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Analogias e exemplos. Eu costumo dar exemplos quando escrevo. Talvez pelo hábito das aulas, pareceme que tornam a exposição mais clara do que falar apenas em abstracto. Infelizmente, há quem confunda argumentos que contém exemplos com argumentos por analogia. Até agora não dei importância a isso. Mas o Desidério sabe com certeza a diferença e se isto lhe fez confusão o problema é mais sério. Se não deixo clara a estrutura do meu argumento também não se vai perceber o conteúdo. Por isso acho melhor esclarecer. Vou começar, como gosto, por dar exemplos. Mas espero desta vez deixar claro que não estou a argumentar por analogia. Considerem estes dois argumentos: A árvore é um ser vivo. Tem metabolismo e reproduzse. O ser humano também. Nisto são semelhantes. Ora se são semelhantes nestas coisas e a árvore cresce podemos concluir que o ser humano também cresce. A Ana gosta de Mozart, chocolate e de fazer ski. O João também. Como têm estes gostos semelhantes e a Ana gosta de gelados provavelmente o João também gostará. Estes argumentos estabelecem uma semelhança entre dois casos e inferem da semelhança de certos atributos que os dois casos serão também semelhantes noutro. A premissa implícita é que serem semelhantes numas coisas implica que serão na outra. É esta premissa implícita que os torna argumentos por analogia. Considerem agora estas variantes: Todos os seres vivos crescem. (A árvore, por exemplo, é um ser vivo. Tem metabolismo, reproduzse, e cresce.) O ser humano também é um ser vivo e, por isso, o ser humano também cresce. As pessoas que crescem juntas, como a Ana e o João, tendem a partilhar muitos gostos. (Por exemplo, a Ana e o João gostam de Mozart, chocolate e de fazer ski.) Por isso se a Ana gosta de gelados provavelmente o João também gostará. Estes argumentos partem de uma afirmação geral, como todos os seres vivos crescem, e da premissa que este é um caso particular, como o ser humano é vivo, e inferem daí o que a regra implica. O ser humano cresce. Coloquei entre parênteses os exemplos para mostrar que não são essenciais à inferência; a árvore apenas ajuda a perceber a premissa. O argumento é simplesmente que os seres vivos crescem e o ser humano é vivo por isso cresce. É muito diferente de um argumento por analogia onde se infere uma semelhança por haver outras semelhanças. A confusão do Desidério foi esta: «O outro argumento é o do jardineiro. O Ludwig está sempre a argumentar por analogia a favor do seu ponto de vista, mas as suas analogias raramente são procedentes.» (1) No meu argumento (2) propus que a melhor forma de remunerar a prestação de serviços difere da melhor forma de remunerar a produção de bens materiais. Como esta premissa é muito abstracta dei o exemplo do agricultor e do jardineiro. Propus também que o autor é um prestador de serviços e não um produtor de bens materiais, e destas duas premissas concluí que não é boa ideia remunerar o autor à peça ou ao quilo. A analogia entre o autor e o jardineiro não é relevante para a inferência. Apenas ilustra a premissa. Este não é um argumento por analogia e é fácil ver que sem o agricultor e o jardineiro a estrutura do argumento é mesma. Mesmas premissas, mesma inferência, mesma conclusão. Há mais coisas a dizer acerca do post do Desidério, e também do post convidado do Álvaro Santos Pereira (3). Mas isso fica para um próximo episódio. Talvez entretanto eles releiam o que eu escrevi e http://ktreta.blogspot.com.br/2008/03/analogias-e-exemplos.html reconsiderem. 1 Desidério Murcho, 13308,O jardineiro digital 2 Produtos e serviços 3 Álvaro Santos Pereira, 12308, A utopia do custo zero http://dererummundi.blogspot.com/2008/03/o-jardineiro-digital.html http://ktreta.blogspot.com/2008/03/produtos-e-servios.html http://dererummundi.blogspot.com/2008/03/utopia-do-custo-zero.html
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