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Doenças associadas à diferentes moléculas (doenças moleculares): Erros inatos do metabolismo (IEMs) – Características gerais: Doenças genéticas que afetam o funcionamento normal de proteínas envolvidas nas reações químicas que ocorrem como parte de um processo contínuo de degradação e renovação de moléculas necessárias ao funcionamento do organismo; Maioria autossômicas recessivas; Quanto mais rápida for descoberta, menos os efeitos deletérios da doença; São doenças raras se consideradas isoladas; Classificação: Doenças do metabolismo de aminoácidos: Eixo que envolve enzimas específicas e dependendo da forma que estes aminoácidos estão armazenados eles não são metabolizados e geram complicações; No caso da fenilcetonúria existe um problema em uma enzima que ela não atua de uma forma correta na conversão da fenilalanina em tirosina; Esse defeito genético ocorre por meio de um gene alterado que influencia na atividade da enzima e aquilo que a gente absorve da dieta, no caso o aminoácido fenilalanina, ele não é convertido em tirosina e essa tirosina pode ser utilizada para várias coisas, como produção de hormônios (hipotireoidismo), pigmentação da pele, etc. Classificação fisiopatológica: Não é simplesmente dizer, por exemplo, que uma mutação altera uma enzima e provoca seu mau funcionamento; O que acontece quando a enzima não funciona? Quais são as consequência metabólicas desta anormalidade? Como isso se traduz de fato em sintomas para o paciente? Suspeitando de erros inatos do metabolismo: História: Sintomas acompanham o início / mudanças na dieta; Crianças com convulsões; Atraso no desenvolvimento; Vômitos recorrentes; Odor incomum de urina; Consaguinidade dos pais; Problemas sugestivos de erro inato, como retardamento ou mortes inexplicadas em parentes de primeiro e segundo grau. Clínica (diagnóstico diferencial – considerar IEM): Recém-nascidos criticamente doentes; Neurodegeneração; Retardo mental; Fácies grossas / características dismórficas; Doença hepática; Cardiomiopatia (insuficiência cardíaca); Acidose inexplicada; Opacidade da córnea, catarata ou deslocamento da lente; Hipoglicemia persistente. Doenças do metabolismo de aminoácidos: Fenilcetonúria: Doença autossômica recessiva, descoberta em 1934; Incidência: Brasil – 1:15.849 (2001) e 1:24.780 (2002); Causa: mutação na enzima fenilalanina hidroxilase (PHA); Consequência: deficiência de tirosina (L-dopa, dopamina, norepinefrina e epinefrina); aumento de fenilalanina (compete com outros aminoácidos na barreira hematoencefálica); aumento de fenilalanina desviada para outras rotas (fenilcetonas – urina); O papel desta enzima é converter o aminoácido (fenilalanina) que vem da dieta em tirosina; Esse aminoácido em excesso é tóxico, pois tem uma competição com outros aa no SNC; Essa enzima utiliza um cofator que é a tetra- hidrobiopterina, onde a causa da fenilcetonúria a maioria está envolvida na enzima fenilalanina hidroxilase, mas também existem problemas neste cofator. Esse cofator é importante, pois a enzima precisa de grupos funcionais do tetra-hidrobiopterina, onda uma vez que ele está ausente, a fenilalanina tem um prejuízo funcional; Diferentes mutações específicas para cada povo; Essa variedade de mutações no gene dessa enzima faz com que se tenha indivíduos com fenilcetonúria na maioria dos casos indivíduos heterozigotos composto (2 ao mesmo tempo, por exemplo) – diferentes alelos que contribuem para a formação do genótipo desse indivíduo, tendo como consequência uma diversidade fenotípica que envolve a fenilcetonúria; Têm-se mutações que tem maior ou menor impacto na função da fenilalanina hidroxilase (mutações mais agressivas do que outras); Heterogeneidade alélica heterozigoto composto diversidade fenotípica; O fato de se encontrar homozigotos talvez com dois alelos faz com se tenha indivíduos com características fenotípicas diferentes. Uma vez que se tenha essas condições genéticas e sabendo quais são os alelos responsáveis por produzir a fenilcetonúria é possível direcionar terapia farmacológica específica; Homozigotos fenótipos diferentes farmacogenômica. Classificação de acordo com o percentual de atividade enzimática: PKU clássica: atividade da fenilalanina hidroxilase praticamente inexistente, menor que 1% e, consequentemente, níveis de fenilalanina plasmática > 20 mg/dL; PKU leve: atividade da enzima entre 1% e 3%, fenilalanina de 10 a 20 mg/dL; Hiperfenilalaninemia transitória ou permanente: enzima > que 3%, levando a níveis de fenilalanina entre 4 a 10 mg/dL. Condição benigna; Hiperfenilalaninemias atípicas (1-3% do total): causadas por deficiência do tetrahidropterina (BH4) – existem outras hidroxilases que dependentes dessa molécula; afetados tem um prognóstico pior porque apresentam um quadro clínico mais grave. Diagnóstico clínico: Dano neurológico com retardo mental microcefalia, retardo na fala, convulsões, distúrbios do comportamento, irritabilidade, hipopigmentação cutânea, eczemas e odor de rato na urina (quando o teste neonatal não consegue diagnosticar); Rastreamento neonatal: entre 2 e 5 dias do nascimento (após 48h) – quanto antes for feito o diagnóstico, melhor; Diagnóstico: níveis de fenilalanina > 10mg/dL (duas amostras de sangue retiradas do calcanhar). Tratamento: Dieta com baixo teor de fenilalanina (permitir o crescimento e desenvolvimento normal); Dieta hipoproteíca, porém a com a suplementação de aa isenta de fenilalanina; Dieta 250-500 mg de fenilalanina/dia vs. indivíduo não fenilcetonúrico: 2.500 mg de fenilalanina/dia. Pacientes com defeito no cofator tetra-hidrobiopterina suplementação com um medicamento chamado dicloridrato de sapropterina que tenta suprir a defasagem deste cofator (existem enzimas que auxiliam na produção desse cofator – PCD, DHPR); Hipotireoidismo congênito: A criança nasce com uma disfunção na tireoide; Os hormônios são produzidos pela tireoide e atuam praticamente em todas as células do nosso corpo (sinalizam síntese proteica, etc); Se tivermos algum problema nesses hormônios todo o metabolismo dependente dessa sinalização hormonal será afetado; Para que sejam formados T3 e T4 é necessário um precursor que é a tiroglobulina. Ela precisa principalmente da ingesta de iodo (transportador a base de sódio e iodo que adentra as células foliculares da tireoide e passa por várias enzimas de oxidação), onde esses íons de iodo são conjungados formando os hormônios de interesse que seriam secretados da tireoide para a circulação sistêmica; Hipotireoidismo congênito: produção de T3 e T4 é deficiente; Incidência: 1:2.595 a 1:4.795; Causa 85% dos casos são defeitos na formação da tireoide embriogênese (disginesia tireoidiana); 30-45% ectopia; 35-45% agenesia (atrofia); 5% hipoplasia; 15% dos casos disormonogênese decorrente de mutações em genes que reduzem T4 (tiroxina) – problemas no transportador de iodo-sódio; tireoperoxidase; tireoglobulina; iodotirosina deiodinase; Genes: NIS, TPO, PDS, TG, IYD, DUOX2, DUOXA2; Classificação da doença: Primária: quando a falha ocorre na glândula tireoide; Secundária: deficiência do hormônio estimulador da tireoide (TSH) hipofisário; Terciária: deficiência do hormônio liberador da tireotrofina (TRH) hipotalâmico; Resistência periférica à ação dos hormônios tireóideos. Crianças não triadas/tratadas: Hipotonia muscular, dificuldades respiratórias, cianose, icterícia prolongada, constipação, bradicardia, anemia, sonolência excessiva, livedo reticularis, choro rouco, hérnia umbilical, alargamentode fontanelas, mixedema, sopro cardíaco, dificuldade na alimentação com deficiente crescimento pôndero-estatural, atraso na dentição, retardo na maturação óssea, pele seca e sem elasticidade, atraso de desenvolvimento neuropsicomotor e retardo mental. Diagnóstico – Triagem neonatal: Coleta após 48 horas até o quarto dia de vida; Dosagem de TSH (TSHneo 5-20 uU/mL); Valores altos são convocados; Dosagem de T4 total e/ou livre no soro, quando necessária. Tratamento: Reposição dos hormônios tireóideos deficitários (levotiroxina sódica); Acompanhamento com avaliação hormonal, avaliações de crescimento e puberdade, além de testes psicométricos. Desenvolvimento físico e neuropsicomotor; Monitoramento laboratorial (T4 total, T4 livre e concentração de TSH). Doenças envolvendo o sistema de transporte: Fibrose cística ou mucoviscidose: Incidência: caucasianos – 1:3.000; Brasil (estudos regionais) – 1:7.000; Causas: proteína CFTR (Cystic Fibrosis Transmembrane Regulator) presente na membrana apical de células epiteliais (função de equilibrar a concentração de cloreto); Gene CFTR com 27 éxons (190 kb); MSD1 e MSD3: domínios com 12 segmentos = poro do canal de cloreto; NBD1 e NBD2: domínio de ligação de ATP; Domínio R: regulador; Causa: + 200 mutações no gene CFTR; Herança autossômica recessiva; Existem mutações graves, principalmente no sítio MSD1, relacionados com o transporte de cloro. Fisiopatologia da FC: Pulmões e pâncreas são os principais órgãos afetados: aumente da viscosidade do muco; A grande preocupação em pessoas que possuem mutações graves na fibrose cística é justamente na produção de muco pelos pulmões; Onde o muco espesso que possui diminuição em seu teor de água bloqueia as vias aéreas, aumenta a proliferação bacteriana, causando infecção crônica, lesão pulmonar e óbito por disfunção respiratória; Pâncreas, quando os ductos estão obstruídos pela secreção espessa, há uma perda de enzimas digestivas, levando à má nutrição; Fibrose pancreática que a maioria destes pacientes apresenta já ocorre no período intrauterino, levando a um refluxo das enzimas pancreáticas para a circulação; Bloqueio da reabsorção do cloro nas sudoríparas (suor hipertônico); Muitas crianças sem sinais ao nascimento; 5 a 10% dos pacientes afetados nascem com obstrução intestinal por mecônio; Esteatorreia, problemas respiratórios, dor abdominal recorrente, pancreatite recorrente, cirrose biliar, retardo no desenvolvimento somático. Diagnóstico: Avaliação em amostras colhidas em até 30 dias; Dosagem da tripsina imunorreativa < 70 ng/mL (normal); Se > 70 ng/mL, teste confirmatório; dosagem de cloreto no suor (teste do suor). Tratamento: Acompanhamento médico regular; Utilização de enzimas pancreáticas; Suplementação vitamínica (vitaminas A, D, E e K); Fisioterapia respiratória; Em presença de complicações infecciosas, é indicada a antibioticoterapia de amplo espectro; Esquema vacinal habitual, as crianças devem receber também imunização antipneumocóccica e anti-hemófilos. Classes de FC: Dependendo da mutação que existe neste gene, o efeito na proteína é diferente e as terapias variam de acordo com o defeito genético, existindo inclusive medicamentos. Doenças do metabolismo de esteroides: Colesterol (precursor); Glicocorticoides (ex.: cortisol); Mineralocorticoides (ex.: aldosterona); Androgênios (ex.: testosterona); Estrogênios (ex.: estradiol); O cortisol uma vez que se tem uma concentração suficiente na circulação ele atua como sinalizador do eixo hormonal para que os hormônios precursores sejam desligados, o problema é que na hiperplasia congênita da adrenal o fato de não ter a enzima 21-hidroxilase (CYP21) funcionando não haverá cortisol suficiente para sinalizar por feedback negativo os outros hormônios e eles continuam entendendo que não há cortisol suficiente e estarão sendo sinalizados para que continuem sendo sintetizados. Hiperplasia adrenal congênita: Incidência: 1:15.000; Doença autossômica recessiva; Causa: 95% das mutações em CYP21A2 (21-hidroxilase); 5% mutações 11-beta-hidroxilase; Cortisol é feedback negativo sobre o eixo hipotálamo- hipófise-suprarrenal, secreção continua do adrenocorticotrófico (ACTH) pela hipófise e estimulação crônica do córtex da glândula suprarrenal. Classificação das mutações: Grupo A: nenhuma atividade enzimática; Grupo B: 3 a 7% de atividade enzimática; Grupo C: 20-60% de atividade enzimática. Fenótipos: AA: forma perdedora de sal; BB ou AB: virilizante simples; CC ou AC ou BC: forma não clássica. Triagem neonatal: 17-hidroxi-progesterona (17-OHP) – muito elevado quer dizer que ele está em grande quantidade e não foi metabolizado; Seguido de testes confirmatórios no soro. Formas clínicas: - Clássica perdedora de sal: 75% dos casos; RN feminino: virilização da genitália externa (clitoromegalia, fusão labial e formação de seio urogenital); RN masculino: diferenciação normal da genitália externa; Deficiência de mineralocorticoide se manifesta precocemente (em geral a partir da segunda semana), com crise adrenal: depleção de volume, desidratação, hipotensão, redução de sódio e aumento de potássio e, se não tratada, pode evoluir para óbito. - Forma clássica não perdedora de sal (virilizante simples): Virilização pós-natal, caracterizada por clitoromegalia, aumento peniano, pubarca precoce, velocidade de crescimento aumentada e maturação óssea acelerada, resultando em baixa estrutura final; Sem deficiência mineralocorticoide. - Forma não-clássica (início tardio): Manifestações podem aparecer na infância, adolescência ou idade adulta; No sexo feminino, pode apresentar aumento discreto do clitóris, pubarca precoce, ciclos menstruais irregulares, hirsutismo e infertilidade; No sexo masculino, o quadro costuma não ser diagnosticado, alguns pacientes podem ainda ser assintomáticos. Doenças do metabolismo envolvendo vitaminas: Deficiência de biotinidase: Incidência: 1:9.000; Doença autossômica recessiva; Causa: mutações BTD (biotinidase); aprox. 200 mutações; Diagnóstico: quantificação da atividade da biotinidase; A biotina faz parte do complexo B e tem uma importância para vários ciclos de produção de diferentes compostos; Existem diferentes enzimas que participam no catabolismo de aminoácidos, metabolismo lipídico, gliconeogênese e que necessitam de biotina; Uma vez que essas enzimas (carboxilases) utilizam a biotina, a biotina não fica livre, ficando conjugada com um composto chamado biocitina, precisando da enzima biotinidase para ficar livre novamente; A enzima biotinidase é responsável por deixar livre a biotina no ciclo; Sem a atividade da enzima, não há biodisponibilidade de biotina para diversas outras enzimas. Classificação: Deficiência profunda de biotinidase: atividade enzimática menor que 10%; Deficiência parcial de biotinidase: atividade enzimática entre 10% e 30%. Clínica: A partir da sétima semana de vida, com distúrbios neurológicos e cutâneos (crises epilépticas, hipotonia, microcefalia, atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, alopecia e dermatite eczematoide); Diagnóstico tardio observam-se distúrbios visuais, auditivos, atraso motor e de linguagem. O que é o “Teste do Pezinho”? Nome popular para a coleta de sangue realizada por punção no calcanhar; Este sangue é embebido em papel filtro para ser analisado no laboratório; O nome correto é Triagem Neonatal; O Brasil é exemplo no Programa de Triagem Neonatal; Quem deve fazer o Teste do Pezinho? 100% dos recém-nascidos vivosdevem fazer a coleta para o teste; Por quê? Para identificarmos os que podem ter alguma das doenças investigadas; O Teste do Pezinho é só uma coleta de sangue? Não, ele faz parte do Programa Nacional de Triagem Neonatal – PNTN, que tem como objetivo triar, diagnosticar e tratar as crianças com algumas das doenças investigadas. A intervenção precoce visa evitar, reverter ou amenizar o processo da doença; Etapas do programa: coleta; processamento da amostra; reconvocação dos casos suspeitos; tratamento; e acompanhamento; O Serviço de Referência em Triagem Neonatal tem equipe especializada: assistente social, psicóloga, nutricionista, médico pediatra, médico endocrinologista pediatra, médico hematologista pediatra e médico geneticista. Coleta do Teste do Pezinho: Idade da coleta: ideal 3° ao 5° dia de vida para prevenção de alterações complicadoras das doenças; Não pode ser colhida antes de 48h da amamentação; O sangue deve ser enviado com brevidade para o laboratório de referência. O SUS oferece o Teste do Pezinho básico (galactosemia e toxoplasmose irão entrar).
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