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Absorção iônica pelos vegetais Profa. Dra. Amanda Cristina Esteves Amaro Fisiologia Vegetal 1. Introdução; 2. Mecanismos de contato entre as raízes e o solo; 3. Membranas biológicas; 4. Potenciais; 5. Fase passiva; 6. Fase ativa; 7. Análises cinéticas; 8. Fatores que afetam a absorção de nutrientes. Plano de aula Absorção: • Corresponde à entrada de um elemento na forma iônica ou molecular nos espaços intercelulares ou em qualquer parte ou organela celular. Transporte: • É a transferência de um elemento (na forma igual ou diferente da que foi absorvida) de um órgão ou região de absorção para outro órgão qualquer. Redistribuição: • É a transferência de um elemento (na forma igual ou diferente da que foi absorvida) de um órgão ou região de acúmulo para outro. 1. Introdução • Para que ocorra a absorção de nutrientes, eles devem estar disponíveis na solução do solo e na forma iônica em que ele é absorvido; • Para que ocorra a absorção: é necessário o contato íon– raiz. http:// www.people.ufpr.br/ñutricaodeplantas/absor12.pdf 2. Mecanismos de contato entre as raízes e o solo 2.1 Interceptação radicular: • A raiz cresce e entra em contato com o íon na forma disponível na solução do solo; • Quantidade de íons é proporcional à relação superfície de raiz; • Contribuição relativamente pequena. 2.2 Fluxo de massa: • Movimento do íon em uma fase aquosa móvel. Quando a raiz absorve a água, cria-se, no terreno, uma tensão, que faz com que a água se movimente; • A água, ao movimentar-se, carrega os nutrientes por fluxo de massa. 2.3 Difusão: • Movimento espontâneo do nutriente do solo para a raiz; • Segue o gradiente de concentração: ↑[ ] ↓ [ ]; • Segue a 1ª Lei de Fick; • Curtas distâncias, até próximo das raízes, mas sem entrar. • Regulam a entrada e saída de solutos; • Separam compartimentos celulares, mantendo sua integridade. Permeáveis às pequenas moléculas não-carregadas. Ex.: H2O e O2. Não-permeáveis às grandes moléculas não-carregadas. Ex.: sacarose. Não permeáveis às moléculas carregadas. Ex.: ácidos orgânicos. Moléculas grandes ou carregadas: o Não atravessam a bicamada de lipídios; o Passagem se dá por canais ou transportadores; o Requer (ATP) para manter gradientes eletroquímicos. 3. Membranas biológicas • A permeabilidade de membrana depende da composição da membrana, assim como da natureza do soluto; • As membranas apresentam proteínas de transporte, as quais facilitam a passagem de determinados íons e moléculas: Canais, bombas, e carreadores: (Taiz; Zeiger; 2013) 4.1 Potencial químico (µ): • É uma expressão quantitativa da energia livre, associada a uma substância; • O potencial químico é uma grandeza relativa: representa a diferença entre o potencial de uma substância em um determinado estado e o potencial químico da mesma substância em um estado padrão; Em Termodinâmica, energia livre (energia livre de Gibbs G) representa o potencial dentro do sistema para realizar trabalho (em temperatura e pressão constantes). 4. Potenciais 4.2 Potencial eletroquímico: • Quando o soluto apresenta carga elétrica, o componente elétrico também deve ser considerado. O potencial químico passa a ser chamado de potencial eletroquímico. j = µj* + RT ln Cj + zjFE + ṼjP Potencial eletroquímico para um dado soluto (j) Potencial químico para um dado soluto (j) sob condições- padrões Componente concentração Componente potencial elétrico Componente pressão hidrostática Íon j • R = Constante universal dos gases (8,315 K-1 mol-1) • T = Temperatura absoluta (K, ex.: 25°C = 298,2K) • Cj = Concentração do íon “j” • Zj = Carga eletrostática do íon “j” (+1; -1; +2; -2 etc.) • F = Constante de Faraday (equivalente à carga elétrica em 1mol H+ = 96485 C mol-1) • E = potencial elétrico • Quando um íon atravessa uma membrana e a sua distribuição atinge o equilíbrio dinâmico o potencial químico do soluto j é igual dos dois lados da membrana, por isso ele é desconsiderado. • Rearranjando a equação teremos a equação de Nernst: Define o Potencial eletroquímico (E); Somente quando há passagem do íon por uma membrana. Simplificando a 25°C: Íon j • R = Constante universal dos gases • T = Temperatura • Cje = Concentração do íon “j” no meio externo • Cji = Concentração do íon “j” no meio interno • Zj = Carga eletrostática do íon “j” (+1; -1; +2; -2 etc.) • F = Constante de Faraday (equivalente à carga elétrica em 1mol H+) 4.3 Potencial elétrico de membrana ou potencial transmembrana: • Corresponde à diferença de potencial elétrico entre os 2 lados de uma membrana; • O potencial elétrico será a soma de todas as substâncias com cargas; • Todas as células vivas exibem potencial elétrico de membrana distribuição assimétrica dos íons dos lados externo e interno; • Pode ser medido, inserindo um microele- trodo na célula. (T ai z; Z ei ge r, 2 0 1 3 ) • Exemplo para íon K+: 1mM (externo) e 10 mM (interno). Ej = 59 zj log Cje Cji EK+ = 59 log 1 10 EK+ = -59 mV • Potencial de transmembrana = potencial eletroquímico do íon: Movimento do íon em equilíbrio passivo através da membrana; Sem gasto de energia. • Potencial de transmembrana > potencial eletroquímico do íon: Membrana precisa gastar energia para a entrada do íon. • Potencial de transmembrana < potencial eletroquímico do íon: Membrana gasta energia para a saída do íon. • A equação de Nernst permite distinguir transporte ativo de passivo: (T ai z; Z ei ge r, 2 0 1 3 ) 5.1 Transporte passivo: • Movimento espontâneo de íons e moléculas: A favor de um gradiente de potencial químico. • Mecanismo físico-químico que ocorre em células vivas ou não; • Desligado da respiração e fosforilação: Não necessita de energia; Ocorre na presença ou ausência de O2; • Ocorre em qualquer temperatura. 5. Fase passiva 5.2 Mecanismos na fase passiva: A favor do potencial químico: 5.2.1 Difusão simples: • Ocorre no apoplasto; • Pouca importância na absorção global. 5.2.2 Difusão facilitada: • Ocorre através de canais proteínas transmembranas, que mantêm canais hidratados através delas: Poros seletivos pelos quais íons e moléculas podem difundir-se através das membranas; Controlados por portões (gates) abrem e fecham em resposta a sinais externos; Sinais: mudanças no potencial de membrana, hormônios, luz e fosforilação. (T ai z; Z ei ge r; 2 0 1 3 ) Visão geral de um canal de K+ em plantas (Taiz; Zeiger, 2013) Contra o potencial químico, mas a favor do potencial eletroquímico. 5.2.3 Equilíbrio de Gibbs-Donnan: • É caracterizado pelo equilíbrio entre íons que podem atravessar a membrana e os que não podem, ocorrendo equilíbrio entre as cargas das soluções. • Condições para ocorrer: Existência de uma fase de Donnan, com a presença de um cátion difusível e um ânion não difusível; Existência de uma fase aquosa, com a presença do mesmo cátion difusível na fase de Donnan e um ânion difusível; As duas fases entram em contato por meio de uma membrana semi-permeável. Equilíbrio de Gibbs-Donnan M+ e An- difusíveis A- não difusível M.P. Fase aquosa (P.C.) Fase de Donnan (Citoplasma) M+ M+ M+ M+ An- An- An- An- A- A- A- A- A- A- A- A- M+ M+ M+ M+ M+ M+ M+ M+ 4M+ + 4An- 8M+ + 8A- Antes 3M+ + 3An- (3x3 = 9) 9M++ 8A- + An- (9x1=9) M+ M+ M+ An- An- An- Fase aquosa (P.C.) M+ M+ A- A- A- A- A- A- A- A- M+ M+ M+ M+ M+ M+ M+ An- Fase de Donnan (Citoplasma) M.P. Depois Difusão Transporte ativo 1ário e 2ário Equilíbrio de Donnan Absorção passiva Absorção ativa • EE = espaço externo (apoplasto) • ELA = espaço livre aparente • EI = espaço interno (simplasto) 6.1 Transporte ativo: • Movimento de íons e moléculas contra um gradiente de potencial químico; • Não é espontâneo; • Processo metabólico células vivas; • Requer a realização de trabalho no sistema utilização de energia; • Ligado à respiração e fosforilação: Ocorre na presença de O2; • Ocorre em temperaturas fisiológicas. 6. Fase ativa 6.2 Mecanismos na fase ativa: 6.2.1 Transporte ativo primário: • Acoplam hidrólise ATP ao bombeamento de prótons (cátions): Criam gradientes eletroquímicos de prótons nas membranas. • Ocorre através de bombas proteínas de membrana: H+-ATPases; Ca2+-ATPases; o P: membrana plasmática; o F: cloroplasto e mitocôndria; o V: tonoplasto. ADP + Pi ATP H+ ADP + Pi ATP H+ ADP + Pi ATP Tipo P Tipo F Tipo V Tipos de ATPases matriz Espaço intermenbrana Vacuolo citoplasma citoplasma Apoplasto 6.2.2 Transporte ativo secundário: • Co-transporte acoplam a absorção ou secreção de solutos ao movimento de H+ (a favor do gradiente eletroquímico de H+); • Ocorre através de transportadores proteínas de membrana: Altamente seletivo. • 2 tipos: Simporte solutos movimentam-se ao mesmo tempo e no mesmo sentido da membrana. Antiporte os solutos movimentam-se em sentidos contrários. • Transportadores (carreadores): Passagem de íons mais lenta, comparado aos canais; Modificações conformacionais “turn over”. (Taiz; Zeiger, 2013) (T ai z; Z ei ge r, 2 0 1 3 ) R av en e t al . ( 2 0 0 1 ) Resumo dos tipos de transporte e da atividade dos carreadores, canais e bombas. Substâncias apolares (CO2) permeiam a membrana livremente. • Podem elucidar os mecanismos de transporte: Ligação e a dissociação de moléculas a sítios ativos nas proteínas de transporte (carreadores e canais). • Velocidade máxima de transporte (Vmáx): Sítio de ligação do substrato ao carreador está sempre ocupado; Fluxo pelo canal é máximo; Concentração de proteínas é o limitante e não a concentração do substrato ([S]). 7. Análises cinéticas Concentração do substrato [S] (mM) V el o ci d ad e in ic ia l V 0 ( µ M /m in ) Equação de Michaelis-Menten: Km = constante de Michaelis-Menten: Representa a concentração do soluto que gera a metade da Vmáx. ↓Km = alta afinidade do soluto com o transportador Ex.: afinidade pelo fosfato (HPO4 3-): Arroz (Km=0,167µmol L-1) x Feijão (Km=0,229 µmol L-1). 8.1 Externos: • Umidade: os íons devem estar na fase líquida para serem absorvidos. • Matéria orgânica: faz com que os íons fiquem adsorvidos e à disposição para as plantas. • Aeração: Absorção necessita de atividade metabólica respiração; Micro-organismos precisam de O2. 8. Fatores que afetam a absorção de nutrientes • Temperatura: Fase ativa: depende de energia metabólica; Fase passiva: energia cinética das moléculas. • Luz: • Afeta de maneira indireta; Fotossíntese; Abertura e fechamento de estômatos. • ; • pH: Afeta a disponibilidade de nutrientes. • ; M al av o lt a, 1 9 7 9 8.2 Internos: • Potencialidade genética; • Carboidratos substratos respiração; • Estado iônico interno; • Crescimento. 8.3 Interiônicos: • Seletividade: A planta absorve, preferencialmente, íons monovalentes , depois bivalentes e, por último, trivalentes. • Absorção desigual de cátions e ânions; • Velocidade diferencial absorção: Ânions: NO3 - > Cl- > SO4 2- > H2PO4 - Cátions: NH4 + > K+ > Na+ > Mg2+ > Ca2+ • Presença de outros íons: Antagonismo: o Diminuição da absorção de um elemento por outro, de modo que a [ ] do elemento que está sendo diminuída não atinja um nível tóxico na planta. Inibição competitiva: o Quando 2 íons se combinam com o mesmo sítio do transportador na membrana. Inibição não competitiva: o Quando a ligação de 2 íons se faz em sítios diferentes do transportador, porém um íon deforma o transportador do outro. Sinergismo: o Presença de um elemento aumenta a absorção de outro. Íon Segundo íon presente Efeito do 2o sobre o 1o Cu2+ Ca2+ Antagonismo K+ Ca2+ (baixa concentração) Sinergismo MoO4 2- H2PO4 - Sinergismo H2PO4 - Al3+ Inibição não competitiva Zn2+ H2PO4 - Inibição não competitiva H2BO3 - NO3 -, NH4 + Inibição não competitiva Zn2+ H2BO3 - Inibição não competitiva Cu2+ MoO4 2- Inibição não competitiva SO4 2- Cl- Inibição competitiva MoO4 2- SO4 2- Inibição competitiva Zn2+ Mg2+ Inibição competitiva Zn2+ Ca2+ Inibição competitiva K+ Ca2+ (alta concentração) Inibição competitiva Fe2+ Mn2+ Inibição competitiva K+, Ca2+, Mg2+ Al3+ Inibição competitiva Mg2+, Ca2+ K+ Inibição competitiva SO4 2- SeO4 2- Inibição competitiva (M al av o lt a et a l. , 1 9 8 0 ) Listagem das principais interações interiônicas EPIDERME DA RAIZ (PELOS) Paredes Celulares e Espaços Intercelulares (córtex) Membrana Plasmática e Protoplasma (córtex) Apoplasto Simplasto Protoplasma estrias de Caspary (simplasto) (endoderme) Protoplasma (simplasto) (cilindro central) Xilema (apoplasto) Xilema-folhas (apoplasto) Paredes celulares (apoplasto) Membrana plasmática (simplasto) Floema foliar (translocação) 9. Referências Bibliograficas • FLOSS, E.L. Fisiologia das Plantas Cultivadas: o estudo do que está atrás do que se vê. 5ª ed. Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo, 2011. 734p. • KERBAUY, G. B. Fisiologia Vegetal. 2ª Ed. São Paulo: Guanabara Koogan: Rio de. Janeiro, 2012. 452p. • LOPES, N. F.; LIMA, M. G. S. Fisiologia da Produção. Viçosa: Editora UFV, 2015. 492p. • TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia Vegetal . 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. 918p. • CASTRO, P.R.C.; KLUGE, R.A.; SESTARI, I. Manual de Fisiologia Vegetal: Fisiologia de cultivos. São Paulo: Ceres, 2008. 864p. • LARCHER W. Ecofisiologia vegetal. São Carlos: RiMa, 2006. 550p. • MARENCO, R.A.; LOPES, N.F. Fisiologia Vegetal. 3ª Ed. Viçosa: UFV, 2009. 486 p. • RAVEN, P.H.; EVERT, R.F.; EICHHORN, S.E. Biologia Vegetal. 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2014. 876p. • SALISBURY, F.B.; ROSS, C.W. Fisiologia das Plantas. 4ª Ed. Cengage Learning: América Latina, 2012. 858p.
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