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UNIP - Universidade Paulista Educação à Distância Curso: Pedagogia CADERNO DE DESENHO: UMA VITRINE DA JORNADA CRIATIVA DO ALUNO SILVA, Viviani Jacusso Vasconcellos Lopes Polo ITES - Taubaté 2019 ii Viviani Jacusso Vasconcellos Lopes Silva CADERNO DE DESENHO: UMA VITRINE DA JORNADA CRIATIVA DO ALUNO Trabalho Monográfico – Curso de Graduação – Licenciatura em Pedagogia, apresentado à comissão julgadora da UNIP EaD sob a orientação da professora Ana Beatriz Lopes Françoso Polo ITES - Taubaté 2019 iii Aos meus filhos Márcio, Flávio e Aline, razão da minha vida. Ao meu marido, meu maior incentivador e companheiro de vida. Amo vocês! iv AGRADECIMENTOS Quero agradecer à minha família pelo suporte oferecido ao longo desta jornada. A todos que me apoiaram e motivaram, expresso o meu agradecimento, em especial à minha tia Marilda que muito me auxiliou no decorrer de todo o curso. v "Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo..." (Toquinho) vi SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 10 2. O DESENHO........................................................................ 12 2.1 O desenho na história..................................................... 12 2.2 O desenho infantil............................................................ 13 2.3 O desenho na escola de Educação Infantil................... 14 3. AS FASES DO DESENHO.................................................. 17 3.1 Visão teórica de Luquet.................................................. 17 3.1.1 Realismo fortuito.............................................................. 17 3.1.2 Realismo fracassado........................................................ 19 3.1.3 Realismo intelectual......................................................... 19 3.1.4 Realismo visual................................................................ 20 3.2 Visão teórica de Lowenfeld............................................ 21 3.2.1 Estágio das garatujas....................................................... 21 3.2.2 Estágio pré esquemático.................................................. 21 3.2.3 Estágio esquemático........................................................ 22 3.2.4 Estágio do realismo.......................................................... 23 3.3 Visão teórica de Piaget.................................................... 23 3.3.1 Garatuja........................................................................... 23 3.3.2 Pré esquematismo........................................................... 24 3.3.3 Esquematismo................................................................. 25 3.3.4 Realismo.......................................................................... 26 3.3.5 Pseudo naturalismo......................................................... 26 3.4 O meio cultural como fator contribuinte no processo de desenvolvimento gráfico........................................... 27 4. O CADERNO DE DESENHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 29 4.1 Relevância do caderno.................................................... 29 4.2 Frequência do uso........................................................... 30 4.3 O desenho cultivado........................................................ 31 4.3.1 Desenho livre................................................................... 32 4.3.2 Desenho de apreciação................................................... 33 4.3.3 Desenho com interferência.............................................. 34 4.3.4 Desenho temático............................................................ 34 4.3.5 Desenho gêmeo............................................................... 35 4.3.6 Desenho de imaginação.................................................. 36 4.3.7 Desenho de observação.................................................. 37 4.3.8 Desenho de memória....................................................... 38 4.3.9 Desenho ditado................................................................ 38 4.4 Registro de avaliação...................................................... 39 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................. 41 REFERÊNCIAS................................................................... 43 vii LISTA DE FIGURAS FIGURA 1......... Desenho Involuntário - 2013................................... 18 FIGURA 2......... Desenho voluntário - 2013...................................... 18 FIGURA 3......... Realismo fracassado - 2013.................................... 19 FIGURA 4......... Realismo intelectual - 2016..................................... 20 FIGURA 5......... Realismo visual - 2016............................................ 20 FIGURA 6......... Figuração de garatuja - 2013.................................. 21 FIGURA 7......... Figuração pré esquemática - 2013......................... 22 FIGURA 8......... Figuração esquemática - 2013................................ 22 FIGURA 9......... Figuração realista - 2016......................................... 23 FIGURA 10....... Garatuja - 2018....................................................... 24 FIGURA 11....... Pré esquema - 2013................................................ 25 FIGURA 12....... Esquematismo - 2018............................................. 25 FIGURA 13....... Realismo - 2018...................................................... 26 FIGURA 14....... Pseudo naturalismo - 2018..................................... 27 FIGURA 15....... Desenho livre - 2013............................................... 32 FIGURA 16....... Desenho de apreciação - 2013............................... 33 FIGURA 17....... Desenho com interferência - 2013.......................... 34 FIGURA 18....... Desenho temático - 2018........................................ 35 FIGURA 19....... Desenho gêmeo - 2010........................................... 35 FIGURA 20....... Desenho de imaginação - 2013.............................. 36 FIGURA 21....... Desenho de observação - 2013.............................. 37 FIGURA 22....... Desenho de memória - 2009................................... 38 FIGURA 23....... Desenho ditado - 2013............................................ 39 viii RESUMO O desenho infantil, além de ser uma forma de expressão e comunicação, é uma atividade lúdica que favorece o desenvolvimento da criança. Junto ao seu desenvolvimento caminha sua trajetória desenhista. Este percurso criador é marcado pela aquisição de novas habilidades e competências que permitem à criança compreender o mundo e o ressignificar. É necessário, portanto, que o desenho infantil seja percebido pela escola e família como um valioso recurso no processo ensino/aprendizagem, visto que ele possibilita uma singular expressividade no mundo, permitindo que o aluno se sinta participante do processo educativo e consequentemente um ser social ativo. O papel do professor é essencial para mediar e fornecer propostas educativas capazes de promover o desenvolvimento das crianças nos aspectos cognitivo, social, emocional e afetivo. Alimentar e cultivar o percurso criador de seus alunos exige que o professor compreenda a evolução desenhista da criança, valorize sua importânciae seja capaz de propor desafios e atividades significativas, entendendo que o processo ensino/aprendizagem acontece de forma contínua. Para possibilitar esse acompanhamento e avaliação do progresso dos alunos, o registro e arquivamento dos trabalhos são fundamentais, constituindo-se em dados que permitam não só ao professor, mas aos próprios alunos e familiares observarem e verificarem os avanços obtidos no percurso criador. PALAVRAS-CHAVE: desenho infantil, percurso criador, processo ensino/aprendizagem ix ABSTRACT Children's drawing, besides being a form of expression and communication, is a playful activity that favors the child's development. Along with its development walks its designer trajectory. This creative path is marked by the acquisition of new skills and competences that allow the child to understand the world and re-signify it. It is therefore necessary that children's drawing be perceived by the school and family as a valuable resource in the teaching / learning process, as it enables a unique expression in the world, allowing the student to feel participant in the educational process and consequently a social being. active. The teacher's role is essential to mediate and provide educational proposals capable of promoting children's development in cognitive, social, emotional and affective aspects. Feeding and cultivating the creative path of their students requires the teacher to understand the child's drawing evolution, value its importance and be able to propose significant challenges and activities, understanding that the teaching / learning process happens continuously. To enable this monitoring and evaluation of student progress, the recording and archiving of works are essential, constituting data that allow not only the teacher, but also the students and their families to observe and verify the advances made in the creative path. Key words: Children's drawing, creative path, creative path 10 1. INTRODUÇÃO O desenho é uma linguagem muito antiga, presente no desenvolvimento humano desde a pré-história, onde os homens utilizavam dos desenhos em paredes para se expressar ou comunicar algo, tornando possível, através da interpretação dessas gravuras, compreender como era seu modo de vida. A partir daí, os desenhos foram se aperfeiçoando e assumindo diferentes papéis sociais, contribuindo inclusive para o desenvolvimento da linguagem e da escrita. Assim como o desenho dos povos primitivos tornou-se uma forma de expressão para aquele povo, o mesmo ocorre para as crianças. O desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças significativas que, no início, dizem respeito à passagem dos rabiscos iniciais da garatuja para construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os primeiros símbolos. (RCNEI, 1998, p. 92) A criança, muitas vezes, expressa sua percepção sobre as coisas através dos traços ou desenhos, mesmo que seja apenas interpretado por ela mesma. É por meio do desenho que a criança ressignifica o mundo de modo muito particular e, por ser uma fase onde o lúdico é muito presente e significativo, o desenhar torna-se fundamental para o desenvolvimento da criança, permitindo que ela expresse sua forma de ver o mundo. Além de nos revelar muito sobre a criança, o desenho a estimula no processo de descoberta e aprendizagem, sendo fundamental para o aprimoramento da coordenação motora, construção da noção de espaço, organização do pensamento, dentre tantos outros aspectos cognitivos e expressivos. Visto que se faz necessário um olhar atento às produções das crianças, observou-se durante o período de estágio o não aproveitamento do caderno de desenho na Educação Infantil. Levando em conta que em muitas escolas as crianças recebem este material gratuitamente e pensando acerca da realidade educacional do nosso país, ponderou-se sobre não abrir mão de nenhum recurso ao qual a criança tenha acesso. Surgiu então a ideia de propor uma melhor utilização para este material. 11 Dessa forma, buscou-se pensar em alternativas para utilizá-lo da melhor forma possível, aproveitando ao máximo as possibilidades de trabalho que este suporte oferece a fim de favorecer o planejamento de intervenções que atinjam não só avanços, mas que promovam a valorização dos trabalhos das crianças e avaliação contínua. Assim, o caderno de desenho pode ser utilizado como um portfólio do percurso criador do aluno, possibilitando que o professor resgate a qualquer momento do processo, as atividades realizadas, permitindo que identifique sua evolução pois, segundo o RCNEI (1998, p. 101): " Guardar, organizar a sala e documentar as produções são ações que podem ajudar cada criança na percepção de seu processo evolutivo e do desenrolar das etapas de trabalho". Portanto, com base nos estudos de Piaget, Luquet e Lowenfeld e amparados também pela abordagem de Rosa Iavelberg , o objetivo deste trabalho é propor o uso do caderno de desenho como uma importante ferramenta de observação ao professor do desenvolvimento do criativo e cognitivo do aluno e como apoio ao planejamento do seu trabalho na realização de interferências coerentes e significativas, que venham a instigar novas aprendizagens. 12 2. O DESENHO 2.1 - O desenho na história A história do desenho inicia junto à história do homem. Os primitivos desenhavam nas paredes das cavernas, as chamadas pinturas rupestres, como forma de retratar algum acontecimento, sendo portando a gravura sua primeira forma de comunicação e expressão, o que possibilitou mais tarde o desenvolvimento da linguagem oral e escrita. O desenho esteve presente em todos os momentos e épocas históricas, sendo que em algumas delas com valor inestimável, quase sagrado, como no Egito Antigo, onde haviam registros em templos e tumbas, através do qual era permitido compreender o cotidiano daquele povo, como a sociedade era dividida, sua cultura e até mesmo suas crenças religiosas, inclusive como acreditavam ser a vida após a morte. Podemos perceber a importância quase sagrada do desenho para essa civilização, quando por alguma circunstância, após a morte, a pessoa tinha as inscrições de sua tumba apagadas, fato este que era visto como uma grave punição. No período clássico da história antiga, os gregos usavam os desenhos para representarem seus deuses e criaturas mitológicas. Da mesma forma, os romanos também faziam uso das imagens a fim de representar seus deuses. Já na Mesopotâmia, o desenho era usado para registrar as rotas comerciais, dando origem ao que mais tarde ficou conhecido como representação cartográfica. Foi no período do Renascimento que o desenho ganhou novos contornos, adquirindo perspectivas, passando assim a se tornar mais realístico, retratando com fidelidade o ambiente e os cenários ao seu redor. Com um maior conhecimento da anatomia humana, também desenvolvida naquela época, os desenhos de pessoas também tornaram-se mais ricos e fidedignos, já que passaram a utilizar luz e sombra, cores e proporções nas imagens. Posteriormente, no período da Revolução Industrial, surge uma categoria de desenho direcionada à concepção de máquinas e instrumentos, o que ficou conhecido como desenho industrial. 13 Já no final do século XIX, surge a revista em quadrinhos, uma modalidade nova que atraiu a atenção de muitos. Após a Primeira Guerra Mundial ganham popularidade as charges e caricaturas que passam a fazer parte dos jornais da época. Nos dias de hoje, os desenhos estão mais presentes do que nunca em nossas vidas, nas mais diversas modalidades: caricaturas, charges, grafite, animes, cartuns, mangás entre tantas outras. Com técnicas que evoluem a cada dia é possível que se criem cadavez mais novos estilos de desenho, capaz de agradar qualquer tipo de público. 2.2 - O desenho infantil A percepção do desenho infantil só foi possível após a mudança na forma de se ver a própria infância, já apontada por Jean Jacques Rousseau no século XVIII, onde concebeu a criança como sendo diferente do adulto. Mas, somente no final do século XIX surgem os primeiros estudos acerca do desenho infantil e de sua originalidade. De acordo com Mèredieu (2017, p. 16): “A descoberta de leis próprias da psique infantil, a demonstração da originalidade de seu desenvolvimento, levaram a admitir a especificação desse universo.” Ninguém nasce sabendo desenhar, esta é uma linguagem que se conquista aos poucos, ao longo de toda a infância. No decorrer do processo do aprimoramento do desenho existem diversos fatores que podem influenciar a forma de cada um desenhar, entre eles o meio em que vive, suas possibilidades, a cultura do seu grupo entre tantos outros aspectos particulares da vida de cada um. De acordo com Luquet (1969, p. 23): “O repertório gráfico da criança, assim como a sua experiência visual, está condicionado pelo meio onde ela vive.” Ainda no que diz respeito às influências no processo de desenvolvimento do desenho, afirma: Mas, mesmo tendo em conta as suas singularidades, pode considerar-se regra geral a criança representar nos seus desenhos tudo o que faz parte da sua experiência, tudo o que está aberto à sua percepção. Mesmo as diferenças de interesse por tal ou tal categoria de objetos são determinadas não só pelos gostos pessoais do desenhador, mas também pelas condições da sua experiência, e variam com elas. (LUQUET, 1969, p. 22) 14 Entretanto, apesar de tudo isso, os pesquisadores do desenho infantil perceberam que independente de qualquer cenário existem características comuns que permitem que se pensem em fases universais no desenvolvimento do desenho. Dividiremos mais à frente o desenvolvimento do desenho em fases, mesclando importantes autores, mas vale ressaltar que as fases não são estanques, nem desconectadas umas das outras, essa divisão é utilizada apenas para facilitar a compreensão do processo de evolução do desenho. Junto a isso, também analisaremos as fases do desenvolvimento cognitivo propostas por Piaget, que nos permitirão entender o desenvolvimento do desenho paralelamente ao desenvolvimento da inteligência e a forma dele se relacionar com o mundo. 2.3 - O desenho na escola de Educação Infantil Ainda hoje percebe-se que o desenho, como linguagem expressiva da criança, é pouco valorizada na Educação Infantil, havendo uma preocupação maior em prepara-la para o ingresso no Ensino Fundamental. O ato de desenhar é uma linguagem extremamente importante e significativa na vida infantil, porém, muitos ainda veem o desenho apenas como um meio para determinados fins. Diversas vezes, observa-se a utilização do desenho apenas como meio de aprimorar a coordenação motora fina da criança, relegando o fazer artístico ao segundo plano. O desenho da criança merece ser estudado. Situá-lo na história da educação, além de compreendê-lo por intermédio de autores e pesquisadores que o analisaram, pode colaborar na formação dos professores, psicólogos, arte-educadores, psico-pedagogos, entre outros profissionais que lidam com desenho. Sem contar os pais, que também querem compreender melhor o que acontece quando seus filhos desenham. (IAVELBERG, 2008, p. 11) O desenvolvimento gráfico, vivido pelas crianças de 4, 5, 6 anos (período da Educação Infantil) é considerada a fase de ouro do desenho, pois, para representar situações e objetos é capaz de criar soluções muito criativas, que seguem uma lógica própria, sempre carregadas de muita imaginação. 15 Porém, percebe-se que na prática, predominam as atividades sendo realizadas com finalidade em si mesma, priorizando o produto final em detrimento do processo de produção do desenho. É fundamental que haja elaboração de propostas que priorizem o processo de criação. O desenho natural, decorativo, geométrico e pedagógico, este último usado para ilustrar aulas, compunha o programa de desenho da escola tradicional. Numa didática afeita ao treino de habilidade e aprendizagem por cópia de modelos, com passos de dificuldade progressiva orientada pela lógica adulta, não se consideram as diferenças individuais. (IAVELBERG, 2008, p. 14) Essas abordagens não colaboram para que o aluno se reconheça como sujeito pertencente e ativo no processo de aquisição de conhecimento, apenas coloca a criança na posição de sujeito passivo, remetendo a uma concepção de escola tradicional. É assim que, por meio do desenho, a criança cria e recria individualmente formas expressivas, integrando percepção, imaginação, reflexão e sensibilidade, que podem então ser apropriadas pelas leituras simbólicas de outras crianças e adultos. (RCNEI, 1998, p. 93) Como visto, no cotidiano da Educação Infantil é ainda comum enxergar o desenho como atividade secundária, não raras vezes, sendo utilizados para passar o tempo, como forma de acalmar os alunos. Nesses momentos não há uma intenção em ampliar, explorar e instigar o processo criador da criança. Desse modo, não cabe mais no espaço escolar tal abordagem do desenho infantil. Na escola renovada o desenho é compreendido como atividade expressiva, livre e natural da infância, com centro no indivíduo, na exploração livre de materiais e técnicas (com foco no processo, e não no produto) e no desenvolvimento do potencial criador. (IAVELBERG, 2008, p. 15) Se o professor compreender toda a trajetória evolutiva do desenho infantil, será capaz de perceber toda a beleza e riqueza presente nos desenhos de seus alunos e a partir daí adquirir ferramentas para dialogar com eles e por que não, a partir disso, desenvolverem juntos propostas de atividades significativas, onde 16 caminharão juntos em favor do percurso criador da criança, uma vez que, segundo o RCNEI (1998, p.91): "O percurso individual da criança pode ser significativamente enriquecido pela ação educativa; porém a criação artística é um ato exclusivo da criança". O professor deve se tornar um apreciador do desenho infantil e o primeiro passo é a aproximação dos alunos. Ao observarmos os traços dos alunos com atenção é possível enxergar certas particularidades das crianças, podendo ser visto como um reflexo dela ou mesmo uma fonte documental. Através de seus traçados e rabiscos, a criança representa a imagem que tem de si, dos outros e do mundo a sua volta. Portanto, conhecendo mais do universo do desenho das crianças, o professor conhecerá mais de seu aluno. 17 3. AS FASES DO DESENHO Neste capítulo veremos os principais conceitos que embasam o estudo do desenho infantil, de acordo com a visão teórica de George Henry Luquet, Viktor Lowenfeld e Jean William Fritz Piaget. Também destacaremos a visão atual que se tem do desenho infantil, levando em conta o contexto cultural, amparados pelos estudos de Rosa Iavelberg. 3.1 Visão teórica de Luquet Georges-Henri Luquet foi um dos pioneiros na análise do desenho infantil e sua pesquisa permitiu uma nova forma de se ver e analisar as produções gráficas das crianças, proporcionando uma melhor compreensão dessa fase, no que se refere à evolução cognitiva. Em seus estudos percebeu que os desenhos sofrem mudanças significativas de acordo com seu estágio de desenvolvimento em que a criança se encontra. Segundo Luquet (1969, p. 135): “O desenho infantil não mantem as mesmas características do princípio ao fim. Portanto, convém fazer sobressair o caráter distintivo das suas fases.” Luquet classificou os desenhos em quatro etapas. 3.1.1 Realismo Fortuito A primeira etapa se iniciapor volta dos dois anos e está dividida em duas fases: desenho involuntário e voluntário. No desenho involuntário a criança rabisca o papel sem ter uma intenção definida do que vai desenhar, faz somente pelo prazer do movimento e do que observa no papel. 18 Esta obra involuntária poderia parecer a um adulto insignificante e sem qualquer interesse; mas para a criança é um produto da sua atividade, uma manifestação da sua personalidade, uma criação. (LUQUET, 1969, p. 136) No desenho voluntário a criança continua a desenhar sem intencionalidade, porém, enxerga no seu desenho semelhanças com objetos já conhecidos por ela. Figura 1- Desenho involuntário Fonte: rodadeinfancia.blogspot.com - /2013 Figura 2- Desenho voluntário Fonte: rodadeinfancia.blogspot.com - 2013 19 3.1.2 Realismo Fracassado Nesta segunda etapa, cujo início se dá por volta dos quatro anos, a criança já tem uma intencionalidade no desenho e tenta desenhar de forma mais próxima à realidade, mas ainda encontra certa dificuldade. Muitas vezes desenha vários objetos, porém desconectados um do outro. Também é comum nessa fase exagerar ou omitir partes. Sobre essa etapa o autor diz que, uma vez chegada ao desenho propriamente dito, a criança quer ser realista. Mas a intenção choca ao princípio com obstáculos que dificultam a sua manifestação. O desenho quer ser realista mas não chega a sê-lo. (LUQUET, 1969, p. 147) 3.1.3 Realismo Intelectual Nesta terceira etapa a criança usa seu conhecimento para desenhar não somente o que vê, mas o que sabe. Os desenhos já tem delimitações horizontais, transparência e profundidade. Figura 3 - Realismo fracassado Fonte: rodadeinfancia.blogspot.com - 2013 20 3.1.4 Realismo Visual Nesta quarta e última etapa, a criança tenta representar o objeto como de fato é. Nessa fase a criança dá mais ênfase à realidade em detrimento da imaginação. A criança está então, no que diz respeito ao desenho, próxima do período adulto; só a habilidade técnica desenvolvida por uma cultura especial estabelece, nesse ponto de vista, diferenças entre os indivíduos, e muitos adultos não serão capazes em toda a sua vida de desenhar sensivelmente melhor que crianças de 10 ou 12 anos. (LUQUET, 1969, p. 212) Figura 4 - Realismo intelectual Fonte: pedagogiadaartefeevale.wordpress.com - 2016 Figura 5 - Realismo visual Fonte: pedagogiadaartefeevale.wordpress.com - 2016 21 3.2 Visão teórica de Lowenfeld Viktor Lowenfeld definiu o desenho infantil em quatro estágios, objetivando compreender melhor como se dá o desenvolvimento da criança. Vale ressaltar que a transição de uma etapa para outra não é facilmente percebida. 3.2.1 Estágio das Garatujas A primeira é o Estágio das Garatujas, onde a criança rabisca de forma não intencional e desordenada (garatuja desordenada). Aos poucos vai ganhando percepção de seus movimentos e controlando-os (garatuja ordenada) e mais tarde verbaliza e nomeia seus desenhos (garatuja nomeada). Esta fase ocorre do 1 aos 4 anos. 3.2.2 Estágio Pré Esquemático A segunda fase é o Estágio Pré-Esquemático, que vai dos 4 aos 7 anos aproximadamente. Neste estágio a criança já faz relação entre o que vai desenhar e a realidade, ou seja, tenta fazer um desenho mais realista, porém, ainda de maneira desproporcional e desordenada. Figura 6 - Figuração de Garatuja Fonte: rodadeinfancia.blogspot.com - 2013 22 3.2.3 Estágio Esquemático A terceira etapa Lowenfeld denominou de Estágio Esquemático, que geralmente vai dos 7 aos 9 anos. Nesta fase os desenhos já são mais organizados e representativos. Já se percebe a noção de espaço e observa-se que os personagens são desenhados na parte inferior do papel, representando como se estivessem no chão. Também é possível identificar a transparência nos desenhos. Figura 7 - Figuração pré esquemática Fonte: rodadeinfancia.blogspot.com - 2013 Figura 8 - Figuração Esquemática Fonte: rodadeinfancia.blogspot.com - 2013 23 3.2.4 Estágio do Realismo A quarta e última fase é o Estágio do Realismo, abrangendo dos 9 aos 12 anos aproximadamente. Embora ainda carregada de simbologia, já há maior representação do real, Observa-se que o desenho deixa de ser espontâneo e se torna mais condicionado ao senso crítico. 3.3 Visão teórica de Piaget Jean William Fritz Piaget, um dos estudiosos mais influentes na área da educação, foi um biólogo que se dedicou à observação científica acerca do processo de aquisição do conhecimento, sobretudo das crianças, criando um campo denominado de epistemologia genética. Em seu livro “A formação do símbolo na criança”, Piaget analisa o universo infantil através das imagens e do pensamento da criança. Para ele o desenho é um jogo, pelo qual se percebe em que fase do desenvolvimento cognitivo a criança se encontra. Abordaremos aqui as fases do desenvolvimento gráfico das crianças propostas por Piaget, que são divididas por ele em cinco fases. 3.3.1 - Garatuja Figura 9 - Figuração Realista Fonte : metamorfoseexpressiva.wordpress.com - 2016 https://metamorfoseexpressiva.wordpress.com/ 24 Segundo Piaget, esta fase se divide em desordenada e ordenada e tem início por volta dos 2 anos, fase esta que corresponde a fase Sensória Motor e parte da fase Pré-Operatória. Pode-se dizer que nesta fase a criança usa o corpo para se relacionar e descobrir o mundo. Como nessa fase a criança usa a imitação como forma de aprendizagem, além de imitar sons e gestos, ela também imita a ação de riscar o papel. Nesse estágio, que corresponde as garatujas, a imitação logo dá lugar ao prazer de desenhar, visto que ela se sente satisfeita ao ver as marcas que deixa no papel. 3.3.2 - Pré-Esquematismo Esta etapa ocorre por volta dos 3 aos 7 anos, que corresponde a fase Pré- Operatória, a criança começa a representar a figura humana de acordo com as percepções que tem do próprio corpo. Nessa fase, marcada pelo faz de conta, a criança brinca com seu desenho e não há cores certas para pintar, um homem pode ser azul, o sol roxo e a árvore vermelha. A criança desenha para se divertir. O desenho é para ela um jogo como quaisquer outros e que se intercala entre eles... Convém notar que é um jogo tranquilo que não exige companheiro e ao qual se pode dedicar em casa tão comodamente como ao ar livre. (LUQUET, 1969, p. 15) Figura 10 - Garatuja Fonte:luzpedagogica.blogspot.com - 2018 25 3.3.3 - Esquematismo Neste terceiro estágio, que se inicia por volta dos 7 anos, está relacionado a fase das Operações Concretas, onde já há esquemas representativos e o espaço já possui uma definição, inicialmente com a linha de base e mais tarde com o plano e superposição. Já há conceitos acerca da figura humana, porém com a presença de exageros e omissões. Ocorre a relação entre cor e objeto e os desenhos podem apresentar transparência e rebatimento. Figura 11 - Pré esquema Fonte: rodadeinfancia.blogspot.com - 2013 Figura 12 - Esquematismo Fonte:luzpedagogica.blogspot.com - 2018 26 3.3.4 - Realismo No quarto estágio, que corresponde ao final da fase das Operações Concretas, as crianças utilizam as formas geométricas, rigidez e formalidade nos traços. Surge neste período a utilização do plano, que é a colocação dos objetos de acordo com sua visão, assim como évista na realidade. Ao final desse estágio, a criança e estabelece em seus desenhos a distinção de sexo, utilizando roupas para diferenciá-los. 3.3.5 - Pseudo Naturalismo Esta etapa ocorre na fase das Operações Abstratas e se inicia dos 10 anos em diante. Nesse período o desenho perde a espontaneidade e surgem tendências realistas e subjetivas. Essa etapa apresenta maior riqueza nos detalhes e há a investigação da personalidade, apresentando objetividade, subjetividade e profundidade. Figura 13 - Realismo Fonte:luzpedagogica.blogspot.com - 2018 27 3.4 O meio cultural como fator contribuinte no processo de desenvolvimento gráfico Os estudos realizados pelos autores citados anteriormente são valiosos para se compreender como se dá o desenvolvimento do desenho da criança, porém, não levam em consideração os fatores externos. Contrapondo, porém sem desconsiderar os estudos dos autores anteriormente citados, há pesquisadores contemporâneos, como Rosa Iavelberg, que incorporam em seus estudos a influência que o processo histórico e cultural exercem sobre os desenhos das crianças. Hoje sabemos que não se pode generalizar aquilo que se passa nos desenhos infantis em termos de fases. As variáveis culturais geram modos de pensar o desenho, as quais transcendem um único sistema explicativo que dê conta da produção de todas as crianças. (IAVELBERG, 2008, p. 28) A autora defende que a criança tenha contato com diferentes trabalhos artísticos, como forma de enriquecer seu repertório desenhista e promover o desenvolvimento do seu percurso criador. Figura 14 - Pseudo naturalismo Fonte:luzpedagogica.blogspot.com - 2018 28 Diferentemente de Lowenfel que concebe a auto-expressão completamente livre das ideias e influências dos outros, considerando a imitação como submissão, a autora destaca a cópia como possibilidade de assimilação de novos conceitos. As pesquisas psicogenéticas demonstram que na ação assimilativa através da imitação, os erros e as deformações realizados pela criança na cópia de modelos estão ligados às possibilidades de assimilação do sujeito e por isso são denominados erros construtivos[...] (IAVELBERG,2008, p. 42) Deve haver um empenho em ofertar às crianças um vasto repertório de possibilidades para se trabalhar o desenho. A sensibilidade do professor em perceber os interesses e habilidades de cada aluno é essencial para organizar os grupos de desenhistas. Estes são elementos fundamentais para o sucesso dessa abordagem interacionista, promovendo a aprendizagem compartilhada. Alguns fatores poderão ser obstáculos para esse método de desenvolvimento gráfico. O desafio aqui é não permitir que aconteça a comparação, de forma que um aluno se sinta menos capaz que outro. Um dos fatores que mais prejudica a trajetória criativa é a cobrança de critérios estéticos que permite que a criança julgue o seu desenho como ruim. Cabe sempre ressaltar que o desenho de uma criança não tem a obrigatoriedade de parecer com o objeto desenhado, mas sim representar a percepção que a criança tem em relação ao objeto. 29 4. O CADERNO DE DESENHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 4.1 Relevância do caderno Como já vimos, o desenhar para a criança pequena, em idade correspondente à Educação Infantil, é explorar, imaginar, representar, comunicar e se expressar. Porém, com o início da vida escolar, percebe-se uma gradativa diminuição na produção dos desenhos, visto que com a progressiva aquisição da escrita elas tornam-se concorrentes. A criança acaba deixando de lado o desenho (sua forma particular de expressão) para seguir um padrão que é imposto a ela. Portanto, a fase da Educação Infantil se faz especialmente importante no que diz respeito a incentivar a capacidade expressiva da criança, tornando o professor um agente incentivador do processo expressivo quanto um mediador do percurso criador do aluno. Como sabemos, o desenho é uma linguagem que se conquista aos poucos, cuja trajetória evolui, porém nunca se finda. Para visualizar este percurso criador do aluno, deve-se estar atento e observar a sutil, mas progressiva ampliação de seu repertório imaginário e gráfico. Alimentar a trajetória criativa, propondo desafios que enriqueçam este repertório é papel essencial do professor. Sabendo que o percurso nunca termina, conhecer e compreender como se dá o processo de desenvolvimento do desenho infantil é fundamental ao educador, sobretudo na Educação Infantil. Para contribuir com o progresso gráfico de seus alunos o professor deve ter um olhar atento e regular em relação às produções das crianças, a fim de planejar ações e intervenções que promovam avanços e que valorizem as produções dos pequenos. Se o educador souber compreender toda a trajetória do processo criador de seu aluno, certamente terá maior sucesso na mediação dessa conquista da criança. Para que isso ocorra, é fundamental o uso de ferramentas que permitam um registro e que possibilitem o acompanhamento e avaliação dos ganhos e conquistas de seus alunos, no que se refere às produções gráficas. Nesse sentido, o caderno de desenho surge como uma importante ferramenta de observação ao professor do desenvolvimento criativo e cognitivo do aluno e como apoio ao planejamento do seu trabalho na realização de 30 interferências coerentes e significativas, que venham a instigar novas aprendizagens. Assim, o caderno de desenho pode ser utilizado como um portfólio do percurso criador do aluno, possibilitando que o professor resgate a qualquer momento do processo, as atividades realizadas, além de permitir que as próprias crianças acompanhem sua evolução. Esse registro oportuniza ao aluno avaliar sua própria aprendizagem, fazendo reflexões acerca de seus registros e, dessa forma, configurando um processo de metacognição. 4.2 Frequência de uso Sabemos que a frequência da produção de desenhos é fator importante para o sucesso do aluno no processo de desenvolvimento de sua trajetória criativa. Essa regularidade é fundamental para a melhora da destreza e da flexibilidade, tão importantes no ato de desenhar. Isso exige a organização, dedicação, incentivo e orientação do professor, nunca esquecendo que o aluno precisa enxergar o valor, significado e relevância do conteúdo que aprende, para que enfim se aproprie dele. Ter oportunidade para realizar muitos desenhos pode favorecer progressos, pois a criança observa seus procedimentos e resultados, além de aprender com os próprios trabalhos. Ela encontra soluções a partir das tentativas que faz e pode se surpreender com os próprios resultados. (IAVELBERG, 2008, p. 74) Atentar-se para essa concepção de construção de conhecimento nos remete a importância do processo de avaliação, cabendo aqui destacar outro tipo de ação que se faz pertinente, o registro de datas nas produções gráficas dos alunos. No que concerne ao acompanhamento do percurso individual dos alunos, a datação dos desenhos permite que o professor possa resgatar a qualquer momento as produções dos alunos e verificar seus avanços e ganhos. Esta prática garante que se observe as idas e vindas da trajetória de cada criança, permitindo, tanto ao professor quanto ao aluno, que se visualize cada etapa do percurso criador de cada criança. 31 4.3 O desenho cultivado O desenho cultivado é uma visão contemporânea da produção das crianças, que inclui em seu desenvolvimento artístico as imagens que elas observam, dentro e fora da sala de aula, ou seja, leva em consideração o aspecto social e interacional, estabelecendo a criança como sujeito central do processo criativo, capaz de reproduzir o mundo com marca própria. O desenho cultivado é um conceito por meio doqual é possível ver que desde cedo a criança observa e imita atos e formas de desenhos realizados em sua presença, incorporando-os em seu repertório por intermédio de assimilação recriadora. (IAVELBERG, 2008, p. 44) Sob a perspectiva atual de educação e nos apoiando nos estudos e descobertas dos autores aqui citados, não podemos agir passivamente, apenas observando o amadurecimento das crianças no curso de suas produções artísticas. Cabe aos educadores a responsabilidade de oportunizar situações reais de aprendizagem, estimulando, desafiando e oferecendo ferramentas para que os alunos avancem em seus conhecimentos e habilidades. O questionamento da livre expressão e da ideia de que a aprendizagem artística era uma consequência automática dos processos de desenvolvimento resultaram em um movimento, em vários países, pela mudança nos rumos do ensino de arte. Surge a constatação de que o desenvolvimento artístico é resultado de formas complexas de aprendizagem e, portanto, não ocorre automaticamente à medida que a criança cresce. (RCNEI, 1998, p. 88) Partindo sempre dos conhecimentos prévios das crianças, o professor deve sempre planejar cuidadosamente as propostas de atividades, contemplando os saberes de cada um e possibilitando a cooperação entre os alunos, para que juntos, compartilhem e construam novos saberes. O desenho deve fazer parte do dia a dia escolar, proporcionando a apreciação dos desenhos de todos os colegas da classe ou de obras de artistas, propiciando a produção, apreciação e reflexão. Há diversas propostas que podem e devem ser trabalhadas com os alunos, abordando novos questionamentos e desafios que possibilitem que a trajetória criativa da criança seja alimentada. 32 Conviver com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da instituição escolar, possibilita às crianças, por meio de experiências diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais [...] Essas experiências contribuem para que, desde muito pequenas, as crianças desenvolvam senso estético e crítico, o conhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. Portanto, a Educação Infantil precisa promover a participação das crianças em tempos e espaços para a produção, manifestação e apreciação artística, de modo a favorecer o desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade e da expressão pessoal das crianças, permitindo que se apropriem e reconfigurem, permanentemente, a cultura e potencializem suas singularidades, ao ampliar repertórios e interpretar suas experiências e vivências artísticas. (BNCC, 2017, p. 41) Abordaremos algumas possibilidades de trabalhar os desenhos, de forma a subsidiar o fazer artístico da criança através de propostas pertinentes e significativas. 4.3.1 Desenho livre Nesta proposta o professor não deve intervir, objetivando que o aluno utilize o momento para criar a partir de seu próprio repertório. Essa modalidade permite que a criança exteriorize toda sua imaginação e criatividade, sendo a espontaneidade a principal característica de sua produção. Muitas vezes, tamanha liberdade que esta abordagem oferece, a criança tem receio de não agradar e fica insegura. Neste momento, cabe ao professor ser o incentivador do aluno, porém, sem forçá-lo caso não se sinta seguro. Figura 15 - Desenho livre Fonte: culturainfantilearte.blogspot.com - 2013 33 4.3.2 Desenho de apreciação A proposta é que seja oferecido ao aluno a apreciação de livros infantis (ilustrações), obras de diversos artistas ou desenhos da própria turma. A ideia é ampliar o repertório gráfico, conhecer as variedades de produções artísticas e ampliar seu conhecimento de mundo. Através dessa atividade o aluno percebe que há mais de uma forma de se representar determinado objeto. Apreciar o desenho de colegas e artistas amplia o repertório desenhista da criança e oferece diversas possibilidades para resolver as situações em um desenho. Ler desenhos de vários momentos da história ajuda o aluno a perceber as mudanças gráficas que ocorreram com o tempo e revelam o estilo e a época de quem os produziu. No que diz respeito às leituras de imagens, deve-se eleger materiais que contemplem a maior diversidade possível e que sejam significativos para as crianças. É aconselhável que, por meio da apreciação, as crianças reconheçam e estabeleçam relações com o seu universo, podendo conter pessoas, animais, objetos específicos às culturas regionais, cenas familiares, cores, formas, linhas etc. Entretanto, imagens abstratas ou renascentistas, por exemplo, também podem ser mostradas para as crianças. Nesses casos, há que se observar o sentido narrativo que elas atribuem a essas imagens e considerá-lo como parte do processo de construção da leitura de imagens. (RCNEI, 1998, p. 103) Figura 16 - Desenho de apreciação Fonte: culturainfantilearte.blogspot.com - 2013 34 4.3.3 Desenho com interferência Essa proposta visa subsidiar as produções. A interferência pode ser a partir de um pedaço de papel colado, um traço, uma linha, forma geométrica etc. Ao planejar as interferências o professor deve considerar o conhecimento de cada aluno da sala, compreender os percursos individuais e propor desafios que possam estimular a solução do desafio proposto, visto que as interferências são estímulos que visam oferecer aos alunos a expansão de suas possibilidades artísticas. As interferências, se bem elaboradas pelo professor, são capazes de dar novo rumo ao percurso criador dos alunos. Essa proposta permite que as crianças enxerguem novas possibilidades e utilizem suas habilidades e todo seu repertório criativo diante da interferência proposta pelo professor. 4.3.4 Desenho temático Aqui o professor indica um tema qualquer, como personagens de desenhos, brincadeira, autorretrato, animais, família etc. Os temas e as intervenções podem ser um recurso interessante desde que sejam observados seus objetivos e função no desenvolvimento do percurso de criação pessoal da criança. É preciso, no entanto, ter atenção quanto a programação de Figura 17 - Desenho com interferência Fonte: culturainfantilearte.blogspot.com - 2013 35 atividades para as crianças para se favorecer também aquelas originárias das suas próprias ideias ou geradas pelo contato com os mais diversos materiais. (RCNEI, 1998, p. 101) 4.3.5 Desenho gêmeo A ideia é copiar o desenho de um colega ou o próprio desenho. [...] partindo das produções já feitas pelas crianças, sugerir-lhes, por exemplo, que copiem seus próprios desenhos em escala maior ou menor. Esse tipo de atividade possibilita que a criança reflita sobre seu próprio desenho e organize de maneira diferente os pontos, as linhas e os traçados no espaço do papel. (RCNEI, 1998, p. 100) Figura 18 - Desenho temático Fonte: amenteemaravilhosa.com.br - 2018 Figura 19 - Desenho gêmeo Fonte:educadores.diaadia.pr.gov.br - 2010 36 Ao observar um parceiro de sala desenhando formas que ainda não domina, a criança tem nele um mediador de procedimentos e dicas e, assim sendo, pode a ele recorrer para alcançar faturas desejadas. (IAVELBERG, R.; MENEZES, F. C., 2012, p. 664) Claro que para que isso ocorra de maneira significativa, deve haver a intencionalidade do professor de organizar momentos propícios e muito bem organizados para a realização da proposta. 4.3.6 Desenho de imaginação A proposta é que a criança crie algo novo ou que tenha sua criação estimulada. Por exemplo, a criança pode ser convidada a colocar a mão dentro de uma caixa para, através do tato, descobrir o objeto que está lá. Então, deve fazer umdesenho do objeto que acredita estar na caixa e após terminado, conferir se acertou. O professor também pode sugerir uma situação para que os alunos a imaginem e desenhem. O desenho de imaginação pode ser proposto pelo professor para que o aluno se exercite como desenhista e como criador de imagens. O professor pode fazê-lo através de temas sugeridos pelos estudantes como: meu quarto depois do jogo do Brasil, minha cidade, meus amigos, dentro do túnel. (IAVELBERG, 2008, p. 75) Figura 20 - Desenho de imaginação Fonte: culturainfantilearte.blogspot.com - 2013 37 4.3.7 Desenho de observação Essa modalidade de desenho permite que o aluno olhe e desenhe o objeto ao mesmo tempo. Não se trata de uma cópia, mas de proporcionar um momento para que o aluno se atente aos detalhes, olhando com mais calma e atenção o objeto em questão. O desenho de observação a partir de outros desenhos e do mundo físico, é realizado na presença do modelo a ser reproduzido pelo aluno. É bom lembrar que essas tarefas são realizadas dentro das possibilidades do aluno e denotam seu estilo, ou seja, o aluno pode representar o modelo segundo seus esquemas desenhistas. Não é possível esperar que um aluno desenhe como um adulto desenvolvido ou represente a réplica de desenhos de artistas. Tais propostas servem para expandir seu repertório, incorporar regularidades, desenvolver habilidades, e tem como finalidade aprimorar o percurso criador do aluno enquanto desenhista, ao propor suas poéticas. (IAVELBERG, 2008, p. 75) Quanto maior for a variedade de modelos oferecidos pelo professor, mais enriquecedor será o repertório gráfico e o conhecimento de mundo das crianças. É interessante propor às crianças que façam desenhos a partir da observação das mais diversas situações, cenas pessoas e objetos. O professor pode pedir que observem e desenhem a partir do que viram. Por exemplo, as crianças podem perceber as formas arredondadas dos calcanhares, distinguir os diferentes tamanhos dos dedos, das unhas, observar a sola do pé e a parte superior dele, bem como as características que diferenciam os pés de cada um. (RCNEI, 1998, p. 101) Figura 21 - Desenho de observação Fonte: escoladavila.com.br - 2013 38 4.3.8 Desenho de memória A criança é convidada a lembrar de alguma situação e registrar as imagens que estão em sua mente. Esta proposta se baseia em lembranças de determinados lugares e acontecimentos que ficaram registrados em sua memória. O desenho de memória é realizado a partir de memória visual de determinadas situações, locais, objetos do cotidiano ou artísticos. Serve para ativar os recursos desenhistas e a memória visual, que tem presença importante na construção do desenho. O professor pode propor desenho de memória por meio de temas como: o lugar onde eu moro, as coisas da minha casa, minha roupa de dormir, um bicho de que gosto muito. Observar longamente um objeto ou imagem e depois retirá-lo para ser desenhado é um excelente exercício de memória visual. (IAVELBERG, 2008, p. 76) 4.3.9 Desenho ditado A ideia é que o professor vá ditando aos alunos o que desenhar e onde desenhar. Exemplo: Desenhe uma casa no meio da folha. Agora, do lado direito um carro. Do lado esquerdo uma árvore. Em cima da casa um passarinho. Outra possibilidade é o professor narrar uma história, e a medida que conta as crianças desenham o que ouvem, ou seja, a história e o desenho acontecem concomitantemente. Vale destacar a importância de se narrar a história pausadamente para que as crianças possam acompanhá-la. Figura 22 - Desenho de memória Fonte : novaescola.org.br - 2009: 39 4.4 Registro e avaliação O registro dos trabalhos desenvolvidos pelas crianças é fundamental no processo educativo. Sabendo-se que a avaliação deve ocorrer sempre de forma contínua, o arquivamento dos trabalhos permite, não só ao professor, mas as próprias crianças que acompanhem suas conquistas e avanços no decorrer do processo. De acordo com o RCNEI (1998, p.112): A avaliação deve buscar entender o processo de cada criança, a significação que cada trabalho comporta, afastando julgamentos, como feio ou bonito, certo ou errado, que utilizados dessa maneira em nada auxiliam o processo educativo. O registro das atividades, tendo neste presente trabalho como proposta a utilização do caderno de desenho como um portfólio da trajetória criativa do aluno, é um instrumento que proporciona uma visão geral e detalhada de todo o processo de aprendizagem dos alunos, tornando-o um instrumento valioso no processo de avaliação de cada criança. Além de explicitar todo o caminho percorrido pelas crianças na aquisição de novas habilidades e competências, norteia o professor nas tomadas de decisões e elaboração dos próximos passos no processo ensino aprendizagem. Durante certo tempo, o portfólio era visto como uma seleção das atividades das crianças, um modo burocrático de apresentar os trabalhos aos pais. Atualmente é considerado um importante recurso de avaliação, que dá visibilidade Figura 23 - Desenho ditado Fonte: arteemprocessos.blogspot.com - 2013 40 a todo o processo educativo, propondo uma reflexão e evidenciando as novas percepções dos alunos. Não é, portanto, uma mera amostragem das atividades realizadas, mas um documento que evidencia a participação efetiva dos alunos e os coloca como sujeito central no processo educativo. Quando se aborda a questão da avaliação em Artes Visuais, surge inevitavelmente a discussão sobre a possibilidade de realizá-la, posto que as produções em artes são sempre expressões singulares do sujeito produtor e, sendo assim, não seriam passíveis de julgamento. Em Artes Visuais a avaliação deve ser processual e ter um caráter de análise e reflexão sobre as produções das crianças. Isso significa que a avaliação para a criança deve explicitar suas conquistas e as etapas do seu processo criativo; para o professor, deve fornecer informações sobre a adequação de sua prática para que possa repensá-los e estruturá-los sempre com mais segurança. (RCNEI, 1998, p. 113) Dessa maneira, o portfólio é vivo e está em constante construção. Apresenta-se como um conjunto de dados que expõe as aquisições de cada aluno, apresentando as mudanças de conceitos que ocorreram, no jeito de pensar e de fazer de cada um. 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo do trabalho pudemos entrar em contato com algumas concepções acerca do desenho infantil. Amparados por estudiosos que se tornaram referência no processo educacional, pudemos compreender como se dá a evolução da criança, refletida em seu desenho. Os ganhos e aquisições acontecem gradativamente, alinhadas ao seu desenvolvimento cognitivo e sócio emocional. O estudo sobre o desenho infantil foi incorporando novos conceitos e descobertas ao passar dos anos. Hoje sabe-se que o percurso criador da criança não é livre de influências externas, sobretudo as culturais. Desde pequena a criança se expressa através dos desenhos. Enquanto não domina a linguagem escrita é pelo desenho que ela comunica o que sente, pensa e o modo que enxerga o mundo. Ela cria e recria o espaço que a cerca, imprimindo em cada traço seu modo particular de percepção. No decorrer deste trabalho, o desenho infantil foi se apresentando como ferramenta singular no processo de desenvolvimento cognitivo, social, afetivo e emocional da criança. Compreender o processo de evolução gráfica dos alunos, permite ao professor valorizar o percurso criador da criança, levando sempre em consideração os estágios gráficos em que se encontram, sem, contudo, desconsiderar as influências exercidas pelo meio social ao qual a criança pertence.Nesse contexto, o papel do professor como mediador do processo ensino- aprendizagem torna-se fundamental. Dessa forma, saber promover momentos educativos com propostas significativas de aprendizagem, que visem oferecer ferramentas para que os alunos adquiram novas habilidades e competências, requer do educador especial atenção e comprometimento, devendo utilizar-se de todo seu conhecimento formativo e experiência profissional. Para que haja a apropriação de conhecimentos pela criança é fundamental que seja proporcionado à ela contato com variadas possibilidades de desenho a fim de estimular sua reflexão, perceber novas maneiras de representação, ampliando assim, seu repertório artístico e criativo. 42 Nesse sentido, o registro de seus trabalhos torna-se especialmente importante. O uso do caderno de desenho como portfólio da trajetória criativa do aluno, possibilita a todos os atores envolvidos no processo de aprendizagem que acompanhem e avaliem, a qualquer momento, todo o caminho percorrido pelo aluno. Essa abordagem garante protagonismo ao aluno no processo educativo (tendo sempre o professor como seu incentivador), contribuindo para que haja a assimilação e acomodação de novos conceitos, técnicas e saberes, subsidiando assim, sua evolução artística e criativa. 43 REFERÊNCIAS A MENTE É MARAVILHOSA. Teste do desenho da família, uma interessante técnica de projeção. Disponível em: <https://amenteemaravilhosa.com.br/teste- do-desenho-da-familia/> - acesso em: 15 de outubro de 2019 BARBOSA, Margarida de S. Grafismo infantil - estágios do desenho segundo Lowenfeld e Luquet. Disponível em: <http://rodadeinfancia.blogspot.com /2013/ 07/grafismo-infantil-estagios-do-desenho.html> - acesso em: 16 de setembro de 2019. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2017. ______. Educação, Ministério e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental; Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. v. 3 CHANAN, Marcela. Cultura Infantil: arte, história e brincadeira. Disponível em: <http://culturainfantilearte.blogspot.com/2013/06/desenho-infantil-observar- compreender-e.html> - acesso em: 07 de outubro de 2019 GURGEL, Thais. O desenho e o desenvolvimento das crianças, Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/121/o-desenho-e-o-desenvolvimento-das- criancas – acesso em: 10 de outubro de 2019 HASHIMOTO, Mariana. Ditado da história em desenho. Disponível em: <http://arteemprocessos.blogspot.com/2013/08/ditado-da-historia-em- desenho.html> – acesso em: 10 de outubro de 2019 HEIDEN. Vanessa G. Construção gráfico-plástica: Lowenfeld. Disponível em: <https://metamorfoseexpressiva.wordpress.com/2016/05/28/construcao-grafico- plastica-lowenfeld/> - acesso em: 16 de setembro de 2019. IAVELBERG, Rosa. O desenho cultivado da criança: prática e formação de educadores. 2ª ed. Porto Alegre: Editora Zouk., 2008 IAVELBERG, Rosa. MENEZES, Fernando Chui de. O cultivo do desenho infantil na aprendizagem compartilhada. Disponível em <http://anpap.org.br/anais/2012/pdf/simposio4/rosa_iavelberg_e_fernando_chui.pd f> – acesso em: 24 de setembro de 2019. IMBROISI, Margaret. Entendendo o desenho infantil. 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