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Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: OVAS 1 1. Como identificar sinais de Obstrução de Vias Aéreas Superiores (OVAS)? Estridor → Estridor é o som respiratório produzido pela passagem de ar em uma via aérea de grosso calibre estreitada. Ocorre nas vias aéreas superiores, que se estendem da faringe aos brônquios principais. Anatomicamente, as vias aéreas superiores estão divididas em três áreas principais: via aérea supraglótica (acima das cordas vocais), via aérea glótica e subglótica e via aérea intratorácica. Diferentes partes das vias aéreas podem sofrer colapso com maior facilidade que outras, o que explica as diferentes apresentações clínicas das doenças das vias aéreas superiores. Por exemplo, o tecido supra glótico não contém cartilagem e sofre colapso mais facilmente na inspiração. Por outro lado, a glote e a traqueia, são compostas por cartilagem e sofrem menos colapso, mas quando apresentam obstrução geram estridor durante a inspiração e a expiração. ❖ Via aérea supraglótica → A via aérea supraglótica compreende as vias aéreas do nariz até justamente acima das cordas vocais. Esta parte das vias aéreas se distende e sofre colapso facilmente, por não possuir cartilagem. Devido à presença de múltiplos planos de tecidos, infecções localizadas neste segmento podem se disseminar e formar abscessos, rapidamente. Exemplos de infecções da via aérea supraglótica incluem abscesso retrofaríngeo, supraglotite infecciosa e difteria. Estridor a partir de obstrução supraglótica, geralmente produz um som ouvido primariamente durante a inspiração, pois há colapso deste segmento da via aérea durante a pressão negativa exercida na inspiração. Na expiração, a via aérea insufla-se, e há melhora da obstrução. A salivação pode estar presente, se a obstrução ocorrer acima do esôfago, impedindo a deglutição. A voz abafada, ou de “batata quente” é característica, e é gerada por obstrução acima das cordas vocais, que geralmente, não estão envolvidas. Doenças que causam obstrução supraglótica têm potencial de obstruir rapidamente as vias aéreas, por ser esta região de fácil colapso, tornando-as letais. ❖ Via aérea glótica e subglótica → As vias aéreas glótica e subglótica estendem-se das cordas vocais à traqueia, antes de entrar na cavidade torácica. Esta parte da via aérea não sofre tanto colapso quanto a via aérea supraglótica, porque é sustentada por cartilagem na maior parte de seu trajeto: cartilagem cricoide e anéis cartilaginosos da traqueia. A causa mais comum de obstrução desta região é a síndrome do crupe. A inflamação ou obstrução da glote gera rouquidão, devido ao comprometimento das cordas vocais, e não abafamento da voz, como nas doenças da região supraglótica. O estridor ocorre durante a inspiração, ou durante a inspiração e a expiração. ❖ Via aérea intratorácica → A via aérea intratorácica compreende a traqueia alojada dentro da cavidade torácica e os brônquios principais. Obstrução desta porção da via aérea gera estridor mais audível durante a expiração. Na expiração a pressão intratorácica aumenta e causa o colapso da via aérea intratorácica. Na inspiração, a via aérea intratorácica tende a expandir-se, diminuindo a ausculta dos ruídos respiratórios. Relação entre a fase do estridor e nível provável de obstrução das vias aéreas Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: OVAS 2 Atente 2. Regras de ouro 3. Avaliação secundária História de nascimento História neonatal Imunizações Problemas respiratórios prévios Sintomas respiratórios atuais ❖ Duração ❖ Precipitantes ❖ Eventos exacerbadores ❖ Alimentação ❖ Choro Presença de outros sinais atuais/ sintomas ❖ Febre ❖ Sialorreia História familiar 1 • Deixe a criança com o pai ou cuidador em local de conforto; não estresse a criança (isso só piora o quadro) 2 • Não insira depressor de língua ou outro dispositivo para examinar a via aérea; caso seja necessário, sedar! 3 • Não tente acesso venoso ou exames de sangue de imediato, exceto em falência cardiorespiratória ou PCR 4 • Não faça radiografia ou outros exames de imagem nessa fase 5 • Não force a colocação da máscara de oxigênio Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: OVAS 3 4. Etiologia OVAS Supraglótica Infecciosas Abscesso retroferígeo (ex. difteria) Não infecciosas Tumor Corpo estranho Glótica ou subglótica Infecciosas Epiglotite Laringite Crupe Não infecciosas Corpo estranho Anafilaxia OVAS Adquiridas Infecciosas Epiglotite Crupe Taqueíte Não infecciosas Anafilaxia Corpo estranho Congênitas Laringomalácea Atresia de coanas Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: OVAS 4 5. Causas congênitas Atresia de coanas ❖ Acontece 1: 8000 nascidos vivos, sexo feminino 2:1 ❖ Surgimento precoce de sintomas ❖ Uni ou bilateral (está mais grave) ❖ Identificado com passagem de sonda em narinas ❖ TC de seios paranasais ❖ Tratamento cirúrgico (otorrino) Laringomalácea ❖ Anomalia mais comum da laringe e causa de estridor ❖ Colapso das cartilagens durante inspiração ❖ Primeiras semanas de vida ❖ Diagnóstico definitivo → Nasolaringofibroscopia ❖ Tratamento conservador → Melhora até os 2 anos quando as cartilagens começam a se fortificar 6. Causas adquiridas Crupe Laringite Laringe Rouquidão Estridor Laringo/ Traqueíte Laringe/ traqueia Rouquidão Estritor Tosse ladrante Laringo/ traqueo/ bronquite Traqueia/ brônquio/ bronquíolo Rouquidão Estridor Tosse ladrante Sibilância Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: OVAS 5 Crupe → O termo “síndrome do crupe” caracteriza um grupo de doenças que variam em envolvimento anatômico e etiologia, e se manifestam clinicamente com os seguintes sintomas: rouquidão, tosse ladrante, estridor predominantemente inspiratório e graus variados de desconforto respiratório. Quando a etiologia desta síndrome é viral, denomina-se crupe viral. Outras etiologias para síndrome do crupe incluem traqueíte bacteriana e difteria. A doença também pode ser classificada de acordo com o grau de extensão do acometimento das vias aéreas pelos vírus respiratórios. Assim, se a doença se restringir à laringe, denomina-se laringite, sendo caracterizada principalmente por rouquidão e tosse ladrante. Se a inflamação comprometer laringe e traqueia, é denominada laringotraqueíte, com sintomas característicos de síndrome do crupe. Se houver comprometimento de bronquíolos associado ao de laringe e traqueia, além dos sintomas de crupe, haverá tempo expiratório prolongado e sibilos, caracterizando laringotraqueobronquite. Quando a criança com crupe tem quadros recorrentes da doença, outras etiologias devem ser afastadas, como refluxo gastroesofágico, papilomatose recorrente de laringe, estenose laringotraqueal e anormalidades congênitas. *Conjunto de doenças acometendo laringe, subglote e traqueia podendo se estender a brônquios e bronquíolos. Caracteriza-se por rouquidão, tosse ladrante (metálica), estridor predominantemente inspiratório e graus variados de desconforto respiratório. Etiologia viral equivale a Crupe viral e bacteriana equivale a Traqueíte e difteria ❖ Laringotraqueobronquite (crupe) ➢ Causa mais comum de OVAS, aproximadamente 90% dos casos ➢ Viral → Parainfluenzae (1,2 e 3); influenzae (A e B) e VSR ➢ Maiores 5 anos → Mycoplasma pneumonia ➢ Pico aos 18 meses, sazonalidade ➢ Rinorréia e febre baixa → 12 a 48h → Crupe ➢ Duração de 7 a 14 dias ➢ Sinal da ponta do lápis ➢ Não tem correspondência clínica ➢ Em 50% dos casos o raio x é normal ➢ Não é sensível, mas é específico Escore clínico para a abordagem de estridor Sinal da ponta do lápis Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: OVAS 6 ➢ Diagnóstico diferencias Angioedema Corpo estranho Traqueíte bacteriana Epiglotite Mononucleose Abscesso retrofaríngeo ➢ Tratamento específico → O objetivo do tratamento é a manutenção das vias aéreas patentes. O paciente deve ser mantido o mais calmo possível, evitando-se a manipulação e exames desnecessários. O choro aumenta a pressão torácica negativa, podendo gerar maior colapso das vias aéreas extratorácicas, e transforma o fluxo de ar laminar em turbulento, aumentando a resistência ao influxo de ar nas vias aéreas Nebulização → O uso de nebulização com solução fisiológica, ou ar umidificado, apesar de usual, não tem eficácia comprovada. A nebulização deve ser desencorajada se a criança se tornar mais agitada com o procedimento. Para realizar nebulização, a criança deve estar em um ambiente calmo e no colo dos pais. A nebulização deve ser realizada como fonte de oxigênio se for detectada hipoxemia. Não há comprovação que a umidificação das vias aéreas promova melhora do influxo de ar, reduzindo a inflamação ou tornando a secreção das vias aeras mais fluidas, permitindo sua melhor eliminação. Corticosteroides → Os corticosteroides comprovadamente reduzem a gravidade dos sintomas, a necessidade e a duração da hospitalização, a necessidade de admissão em UTI e a necessidade de associação de outras drogas (epinefrina) para o tratamento. Os corticosteroides têm uma ação bifásica no alívio da obstrução das vias aéreas. O efeito anti-inflamatório tem um papel significante, mas o início de ação rápido destas drogas sugere um possível papel de vasoconstrição e redução da permeabilidade vascular, com melhor influxo de ar pela via aérea doente. Tem sido recomendado o uso da dexametasona por ser um potente glicocorticoide e ter longo período de ação (maior que 48 horas). Pode ser administrada tanto de forma oral ou parenteral, em dose única, variando de 0,15mg/kg (crupe leve) até 0,6 mg/kg (crupe grave). O Budesonide inalatório reduz os sintomas de gravidade do crupe, quando comparado ao placebo, e é semelhante a dexametasona nos casos de crupe leve ou moderado na dose inalatória de 2 mg. Epinefrina → Seu mecanismo de ação ocorre pelo estímulo de receptores alfa- adrenérgicos, com subsequente constrição de capilares arteriolares. A epinefrina inalatória tem efeito ultrarrápido nos sintomas do crupe, diminuindo quase que instantaneamente o estridor e os sintomas de falência respiratória. Como o efeito da medicação é breve (2 horas), o paciente pode voltar ao estado de desconforto respiratório inicial após o final da ação desta droga. Estudos controlados e randomizados em crianças mostram que não há efeitos colaterais com a utilização de uma dose de epinefrina inalatória. Embora a experiência clínica sugira que as doses da epinefrina inalatória podem ser repetidas a cada 2 horas, nos casos de falência respiratória, há relato de criança saudável, com crupe grave, que desenvolveu taquicardia ventricular e infarto do miocárdio após o uso de epinefrina inalatória. As indicações de epinefrina incluem: crupe moderado ou grave e crianças com procedimento ou manipulação prévias da via aérea superior. A dose para inalação é Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: OVAS 7 0,5ml/kg de epinefrina até dose máxima de 5 ml (5 ampolas) de epinefrina não diluída por dose da mistura do lisômero de epinefrina (1:1000). Intubação → A maioria das crianças com laringotraqueíte não requer intubação após o uso de epinefrina e dexametasona. A manipulação desta via aérea é complicada, pela dificuldade anatômica da faixa etária do paciente, pela agitação psicomotora da criança, e pelo risco de uma obstrução total das vias aéreas. No paciente em que a obstrução da via aérea é iminente, o procedimento deve ser realizado em ambiente bem controlado, pelo profissional mais experiente. A cânula traqueal deve ter 0,5mm a menos, de diâmetro interno, do que o diâmetro ideal calculado para a idade da criança. Internação → Deve-se considerar o internamento de crianças com toxemia, desidratação ou incapacidade de ingerir líquidos, estridor significante ou retrações em repouso e ausência de resposta à administração de epinefrina ou piora clínica após 2 horas após administração da mesma. *Paciente após nebulizar com adrenalina precisa ficar em observação por 3-4 horas pelo risco de rebote As vezes não tem a Budesonida, mas pode utilizar o Clenil no lugar Traqueíte bacteriana ❖ 1 para cada 40-50 casos de crupe ❖ 48% dos casos de obstrução potencialmente fatal ❖ Causada principalmente pelo S. aureus, pneumococo e S. viridans e grupo A OU coinfecção viral ❖ Sintomas de crupe + febre alta (>38,5) e toxemia ❖ Mortalidade de 18 a 40% ❖ Tratamento específico → Admissão na UTI ➢ Suporte ventilatório ➢ Intubação por vídeo ➢ Coleta de secreção ➢ Tratar choque se presente ➢ Antibioticoterapia → Oxacilina + Cefalosporina de terceira geração Epiglotite ❖ Causada pelo Haemophilus influenzae tipo B ❖ Doença quase extinta pós vacinação ❖ Rouquidão muito importante, toxemia e posição de fome de ar ❖ Intubação imediata → Gravidade extrema Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: OVAS 8 ❖ Posição de tripé ❖ Os "4Ds" mnemônico D rooling (Sialorréia) D ysphagia (Disfagia) D ysphonia (Disfonia) D yspnoea (Dispnéia) Traqueíte X Crupe Anafilaxia ❖ Angioedema e urticária associada a comprometimento cardiovascular ou respiratório ❖ Alimentos → Leite, ovo, soja, nozes, amendoim, frutos do mar... ❖ Medicamentos → AINES e antibióticos ❖ Venenos ❖ Reação IgE imediata ❖ Início súbito ou minutos após contato → Prurido, placas, angioedema, desconforto, estridor ou sibilância ❖ Corticoide IM → Objetivando ação sistêmica para melhorar a situação do quadro clínico do paciente, especialmente por tratar-se de um quadro imunomediado IgE; defere do crupe que não há a necessidade de corticoide IM Corpo estranho ❖ Pico de incidência entre 1 e 2 anos de idade ❖ Início súbito de tosse com engasgo e estridor quando a criança está comendo ou brincando ❖ Iniciar manobras de desobstrução e RCP conforme ❖ PALS Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: OVAS 9 ❖ Para menores que 1 ano 5 compressões do dorso; 5 compressões abdominal ❖ Para maiores que 1 ano Manobra de Heimlich “J invertido” ❖ Obstrução leve na criança responsiva ➢ Perguntar: “Você está engasgado?” ➢ Conduta Não interferir Acalmar a vítima Incentivar tosse vigorosa Observar atenta e constantemente Se evoluir para obstrução grave → Intervir ❖ Obstrução grave na criança responsiva ➢ Sinais clínicos Não consegue tossir (tosse silenciosa ou inefetiva) Não emite qualquer som Início súbito de grave dificuldade respiratória Sinal de angústia (sinal universal da asfixia → Leva as mãos ao pescoço) Iniciar manobras de desobstrução ❖ Tratamento específico ➢ Obstrução Consciente → Manobras de OVACE Inconsciente → RCP ➢ Passagem de ar Centro especializado 7. Abordagem sistematizada da OVAS Avaliação inicial – 10 segundos ❖ ABCDE ❖ PCR Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: OVAS 10 ABCDE ❖ Abrir via aérea (conforto) com ou sem máscara ❖ Oxigenação ou ventilação e oximetria ❖ Monitor cardíaco e adrenalina IM ou inalatória ➢ Acesso venoso ➢ Expansão ➢ Corticoide ❖ Intervenção invasiva VA se deterioração neurológica PCR ❖ Iniciar RCP 8. Casos Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: OVAS 11 Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 4: OVAS 12 Pode ser a letra D também Referências bibliográficas Aula de Dra. Adriana Gottschald (23/08/2021) Pediatric Advanced Life Support (2016_Pediatric_Emergent_Urgent_) Científico, C.,& da Costa Reis, A. G. A. Crupe Viral e Bacteriano. Departamento Científico de Otorrinolaringologia (Sociedade Brasileira de Pediatria): Estridor Novembro 2017 OVAS_ATOTW 2017 IV Manual de Otorrinolaringologia Pediátrica da IAPO Laringite Aguda na infância Hany Simon Junior
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