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CADERNO CONSTITUCIONAL

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CADERNO CONSTITUCIONAL- Carol Borges
Página | 72
lI - 1 Direito Constitucional: conceito e objeto, origem, formação, conteúdo, fontes, métodos de trabalho. 2. Constituição: tipologia, classificação, concepções, legitimidade, pauta normativa e pauta axiológica. A supremacia da Constituição. A força normativa da Constituição.
CONCEITOS BÁSICOS DA TEORIA GERAL DO ESTADO
Importante destacar alguns conceitos básicos de teoria geral do Estado, que servem de base para o entendimento de outros assuntos de direito constitucional e, ressalta-se, também são cobrados diretamente em provas de concurso para as carreiras jurídicas.
	ESTADO
	NAÇÃO
	- Entidade político-social juridicamente organizada para executar os objetivos da soberania nacional;
- Sociedade que envolve o aspecto de organização jurídica de um conjunto de pessoas.
	Comunidade que se caracteriza por sentimentos comuns; 
- Há vínculos entre os habitantes de determinado local, que decorrem das mais diferentes origens (étnicas, geográficas, religiosas, culturais etc.);
- conjunto homogêneo de pessoas que se consideram ligadas entre si por vínculos de sangue, idioma, religião, cultura, ideias, objetivos.
	O Estado possui três elementos:
· TERRITÓRIO: base física do Estado, sob a qual Qse fixa o povo; 
· POVO: associação humana; titular da soberania; conjunto de pessoas dotadas de capacidade jurídica para exercer os direitos políticos assegurados pela organização estatal.
· GOVERNO: comando por parte de autoridade soberana; conjunto de funções necessárias à manutenção da ordem jurídica e da administração pública; deve ser SOBERANO;
	As nações surgem antes do próprio Estado e podem subsistir mesmo sem o Estado (nação judaica, antes da criação do Estado de Israel), além de ser possível a existência de várias nações sob um mesmo Estado (Estado “plurinacional”) ou uma nação subdividida entre dois ou mais Estados (antigas Alemanhas Ocidental e Oriental);
Diferença entre forma de estado, forma de governo e sistema de governo.
	
FORMAS DE GOVERNO
	O Estado pode ser:
- ESTADO UNITÁRIO: existe uma unidade de poder sobre o território, pessoas e bens; a depender do grau de centralização, podem ser identificados, segundo a classificação de Pedro Lenza, em a) Estado unitário puro: há absoluta centralização do exercício do Poder; b) Estado unitário descentralizado administrativamente: é possível certa descentralização da execução de decisões políticas já tomadas, mantendo-se a tomada de decisões, portanto, nas mãos do Governo nacional; c) Estado Unitário descentralizado administrativa e politicamente: além da autonomia administrativa, haveria certa autonomia política para a implementação do comando central.
- ESTADO COMPOSTO: há uma divisão espacial/geográfica de poder; as atividades estatais são distribuídas a vários núcleos ou centros detentores de competências políticas próprias, sem a possibilidade de serem alteradas pela simples vontade de uma entidade superior. 
 a) Estado federal: São considerados pressupostos de existência do Estado federal: i) a descentralização política (repartição constitucional de competências), que impede a livre ingerência por parte do poder central; ii) a participação das ordens jurídicas parciais (estados-membros) na vontade da ordem jurídica nacional (atuação do Senado com órgão representativo dos estados- membros); iii) auto-organização dos estados-membros (manifestação do poder constituinte decorrente); e iv) princípio da indissolubilidade (vedação à secessão).
b) Estado Confederal: é a reunião permanente de Estados independentes e soberanos; é precedido de um tratado internacional; há a possibilidade de desligamento dos Estados integrantes a qualquer momento (há direito de secessão); as unidades parciais detêm soberania (diferente do que ocorre no Estado federal).
	
FORMAS DE GOVERNO
	MONARQUIA: Baseada na: - vitaliciedade do governante; - hereditariedade como mecanismo de sucessão governamental; - irresponsabilidade do monarca pelos atos que praticar. - ausência de representatividade popular;
REPÚBLICA: Forma de governo baseada na: - temporariedade: o governo é exercido de forma temporária, devendo haver prazo estipulado para a renovação; - eletividade: eleições periódicas para a sucessão governamental; - responsabilidade dos governantes e demais agentes públicos; - representatividade popular
	
SISTEMA DE GOVERNO
	PRESIDENCIALISMO : - criação norte-americana (Constituição de 1787); - o Presidente da República exerce as funções de chefe de Estado e de chefe de Governo, e cumpre mandato fixo, não dependendo da confiança do Poder Legislativo para sua investidura, nem para o exercício do cargo; - o Legislativo não está sujeito a dissolução pelo Executivo, vez que seus membros são eleitos para um período certo de tempo;- Há maior divisão e independência entre os Poderes.
PARLAMENTARISMO: - nasceu na Inglaterra, com a magna Carta de 1215; - o Poder Executivo é dividido em Chefia de Estado, exercida pelo Presidente da República ou Monarca, e Chefia de Governo, exercida pelo Primeiro-Ministro ou pelo Presidente do Conselho de Ministros; - o primeiro-Ministro é em regra indicado pelo Presidente da República, mas sua permanência no cargo depende da confiança do Parlamento (Órgão Legislativo); - se o Parlamento retirar a confiança no governo, o Primeiro-Ministro cairá, dando lugar à formação de um novo governo; - se o governo entender que o Parlamento não possui mais a confiança do povo, pode optar por dissolvê-lo, convocando eleições extraordinárias para a formação de um novo parlamento que possa lhe dar sustentação; - há maior dependência entre os Poderes Executivo e Legislativo;
O que vem a ser soberania? Quanto à soberania, qualidade do poder que o torna absoluto, exercido em nome do povo, é exclusiva do Estado, representando um plus em relação à autonomia. Esta é limitada, encontra limites justamente no poder que lhe foi conferido pelo ente soberano. No caso brasileiro, a República Federativa do Brasil é dotada de soberania, enquanto a União, os estado-membros e os municípios possuem apenas autonomia, limitada às competências que lhe foram constitucionalmente conferidas. Ressalta-se que a autonomia interessa à ordem interna apenas, enquanto a soberania caracteriza o Estado na ordem internacional.
	Acrescenta-se que, embora afirmado acima que a soberania não está limitada por nenhum outro poder na ordem interna, trata-se da posição defendida pela corrente positivista, para a qual a soberania é juridicamente ilimitada no âmbito territorial do Estado. No entanto, segundo correntes jusnaturalistas, conforme apresentado por Juliano T. Bernardes e Olavo A. V. Alves Ferreira, “a soberania encontra barreiras: a) no direito natural; b) na coexistência das nações; e c) nas próprias finalidades do Estado”. Importante ressaltar que o STF adota a corrente positivista, não reconhecendo limites impostos à soberania (ADInMC 3.300/DF). 
	CLASSIFICAÇÃO
	CFRB:
	Quanto à origem:
	Promulgada. Também chamada de democrática, votada ou popular. É aquela em que a Constituição é fruto do trabalho da Assembleia Constituinte.
	Quanto à forma
	Escrita. Também chamada de instrumental
	Quanto à extensão
	Analítica. Também chamada de ampla, larga, prolixa, longa, desenvolvida, volumosa ou inchada. 
Segundo Bonavides, as Constituições se fizeram volumosas em consequência principalmente por duas causas: a preocupação de dotar certos institutos de proteção eficaz e também o sentimento de rigidez constitucional
	Quanto ao modo de elaboração
	Dogmática. Ou seja, fruto de um trabalho legislativo específico
	Quanto ao conteúdo
	Prevalentemente formal.
	Quanto à alterabilidade
	Rígida 
* Se ligue: considera-se que a constituição para ser rígida, depende apenas de um processo legislativo mais complexo para alteração de normas constitucionais do que as demais normas jurídicas e não pressupõe a existência de cláusulas pétreas. Lembre-se também que a alterabilidade não se confunde com estabilidade. Assim, uma constituição pode ser flexível eter uma estabilidade maior do que uma constituição rígida
	Quanto à sistemática
	Unitária. Também chamada de reduzida ou orgânica. Ou seja, seria a Constituição que se materializa em um só código.
Frisa-se que tal classificação é incompatível com a ideia de bloco de constitucionalidade, na medida em que esta, em seu sentido amplo, abarca as normas materialmente constitucionais bem como as legislações esparsas.
	Quanto à correspondência com a realidade.
	Normativa
	Quanto ao sistema
	Principiológica
	Quanto à função
	Definitiva
	Quanto à origem de sua decretação
	Autônoma ou autoconstituição.
Como se dá a classificação ontológica da Constituição por Karl Loewestein? a)  Normativas (reais ou efetivas): são as que efetivamente conseguem, por estarem em plena consonância com a realidade social, regular a vida política do Estado. Em um regime de Constituição normativa, os agentes do poder e as relações políticas obedecem ao conteúdo, às diretrizes e às limitações impostos pelo texto constitucional. A CF/88 é classificada pela maioria da doutrina como normativa; b)  Nominativas (nominalistas ou nominais): são aquelas que, embora tenham sido elaboradas com o intuito de regular a vida política do Estado, ainda não conseguem efetivamente cumprir esse papel, por estarem em descompasso com o processo real de poder e com insuficiente concretização constitucional. São prospectivas, isto é, voltadas para um dia serem realizadas na prática; c)  Semânticas: desde a sua elaboração, não têm o fim de regular a vida política do Estado, de orientar e limitar o exercício do poder, mas sim o de beneficiar os detentores do poder de fato, que dispõem de meios para coagir os governados.
O que vem a ser Constituição dúctil? A CF 88 adota esta constituição? A constituição dúctil, também chamada de suave, segundo ZAGREBELSKY, nas sociedades pluralistas atuais, dotadas de certo grau de relativismo e caracterizadas pela diversidades de interesses, ideologias e projetos, o papel da Constituição não deve consistir na realização direta de um projeto predeterminado da vida comunitária, cabendo-lhe tão somente a tarefa básica de assegurar as condições possíveis para uma vida comum. Assim, a constituição seria uma plataforma de partida para a construção do edifício concreto, cuja obra seria resultante das combinações desses materiais feitas pela “ política constitucional”. O Brasil adotou essa concepção de constituição.
Quais as características da Constituição dirigente? I. reconhece caráter de impulso e incentivo ao bloco normativo-programático contemplado em seu texto.  II. considera que os problemas econômicos, sociais, científicos são, simultaneamente, problemas constitucionais suscetíveis de conformação e resolução através de decisões político-constitucionais vinculativas das decisões tomadas pelo poder político.  
III. contempla definição programático-constitucional dos fins e tarefas do Estado que não elimina o poder de conformação da maioria simples em que eventualmente se apoia um governo, nem impede a renovação da direção política e a confrontação pluripartidária. IV. enseja a dedução de pretensões à legislação e o correspondente direito de ação perante os tribunais, que, todavia, não resulta na substituição do juiz ao legislador com a consequente emanação judicial de uma norma nem pela correção incidental da omissão legislativa. (características que já cairam na FCC)
O que são constituições preceituais e principiológicas? A Constituição preceitual é aquela em que prevalecem as regras, individualizadas em normas constitucionais com baixo grau de abstração, e com poucos princípios. A doutrina cita como exemplo a Constituição Mexicana.
Contrapõem-se à Constituição principiológica. Nela, prevalecem os princípios, espécie de norma jurídica, como sabido, de alto grau de abstração e consagradora de valores. A doutrina cita como exemplo a CF/88.
O que são constituições ortodoxas e ecléticas? A primeira são aquelas em que se adota apenas uma ideologia como embasadora de todo o seu regramento. Podemos citar como exemplo as diversas Constituições da China Marxista. Contrapõem-se, assim, às ecléticas, em que se buscam adotar ideologias conciliatórias, como o caso da CF/88.
Qual a distinção entre constituição espessa e fina? Karl Lowestein designou o sentimento constitucional sendo elemento psicossocial e sociológico, de cuja presença tanto depende o sucesso da experiência constitucional em cada estado. Faz-se necessário que o cidadão comum se identifique com os valores e princípios básicos da sua Constituição, tomando-a como algo valioso e importante, que também é seu, e não como mero instrumento técnico-jurídico do mundo dos advogados. Dessa forma, Mark Thushnet elaborou a distinção da pergunta. A constituição espessa envolve todos os preceitos constitucionais, e a constituição fina apenas os valores e princípios fundamentais da Constituição. Como afirma Tushnet, seria pretender demais desejar que o cidadão comum se sensibilizasse com as questões eminentemente técnicas envolvendo as normas da Constituição espessa, que muito provavelmente não lhe dizem nada. Mas não é desarrazoado esperar que ele se identifique e se mobilize em favor dos valores constitucionais básicos de seu Estado, contidos na constituição fina ( Daniel Sarmento)
O que vem a ser a expressão “constituição. Com”? Segundo Uadi Lamegos Bulos, a “Constituição. Com” é aquela cujo projeto conta com a opinião maciça dos usuários da internet que, por meio de sites de relacionamento, externam seu pensamento a respeito dos temas a serem constitucionalizados. Desse modo, por esse sugestivo nome, as governos aproveitam as redes sociais para escreverem novas cartas constitucionais para seus respectivos Estados. Foi a Islândia em 2011 a pioneira nesse projeto. 
O que vem a ser pluralismo jurídico? O pluralismo jurídico, decorrente dos pensamentos desenvolvidos no âmbito da Teoria Crítica, surge em contraposição ao monismo, que advém, por sua vez, da concepção moderna de que o Estado é o centro do poder e única fonte válida de criação de normas jurídicas. Nesse contexto, o monismo estaria ligado ao positivismo, uma vez que somente seriam jurídicas as normas elaboradas pelo Estado. Entretanto, na contemporaneidade, o monismo vem sendo questionado diante da constatação da pluralidade de ordenamentos jurídicos, que urge, assim, a necessidade de se rever o direito tradicional, no intuito de se alcançar uma ordem jurídica mais justa. O pluralismo jurídico atesta a existência de diversos ordenamentos, em um mesmo espaço geográfico, sem necessariamente ser produto de elaboração do Estado, mas, mesmo assim, legítimo. O jurista Antônio Carlos Wolkmer salienta a dificuldade em conceituar o pluralismo jurídico, uma vez que há uma variedade de modelos e autores que defendem diferentes vertentes. Mas chega ao seguinte conceito: “ multiplicidade de práticas jurídicas existentes num mesmo espaço sócio-político, interagidas por conflitos ou consensos, podendo ser oficiais ou não, e tendo sua razão de ser nas necessidades existenciais , materiais e culturais. Uma das vertentes mais representativas do pluralismo jurídico e pertinente para a explicação desta questão é o Pluralismo Jurídico Pós-Moderno de Boaventura de Sousa Santos. Essa temática aparece na obra do jurista português ao analisar o cotidiano de uma favela carioca, à qual deu o nome de Parságada. Naquela localidade, os interesses dos moradores não eram acolhidos pelo direito estatal, deixando a comunidade sem acesso aos mecanismos oficiais de ordenação social. Diante da necessidade de regulação e controle em questões envolvendo a posse de terra na favela, a comunidade desenvolveu seus próprios meios de solução de conflitos, ou seja, criaram-se regras não oficiais tidas como legítimas e respeitadas pela comunidade. Segundo Santos, esse novo direito informal, proveniente de setores marginalizados, caracteriza-se por não ser formalizado, não se basear em um sistema positivado e organizado. Ao contrário, é resultado de umsistema empírico, de ações que ocorrem no dia a dia, de práticas reiteradas de acontecimentos e decisões. Entretanto, para Santos, a constatação da existência de ordens jurídicas, eficientes e legítimas, não oriundas do poder estatal, não implica, a perda da centralidade do direito estatal. As regras criadas por membros de organizações criminosas pode ser considerada um exemplo de pluralismo jurídico, uma vez que essas facções têm se tornado pólos normativos diversos do Estado. Como exemplo dessa ordem jurídica não-oficial e paralela, pode-se citar as contribuições pagas pelos membros à facção, os julgamentos informais e a execução de penalidades feitas pelos presos, consoante às regras de conduta impostas pelas facções nos presídios
O que vem a ser egologismo existencial? ( FCC- DPE/MA 1ª fase) O Egologismo Existencial surge pela idealização do argentino Carlos Cossio, que procura colocar a ciência jurídica nos tempos atuais, enquadrando-a nas recentes descobertas da moderna epistemologia. Para isso, Cossio enxerga o Direito enquanto um fenômeno incorporado na vida do ego, o qual oriunda o nome ego-lógica, e existencial, por ser um dos instrumentos teóricos da Filosofia contemporânea a qual se baseia. A norma jurídica, para o egologismo, é, concomitantemente, um juízo imputativo e uma conduta, visto o plano gnoseológico da lógica transcendental configurar-se como um conceito que destaca a conduta em sua liberdade, e, o plano da lógica formal, um juízo que diz algo a respeito da conduta. Assim, no cerne da
TEORIA DA CONSTITUIÇÃO – CONCEITOS 
Concepção sociológica. Enxerga a Constituição sob o aspecto da relação entre os fatos sociais dentro do Estado. A Constituição nasce na própria realidade social; é a realidade política e social do presente; não é norma do “dever-ser” e sim do “ser”. Para Lassalle havia uma Constituição real (ou efetiva - definição clássica - é a soma dos fatores reais de poder que regem uma determinada nação) e uma Constituição escrita (ex: CF/88 - para Lassalle, uma constituição escrita não passa de uma folha de papel). Desta soma, se fosse a Constituição escrita contrária à Constituição real ou efetiva aquela deveria sucumbir-se, pois deveria se coadunar com a Constituição real ou efetiva.
	Distinção entre a constituição: 1) Real: fruto do reflexo social, bem como, corresponde à própria realidade social (prevalência); 2) Jurídica: fruto da racionalidade humana/dever-ser, destoa da realidade (utópica). Ademais, sustentava esse autor que “os problemas constitucionais não são problemas de Direito, mas do poder; a verdadeira Constituição de um país somente tem por base os fatores reais e efetivos do poder que naquele país vigem e as constituições escritas não têm valor nem são duráveis a não ser que exprimam fielmente os fatores do poder que imperam na realidade social”. O autor citado mencionava que “de nada serve o que escreve numa folha de papel se não se ajusta à realidade, aos fatores reais de poder”.
Concepção política. Observa-se assim que para Schmitt, não é a Constituição que produz unidade política, mas, inversamente, é a unidade política, ou seja, a Nação que gera a Constituição. Portanto, a Constituição só existe porque antes dela já existia uma unidade política, e somente a decisão conjunta de um povo sobre o modo e a forma de sua experiência é que confere a um conjunto de normas o caráter de Constituição.
	CONSTITUIÇÃO
	LEI CONSTITUCIONAL
	Traz as normas que decorrem da decisão política fundamental, normas estruturantes do Estado, que nunca poderão ser reformadas
	Será a que estiver no texto escrito, mas não for decisão política fundamental, ex: art. 242, §§ 1º e 2º, CF - é matéria adstrita à lei, mas que está na Constituição, podendo ser reformadas por processo de reforma constitucional. 
Diante dessa divisão que Schmitt lança, Lenza afirma que a Constituição também pode ser definida tomando-se o sentido material e formal. O sentido material vai importar para definirmos se uma norma tem ou não caráter constitucional será o seu conteúdo, pouco importando a forma pela qual foi aquela norma introduzida no ordenamento. Na atualidade, abrange as normas que organizam aspectos básicos da estrutura e do exercício do poder, como que se refere a direitos fundamentais. Trata-se do que Schmitt chamou de constituição. Já em sentido formal não mais nos interessaria o conteúdo da norma mas sim a forma como ela foi introduzida, o que se chamaria lei constitucional.
A concepção política possui relação com a teoria decisionista? Sim. A concepção política de constituição é associada a Carl Schmitt, que realiza distinção entre a Constituição propriamente dita e os bens constitucionais. A constituição propriamente dita é somente aquilo que decorre de uma decisão política fundamental (conceito “decisionista” de Constituição). As demais matérias da Constituição, que não decorrem dessa decisão política fundamental, são apenas leis constitucionais (e não compõe a “Constituição propriamente dita”). São, portanto matérias que poderiam ser tratadas pelo legislador ordinário, sem necessariamente estarem no texto da Constituição. O exemplo mais citado em doutrina é do artigo 242, § 2º, da CF/88, que trata do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro.
	O Brasil NÃO adota a diferenciação entre Constituição e Leis Constitucionais, adotando o padrão formal, ou seja, se estiver no texto da Constituição, possui status constitucional para todos os fins. Com efeito, as normas das disposições constitucionais transitórias NÃO equivalem a leis constitucionais,
Concepção jurídica. A Constituição é puro dever-ser, norma pura, não devendo buscar seu fundamento na filosofia, na sociologia ou na política, mas na própria ciência jurídica. Inclusive, para o jurista a Constituição é vista sempre como “norma jurídica de organização”. Logo, é puro "dever-ser". Constituição deve poder ser entendida no sentido: a) lógico-jurídico: norma fundamental hipotética: fundamental porque é ela que dá o fundamento da Constituição; hipotética porque essa norma não é posta pelo Estado é apenas pressuposta. Não está a sua base no direito positivo ou posto, já que ela própria está no topo do ordenamento; e b) jurídico-positivo: é aquela feita pelo poder constituinte, constituição escrita, é a norma que fundamenta todo o ordenamento jurídico. No nosso caso seria a CF/88. É algo que está no direito positivo, no topo na pirâmide. A norma infraconstitucional deve observar a norma superior e a Constituição, por consequência. Dessa concepção nasce a ideia de supremacia formal constitucional, controle de constitucionalidade, e de rigidez constitucional, ou seja, necessidade de proteger a norma que dá validade a todo o ordenamento.
Concepção cultural da Constituição. A concepção cultural indica que a Constituição é produto de um fato cultural, produzido pela sociedade e que nela pode influir, envolvendo, ao mesmo tempo, elementos históricos, sociais, espirituais (sentimentos, ideias morais, políticas e religiosas, valores), racionais (técnicas jurídicas, formas políticas, instituições, conceitos), e elementos voluntaristas (vontade humana, vontade política na adoção desta ou daquela forma de convivência política e social, de organização do Direito e do Estado etc.). Neste sentido, é possível falar em uma Constituição Total, por englobar uma complexidade de aspectos (econômicos, sociológicos, jurídicos, filosóficos etc.), sem perder a unidade. A Constituição positivada mostra-se, nesta perspectiva, como um conjunto de normas fundamentais, condicionadas pela cultura total.
	A concepção culturalista busca o fundamento da Constituição na cultura de um povo. Na verdade, é um apanhado das três concepções anteriores, pois abarca os aspectos sociológico, político e jurídico. Para os defensores desta concepção, ao mesmo tempo em que a Constituição é condicionada pela realidade e pela cultura de um determinado povo, também é condicionante desta cultura (ou seja, possui força normativa capaz de alterar a cultura que lhe deu origem). Essaconcepção remete ao conceito de Constituição total, uma Constituição que abrange todos os aspectos, não só da vida do Estado mas também da vida em sociedade.
	SOCIOLÓGICA
	Ferdinand Lassale 
	Ressaltou o caráter sociológico da Constituição, a qual seria, na realidade, a soma dos fatores reais do poder. Esses fatores reais do poder seriam as forças ativas e com poder de decisão sobre os rumos da sociedade. Ex: imprensa, exército, grandes empresários. Uma Constituição que não correspondesse a tais fatores reais não passaria de uma simples folha de papel. 
	DECISIONISTA
	Carl Schmitt 
	Como acima visto, para o autor, a Constituição é fruto de uma decisão política fundamental, isto é, uma decisão de conjunto sobre o modo e a forma da unidade política da sociedade. O conteúdo de uma Constituição refletiria a forma de Estado, a de governo, os direitos fundamentais, os órgãos de poder, porquanto promana de uma decisão política fundamental. 
	POSITIVISTA
	Hans Kelsen 
	A constituição é a norma fundamental hipotética, que tem a função primordial de servir de fundamento de validade do ordenamento jurídico, outorgando-lhe sistematicidade.
	TOTAL
	Hermman Heller 
	Busca enxergar a Constituição como uma totalidade, trabalhando tanto a sua concepção sociológica, jurídica, como política. É a tentativa sincrética de combinar os sentidos anteriores de Constituição 
	JURÍDICA
	Konrad Hesse 
	Busca um meio termo entre a concepção de Lassale e Kelsen. Reconhece a existência de fatores reais de poder (o que era irrelevante para Kelsen), mas acredita que a força normativa da Constituição é capaz também de alterar a realidade fática. 
Constituição aberta (Haberle). Leva em consideração que a Constituição tem objeto dinâmico e aberto para que se adapte às novas expectativas e necessidades do cidadão. Se traduz no sentido de que ela possa permanecer dentro do seu tempo e, assim, evitar riscos de desmoronamento de sua força normativa. Se é aberta admite emendas formais (EC) e emendas informais (mutação constitucional) e mais, está repleta de conceitos indeterminados.
	Qual a influência da mutação constitucional no exercício da atividade legislativa, administrativa e jurisdicional do Estado brasileiro? Mutação constitucional é um processo não formal de mudança da Constituição em que o texto constitucional permanece inalterado, modificando-se apenas o significado e sentido interpretativo de determinada norma constitucional. Segundo Barroso, a mutação constitucional pode ocorrer por:
· Intepretação: consiste na mudança de sentido da norma frente a um entendimento já consolidado ( se dá, normalmente, por meio da atividade judicial)
· Pela atuação do legislador: ocorre na hipótese de modificação na interpretação de uma norma por meio de um ato normativo primário ( atinge fundamentalmente a atividade legislativa
	A mutação constitucional pode ocorrer via atuação do Poder Legislativo. O Poder Legislativo também compõe a sociedade dos intérpretes da Constituição Federal de 1988 e, portanto, pode se caracterizar como um agente capaz de exteriorizar o fenômeno da mutação constitucional. O clássico exemplo de mutação constitucional exteriorizada pelo Poder Legislativo envolve o tema das cotas raciais no acesso ao ensino superior; afinal, após uma série de mudanças nos valores do Estado brasileiro, o Poder Legislativo editou leis que regulamentaram o tema, como a Lei do ProUni, o Estatuto da Igualdade Racial (que, embora não trate especificamente sobre o tema das cotas, dispõe sobre regras que envolvem a educação no Brasil), além de outras leis editadas pelos Estados-membros. 
· Via de costume: é aquela que altera uma prática historicamente considerada válida.
· A mutação constitucional pode ocorrer via atuação do Poder Executivo. Embora possa soar de maneira estranha, o Poder Executivo também pode ser um agente exteriorizador de uma mutação constitucional, já que ele também faz parte da comunidade de intérpretes da Constituição Federal de 1988. Um dos casos mais emblemáticos de mutação constitucional realizada pelo Poder Executivo é o reconhecimento do conceito de quilombo pelo Decreto no 4.887/2003. Sobre este ponto, trazemos novamente a lição de Daniel Sarmento e Cláudio Pereira de Souza Neto: “O Poder Executivo também pode ser agente da mutação constitucional, uma vez que interpreta e aplica a Constituição no exercício das suas competências. Novas práticas e orientações do Poder Executivo, assim como normas jurídicas que ele venha a produzir no âmbito da sua competência, podem exteriorizar uma nova leitura sobre alguma norma constitucional específica. [...] No Brasil, um exemplo recente e positivo de atuação do Poder Executivo na mutação constitucional deu-se no tema das comunidades de remanescentes de quilombos. O art. 68 do ADCT consagra o direito dos remanescentes das comunidades de quilombos à propriedade definitiva das terras que ocupem. Por ocasião da Assembleia Constituinte, não havia muita clareza sobre o conceito de quilombo. Após a Constituição, muitos sustentavam uma visão restritiva do conceito de quilombo, de modo a abarcar os espaços territoriais ocupados por descendentes de escravos fugidos. Sem embargo, a partir da década de 90, o tema passa a ser objeto de intensa discussão tanto no âmbito do movimento negro como no campo da Antropologia, e o art. 68 do ADCT começa a ser invocado com frequência cada vez maior como instrumento de luta em favor dos direitos territoriais de comunidades negras dotadas de cultura própria e de um passado ligado à resistência e à opressão. Essa concepção mais elástica de quilombo, resultado de um verdadeiro processo de ‘ressemantização’ do termo, foi acolhida pelo Decreto 4.887/2003, atualmente em vigor, que disciplina o procedimento de reconhecimento, demarcação e titulação das propriedades dos remanescentes de quilombos e beneficia outras comunidades negras que não são compostas de escravos fugidos, mas que têm traços culturais próprios, intensa relação com o território que ocupam, além de uma trajetória histórica de resistência à opressão racial. Nesse caso, o Poder Executivo não inventou um novo conceito de quilombo, substituindo-se ao poder constituinte, mas acolheu em ato normativo um novo significado mais amplo e generoso do termo, plenamente compatível com o espírito e os valores da Constituição de 88, e que já fora consagrado no universo de agentes e instituições sociais, acadêmicas e profissionais que lidam com a temática” (SARMENTO, Daniel e NETO, Cláudio Pereira de Souza. Direito Constitucional: Teoria, Tópicos e Métodos de Trabalho. 2. ed. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2016, pp. 352-353).
Quais as características da mutação constitucional? 
· Latência: o fenômeno em estudo é um poder invisível que, na maior parte do tempo, permanece em “estado de latência”. Sobre esta característica da mutação constitucional, é a lição de Uadi Lammego Bulos: “o poder difuso apresenta-se em estado de latência, daí ser um poder invisível, apenas aparecendo quando necessário, para ser exercido pelos órgãos constitucionais, aos quais compete aplicar a constituição, interpretando-a, escandindo-a se preciso for, a fim de dar-lhe efetividade” (BULOS, Uadi Lammego, Curso de Direito Constitucional. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 434).
· Permanência: Outra característica da mutação constitucional é a sua permanência: ela não é delimitada por um regramento expresso e, portanto, pode ocorrer a qualquer momento (independentemente da mudança de Constituição). Sobre esta característica da mutação constitucional, é a lição de Uadi Lammego Bulos: “o poder difuso não é menos real do que aquele que atua na etapa de criação e mudança formal das constituições federais e estaduais. Sua ação é permanente e o seu procedimento não vem consagrado de modo expresso, embora atribua às constituições feições novas, outrora não contempladas quando da feitura dos seus preceptivos” (BULOS, Uadi Lammego, Curso de Direito Constitucional. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 434).
· Informalidade:A mutação constitucional é informal, tendo em vista que o seu procedimento não foi estipulado pelo poder constituinte. Sobre essa característica da mutação constitucional, é a lição de Uadi Lammego Bulos: “o poder difuso não é inicial, autônomo nem incondicionado. Também não é secundário, limitado ou, sequer, condicionado. Não vem previsto pelos mecanismos instituídos na ordem jurídica, porque é informal, ou seja, não promana da linguagem prescritiva do legislador constituinte. As praxes constitucionais advêm desse contexto, abrangendo convenções, usos e costumes” (BULOS, Uadi Lammego, Curso de Direito Constitucional. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 434).
· Continuidade: Por fim, a doutrina elenca a continuidade como uma das características da mutação constitucional, já que os três poderes da república, ao exteriorizarem o fenômeno da mutação constitucional, “continuam” a obra do constituinte originário. Sobre esta característica da mutação
SINONIMOS DE MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL: vicissitude constitucional tácita, processo informal de mudança, mudança constitucional silenciosa.
Concepção processual da Constituição. A concepção processual entende a Constituição como um processo público. André Puccinelli Júnior (JÚNIOR, André Puccinelli. Curso de direito constitucional. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2012) se baseia no pensamento de Peter Harbele, para informar, em poucas linhas, o sentido processual de Constituição. Nesse sentido, a Constituição se revela como algo dependente de interpretação, sendo, assim, o resultado de um amplo processo de interpretação aberto ao público (em geral). Haveria, portanto um processo público de grande interpretação constitucional republicana, por meio de um processo democrático dos diversos interpretes sociais, cuja obra final seria a própria Constituição. Diferencia-se da “concepção cultural” na medida em que para esta a Constituição é produto de um fato cultural, produzido pela sociedade e que nela pode influir, não se falando em um processo, como aduz a concepção processual.
Força Normativa da Constituição. Konrad Hesse - critica e rebate a concepção tratada por Ferdinand Lassalle. A Constituição possui uma força normativa capaz de modificar a realidade, obrigando as pessoas. Nem sempre cederia frente aos fatores reais de poder. Tanto pode a Constituição escrita sucumbir, quanto prevalecer, modificando a sociedade. Hesse afirma que a Constituição não configura apenas o “ser” (os princípios basilares que determinam a formação do Estado), mas também dever ser, ou seja, a Constituição deve incorporar em seu bojo a realidade jurídica do Estado, estando conexa com a realidade social. O STF tem utilizado bastante esse princípio da força normativa da Constituição em suas decisões. A prática da força normativa da Constituição traduz a essência da ideia neoconstitucionalista.
	Em uma concepção moderna, a teoria da força normativa da Constituição traduz que a constituição escrita possui vontade própria, sendo apta a redesenhar a soma dos fatores reais de poder, contrapondo-se, assim, à ideia de constituição como mera folha de papel. Assim, embora Hesse entenda que a constituição escrita deve estar de acordo com a realidade histórica, não devendo ser imposta, posiciona-se no sentido de que a constituição ganha força ativa e ordenadora da vida do estado, trazendo um dever-ser e servindo como norte para a interpretação das demais normas do ordenamento jurídico
É bom ressaltar também as diretrizes de Barroso que no Brasil se desenvolveu no âmbito de um movimento jurídico-acadêmico conhecido como doutrina brasileira da efetividade. Tal movimento procurou não apenas elaborar as categorias dogmáticas da normatividade constitucional, como também superar algumas das crônicas disfunções da formação nacional, que se materializavam na insinceridade normativa, no uso da Constituição como uma mistificação ideológica e na falta de determinação politica em dar-lhe cumprimento. A essência da doutrina da efetividade é tornar as normas constitucionais aplicáveis direta e imediatamente, na extensão máxima de sua densidade normativa. Como consequência, sempre que violado um mandamento constitucional, a ordem jurídica deve prover mecanismos adequados de tutela, por meio da ação e jurisdição.
PODER CONSTITUINTE
3. Poder constituinte: a) Perspectivas históricas; b) Poder Constituinte Originário: caracterização, função, finalidade, atributos, natureza; c) Espécies de Poder Constituinte Derivado: atuação e limitações; d) “Poder Constituinte Supranacional”.
Conceito de poder constituinte. É poder de elaborar ( originário) ou atualizar uma Constituição, mediante supressão, modificação ou acréscimo de normas constitucionais. 
Elementos da história do conceito. A noção de “ poder constituinte” — de um poder capaz de criar a Constituição — é elaboração da teoria constitucional francesa e norte-americana do período revolucionário do século XVIII. Embora a revolução liberal tenha ocorrido na Inglaterra no século anterior, a ideia de poder constituinte lá não se desenvolveu, e o constitucionalismo acabou se fundando em outras bases , que conjugavam liberalismo com respeito às tradições políticas . Foi Emmanuel Sieyès , nos momentos preliminares da Revolução Francesa , quem formulou a versão mais conhecida do conceito de poder constituinte, traçando contornos que, até hoje, com pequenas modificações, representam a ortodoxia no assunto, em que publicou o opúsculo O que é o Tercei ro Estado. Com a formulação do conceito de poder constituinte por Sieyes, conferia-se uma nova justificativa à supremacia constitucional. O Poder constituinte estruturaria o exercício do poder político, determinado os termos em que as autoridades públicas, inclusive legisladores, poderiam licitamente atuar. Tal poder, que pertencia à Nação, além de criar os poderes constituídos, fixava-lhes limites: nenhuma espécie de poder delegado pode mudar nada nas condições de delegação. A representação ordinária, exercida fora dos limites impostos pelo constituinte tornava-se ilegítima. 
	Em sua formulação clássica, Sieyès adotou a doutrina rousseauniana da vontade geral, defendendo a necessidade de participação dos indivíduos através da representação. Assim, o poder constituinte seria incondicionado e permanente, tratando-se da vontade da nação, e somente encontraria limites no direito natural. O poder constituído, por sua vez, receberia sua existência e suas competências do poder constituinte, sendo por ele juridicamente limitado.
Qual a natureza jurídica do poder constituinte? Para os jusnaturalistas: o poder constituinte é assentado no direito natural, que lhe é anterior ao próprio Estado que o funda. Já os juspositivistas afirma que o poder constituinte é um poder histórico, ele simplesmente existe.
Quem é o titular do poder constituinte? O povo, seja nato ou naturalizado.
	Na teoria constitucional contemporânea, é praticamente unânime o entendimento de que é o povo o titular do poder constituinte. Todavia, infelizmente, não é incomum a invocação farsesca do povo nos textos constitucionais, sem que tenha ocorrido a sua efetiva participação no processo constituinte. Constituições elaboradas de maneira não democrática e de conteúdo autoritário invocam o povo, como se essa mera alusão bastasse para legitimar a origem viciada do documento. Porém, é fora de dúvida que mais importante do que proclamar o povo como titular do poder constituinte é que efetivamente se abram os espaços para a participação popular na elaboração da Constituição. É muito mais nisso do que nas abstrações e mistificações sobre a titularidade do poder constituinte que está a diferença entre o constitucionalismo democrático e o autoritário
	A teoria da soberania popular considera que o poder constituinte é de titularidade do povo, esse compreendido como complexo de forças políticas plurais, “grandeza pluralística”, ou seja, como uma pluralidadede forças culturais, sociais e políticas tais como partidos, grupos, igrejas, associações, personalidades, decisivamente influenciadoras da formação de opiniões, vontades, correntes ou sensibilidade políticas nos momentos preconstituintes e nos procedimentos constituintes. – MP/PR- 2017.
Defina o que é poder constituinte originário. É o poder político supremo, destinado a elaborar o texto da Constituição do Estado e que não encontra qualquer condição ou limites pré-estabelecidos no direito.
Sinônimos ao poder constituinte originário: primeiro grau, inicial e genuíno
Quais as divisões do poder constituinte originário? Pode ser: histórico: seria o verdadeiro poder constituinte originário, estruturando, pela primeira vez, o Estado; revolucionário: seriam todas as Constituições que inauguram a ordem jurídica após o inicial.
Quais as características do poder constituinte originário? A) inicial (é simultaneamente constituinte e desconstituinte); B) autônomo; C) incondicionado; D) soberano; E) permanente; F) ilimitado juridicamente
	
INICIAL
	O poder constituinte é concebido como inicial porque “funda” a ordem jurídica e institui o Estado, rompendo com o passado. Como sustenta Sieyès, “a nação existe antes de tudo, ela é a origem de tudo”.37 Daí porque o poder constituinte, como expressão da “vontade nacional” é concebido como “a origem de toda a legalidade”.
	
ILIMITADO
	O poder constituinte é concebido como ilimitado, por não estar sujeito a limites jurídicos, especialmente às prescrições da ordem jurídica passada. A noção também é devida à Sieyès: “Uma nação é independente de qualquer formalização positiva; basta que sua vontade apareça para que todo direito político cesse, como se estivesse diante da fonte e do mestre supremo de todo o direito positivo”.46 Sieyès, todavia, reconhecia um limite para o poder constituinte: o Direito Natural. No contexto histórico em que escreveu, do apogeu do jusnaturalismo Iluminista, o reconhecimento deste limite era praticamente inevitável. Porém, com a crise do jusnaturalismo e ascensão do positivismo jurídico, a limitação jusnaturalista para o poder constituinte deixa de ser reconhecida. Não se aceita mais a existência de normas ou valores suprapositivos, que confeririam validade ao Direito.47 Além do positivismo, outras perspectivas constitucionais, como decisionismo de Carl Schmitt, também negavam a existência de limites ao poder constituinte, que é concebido como pura “vontade política”.48 Por um ou outro fundamento, a posição dominante passa a sustentar a inexistência de qualquer limite normativo para o poder constituinte originário, tido como juridicamente onipotente.49 Mesmo para esta última visão, a ausência de limitação jurídica não afasta a existência de limites impostos pela realidade. Uma assembleia nacional constituinte não deve, se pretende ver efetivada a sua obra, ignorar os “fatores reais de poder” e os valores compartilhados pela comunidade
	INCONDICIONADO
	O poder constituinte costuma ser caracterizado ainda como incondicionado, porque ele próprio pode estabelecer a sua forma de manifestação, não devendo obediência a nenhum procedimento previamente definido. Sendo a Constituição o fundamento de validade do ordenamento, a sua juridicidade não depende da observância de regras de elaboração do novo texto, ditadas anteriormente.
	
INDIVISIVEL
	A indivisibilidade significa também, de acordo com a concepção ortodoxa, que não há “poder constituinte pela metade”. Ou se está diante de um ato do poder constituinte originário, que não se sujeita a limites, ou que existe é uma manifestação de um poder constituído, que deve observar as limitações traçadas pelo primeiro.
No Brasil, existe uma dimensão prática relevante no debate sobre a indivisibilidade do poder constituinte. Trata-se da hipótese, frequentemente aventada no meio político, de convocação de uma assembleia constituinte parcial, para deliberar sobre tema específico, mas sem seguir as regras sobre reforma constitucional ditadas na Constituição. A concepção tradicional nega esta possibilidade, afirmando que ou a assembleia convocada terá poderes constituintes e, portanto, poderá decidir sobre qualquer assunto; ou ela será um simples poder constituído, hipótese em que não poderá afastar-se das normas constitucionais que regulam o poder de emenda. Não haveria outra alternativa. 
Não vislumbramos, a princípio, uma impossibilidade teórica na convocação de assembleia constituinte parcial. Se o que lastreia o poder constituinte é a soberania popular, é possível conceber um cenário em que haja uma intensa mobilização do povo no sentido de ruptura com apenas parte da ordem constitucional vigente, sem que se pretenda romper com outras partes da Constituição. Em um contexto como esse, uma assembleia constituinte parcial seria mais adequada do que outra, investida de plenos poderes para tratar de todos os assuntos. Afinal, não é a assembleia constituinte a titular do poder constituinte. Esse reside no povo, que a assembleia apenas representa.
Todavia, fora de um genuíno momento constituinte, caracterizado pela intensa mobilização popular em favor de rompimento — ainda que parcial — com a Constituição, esta possibilidade não existe. Nos contextos ordinários da vida política, as mudanças constitucionais têm de ser perseguidas por meio dos procedimentos estabelecidos pela própria Constituição para a sua reforma.
	
PERMANENCIA
	A permanência do poder constituinte não deve ser compreendida como a dilação, indefinida no tempo, da situação excepcional que caracteriza a política no período de elaboração constitucional, pois essa não tem como conviver com o constitucionalismo, que persegue a limitação jurídica do poder.79 Tal permanência significa, tão somente, que a soberania popular não é patrimônio exclusivo de uma única geração. Em outras palavras, feita a Constituição, a soberania popular não se extingue. Ela subsiste, e o povo pode, em momentos extraordinários da vida nacional, invocá-la de novo, para dar-se uma nova Constituição. Como também pode — rectius, deve — manter-se ativo na arena da interpretação constitucional, convertendo-se em protagonista do processo de concretização da Constituição.
	A doutrina moderna não vem abraçando em sua completude a característica de ser ilimitado juridicamente, na medida em que o poder constituinte originário também possui limites, pois não se pode emprestar à Constituição todo e qualquer conteúdo. Deve, portanto, atender a limites METAJURÍDICOS, a saber: imperativos de ordem natural, valores éticos da sociedade, vedação ao retrocesso de direitos já consagrados (no liquet)
Teorias que limitam o poder constituinte originário. Hoje, contudo, mesmo na dimensão normativa, a ilimitação do poder constituinte vem sendo posta em questão.53 Há quem sustente que o poder constituinte se encontra juridicamente limitado pelos direitos humanos reconhecidos internacionalmente.54 Há também quem defenda que ele se limita por princípios suprapositivos de justiça.55 Versão especialmente conhecida da tese da limitação do poder constituinte foi proposta por Otto Bachoff, para quem há “normas constitucionais inconstitucionais”, ou seja, normas que formalmente compõem o texto constitucional originário, mas que não são válidas por violarem o direito supraconstitucional, sendo certo que o Supremo Tribunal Federal tem rejeitado a tese das normas constitucionais inconstitucionais, deixando de conhecer das ações que a veiculam. Em outros contextos, contudo, a tese, além de correta, é útil e merece a adesão dos democratas. Há “Estados de Direito” e “Estados de não-Direito”, conforme respeitem ou não certas noções básicas de justiça, ligadas aos direitos fundamentais e à democracia. A teoria do poder constituinte só se sustenta como teoria de uma Constituição comprometida com o Estado Democrático de Direito. Pode-se também discutir a vinculação do poder constituinte originário a limites materiais impostos pelas normas que convocaram a Assembleia Constituinte. Luís RobertoBarroso chama tais limites de “condicionamentos pré-constituintes”62 e eles não são incomuns. Algumas vezes, as forças políticas que deflagram o processo constituinte, além de definirem o processo de elaboração do novo texto, fixam limitações materiais a serem observadas. Na Itália, por exemplo, estabeleceu-se que na mesma eleição que escolheria os constituintes, o povo se manifestaria diretamente, mediante referendo, sobre a forma de governo — República ou Monarquia. Quando se reuniu a Assembleia Constituinte, em 1947, no ano seguinte ao da consulta popular em questão, ela se deparou com a decisão já tomada em favor do governo republicano, que teve de respeitar.
O PCO é Um poder de fato ou de direito? Não há dúvida de que a Constituição integra o ordenamento jurídico. Mas e o poder constituinte, que lhe é anterior? Para a concepção positivista do poder constituinte, esse é um poder de fato, situado fora do Direito, já que não se subordina a qualquer limite jurídico, e não há nenhum critério normativo que permita a sua identificação. O decisionismo de Carl Schmitt compartilha esta mesma ideia, ao conceber o poder constituinte como pura força política, capaz de tomar a decisão fundamental sobre a existência da comunidade estatal.81 Há, todavia, quem rejeite esta tese, sustentando a natureza jurídica do poder constituinte. Para esses, o poder constituinte não está fora do Direito, mas é também regulado por ele. Para Daniel Sarmento Não há dúvida de que o poder constituinte originário é um poder eminentemente político, que, como já ressaltado, não atua seguindo os procedimentos e observando os limites ditados pela ordem jurídica que o antecedeu. Sem embargo, apesar da sua dimensão política, ele também pertence à esfera do Direito, uma vez que, como já salientamos anteriormente, não é onipotente, estando sujeito a limites e condicionamentos não só sociais, como também jurídicos, atinentes ao respeito ao conteúdo mínimo dos direitos humanos e à observância de procedimento democrático na elaboração da Constituição. Essa posição envolve a adoção de um conceito sobre o poder constituinte que não é apenas descritivo, mas também prescritivo.89 Em outras palavras, só deve ser reconhecida como manifestação válida do poder constituinte aquela que satisfaça condições morais mínimas, relacionadas não só à legitimidade democrática do seu exercício, como também ao conteúdo da Constituição elaborada.90 Subjacente a esta posição há a crença, que compartilhamos com os não positivistas, de que a relação entre Direito e Moral não é apenas contingente, mas necessária.91 As manifestações de poder, ainda quando socialmente eficazes, não criam normas jurídicas quando não observarem aquelas condições morais elementares. Não pode ser aceita sem reservas a máxima positivista, exposta pela primeira vez por Thomas Hobbes, de que autoritas non veritas facit legem. A ilegitimidade não é uma questão exclusivamente política, de natureza extrajurídica. Legitimidade e legalidade, embora não se confundam, não habitam universos separados, mas se comunicam.92 A grave ilegitimidade contamina a validade jurídica de um ato — e isso vale até para a Constituição. Por isso, e considerando que a expressão “poder constituinte” não é neutra, mas ostenta uma inequívoca natureza legitimadora, entendemos indispensável que se conjugue a visão descritiva com a prescritiva no tratamento do assunto. Do contrário, ter-se-ia de reconhecer, por exemplo, que o AI- 5, ditado pelos militares no auge do período de exceção, configurou válido exercício do pode constituinte originário. Afinal, aquele ato institucional não buscava fundamento de validade na Constituição de 1967, mas se sobrepunha a ela, fundando-se na “Revolução” vitoriosa de 1964. Ele foi regularmente observado pela sociedade brasileira, inclusive pelo STF, passando no teste da eficácia social. Portanto, na nossa visão, o poder constituinte originário não é apenas um poder de fato. Ele é também um poder de Direito.
O que vem a ser bootstrapping? O tema do bootstrapping foi objeto de questionamento da prova oral do concurso para ingresso na magistratura do TJDFT (2015) e acabou pegando muitos candidatos de surpresa. A função de bootstrapping, pode ser entendida como uma reação interna ao processo constituinte, quando a própria assembleia constituinte rejeita a submissão ao ato que a criou, configurando uma verdadeira “libertação de amarras”, buscando legitimar o seu exercício e resultado diretamente perante o povo. Sobre a teoria do bootstrapping, é a lição de Daniel Sarmento e Cláudio Pereira de Souza Neto: “Jon Elster estudou, na perspectiva da teoria política, a tendência das assembleias constituintes de expandirem os seus próprios poderes, rompendo limites impostos pelas forças que as convocaram, e chamou este fenômeno de constitutional bootstrapping – que é, nas suas palavras, ‘o processo pelo qual uma assembleia constituinte rompe os laços com as autoridades que a convocaram e se arroga alguns ou todos os seus poderes para si’. Para Elster, esta tendência decorre do paradoxo do poder constituinte, de que ‘cada geração quer ser livre para vincular os seus sucessores, e ao mesmo tempo não quer estar vinculada aos seus antecessores’ (SARMENTO, Daniel e NETO, Cláudio Pereira de Souza. Direito Constitucional. Teoria, Tópicos e Método de Trabalho, Rio de Janeiro: Editora Fórum, 2013, p.257; grifo nosso).
Defina o poder constituinte derivado. Logra sua existência a partir do poder constituinte originário. As Constituições obedecem a uma imutabilidade relativa para garantir uma maior durabilidade. 
Quais os sinônimos para o poder constituinte derivado? Segundo grau, constituído, secundário, remanescente. 
Quais as características do poder constituinte derivado? A) derivado (é o poder de direito); B) limitado; C) condicionado; D) subordinado
Poder constituinte derivado decorrente como espécie de poder constituinte derivado. É aquele responsável pela elaboração da Constituição dos Estados e DF. Trata-se de competência que se inclui na noção autonomia estadual, na sua dimensão de poder de auto-organização.
Contudo, para a elaboração da Constituição Estadual, o poder deve obedecer a certos limites. O poder constituinte decorrente se justifica pela necessidade de que os entes federativos possam se estruturar de acordo com as suas peculiaridades e a vontade de seu povo, desde que respeitados os limites impostos pela Constituição. Portanto, o seu reconhecimento incorpora a valorização do pluralismo, ao permitir que unidades federais diferentes se organizem de forma distinta. Sem embargo, a Constituição de 88 consagra inúmeras restrições inequívocas à auto-organização dos Estados, que serão examinadas abaixo.
	limites constitucionais sensíveis
	são aqueles cuja violação pode deflagrar a intervenção federal, listados no art. 34, VII, da Constituição
	limites constitucionais extensíveis
	são aqueles princípios que consagram normas organizatórias destinadas à União, mas que se estendem aos Estados. Ex: normas sobre eleição para governador e Vice-governador (art. 28 observado o art. 77); normas sobre a organização, composição e fiscalização do TCU aos Tribunais de contas estaduais (art. 75));
	princípios constitucionais estabelecidos
	(consagrados de forma assistemática ao longo do texto constitucional e limitam a capacidade organizatória dos Estados Federados. Para identificá-los, necessária uma interpretação sistemática. Ex: art. 37 a 41 (norma de limitação expressa mandatória); art. 19 (norma de limitação expressa vedatória)
Existe o princípio da simetria? O princípio da simetria foi concebido antes do início da vigência da presente ordem constitucional. Na Constituição atual, não há a mesma exigência de observância pelos estados do processo legislativo federal. Mas, apesar disso, o STF continua aplicando o parâmetro, normalmente invocado conjuntamente com o princípio da separação dos poderes.162 No que toca a esse tema, prevaleceu a “interpretação retrospectiva” da Constituição: analisa-se a novaordem jurídica sob a ótica do regime passado, como se nada houvesse mudado. O constituinte estadual, segundo a jurisprudência tradicional do STF, deve reproduzir o sistema federal em suas minúcias, não podendo formular inovações significativas. A exigência geral de simetria não se compatibiliza com o federalismo, que é um sistema que visa a promover o pluralismo nas formas de organização política.163 A regra geral não pode ser a exigência de reprodução dos modelos e arranjos previstos para a União, eis que incompatível com a autonomia dos entes federais, que envolve a sua prerrogativa de auto-organização. Adotar a simetria como regra geral é negar uma das mais importantes dimensões do federalismo, que envolve a ideia de “diversidade na unidade”.
A orientação do STF sobre o princípio da simetria foi provavelmente assumida por prudência: a Corte parece ter pretendido evitar que arranjos institucionais desprovidos de razoabilidade fossem praticados em estados e municípios. No fundo, vislumbra-se o medo do abuso, e a imposição aos entes locais de escrupulosa observância dos modelos federais foi o instrumento usado pela Corte para se evitar esse risco.164 Contudo, ao fazê-lo, o STF tem impedido que a forma federativa de Estado exerça uma de suas funções mais importantes, que é permitir que experiências institucionais inovadoras possam ser praticadas nos governos locais e, se bem-sucedidas, eventualmente replicadas em outros entes políticos, quiçá servindo como futura referência para a reforma das instituições nacionais.
NÃO EXISTE PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE NOS MUNICIPIOS. A lei orgânica municipal foi uma inovação da Constituição de 88, diretamente correlacionada com a inclusão do município no pacto federativo. A Constituição de 88, ao elevar o Município à qualidade de ente federal, atribuiu-lhe a prerrogativa da auto-organização, exercitada por meio do poder de editar e reformar a sua lei orgânica. constituinte decorrente. Diversos autores se manifestaram nesse sentido, equiparando a lei orgânica municipal à Constituição estadual, como Hely Lopes Meirelles,173 José Afonso da Silva174 e Regina Nery Ferrari.175 Além da auto- organização municipal, outro argumento favorável à natureza constitucional dessas leis é a sua rigidez, decorrente do quorum de 2/3 dos vereadores, exigido pela Constituição Federal para a sua provação. Há quem sustente que, como se demanda o voto de 2/3 dos membros da Câmara Municipal para aprovação da lei orgânica, o mesmo quorum seria necessário para alterá-la.176 Outro segmento da doutrina afirma que, como a lei orgânica do município deve também respeitar princípios enunciados na respectiva Constituição estadual, ela não poderia ser qualificada como manifestação do poder constituinte decorrente, uma vez que este só se subordina aos comandos ditados pela Constituição Federal.177 Todavia, a restrição à auto-organização dos municípios decorrente da imposição de observância de princípios ditados pela Constituição estadual é mínima. A jurisprudência tem entendido, com razão, que a Constituição estadual deve respeitar a autonomia municipal, não podendo versar sobre temas que são próprios ao Município, como a sucessão do prefeito e vice-prefeito,178 ou o transporte local de passageiros. Finalmente, é certo que a lei orgânica do município também está sujeita àqueles limites impostos à Constituição estadual. Por isso, o seu potencial inovador é bastante reduzido. O STF vem empregando, também para as leis orgânicas municipais, o princípio da simetria como um rigoroso limitador do poder de auto-organização municipal, o que pode ser questionado, com base nas razões já expostas anteriormente.
	Poder constituinte estadual: autonomia e limitações. 
 A Constituição assegura AUTONOMIA aos Estados, como entes federativos, que se consubstancia na sua capacidade de auto-organização, autolegislação, autogoverno e auto-administração. (arts. 18, 25 e 28) 
· Auto-organização: Poder Constituinte Estadual: capacidade de dar-se a própria Constituição. (art.25) 
· Poder Constituinte Decorrente: constituinte de segundo grau, limitado juridicamente, subordinado, secundário e condicionado. Poder Constituinte Originário é soberano enquanto o Poder Constituinte Decorrente é AUTÔNOMO. Autonomia é o poder próprio dentro de um círculo traçado por outro, pressupõe ao mesmo tempo uma zona de autodeterminação, que é propriamente autônomo e um conjunto de limitações e determinantes jurídicas extrínsecas, que é heterônomo.
· Forma de expressão do Constituinte Estadual: Assembleia Constituinte Estadual (art. 11 ADCT). 
· LIMITES: (por limitarem a autonomia organizatória devem ser interpretados restritivamente)
 1) Princípios constitucionais SENSÍVEIS: art. 34, VII CF.
 2) Princípios constitucionais EXTENSÍVEIS: consubstanciam regras de organização da União cuja aplicação se estende aos Estados. (ex. art. 93, V).
 3) Princípios constitucionais ESTABELECIDOS: limitam a autonomia organizatória dos Estados, regras que revelam, previamente, a matéria de sua organização e as normas constitucionais de caráter vedatório, e princípios de organização política, social e econômica. Assim, se subdividem em: 3.1) Limitações EXPRESSAS: são consubstanciadas em dois tipos de regra: umas de natureza vedatória e outras de natureza mandatória. As primeiras proíbem explicitamente os Estados de adotar certos atos ou procedimentos (ex. arts. 19, 150 e 152). As segundas consistem em disposições que determinam aos Estados a observância de princípios que limitam sua liberdade organizatória (ex. arts. 29, 18§4°, 31, 37, 42, 98, 125) 3.2) Limitações IMPLÍCITAS: também se subdividem em regras vedatórias e mandatórias. (ex. art. 21, 22, 30) 3.3) Limitações DECORRENTES do sistema constitucional adotado: geradas pelos princípios que defluem do sistema constitucional adotado: a) do princípio federativo (da igualdade das unidades federadas); b) do mesmo princípio federativo (uma unidade não pode exercer coerção sobre outra) c) do Estado Democrático de Direito; d) do princípio democrático; e) dos princípios da ordem econômica e social. 
· Súmulas: Súmula 637/STF e Súmula 721/ STF 
· ADIs: STF: Constituições Estaduais não podem tornar os governadores imunes à perseguição criminal por atos estranhos ao exercício da suas funções. ADI 1.060: os Estados são obrigados a seguir as regras básicas do processo legislativo, notadamente as regras referentes a iniciativa reservada previstas na Constituição Federal. ADI 276: se a Constituição Federal estabelece matérias de iniciativa exclusiva do Presidente da República, não podem elas serem versadas na Constituição Estadual. ADI 676: não se pode subordinar a eficácia dos convênios celebradas por secretários de Estado ou de seus atos e contratos à aprovação da Assembleia Legislativa. ADI 41: a Constituição do Estado não pode exigir autorização legislativa para que o Estado contraísse dívida. ADI-MC 1.2228: Constituição estadual não pode determinar a participação da Assembleia Legislativa na escolha do Procurador-Geral da Justiça. ADI 687: Constituição estadual não pode impor ao prefeito dever de comparecimento perante a Câmara de Vereadores. ADI 978: Constituição estadual não pode prever imunidade a prisão cautelar a governadores. ADI 1.722: Constituição estadual não pode prever revisão constitucional.
Prova oral 27º CPR: 1) Poder constituinte estadual. Limitações. 2) Perguntou sobre há extensão obrigatória a os Estados da regra constitucional da imunidade do Presidente à prisão para beneficiar também os governadores (usei todos os argumentos contrários de um parecer dela sobre isso em ADI).
A Constituição de um determinado Estado-membro pode definir procedimento mais exigente para a reforma do seu texto, do que o procedimento previsto na Constituição 88? Não. A questão da autonomia dos Estados-membros- subordinação jurídica do poder constituinte decorrente às limitações que o órgão investido de funções constituintes primárias ou originárias estabeleceu no texto daConstituição da República: é na Constituição Federal que se localiza a fonte jurídica do poder constituinte do estado membro ( ADI 486 j. 03/04/1997)
Poder constituinte derivado reformador como espécie de poder constituinte derivado. É o poder que se destina a reformar a Constituição. O tema do poder constituinte reformador tem enorme importância no Direito Constitucional brasileiro contemporâneo, não só pela sua densidade teórica, como, sobretudo, pelo seu aspecto prático, tendo em vista a frequência incomum de reformas constitucionais no Brasil.
As constituições, ao regularem a sua própria mudança, impõem limites ao poder reformador. Tais limites podem ser de diversas naturezas: formais, os que dizem respeito ao procedimento necessário para alterar a Constituição e aos agentes nele envolvidos; circunstanciais, os que estabelecem momentos específicos, de crise institucional, em que a Constituição não pode ser modificada; temporais, os que preveem intervalos mínimos para mudanças na Constituição, ou impedem alterações do texto constitucional até escoado um determinado prazo de vigência do mesmo; e materiais, os que vedam certas deliberações do poder constituinte derivado. Todos esses limites serão analisados neste capítulo.
ATENÇÃO! Outra distinção existente é entre limites expressos ou explícitos e limites implícitos ao poder de reforma. Os primeiros estão claramente positivados no texto constitucional. Os segundos não estão, mas podem ser revelados pela via hermenêutica. Como se verá abaixo, há intenso debate na doutrina brasileira sobre a existência de limites materiais implícitos ao poder de reforma; vale dizer, sobre a existência de outras cláusulas pétreas além daquelas já previstas no art. 60, §4º, da Constituição. Finalmente, fala-se também em limites absolutos e limites relativos. Os primeiros não seriam superáveis sem ruptura da ordem constitucional. Os segundos poderiam ser ultrapassados, por meio de procedimentos ainda mais complexos do que os necessários à reforma. Este debate tem conexão com a discussão a propósito da possibilidade de “dupla revisão” na Constituição, que será adiante examinada. 
No Brasil, é entendimento pacífico que os limites ao poder de reforma são juridicamente vinculantes, podendo ser objeto, inclusive, de proteção judicial, por meio do controle abstrato ou concreto de constitucionalidade.
	FORMAL
	Todas as constituições rígidas contêm limites formais ao poder de reforma. Eles dizem respeito à forma como pode ser alterado o texto constitucional. Envolvem questões como: (a) quem pode propor as mudanças; (b) quem deve aprová-las; e (c) quantas votações, qual o seu intervalo, e qual o quorum necessário para que haja a aprovação da modificação na Constituição. Os limites formais são o principal elemento para se aferir o grau de dificuldade da alteração formal de uma Constituição. Os limites formais estão positivados no art. 60, caput e parágrafos 2º e 3º, do texto constitucional.
	CIRCUNSTANCIAL
	Os limites circunstanciais ao poder de reforma visam a impedir que se aprovem mudanças constitucionais em contextos de grave crise institucional, em que provavelmente não existiria a tranquilidade necessária para a adoção de medida de tamanha importância. Constituição de 88 vedou a reforma constitucional “na vigência de intervenção federal, estado de sítio e estado de defesa” (art. 60, §1º). Desde a promulgação da Constituição, nenhuma destas situações de crise foi formalmente decretada. Ressalte-se, finalmente, que o limite circunstancial que veda a emenda durante a intervenção federal é muitas vezes apontado como uma das causas da não decretação de intervenções no país, em contextos em que dita medida se afiguraria pertinente. É que a intervenção federal depende, em regra, da iniciativa do Presidente da República, e os governos possuem, em regra, uma agenda de reformas constitucionais que desejam implementar, que seria obstada pela decretação da intervenção
	TEMPORAL
	NÃO FOI ACEITO!
	MATERIAL
	Os limites materiais ao poder de reforma subtraem do alcance do poder constituinte reformador determinadas decisões. Tais limites representam o máximo entrincheiramento das normas jurídicas, que são retiradas do alcance até mesmo das maiorias qualificadas necessárias à aprovação de mudanças constitucionais. De acordo com a teria convencional, reverter alguma decisão salvaguardada por um limite material só seria possível por meio de uma ruptura, decorrente de nova manifestação do poder constituinte originário. A doutrina brasileira vem chamando esses limites de cláusulas pétreas. Na Alemanha, eles são conhecidos como cláusulas de eternidade.
À luz do que foi discutido no item precedente, pode-se afirmar, em primeiro lugar, que a definição destes limites não deve ignorar o princípio democrático, que postula o direito de cada geração de se autogovernar. Isso, porém, não significa que a interpretação das cláusulas pétreas tenha de ser sempre restritiva. A interpretação das cláusulas pétreas deve se inspirar no ideário do constitucionalismo democrático, voltando-se não só à proteção das condições necessárias ao funcionamento da democracia, como também à tutela de direitos básicos, decorrentes do reconhecimento da igual dignidade de todas as pessoas, e à salvaguarda de instituições políticas que assegurem e promovam a democracia e os direitos fundamentais
Com efeito, a tentativa de conjugar a preservação da “identidade da Constituição” com uma postura relativamente deferente ao princípio democrático tem se resolvido, na jurisprudência da Corte, justamente por meio do recurso ao conceito de “núcleo essencial”. Essa moderação também é justificada pelo STF com base na preocupação de se evitar que o excessivo enrijecimento da Constituição possa ampliar o risco de rupturas institucionais. Como ressaltou o Ministro Gilmar Mendes, em voto proferido na ADI nº 2.395, “não se pode negar que a aplicação ortodoxa das cláusulas pétreas, ao invés de assegurar a continuidade do sistema constitucional, pode antecipar a sua ruptura, permitindo que o desenvolvimento constitucional se realize fora de eventual camisa de força do regime da imutabilidade”
direito adquirido e o poder constituinte derivado. Existe importante controvérsia a propósito da vinculação do poder constituinte derivado ao direito adquirido. A maioria da doutrina posiciona-se favoravelmente a esta vinculação, argumentando, em síntese, que a proteção do direito adquirido qualifica-se como direito individual, o que lhe confere a natureza de cláusula pétrea, a teor do disposto no art. 60, §4º, IV, da Constituição. Daí porque, seria vedado à emenda constitucional desrespeitar qualquer direito adquirido, assim como o ato jurídico perfeito ou a coisa julgada. O segmento doutrinário minoritário,92 a que nos filiamos, não reconhece esta vinculação. Sustentase que quando a Constituição determina que “a lei não preju dicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada” (art. 5º, XXXVI), ela não pretende abranger as emendas constitucionais, mas tão somente os atos normativos infraconstitucionais. Isto significa que, embora o constituinte derivado não possa suprimir ou desnaturar a proteção constitucional do direito adquirido em face do legislador, ele pode, sim, desconstituir direitos que tenham sido adquiridos no passado. Isto não implica que tais atos do poder constituinte reformador fiquem imunes ao controle, pois será sempre possível verificar se outros princípios constitucionais condicionantes do poder de reforma foram atingidos, dentre os quais os direitos fundamentais individuais, políticos, sociais e coletivos, no seu núcleo essencial.
	É possível falar em teoria da dupla revisão? Também chamado de dupla emenda, consiste em contornar as limitações constitucionais ao poder de reforma, mediante duas operações subsequentes: primeiro, revogam-se ou excepcionam limitações criadas pelo poder constituinte originário e depois, alteram- se a Constituição sem nenhum respeito ao texto anterior modificado. Não é aceito noBrasil. Emenda ou revisão, como processo de mudança na Constituição são manifestações de poder constituinte instituído e, por sua natureza, limitado. Está a “revisão” prevista no art. 3º do ADCT sujeita aos limites estabelecidos no art. 60, §4º da CR
Por outro lado, não parece impossível a edição de emenda constitucional que promova alterações no processo de reforma, desde que mantido o caráter rígido da Constituição, e a natureza democrática do procedimento.105 Aliás, isso já ocorreu sob a égide da Constituição de 88, tendo em vista que a EC nº 5/04, ao introduzir o art. 5º, §3º, no texto magno, institui nova forma de alteração constitucional, pela incorporação, por maioria qualificada, de tratado internacional sobre direitos humanos. Assim, não seria inconstitucional, por exemplo, uma mudança que exigisse a aprovação das reformas mais importantes por referendo, incrementando a participação popular no processo de mudança constitucional.
Um limite implícito que deve ser reconhecido é o do respeito ao Estado Democrático de Direito. Trata-se de um conceito complexo, que comporta muitas variações, mas cujo núcleo consiste numa combinação de respeito à soberania popular com observância dos direitos fundamentais. O Estado Democrático de Direito, em estreita síntese, visa a conciliar o autogoverno do povo com as técnicas do constitucionalismo, voltadas à limitação do poder em prol dos direitos dos governados. A dimensão “constitucionalista” do Estado Democrático de Direito está explicitamente acolhida no elenco das cláusulas pétreas, por meio do entrincheiramento da “separação de poderes” e “dos direitos e garantias individuais”.
Outros limites implícitos ao poder de reforma que têm sido identificados pela doutrina brasileira são atinentes à forma e ao sistema de governo que foram escolhidos pelo povo no plebiscito de 1993, previsto no art. 2º do ADCT.
É possível falar que a CF 88 admite o governo dos mortos sobre os vivos? Sim. A partir de uma perspectiva filosófica e teórica, é possível afirmar que a Constituição Federal de 88 permite o governo dos mortos sobre os vivos. Isso porque, quando uma Constituição vigora por certo tempo em um Estado e há em seu texto constitucional a presença de cláusulas pétreas, o ordenamento o jurídico acaba por apresentar limites instransponíveis que foram estabelecidos no passado. É o chamado problema da legitimidade intergeracional das cláusulas pétreas. Se, por um lado, as cláusulas pétreas conferem segurança, identidade e estabilidade ao ordenamento jurídico de um Estado, caracterizando-se como verdadeiras cláusulas de “eternidade”, insuperáveis até mesmo em momentos de grave crise institucional, por outro lado as cláusulas pétreas acabam por retirar a capacidade das gerações futuras de determinado Estado de escolher seus próprios caminhos, permitindo o que se chama de “governo dos mortos sobre os vivos”, já que dado certo período de vigência de uma Constituição, aqueles que a confeccionaram e que optaram por inserir esta ou aquela cláusula pétrea no corpo constitucional já terão falecido.
	O problema da legitimidade intergeracional. Uma das questões mais importantes do debate constitucional é estabelecer em qual proporção se afigura legítimo que uma Constituição prefigure os caminhos e decisões do povo do futuro. Quando reconhecemos que as constituições, em geral, aspiram vigorar por muito tempo e disciplinar a coexistência política de sucessivas gerações ao longo da trajetória de uma nação, somos confrontados com uma pergunta fundamental: por que e até que ponto, pode uma geração adotar decisões vinculativas para as outras que a sucederão? Não seria esta uma fórmula de governo dos mortos sobre os vivos? O problema se agrava quando consideramos a presença, no texto constitucional, das chamadas “cláusulas pétreas”. De fato, diante de uma norma constitucional indesejada que não configure cláusula pétrea, não ficam os poderes políticos do povo presente de mãos completamente atadas, pois sempre é possível buscar a mudança desejada, por meio dos procedimentos de reforma estabelecidos pela própria Constituição. Apenas será necessário um esforço maior, pois as constituições rígidas, como será esclarecido, preveem para alteração dos seus dispositivos um procedimento mais agravado e complexo. No entanto, diante das cláusulas pétreas a vinculação é total, pois só a ruptura da ordem jurídica, com a emergência de um novo poder constituinte originário permitiria a sua superação.
Mas, se é verdade que as constituições limitam o conteúdo de deliberações futuras, não é menos correto que elas também definem as regras do jogo que viabilizam estas deliberações. Com efeito, se a cada nova questão surgida no cenário político fosse necessário definir questões como o “quem” decide (competência), e o “como” se decide (procedimento), seria muito difícil deliberar sobre qualquer tema. As constituições, ademais, protegem instituições e direitos que são pressupostos para o funcionamento democrático da política — como o direito de voto, ou a liberdade de expressão, que permitem que a minoria de hoje possa aspirar converter-se na maioria do futuro, sem precisar recorrer à força. Portanto, pode-se dizer que embora a Constituição limite a política, ela também a capacita a alcançar decisões, além de conferir legitimação democrática a estas decisões De todo modo, a questão da autonomia das gerações tem enorme relevância no contexto brasileiro, em virtude das características do nosso processo constituinte e da Constituição dele resultante. A Constituição de 1988 tem inegáveis virtudes, dentre as quais seguramente a mais importante é o seu compromisso visceral com a promoção dos direitos humanos e a defesa da democracia. É a Constituição que coroou o processo político de transição de um Estado de exceção, violento e autoritário, para um novo regime, cuja proposta é a de ser democrático e inclusivo. Mas é também excessivamente detalhista, perdendo-se muitas vezes, como afirmou Luís Roberto Barroso, “no varejo das miudezas”.15
Não é o momento para adiantar as soluções que a teoria constitucional engendrou para o problema. Retornaremos a ele em diversas seções deste volume. Introdutoriamente, cumpre apenas deixar registrado que o constitucionalismo democrático, além de valorar positivamente o fato de a Constituição ser dotada de supremacia, procura atribuir a importância devida às deliberações populares e às decisões da maioria dos representantes do povo. Esse compromisso central com a democracia e o autogoverno de cada geração inspira muitas das propostas e soluções apresentadas ao longo deste livro. A adequada harmonização entre constitucionalismo e democracia deve orientar o constituinte reformador, quando lhe couber alterar nosso texto constitucional. Mas também cria exigências para a interpretação constitucional, como se verá posteriormente
Poder constituinte derivado difuso como espécie de poder constituinte derivado. É chamado assim porque não vem formalizado nos ordenamentos jurídicos e se manifestam por meio de mutações constitucionais. 
As constituições não mudam apenas por meio de processos formais, que envolvam a modificação do seu texto. Há também as mudanças que atingem a Constituição sem alteração dos seus preceitos, que são conhecidas como mutações constitucionais.1 A mutação constitucional consiste em processo informal de mudança da Constituição, que ocorre quando surgem modificações significativas nos valores sociais ou no quadro empírico subjacente ao texto constitucional, que provocam a necessidade de adoção de uma nova leitura da Constituição ou de algum dos seus dispositivos. A possibilidade da mutação constitucional resulta da dissociação entre norma e texto. Se a norma constitucional não se confunde com o seu texto, abrangendo também o fragmento da realidade sobra a qual esse incide, é evidente que nem toda mudança na Constituição supõe alteração textual.2 Mudanças significativas na sociedade — seja no quadro fático, seja no universo dos valores compartilhados pelos cidadãos

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