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Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Antibióticos beta-lactâmicos VISÃO GERAL Pertencem a maior classe de antibióticos e mais amplamente prescrita Eles inibem a síntese da parede celular bacteriana Mais de 30 fármacos estão disponíveis atual- mente, variando quanto a estrutura química e ao espectro de ação Estrutura básica Anel beta-lactâmico ligado a uma função ácida – grupo farmacofárico (região necessária para que a substância tenha atividade farmacológica) Exemplos Penicilinas (associadas a um anel de 5 membros) Cefalosporinas (associadas a um anel de 6 mem- bros) Monobactâmicos (apenas o anel beta-lactâmico) Carbapenêmicos (anel de 5 membros) Ácido clavulânico (inibe as betalactamases) BACTÉRIAS GRAM+ E GRAM- Gram + – tem uma parede celular espessa e rica em peptideoglicanos, beta-lactamases podem es- tar externamente, na sua membrana plasmática pode ser observadas proteínas de ligação das pe- nicilinas Gram - – tem uma estrutura mais requintada, tendo uma membrana interna e externa interca- ladas por peptideooglicanos que formam uma fina parede celular, próxima a essa parede pode ser observada e beta-lactamases, na membrana ex- terna podem ser observadas porinas que servem como via de efluxo ou entrada de fármacos e li- popolissacarídeos (LPS) que dão às bactérias ca- ráter antigênico (importante para induzir uma resposta do hospedeiro), a membrana plasmática interna ainda possui proteína de ligação das peni- cilinas BIOSSÍNTESE DOS PEPTIDEOGLICANOS Envolve mais de 30 enzimas bacterianas Dividida em 3 estágios Primeiro (intracelular) – síntese de monôme- ros de peptideoglicanos (N-acetilglicosamina e N-acetilmurâmico) Segundo (membrana citoplasmática) – trans- locação e polimerização dos monômeros de peptideoglicanos em polímeros lineares Terceiro (extracelular ou espaço periplasmá- tico) – finalização das ligações cruzadas dos polímeros de peptideoglicanos (transpepti- dase, enzima finalizadora que é alvo dos beta- lactâmicos) Desestabilização das paredes é potencialmente letal às bactérias MECANISMO DE AÇÃO DOS BETA- LACTÂMICOS A parede celular fica frágil sem a formação das pontes cruzadas, assim elas não conseguem su- portar a pressão interna das bactérias, havendo Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA assim o rompimento da bactéria (fármacos bac- tericidas) Para se multiplicar as bactérias precisam produ- zir mais parede celular, aí que os beta-lactâmicos atuam O beta-lactâmico entra no sítio ativo da trans- peptidase como se fosse o resíduo terminal D- Ala-D-Ala e se liga estavelmente a ela através da quebra do anel beta-lactâmico, assim a cadeia peptídica formadora da parede celular não con- segue se ligar ao sítio que está bloqueado Quando se trata de bactérias gram- é necessário atravessar a membrana externa para exercer sua ação O espectro de ação é determinado pelo grau de penetração na membrana externa e na parede celular para alcançar a transpeptidase (peptide- oglicanos são hidrofílicos) e pela capacidade de se ligar a transpeptidase MECANISMO DE RESISTÊNCIA Produção de proteína de ligação das pe- nicilinas alteradas São de alto peso molecular e baixa afinidade ao antibiótico Algumas são intrinsecamente resistentes e po- dem disseminar seus genes por recombinação Incapacidade do fármaco entrar no seu local de ação O número e tamanho dos poros da membrana externa podem ser reduzidos Bombas de efluxo ativo Beta-lactamases Enzimas que destroem os beta-lactâmicos EFEITOS ADVERSOS COMUNS NA TERAPIA Reações de hipersensibilidade – proteínas intera- gem com o anel beta-lactâmico e acabam gerando respostas imunológicas (anafilaxia, urticária, sín- drome de Steven-Johnson, doença do soro, febre medicamentosa, anemia hemolítica autoimune in- duzida pelo fármaco) PENICILINAS Um dos primeiros antibióticos a serem descober- tos sendo de vasta importância na farmacologia e na medicina Estrutura O radical R varia o espectro, a sensibilidade a ácidos (a natural é degradada por ácido) e beta-lactamases e propriedades farmacoci- néticas Aspectos farmacocinéticos São rapidamente absorvidas por via parenteral Devem ser administradas antes das refeições em caso de via oral exceto a amoxicilina Ampla distribuição nos fluidos corporais e ósseos Não penetram nas células de mamíferos por se- rem hidrofílicas, bactérias intracelulares, dessa forma também não são atingidas Não penetram facilmente na BHE, exceto em caso de meningite, mas concentrações tóxicas no cérebro (meningite, por exemplo) pode causar convulsões relacionadas aos receptores gabaA que podem ser bloqueados Atravessam a barreira placentária e podem ser encontradas no leite São eliminadas na forma ativa principalmente na urina Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Interações medicamentosas Heparina ou anticoagulantes orais + penicilina em doses altas -> efeitos hemostáticos e alteração da coagulação Beta bloqueadores+ penicilina -> aumenta o risco de gravidade das reações anafilactoides (bronco- constrição) Anticoncepcionais orais com estrogênio + penici- lina -> reduz a ação contraceptiva (o estrogênio precisa do ciclo êntero-hepático que pode ser al- terado com a alteração da microbiota) Deve haver cuidado com fármacos nefrotóxicos, pois o medicamento é excretado pelos rins Ácido valproico + piperacilina -> redução da biodis- ponibilidade do ácido valproico (anticonvulsivante) Classificação Naturais e seu derivado fenoximetilpenicilina – penicilina G e penicilina V Penicilina resistentes a beta-lactamases – oxaci- lina, nafcilina, cloxacilina, dicloxacilina Penicilinas de amplo espectro Aminopenicilinas – ampicilina, amoxicilina Penicilinas antipseudomonas Carboxipenicilinas – carbenicilina e ticarcilina Ureidopenicilina – piperacilina Penicilina natural ou benzilpenicilina Cadeia lateral substituída por um benzil Comercializada em três formas Penicilina G potássica (cristalina) – administra- ção IV e IM Penicilina G benzatina – administração IM (21 dias) Penicilina G procaína – administração IM Instáveis em meio ácido – em meio ácido o esque- leto se rearranja o esqueleto rompendo o anel beta-lactâmico, não podendo ser utilizada por via oral Inativada em meio aquoso, assim as preparações aquosas da penicilina só podem acontecer no mo- mento da administração Sofrem a ação das beta-lactamases (o benzil não consegue proteger o anel principal) Uso terapêutico Infecções por estreptococos, meningococos, enterococos, pneumococos e estafilococos não produtores de beta lactamases Infecções por espiroquetas (como o Trepo- nema pallidum que causa sífilis), bastonetes G+ e microrganismos anaeróbios G- não produto- res de beta-lactamases Fenoximetilpenicilina Penicilina V O radical benzil é substituído por um fenoximetil Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA A presença do oxigênio evita o rearranjo em meio ácido, o oxigênio age como grupo retirador de elé- trons, podendo assim ser administrado por via oral Tem o espectro de ação inferior ao das Benzil- penicilina Ambas tem absorção rápida, mas o alimento pode interferir na absorção da fenoximetilpenicilina O tempo de meia vida é de 30 min (curto) sendo necessário montar estratégia de prolongar a permanência no corpo Co-administração de probenecida que reduz a secreção tubular Administração em preparações em depósito, associação da Benzilpenicilina com a procaína ou benzatina formando sais que possuem baixa hidrossolubilidade, a administração é em veículo oleoso e a liberação no corpo é bem lenta Uso terapêutico semelhante as da penicilina G Penicilinas resistentes à beta-lactama- ses Resistentes às penicilinases estafilocóccicas O protótipo foi a meticilina não mais usada,foi substituída pela oxacilina Possuem grupos volumosos ligados diretamente à carbonila amídica da cadeia lateral, o que causa impedimento estérico na interação com as beta- lactamases (o radical fica mais próximo ao anel beta-lactâmico protegendo-os) No Brasil a única representante é a oxacilina Tem importância no uso nas cepas sensíveis a meticilina (MSSA), portanto é bom pesquisar a cepa para não ser uma resistente a meticilina (MRSA) É superior a vancomicina no tratamento de infec- ções por MSSA (a vancomicina atua nas cepas resistentes) É utilizada por via intravenosa, podendo em infec- ções mais leves ser utilizada medicamentos por via oral Guardar a oxacilina para infecções hospitalares com cepa MSSA Tem atividade antimicrobiana menos potente con- tra microrganismos sensíveis a penicilina G Indicação reservada apenas para cepas de S. au- reus e S. epidermidis sensíveis à meticilinas, não é ativa contra cepas de listeria monocytogenes e espécies de enterococcus (espectro de ação res- trito) Quando o antibiograma mostra que a cepa de S. aureus é resistente a oxacilina infere-se que é resistente a todos os demais beta-lactâmicos, in- cluindo cefalosporina e carbapenêmicos Penicilinas de largo espectro AMINOPENICILINAS Criados na intenção de aumentar o espectro de atuação – aqui várias bactérias G- são atingidas Não se enquadram como grupamentos volumosos no radical – atuação limitada contra bactérias produtoras de beta-lactamases Estáveis em meio ácido podendo ser utilizada por via oral Tem o grupamento amina hidrofílico que facilita a penetração nas porinas e assim são medicamen- tos com mais ação contra bactérias G- A ampicilina, o alimento interfere na absorção, é menos absorvida no TGI, tendo assim maior inci- dência de diarreia (descompensa a microiota) A amoxicilina o alimento não interfere na absor- ção, é completamente absorvida no TGI e a inci- dência de diarreia é menor Indicações terapêuticas Infecções das vias respiratórias superiores (S. pyogenes, S. pneumoniae, H. influenza) Infecções do trato urinário (geralmente cau- sadas por E. coli) Meningite (S. pneumoniae, N. meningitidis, L. monocytogenes) – o tratamento empírico é a combinação de ampicilina, vancomicina e cefa- losporina de terceira geração Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Infecções por salmonela – doenças associa- das a bacteremia, doenças com focos metas- táticos e síndrome de febre entérica pode- se utilizar doses altas de ampicilina Penicilinas antipseudomonas CARBOXIPENICILINAS Representante é a ticarcilina Apresenta atividade contra pseudomonas e pro- teus indolpositivos, mas ineficaz contra o S. au- reus, E. fecalis, Klebisiella e L. monocytogenes Sofrem a ação de beta-lactamases devendo ser utilizada junto a inibidores de beta lactamases em cepas resistentes UREIDOPENICILINAS Representante é a piperaciclina Apresenta um maior espectro antibacteriano Também pode ser utilizada junto com um inibidor de betalactamases Penicilina com inibidores de beta-lacta- mases As beta-lactamases são os meios mais comum e eficiente da bactérias se protegerem Os inibidores são suicidas, pois possuem um anel beta-lactâmico mais suscetível à beta-lactamase Exemplos Ácido clavulônico Sulbactam Tazobactam Modificações nas beta-lactamases aumentam a resistência CEFALOSPORINA Fármacos mais estáveis a destruição do anel beta-lactâmico do que as penicilinas São ativas contra bactérias G+ e G- Mais resistentes à hidrolise ácida e às beta-lac- tamases Estrutura com anel A diferente Alterações em R1 alteram o espectro bacte- riano, alterações em R2 alteram a farmaco- cinética Histórico A primeira cefalosporina descoberta foi isolada em 1948 de culturas de Cephalosporium acremo- nium, sendo essa a cefalosporina C Propriedades farmacocinéticas Atravessam a barreira placentária São encontradas nos líquidos sinoviais e pericárdio São excretadas principalmente pelos rins Interações medicamentosas Agentes bacteriostáticos + cefalosporinas -> re- duz a ação bactericida Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Medicamentos nefrotóxicos ou diuréticos de alça + cefalosporinas -> aumentam o risco de nefro- toxicidade Cefalosporinas semissintéticas Classificadas em função do espectro de atividade antibacteriana 1ª geração – Cefazolina, cefalotina, cefale- xina, cefradina, cefadroxila 2ª geração – Cefocitina, cefuroxima, cefa- clor 3ª geração – Cefotaxima, ceftriaxona, cef- tazidima 4ª geração – Cefepima 5ª geração – cetarolina e ceftobiprole Primeira geração é melhor contra G+ e atividade moderada contra G- Segunda geração em diante vai aumentando a ati- vidade contra aeróbios G- 2ª 3ª 4ª 5ª Não apresenta ação contra bactérias intracelula- res (Chlamyddia, Legionella) e desprovidas de pa- rede celular (Mycoplasma) BETA-LACTÂMICOS NÃO CLÁSSICOS Carbapenéns Possui um anel beta-lactâmico e um anel de cinco membros diferente da penicilina com o espectro de ação ampliado Originários de Streptomyces sp -> tienamicnina Exemplos originários de alterações estruturais: imipenem, doripenem, ertapenem Características Uso exclusivamente hospitalar (via intrave- nosa) Amplo espectro (G+, G-, pseudomonas e ana- erórbios) Resistentes a várias beta-lactamases Não são efetivos contra MRSA, VER, Legio- nella, K.. pneumoniae, Clostridium difficile são resistentes a esses fármacos Penetram nos tecidos e líquidos corporais in- clusive no LCR A depuração é por via renal e o imipenem é inativado por via renal (por isso ele é adminis- trado com a cilastatina, que inibe a sua enzima de inativação) Indicados no tratamento de infecções nosocomi- ais/hospitalares moderadas a grave, em geral polimicrobianas ou por bactérias resistentes a ou- tros antimicrobianos, é o tratamento de escolha infecções por bactérias G- produtores de beta- lactamases de amplo espectro Ertapenem não é ativo contra a P. aeruginosas e Acinetobacter sp. Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Não devem ser utilizadas na primeira escolha de tratamento empírico de infecções comunitárias ou hospitalares para evitar processos de resis- tência As reações adversas são (principalmente ao imi- penem) são náuseas, vômitos, diarreias, erupções cutâneas e em concentrações altas convulsões Interações medicamentosas Diminui a biodisponibilidade de ácido valproico Imipenem e cilastatina devem ser misturados isolados de outros fármacos ou aminoglicosí- deos (risco de inativação) Monobactâmicos Representado pelo Aztreonam Espectro de ação restrito a microrganismos G- aeróbios Pacientes alérgicos a penicilina toleram o Aztreo- nam por ser um beta-lactâmico não clássico Resistente a ação de muitas beta-lactamases produzidas por G- (exceto pela Klebsiella pneumo- niae produtora de carbapenemases – KPC0) Não absorvido por VO (exclusivo para hospital) Excreção renal Posologia de 2 g a cada 6-8 horas
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