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2017 - 03 - 03 Revista de Processo 2015 REPRO VOL. 246 (AGOSTO 2015) HISTÓRIA DO DIREITO História do Direito 1. Do Código Buzaid ao novo Código de Processo Civil: uma análise das influências culturais sofridas por ambas as codificações From the Buzaid Code to the new Procedure Civil Code: an analysis of the cultural influences of the both codings CAMILA NUNES Mestranda em Direito pela UFRGS. Membro do Grupo de Pesquisa CNPQ Mercosul e Direito do Consumidor - UFRGS. Bolsista Capes. mendes.nunes@ufrgs.br Sumário: 1. Introdução 2. Breve apanhado histórico: o direito processual como ciência 3. O Código Buzaid: análise de seu aspecto cultural, sob a perspectiva da fase metodológica em que nasceu 4. O novo Código: o contexto social de seu nascimento 5. A influência dos aspectos culturais na estruturação do direito processual civil: principais mudanças e críticas 6. Considerações finais 7. Referências bibliográficas Área do Direito: Processual Resumo: Com a aprovação do novo Código de Processo Civil, faz-se necessário o estudo do novo regramento introduzido no sistema processual brasileiro. Nessa linha, o presente artigo destina-se ao estudo comparativo dos aspectos culturais do Código de Processo Civil de 1973 e a novel legislação. Sob uma perspectiva histórica, analisa-se o contexto cultural em que nasceram as codificações, para avaliar as ideias em que se basearam, entender seus contornos atuais, e desvelar o que poderá mudar com a nova legislação processual civil. Abstract: With the approval of the new Code of Civil Procedure, it is necessary the research of the new law introduced in the Brazilian procedure system. In this perspective, this article aims to the comparative analysis of the cultural aspects of Civil Procedure Code of 1973 and the new the code. Under a historical perspective, we will do the analysis the cultural context that the codes was born, to identify the basic ideas, to understand the current contours, and to discover what can change with the new civil procedure system. Palavra Chave: Processo - Código Buzaid - Novo Código - Comparação - Aspectos culturais. Keywords: Procedure - Buzaid Code - New Code - Comparison - Cultural aspects. Recebido em: 02.04.2015 Aprovado em: 30.07.2015 1. Introdução Entra em vigor, em março de 2016, a Lei 13.105, 1 de 16.03.2015, o novo Código de Processo Civil brasileiro. É o momento, pois, de se estudar e aprofundar o novo regramento. E, assim, faz-se relevante, para um correto entendimento da matéria, um estudo comparativo entre o Código antigo e o novo Código. É por isso que o presente artigo destina-se ao estudo comparativo dos aspectos culturais dos dois códigos, o que certamente poderá embasar o entendimento de toda a análise mais aprofundada sobre o novel regramento. Em sede de introdução, importante esclarecer, as denominações que serão utilizadas no decorrer do artigo. Para se fazer referência ao Código de Processo Civil de 1973, proposto por Alfredo Buzaid, será utilizada a expressão Código Buzaid. 2 O Código aprovado em dezembro de 2014, e sancionado em março de 2015, será chamado aqui de novo Código. Inicialmente, será realizado no presente estudo uma apanhado histórico, para se ter claro o momento em que o processo civil surge como ciência autônoma. Após tal abordagem, intenta-se analisar os aspectos culturais de ambos os Códigos, examinando, assim, em que contexto cultural nasceram, um do século XIX e outro do século XXI, para que se possa entender a essência do sistema por eles inserido. Essa análise histórica se reveste de fundamental importância, 3 pois o direito processual é fenômeno cultural, e não meramente técnico, sendo que, para que se possa compreendê-lo de forma adequada e sólida, são impositivas aproximações históricas. 4 Não há dúvidas que o direito se relaciona intimamente com a cultura da sociedade, e, como salienta, Daniel Mitidiero “se encontra intimamente imbricado com a experiência e a cultura do povo”. 5 O direito caminha e evolui com a sociedade, devendo ser compreendido de acordo com o contexto social em que está inserido. Resta indagar se também assim deve ser compreendido o processo civil. Se o processo é instrumento do direito material, seria correto afirmar que ele também não é estático? Será que sofre as influências culturais da sociedade? São indagações que se pretende responder ao longo desse artigo, tomando-se como ponto de partida o estudo comparativo entre o Código Buzaid e o novo Código. A partir dessa comparação, será possível avaliar se realmente o processo sofreu influência da evolução da sociedade. Faz-se, assim, a indagação: em que contexto social os códigos aqui analisados foram criados? Em que ideias se basearam? Para entender os contornos atuais de tais codificações, são muito importantes tais análises. Ao fim, pretende-se analisar as influências sofridas pelas codificações, para explicar o que muda com o passar do tempo na ciência processual. A começar pelos aspectos estruturais dos regramentos, procurando-se responder se os aspectos culturais têm influência sobre a estrutura da normativa, indo até as tendências da ciência processual: o que se espera a partir de agora? A partir desses questionamentos, pretende-se, ao final, identificar as mudanças inseridas no sistema processual brasileiro com o novo Código. μμ_j7vi:S:J2. Breve apanhado histórico: o direito processual como ciência Historicamente, pode-se colher do caminho percorrido pelo direito processual civil, a existência de quatro fases metodológicas (diferentes maneiras de compreender o processo civil): praxismo, processualismo, instrumentalismo e formalismo-valorativo. Através dessa análise histórica (da ciência processual) é possível abordar a relação entre processo civil e cultura, 6 por isso a relevância ao presente estudo. O praxismo é apontado como a pré-história do processo civil, ou seja, considerado tudo o que existia antes de seu surgimento como ciência. Como marco cronológico, essa fase vai até a segunda metade do século XIX. 7 Nessa época, adotava-se uma postura metodológica sincrética, que via o processo civil como algo acessório, que só existia em razão e se ligado ao direito material. Os conhecimentos eram empíricos, não havia método definido. O processo era visto como mero procedimento, conjunto de atos, a realidade física exterior possível de se ver. 8 Em resumo, no praxismo, estudava-se apenas os aspectos práticos do processo, sem maiores preocupações científicas. 9 O processo era acessório do direito material, sendo praxe dos doutrinadores tratarem do processo apenas ao final de exposições sobre direito material. 10 O processualismo, movimento cultural da idade moderna no processo civil, surge após o praxismo, e tem como mote maior a “tecnicização do direito e a despolitização de seus operadores”, 11 como ensina Daniel Mitidiero. Assim, predominava a técnica, preocupava-se com a “construção dogmática das bases científicas dos institutos processuais”. 12 Utilizava-se do método científico ou autonomista, com a ideia de retirar do estudo do processo civil qualquer ligação com o direito material. Aqui, o processo civil ganha caráter eminentemente técnico, totalmente desvinculado de valores e anseios culturais. 13 Com o desenvolvimento científico de categorias jurídicas, demarcaram-se, pois, as fronteiras entre direito processual e material. 14 É, pois, no processualismo que o direito processual surge como ciência. Sua origem tem raízes na Alemanha, onde nasceu, no final do século XIX, 15 sob forte influência do direito romano clássico. 16 Oscar Bülow publica, nesse período, sua obra clássica Die Lehre von den Processeinreden und die Processvoraussetzungen (1868). Em seu estudo Bülow, busca embasar a separação do direito processual do direito material, considerandoque o processo poderia existir sem o direito material, e vice-versa, desde que atendesse requisitos próprios de cada uma dessas relações jurídicas (os chamados pressupostos processuais). 17 Assim, a obra de Bülow é considerada marco para a caracterização do processo como ciência autônoma frente à relação de direito material, com objeto próprio, qual seja a prestação da tutela jurisdicional. 18 Surge assim a ideia de independência do direito processual em relação ao direito material. Como era próprio da pandectística, 19 Bülow tenta promover a construção de conceitos jurídicos sem influência das questões culturais. Assim, Bülow buscava promover uma dupla purificação: primeiro, um refinamento conceitual que retirasse do conceito do objeto de sua pesquisa tudo o que não fosse estritamente jurídico – ideia de direito processual atemporal; segundo, retirar do estudo do processo toda e qualquer referência ao direito material. 20 Dessa forma, é nesse momento histórico, final do século XIX, que é reconhecida a autonomia da ação com relação ao direito material e também ganha reconhecimento a relação jurídica processual em face do direito material, pois a relação jurídica processual difere em seus sujeitos, objeto e pressupostos da relação de direito material. 21 Define-se o objeto específico e se estabelece o método próprio do direito processual. Anteriormente, ele era visto como mero apêndice do direito privado, 22 sem vida própria, mero adjetivo, sempre dependente da existência do direito material para existir. 23 A partir de agora, o processo é reconhecido como ciência autônoma. Todavia, essa absoluta separação do direito material do processo gerou problemas: comprometeu uma das finalidades do processo, qual seja de servir à realização do direito material com justiça; e culminou num processo atemporal, que não evoluía junto com os fatos sociais (uma ciência processual descomprometida com a cultura). 24 Viu-se a necessidade de se resgatar a finalidade principal do processo: realizar o direito material. E, assim, surge o instrumentalismo: o processo visto como instrumento de realização do direito material. O enfoque é técnico, predomina o direito positivo, ressaltando-se apenas a efetividade como valor. A jurisdição é o centro da teoria do processo. 25 Essa visão também não foi suficiente. Reduzia o papel do juiz no processo, apenas como declarador do direito, ignorando o papel reconstrutor da ordem jurídica. Ainda, ignorava a necessidade de o processo civil ser pensado na perspectiva dos direitos fundamentais, a partir do direito constitucional contemporâneo. 26 Dessa forma, na idade contemporânea, identifica-se o movimento cultural denominado formalismo-valorativo (também chamado de Neoprocessualismo 27), destinado, como refere Daniel Mitidiero, “a concretizar valores constitucionais no tecido processual”. 28 Nesse momento, o processo não é mais visto como mera técnica, mas como fenômeno cultural. A finalidade principal do processo volta-se à concretização da justiça material, e não mais a mera realização do direito material. Direitos fundamentais ganham características de normas principais. O juiz é cooperativo de acordo com o modelo de democracia participativa conquistada pelo direito contemporâneo. 29 E, assim, em linhas gerais nasceu e cresceu o direito processual como a ciência que hoje se estuda. Após essa análise, passa-se ao estudo do contexto cultural de nascimento das codificações objeto desse trabalho, podendo agora identificar a que momento histórico da ciência processual pertencem, para, assim, entender melhor seus fundamentos. 3. O Código Buzaid: análise de seu aspecto cultural, sob a perspectiva da fase metodológica em que nasceu Como visto, foi no final do século XIX, que o direito processual civil nasceu como ciência, na Alemanha, tendo na obra de Oscar Bülow marco inicial. Torna-se aí um ramo autônomo do direito. 30 Interessa, neste momento do estudo, identificar em que momento histórico – e de que forma – tais ideias apontam no direito brasileiro. E, para falar da história do processo civil no Brasil, os nomes dos mestres europeus Adolph Wach, Giuseppe Chiovenda, Piero Calamandrei e Enrico Tullio Liebman, são de referência obrigatória. Nesse passo, o presente estudo se utilizará da obra e pensamentos desses grandes processualistas para traçar a linha de desenvolvimento da ciência processual no direito brasileiro. 31 O reconhecimento do direito processual como ciência se deu no Brasil através das mãos do mestre italiano Enrico Tulio Liebman que, como assevera Alfredo Buzaid, “é o fundador da ciência processual brasileira”. 32 Mas como se seu esse caminho da Alemanha, onde nasceu com Oscar Bülow, até a Itália? Nesse passo, imprescindível falar de Adolf Wach. Com sua pesquisa, Wach segue Bülow para a formação do processualismo na Alemanha. Consolida os estudos de processo, com sua obra (Handbuch des Deutschn Civilprozessrechts, 1885), desenvolvendo o conceito de relação jurídica processual, e assim surgem as funções processuais distintas no plano do processo: conhecimento, execução e cautelar (sem ligação com o direito material). 33 Ainda, salienta Chiovenda, que o reconhecimento da autonomia do direito processual tornou-se completo com Wach, em sua monografia fundamental sobre ação declaratória (Der Feststellungsanspruch, 1888), que, pelo ângulo da ação, não do processo, defende que a ação é claramente distinta do direito do autor à prestação do réu, sendo um direito que se constitui por si. 34 No início do século XX, influenciado por Wach e conhecedor do direito alemão, Giuseppe Chiovenda leva à Itália o programa científico alemão, valendo-se também do método histórico-dogmático, praticado pela processualística alemã. Chiovenda procura construir conceitos puros e precisos. Dedica-se ao estudo do processo de conhecimento, destinando à função processual de conhecimento um processo próprio. Há a intenção de purificar o processo, para que cada um contenha apenas a sua própria função (diferentes funções processuais correspondem a diferentes processos). 35 Chiovenda acentua a autonomia do direito processual ao direito material. O mestre ensina que a ação tem estreita relação com lesão de determinado direito (direito substancial), mas não se confundem. Consigna que se trata de mera conexão (porque a ação é um dos direitos que podem surgir da lesão de um direito), que era exagerada a ponto de haver confusão entre os dois conceitos, tratava-se de “uma concepção estritamente privada do processo, considerado como simples instrumento a serviço do direito subjetivo, como um instituto servil ao direito substancial, mesmo como uma relação de direito privado”. 36 E, assim, Chiovenda definiu ação como um “direito potestativo”. 37 No desenvolvimento do direito processual na Itália, juntam-se à Chiovenda (que se dedicou principalmente ao processo de conhecimento), Piero Calamandrei, que estuda o processo cautelar, e Enrico Tullio Liebman, dedicado ao processo de execução. Assim, com a união dos estudos Chiovenda, Calamandrei e Liebman, extrai- se a autonomia dos processos de conhecimento, de execução e cautelar, propondo-se um esquema padrão para tutela dos direitos com base apenas em conceitos processuais (não há qualquer referência de direito material). 38 Pois bem, importa saber nesse momento como tais ideias aportaram no direito brasileiro. Como dito antes, foi pelas mãos de Enrico Tulio Liebman que tais ideias chegaram ao Brasil. Por volta de 1940, o mestre chega ao Brasil, ficando até 1946, tendo lecionado em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Lídimo representante de Giuseppe Chiovenda, como acentua Alfredo Buzaid,Liebman traz ao Brasil o nascimento do direito processual como sistema científico. No Rio de Janeiro, em passagem curta, já prepara uma escola dirigida por Eliézer Rosa. Em São Paulo, Liebman permaneceu por mais tempo, o que foi uma “dádiva maior”, como ressalta Alfredo Buzaid. Além dos ensinamentos em sala de aula na Faculdade de Direito de São Paulo, Liebman recebia em casa, aos sábados, um grupo de estudiosos para discutir temas, após leitura previamente indicadas. Como salienta Alfredo Buzaid, que fazia parte do seleto grupo de estudantes, 39 a residência “se transforma no berço do movimento de renovação científica do direito processual civil”. 40 Liebman, assim, trouxe os ensinamentos da ciência europeia, que influenciaram todo o estudo do processo civil brasileiro, a ponto de ser considerado o pai da ciência processual civil brasileira. 41 Esse período influenciou diretamente a formação do Código Buzaid. Após vinte anos do magistério de Liebman no Brasil, do qual o próprio Alfredo Buzaid se intitula discípulo, este foi convidado, pelo Ministro da Justiça, Dr. Oscar Pedroso Horta, a elaborar o Anteprojeto de Código de Processo Civil. Em 1964, Buzaid entregou o Anteprojeto do Código. Anos depois, o documento fora revisto por uma Comissão 42 de Juristas, e, em 1972, foi encaminhado ao Congresso Nacional, discutido e aprovado nas duas Casas do Congresso, restou sancionado como a Lei 5.869, de 11.01.1973. 43 Nesse contexto, nota-se a forte influência da processualística alemã e italiana para a formação do Código Buzaid. Não resta dúvida sobre essa constatação, frente à afirmação de Buzaid de que seu código é considerado “um monumento imperecível de glória a Liebman, representando o fruto do seu sábio magistério no plano da política legislativa”. 44 Chega-se aqui a um ponto chave do presente estudo. Isso porque, a essa altura, concluiu-se pela forte influência europeia para a formação do Código Buzaid. Portanto, já se pode concluir que foi influenciado pelo contexto social da Europa do final do século XIX. Ainda, o Código Buzaid foi elaborado quando em vigor o Código Civil de 1916, tendo, pois, em conta as relações sociais e situações jurídico-materiais do Código Civil de Clóvis Beviláqua. O Código Civil de 1916 sofreu grande influência do Code Civil francês de 1804, 45 bem como das Codificações portuguesa, espanhola e italiana, e da doutrina alemã Pandectista, e dos Códigos e projetos alemão e suíço. 46 Foi o primeiro Código Civil brasileiro, projetado em 1899, 47 tipicamente oitocentista, e muito criticado por ser individualista, feito para uma sociedade rural e conservadora, sem preocupação com questões de índole social suficiente. 48 É a época do livre exercício da vontade, da autonomia individual como dogma. A cultura é movida pela propriedade imobiliária, inerente à produção de riquezas pelos fazendeiros, que faziam crescer na época a economia nacional. O Código Civil de 1916 é preocupado com o binômio indivídio-patrimônio, sem atentar à dignidade da pessoa humana e seus direitos de personalidade. 49 Daniel Mitidiero destaca que o Código Buzaid tinha como característica a individualidade, a patrimonialidade e o foco em uma tutela repressiva. Destaca, ainda, o que chama de “valores centrais do Código Buzaid”: 50 (a) valor liberdade individual: a execução é forçada, não é possível coagir a vontade do executado para colaborar para a obtenção da tutela jurisdicional. Ainda, as técnicas processuais executivas são estritas às hipóteses previstas na lei, nenhuma outra maneira de agressão à esfera jurídica do executado pode ser realizada, o que determina a não intervenção do Estado nos domínios do indivíduo, salvo quando expressamente autorizado por lei; (b) valor segurança: consubstanciada na garantia do status quo. O processo de conhecimento é de cognição plena e exauriente, que permite a decisão apenas após ampla dilação probatória, com base em juízo de certeza do julgador. Não é possível antecipar-se decisão de mérito. Dessa forma, pode-se considerar que o Código Buzaid abarcava um sistema processual civil individualista, patrimonialista, pensando a partir da ideia de dano e voltado tão somente a sua repressão, assim como centrado nos valores liberdade e segurança. E é importante destacar, por fim: por todas as influências que sofreu, o Código Buzaid inaugura, no direito processual brasileiro, a adoção do processualismo, através de um método científico, afastando-se da realidade. 51 Assim, perenizou o contexto cultural do século XIX, em um código reproduzido no século XX: isolou o direito da realidade social. 52 4. O novo Código: o contexto social de seu nascimento Importante iniciar o ponto referindo que o novo Código será o primeiro Código de Processo Civil brasileiro editado sob os auspícios da atual Constituição Federal de 1988, que, sabe-se, inseriu uma nova forma de se pensar e aplicar o direito no ordenamento jurídico brasileiro: marca a passagem do Estado Legislativo para o Estado Constitucional. 53 Essa constatação é de extrema importância ao estudo da novel codificação, principalmente para se entender de forma plena suas premissas. Em razão dessa constatação, releva aqui destacar brevemente o que significou a passagem do Estado Legislativo ao Estado Constitucional. O Estado Legislativo é o Estado fundado tão somente na lei, sendo que o Estado fundado na Constituição, em que há o reconhecimento da força normativa da Constituição, que é considerada a principal fonte normativa do ordenamento jurídico, com eficácia imediata e independente, é o Estado Constitucional. E essa mudança é uma das mais importantes características do pensamento jurídico atual. 54 Mas importa indagar: quais as mudanças reais que essa passagem insere no ordenamento jurídico? Para tal reflexão, importante uma inicial análise dos valores trazidos pela Constituição de 1988. Conhecida como “Constituição Cidadã”, privilegia uma categoria de direitos extrapatrimoniais e afirma a preponderância do coletivo sobre o individual, ao incorporar os princípios da dignidade da pessoa humana, do valor social do trabalho e da livre iniciativa, da solidariedade social e da igualdade substancial, bem como ao incluir a proteção do consumidor como uma garantia de linhagem constitucional. 55 Sua promulgação acarretou uma mudança de pensamento, que se volta à busca da justiça material e à promoção da dignidade da pessoa humana nas relações, num movimento de releitura de toda ordem jurídica à luz da Constituição, 56 para submissão a seu crivo e confrontação com seus valores, no processo chamado de “constitucionalização do direito”. 57 Fredie Didier afirma que “a constitucionalização do direito processual é uma das características do direito contemporâneo”. 58 Não foi diferente no direito processual civil. As novas diretrizes traçadas pela Constituição Federal de 1988 influenciam de forma direta o processo civil brasileiro. Nesse contexto, o Código Buzaid, de caráter individualista e liberal, já estava em contradição com as linhas do sistema constitucional brasileiro. 59 Com essa base, consegue-se identificar a mudança de orientação de todo o sistema jurídico impulsionada pela Constituição de 1988. Necessário investigar, a partir de agora, o que alterou em específico na realidade do direito processual civil. Em linhas gerais, consegue-se destacar como principais alterações: o reconhecimento da força normativa da Constituição, assim como da eficácia normativa dos princípios; o reconhecimento do papel criativo e normativo da atividade jurisdicional, do que é exemplo a expansão da técnica legislativa das cláusulas gerais, que impõe uma posição mais ativa do órgão jurisdicionalna criação do direito; e, por fim, a consagração dos direitos fundamentais, impondo-se ao direito positivo um conteúdo ético mínimo com respeito à dignidade da pessoa humana. 60 Daniel Mitidiero refere o Estado Constitucional proporcionou uma alteração na forma de se compreender o direito, em três aspectos: o primeiro aspecto se refere à teoria da norma, vez que os princípios ganham força normativa, não ficando esse papel tão somente às normas propriamente ditas; o segundo aspecto se situa na alteração da técnica legislativa, que trasmuda de uma técnica puramente casuística 61 para um regramento que utiliza a técnica casuística e a técnica aberta, 62 o que propicia que o ordenamento jurídico possa acompanhar de forma mais eficaz a evolução da sociedade; por fim, o terceiro aspecto concerne ao significado da interpretação jurídica e à própria compreensão a respeito da natureza do direito: no Estado Legislativo o direito era pronto, bastando ao intérprete aplicá-lo ao caso concreto, declarando a vontade do legislador; no Estado Constitucional, o material legislativo é parcialmente dado, devendo ser reconstruído ao ser conectado a elementos factuais quando aplicado. 63 E, nessa perspectiva, Daniel Mitidiero defende que o processo civil responde, no Estado Constitucional, a dois fundamentos: a dignidade da pessoa humana e a segurança jurídica, dois princípios fundamentais da nossa ordem jurídica (ou seja, tem como objetivo tutelar os direitos nessas duas dimensões). E com essa alteração avulta-se uma significativa mudança. O processo civil agora não se preocupa mais só com a solução do caso concreto, conferindo uma decisão justa às partes; o processo civil passa a responder pela unidade do direito, através da formação de precedentes – assim, tem por função “dar tutela ao direito”. 64 A dignidade da pessoa humana, fundamento do Estado Democrático, encontra-se no ápice da hierarquia dos valores previstos constitucionalmente (art. 1.º, III, CF/1988 65), estando, conforme Maria Cristina De Cicco, “no centro do sistema e representa o eixo em torno do qual gira todo o ordenamento, com a consequente subordinação das relações patrimoniais aos valores existenciais”. 66 A pessoa representa, pois, o valor máximo do ordenamento. Assim, é claro que a dignidade da pessoa humana deve ser sempre preservada, e o Estado é o instrumento de concretização desse princípio. Nesse contexto, em sendo a dignidade da pessoa humana uma imposição, os direitos fundamentais devem ter alcance em todos os âmbitos dos direitos. Marcelo Duque ensina que “o objetivo principal a ser buscado pela dogmática jurídica é o asseguramento da dignidade da pessoa humana pelo direito”. 67 E, nesse sentido, é impossível pensar-se o processo civil sem uma perspectiva da pessoa como centro. Qualquer teoria que defenda a aplicação da vontade concreta da lei, sem a preocupação com a pessoa humana, está em descompasso com os compromissos sociais da Constituição Federal. 68 A garantia da segurança jurídica fundamenta o Estado de Direito (o Estado submete-se ao ordenamento jurídico com a finalidade de garantir segurança jurídica a seus cidadãos). 69 Difere do valor segurança baseada na lei, típica do Estado Legislativo. Essa noção de segurança jurídica deve ser compreendida com cognoscibilidade (viabilizar o conhecimento e a certeza do direito), confiabilidade (o direito deve ser estável e não sofrer alterações repentinas e drásticas), calculabilidade (capacidade de antecipação das consequências normativas) e efetividade (realização efetiva do direito). Claro que todos esses aspectos não podem deixar de levar em conta que é inerente ao direito seu caráter cultural, sendo impossível assegurar sua imutabildade, pois está sempre aberto às transformações sociais. 70 E, assim, com base nesses dois fundamentos – dignidade da pessoa humana e segurança jurídica – o processo se destina à tutela dos direitos através da prolação de decisões justas e a formação de precedentes. Extrai-se assim a dupla direção da tutela no processo: dirige-se às partes (através da decisão justa 71) e à sociedade em geral (através do precedente 72). Tem-se, pois, uma tutela dos direitos em dimensão particular e em dimensão geral. E os fundamentos – dignidade da pessoa humana e segurança jurídica – denotam essa dupla direção. É o foco em ambos que nos dará a dupla direção. Assim, pode-se dizer, hoje o processo civil do Estado Constitucional tem como função, nos planos jurídico, político e social, a solução razoável às exigências da sociedade na superação de conflitos e na pacificação social, atingindo, então, uma justiça adequada ao caso concreto. 73 O novo Código insere-se no contexto do Estado Constitucional e encampa suas características. 74 Tem-se, pois, como finalidade do processo civil a efetividade dos direitos proclamados pela ordem jurídica. 75 Na exposição de motivos do novo Código, percebe-se, nitididamente, a intenção do legislador de amoldar a sistemática do processo civil brasileiro às diretrizes constitucionais. Ressalta a importância de um sistema processual eficiente, sob pena de tornar ineficiente todo o ordenamento jurídico. 76 Ainda, refere-se que uma das linhas principais objetivada foi a de “resolver problemas”, dando ao processo a característica de concretizador de valores constitucionais. Assim, estabelece-se como objetivo fundamental a coerência substancial em absoluto aos ditames constitucionais, pois “é na lei ordinária e em outras normas de escalão inferior que se explicita a promessa de realização dos valores encampados pelos princípios constitucionais”. 77 Em última análise, o foco hoje é a pessoa, a preservação de sua dignidade em todas as relações, visando o alcance da justiça material em cada caso, em um sistema em que a Constituição Federal é o guia, e todas as legislações e decisões devem estar de acordo com suas diretrizes e princípios. Esse é o contexto de nascimento do novo Código. 5. A influência dos aspectos culturais na estruturação do direito processual civil: principais mudanças e críticas Sem dúvidas, o contexto social influencia também a estruturação das codificações. A ciência do direito processual é um produto cultural, devendo ser estudada a partir dos fenômenos culturais, não só da sociedade, como também da própria ciência jurídica. 78 A inflluência do direito processual europeu, como se viu anteriormente, é percebida nitidamente na organização estrutural que recebeu o Código Buzaid. O Anteprojeto entregue por Buzaid continha a redação dos três primeiros livros do Código, na seguinte organização: Processo de Conhecimento (arts. 1 a 612), Processo de Execução (arts. 613 a 845) e Processo Cautelar (arts. 846 ao 913). Destaca-se, aqui, a forte influência das ideias de Chiovenda, Calamandrei e Liebman (como referido anteriormente), que desenvolveram o esquema padão para tutela dos direitos: processo de conhecimento, execução e cautelar. Não há dúvidas que suas obras, além de terem influenciado a construção de conceitos básicos do processo civil, também fundamentaram a estrutura do Código Buzaid. 79 A redação do livro quarto, atinente aos procedimentos especiais, não inclui o anteprojeto. Diz-se que a ausência da redação do quarto livro se dá justamente pelo intento de Buzaid de separar direito material e processual, fixando conceitos puramente processuais. Para ele bastavam os três livros. Também se explica esse fato em razão de que posteriormente a nomenclatura utilizada por Buzaid no Livro IV. Utilizou-se da denominação Procedimentos Especiais, visto que, sendo estritamente vinculados ao direito material, ali não existiam processos, mas apenas procedimentos especiais. Lembre-se da metodologia do processualismo,para a qual “processo é conceito da ciência processual que não pode ser adjetivado com conceitos ligados ao direito material, sob pena de ameaçada a sua autonomia”. 80 Pois bem, no esquema padrão formulado por Buzaid, cada livro tinha sua função específica: o processo de conhecimento é o que busca dar razão a uma das partes por meio de uma sentença declaratória, constitutiva ou condenatória; o processo de execução visa a efetividade do direito da parte; a transformação do mundo fático, baseado no título executivo; o processo cautelar visa prevenir um dano jurídico, que possa ser ocasionado pela demora de uma decisão, ou mesmo de inefetividade, através de um provimento cautelar/liminar. 81 Esta, pois, a estrutura do Código Buzaid, nitidamente influenciada pelo direito processual europeu do século XIX, no processualismo surgido na Alemanha e desenvolvido na Itália. Nascido sob a égide da Constituição Federal de 1988, o novo Código inaugura um novo tempo, com se viu acima. Importa agora analisar como a novel legislação foi estruturada para esse “novo direito”. O Projeto do Código de Processo Civil foi apresentado com 970 artigos, e com a seguinte divisão 5 livros (Livro I – Parte Geral; Livro II – Processo de Conhecimento e Cumprimento de Sentença; Livro III – Do Processo de Execução; Livro IV – Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais; Livro V – Das Disposições Finais e Transitórias). 82 Da forma como estruturado o novo Código, denota-se, segundo Arruda Alvim, a intenção de descomplicar o processo, imprimindo maior organicidade e simplicidade à normativa processual civil. Ao julgador, é permitido, sempre que possível, não se preocupar excessivamente com o processo, como se fosse um fim em si mesmo, mas privilegiar a atenção ao direito material posto em juízo. Dessa forma, “pretende-se descartar uma processualidade excessiva, desvinculada do objetivo do direito material”. 83 Aliás, este foi um dos objetivos estabelecidos pela comissão que elaborou o Projeto: “criar condições para que o juiz possa proferir decisão de forma mais rente à realidade fática subjacente à causa”. 84 Importante frisar, ainda, que o novo Código foi cauteloso quanto à manutenção da segurança jurídica e da estabilidade da jurisprudência. Incentiva a uniformidade da jurisprudência e sua estabilidade. 85 Daniel Mitidero e Luiz Guilherme Marinoni, analisando o Anteprojeto apresentado, destacam algumas críticas, sob a perspectiva do Estado Constitucional. Para eles, mostra-se desnecessária a abertura de título próprio para tratamento do litisconsórcio, que deveria ser tratado no título das partes; a melhor alocação para a matéria de provas é na parte geral, haja vista servir tanto para o processo de conhecimento quanto para o de execução, quando, por exemplo, há embargos à execução; não há razão para processo dos tribunais e dos recursos em livro próprio, devendo o assunto ser tratado na parte geral ou no processo de conhecimento; a organização a partir das funções processuais – conhecimento e execução – não se mostra suficiente para um Código que objetiva a concretização dos fins sociais do Estado Constitucional e a construção do processo civil a partir da tutela dos direitos e da realidade social em que inserido. 86 Os autores propõem o que para eles seria o modelo ideal de um Código para o Estado Constitucional, ou seja, um código que deveria ser estruturado a partir da ideia de tutela jurisdicional: função jurisdicional como consequência natural do dever do Estado de proteger os direitos. Assim, eles propõem uma nova estrutura: Quatro livros – I – Parte Geral; II – Tutela Jurisdicional Comum (deve compreender a tutela jurisdicional de conhecimento e executiva, ou seja, todo o procedimento que leva à prestação da tutela jurisdicional efetiva); III – Tutela Jurisdicionals Diferenciada (deve compreender a execução de título extrajudicial, procedimentos cautelares e especiais); IV – Disposições Finais e Transitórias. Todavia, o novo Código foi aprovado e permaneceu com a estruturação inserida pelo substitutivo da Câmara dos Deputados. 87 Pois bem, seguindo a linha do presente estudo, é de se registrar que o novo Código, aprovado sob a égide da atual Constituição Federal de 1988, insere-se no contexto do Estado Constitucional. Como visto, princípios como a dignidade da pessoa humana e a segurança jurídica, fundamentos do Estado Constitucional, são norte ao diploma legal (são termos que estão expressos no texto legal 88). Ainda, a novel legislação traz diversos dispositivos que conferem ampla participação e liberdade das partes no transcorrer do processo. Confere, por exemplo, poderes às partes para transacionarem sobre o direito material discutido no caso, bem como sobre o próprio processo, dispondo sobre direitos, deveres, ônus e faculdades processuais. Ainda, prevê, no art. 191, 89 a possibilidade de as partes, em conjunto, sob a coordenação do juiz, estipularem o calendário processual, determinando, previamente, os momentos em que os atos processuais serão realizados. Tome-se, ainda, como exemplo a liberdade de as partes indicarem o perito que elaborará o correspondente laudo, cabendo ao juiz fiscalizar a higidez do procedimento. 90 E, se o foco aqui é demonstrar como tais premissas se amoldam ao Estado Constitucional, é de se consignar que, primando pela participação, liberdade e igualdade no processo, o novo Código prestigia e preserva a dignidade das partes. 91 Nesse sentido, também é possível extrair do novo Código a preocupação com a segurança jurídica, quando traz regras que estimulam a uniformização e a estabilização da jurisprudência. 92 Veja o art. 926 93 do novo Código que estabelece que devem os tribunais velar pela uniformização e pela estabilidade da jurisprudência, devendo editar enunciados de sua súmula de jurisprudência dominante e seguir a orientação firmada em precedentes de seus próprios órgãos internos e dos tribunais superiores. Diversas outras normas denotam esse caráter do novo Código, preocupado em preservar as diretrizes impostas pelo Estado Constitucional. Esses foram apenas exemplos extraídos de seu texto para demonstrar sua adequação ao atual sistema de direito que tem a pessoa como centro, e foco de todas as preocupações: o que interessa hoje é alcançar a justiça material no caso concreto, tutelando os direitos direitos das pessoas, sempre de acordo com o ditames constitucionais. 6. Considerações finais Inicia-se um novo tempo. O processo civil brasileiro – que já sofria transformações a partir da ordem constitucional inserida pela Constituição de 1988 – ganha uma nova feição. O rigor científico do processualismo – modelo adotado pelo Código Buzaid – sede espaço à preocupação com o processo eficaz, que coloca a pessoa humana e a solução de seu probelma no foco, a partir dos valores constitucionais, conforme o modelo do formalismo-valorativo, já vislumbrado anteriormente, e agora consagrado em nosso sistema processual. A dupla direção que exige o processo civil preocupado com a tutela dos direitos torna indispensável a estrita observância de dois fundamentos básicos: dignidade da pessoa humana e segurança jurídica. Assim, indispensável perceber esse duplo discurso do processo: um ligado às partes (tutela do direito em dimensão particular) e um ligado à sociedade (tutela do direito em dimensão geral). O novo Código, aprovado sob a égide da atual Constituição Federal de 1988, insere-se no contexto do Estado Constitucional, tendo como norte princípios como a dignidade da pessoa humana e a segurança jurídica. Destacam-se, nesse sentido, dispositivos que prestigiam a ampla participação, liberdadee colaboração das partes no processo (podendo, inclusive, determinar o calendário de atos processuais), bem como artigos que prestigiam a uniformização e a estabilização da jurisprudência, com exigência de respeito aos precedentes jurisprudenciais. Espera-se efetividade, eficiência, comprometimento com a justiça. O novo Código é um belo instrumento, máquina a ser guiada. Depende de cada um daqueles que têm essa capacidade, os operadores do direito (sim, também são os operadores da máquina). O futuro dirá como será guiada essa máquina, se ela terá fôlego e potência para evoluir com a sociedade, solucionando seus problemas, com o ideal de justiça substancial como regra cimeira. 7. Referências bibliográficas ALVIM, Arruda. Notas sobre o Projeto de novo Código de Processo Civil. RePro 191/299, jan. 2011. ANDRIGHI, Fátima Nancy. Cláusulas gerais e proteção da pessoa. In: TEPEDINO, Gustavo (org.). 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Acesso em: 01.04.2015. 2 O Código Buzaid manteve-se da forma como proposto até o ano de 1994, quando começaram as reformas estruturais no Código de Processo Civil, que, por esse motivo, passou a ser chamado por muitos de Código Reformado (MITIDIERO, Daniel. O processualismo e a formação do Código Buzaid. RePro 183/165-194, maio 2010). 3 Ensina o mestre Clóvis do Couto e Silva: “Para conhecer a situação atual de um sistema jurídico, ainda que em suas grandes linhas, é necessário ter um ideia de seu desenvolvimento histórico, das influências que lhe marcaram as soluções no curso dos tempos” (SILVA, Clóvis Veríssimo do Couto e. O direito civil brasileiro em perspectiva histórica e visão de futuro. Revista de Informação Legislativa 97/163-180, jan.-mar. 1988). 4 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2012. vol. 1, p. 12. 5 MITIDIERO, Daniel. Elementos para uma teoria contemporânea do processo civil brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 12. 6 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. 2. ed., rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2012. vol. 1, p. 13. 7 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. 2. ed., rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2012. vol. 1, p. 13. 8 MITIDIERO, Daniel. Elementos para uma teoria contemporânea do processo civil brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 18. 9 DIDIER JÚNIOR, Fredie Souza. Curso de direito processual civil: Teoria geral do processo e processo de conhecimento. 12. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2010. vol. 1, p. 27. 10 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2012. vol. 1, p. 13. 11 MITIDIERO, Daniel. Elementos para uma teoria contemporânea do processo civil brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 18. 12 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2012. vol. 1, p. 14.13 MITIDIERO, Daniel. Elementos para uma teoria contemporânea do processo civil brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 19. 14 DIDIER JÚNIOR, Fredie Souza. Curso de direito processual civil: Teoria geral do processo e processo de conhecimento. 12. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2010. vol. 1, p. 27. 15 Interessante lembrar que a cultura da época, ditada pela pandectística alemã do século XIX, “tinha por objetivo purificar o direito, sistematizando as fontes romanas, opondo-se ao jusnaturalismo racionalista que dominava a cultura jurídica francesa de então” (MITIDIERO, Daniel. O processualismo e a formação do Código Buzaid. RePro 183/165-194, maio 2010). 16 O direito romano clássico tinha uma estruturação bifásica para o processo civil: as questões processuais eram analisadas pelo praetor, sendo que, vencida essa fase, era o iudex que colhia as provas e julgar a causa. Daí a base de Bülow para legitimar uma relação de preliminariedade entre questões processuais e de mérito. (MITIDIERO, Daniel. O processualismo e a formação do Código Buzaid. RePro 183/165-194, maio 2010). 17 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2012. vol. 1, p. 14. 18 Ovídio Baptista e Fábio Gomes ponderam, enfatizando a modernidade do processo como ciência, que: “Embora antigo o processo, é moderníssima a ciência processual. Mesmo que a partir do advento da ordenança francesa, outorgada por Luís XIV em 1667, a regulação do processo tenha tomado fisionomia legislativa própria, continuou ele sendo tratado como apêndice do direito material; não houve preocupação com a ordem científica, limitando-se seu conteúdo ao aspecto externo, com proliferação das práticas e das praxes. O processo como ciência jurídica só surgiu, realmente, a partir da obra de Bullow, em 1868” (SILVA, Ovídio Araújo Baptista da; GOMES, Fábio Luiz. Teoria geral do processo civil. 6. ed. atual. e rev. São Paulo: Ed. RT, 2011. p. 34). 19 Pandectística é a ciência jurídica “baseada na perspectiva do direito do positivismo científico, o qual deduzia as normas jurídicas e sua aplicação exclusivamente a partir do sistema, dos conceitos e dos princípios doutrinais da ciência jurídica, sem conceder a valores ou objectivos extra-jurídicos (por exemplo, religiosos, sociais ou científico) a possibilidade de confirmar ou infirmar as soluções jurídicas” (WIEACKER, Franz. A história do direito privado moderno. 3. ed. (trad.) Antonio Manuel Botelho Hespanha. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004. p. 492). 20 MITIDIERO, Daniel. O processualismo e a formação do Código Buzaid. RePro 183/165-194, maio 2010. 21 DINAMARCO, Candido Rangel. Instituições de direito processual civil. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 43. 22 Era o momento cultural do praxismo da Idade Média, como se falou anteriormente. 23 DINAMARCO, Candido Rangel. Instituições de direito processual civil. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 50. 24 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2012. vol. 1, p. 14. 25 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2012. vol. 1, p. 15. 26 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2012. vol. 1, p. 15-16. 27 Fredie Didier, em seu “Curso de direito processual civil”, denomina essa fase de Neoprocessualismo e faz a ressalva: “Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil), sob a liderança de Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, costuma-se denominar esta fase do desenvolvimento do direito processual de formalismo-valorativo, exatamente para destacar a importância que se deve dar aos valores constitucionalmente protegidos na pauta de direitos fundamentais na construção e aplicação do formalismo processual. As premissas desse pensamento são exatamente as mesmas do chamado Neoprocessualismo (DIDIER JÚNIOR, Fredie Souza. Curso de direito processual civil: Teoria geral do processo e processo de conhecimento. 12. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2010. vol. 1, p. 29). 28 MITIDIERO, Daniel. Elementos para uma teoria contemporânea do processo civil brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 19. 29 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2012. vol. 1, p. 16. 30 MITIDIERO, Daniel. A tutela dos direitos como fim do processo civil no Estado Constitucional. RePro 229/51-74, mar. 2014. 31 Muitos outros grandes nomes foram importantes para o desenvolvimento do direito processual civil, como bem observa Daniel Mitidiero (MITIDIERO, Daniel. O processualismo e a formação do Código Buzaid. RePro 183/165-194, maio 2010). Todavia, esclarece-se a referência a esses quatro grandes pensadores, justamente por serem o ponto de ligação entre o direito europeu, que influenciou o direito processual brasileito, tanto que veio a culminar na adoção, na estrutura do Código Buzaid, do esquema de tutela de direitos desenvolvido pelos mestres italianos, como se verá a seguir. 32 Introdução de Alfredo Buzaid à 3.ª edição da obra: CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1969. vol. I, p. 7. 33 MITIDIERO, Daniel. O processualismo e a formação do Código Buzaid. RePro 183/165-194, maio 2010. 34 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1969. vol. I, p. 22-24. 35 MITIDIERO, Daniel. O processualismo e a formação do Código Buzaid. RePro 183/165-194, maio 2010. 36 Reflete o mestre: “Encarava-se a ação como um elemento do próprio direito deduzido em juízo, como um poder, inerente ao direito mesmo, de reagir contra a violação, como o direito mesmo em sua tendência a atuar” (CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1969. vol. I, p. 21). 37 O autor, em sua obra, dá diversos exemplos, dentre eles: “Ação e obrigação são dois direitos subjetivos distintos, que somente juntos e unidos preenchem plenamente a vontade concreta da lei. A ação não se assimila à obrigação, não é o meio para atuar a obrigação, não é a obrigação em sua tendência para a atuação, não é um efeito da obrigação, não é um elemento nem uma função do direito de obrigação, mas um direito distinto e autônomo, que exsurge e pode extinguir-se independente da obrigação” (CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1969. vol. I, p. 22-24). 38 MITIDIERO, Daniel. O processualismo e a formação do Código Buzaid. RePro 183/165-194, maio 2010. 39 Também faziam parte desse grupo: Luís Eulálio de Bueno Vidigal, Benvindo Aires, Bruno Affonso de André e José Frederico Marques (BUZAID, Alfredo. A influência de Liebman no direito processual civil brasileiro. RePro 27/12, jul. 1982). 40 Introdução de Alfredo Buzaid à 3.ª edição da obra: CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1969. vol. I, p. 13-14. 41 Conforme salienta Alfredo Buzaid: “A vida de Enrico Tullio Liebman, conquanto tivesse sido curta a sua permanência entre nós, incorpora-se definitivamente na história do direito processual civil brasileiro como um marco fundamental, como um apostolado da ciência, como um templo do saber. Antes dele houve grandes processualistas, mas não houve escola; depois dele houve escola, no seio da qual floresceram grandes processualistas. Ele foi um divisar que, pondo remate a certo estilo de atividade processual, inaugurou entre nós o método científico, que os seus discípulos abraçaram apaixonadamente” (BUZAID, Alfredo. A influência de Liebman no direito processualcivil brasileiro. RePro 27/12, jul. 1982). 42 A comissão era constituída pelos eminentes juristas José Carlos Moreira Alves, Luís Antônio de Andrade, José Frederico Marques e Cândido Dinamarco (BUZAID, Alfredo. A influência de Liebman no direito processual civil brasileiro. RePro 27/12, jul. 1982). 43 BUZAID, Alfredo. A influência de Liebman no direito processual civil brasileiro. RePro 27/12, jul. 1982. 44 BUZAID, Alfredo. A influência de Liebman no direito processual civil brasileiro. RePro 27/12, jul. 1982. 45 Registra-se que das codificações estrangeiras que influenciaram o Código Civil de 1916, o Code Civil francês de 1804 foi a que influenciou o maior número de artigos: 172 artigos do Código Civil de 1916 reputam-se influenciados pela codificação francesa (MARQUES, Claudia Lima; MIRAGEM, Bruno. O novo direito privado e a proteção dos vulneráveis. São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 52). 46 Sobre as influências sofridas pelo direito brasileiro, interessante a lição de Claudia Lima Marques e Bruno Miragem: “No Brasil do século XVIII e XIX a recepção e aceitação das ideias jurídicas europeias pelo direito civil era comum, em face da necessidade de atualizar as Ordenações portuguesas, aplicar a Lei da Boa-Razão e, mesmo com poucas Faculdades de Direito, construir uma filosofia do direito e dogmática jurídica adaptada à realidade do país, tudo sobre a forte influência do pensamento jurídico, econômico, político e social europeu” (MARQUES, Claudia Lima; MIRAGEM, Bruno. O novo direito privado e a proteção dos vulneráveis. São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 46). 47 Importante destacar que, apesar de o projeto aceito ser datado de 1899, “a elaboração deste marco codificador para a história do direito civil brasileiro começou muito antes, com a Independência de Portugal em 1822. Segundo Lei de 20.10.1823, continuaram vigemdo no Império as Ordenações Filipinas, Leis e Decretos promulgados pelos reis de Portugal até 25.04.1821, enquanto não se organizasse um novo Código, ou não fossem aqueles alterados. Da mesma forma previu o art. 179, XVIII, da Constituição imperial do Brasil de 1824: “Organizar-se-á, quanto antes, um Código Civil e um Criminal, fundado nas sólidas bases da Justiça e da Equidade”. Numerosos projetos serão elaborados até que os trabalhos mais importantes e pioneiros como o de Teixeira de Freitas em 1860 sejam preparados” (MARQUES, Claudia Lima; MIRAGEM, Bruno. O novo direito privado e a proteção dos vulneráveis. São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 61). 48 MARQUES, Claudia Lima; MIRAGEM, Bruno. O novo direito privado e a proteção dos vulneráveis. São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 45. 49 MITIDIERO, Daniel. O processualismo e a formação do Código Buzaid. RePro 183/165-194, maio 2010. 50 MITIDIERO, Daniel. O processualismo e a formação do Código Buzaid. RePro 183/165-194, maio 2010. 51 MITIDIERO, Daniel. Elementos para uma teoria contemporânea do processo civil brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 38. 52 MITIDIERO, Daniel. O processualismo e a formação do Código Buzaid. RePro 183/165-194, maio 2010. 53 CUNHA, Leonardo Carneiro da. O processo civil no Estado Constitucional e os fundamentos do projeto do novo Código de Processo Civil brasileiro. RePro 209/349-374, jul. 2012. 54 DIDIER JÚNIOR, Fredie Souza. Curso de direito processual civil: Teoria geral do processo e processo de conhecimento. 12. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2010. vol. 1, p. 25. 55 GREGORI, Maria Stella. O novo paradigma para um capitalismo de consumo. RDC 75/255, São Paulo, jul.-set. 2010. 56 Gustavo Tepedino, falando do movimento doutrinário motivado pela Constituição de 1988 no direito privado, refere: “Revisitou-se, pouco a pouco, a partir de então, a metodologia do direito privado, mediante a reconstrução de seus conceitos fundamentais, e procurou-se fazer do compromisso para com a pessoa humana e a Justiça social a fonte de inspiração para a produção intelectual, preocupação esta que se refletiria inevitavelmente na jurisprudência. O direito civil, então, procurou superar a perspectiva patrimonialista que o distinguia, e voltou-se para a promoção dos valores constitucionais, especialmente no que concerne à dignidade da pessoa humana, à solidariedade social, à igualdade substancial e ao valor social da livre iniciativa” (TEPEDINO, Gustavo. O direito civil-constitucional e suas perspectivas atuais. In: TEPEDINO, Gustavo (org.). Direito civil contemporâneo: novos problemas à luz da legalidade constitucional: anais do Congresso Internacional de Direito Civil-Constitucional da Cidade do Rio de Janeiro. São Paulo: Atlas, 2008. p. 357-371). 57 MARANHÃO, Ney Stany Morais. Responsabilidade civil objetiva pelo risco da atividade – Uma perspectiva civil-constitucional. São Paulo: Método, 2010. p. 149. 58 DIDIER JÚNIOR, Fredie Souza. Curso de direito processual civil: Teoria geral do processo e processo de conhecimento. 12. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2010. vol. 1, p. 29. 59 Tanto que já vinha sofrendo diversas reformar por leis esparsas, que, aos poucos, iam modificando o processo civil, amoldando-o à nova ordem constitucional (OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. Do formalismo no processo civil. 4. ed. rev., atual. e aum. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 151-152). 60 DIDIER JÚNIOR, Fredie Souza. Curso de direito processual civil: Teoria geral do processo e processo de conhecimento. 12. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2010. vol. 1, p. 25. 61 Na técnica casuística a norma traz previsão exata dos casos a serem disciplinados, determinando as condutas e consequências legais; a técnica aberta utiliza-se de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais (MITIDIERO, Daniel. A tutela dos direitos como fim do processo civil no Estado Constitucional. RePro 229/51-74, mar. 2014). 62 As cláusulas gerais, por exemplo, são uma técnica aberta de legislar, e foram amplamente utilizadas no Código Civil de 2002, e – deve-se destacar – propiciam mais fortemente a concretização dos direitos fundamentais, visto que permitem a interpretação das relações jurídicas à luz da ordem principiológica constitucional, não ficando limitada apenas à norma infraconstitucional e seus conceitos específicos (ANDRIGHI, Fátima Nancy. Cláusulas gerais e proteção da pessoa. In: TEPEDINO, Gustavo (org.). Direito civil contemporâneo: novos problemas à luz da legalidade constitucional: anais do Congresso Internacional de Direito Civil-Constitucional da Cidade do Rio de Janeiro. São Paulo: Atlas, 2008. p. 289-295). 63 MITIDIERO, Daniel. A tutela dos direitos como fim do processo civil no Estado Constitucional. RePro 229/51-74, mar. 2014. 64 MITIDIERO, Daniel. A tutela dos direitos como fim do processo civil no Estado Constitucional. RePro 229/51-74, mar. 2014. 65 “Art. 1.º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III – a dignidade da pessoa humana;” 66 CICCO, Maris Cirstina de. A pessoa e o mercado. In: TEPEDINO, Gustavo José Mendes (org.). Direito civil contemporâneo: novos problemas à luz da legalidade constitucional: anais do Congresso Internacional de Direito Civil-Constitucional da Cidade do Rio de Janeiro. São Paulo: Atlas, 2008. p. 103. 67 DUQUE, Marcelo Schenk. A proteção do consumidor como dever de proteção estatal de hierarquia constitucional. RDC 71/147, São Paulo, jul.-set. 2009. 68 MITIDIERO, Daniel. A tutela dos direitos como fim do processo civil no Estado Constitucional. RePro 229/51-74, mar. 2014. 69 CUNHA, Leonardo Carneiro da. O processo civil no estado constitucional e os fundamentos do projeto do novo Código de Processo Civil brasileiro. RePro 209/349-374,jul. 2012. 70 MITIDIERO, Daniel. A tutela dos direitos como fim do processo civil no Estado Constitucional. RePro 229/51-74, mar. 2014. 71 A formação de uma decisão justa se alcança com a conjugação de critérios ligados à individualização, interpretação e argumentação jurídica (para o que interessa a dimensão global – início ao fim – do processo e a necessidade de o discurso jurídico ser racional e coerente); à adequada verificação da verdade dos fatos alegados (para o que importa a colocação da busca da verdade como objetivo da prova); e à justa estruturação do processo (para o que importa os direitos fundamentais do processo – direito ao processo justo, com observância do direito de ação, defesa, contraditório, prova e o dever da fundamentação das decisões) (MITIDIERO, Daniel. A tutela dos direitos como fim do processo civil no Estado Constitucional. RePro 229/51- 74, mar. 2014). 72 O respeito ao precedente e a correta aplicação é corolário de um sistema que confere adequada tutela jurisdicional às partes – propicia a concretização do direito à igualdade no processo, segurança jurídica e duração razoável do processo e evita danos às partes (que teriam de recorrer às Cortes Supremas para ver seu direito aplicado) e ao próprio Poder Judiciário (que teria que trabalhar para reafirmar o que já está decidido) (MITIDIERO, Daniel. A tutela dos direitos como fim do processo civil no Estado Constitucional. RePro 229/51-74, mar. 2014). 73 MACEDO, Elaine Harzheim; MACEDO, Fernanda dos Santos. O direito processual civil e a pós-modernidade. RePro 204/351, fev. 2012. 74 CUNHA, Leonardo Carneiro da. O processo civil no Estado Constitucional e os fundamentos do projeto do novo Código de Processo Civil brasileiro. RePro 209/349-374, jul. 2012. 75 MITIDIERO, Daniel. A tutela dos direitos como fim do processo civil no Estado Constitucional. RePro 229/51-74, mar. 2014. 76 BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas responsável pela elaboração de anteprojeto de Código de Processo Civil. Código de Processo Civil: anteprojeto. Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010. p. 11-14. 77 BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas responsável pela elaboração de anteprojeto de Código de Processo Civil. Código de Processo Civil: anteprojeto. Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010. p.11-14. 78 MACEDO, Elaine Harzheim; MACEDO, Fernanda dos Santos. O direito processual civil e a pós-modernidade. RePro 204/351, fev. 2012. 79 MITIDIERO, Daniel. O processualismo e a formação do Código Buzaid. RePro 183/165-194, maio 2010. 80 MITIDIERO, Daniel. O processualismo e a formação do Código Buzaid. RePro 183/165-194, maio 2010. 81 MITIDIERO, Daniel. O processualismo e a formação do Código Buzaid. RePro 183/165-194, maio 2010. 82 O projeto do novo Código sofreu texto substitutivo da Câmara dos Deputados, e ficou com a seguinte estruturação (com a qual foi aprovado): Parte Geral contém 6 livros: Livro I – Das Normas Processuais Civis; Livro II – Da Função Jurisdicional; Livro III – Dos Sujeitos do Processo; Livro IV – Dos Atos Processuais; Livro V – Da Tutela Provisória; Livro VI – Formação, Suspensão e Extinção do Processo. Parte Especial contém 4 livros: Livro I – Do Processo de Conhecimento e do Cumprimento de Sentença; Livro II – Do Processo de Execução; Livro III – Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais; Livro Complementar – Das Disposições Finais e Transitórias. 83 ALVIM, Arruda. Notas sobre o projeto de novo Código de Processo Civil. RePro 191/299, jan. 2011. 84 BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas responsável pela elaboração de anteprojeto de Código de Processo Civil. Código de Processo Civil: anteprojeto. Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010. p.11-14. 85 ALVIM, Arruda. Notas sobre o projeto de novo Código de Processo Civil. RePro 191/299, jan. 2011. 86 MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. O projeto do Código de Processo Civil: crítica e propostas. São Paulo: Ed. RT, 2010. 87 Vide nota de rodapé 82. 88 Veja o que estabelecem os arts. 8.º, 927 do novo Código (destaques aos termos dignidade da pessoa humana e segurança jurídica, inexistentes no Código Buzaid): “Art. 8.º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. Art. 927. (...) § 3.º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica. © edição e distribuição da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA. § 4º. A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia” (BRASIL. Lei 13.105, de 16.03.2015. Código de Processo Civil. Disponível em: [www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm]. Acesso em: 01.04.2015). 89 Veja a redação do artigo: Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática dos atos processuais, quando for o caso. 90 CUNHA, Leonardo Carneiro da. O processo civil no Estado Constitucional e os fundamentos do projeto do novo Código de Processo Civil brasileiro. RePro 209/349-374, jul. 2012. 91 Nessa perspectiva, a orientação de Maria Cristina de Cicco, que destaca que a dignidade é um valor que deve ser associado à liberdade e à igualdade (CICCO, Maris Cristina de. A pessoa e o mercado. In: TEPEDINO, Gustavo José Mendes (org.). Direito civil contemporâneo: novos problemas à luz da legalidade constitucional: anais do Congresso Internacional de Direito Civil-Constitucional da Cidade do Rio de Janeiro. São Paulo: Atlas, 2008. p. 113). 92 CUNHA, Leonardo Carneiro da. O processo civil no Estado Constitucional e os fundamentos do projeto do novo Código de Processo Civil Brasileiro. RePro 209/349-374, jul. 2012. 93 Veja o teor do artigo: “Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente. § 1.º Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os tribunais editarão enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante. § 2.º Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua criação.”