕES A informação se torna a cada dia o principal instrumento para estruturar perfis do consumidor de crédito e proporcionar base de dados para armazenamento e confirmar se eles são verdadeiros. A obrigação de um banco e de uma empresa confirmar se os dados são verdadeiros quando concederem crédito a seus clientes ocorre pelo fato de que, se o tomador de crédito for um criminoso ou golpista, o sinistro da operação será de responsabilidade de quem concedeu. A política de crédito no país não pode ser afetada por falhas de instituições financeiras ou bancos, ou seja, eles são os canalizadores do crédito na economia, logo, devem ser cautelosos para não gerar crises financeiras (falta de liquidez) no sistema. Muitos criminosos se aproveitam de um pedido de concessão de crédito para praticar crimes como a lavagem de dinheiro. Por isso, os bancos seguem regras e normativos rigorosos impostos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF). Para o COAF, o crime de lavagem de dinheiro caracteriza-se por um conjunto de operações comerciais ou financeiras que buscam a incorporação na economia de cada país, de modo transitório ou permanente, de recursos, bens e valores de origem ilícita e que se desenvolvem por meio de um processo dinâmico que envolve, teoricamente, três fases independentes que, com frequência, ocorrem simultaneamente. Em março de 1998, dando continuidade a compromissos internacionais assumidos a partir da assinatura da Convenção de Viena de 1988, o Brasil aprovou a Lei de Lavagem de Dinheiro ou Lei n. 9613, de 1998. Essa lei atribuiu às pessoas físicas e jurídicas de diversos setores econômicos e financeiros maior responsabilidade na identificação de clientes e 7 manutenção de registros de todas as operações e na comunicação de operações suspeitas, sujeitando-as ainda às penalidades administrativas pelo descumprimento das obrigações. Para efeitos de regulamentação e aplicação das penas, o legislador preservou a competência dos órgãos reguladores já existentes, cabendo ao COAF a regulamentação e a supervisão dos demais setores. Em 2012, a Lei n. 9.613, de 1998, foi alterada pela Lei n. 12.683, de 2012, que trouxe importantes avanços para a prevenção e o combate à lavagem de dinheiro, tais como: a extinção do rol taxativo de crimes antecedentes, admitindo-se agora como crime antecedente da lavagem de dinheiro qualquer infração penal; a inclusão das hipóteses de alienação antecipada e outras medidas assecuratórias que garantam que os bens não sofram desvalorização ou deterioração; inclusão de novos sujeitos obrigados, tais como cartórios, profissionais que exerçam atividades de assessoria ou consultoria financeira, representantes de atletas e artistas, feiras, dentre outros; aumento do valor máximo da multa para R$ 20 milhões. Como os bancos e as instituições financeiras utilizam o cadastro como ferramenta para registrar as informações devidamente confirmadas, cabe a eles gerenciar e atualizar esses dados constantemente para inibir a ação de criminosos por meio de práticas ilícitas como a lavagem de dinheiro. Saiba Mais Para mais informação sobre o assunto, acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9613compilado.htm TEMA 4 – AVALIAÇÃO DOS RISCOS: OS CS DO CRÉDITO Uma lógica muito utilizada por Instituições Financeiras e Bancos para avaliar o risco do tomador de crédito é a aplicação da metodologia dos Cs do http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9613compilado.htm 8 crédito, sendo eles: Caráter, Capacidade, Capital, Condições, Colateral e Conglomerado. Vamos conhecer cada um deles abaixo: Caráter É demonstrado por meio da integridade e da honestidade e pode ser julgado de maneira mais precisa ao longo de vários anos de negócios com a pessoa. Na pessoa física, são avaliados comportamentos em créditos passados no que se refere a pagamentos pontuais e disciplina na geração de condições para honrar com o contratado. Já no caso das pessoas jurídicas, a linha de análise é realizada por um estudo dos sócios e administradores da empresa. A avaliação do caráter contempla as informações. São elas: • Pontualidade – disciplina no pagamento do valor contratado e, em caso de não cumprimento, verificar a razão do atraso ou não pagamento. Caso o atraso ou o não pagamento tenha ocorrido por problemas financeiros, e não por falta de caráter, também estes precisam ser considerados porque impactarão em outros "Cs". • Restrições – são considerados restrições, entre outros, os seguintes eventos: protestos, recuperação judicial/extrajudicial, falência, ações judiciais, emissão de cheques sem fundos e atraso no pagamento de impostos. • Experiência em negócios – tratando-se de cliente que já vem tomando crédito, é de grande importância considerar fatos desabonadores que eventualmente tenham marcado esse relacionamento. Além da questão da impontualidade em negócios, considere também pendências jurídicas discutindo cláusulas contratuais em negócios realizados, questionamentos sobre taxas de juros, entre outros. • Atuação na praça – o histórico da empresa, sua tradição no ramo do negócio e formas de relacionamento com a comunidade, o respeito ao consumidor e a condução dos negócios de forma ética são itens importantes para a formação do conceito sobre caráter. 9 Capacidade Os empréstimos e financiamentos são pagos com o caixa gerado pelos clientes. A capacidade demonstra a geração de receitas pela pessoa física ou jurídica capazes de promover a sobra necessária para liquidar os compromissos de crédito firmados junto aos cedentes. A capacidade refere-se aos fatores internos, tais como, de acordo com Bisneto: habilidade, competência empresarial do indivíduo ou do grupo de indivíduos, potencial de produção, administração e comercialização da empresa. Quanto à habilidade administrativa ou técnica do pessoal à disposição da empresa, pode-se analisar o currículo de seus administradores, objetivando identificar se são conhecedores do ramo em que atuam. Como visto o “C” de Capacidade refere-se à competência do cliente e constitui-se num dos aspectos mais difíceis de serem avaliados, dada a sua abrangência. A capacidade integra o risco subjetivo, sendo que a responsabilidade pela verificação é do profissional que está em contato direto com o cliente. É considerada como aspecto subjetivo do risco, uma vez que os resultados obtidos estão muito mais ligados à percepção de quem analisa do que com dados e informaçõespropriamente ditos Verifique os pontos fundamentais a serem levantados em uma visita in loco ao tomador de crédito. Estratégia empresarial É necessário conhecer a missão ou as metas a que se propõe a empresa com relação ao seu negócio, que podem ser: • aumentar a fatia do mercado; • proteger a fatia de mercado e a posição competitiva de negócio; • maximizar os ganhos e o fluxo de caixa; • obter vantagem competitiva em relação aos seus concorrentes. Organização e funcionamento A atuação deve estar voltada à gerência e à gestão do negócio. Para tanto, devem ser verificados os seguintes itens: • Condições gerais das instalações e equipamentos, tais como obsolescência, uso eficiente e ociosidade. • Organização e limpeza da fábrica e do escritório. • Observar se os funcionários estão comprometidos, preparados e se dão um bom atendimento aos clientes. 10 • Tempo que a empresa está atuando e qual a sua imagem no mercado. • Tipo de produto ou serviço que a empresa produz ou vende e se são de primeira necessidade ou não. • Se existe algum projeto de expansão ou melhoria da empresa em andamento ou futuro. • No caso de comércio, verificar o tipo, a qualidade e a disposição da mercadoria. Capacitação dos dirigentes O primeiro passo é identificar os dirigentes, saber quem são, quais as suas atribuições, competências e alçadas (esses dados constam no contrato social ou estatuto e atas da empresa). A partir da correta identificação, podemos avaliar seus conhecimentos e experiências. Para isso, é preciso saber: • se a formação técnica e/ou acadêmica é compatível com a função que exercem; • se conhecem a atividade que estão administrando e há quanto tempo atuam; • se forem administradores profissionais, verificar sua procedência, empresas em que atuaram e suas experiências anteriores (sucessos e fracassos); • se for administração familiar, verificar a idade do principal dirigente, se há sucessores e quais as suas competências para assumir a empresa; • verificar quais as expectativas dos dirigentes para a empresa nos próximos anos. Condições O “C” de Condições estuda exatamente o fator condicionamento, ou seja, o que pode ocorrer no ambiente externo à empresa ou a profissão de uma pessoa física que pode gerar incertezas, tais como: • fatores ligados à atividade e à concorrência; • fenômenos naturais e imprevisíveis (enchentes, secas, geadas etc.). Para fazer uma análise adequada, é necessário obter informações sobre os seguintes aspectos, presentes em Clóvis: 11 • Informações sobre o mercado e os produtos; • Ambiente macroeconômico e setorial; • Ambiente competitivo e • Dependência do governo Informações sobre o mercado e os produtos O relatório de visitas in loco deve indicar os principais clientes e fornecedores, a concentração de vendas e de compras, os principais concorrentes e a participação no mercado. Além disso, esse relatório deve indicar: • os produtos ou serviços produzidos e comercializados; • os canais de distribuição; • as vendas mensais durante o ano; • os dados sobre o mercado, o seu tamanho, as taxas de crescimento etc. Ambiente macroeconômico e setorial Afeta indiretamente uma série de outras empresas, pois os reflexos da política cambial ou da taxa de câmbio muitas vezes atingem o mercado como um todo. A política monetária, ou seja, a taxa de juros e as demais condições de crédito (prazos e contingenciamento) atingem todas as empresas em diferentes proporções, mais fortemente aquelas que forem muito dependentes de capital de terceiros, porém afeta também as vendas. A falta de financiamento ou o financiamento muito caro inibe os consumidores, e a consequência é a queda do faturamento. No que se refere ao ambiente setorial, é preciso perceber como os diversos setores respondem às medidas de política econômica. Verifique na sua região de atuação quais são os setores preponderantes e observe quais os aspectos favoráveis e desfavoráveis e se estão em expansão ou em recessão. Além da avaliação dos riscos relativos ao setor em que a empresa atua, a questão da sazonalidade do produto e da moda deve estar presente, sobretudo, na análise da oportunidade (época) do crédito. É normal, por exemplo, a empresa demandar crédito nos picos de demanda ou de preparação dela, principalmente na formação de estoque. 12 Contudo, em fim de estação ou na baixa do período de sazonalidade, o normal é a liquidação dos compromissos e a aplicação das sobras financeiras. Ambiente Competitivo Para avaliação do risco do ambiente competitivo, devem ser levados em conta os seguintes aspectos: • a concorrência entre as empresas; • o poder de barganha dos fornecedores; • o poder de barganha dos compradores; • a ameaça de entrada de novas empresas no setor e • a ameaça de novos produtos e serviços. Com relação à concorrência, a avaliação envolve o conhecimento dos principais concorrentes da empresa e seu tamanho relativo, de taxa de crescimento do setor e da disputa em termos de preços dos produtos. O poder de barganha dos fornecedores deve ser examinado sob a ótica: • da quantidade de empresas fornecedoras; • da facilidade de substituição dos produtos; • da importância do cliente junto aos fornecedores e • da ameaça de o próprio fornecedor entrar no negócio. Os riscos crescem na medida em que o fornecimento do produto ou insumo está concentrado em um número pequeno de empresas, em que é difícil encontrar produtos ou insumos substitutos e em que as empresas (clientes) não sejam importantes para os fornecedores e exista tendência de os próprios fornecedores entrarem no negócio. Em um ambiente competitivo, o poder de barganha dos compradores/clientes está relacionado com a distribuição das vendas: • pelo número de clientes; • pela padronização do produto; • pela facilidade que os consumidores têm em mudar de fornecedor; • pela essencialidade do produto e • pelo grau de informação que os consumidores têm sobre os preços e custos de produção do produto. 13 O risco de crédito cresce à medida que: • exista maior concentração das vendas do cliente em poucos compradores; • seja elevado o grau de padronização dos produtos comercializados; • haja facilidade para os consumidores de trocar de fornecedor; • os produtos não são essenciais na vida dos consumidores e • os produtos comercializados têm seus custos e preços conhecidos pelos compradores. A possibilidade de entrada de novos concorrentes está relacionada com: • a escala de produção/vendas; • a questão das marcas dos produtos e fidelidade do consumidor; • o montante de investimentos necessários para viabilizar o negócio; • a flexibilidade dos canais de distribuição; • o grau de tecnologia envolvido; • a eficiência das empresas estabelecidas no ramo e • as exigências feitas pelo governo que limitam a entrada de novas empresas no setor. Segundo Preisler, Os riscos aumentam na medida em que a escala de produção seja pequena, que não haja ou que seja reduzida a fidelidade do consumidor, que os investimentos necessários não sejam muito elevados, que os canais de distribuição sejam de baixa complexidade quanto à operacionalização, que seja de fácil acesso o fator tecnológico envolvido, que a experiência na produção/comercialização não seja fator determinante de sucesso do negócio e que não haja proteção do governo sobre o setor. A questão dos produtos substitutos deve ser analisada sob a ótica de que a competição setorial não está limitada às empresas existentes e abrange outras que possam fabricar/comercializar produtos substitutos. Os riscos de crédito aumentam na medida em que os produtos comercializados/fabricados pelas empresas tenham outros substitutos no mercado. A dependência de vendas a órgãos do governo traduz-se em fator de risco relevantena avaliação de crédito, tendo em vista as peculiaridades e oscilações da administração pública. Capital O Capital representa a quantificação dos recursos materiais e monetários que a empresa ou pessoa física possuem. As principais fontes para avaliação do capital são: 14 • os demonstrativos contábeis; • a declaração do Imposto de Renda. Quando falamos de Demonstrativos Contábeis, estamos nos referindo ao Balanço ou Balancete e à Demonstração de Resultados. No caso de empresas menores nas quais não há balanço, com certeza possuem alguns tipos de relatórios de controle contábil tais como: relação de bens, relatório de contas a pagar e a receber, entradas e saídas de estoques, fluxo de caixa etc. Muito embora alguns desses controles não sejam oficiais, trazem informações riquíssimas para apuração da situação financeira do cliente. Enquanto registros contábeis, os balanços trazem informações valiosas, que serão básicas para a concessão de crédito, observadas as atividades de cada uma das empresas. Conglomerado Nas palavras de Bisneto, O “C” de Conglomerado refere-se ao grupo econômico. A análise do conglomerado sugere não apenas o exame de uma empresa específica que esteja pleiteando crédito, mas a análise do conjunto de empresas no qual a pleiteante do crédito esteja inserida. O conceito do referido C parte do pressuposto de que não é válida a análise individual de uma pessoa física ou jurídica quando esta faz parte ou está ligada a outras pessoas físicas ou empresas. Colateral Refere-se à capacidade do cliente em oferecer garantias. A garantia possui a função de materializar um recebimento futuro em caso de não pagamento. Segundo Bisneto, “A garantia é um elemento acessório da operação de crédito, que visa melhor assegurar o cumprimento das obrigações assumidas pelo devedor”. Alguns fatores relevantes que devem ser considerados na definição da garantia são: • o risco representado pelo cliente e pela operação; • a praticidade na sua constituição; 15 • os custos incorridos para sua constituição; • o valor da garantia em relação ao valor da dívida, que deve ser suficiente para cobrir o principal mais os encargos; • a liquidez, ou seja, a facilidade com que a garantia pode ser convertida em dinheiro; • o controle do tomador de crédito sobre a própria garantia. O “C” de Colateral deve ser incorporado à análise de operação após a análise dos outros “Cs” e a apuração do risco que o cliente oferece. Assim, quanto maior for o risco do cliente, maior deverá ser o cuidado na definição e escolha da garantia. TEMA 5 – RISCO DO CLIENTE E DA OPERAÇÃO Como já definimos na aula 01, risco de crédito é a probabilidade do não cumprimento de pagamento por parte do tomador de crédito ao cedente, e o risco é avaliado por meio do cliente e da operação. Vamos relembrar: O Risco do Cliente é o fator ligado diretamente à exposição em que o cedente do crédito se encontra em relação ao tomador. Por isso, é importante o levantamento das informações para localizar o grau de risco de um cliente. Como já conhecemos os Cs do crédito, vamos apontar o risco do cliente por meio de uma avaliação dos Cs do crédito. Neste caso, cada um dos Cs é classificado, de forma individual, em forte ou fraco. A partir de forte ou fraco, ele é classificado em uma escala de 1 a 4. Logo, temos: • Grau 1: se todos os Cs forem fortes, o risco será excelente; • Grau 2: se muitos Cs forem fortes e poucos fracos, o risco será razoável; • Grau 3: se poucos Cs forem fortes e muitos fracos, o risco será duvidoso; • Grau 4: se todos os Cs forem fracos e poucos fracos, o risco será alto. Vale lembrar que o C do Colateral não entra na classificação do risco do cliente, e, sim, no risco da operação, conforme veremos a seguir. O Risco da operação está fundamentado em dois pontos importantes, sendo o primeiro o objetivo do tomador com o crédito, ou seja, para qual finalidade está tomando o valor e o segundo é a formalização da garantia a ser 16 disponibilizada à operação. A garantia é muito importante na estruturação de operações sempre que o risco do cliente for elevado, quando o prazo da operação for longo ou quando a incerteza aumentar. Após recordar o estudo da aula 01 e conhecer os conceitos e práticas de avaliação de riscos, por meio dos Cs do crédito, podemos a partir de agora construir uma proposta de crédito para ser analisada com fundamentos e parâmetros que asseguram ao analista um bom cenário quanto à exposição de riscos. Leitura obrigatória Realizar leitura do capítulo 2, do arquivo em PDF, referente a uma dissertação de mestrado que aborda a gestão do risco de crédito: análise dos impactos da resolução 2682, do conselho monetário nacional, na transparência do risco de carteira de empréstimos dos bancos comerciais brasileiros, disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/3995/000305 726.pdf?sequence=1 Saiba mais A lei da prevenção à lavagem de dinheiro e a lei da segurança da informação são importantíssimas para proteger os bancos e instituições financeiras contra possíveis criminosos que tentam agir constantemente nelas. Proteger a informação dada pelo cliente e verificar se ela é de origem lícita são funções básicas das duas leis que devem ser seguidas para conceder crédito. Para saber, assista aos vídeos que falam sobre a conjuntura econômica do país, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=aM0-X2J7HiMh TROCANDO IDEIAS Após estudarmos metade do nosso conteúdo em Análise de Crédito e Risco, começamos a desenhar uma sequência fundamental para o processo completo de concessão de crédito. http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/3995/000305726.pdf?sequence=1 http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/3995/000305726.pdf?sequence=1 https://www.youtube.com/watch?v=aM0-X2J7HiMh 17 Primeiro estudamos o conceito de crédito e construímos a ideia de que ele está diretamente ligado à confiança. Logo, para gerar confiança, é necessário apontar os riscos existentes. Segundo, para encontrarmos os riscos, precisamos avaliar o cliente e a operação. Para conhecer o perfil de um cliente, é necessário fazer uma coleta de seus dados e confirmar sua veracidade. E, em terceiro, conhecemos a avaliação de riscos utilizando os Cs do crédito, conforme estudamos nesta aula. NA PRÁTICA Vamos conhecer o caso da empresa DYTZ empreendimentos que possui um faturamento condizente com a parcela que vai assumir no financiamento de construção que pegará junto ao banco. Logo, ela está enquadrada em qual C da análise de crédito? Resposta: A resolução para a questão acima está concentrada na variável faturamento, que afirma no enunciado que a empresa possui potencial de geração de caixa. Logo, o C do crédito em que ela está enquadrada é o da capacidade. SÍNTESE Em resumo, vimos que é importante definir o objetivo que o tomador de crédito está contratando à operação e levantar todos os dados sobre sua pessoa, seja física ou jurídica, confirmando a veracidade das informações. De posse de informações confiáveis, passamos para a primeira etapa de avaliação do crédito, que é a análise de riscos por meio da aplicação dos Cs do crédito. A metodologia dos Cs do crédito apresenta um critério de avaliação de grau de risco de 1 a 4 capaz de demonstrar claramente o risco a que estaremos expostos no caso de liberar o crédito para o tomador. 18 REFERÊNCIAS AMARAL, L. Lavagem de dinheiro. Disponível em: <http://www.coaf.fazenda.gov.br/menu/pld-ft/sobre-a-lavagem-de-dinheiro>. Acesso em: 16 out. 2016. ARRUDA, B. Gestão do risco de crédito. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/academico/gestao-no-risco-de- credito/98458/>. Acesso em: 9 out2016. BISNETO, J. C. P. Análise de crédito: ferramentas e critérios para sua concessão/deferimento. Disponível em: <http://tcc.bu.ufsc.br/Contabeis291340>. Acesso em: 9 out. 2016. BRASIL. Lei 9.613, de 3 de março de 1998. Lei de crime de lavagem de dinheiro. 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Disponível em: <http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bd s.nsf/6791375CF782DC23832573D90041DBD9/$File/NT0003748E.pdf>. Acesso em: 13 out. 2016. SILVA, J. P. da. Gestão e análise de riscos de crédito. São Paulo: Atlas, 2000.
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