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Equações quadráticas – continuação MÓDULO 2 - AULA 13 Aula 13 – Equações quadráticas – continuação Objetivos Após estudar esta aula, você será capaz de: • compreender o conceito de mudança de coordenadas; • expressar a parábola através de uma equação quadrática. Na aula passada você teve ocasião de estudar a parábola, e agora é o momento de apresentar outras curvas: a elipse e a hipérbole. Essas duas curvas mais a parábola são conhecidas desde a época clássica da Matemática grega, com o nome de cônicas, e têm lugar nobre na história da Matemática. O grande matemático da antiguidade Apolônio de Perga (262 - 190 a.C.) registrou, em um genial livro denominado seções cônicas, todo o conheci- mento matemático da época sobre estas curvas. Cada uma delas pode ser obtida através da interseção de um plano com um duplo cone circular reto, dáı o nome cônicas. A obtenção de uma ou outra cônica fica na dependência da posição geral do plano em relação ao eixo e as geratrizes do cone duplo. Veja representado na Figura 13.1, a obtenção de cada cônica. No caso da parábola, o plano é paralelo a uma das geratrizes do cone superior e inter- secta o cone inferior. No caso da elipse, o plano intersecta o eixo do cone com um ângulo diferente de 900 e intersecta todas as geratrizes do cone inferior. No caso da hipérbole, o plano é paralelo ao eixo e intersecta os cones superior e inferior. Figura 13.1: Parábola, elipse e hipérbole, respectivamente. 201 CEDERJ Equações quadráticas – continuação A elipse Uma elipse fica definida no plano a partir da escolha de dois pontos F1 e F2 e de uma medida m maior que a distância entre estes pontos. Aqui m é um número positivo. Se como de costume denotarmos por d(F1, F2) a distância entre os pontos, a condição prescrita é que m > d(F1, F2). A elipse é então por definição o conjunto dos pontos P = (x, y) do plano tal que a soma da distância de P até F1 com a distância de P até F2 é igual a m. Em outras palavras fixados F1 e F2 e uma medida m maior que a distância entre estes pontos, a equação da elipse é definida pela condição geométrica d(P, F1) + d(P, F2) = m. Na linguagem de conjuntos, se α é um plano, então elipse = {P ∈ α; d(P, F1) + d(P, F2) = m}. A partir da definição você pode desenhar uma elipse no papel escolhendo um barbante com comprimento m e fixando as extremidades dos barbante por duas tachinhas localizadas nos pontos F1 e F2. Agora basta esticar o barbante com um lápis e deslizar mantendo o barbante esticado de modo que é posśıvel desenhar a elipse. Veja a ilustração na Figura 13.2. Figura 13.2: Uma elipse desenhada num papel. Agora, num plano onde está representado uma elipse, introduzimos um sistema de eixos ortogonais adaptados à elipse com o intuito de encontrar uma equação a mais simples posśıvel que a represente. Este sistema de coordenadas é tal que o eixo 0x contem os focos F1 e F2 e o ponto médio do segmento F1F2 é a origem do sistema de coordenadas. Como os focos estão sobre o eixo 0x então podemos escrever, nas coordenadas x0y que F1 = (c, 0) e F2 = (−c, 0), onde c > 0. CEDERJ 202 Equações quadráticas – continuação MÓDULO 2 - AULA 13 Também, vamos escrever a distância m > d(F1, F2) como m = 2a, onde a > 0. Assim, se P = (x, y) é um ponto arbitrário da elipse, temos que d(P, F1) + d(P, F2) = m ⇒ ⇒ √ (x− c)2 + (y − 0)2 + √ (x+ c)2 + y2 = 2a. A última equação pode ser escrita como √ (x+ c)2 + y2 = 2a− √ (x− c)2 + (y − 0)2. Agora elevando ao quadrado ambos os membros da igualdade vamos encon- trar que 4a2 − 4a √ (x− c)2 + y2 + (x− c)2 + y2 = (x+ c)2 + y2. Desenvolvendo os quadrados, temos 4a2 − 4a √ (x− c)2 + y2 + x2 − 2cx+ c2 + y2 = x2 + 2cx+ c2 + y2. Cancelando as parcelas iguais e somando −4a2 +2cx a ambos os mem- bros da igualdade, obtemos −4a √ (x− c)2 + y2 = 4cx− 4a2. Cancelando o fator comum, temos −a √ (x− c)2 + y2 = cx− a2. Elevando ao quadrado ambos os membros desta igualdade, temos a2((x− c)2 + y2) = c2x2 − 2a2cx+ a4. Desenvolvendo o lado esquerdo desta igualdade, obtemos a2x2 − 2a2cx+ a2c2 + a2y2 = c2x2 − 2a2cx+ a4. Somando −c2x2 + 2a2cx − a2c2 a ambos os membros desta igualdade, reescrevemos a equação como (a2 − c2)x2 + a2y2 = a4 − a2c2 = a2(a2 − c2), Como a > c > 0, temos que a2 > c2. Assim, a2 − c2 é um número real positivo e podemos escrevê-lo como o quadrado de um número real b > 0, logo b2 = a2 − c2. Observe que b < a. A equação anterior se reescreve como b2x2 + a2y2 = a2b2 que, dividindo por a2b2 6= 0, é equivalente a x2 a2 + y2 b2 = 1, onde c2 = a2 − b2. Esta equação é chamada equação reduzida da elipse. 203 CEDERJ Equações quadráticas – continuação Observe a representação gráfica da elipse na Figura 13.3 e acompanhe através das notas o destaque de pontos relevantes. x y B1 F1 A2 B2 F2 A1 Figura 13.3: Elipse: eixos maior e menor, focos e vértices. Notas 1. Os pontos A1 = (a, 0) e A2 = (−a, 0) pertencem à elipse. Basta subs- tituir os pontos na equação reduzida da elipse para confirmar. Estes pontos representam a interseção da elipse com o eixo 0x. O segmento A1A2 é dito o eixo maior da elipse e estes pontos são denominados vértices. 2. Os pontos B1 = (0, b) e B2 = (0,−b) pertencem à elipse. Uma substituição direta destes pontos na equação da elipse confirma esta afirmação. Estes pontos representam a interseção da elipse com o eixo 0y. O segmento B1B2 é o eixo menor da elipse. 3. Observe que os focos da elipse estão sobre o eixo maior A1A2. 4. Na construção para obter a equação reduzida da elipse os focos foram colocados sobre o eixo 0x e deste modo o eixo maior da elipse fica sobre o eixo 0x, enquanto que o eixo menor fica sobre o eixo 0y. A equação da elipse tem a forma x2 a2 + y2 b2 = 1, onde a > b > 0. Neste caso o eixo maior da elipse tem comprimento 2a, enquanto que o eixo menor tem comprimento 2b. 5. Por outro lado, é posśıvel realizar o mesmo desenvolvimento de modo que os focos fiquem sobre o eixo 0y e evidentemente o eixo 0x encon- trando perpendicular o segmento focal F1F2 no ponto médio. Nesta CEDERJ 204 Equações quadráticas – continuação MÓDULO 2 - AULA 13 situação o eixo menor da elipse fica sobre o eixo 0x, enquanto que o eixo maior fica sobre o eixo 0y. A equação da elipse tem a forma x2 a2 + y2 b2 = 1 onde b > a > 0. Neste caso o eixo maior da elipse tem comprimento 2b, enquanto que o eixo menor tem comprimento 2a. Exemplo A equação x2 4 + y2 9 = 1 representa uma elipse cujos eixos maior e menor medem, respectivamente, 3 e 2 e possuem os eixos coordenados como eixos de simetria. Veja a Figura 13.4, representando esta elipse. x y -3 3 -2 2 Figura 13.4: A elipse x2 4 + y2 9 = 1. Mudança de coordenadas Considere a elipse trabalhada no último exemplo, cuja equação é x2 4 + y2 9 = 1 e o gráfico está representado na Figura 13.4. Considere um novo sistema de coordenadas uov obtido do sistema x0y por translação de modo que o = (−1, 3), com estas coordenadas referidas ao sistema x0y. Então como conhecemos, a mudança de coordenadas funciona com { x = u− 1 y = v + 3 Substituindo estas novas coordenadas na equação da elipse encontramos que (u− 1)2 4 + (v + 3)2 9 = 1 ⇔ 9(u− 1)2 + 4(v + 3)2 = 36. 205 CEDERJ Equações quadráticas – continuação Desenvolvendo encontramos que 9u2 + 4v2 − 18u+ 24v + 9 = 0 é a equação quadrática que representa a elipse no novo sistema de coordena- das. Acompanhe este trabalho como representado na Figura 13.5. x y -3 3 -2 2 v u -1 (-1,3) Figura 13.5: Mudança de coordenadas na equação da elipse. Nota O ćırculo pode ser considerado como uma elipse degenerada, isto é, uma elipse com os eixos maior e menor com o mesmo comprimento. Considere a equação da elipse x2 a2 + y2 b2 = 1 e o caso limite, onde oscomprimentos dos eixos coincidem. Ou seja, a = b. Com esta condição encontramos que x2 + y2 = a2 que é uma equação quadrática e representa um ćırculo de raio r = a e centrado na origem. Exemplo. Considere a equação x2 + y2 − 4 = 0, a qual representa um ćırculo de raio r = 4 e com centro na origem 0 = (0, 0). Veja que podemos escrever a equação na forma x2 + y2 = 4 ⇔ x2 22 + y2 22 = 1, que é uma “elipse degenerada” cujos eixos maior e menor medem 2. CEDERJ 206 Equações quadráticas – continuação MÓDULO 2 - AULA 13 A hipérbole Do ponto de vista estrutural, uma hipérbole tem uma definição geomé- trica muito similar à da elipse. O ponto de partida são dois pontos fixos do plano denominados focos da hipérbole e de uma medida m menor que a distância entre estes pontos. Aqui m é um número positivo. Se como de costume denotarmos por d(F1, F2) a distância entre os pontos, a condição que acabamos de estabelecer prescreve que d(F1, F2) > m. A hipérbole é então por definição o conjunto dos pontos P = (x, y) do plano tal que o valor absoluto da diferença entre a distância de P até F1 e a distância de P até F2 é igual a m. Em outras palavras fixados F1 e F2 e uma medida m maior que a distância entre estes pontos, a equação da elipse é definida pela condição geométrica |d(P, F1)− d(P, F2)| = m. Na linguagem de conjuntos, se α é um plano, então, em termos de conjunto de pontos, hipérbole = {P ∈ α; |d(P, F1)− d(P, F2)| = m}. Veja na Figura 13.6, a representação no plano α de uma hipérbole de focos F1 e F2. y xA1F1 F2 B2 B1 A2 Figura 13.6: Hipérbole do focos F1 e F2. Do mesmo modo como procedemos para o caso da elipse, podemos encontrar a equação reduzida da hipérbole se escolhermos um par de eixos adaptado. Assim se o eixo 0x contém os focos, de modo que a origem do eixo 207 CEDERJ Equações quadráticas – continuação coincida com o ponto médio do segmento focal F1F2 e de modo que o foco F1 fica na parte positiva do eixo 0x e o eixo 0y encontra o segmento focal no ponto médio. Se 2c é a distância entre os focos e escrevendo m = 2a, então por construção como os focos estão sobre o eixo 0x, encontramos que F1 = (c, 0) e F2 = (−c, 0), onde c > 0. Também, a t́ıtulo de simplificar a equação escrever a distância m < d(F1, F2) como m = 2a, onde a > 0. Assim, se P = (x, y) é um ponto arbitrário da elipse, temos que |d(P, F1)− d(P, F2)| = m⇔ ∣ ∣ ∣ √ (x− c)2 + (y − 0)2 − √ (x− (−c))2 + y2 ∣ ∣ ∣ = 2a ⇔ √ (x− (−c)2 + (y − 0)2 − √ (x− c)2 + (y − 0)2 = ±2a ⇔ √ (x+ c)2 + y2 − √ (x− c)2 + y2 = ±2a ⇔ √ (x+ c)2 + y2 = ±2a+ √ (x− c)2 + y2. Elevando ao quadrado ambos os membros da última igualdade, obtemos (x+ c)2 + y2 = 4a2 ± 4a √ (x− c)2 + y2 + (x− c)2 + y2. Desenvolvendo os quadrados, temos x2 + 2cx+ c2 + y2 = 4a2 ± 4a √ (x− c)2 + y2 + x2 − 2cx+ c2 + y2. Cancelando as parcelas iguais e deixando apenas a raiz quadrada do lado direito, obtemos 4cx− 4a2 = ±4a √ (x− c)2 + y2. Dividindo por 4, temos cx− a2 = ±a √ (x− c)2 + y2. Elevando ao quadrado ambos os membros desta igualdade, temos c2x2 − 2a2cx+ a4 = a2(x− c)2 + y2 Desenvolvendo o lado direito desta igualdade, obtemos c2x2 − 2a2cx+ a4 = a2x2 − 2a2cx+ a2c2 + a2y2. CEDERJ 208 Equações quadráticas – continuação MÓDULO 2 - AULA 13 Somando 2a2cx−a4−a2x2−a2y2 a ambos os membros desta igualdade, reescrevemos a equação como (c2 − a2)x2 − a2y2 = a2c2 − a4 = a2(c2 − a2). Como 0 < a < c, temos a2 < c2. Assim, c2 − a2 é um número real positivo e podemos escrevê-lo como o quadrado de um número real b > 0, logo b2 = c2 − a2. Observe que b < c. Finalmente, a equação anterior se escreve como b2x2− a2y2 = a2b2 que, dividindo por a2b2 6= 0, é equivalente a x2 a2 − y2 b2 = 1, onde c2 = a2 + b2. Esta equação é chamada equação reduzida da hipérbole. A interpretação geométrica para a e b será relevante para desenhar o gráfico da hipérbole. Fazendo y = 0 nesta equação, obtemos x2 a2 = 1, que é equevalente a x2 = a2. Portanto, x = ±a e os pontos A1 = (−a, 0) e A2 = (a, 0) são pontos da hipérbole, chamados vértices. O segmento de reta A1A2 tem comprimento 2a e é chamado de eixo real ou transverso. Fazendo agora x = 0, obtemos y2 b2 = −1, uma equação não admite solução em números reais. Isto significa que o eixo y e a hipérbole não se intersectam. A origem O é chamada de centro da hipérbole. Os pontos B1 = (0,−b) e B2 = (0, b) não estão na hipérbole, mas desempenham um papel importante para traçar o seu gráfico. O segmento de reta B1B2 tem comprimento 2b e é chamado eixo imaginário da hipérbole. Não se esqueça que os focos da hipérbole estão situados no eixo x e são F1 = (−c, 0) e F2 = (c, 0). As retas verticais passando por A1 e A2 e as retas horizontais passando por B1 e B2 determinam um retângulo de vértices C,D,E e F cujas diago- nais passam pela origem e têm equações y = ± b a x, chamadas asśıntotas da hipérbole. As asśıntotas da hipérbole têm a seguinte propriedade: um ponto da hipérbole muito afastado do centro O está a uma distância muito pequena (próxima de zero) da asśıntota. Na prática, isto significa que o desenho do gráfico da hipérbole se aproxima da asśıntota quando o ponto da hipérbole se afasta do centro, conforme a Figura 13.7. 209 CEDERJ Equações quadráticas – continuação y xA1F1 F2 B2 B1 C D EF A2 Figura 13.7: Desenho das asśıntotas da hipérbole. Mais precisamente: (1) Pontos da hipérbole do primeiro e terceiro quadrantes com |x| muito grande estão próximos de y = b a x. (2) Pontos da hipérbole do segundo e quarto quadrantes com |x| muito grande estão próximos de y = − b a x. Exemplo A equação x2 − y2 = 1, representa uma hipérbole, cujos eixos medem 1 e as bissetrizes dos eixos coordenados são as asśıntotas. Veja a Figura 13.8, representando esta hipérbole. y x10-1 1 -1 Figura 13.8: A hipérbole x2 − y2 = 1. CEDERJ 210
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