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ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO FLUXO DE SOLDAGEM NA POROSIDADE DA SOLDA OBTIDA POR ARCO SUBMERSO M. A. Michels, D. S. Siewerdt, F.H. Lafratta, D. Bond1 Campus Universitário Prof. Avelino Marcante Rua Paulo Malschitzki, s/n, Bairro Zona Industrial Norte Joinville, SC, Brasil, CEP: 89219-710 danielle.bond@udesc.br1 Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC RESUMO Para a fabricação de vasos de pressão é necessário seguir os padrões da norma ASME VIII sendo o aço mais utilizado o ASTM SA 516 Grau 70. Devido à grande competividade, as empresas tem adotado a redução de espessuras das chapas utilizadas para fabricação destes componentes. Por outro lado, os níveis de descontinuidades que antes eram aceitos, porque de maneira geral eram compensados na eficiência da junta, já não são mais admitidos pela norma. Neste contexto este trabalho tem como objetivo analisar a influência do fluxo de soldagem a arco submerso na porosidade da solda. Foram depositados cordões variando tipo (neutro e ativo), granulometria e vazão de fluxo em chapas de aço ASTM SA516 Gr 70. As amostras foram caracterizadas através de inspeção radiográfica. Para as condições estudadas um procedimento otimizado em relação ao fluxo para soldagem a arco submerso foi determinado. Palavras-chave: Vasos de Pressão, Porosidade, Arco Submerso, Fluxo, Inspeção Radiográfica. INTRODUÇÃO A construção de vasos de pressão envolve várias etapas e apresenta um grau elevado de complexidade. Esses componentes são fabricados por chapas de aços soldadas entre si e geralmente seguem uma norma de projeto que serve para padronizar e garantir condições mínimas de segurança para a operação. O código ASME é bastante usado e abrange exigências e recomendações sobre materiais, projeto, cálculo, fabricação e inspeção de vasos de pressão.(1) O processo de soldagem por arco submerso permite o uso de velocidades altas e correntes elevadas, aumentando dessa forma a penetração e a taxa de deposição. O arco elétrico é protegido por uma camada de fluxo granular que elimina respingos e forma uma camada de escória que elimina as impurezas e protege o metal da 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil 5312 contaminação atmosférica. Além disso, o fluxo pode adicionar elementos de liga que melhoram as propriedades mecânicas da solda.(2) Durante a soldagem de metais pode ocorrer formação de porosidades, que estão relacionadas com o aprisionamento de gases durante a solidificação do metal fundido. A formação de gases no processo de soldagem depende da natureza dos gases, da quantidade de gases liberados e as condições em que o metal se solidifica. O metal deve ser aquecido de tal forma que permita a liberação dos gases durante o resfriamento.(4) Além disso, falta de proteção do metal contra a atmosfera e contaminações no metal como óleo e sujeiras podem causar porosidade no processo a arco submerso. As altas velocidades que esse processo permite também podem permitir porosidades, pois impedem que os gases sejam liberados da solda.(2) A norma ASME seção VIII divisão 1 aborda o grau de aceitação para descontinuidades analisadas na solda por radiografia. O tamanho e a forma que estão dispostas e largura da solda são os fatores que devem ser analisados e conferidos se estão dentro da aceitação da norma.(9) A preocupação com a qualidade da solda exige um controle de sua composição química para obter melhores propriedades mecânicas do metal soldado.(5) Alguns estudos mostram a relação de fatores que em combinação, como fluxo/arame e fluxo/parâmetros de soldagem, podem interferir nas propriedades da solda.(5,6) A viscosidade do fluxo também interfere na composição química da zona fundida e consequentemente nas suas propriedades mecânicas. Ela varia de acordo com a temperatura e composição química do fluxo e deve ser elevada suficiente para impedir a exposição do metal à atmosfera.(3) A maioria dos grãos do fluxo utilizado é obtida pela granulação em água, onde a massa se fragmenta em água por choque térmico e depois passa por um processo de secagem para eliminar a água dos grãos. Esses grãos apresentam cavidades e formas irregulares, o que proporciona uma tendência a adquirir umidade. A obtenção de grãos por via seca vem sendo estudada e o método por sopro de ar apresenta menor tendência a adquirir umidade. (8) Pode se classificar os fluxos de acordo com a sua capacidade de alterar ou não a composição química do metal depositado de forma significativa, ou seja, em fluxos ativos ou neutros respectivamente. Fluxos ativos possuem manganês e silício que são adicionados na zona fundida e melhoram a resistência à porosidade e trincas; já os fluxos neutros não produzem adição de metais de liga.(2)(10) Outro fator 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil 5313 importante é a granulometria do fluxo. Os grãos devem ter um tamanho adequado para que haja um bom escoamento do fluxo e grãos menores podem impedir escoamento do fluxo da tocha até a junta da solda. Além disso, os fluxos são revestidos com um ligante que se concentram mais em grãos com diâmetros menores, logo a composição química do fluxo se altera de acordo com a granulometria. O tamanho da partícula também pode afetar o desempenho do fluxo, uma vez que a área total da superfície dos grãos aumenta na medida em que o diâmetro dos grãos diminui, o que pode aumentar a umidade do fluxo, gerando problemas como trincas de hidrogênio.(2)(7) A altura da camada de fluxo acima da zona fundida também afeta a qualidade da solda. Se a camada de fluxo é muito grande, ou seja, utilizando maior vazão, os gases que se formam durante a soldagem podem ficar presos gerando imperfeições no cordão de solda. Já uma camada mais rasa de fluxo causa instabilidade do arco e menor proteção contra a atmosfera, facilitando a formação de poros. Assim, a camada de fluxo deve ser suficiente para garantir a estabilidade do arco e permitir que os gases escapem evitando a formação de porosidade.(2) Portanto este trabalho tem como objetivo verificar a influência do fluxo na formação de descontinuidades da solda no processo de soldagem a arco submerso. MATERIAIS E MÉTODOS Foram soldados pelo processo arco submerso corpos de prova em chapas de aço ASTM AS 516 Grau F (composição química com os principais elementos conforme Tab. 1) com dimensões de 200x150x8mm e junta de topo, chanfro em V com 75º. Os parâmetros de soldagem foram mantidos constantes utilizando-se corrente de 480A, tensão de 32V e velocidade de soldagem de 400mm/min. Para a soldagem foram utilizados arame EM12K de Ø2,38mm e fluxos F7A0- EM12K tipo aglomerado, neutro e ativo. A utilização deste tipo de arame e fluxo deve resultar na composição química conforme a Tab. 1. 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil 5314 Tab. 1 – Composição química do material de base e consumíveis Composição Química (% Peso) C Si Mn P S Cu Material de Base ASTM AS 516 Gr.70 0,25 0,248 1,09 0,018 0,005 0,02 Arame e Fluxo F7A0-EM12K Fluxo Ativo Fluxo Neutro 0,067 0,08 1,040 0,173 1,80 0,41 0,020 0,029 0,014 0,025 0,01 0,005 Neste estudo foi utilizado o delineamento de experimento (DOE) através do método fatorial 2K, com três fatores e dois níveis, sendo os experimentos realizados com uma réplica e em ordem aleatória. Os fatores considerados no planejamento fatorial foram: · Quantidade de fluxo (1,125 e 2,450 kg/min): O nível 2,450kg/min foi escolhido por ser aproximadamente o recomendado para a obtenção de cordões íntegros nas condições de soldagem deste trabalho. Mesmo correndo o riscode ocorrer respingos, foi selecionado o nível de 1,125kg/min para a obtenção de diferença significativa na altura da camada de fluxo. · Tipo de fluxo (neutro e ativo): O fluxo ativo foi escolhido por adicionar manganês e silício à solda, o que pode minimizar o aparecimento de porosidade. Já os fluxos neutros não possuem esta caraterística. · Granulometria (600 e 850 µm): O nível de 600µm (20 mesh) foi escolhido por ser o recomendado para obtenção de cordões íntegros neste processo. Com o objetivo de obter reais diferenças, foi escolhido o nível do fluxo de 850µm (10 mesh), mesmo podendo ser considerada uma faixa de granulometria elevada para corrente utilizada. Como variável de resposta ao experimento, foi medida a porosidade das soldas através de análise radiográfica, considerando um intervalo de confiança de 95%. Para a execução das radiografias digitais, foi utilizado a fonte de Raio X YXLON modelo Y.XPO225D02; detector digital plano YXLON GmbH modelo Y.HDR 822-14 HDR; e monitor de análise de Raio X EIZO Nanao Technologies Inc. modelo FlexScan S2433W Color LCD. Para fazer a análise das radiografias foi usado o código ASME Section VIII Appendix 4, que aborda critérios de aceitação para indicações arredondadas de acordo com a espessura da chapa. Para as chapas desta espessura (8mm), o tamanho máximo aceitável das indicações agrupadas aleatoriamente e isoladas é de 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil 5315 1,98mm e 2,64mm, respectivamente; sendo que as indicações abaixo de 0,79mm não são consideradas. Após laudo, foi feito a contagem do número de poros maiores que 0,79mm em cada corpo de prova, seguindo o critério anteriormente mencionado. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os diferentes cordões foram analisados por inspeção radiográfica e a Tab. 2 mostra o número de porosidade encontrada para cada condição. Tab. 2 – Quantidade de porosidade detectada em cada experimento Corpo de prova Tipo Vazão (kg/min) Granulometria (µm) Porosidade (unidade) 14 Ativo 1,225 600 5 3 Neutro 2,450 850 6 4 Ativo 2,450 850 0 7 Neutro 2,450 600 9 9 Neutro 1,225 850 7 11 Neutro 2,450 850 5 16 Ativo 2,450 600 3 1 Neutro 1,225 850 5 2 Ativo 1,225 850 0 13 Neutro 1,225 600 12 8 Ativo 2,450 600 4 6 Ativo 1,225 600 3 12 Ativo 2,450 850 0 15 Neutro 2,450 600 10 10 Ativo 1,225 850 0 5 Neutro 1,225 600 10 Para analisar a relevância de cada fator, os dados foram compilados no Software Statistica da StatSoft, versão 8.0 e os efeitos estão representados no gráfico de Probabilidade Normal conforme ilustra a Fig. 1. Considerando um nível de confiança de 95%, verifica-se que os fatores tipo de fluxo e granulometria devem ser considerados significativos, pois se encontram afastados da linha que passa através dos outros efeitos; já a vazão do fluxo não interferiu significantemente na presença de poros. 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil 5316 Fig. 1 - Gráfico de Probabilidade Normal De um modo geral observa-se que os cordões depositados com fluxo ativo em combinação com granulometria de 850µm (2,4,10,12) não apresentaram porosidades; já os cordões com fluxo neutro e granulometria de 600µm (5,7,13,15) foram os que apresentaram a maior quantidade de poros, conforme mostram as radiografias do experimento 10 e 13 respectivamente da Fig. 2. Portanto, quanto mais ativo e maior a granulometria do fluxo, menor a porosidade. A utilização de fluxo ativo produz soldas com baixo número de porosidade em comparação com o fluxo neutro, pois alto teor de desoxidantes como Si e Mn é adicionado na poça de fusão fazendo com que o oxigênio se ligue a estes elementos ao invés de produzir gases como o CO2. (2). Mesmo resultado foi observado por (7)(10)(11). A utilização de fluxos com distribuição granulométrica com maior percentual de partículas com diâmetros maiores (850 µm) reduziu a formação de descontinuidades, como era o esperado, uma vez que diminui a tendência a absorver umidade e contaminar a solda. Para evitar descontinuidades, o fluxo deve estar livre de água, óleo e sujeiras.(2)(7) 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil 5317 Fig. 2 – Radiografias dos corpos de prova a) sem descontinuidades (n.10) e b) com maior número de poros (n.13). CONCLUSÃO Para as condições de soldagem por arco submerso testadas neste trabalho pode-se concluir que: A utilização de fluxo ativo produz soldas com maior qualidade, ou seja, com baixa quantidade de descontinuidades, em especial a porosidade, em comparação com fluxo neutro; assim como com a utilização de fluxo com partículas de granulometria maiores. A utilização de menor vazão de fluxo não causou variação estatisticamente significativa no número de porosidade formada na solda, sendo assim possível a utilização de menor quantidade de fluxo reduzindo os custos de soldagem e mantendo a qualidade do processo. REFERÊNCIAS 1- TELLES, P.C. da S. Vasos de Pressão. Rio de Janeiro: LTC, 1996. 2- AMERICAN SOCIETY FOR METALS. Metals Handbook. v. 6, OH: Metals Park, 1993. 3- NATALIE, C. A.; OLSON, D. L.; BLANDER, M. Physical and Chemical Behavior of Welding Fluxes. Annual. Reviews of Materials Science, v.16, p. 389-413, 1986. 4- WARREN, D.; STOUT, R.D. Porosity in Mild Steel Weld Metal. Welding Journal, v.31, n. 8, p. 381s-387s, 1952. 5- KANJILAL, P.; PAL, T. K.; MAJUMDAR, S. K.; Combined Effect of Flux and Welding Parameters on Chemical Composition and Mechanical Properties of Submerged Arc Weld Metal. Journal of Materials Processing Technology, v.171, p. 223-231, 2006. 6- BANG, K.; PARK C.; JUNG, H.; LE, J.B. Effects of flux composition on the element transfer and mechanical properties of weld metal in submerged arc a) b) 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil 5318 welding. Journal of Metals and Materials International, v. 15, p. 471-477, 2009. 7- SIEWERT, T. A.; FRANKE G. L. Analysis and Characterization of Commercial Welding Fluxes. Welding Journal, v.69, p.247s-255s, 1990. 8- PEREZ, D. P.; PEREZ, C. R. G.; PUCHOL, R. Q.; GONZALEZ, L. P.; CRESPO, A. C. Potencialidades de la granulacion horizontal con aire del fundente fundido CIS-F10. Revista Soldagem & Inspeção, v. 13, p. 245-254, 2008. 9- AMERICAN SOCIETY OF MECHANICAL ENGINEERS. ASME Boiler & Pressure Vessel Code: Rules for Construction of Pressure Vessels. New York, NY: ASME, Section VIII, Div. 1, 2010. 10- MERCADO, A.M.P.; HIRATA, V.M.L.; SANCHEZ, A.F.M.; MUÑOZ, M.L.S. Effect of Active and Nonactive Fluxes on the Mechanical Properties and Microstructure in Submerged-Arc Welds of A-36 Steel Plates. Journal of Materials and Manufacturing Processes, v.22, p. 295-297, 2007. 11- MERCADO, A.M.P; HIRATA, V.M.L.; MUNOZ, M.L.S. Influence of the Chemical Composition of Flux on the Microstructure and Tensile Properties of Submerged-Arc Welds. Journal of Materials Processing Technology, v.169, p.346-351, 2005. ANALYSIS OF INFLUENCE OF WELDING FLUX ON POROSITY BY SUBMERGED ARC WELDING PROCESS ABSTRACT When manufacturing pressure vessels it is required to follow the ASME VIII standards, and the ASTM SA 516 Gr. 70 steel is the most used in this process. Due the large competitiveness, companies have decided to reduce the thickness of the steel sheets used to produce these components. On the other hand, levels of discontinuities which used to be accepted since there was compensation on the joint efficiency are no longer allowed. This paper has attempted to analyze the influence of welding fluxes on porosity by the process of submerged arc welding. Weld deposits were placed on ASTM SA516 Gr70 steel sheets varying flux type (neutral and active), granulometry and flux layer depth. The samples were characterized by radiographic inspection. For the analyzed conditions a submerged welding optimized procedure has been determined. Key-words: Pressure Vessels, Porosity, Submerged Arc Welding, Flux, Radiographic Inspection. 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil 5319
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