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A ESCOLA E OS CAMINHOS DA INTERVENÇÃO Belo Horizonte Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 SUMÁRIO Conceito geral de aprendizagem ................................................................................. 3 Aprendizagem significativa: ......................................................................................... 3 É possível medir o nível de aprendizagem? ................................................................ 4 Curva representativa de aprendizagem: ..................................................................... 4 Ensino X Instrução: ..................................................................................................... 4 A aprendizagem e a Psicologia da Educação – Aprendizagens Informal e Formal: .... 5 Modelos de ensino formal: .......................................................................................... 5 Domínios da Aprendizagem: ....................................................................................... 6 Princípios da Aprendizagem: ....................................................................................... 7 Fatores da aprendizagem: .......................................................................................... 7 Fatores que influenciam na aprendizagem: ................................................................ 9 O professor e o processo de ensino-aprendizagem: ................................................. 12 A atenção ao professor como espaço de intervenção ............................................... 13 A intervenção psicossocial ........................................................................................ 16 Interfaces entre a Psicologia e a educação ............................................................... 19 NA INTERFACE COM A PSICOPEDAGOGIA ........................................................... 23 Crianças se veem divididas entre duas realidades distintas ..................................... 23 DIFERENCIAÇÃO ENTRE A INTERVENÇÃO EDUCATIVA E A INTERVENÇÃO DA PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO ................................................................................. 26 Referências ............................................................................................................... 29 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Conceito geral de aprendizagem Aprendizagem é a aquisição de novos comportamentos, que são incorporados ao repertório individual de cada pessoa, que deverá apresentar, desse modo, capacidades e habilidades não existentes anteriormente. Além de adquirir comportamentos novos, por meio da aprendizagem, uma pessoa poderá também modificar comportamentos anteriormente adquiridos (ROCHA). Aprendizagem é o resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo já maturo, que se expressa, diante de uma situação-problema, sob a forma de uma mudança de comportamento em função da experiência; envolve os hábitos que formamos os aspectos de nossa vida afetiva e a assimilação de valores culturais, além dos fenômenos que ocorrem na escola. (JOSÉ; COELHO) “A aprendizagem é parte de um processo social de comunicação – a educação” – e apresenta os seguintes elementos: Comunicador ou emissor – professor, enquanto transmissor de informações ou agente do conhecimento. O comunicador tem uma participação ativa no processo educativo, devendo estar motivado e ter pleno conhecimento da mensagem que irá transmitir a seus alunos; Mensagem – conteúdo educativo, conhecimentos e informações a serem transmitidas. A mensagem deve ser adequada, clara e precisa para ser bem entendida; Receptor da mensagem – aluno. O receptor não tem um papel passivo; deve ser um construtor crítico dos conhecimentos e informações que lhe são transmitidos; Meio ambiente – meio escolar, familiar e social, onde se efetiva o processo de ensino-aprendizagem. O meio ambiente deve ser estimulador da aprendizagem e propício ao bom desenvolvimento do processo educativo (DROUET). Aprendizagem significativa: É interessante destacar que não basta apenas ‘ensinar’; é preciso oportunizar aos nossos educandos uma aprendizagem significativa. Ou seja, para que a aprendizagem provoque uma efetiva mudança de comportamento e amplie cada vez mais o potencial do educando, é necessário que ele perceba a relação entre o que Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 está aprendendo e a sua vida, sendo capaz de reconhecer as situações em que aplicará o novo conhecimento. “Uma aprendizagem mecânica, que não vai além da simples retenção, não tem significado nenhum” (JOSÉ; COELHO). É possível medir o nível de aprendizagem? Como a aprendizagem se concretiza em termos de comportamento, para avaliar o que alguém aprendeu é preciso observar o seu desempenho. Essa é a concepção das escolas mais tradicionais, onde a ‘prova’ era a única capaz de verificar o aprendizado, inferindo sobre sua ocorrência. Mas será essa a melhor e mais fidedigna maneira de verificar o aprendizado? Atualmente, têm-se realizado importantes mudanças no modo de pensar em relação à aprendizagem escolar, tendo como resultados esforços para combinar várias interpretações. A prova já não parece mais tão fidedigna assim, pois ela pode representar uma mudança temporária de comportamento e não uma mudança duradoura. Curva representativa de aprendizagem: Estamos permanentemente em estado de aprendizagem. O declínio da curva se dá porque começa a haver um enfraquecimento neuro-hormonal no indivíduo. Devido a esse enfraquecimento alguns envelhecem mais cedo, enquanto outros permanecem perfeitamente lúcidos até uma idade muito avançada. Ensino X Instrução: Ensinar – fazer com que as pessoas aprendam; fazer com que outros saibam, adquiram conhecimentos ou mudem atitudes. A aprendizagem é seu produto final; Instruir – manipular deliberadamente o ambiente de outros, para torná-lo capaz de aprender, sob condições específicas (aprendizagem escolar). Esse é um conceito ultrapassado. Dessa diferença entre ensinar e instruir pode-se dizer que existem dois tipos de aprendizagem: informal e formal. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 A aprendizagem e a Psicologia da Educação – Aprendizagens Informal e Formal: Aprendizagem Formal – processo que é direcionado, orientado e previamente planejado e organizado (sala de aula); advém da instrução; Aprendizagem Informal – processo que é de natureza incidental, não dirigido, e carente de controle. Resulta da experiência no ambiente de vida (fora da escola); advém do ensino. A Psicologia da Educação exerce seu papel mais relacionado à aprendizagem formal. Modelos de ensino formal: Um modelo de ensino formal inclui um conjunto de procedimentos para que o ensino se realize. Pode resumir-se em seus componentes fundamentais: professor, aluno e conteúdo. Existem quatro modelos básicos: Modelo clássico – ênfase dada no professor, enquanto um transmissor de conteúdo. A educação consiste em transmissão de ideias selecionadas, organizadas e não de acordo com o interesse do aluno. O aluno é apenas um recipiente passivo; Modelo tecnológico – ênfase na educação como transmissora de conteúdos; o conteúdo é o centro do processo. O aluno é um recipiente de informações. A educação se preocupa com aspectos observáveis e mensuráveis e o professor é o responsável por essa concretização; Modelo personalizado – ênfase no aluno. O ensino se processa em função do desenvolvimento e interesse dos alunos. A educação é um processo progressivo e o professor oferece assistência ao aluno, enquanto um facilitador da aprendizagem; Modelo interacional – apresentaum equilíbrio entre os componentes do modelo. O professor cria um clima de diálogo e troca experiências e valores com seus alunos. O conteúdo consiste na análise crítica de problemas reais e sociais. O aluno é ativo em sua aprendizagem. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Domínios da Aprendizagem: A aprendizagem abrange três domínios fundamentais: intelectual ou cognitivo; afetivo- social; sensório-psiconeurológico. Domínio intelectual ou cognitivo (inteligência humana) A inteligência e a idade mental (e não a cronológica) são domínios decisivos à aprendizagem humana. Inteligência: capacidade de interagir com o meio ambiente e adaptar-se a ele; desenvolve-se por meio de fases, ao longo da vida, que se sucede em uma mesma ordem, mas devido às diferenças individuais, podem ser alcançadas em idades diferentes para cada pessoa, dependendo do ritmo de desenvolvimento. Domínio afetivo-social (emoções, sentimentos e aspectos psicossociais) As pessoas são todas diferentes e únicas. As diferenças são determinadas pelas influências genéticas, bioquímicas de seu próprio organismo e por estímulos do ambiente em que vivem, bem como pela interação de todas as experiências sociais que tiveram desde o nascimento. A personalidade de cada indivíduo vai se formando, se desenvolvendo; portanto, o aluno que chega à escola ou universidade já possui sua personalidade bem definida. As características psicológicas momentâneas, tais como o humor, as emoções e os sentimentos, também são domínios fundamentais à aprendizagem humana. Da mesma forma, certo amadurecimento social (relacionamento interpessoal e intrapessoal) é elemento igualmente importante nesse processo de ensino- aprendizagem. O sensório-psiconeurológico (sensações, desenvolvimento neuropsicológico e maturação neurológica). A integração das funções neuropsicológicas é fundamental à aprendizagem. Para tanto, a estimulação é comprovadamente importante, já que crianças que viveram seus primeiros anos de vida em ambientes pobres de estímulos sofreram danos graves de desenvolvimento, principalmente em seus elementos sensoriais Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 (audição, visão, tato, gustação, olfato), neurológicos (maturação neurológica), psicomotores (esquema corporal, lateralidade, equilíbrio) e linguísticos (fala). Princípios da Aprendizagem: 1º princípio: “universalidade” – a aprendizagem é coextensiva à própria vida, ocorre durante todo o desenvolvimento do indivíduo. Na vida humana a aprendizagem se inicia antes do nascimento e se prolonga até a morte; 2º princípio: a aprendizagem é um processo constante e contínuo; 3º princípio: “gradatividade” – a aprendizagem é gradual, isto é, aprende- se pouco a pouco; 4º princípio: “processo pessoal/individual” – cada indivíduo tem seu ritmo próprio de aprendizagem (ritmo biológico) que, aliado ao seu esquema próprio de ação, irá constituir sua individualidade. Por isso, tem fundo genético e também ambiental, dependendo de vários fatores: dos esquemas de ação inatos do indivíduo; do estágio de maturação de seu sistema nervoso; de seu tipo psicológico constitucional (introvertido ou extrovertido); de seu grau de envolvimento; além das questões ambientais; 5º princípio: “processo cumulativo” – as novas aprendizagens do indivíduo dependem de suas experiências anteriores. As primeiras aprendizagens servem de pré-requisitos para as subsequentes. Cada nova aprendizagem vai se juntar ao repertório de conhecimentos e de experiências que o indivíduo já possui indo construir sua bagagem cultural; 6º princípio: “processo integrativo e dinâmico” – esse processo de acumulação de conhecimentos não é estático. A cada nova aprendizagem o indivíduo reorganiza suas ideias, estabelece relações entre as aprendizagens, faz juízos de valor. Fatores da aprendizagem: Saúde física e mental – para que seja capaz de aprender, a pessoa deve apresentar um bom estado físico geral; deve estar gozando de boa saúde, com seu Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 sistema nervoso e todos os órgãos dos sentidos. As perturbações na área física, como na sensorial e na área nervosa poderão constituir-se em distúrbios da aprendizagem. Febre, dores de cabeça, disritmias (ausências mentais) são exemplos disso; Motivação – é o fator de querer aprender; o interesse é a mola propulsora da aprendizagem. O indivíduo pode querer aprender por vários motivos: para satisfazer a sua necessidade biológica de exercício físico e liberar energia; por ser estimulada pelos órgãos dos sentidos, por meio de cores alegres; por sentir-se inteligente e bem consigo mesmo ao resolver uma atividade mental; por sentir necessidade de conquistar uma boa classificação na escola (status social e pessoal, admiração); Prévio domínio – domínio de certos conhecimentos, habilidades e experiências anteriores, possuindo relativa vantagem em relação aos que não o possuem; Maturação – é o processo de diferenciações estruturais e funcionais do organismo, levando a padrões específicos de comportamento. a maturação neurológica se dá por etapas sucessivas e na mesma sequência (leis céfalo-caudal e próximo-distal). A maturação cria condições à aprendizagem, havendo uma interação entre ambas; Inteligência – capacidade para assimilar e compreender informações e conhecimentos; para estabelecer relações entre vários desses conhecimentos; para criar e inventar coisas novas, com base nas já conhecidas; para raciocinar com lógica na resolução de problemas; Concentração e atenção – Capacidade de fixar-se em um assunto/tarefa. Desta capacidade dependerá a facilidade maior ou menor para aprender; Memória – a retenção da aprendizagem é aspecto essencial à aprendizagem, pois quando a pessoa precisar de um conhecimento, ela deverá ser capaz de resgatá-lo da memória, usando os conhecimentos anteriormente adquiridos. No entanto, quem aprende está sujeito a esquecer o que aprendeu. O esquecimento se dá por vários motivos: pela fragilidade ou deficiência na aprendizagem, causada por estudo ineficiente, falta de atenção; pela tentativa de evocação do fato Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 memorizado por meio de um critério diferente do usado na fixação da aprendizagem; pelo desuso das informações; por um componente emocional que não permite a memorização da informação ou a ‘esconde’ no subconsciente. Fatores que influenciam na aprendizagem: A aprendizagem é produto de uma interação complexa e contínua entre hereditariedade e o meio ambiente. Esse processo pode ser influenciado tanto na vida pré-natal como na vida pós-natal. As causas podem ser inúmeras: químicas, físicas, imunológicas, infecciosas, familiar, afetivas e socioeconômicas. Fatores genéticos ou herança: Os elementos hereditários que influenciam na aprendizagem são chamados de fatores genéticos e encontram-se na inscrição do programa biológico da pessoa – herança. Está presente em toda parte: determina o grau de sensibilidade dos órgãos efetores aos estímulos indutores; condiciona o aparecimento de doenças familiares capazes de prejudicar a aprendizagem (insônia, depressão, síndrome de down, asma) e ainda pode indiretamente intervir nos fatores ambientais, garantindo maior ou menor resistência do organismo aos agravos do meio. Fatores neuroendócrinos: O hipotálamo é destacado como o local controlador do sistema endócrino. Podemos considerar o hipotálamo como um centro integrador de mensagens, controlando a função da glândula hipófise na produção e liberação dos hormônios de todas as glândulas do organismo e possibilitando à criança explorar seu potencial genético, de desenvolvimento e de aprendizagem. Neuro-HormônioAdenocorticotrófico (ACTH): é liberado pelo hipotálamo; sua secreção acompanha um ritmo circadiano gerado por um ritmo cerebral intrínseco, ligado a alteração de luz (dia e noite), sono, estresse físico e emocional. Fatores ambientais O meio ambiente no qual a pessoa está inserida exerce influências particularmente poderosas, contribuindo positivamente para a realização do plano Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 genético; ou negativamente, apresentando obstáculos. O ambiente compreende tanto condições da vida material, estando em primeiro lugar a alimentação e sua utilização (nutrição), quanto pelo ambiente físico (socioeconômico, estilo de vida) e o ambiente familiar e cultural, cujo elemento fundamental é constituído pela relação afetiva primária e o estímulo materno. Na interação da hereditariedade e do meio ambiente, quando o meio é normal e favorável pode-se calcular que 80% a 90 % da variabilidade natural da espécie humana, nos limites da normalidade, se realizam segundo o programa genético pré- determinado, entretanto, quando o meio é desfavorável e heterogêneo, a hereditariedade pode cair a 60%. Nutrição Em relação à alimentação, o leite é a nutrição natural inicial para todos, e a qualidade desse leite tem condições para satisfazer o potencial genético ao crescimento e à aprendizagem. A alimentação saudável é a balanceada, com proteína suficiente, além da presença de hidratos de carbono, gorduras, sais minerais e vitaminas. É preciso ter presente que só o crescimento consome 40% das calorias fornecidas à criança. Deve-se fornecer energia à criança para atender às necessidades de metabolismo basal; ação dinâmico-específica dos alimentos; perda calórica pelos excretos; atividade muscular; crescimento. Para que a aprendizagem também seja beneficiada, a nutrição do indivíduo deve ser balanceada e saudável. Essa energia é, então, transmitida por meio dos macronutrientes: vitaminas; proteínas; hidratos do carbono; sais minerais; gorduras. Dois aspectos relacionados à alimentação que exercem influências: A superalimentação – aceleração e envelhecimento precoce do crescimento; A subalimentação – quando é global (fornecimento calórico abaixo de 1/3), o crescimento é bloqueado de forma completa. Quando a sobrevida é possível, se traduz pelo aspecto clínico de marasmo. Quando se refere especificamente sobre Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 a proteína, continuando o fornecimento calórico global tolerável, o crescimento estatural é bloqueado – desnutrição proteica. Variáveis sócio-econômico-culturais As variáveis socioeconômicas exercem importante influência: renda per capita, a idade dos pais, o tamanho da família, condições de habitação e saneamento, escolaridade, higiene; cultura dos pais (influencia na alimentação da criança). Dada a melhoria nas condições de vida – tais como a urbanização, melhoria nos cuidados médicos, maior ingestão alimentar de nutrientes, vestuário menos restritivo, entre outros fatores –, existe uma forte tendência para que as crianças das gerações que nos sucedem alcancem uma maturação mais cedo. Essa tendência de aceleração secular pode ser vista nos estudos de Monteiro (1996), que demonstram que as crianças brasileiras estão maturando cada vez mais cedo, em todas as classes sociais, onde as regiões Sul e Sudeste do país são as que mais crescem. Família e os fatores psicossociais: Outro aspecto importante, diz respeito ao ambiente familiar, que comporta elementos diversos, de ordem psicológica particular, mas também de ordem cultural segundo o nível intelectual, os conhecimentos adquiridos por intermédio dos pais, a herança dos costumes, etc. Acima de tudo, intervém a relação afetiva precoce da mãe com a criança desde os primeiros instantes da vida. A qualidade dessa ligação afetiva condiciona em grande parte o relacionamento da mãe e, consequentemente, a qualidade de sua conduta com a alimentação, proteção física, estímulo psíquico e cultural da criança. A carência afetiva consiste na falta de carinho e de solicitação afetiva materna, perturbando ou mesmo impedindo o vínculo mãe e filho, determinando o aparecimento de uma síndrome complexa com reflexos no seu desenvolvimento neuropsicomotor, no crescimento e no estado emocional, e por consequência, na aprendizagem. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 O professor e o processo de ensino-aprendizagem: Quando inserido no processo de ensino-aprendizagem (sala de aula), o professor poderá vir a assumir vários papéis sociais. A Psicologia da Educação, após longos anos de pesquisa a respeito desse assunto, identificou alguns papéis claros, assumidos por professores em seu trabalho diário junto a uma classe de alunos. Grupo de papéis negativos: Bode expiatório – sente-se alvo de hostilidades, recusado por seus alunos; perde sua estabilidade emocional. Requer uma grande dose de segurança interior para aceitar essa situação e ainda permanecer no posto. Esse professor poderá ter dois tipos de comportamento: a contra-hostilidade e a necessidade de constante submissão, para com a vontade de seus alunos para ser aceito; Inspetor e disciplinador – sente-se o distribuidor e o executor da justiça; valoriza desempenhos, classifica alunos, promove-os e rebaixa-os. É o grande responsável pela conduta em sala de aula, faz o papel de inspetor. Julga o certo e o errado, administrando recompensas e punições. Grupo de papéis autoritários: Substituto da autoridade paterna – assume o papel de orientador dos alunos, orientando a todos de igual maneira. Não é nem paternalista demais, nem rígido demais. Mantém um bom e equilibrado nível de relações afetuosas com todos; Fonte de informações – sua função é transferir conhecimentos para os alunos; é aquele que sabe. Orienta-se em termos acadêmicos em sua abordagem. Forja uma concepção passiva do aluno quando se vê como o único que sabe tudo; Líder de grupo – professor que se coloca como líder. Pode assumir a liderança do grupo de duas formas: autocrática ou democrática, ambas envolvem o sistema de status no grupo; Cidadão modelo – sua função vai além de transmitir conhecimentos; coloca-se como mentor moral, ético, social e político de seus alunos. Dá sempre bom exemplo de comportamento social, utilizando-o para ensinar. Não separa sua vida Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 privada da profissional. Grupo de papéis de proteção: Terapeuta – é um orientador e higienista mental do grupo; responsável pela prevenção e ajustamento de problemas, além de promotor de um meio favorável à aprendizagem; aceita as diferenças e promove aulas com atmosfera de aceitação emocional. Acredita que a experiência pessoal e todos os aspectos da vida afetam a aprendizagem; Amigo e confidente – é amigo e caloroso, convidando a todos a confidências e a participar das dificuldades do grupo. Leva tudo ao plano da amizade pessoal. É acessível e compreensivo, deixando o aluno contar suas dificuldades e problemas em um meio neutro. O excesso ocorre quando o professor usufrui satisfação primária à resposta afetiva do aluno para com ele. Gera-se um conflito entre o papel de professor e de amigos. A atenção ao professor como espaço de intervenção O professor é considerado o principal agente do processo educacional, co- participante e mediador da intervenção junto às dificuldades escolares, de forma que em virtude deste importante papel diversas propostas de formação continuada são elaboradas com vistas a promover o desenvolvimento profissional dos professores. Os inúmeros esforços nesse sentido sustentam-se sobre a intenção de que os docentes estejam cada vez mais cientes das possibilidadese estratégias de trabalho que podem adotar em prol do desenvolvimento e da aprendizagem de seus alunos. Contudo, a qualidade da atividade desses profissionais depende, também, do seu bem-estar, de forma que ao psicólogo escolar cabe, do mesmo modo, responsabilizar- se pela promoção da saúde mental dos docentes. Por esse motivo, ao se trabalhar junto com os professores é preciso levar em conta diferentes questões que dificultam a atuação adequada destes profissionais, refletindo e discutindo sobre alguns aspectos que afetam a saúde e a qualidade de vida do professor e da sua profissão. Um desses aspectos refere-se ao burnout, Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 síndrome vivenciada por muitos professores em decorrência da natureza da atividade que realizam. Todo trabalho envolve algum investimento afetivo por parte do trabalhador, seja na relação com os outros ou com o produto do trabalho, sendo que o diferencial do trabalho docente está no fato de que “a relação afetiva é obrigatória para o exercício do trabalho, é um pré-requisito” (CODO; GAZZOTTI, 1999, p. 50). A afetividade é um conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções e sentimentos, sempre acompanhados de dor ou prazer, satisfação ou insatisfação, alegria ou tristeza, entre outros (CODO; GAZZOTTI, 1999). A relação entre a afetividade e o trabalho docente configura-se, portanto, como uma relação necessária, sendo que para que o professor consiga desempenhar satisfatoriamente seu trabalho é preciso que seja estabelecida uma relação afetiva com seu aluno. Todavia, quando o vínculo afetivo não se concretiza de forma satisfatória nas relações formais de trabalho, instala-se uma contradição junto ao trabalhador. A contradição entre a necessidade de se vincular afetivamente na relação profissional e a impossibilidade dessa vinculação se concretizar totalmente é responsável pelos conflitos de sentimentos presentes na vida do professor. De acordo com Codo e Gazzotti (1999), na maioria das vezes esse conflito não é percebido pelo professor, é invisível; trata-se, na verdade, de uma vivência subjetiva que o próprio professor não percebe que está sentindo. Pela impossibilidade de vincular-se afetivamente, na medida desejada, a afetividade que seria dirigida ao seu destinatário, o aluno, por exemplo, acaba sendo redirecionada. Já que não é possível investir o aluno com o afeto desejado, este acaba sendo voltado para o próprio corpo do trabalhador, e isso traz consequências bastante negativas para os nossos educadores. Quando a mente não vai bem o corpo padece, já dizia um velho ditado. (CODO; GAZZOTTI, 1999, p. 58). Por essas razões, diz-se que é relativamente frequente perceber os profissionais da educação como agentes de alto risco, sendo várias as queixas que denunciam situações de mal-estar docente (ALMEIDA; FIGUEIRA, 1998; BENEVIDES-PEREIRA, 2002; CODO; VASQUES MENEZES, 1999). Este mal estar foi inicialmente descrito a partir do termo inglês burnout, utilizado para designar os Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 professores cansados, abatidos, sem vontade de ensinar e que já desistiram desta tarefa. Em português, o significado deste termo gira em torno de “perder o fogo”, de “perder a energia” ou de “queimar” e diz respeito à “síndrome através da qual o trabalhador perde o sentido da sua relação com o trabalho, de forma que as coisas já não o importam mais e qualquer esforço lhe parece ser inútil” (CODO; VASQUES- MENEZES, 1999, p. 238). A síndrome é multidimensional e envolve três componentes inter-relacionados: a) a exaustão emocional, em que os trabalhadores sentem que não podem dar mais de si mesmos a nível afetivo; b) despersonalização, em que ocorre o desenvolvimento de sentimentos e atitudes negativas em relação aos alunos; e c) falta de envolvimento pessoal no trabalho, situação marcada por uma evolução negativa no trabalho que afeta as habilidades envolvidas na realização do mesmo (ALMEIDA; FIGUEIRA, 1998; CODO; VASQUES- MENEZES, 1999). As repercussões ou consequências do burnout são sentidas pelo professor e pelos alunos, demonstrando que o mal-estar vivido pelo docente em relação à sua profissão enfraquece a relação professor- aluno e os processos de ensino e de aprendizagem. O burnout compromete, igualmente, a saúde do professor e a qualidade do aprendizado dos alunos, indicando a necessidade de intervenções que minimizem o sofrimento docente e possibilitem espaços e relações adequadas ao aprendizado. A proposta da Psicologia Educacional no que se refere ao burnout docente difere da perspectiva terapêutica ou clínica que pode ser realizada em outros contextos. A intervenção do psicólogo escolar junto a esta síndrome deve ser coerente com a perspectiva preventiva já explicitada anteriormente, privilegiando, portanto, que as contradições entre as demandas dos sujeitos e as práticas e rotinas institucionais definidas no contexto escolar sejam evidenciadas, e não camufladas, como forma de possibilitar a circulação de necessidades, exigências, incertezas, expectativas, angústias, possibilidades, limitações, entre outras. A criação de um espaço de interlocução, mediado pelo psicólogo escolar, visa oportunizar a circulação dos sentidos, compartilhar vivências e promover o bem-estar dos professores, sua saúde mental e, assim, prepará-los para sua atividade profissional. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Nota-se, portanto, a importância de o psicólogo escolar estar atento ao sofrimento vivenciado pelos professores, os quais são os grandes motores dos processos educacionais, mas que, diariamente, estão sujeitos à exaustão emocional, a sentimentos de desgaste e de incerteza, entre outros, distanciando-se da sua tarefa de educar as crianças e jovens sob sua responsabilidade. A intervenção psicossocial Um dos fundamentos desse estudo consiste na ideia de que o psicólogo, como profissional social, deve estar sensível e preparado para uma ação comunitária e coletiva junto às classes oprimidas, considerando em sua análise elementos da personalidade como uma construção ideológica e relacionando o desenvolvimento pessoal e amadure- cimento psicológico com as motivações sociais (FREITAS, 1998; LANE & CODO, 1984). Além disso, incorporam-se os conceitos de psicologia da libertação e o de trauma psicossocial desenvolvidos por Mártin-Baró (1990) e Pacheco e Jimenez (1990). O trauma psicossocial, segundo estes autores, pode ser identificado pelas dificuldades nas relações sociais consequentes à situações específicas como a guerra por exemplo, pela violência e desumanidade. http://tecla.pt/index.php%3Ft=training&key=intervencao-psicossocial-em-criancas-jovens-e- familias-em-risco Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Diante de uma realidade hostil e violenta as pessoas têm dificuldade de reconhecer elementos do cotidiano que se tornam prejudiciais à sua vida ou de seu grupo social, ao mesmo tempo em que perdem a condição de construírem formas de se defenderem contra estas condições, tornando-se vulneráveis. Os maus tratos, por exemplo, são resultantes de riscos acumulados e vulnerabilidades em todos esses níveis. Na ausência de fatores protetivos, vulnerabilidades predispõem famílias ao abuso e à violência, ao passo que na presença de fatores protetivos e suportes, há chances de que famílias e crianças se desenvolvem de forma a poderem sobreviver em cotidianos adversos, buscando sua transformação. (TROMBETA & GUZZO, 2002). A implementação de políticas públicas e programas que visem a proteção à crianças e adolescentes, é determinada de forma ampla pelo modelo social predominante. Sociedades neoliberais, cujos valores são a competição e aindividualismo têm pouca preocupação com a implementação de políticas que se voltam para uma ação coletiva. É preciso que se tenha claro que, o trabalho com comunidade de risco só tem sentido se estiver inserido em um conjunto de políticas públicas mais amplas, nas quais todos os segmentos da sociedade possam estar incluídos. A busca pela colaboração solidária como uma alternativa para o combate à globalização capitalista tem sido uma fonte inesgotável de trabalhos comunitários que pouco contribuem para as mudanças sociais. As mudanças positivas na direção do bem-estar e da prevenção aos maus tratos, pressupõem a participação de todos e devem se pautar na totalidade da realidade. O envolvimento de diferentes segmentos da comunidade pode tornar a transformação social mais efetiva, no entanto, das necessidades imediatas e singulares é preciso evoluir para condições mais genéricas. O entendimento do cotidiano e o conhecimento das bases empíricas dos problemas e soluções, decorrem da integração entre a prática, o social e o científico, em outras palavras das práxis social. Um dos maiores problemas da sociedade atual, segundo Freire (1999), é que o ser humano está cada vez mais dominado pela força dos mitos comandados pela publicidade organizada e pela ideologia dominante e vem, com isso, renunciando, cada vez mais, sua capacidade de decidir. As tarefas de seu tempo são apresentadas por uma elite que as interpreta e as entrega como prescrições a serem Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 segui- das, afogando-se no anonimato da massificação, sem esperança, sem fé e sem capacidade de lutar, domesticado e acomodado. A imagem trazida por Fromm (1968) sobre o homem-objeto, cabe bem para ilustrar esta ideia da emancipação que se deseja buscar. Como objeto, o ser humano ajusta-se ao mandato de autoridades anônimas e adota um Eu que não lhe pertence, conformando sua conduta às expectativas alheias. Apesar de seu disfarce de iniciativa e otimismo, homens e mulheres modernos vivem hoje um sentimento profundo de impotência que os paralisa diante das circunstancias de sua vida. Contribuições de Dejours (2000 e 2001) sobre as relações do homem com seu cotidiano opressor, além de chamar a atenção para a falta de cuidado que as políticas têm em relação ao bem-estar e a justiça social, especialmente, consideradas pelo prisma do trabalho, denunciam de forma contundente a ausência de uma proposta libertadora de ação e compromisso profissional. Este autor chama a atenção para a necessidade de uma mudança na perspectiva de compreensão da realidade que deve refletir as relações no âmbito do coletivo. A tolerância do intolerável, a sobrevivência no cotidiano adverso e a garantia da liberdade pelas vias ideológicas, podem ser metas para um trabalho profissional que busque responder às demandas sociais presentes nesta realidade, no entanto, paradoxalmente, mantém o “status quo”, sem apresentar perspectivas de mudança. Passar da competitividade para a cooperação, do individualismo para a solidariedade, como valores que orientam as relações humanas, exige uma forma de agir profissionalmente que envolva a comunidade em ações preventivas e promotoras da consciência coletiva, desde muito cedo no ciclo da vida. A paralisação, o conformismo, a dominação e a violência são frutos de um sistema social e econômico que estrutura a sociedade em bases da desigualdade, do desrespeito e da exploração de uns poucos sobre a maioria. É desta condição que estamos falando. O rompimento deste ciclo de paralisação e dominação passa a ser o desafio do trabalho de psicólogos em comunidades. A busca de um sentido para a pratica profissional, que extrapole os valores do individualismo e interesse próprio e se direcione para o paradigma da justiça, solidariedade e coletividade, exige que os maus-tratos infantis e as dinâmicas familiares não sejam considerados como Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 problemas pessoais ou familiares independentes das dinâmicas de poder presente nas estruturas sociais. É preciso que se resista às pressões de se patologizar famílias e indivíduos, reformulando soluções em termos de responsabilidades coletivas, assim como, buscar igualdade de atenção a valores pessoais e coletivos, no plano das relações sociais e políticas públicas. De uma forma geral, a busca por uma identidade pessoal e coletiva pode ocorrer pela ação do psicólogo em um modelo de intervenção que busca substituir o poder na dinâmica social vigente: das forças hegemônicas às necessidades sociais, principalmente, da maioria excluída que vive à margem de um sistema em que poucos têm direito à cultura, educação, saúde, habitação, trabalho e descanso. Há, no entanto, a necessidade de se propor um modelo de formação e atuação do psicólogo mais próximo ao entendimento do papel do estado na vida em sociedade, das políticas econômicas que concentram o poder político nas mãos daquele que concentram o poder econômico e na formulação, implantação e avaliação de políticas sociais e públicas que se propõem a produzir impacto sobre cotidiano e a vida da população brasileira e, no entanto, acabam por legitimar os mecanismos de exclusão social, minorando a dor e os problemas de poucos e deixando de lado a maioria que, a cada dia, nem chega a se beneficiar do direito de melhor qualidade de vida. Interfaces entre a Psicologia e a educação A área da Psicologia Educacional e Educacional permanece marcada pelas dificuldades apontadas por psicólogos e psicólogas que atuam no campo da educação, principalmente no que se refere a compreensão da comunidade escolar sobe o papel da psicologia neste campo. Esta questão fica evidenciada nas demandas escolares apresentadas aos profissionais pelos educadores, com a centralidade nos alunos e apresentando uma expectativa de intervenção voltada para psicodiagnóstico ou atendimento individualizado, representado em um problema cuja solução acredita- se ser da psicologia. De outro lado também se ampliam na literatura publicações que apontam atualmente para a ineficiência do modelo clínico no contexto educacional, e Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 sobre a importância de avaliar as demandas com uma visão sistêmica, associando reflexões sobre novos modelos de intervenção. Segundo Maluf (1999) que apresenta reflexões na área da Psicologia da Educação e do Desenvolvimento nos últimos anos, uma das razões para a fragilidade da formação está relacionado ao fato de existirem cursos de graduação que são mantidos à margem de avaliações que lhes garantissem qualidade, fazendo sua expansão de modo desenfreado, aliados em sua maioria a interesses puramente econômicos. Na sociedade cultuamos os direitos individuais e comunitários, entretanto convivemos com a problemática da exclusão de grande par- cela da população na participação dos bens. O direito à educação formal com todos os seus efeitos na vida social, ainda não se concretizou para uma boa parte da população. Esta realidade faz parte do cotidiano e dos problemas com os quais se deparam os psicólogos e as psicólogas escolares. O discurso crítico não é hegemônico, embora nos últimos anos tenha começado a surgir algumas práticas inovadoras, que de maneira geral, são construídas em bases e expectativas mais realistas. E assim se pro- põe a pensar a Psicologia Educacional como uma possibilidade de favorecer a criação de condições apropriadas ao desenvolvimento e à aprendizagem, colocando no campo das preocupações a ética individual e social. A nomenclatura da área também passou a ser foco de reflexão, quando se fala de Psicologia Educacional, não está se referindo unicamente as atuações nas instituições de ensino, mas sua possibilidade em diversos locais em quepossa se pensar o caráter preventivo e educativo em saúde mental, seja nas comunidades, seja nas empresas, ou ainda nas diversas organizações não governamentais que desenvolvem trabalhos socioeducativos. Entretanto isto não é um consenso, existe também a visão de alguns que partem do princípio de que Psicologia Educacional seria uma ciência multidisciplinar, enquanto consideram a Psicologia Educacional mais como disciplina aplicada. Concordamos aqui com Maluf (2003), que defende que a Psicologia Educacional possui uma concepção mais ampla como ciência dos funda- mentos do processo educacional, com a qual se relaciona a Psicologia Educacional, que tem Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 lugar na escola e em outras instituições associadas com o processo de criar, educar e instruir. VIANA (2006) aponta algumas das avaliações dos entrevistados neste sentido reproduzem de certa forma estas duas concepções, onde existem aqueles que apresentam a compreensão apresentada por Maluf, e de forma abrangente, entende que: Psicologia Educacional lida com as relações na educação, pode ser numa escola ou em todos os lugares onde as pessoas estão aprendendo e ensinando, ou tratando de coisas de educação (VIANA, 2006, pág 133). Que contrastam com outros que pensam que: Psicologia Educacional é uma área de conhecimento da psicologia que tem como objeto de estudo e de análise as teorias educacionais, relacionadas à educação. Diferente da Psicologia Educacional que é mais prática. Educacionais são aqueles psicólogos que pensam a educação. Já a Psicologia Educacional é que é voltada para o contexto educativo [...] (VIANA, 2006, pág 133). O Conselho Federal de Psicologia, acompanhando a orientação da Associação Brasileira de Psicologia Educacional e Educacional (ABRA- PEE), configura o Psicólogo Escolar e Educacional, conforme abaixo: Atua no âmbito da educação formal realizando pesquisas, diagnóstico e intervenção preventiva ou corretiva em grupo e individualmente. Envolve, em sua análise e intervenção, todos os segmentos do sistema educacional que participam do processo de ensino-aprendizagem. Nessa tarefa, considera as características do corpo docente, do currículo, das normas da instituição, do material didático, do corpo discente e demais elementos do sistema. Em conjunto com a equipe, colabora com o corpo docente e técnico na elaboração, implantação, avaliação e reformulação de currículos, de projetos pedagógicos, de políticas educacionais e no desenvolvimento de novos procedimentos educacionais (CFP, 2007, p. 18). No que se refere às questões administrativas o Psicólogo Escolar e Educacional contribui ainda: No âmbito administrativo, contribui na análise e intervenção no clima educacional, buscando melhor funcionamento do sistema que resultará na realização dos objetivos educacionais. Participa de programas de Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 orientação profissional com a finalidade de contribuir no processo de escolha da profissão e em questões referentes à adaptação do indivíduo ao trabalho. Analisa as características do indivíduo portador de necessidades especiais para orientar a aplicação de programas especiais de ensino. Realiza em equipe interdisciplinar, integrando seus conhecimentos àqueles dos demais profissionais da educação. Para isso realiza tarefas como, por exemplo: a) aplicar conhecimentos psicológicos na escola, concernentes ao processo ensino-aprendizagem, em análises e intervenções psicopedagógicas; referentes ao desenvolvimento humano, às relações interpessoais e à integração família- comunidade-escola, para promover o desenvolvimento integral do ser; b) analisar as relações entre os diversos segmentos do sistema de ensino e sua repercussão no processo de ensino para auxiliar na elaboração de procedimentos educacionais capazes de atender às necessidades individuais; c) prestar serviços diretos e indiretos aos agentes educacionais, como profissional autônomo, orientando programas de apoio administrativo e educacional; d) desenvolver estudos e analisar as relações homem-ambiente físico, material, social e cultural quanto ao processo ensino-aprendizagem e produtividade educacional; e) desenvolver programas visando a qualidade de vida e cuidados indispensáveis às atividades acadêmicas; f) implementar programas para desenvolver habilidades básicas para aquisição de conhecimento e o desenvolvimento humano; g) validar e uti- lizar instrumentos e testes psicológicos adequados e fidedignos para fornecer subsídios para o replanejamento e formulação do plano escolar, ajustes e orientações à equipe escolar e avaliação da eficiência dos programas educacionais; h) pesquisar dados sobre a realidade da escola em seus múltiplos aspectos, visando desenvolver o conhecimento científico (CFP, 2007, p. 18). Psicologia Educacional é aquela onde o psicólogo está na es- cola para atender as demandas do aluno ou da comunidade escolar, não para realizar atendimento clínico dentro da escola, mas articular aquelas demandas trazidas dentro do contexto escolar (VIANA, 2006, pág 134). Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 NA INTERFACE COM A PSICOPEDAGOGIA https://dialogosdosaber.com.br/psicopedagogia-do-que-se-trata/ A Psicopedagogia surge como outro campo de interface da Psicologia Escolar e Educacional, estando focada nos processos de aprendizagem. Esta prática embora possua variadas possibilidades de intervenção, tem sido frequentemente utilizada para auxiliar a correção no descompasso do processo de aprendizagem dos alunos que “não acompanham o bonde”. Lembramos aqui, que o processo educativo no Brasil, possui as marcas e comprometimento devido aos condicionantes do Banco Mundial para a educação, ocorridas nas décadas de 80 e 90. Crianças se veem divididas entre duas realidades distintas a) Nas escolas públicas o seu processo de aprendizagem ficou em segundo plano, em favor da manutenção de índices “satisfatórios” de repetência escolar, pautados na lógica econômica que norteou a política educacional por várias décadas no final do século XX. Com frequência se encontravam jovens na 5ª ou 6ª série do ensino fundamental que não se encontravam alfabetizados ou em condições de realizar uma produção ou compreensão textual. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Com frequência este processo se desdobrava em desestimulo, evasão escolar, fragilidade para elaborar um projeto de futuro, e o que é ainda pior, são responsabilizados por suas dificuldades; b) Nas escolas particulares, que têm nas últimas décadas se multiplicado e ampliado seu campo de abrangência nos moldes do projeto neoliberal, contando com a desqualificação da escola pública para este crescimento e condições de concorrência no merca- do, colocam as crianças em um processo de competição desumano rumo a obtenção de uma vaga na universidade. Desta forma impõe aos mesmos um ritmo de aprendizagem insuportável para a maior parte dos alunos, que também são considerados pouco competentes e necessitando de auxílio para acelerarem o processo. Nessa realidade, a Psicopedagogia surgiu como a grande solução, ou seja, uma área do conhecimento que se constitui na interface da Pedagogia e da Psicologia, e se propõe a auxiliar as crianças principalmente nas “dificuldades de aprendizagem”. O fato de que na realidade brasileira o quantitativo de crianças que não acompanham o ritmo escolar tem se multiplicado de forma gigantesca e assim a Psicopedagogia tornou-se um campo de trabalho promissor. Ressaltamos aqui que, a Psicopedagogia isoladamente não dá conta de solucionar os impasses gerados num processo educacional desconcentrado. Não estamos neste estudo aprofundandoos impasses próprios da relação profissional entre a Psicopedagogia e a Psicologia, que se constituíram em fortes debates quanto ao campo de trabalho. O Conselho Federal de Psicologia se posiciona formalmente contra a regulamentação da primeira como profissão, por entender que esta se refere apenas a uma prática especializada de dois campos, quais sejam a Pedagogia e a Psicologia. Salientamos inclusive que o caminho trilhado pelo psicopedagogo clínico (profissional liberal) caminha na contramão do que a Psicologia Educacional e Educacional vem se desenvolvendo, pois termina por reafirmar e manter o foco no processo individualizado no aluno, quando na verdade existe uma gama de variáveis contribuindo para o fenômeno. Conforme podemos verificar a Psicopedagogia poderia perfeita- mente estar incluída na especialidade do Psicólogo Escolar e Educacional, até porque diz respeito Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 a um mesmo campo de atuação, ou seja, a intervenção psicológica na educação, diferenciando-se enquanto técnica. Embora reconheçamos que as dificuldades impostas às crianças pelo processo educativo, careçam atualmente de solução, e que as técnicas da psicopedagogia oferecem certa contribuição neste sentido, poderíamos inclusive afirmar que o desejável para a educação seria que a intervenção corretiva da psicopedagogia fosse completa- mente desnecessária e que a contribuição da psicologia na educação estivesse centrada no fortalecimento e promoção do desenvolvimento harmonioso e saudável de crianças e adolescentes. Viana (2006) em seu estudo apresenta falas que direcionam também a reflexão sobre a correlação entre a Psicologia Educacional e a Psicopedagogia, expondo a fala de uma das psicólogas entrevistadas: A Psicologia Educacional para mim se confunde um pouco com a psicopedagogia, eu achei isto quando estava fazendo a especialização. Você estuda a instituição, as formas de funcionamento da instituição, as formas de comunicação, o que está favorecendo a aprendizagem e o que estaria impedindo a aprendizagem, quais são os aspectos psicossociais que estão influenciando a população da escola. Ele está ali para facilitar o processo de aprendizagem. Verificar as formas de autoridade, de exercício de poder, como é que dentro da instituição estaria relacionada ao processo de aprendizagem (VIANA, 2006, pag. 137). A percepção sobre o que seria Psicologia Educacional e Educacional para aqueles que não possuem a formação na psicologia, acentua ainda mais a confluência com a Psicopedagogia, e acreditam que: Psicologia Educacional é o trabalho com crianças com problemas psicológicos, que tem dificuldades de prestar atenção, questões que diz respeito a dificuldades de compreensão ou aprendizagem. Mas não acho que tem a ver esta história de menino danado não, acho que isto é outra coisa (VIANA, 2006, pag. 135). Segundo Cruces (2003), na área escolar “convivem, lado a lado, modelos de atuações e práticas extremamente críticas e inovadoras e atuações permeadas pela visão curativa e individualizadas, que é denunciada por ser estigmatizadora”. Provocando assim, a partir da década de noventa, estudos que buscam encontrar as condições e o preparo necessários ao profissional da Psicologia Educacional e Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Educacional, e das Políticas Educacionais de forma a privilegiar uma prática que atenda aos interesses da educação para a cidadania. Se o homem é o produto de sua história, considerando história sua realidade concreta, realística e verdadeira, ele é também fruto de suas experiências, suas construções, seus anseios, sonhos, desejos e ilusões; e considerando ainda que a aprendizagem se constitua um valor na educação tanto escolar como familiar, esta se torna um qualificante da criança; e que como tal contribui na estruturação de seu funcionamento. Refletir sobre qual a ação do profissional de psicologia nas escolas, capaz de contribuir para que crianças e adolescentes se desenvolvam com autonomia e com uma visão crítica da realidade, é uma preocupação que se apresenta. E Freire elucida este aspecto com propriedade: Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta é diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado. A diferença entre o inacabado que não se sabe como tal e o inacabado que histórica e socialmente alcançou a possibilidade de saber-se inacabado. (FREIRE, 1996, pag.) Os desafios vão desde a formação do educador, a sua valorização profissional, a satisfação dos insumos necessários ao processo de ensino-aprendizagem, o desenvolvimento de tecnologias e metodologias compatíveis com a realidade social e até mais recentemente uma preocupação com relação à missão do educador frente a um ser que cresce e se forma para a vida. DIFERENCIAÇÃO ENTRE A INTERVENÇÃO EDUCATIVA E A INTERVENÇÃO DA PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO É fundamental que ocorra uma distinção clara entre o fazer pedagógico e educativo, que poderá estar assentado em saberes desenvolvido pela Psicologia, tendo como objetivo o desenvolvimento da aprendizagem, daquele fazer psicológico na educação. Sabemos que a psicologia pode oferecer à educação informações científicas e úteis, tais como condições de aprendizagem, avaliação das capacidades intelectuais Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 e afetivas que se relacionam com o processo de aprendizagem dos indivíduos, além de ampliar a percepção dos educadores sobre os diversos aspectos do desenvolvimento de crianças e adolescentes, e a relação destes com os fatores sócios culturais que se estabelecem no meio educacional. Sendo a Psicologia uma profissão da área das ciências humanas, com aplicação em diversos campos, entre eles no campo da educação, e que nas últimas décadas vem construindo a sua referência de atuação com um maior comprometimento com os problemas sociais brasileiros, partimos do princípio que a atuação em Psicologia Educacional, seja ela em escolas, em comunidades, em educação especial, em psicopedagogia, em empresas ou em outras organizações, se situa como recurso para favorecer o desenvolvimento humano, assegurando e facilitando o desenvolvimento saudável das crianças, adolescentes, jovens e adultos, considerando os vários aspectos que integram a vida humana: a intelectualidade, a motricidade, a afetividade, a sociabilidade, etc. Compreendendo que na rede de atenção ao processo ensino aprendizagem, a grande missão da educação se constrói a várias mãos e considerando a psicologia como uma das profissões do campo da educação, se torna imperioso efetuar uma diferenciação, sendo que aqui nos limitaremos a discutir sobre a distinção entre o fazer pedagógico do fazer psicológico na educação. A intervenção pedagógica visa um processo de aprendizagem que envolve a aquisição de conhecimentos e habilidades, já a intervenção psicológica visa facilitar os processos educacionais através da mediação, considerando que existe um processo de transformação pessoal acontecendo com os indivíduos envolvidos. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 http://www.blogin.com.br/2018/06/11/intervencao_pedagogica_na_sala_de_aula/ Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Referências ALMEIDA, A. C.; FIGUEIRA, A. P. C. O psicólogo no processo de desenvolvimento pessoal e profissional dos professores: razões justificadas da criação de uma Estrutura de Apoio Psicopedagógico a professores. Revista Portuguesa de Pedagogia, ano XXXII, n°3, 1998. p. 69-97. ARAÚJO, C. M. M.; ALMEIDA, S. F. C. de. PsicologiaEducacional Institucional: desenvolvendo competências para uma atuação relacional. In: ALMEIDA, S. F. C. de (Org.). 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