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CONTABILIDADE SOCIETÁRIA AULA 3 Profª Paolla Hauser 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula nossa conversa será sobre uma parte do CPC que trata de estrutura conceitual para elaboração e divulgação de relatório contábil- financeiro. Aqui não vamos falar especificamente sobre os saldos e operações nas contas do grupo do patrimônio líquido. Vamos tratar também dos conceitos e regras para integralização de capital social, sobre custos de transação na emissão de ações e cálculo do ágio na emissão de ações. Esta é uma aula bastante densa, por isso leia com bastante atenção o material de aula e materiais complementares ao tema, assista a todas as aulas e fique atento às atividades propostas. CONTEXTUALIZANDO Deve ser de seu conhecimento que o patrimônio líquido de uma entidade demonstra a diferença entre as operações de ativo e passivo, sendo que o resultado ideal é um patrimônio líquido positivo, ou seja, é um resultado lucrativo. Entretanto, algumas empresas, quer estejam relacionados à sua atividade ou à sua necessidade, podem buscar recursos para expandir suas operações. A captação de recursos via instrumentos patrimoniais, regra geral, é realizada por meio de emissão de ações. Outra forma de captação é ainda por meio de bônus de subscrição. A emissão de ações pode ocorrer no mercado primário, e as ações da companhia são negociadas pela primeira vez. O mercado secundário ocorre na sua renegociação. Para melhor entender a diferença entre mercado primário e secundário, vamos supor a seguinte situação hipotética: A Petrobras, com a finalidade de captar recursos financeiros para alavancar os seus investimentos na exploração de petróleo em águas profundas, emitiu novas ações no montante de 1 bilhão de reais. A Exxon Mobil, na qualidade de investidora, adquiriu à vista no mercado primário 50 milhões de reais em ações da Petrobras e, passados oito meses da data de aquisição, aproveitando a grande valorização dessas ações, negociou-as na BM&F Bovespa por 55 milhões de reais, vendendo-as para a IBM. Conclusão: a Exxon Mobil, para vender as ações adquiridas da Petrobras, teve que colocá-las novamente no mercado, e esse mercado é o secundário, pois a emissora originária é a Petrobras. A investidora IBM, ao comprar as ações da investidora Exxon Mobil, estará comprando de um segundo, o que caracteriza a definição de mercado secundário. 3 O mercado secundário em que atuam as bolsas de valores tem por função dar liquidez aos investidores e garantir que, no momento de uma operação de venda, exista um comprador (IBM) e um vendedor (Exxon Mobil), viabilizando o crescimento do mercado primário e a consequente capitalização das empresas via mercado de ações. (Adriano, 2018, p. 480) TEMA 1 – ESTRUTURA CONCEITUAL DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO – CPC 00 R1 Ao observarmos o balanço patrimonial de qualquer entidade, notamos que os elementos do patrimônio líquido são demonstrados ao lado direito e evidenciam a diferença entre o valor total do ativo e do passivo. Borinelli e Pimentel (2017, 102) destacam que Assim definido, o montante pelo qual o patrimônio líquido é apresentado no balanço patrimonial depende da mensuração dos ativos e passivos. Como consequência, o patrimônio líquido deve evidenciar todos os valores decorrentes de ajustes de avaliação patrimonial referentes à avaliação de ativos e passivos a valores de mercado. Antes de nos aprofundarmos na estrutura do patrimônio líquido, vamos relembrar a estrutura do balanço patrimonial. Quadro 1 – Estrutura do balanço patrimonial ATIVO [...] PASSIVO [...] PATRIMÔNIO LÍQUIDO Capital - Capital a integralizar Reserva de lucros Reservas de capital Ajustes de avaliação patrimonial Prejuízos acumulados - Ações em tesouraria Fonte: Adriano, 2018. A classificação das contas do patrimônio líquido, também denominado de PL, é: No capital social temos os valores recebidos dos sócios, quando já integralizados. O a integralizar representa os valores “prometidos” pelos 4 sócios, com prazo para integralização. Esses valores podem ser gerados pela própria empresa, como no caso de lucro renunciado pelos sócios e revertido em capital social; As reservas de lucro representam os lucros obtidos e retidos pela entidade; Reservas de capital representam valores recebidos que não transitaram e não transitarão pelo resultado como receitas, pois derivam de transações de capital com os sócios (Gelbcke et al., 2018); Em ajustes de avaliação patrimonial temos os valores referentes a contrapartidas de aumentos ou reduções de valor atribuído a elementos do ativo e do passivo, em decorrência de avaliação a valor justo. Os prejuízos acumulados representam o resultado negativo gerado pela entidade; Ações em tesouraria representam as ações da companhia que são adquiridas pela própria sociedade (podem ser quotas, no caso das sociedades limitadas) (Gelbke et al., 2018); O pronunciamento contábil do CPC 00, que trata da estrutura conceitual para a elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro conceitua o patrimônio líquido da seguinte forma: “(c) patrimônio líquido é o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos” (CPC 00 R1, 2011). Iudícibus (2015) destaca que, devido ao fato de que, em regra, definimos o patrimônio líquido como simples diferença entre ativo e passivo, não damos a este um tratamento adequado. Podemos destacar o que o próprio CPC descreve que o resultado apresentado no PL demonstra, de certa forma, a saúde financeira da empresa, o que pode atrair (ou não) interesse de investidores ou interesse na distribuição de dividendos. Com isso, Iudicibus (2015, p. 166) destaca ainda que, à medida que uma boa evidenciação dos elementos constitutivos do patrimônio líquido possa auxiliar no discernimento de tais interesses, estaremos cumprindo a finalidade principal das demonstrações contábeis, ou seja, a de ajudarem o investidor a avaliar a tendência do empreendimento. 5 Os resultados apresentados pela entidade, tal como demonstrados no patrimônio líquido, serão relevantes para a tomada de decisão dos usuários das demonstrações contábeis. Este grupo de contas pode indicar restrições legais ou de outra natureza sobre a capacidade que a empresa tem de distribuir ou aplicar seus recursos patrimoniais. TEMA 2 – CAPITAL SOCIAL E SUA CONTABILIZAÇÃO – SUBESCRITO, INTEGRALIZADO E AÇÕES EM TESOURARIA O capital social, como vimos no tema anterior, corresponde ao investimento dos sócios, quando tratamos de uma empresa limitada, ou dos acionistas, quando sociedade por ações. 2.1 Capital integralizado O capital pode ainda ser formado por valores obtidos pela própria empresa, como no caso de lucros não destinado ao sócio/acionista, mas sim a nova integralização para aumento do capital investido. Gelbcke et al. (2018, p. 380) definem: Trata-se o Capital Social, na verdade, de uma figura mais jurídica que econômica, já que, do ponto de vista econômico, também os lucros não distribuídos, mesmo que ainda na forma de Reservas, representam uma espécie de investimento dos acionistas. Sua incorporação ao Capital Social é uma formalização em que os proprietários renunciam à sua distribuição; é como se os acionistas recebessem essas reservas e as reinvestissem na sociedade. O capital social pode ser integralizado em espécie ou outros bens e direitos, como estoque de mercadorias, por exemplo. Quando isso ocorrer, o valor a ser registrado no capital é igual ao valor do custo de aquisição (custo histórico). A contabilização do capital social integralizado fica assim: D – Banco, estoque, imobilizado (etc) C – Capital Social 6 O montante do capital social é composto pelo total subscrito pelos sócios, podendo existir a figura de capitala integralizar, isto é, a parcela ainda não realizada e que deverá ser entregue pelos sócios/acionistas no futuro. 2.2 Capital a integralizar O capital a integralizar deve constar no balanço patrimonial, no grupo do patrimônio líquido, juntamente com o montante do capital social, sendo que o valor a integralizar será demonstrado em conta redutora. Por exemplo: A empresa UNI acaba de ser constituída com capital social de R$ 100.000,00. Entretanto, os sócios só possuem R$ 70.000,00 para integralizar de imediato. Dessa forma, temos um capital a integralizar de R$ 30.000,00, que ficará representado no balanço, da seguinte forma: Capital Social 100.000,00 (-) Capital a Integralizar (30.000,00) Borinelli e Pimentel (2017, p. 229) destacam o seguinte; Além da formação do capital social por aporte (integralização) dos sócios, o capital social também pode ser aumentado com a utilização de reservas, que já fazem parte do patrimônio líquido. Nesses casos, não há qualquer implicação econômica para a entidade, ou seja, não há novo ingresso de recursos no ativo, nem ocorre aumento no patrimônio líquido total. Assim, o aumento de capital utilizando reservas é uma figura mais jurídica do que econômico-financeira, pois apenas formaliza a incorporação de recursos sob a forma de reservas para a o capital social. Trata-se da renúncia que o sócio/acionista faz com relação ao recebimento do lucro, em favor da sociedade, para aumento do capital social, sendo utilizadas para isso as contas de reservas. O Código Civil determina que: Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará: [...] III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; (Brasil, 2002) 7 Com relação ao prazo para integralização, a legislação não traz nenhuma determinação, nem tampouco penalidades para os sócios que não o fizerem, entretanto tal condição pode estar prevista no contrato social ou na Ata de constituição. 2.3 Ações em tesouraria Ações em tesouraria são as ações adquiridas pela própria companhia. Isso ocorre, normalmente, quando a organização pretende fazer o cancelamento de ações ou quando concede bonificação (remuneração) aos gestores em forma de ações. Gelbcke et al. (2018) destacam que “a aquisição de ações de emissão própria e sua alienação são transações de capital da companhia com seus sócios, não devendo afetar o resultado”. A Lei das Sociedades Anônimas (Lei n. 6.404/1976) proíbe a negociação das próprias ações, quando houver: a. as operações de resgate, reembolso ou amortização previstas em lei; b. a aquisição, para permanência em tesouraria ou cancelamento, desde que até o valor do saldo de lucros ou reservas, exceto a legal, e sem diminuição do capital social, ou por doação; c. a alienação das ações adquiridas nos termos da alínea b e mantidas em tesouraria; d. a compra quando, resolvida a redução do capital mediante restituição, em dinheiro, de parte do valor das ações, o preço destas em bolsa for inferior ou igual à importância que deve ser restituída (Brasil, 1976) Tratando-se de companhia aberta, a CVM traz normas que devem ser analisadas para as operações de negociação com as próprias ações. A Instrução CVM n. 567/15, em seu art. 7º, ressalta que é vedada a aquisição das próprias ações, quando: a. tiver por objeto ações pertencentes ao acionista controlador; b. for realizada em mercados organizados de valores mobiliários a preços superiores aos de mercado; c. estiver em curso o período de oferta pública de aquisição de ações de sua emissão, conforme definição das normas que tratam desse assunto; ou d. requerer a utilização de recursos superiores aos disponíveis. (Brasil, 2015) A referida norma ressalta ainda que as companhias abertas não poderão manter ações em tesouraria superior a 10% de cada classe de ações em circulação no mercado. 8 Segundo a Lei n. 6.404/1976, parágrafo 2º, “Consideram-se ações em circulação no mercado todas as ações do capital da companhia aberta menos as de propriedade do acionista controlador, de diretores, de conselheiros de administração e as em tesouraria”. (Brasil, 1976) Conforme o art. 182, parágrafo 5º, da Lei das S/As, “as ações em tesouraria deverão ser destacadas no balanço como dedução da conta do patrimônio líquido que registrar a origem dos recursos aplicados na sua aquisição” (Brasil, 1976). De acordo com Gelbcke et al. (2018, p. 396), “As compras das próprias ações são contabilizadas por seu custo de aquisição e a baixa pela alienação deve ser feita pelo mesmo valor de compra”. No que se refere aos aspectos fiscais de transações que envolvem ações em tesouraria, o Regulamento do Imposto de Renda determina, em seu art. 442: Art. 442. Não serão computadas na determinação do lucro real as importâncias, creditadas a reservas de capital, que o contribuinte com a forma de companhia receber dos subscritores de valores mobiliários de sua emissão a título de: I. ágio na emissão de ações por preço superior ao valor nominal, ou a parte do preço de emissão de ações sem valor nominal destinadas à formação de reservas de capital; II. valor da alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição; III. prêmio na emissão de debêntures; IV. lucro na venda de ações em tesouraria. Parágrafo único. O prejuízo na venda de ações em tesouraria não será dedutível na determinação do lucro real. (Brasil, 1999) Dessa forma, podemos observar que a operação de venda das ações em tesouraria não será computada na apuração do lucro real. TEMA 3 – TRANSAÇÃO NA EMISSÃO DE AÇÕES 3.1 Gastos com emissão de ações Conforme Gelbcke et al (2018, p. 383), Os Balanços Patrimoniais dos exercícios sociais encerrados a partir de 31-12-2008, deverão apresentar os gastos com captação de recursos por emissão de ações ou outros valores mobiliários pertencentes ao Patrimônio Líquido (bônus de subscrição, por exemplo) em conta retificadora do grupo Capital Social ou, quando aplicável, na Reserva de Capital que registrar o prêmio recebido na emissão das novas ações. Em função disso, a alteração do patrimônio líquido pela emissão de novas ações é reconhecida pelo valor líquido efetivamente recebido. 9 Vejamos o exemplo trazido pelo Manual de Contabilidade das Sociedades Anônimas: supondo-se que em uma determinada sociedade sejam emitidas 2.000.000 de novas ações, com preço de $ 1,50 por ação, cujos gastos de emissão somaram $ 150.000. Os efeitos líquidos dessa contabilização serão os seguintes: D – Caixa 2.850.000,00 D – Gastos com emissão de ações 150.000,00 (retificadora do capital social) C – Capital Social 3.000.000,00 Os saldos pertencentes à conta “Gastos com emissão de ações” poderão ser utilizados apenas para compensação com reservas de capital ou para redução do próprio capital social. Nos casos em quem não houver sucesso na captação de ações, tais gastos devem ser baixados como perdas do exercício. Esse procedimento se baseia no fato de que não é encargo da empresa o que se gasta para obter mais recursos dos sócios. Essa é uma transação de capital, e não uma atividade operacional da entidade. E é uma transação de capital entre a empresa e os sócios, que redunda num ingresso líquido de recursos, estes sim reconhecidos como aumento líquido de capital. (Gelbcke et al, 2018, p. 383) 3.2 Custo de transação na emissão de ações De acordo com Adriano (2018, p. 479) “a operação mais comum de uma empresa captar recursos financeiros é por meio da emissão de ações, que pode ocorrer de três formas distintas: primária, secundária ou mista.” 3.2.1 Emissão primária É a emissão de novas açõese ocorre no mercado primário uma vez que nessa operação as ações da companhia são negociadas pela primeira vez. Segundo Adriano (2018, p. 479), “É nesse setor de mercado que as companhias buscam efetivamente a captação de recursos próprios para implementar os seus projetos de investimentos com a finalidade de promover o seu crescimento e consequente incremento de riqueza gerada”. 10 3.2.2 Emissão secundária Trata-se das renegociações entre os agentes econômicos das ações adquiridas no mercado primário: “nessas operações, os recursos monetários resultantes não são transferidos para o financiamento da companhia, pois quem recebe efetivamente esses recursos são os acionistas que decidiram vender as suas ações”. (Adriano, 2018, p. 480) Vejamos um exemplo trazido pelo referido autor: A Petrobras, com a finalidade de captar recursos financeiros para alavancar os seus investimentos na exploração de petróleo em águas profundas, emitiu novas ações no montante de 1 bilhão de reais. A Exxon Mobil, na qualidade de investidora, adquiriu à vista no mercado primário 50 milhões de reais em ações da Petrobras e, passados oito meses da data de aquisição, aproveitando a grande valorização dessas ações, negociou-as na BM&FBovespa por 55 milhões de reais, vendendo-as para a IBM. Conclusão: a Exxon Mobil, para vender as ações adquiridas da Petrobras, teve que colocá-las novamente no mercado, e esse mercado é o secundário, pois a emissora originária é a Petrobras. A investidora IBM, ao comprar as ações da investidora Exxon Mobil, estará comprando de um segundo, o que caracteriza a definição de mercado secundário. O mercado secundário em que atuam as bolsas de valores tem por função dar liquidez aos investidores e garantir que, no momento de uma operação de venda, exista um comprador (IBM) e um vendedor (Exxon Mobil), viabilizando o crescimento do mercado primário e a consequente capitalização das empresas via mercado de ações. (Adriano, 2018) 3.2.3 Emissão mista Nesse caso, há concomitantemente a emissão primária e a emissão secundária. Segundo Adriano (2018, p. 480), “Com relação às novas ações emitidas, temos uma emissão primária que resultará na entrada de recursos para a companhia, enquanto para as ações existentes que serão vendidas pelos seus respectivos acionistas temos uma emissão secundária, que não resultará na entrada de recursos para a companhia”. A definição do valor das ações é a representação de um investimento e, dependendo do contexto, poderá apresentar os seguintes valores distintos: nominal, patrimonial, de emissão e de mercado. De acordo com a Lei no 6.404/76, o valor nominal é determinado no estatuto, e a ação pode ser emitida com ou sem valor nominal (Brasil,1976). Na hipótese de emissão de ações sem valor nominal, todas as ações deverão ter o mesmo valor e não será permitido à companhia emitir novas ações com valores diferentes. 11 O valor nominal da ação resulta da divisão do capital social pelo número de ações que a empresa emitiu. Por exemplo, se o capital social é de 200.000,00 e a empresa emitiu 50.000 ações, o valor nominal é de 4,00. Já o valor patrimonial da ação resulta da divisão do patrimônio líquido pelo número de ações que a empresa emitiu. Por exemplo, se o patrimônio líquido é de 400.000,00 e a empresa emitiu 50.000 ações, o valor patrimonial é de 8,00. O valor de emissão ou valor de subscrição corresponde ao preço pago por quem subscreve a ação, se à vista ou parceladamente. De acordo com Adriano (2018, p.481), Por exemplo, caso um subscritor adquira por 1,20 a ação de uma empresa, cujo capital social é composto de 100.000 ações no montante de 100.000,00, temos que o valor nominal da ação é de 1,00, enquanto o seu valor de emissão será de 1,20. Quando existe diferença entre o valor de emissão e o valor nominal das ações, temos o ágio na emissão de ações, que corresponde a uma reserva de capital. A Lei 6.404/1976 determina que: Art. 13. É vedada a emissão de ações por preço inferior ao seu valor nominal. § 1º A infração do disposto neste artigo importará nulidade do ato ou operação e responsabilidade dos infratores, sem prejuízo da ação penal que no caso couber. § 2º A contribuição do subscritor que ultrapassar o valor nominal constituirá reserva de capital (artigo 182, § 1º). (Brasil, 1976) Para as ações sem valor nominal, o preço será fixado no momento da constituição da companhia ou no momento do capital: “O preço de emissão pode ser fixado com parte destinada à formação de reserva de capital; na emissão de ações preferenciais com prioridade no reembolso do capital, somente a parcela que ultrapassar o valor de reembolso poderá ter essa destinação” (Brasil, 1976). TEMA 4 – CÁLCULO DO ÁGIO NA EMISSÃO DE AÇÕES A ação é a menor parcela em que se divide o capital social da companhia. As ações podem ser ordinárias, ou preferenciais, ou de fruição, de acordo com a natureza dos direitos ou vantagens conferidas a seus titulares. 12 Ação ordinária: Tipo de ação que confere ao titular os direitos essenciais do acionista, especialmente participação nos resultados da companhia e direito a voto nas assembleias da empresa. Cada ação ordinária corresponde a um voto na Assembleia Geral. Preferencial: As ações preferenciais (PN) conferem ao titular prioridades na distribuição de dividendo, fixo ou mínimo, e no reembolso do capital. Entretanto, as ações PN não dão direito a voto ao acionista na Assembleia Geral da empresa, ou restringem o exercício desse direito. (Entenda..., 2006) 4.1 Ágio na emissão de ações O valor de exceder ao preço de subscrição das ações pago pelos acionistas à Companhia e o valor nominal dessas ações são denominados de ágio na emissão de ações. Este excedente deve ser contabilizado em conta de reserva de capital, conforme exemplo a seguir. Supondo que a Companhia tenha ações ao valor nominal de $ 1,00 e faça um aumento de Capital de 50.000.000 de ações ao preço de $ 1,30 cada uma, teríamos: D – Bancos - 65.000.000 C – Capital Social – 50.000.000 de ações a $1,00 - 50.000.000 Reserva de Capital C – Ágio na emissão de ações – 50.000.000 de ações a 0,30 - 15.000.000 (Gelbcke et al, 2018) 4.2 Ações sem valor nominal A Lei das S/As criou as ações sem valor nominal, cujo preço de emissão é fixado, na Constituição, pelos fundadores, e, nos aumentos de capital, pela assembleia geral ou pelo conselho de administração, conforme dispuser o estatuto. O preço de emissão das ações sem valor nominal pode ser fixado com parte destinada à formação de reserva de capital. Nesse caso, a Lei das Sociedades por Ações define, na letra a do parágrafo 1º do art. 182, que a parte do preço de emissão das ações sem valor nominal que ultrapassar a importância destinada à formação do capital social será classificada como reserva de capital. (Gelbcke et al, 2018, p. 383) 13 Por exemplo, A sociedade emite 50.000.000 de ações sem valor nominal, a serem vendidas por $ 1,30 cada uma, mas destina ao capital social apenas $ 1,10 por ação. A contabilização, nesse caso, é idêntica à anterior: D – Bancos - 65.000.000 C – Capital Social - 55.000.000 Reserva de Capital C – Ágio na emissão de ações - 10.000.000 (Gelbcke et al., 2018) 4.3 Reembolso e resgate das ações As ações reembolsadas podem ser consideradas como pagas à conta de lucros ou reservas, exceto a legal, isto é, sem redução do capital social. Durante sua permanência em tesouraria, o valor pago no reembolso dessas ações será, para fins de apresentação no balanço patrimonial, deduzido das contas de reservas utilizadas para o reembolso. De acordo com oart. 45 da Lei no 6.404/76, o valor do reembolso para acionistas dissidentes poderá ser estipulado com base no valor econômico da companhia, caso o estatuto assim o possibilite (Brasil, 1976) O valor econômico será fixado com base em avaliação realizada por peritos e poderá ser menor que o valor patrimonial da companhia, calculado com base no patrimônio líquido constante do último balanço aprovado em assembleia geral. De acordo com a Lei n. 6.404, “A operação em que a companhia paga aos acionistas o valor de suas ações por razões de dissidência nos casos previstos na legislação societária é denominada reembolso de ações” (Brasil, 1976). Segundo a mesma lei, As ações reembolsadas podem ser consideradas como pagas à conta de lucros ou reservas, exceto a legal, isto é, sem redução do capital social. Durante sua permanência em tesouraria, o valor pago no reembolso dessas ações será, para fins de apresentação no Balanço Patrimonial, deduzido das contas de reservas utilizadas para o reembolso. (Brasil, 1976) TEMA 5 – RESERVAS DE CAPITAL As reservas de capital contemplam os valores que a companhia recebeu e que acrescem o patrimônio sem aumentar o valor do capital social, e sem transitar pelo resultado no período, uma vez que não exigem qualquer sacrifício da entidade em termos de entrega de bens ou prestação de serviços, ou seja, 14 não são derivadas das atividades operacionais da organização. (Borinelli, Pimentel, 2017) Na prática, de maneira geral, o principal exemplo de reserva de capital refere-se ao ágio na emissão de novas ações e aos resultados positivos da alienação de ações em tesouraria. Vamos ver um exemplo, trazido por Borinelli e Pimentel (2017, p. 230) Imagine, por exemplo, que o valor nominal de cada ação de uma empresa é $ 2,00; no entanto, no momento da emissão das novas ações, existe uma grande demanda por tais ações, haja vista que há excelentes expectativas futuras sobre o desempenho futuro da entidade. Assim, os acionistas estariam dispostos a pagar $ 2,30 por ação. Nesse caso, cada ação geraria uma entrada de caixa de $ 2,30 e haveria acréscimo no capital social pelo seu valor nominal de $ 2,00. Os $ 0,30 adicionais seriam alocados na reserva de capital. Assim: Ativo Disponibilidades 2,30 Total do Ativo 2,30 Patrimônio Líquido Capital Social 2,00 Reserva de Capital 0,30 Total Patrimônio Líquido 2,30 Gelbcke, et al (2018) destacam que as reservas de capital somente podem ser utilizadas para: a. Absorver prejuízos, quando estes ultrapassarem as reservas de lucros. Convém observar que, no caso da existência de reservas de lucros, os prejuízos serão absorvidos primeiramente por essas contas; b. Resgate, reembolso ou compra de ações. c. Resgate de partes beneficiárias. O art. 200 da Lei no 6.404/1976, em seu parágrafo único, determina que o produto da alienação de partes beneficiárias, registrado na reserva de capital específica, poderá ser utilizado para resgate desses títulos (ver observação logo a seguir); d. Incorporação ao capital; e. Pagamento de dividendo cumulativo a ações preferenciais, com prioridade no seu recebimento, quando essa vantagem lhes for assegurada pelo estatuto social (art. 17, parágrafo 6º, da Lei n. 6.404/1976, conforme nova redação dada pela Lei no10.303/2001). 15 Art. 167. A reserva de capital constituída por ocasião do balanço de encerramento do exercício social e resultante da correção monetária do capital realizado (artigo 182, § 2º) será capitalizada por deliberação da assembléia-geral ordinária que aprovar o balanço. § 1º Na companhia aberta, a capitalização prevista neste artigo será feita sem modificação do número de ações emitidas e com aumento do valor nominal das ações, se for o caso. § 2º A companhia poderá deixar de capitalizar o saldo da reserva correspondente às frações de centavo do valor nominal das ações, ou, se não tiverem valor nominal, à fração inferior a 1% (um por cento) do capital social. § 3º Se a companhia tiver ações com e sem valor nominal, a correção do capital correspondente às ações com valor nominal será feita separadamente, sendo a reserva resultante capitalizada em benefício dessas ações. Saiba mais Leia e entenda um pouco mais sobre o ágio na operação das empresas: <https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/artigo_agio_- _anderson.pdf>. Com base nessa leitura e no CPC 15, descubra quais foram as principais alterações do ágio após as regras previstas neste CPC, em comparação com as regras domésticas previstas antes das normas internacionais de contabilidade. NA PRÁTICA Resolva a questão a seguir. A resposta e o comentário estão ao final deste documento. (Contábeis MPE AP FCC 2012): Os custos de capitação de recursos (aumento de capital com emissão de ações) efetivamente realizada, como gastos com advogados, contratação de agente financeiro e outros, realizados para a captação de recursos por meio de emissão de títulos e valores mobiliários, devem ser registrados na conta. a. de despesa do exercício em que ocorrer a capitalização. b. redutora do capital social no patrimônio líquido. c. de reserva de capital no patrimônio líquido. d. redutora de investimento para o qual o recurso for capitado. e. de despesa do ano em que o gasto for realizado. Fonte: Adriano, 2018, p. 504. 16 FINALIZANDO Nesta aula estudamos parte das contas existentes no grupo do patrimônio líquido de uma entidade, que pode muitas vezes passar despercebido pelos gestores, mas que se trata de uma importante informação na tomada de decisões para o negócio. 17 REFERÊNCIAS ADRIANO, S. Manual dos pronunciamentos contábeis comentados. São Paulo: Atlas, 2018. ALMEIDA, M. C. Curso de contabilidade avançada em IFRS e CPC. São Paulo: Altas, 2014. ANDRADE FILHO, E. O. Imposto de renda das empresas. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016. BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. _____. Lei n. 6.404 de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 dez. 1976. _____. Decreto n. 3.000, de 26 de março de 1999. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 29 mar. 1999. BRASIL. Comissão de Valores Imobiliários. Instrução CVM 567. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 18 set. 2015. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/legislacao/instrucoes/inst567.html>. Acesso em: 4 jun. 2018. BORINELLI, M. L.; PIMENTEL, R. C. Contabilidade para gestores, analistas e outros profissionais. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2017. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 00 (R1) – Estrutura conceitual para elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro. 15 dez. 2011. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos- Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=80>. Acesso em: 4 jun. 2018. ENTENDA a diferença entre ações preferenciais e ordinárias. O Globo, 13 nov. 2006. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/entenda-diferenca- entre-acoes-preferenciais-ordinarias-4549107#ixzz5BIW85Veistest>. Acesso em: 4 jun. 2018. FERRARI, E. L. Contabilidade geral: teoria e mais de 1000 questões. 12. ed. rev. Rio de Janeiro: Impetrus, 2012. GELBCKE, E. R. et al. Manual de contabilidade societária. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. 18 IUDICIBUS, S. de. Teoria da contabilidade. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015. IUDICIBUS, S. de; MARION, J. C. Contabilidade comercial. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2016. MARTINS, E. et al. Manual de contabilidade societária. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013. VICECONTI, P.; NEVES, S. das. Contabilidade avançada e análise das demonstrações financeiras. 17. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2013.19 RESPOSTA Gabarito: b. redutora do capital social no patrimônio líquido. Comentário Os gastos com emissão de ações representam as despesas relativas com advogados, instituições financeiras, auditores, publicidade etc. necessárias para a emissão de ações. Antes da Lei no 11.638/07, as despesas decorrentes da emissão de novas ações eram lançadas diretamente no resultado do exercício, impactando-o. Agora, essas despesas são lançadas em uma conta chamada gastos com emissão de ações, sendo compensada depois como contrapartida de uma reserva de capital ou redução do capital social. Quando não houver sucesso na operação de captação das ações, os gastos com emissão de ações são lançados como perdas no referido exercício. O objetivo da mudança foi a proteção do atual acionista, pois os mesmos eram prejudicados pela decisão da empresa em se capitalizar. Antes, como as despesas decorrentes da emissão de novas ações eram lançadas diretamente no resultado, as mesmas diminuíam o resultado do exercício, e, com a redução do resultado, os acionistas atuais da empresa passavam a receber menos dividendos. Com a mudança decorrente da Lei no 11.638/07, os atuais acionistas não são mais prejudicados com as operações de capitalização da empresa (Adriano, 2018, p. 504).
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