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1 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo 1 – CONHECER AS PRINCIPAIS DOENÇAS DIAGNÓSTICADAS PELO TESTE DO PEZINHO (TERMOS DESCONHECIDOS): • HAC = Hiperplasia Adrenal Congênita (Diagnóstico Laboratorial: 17-OH-Progesterona neonatal) - HAC é um erro inato do metabolismo, que causa a falta de uma enzima, a 21 - Hidroxilase em 90 a 95% dos casos. A deficiência dessa enzima determina a insuficiência hormonal dos glicocorticóides e dos mineralocorticóides, o que causa a deficiência na síntese da aldosterona e o excesso dos andrógenos. - Caracteriza-se por produção deficiente de cortisol, acompanhada por excessiva produção de andrógenos adrenais. Na maioria dos casos, também existe deficiência de aldosterona, resultando na perda de sal, hipovolemia e choque Sintomas: - O conjunto de manifestações clínicas decorrentes dessas falhas hormonais, podem se manifestar sob três formas clínicas: forma clássica perdedora de sal (60% dos casos), forma clássica não perdedora de sal e a forma não clássica. - A forma perdedora de sal é a mais grave e causa nas meninas a virilização da genitália externa (malformação genital) e nos meninos, na fase tardia da doença, puberdade precoce (macrogenitossomia). - Os bebês de maior risco de morte são os meninos e meninas, nos quais a virilização da genitália não é identificada. - A deficiência dos hormônios mineralocorticoides causa a crise adrenal ou fase aguda da HAC. - O início dos primeiros sinais de adoecimento, já acontece nas primeiras semanas de vida desses bebês. As alterações mais frequentes são: desidratação grave, hipotensão, hiponatremia, hiperpotassemia e morte. - Na fase aguda da HAC, os sinais e sintomas causados pela desidratação não são os clássicos das desidratações por perdas comuns, mais frequentes na infância, como diarreia e vômitos. O bebê doente não ganha o peso esperado nas primeiras semanas de vida e mesmo desidratado não apresenta a boca seca, continua urinando normalmente e só altera o turgor da pele, na fase tardia da desidratação. - O conjunto de distúrbios hidroeletrolíticos da HAC associado à desnutrição aguda, determina uma instabilidade hemodinâmica extremamente grave, na qual só os tratamentos preconizados para as outras causas de desidratação, sem a reposição simultânea dos hormônios deficientes da HAC conduzem esses bebês a um quadro de choque hipovolêmico irreversível e morte. - A dosagem de 17-OH-progesterona é utilizada como forma de rastreamento neonatal através da Triagem Neonatal Biológica (teste do pezinho). Em neonatos, os valores dependem da idade gestacional ao nascimento, da idade de coleta do material para exame e do peso ao nascimento. - O uso de glicocorticoide antenatal pela mãe, devido a sua passagem transplacentária, pode suprimir a produção de 17-OH-progesterona no neonato, ocasionando resultados falso-negativos. - Os valores de referência para ponto de corte para rastreamento da HAC por deficiência de 21-hidroxilase variam de acordo com a metodologia, o peso ao nascimento e a condição clínica do recém-nascido. - Os valores da 17-OHP neonatal em um recém-nascido afetado pela forma perdedora de sal geralmente estão acima dos valores de referência; entretanto os pacientes com as formas virilizantes simples, em algumas situações, podem não ser diagnosticados pela triagem neonatal. - O objetivo prioritário da triagem para Hiperplasia Adrenal Congênita é a detecção precoce dos casos graves das formas clássicas, perdedoras de sal e virilizante simples. - A deficiência da enzima 21-hidroxilase é responsável por 95% dos casos de hiperplasia adrenal congênita (HAC-21). O tratamento consiste na reposição fisiológica de glicocorticoide, associado ou não a mineralocorticoide, visando à normalização da produção dos andrógenos. 2 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo - Quando o diagnóstico não é feito e a terapia não é instituída, tanto meninos como meninas evoluem com crescimento acelerado e desenvolvimento sexual precoce, além da possibilidade de morte pela crise de perda de sal. - Fluxograma da Triagem Neonatal Hiperplasia Adrenal Congênita por Deficiência da 21-Hidroxilase: - A HAC-21 é uma doença de alta prevalência no Brasil, quando comparada a outros países, e elevada morbimortalidade. O diagnóstico precoce e a introdução da terapia de reposição hormonal são capazes não só de prevenir a morte dos recém-nascidos e as complicações pós-natais, mas também diminuir o impacto psicológico dos indivíduos afetados e financeiro do sistema de saúde. - No sexo feminino, a virilização da genitália externa é uma manifestação clínica que pode facilitar o diagnóstico, apesar de muitas meninas ainda não serem diagnosticadas no berçário, o que leva a erros de registro civil. - O sexo masculino não apresenta ambiguidade genital ou outro sinal/sintoma característico, o que retarda o diagnóstico. Outra característica que pode dificultar o diagnóstico no sexo masculino é a mini puberdade, que é uma elevação fisiológica das concentrações de testosterona total até os seis meses de vida. - A dosagem de cortisol, nesta faixa etária, também não auxilia no diagnóstico, pois, em ambos os sexos, normalmente mostra-se diminuída. - Outro aspecto a ser destacado são as crises de perda de sal, que ocorrem, em média, por volta da terceira semana de vida, nos casos em que também existe deficiência da aldosterona (forma perdedora de sal). - Eletrólitos normais ao nascimento não afastam a perda de sal, de maneira que estas crianças precisam ser clinicamente acompanhadas e os eletrólitos repetidos a intervalos variáveis. - Todas as características descritas tornam a HAC-21 uma doença elegível para inclusão no Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN). No Brasil, a triagem da HAC-21 já faz parte do programa público de triagem neonatal. - Uma vantagem importante da inclusão desta patologia no PNTN é o diagnóstico precoce no sexo masculino, evitando a crise de perda de sal e suas complicações (inclusive a morte), já que no sexo feminino a virilização da genitália externa é uma manifestação clínica que pode facilitar o diagnóstico. - Apesar da eficácia da triagem neonatal da HAC-21, um dos grandes problemas é a elevada frequência de resultados falso-positivos ou falso-negativos. - Os principais fatores associados a resultados falso- negativos são a coleta precoce da amostra de sangue, antes das 48 horas de vida e o uso de corticoide pela mãe no periparto. Os resultados falso-positivos ocorrem, de maneira geral, em aproximadamente 1% dos testes e são atribuídos principalmente ao estresse neonatal por doença coexistente, à prematuridade e ao baixo peso ao nascimento. A fim de viabilizar a triagem neonatal da HAC-21 com o menor índice de reconvocação e melhora do valor preditivo do teste, os valores da 17OHP neonatal devem ser ajustados de acordo com o grau de prematuridade. - Os casos identificados no Teste do Pezinho passam por uma dosagem confirmatória dos esteroides adrenais em amostras de soro. - No teste confirmatório, os recém-nascidos afetados pela forma clássica possuem valores muito elevados da 17OHP, sendo geralmente acima de 80 ng/mL na forma perdedora de sal e maior do que 50 ng/mL na forma virilizante simples. 3 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo - Entretanto, 7 a 17% dos casos com resultados falso- positivos no primeiro teste não apresentam normalização da 17OHP no teste confirmatório, apesar de assintomáticos. Estas crianças necessitam de seguimento clínico e laboratorial até que haja definição diagnóstica ou normalização da 17OHP. Esse procedimento eleva os custos para o sistema de saúdee causa ansiedade nas famílias, o que evidencia a necessidade de padronização de testes confirmatórios com maior especificidade. - Ao exemplo triagem para fibrose cística, a pesquisa de mutações no gene da 21-hidroxilase (CYP21A2) tem sido proposta como teste confirmatório em análise de amostras de DNA de sangue periférico. A ideia de utilizar a análise genética baseia-se no fato de que 90-95% dos RN afetados são heterozigotos compostos ou homozigotos para um número limitado de mutações, apesar do elevado custo da metodologia. A grande vantagem é que este procedimento confirmatório evitaria que aquelas crianças cuja 17OHP não apresentou normalização no teste hormonal confirmatório sejam seguidas desnecessariamente, diminuindo o estresse das famílias. - O diagnóstico precoce da HAC-21 e a introdução da terapia de reposição hormonal não só previne a morte dos recém-nascidos e as complicações pós-natais, mas também diminui o impacto psicológico dos indivíduos afetados e financeiro do sistema de saúde. - Os testes hormonais confirmatórios no soro são importantes, devendo-se considerar como uma opção o teste molecular. - O tratamento tem por objetivo suprir as deficiências de glicocorticoide e mineralocorticoide e controlar os sinais/ sintomas da hiperandrogenemia, além de evitar a crise de insuficiência adrenocortical, preservando a altura final e a fertilidade. O tratamento está indicado para todos os casos na forma clássica e na forma não clássica da HAC só deverá ser indicado para pacientes sintomáticos - As deficiências enzimáticas na HAC levam ao acúmulo de metabólitos precursores na síntese do cortisol e da aldosterona, principalmente a 17-hidroxi progesterona (17-OHP), que está geralmente muito elevada. As formas perdedoras de sal apresentam também hiponatremia, hiperpotassemia e atividade de renina plasmática aumentada. HAC = Hiperplasia Adrenal Congênita engloba um conjunto de síndromes transmitidas de forma autossômica recessiva (genética), que se caracterizam por diferentes deficiências enzimáticas na síntese dos esteroides adrenais. A incidência de HAC é variável entre diferentes populações, com incidência da forma perdedora de sal variando de nascidos vivos. - Forma clássica perdedora de sal - Constitui a forma clínica mais comum da deficiência da 21- hidroxilase (70-75% dos casos de forma clássica). Nos recém-nascidos do sexo feminino, há virilização da genitália externa (aumento de clitóris, fusão labial em graus variáveis e formação de seio urogenital), decorrente do excesso de andrógenos durante a vida intrauterina. No sexo masculino ocorre a diferenciação normal da genitália externa na vida intrauterina, embora também sejam descritos casos com macrogenitossomia ao nascimento. A deficiência mineralocorticoide se manifesta precocemente (em geral a partir da 2ª semana), com crise adrenal: depleção de volume, desidratação hipotensão, hiponatremia e hiperpotassemia e, se não tratada, pode evoluir para óbito. - Forma clássica não perdedora de sal (virilizante simples) - Os sinais de virilização em ambos os sexos ocorrem de forma semelhante ao descrito na forma perdedora de sal e, nos recém-nascidos do sexo feminino, há virilização da genitália externa. Sem diagnóstico e tratamento precoces, ambos os sexos apresentarão virilização pós-natal, caracterizada por clitoromegalia, aumento peniano, 7 pubarca precoce, velocidade de crescimento aumentada e maturação óssea acelerada, resultando em baixa estatura final. Como nesta forma não há deficiência mineralocorticoide com repercussão clínica, os recém-nascidos do sexo masculino são frequentemente identificados em idade tardia, por sinais de hiperandrogenismo. - Forma não clássica (de início tardio): Esta forma de apresentação é cerca de 15 vezes mais frequente do que a forma clássica de HAC e as manifestações podem aparecer na infância, adolescência ou idade adulta. No sexo feminino, devido ao hiperandrogenismo, a apresentação pode ser por aumento discreto do clitóris, pubarca precoce, ciclos menstruais irregulares, hirsutismo e infertilidade. No sexo masculino, por ser oligossintomático, o quadro 4 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo costuma não ser diagnosticado. Alguns pacientes podem ainda ser assintomáticos, os quais geralmente são diagnosticados na investigação dos familiares de um caso índex. • Hemoglobinopatias (Hb): - Identifica doenças falciformes. - Doenças Falciformes é o grupo de doenças de origem genética que apresentam alterações nas células vermelhas – hemácias – do sangue. As hemácias falciformes são mais rígidas e tem dificuldades para passar pelos vasos sanguíneos mais finos, causando assim a obstrução e dificuldade na circulação do sangue que provocam crises de dor e comprometimento progressivo de diversos órgãos. - O recém-nascido que tem “anemia” (genética) terá o seu resultado do Teste do Pezinho compatível com doenças falciformes, como: ▪ Hb FS – Anemia Falciforme ▪ Hb FSC – Associada à hemoglobina C, ▪ Hb FSA - associada a Beta Talassemia ▪ Hb FS Bart’ s - associada a Alfa Talassemia ▪ Hb FSD – associada a hemoglobina D - Em todos os exames da Triagem Neonatal aparece a hemoglobina Fetal (Hb F) que é normal nos recém- nascidos. - As hemácias dos indivíduos normais são arredondadas e elásticas, em função da presença de uma proteína normal. - A maioria das pessoas herda uma hemoglobina normal (Hb A) do pai e outra hemoglobina normal (Hb A) da mãe e os seus bebês apresentam um padrão normal de hemoglobina (Hb FA). - Os bebês com anemia falciforme (Hb FS) recebem um gene alterado do pai (Hb S) e outro da mãe (Hb S). - Já os bebês com doença falciforme (Hb FSC – ligada a hemoglobina C) recebem um gene alterado do pai (Hb S) e outro alterado da mãe (Hb C) entre outras. - Reconheça os principais sintomas da anemia falciforme: • Crises dolorosas nas articulações, ossos e músculos. Os afetados podem também apresentar dor torácica ou abdominal. As dores são de grande intensidade, com duração de três a cinco dias • Febre, em razão de quadros infecciosos associados • Icterícia, ou seja, cor amarelada da pele e da parte branca dos olhos • Anemia crônica, com períodos de piora durante as crises • Palidez e cansaço persistentes. - Os padrões de hemoglobinas são liberados pelas siglas das hemoglobinas em ordem decrescente. Padrões Normais de Hemoglobinas em diferentes faixas etárias: • RN até 28 dias: Hb FA • Criança acima de 28 dias: Hb AF, Hb AFA2 e Hb AA • Adulto: Hb AA Hemoglobinopatias - Doença Homozigotos e Heterozigotos compostos: - Apresentam sintomas clínicos em graus variados: a) Homozigotos: são indivíduos que apresentam dois alelos idênticos alterados no mesmo gene como a anemia falciforme, que é uma doença genética de herança autossômica recessiva representada pela hemoglobina S em homozigose (Hb FS). b) Heterozigoto composto: é um termo usado para descrever um genótipo no qual estão presentes dois alelos alterados diferentes como a doença falciforme que apresenta um gene Hb S e um gene “diferente de Hb S (Hb SC, Hb SD, Hb SA entre outros). • Tripsinogênio imunorreativo (IRT) neonatal: - Fibrose Cística (FC), também conhecida como Doença do Beijo Salgado ou Mucoviscidose, é uma doença genética crônica que afeta principalmente os pulmões, pâncreas e o sistema digestivo. 5 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo - Atinge cerca de 70 mil pessoas em todo mundo, e é a doença genética grave mais comum da infância. - Um gene defeituoso e a proteína produzida por ele fazem com que o corpo produza muco de 30 a 60 vezes mais espesso que o usual.- O muco espesso leva ao acúmulo de bactéria e germes nas vias respiratórias, podendo causar inchaço, inflamações e infecções como pneumonia e bronquite, trazendo danos aos pulmões. - Esse muco também pode bloquear o trato digestório e o pâncreas, o que impede que enzimas digestivas cheguem ao intestino. O corpo precisa dessas enzimas para digerir e aproveitar os nutrientes dos alimentos, essencial para o desenvolvimento e saúde do ser humano. - Pessoas com fibrose cística frequentemente precisam repor essas enzimas através de medicamentos tomados junto às refeições, como forma de auxílio na digestão e nutrição apropriadas. ➢ Sintomas mais comuns: -Pele/suor de sabor muito salgado; –tosse persistente, muitas vezes com catarro; – infecções pulmonares frequentes, como pneumonia e bronquite; –chiados no peito ou falta de fôlego; – baixo crescimento ou pouco ganho de peso, apesar de bom apetite; –diarreia; –surgimento de pólipos nasais; – baquetamento digital (alongamento e arredondamento na ponta dos dedos). - A Triagem Neonatal para Fibrose Cística (TNFC) é uma ação preventiva, que possibilita o diagnóstico, o acesso ao programa estadual de medicamentos e o aconselhamento genético. - Além disto, a TNFC quando associada ao tratamento precoce reduz as lesões pulmonares na infância, a carga de cuidados para a família e pode melhorar a sobrevida. - A TNFC tem efeito benéfico no estado nutricional, com melhora no crescimento, peso e estatura, e pode prevenir deficiências de vitaminas lipossolúveis e má nutrição proteica. - O diagnóstico precoce acarreta menos estresse à família comparado ao diagnóstico tardio. É ainda, socialmente justa, pois fornece a mesma condição de diagnóstico para toda população de recém-nascidos. - A metodologia usada para a triagem neonatal da Fibrose Cística se baseia na dosagem do tripsinogênio imunorreativo (IRT). - A dosagem do IRT é um indicador indireto da doença, pois avalia a integridade da função pancreática. - Se esta estiver normal por ocasião do nascimento o teste poderá ser negativo. - O IRT é um precursor da enzima pancreática, cuja concentração costuma estar persistentemente elevada no sangue dos recém-nascidos com Fibrose Cística, mesmo nos casos em que ainda há suficiência pancreática. - Este aumento ocorre, pois, a fibrose pancreática que a maioria destes pacientes apresenta já ocorre no período intraútero, levando a um refluxo das enzimas pancreáticas para a circulação, com aumento dos níveis do IRT. - A sensibilidade deste teste se situa ao redor de 95%, porém sua especificidade é baixa, variando de 32 a 74%, dependendo dos níveis de corte estipulados pelos laboratórios para o IRT. - A presença de íleo meconial (obstrução do íleo terminal por mecônio anormalmente endurecido), sinal de alerta para o diagnóstico de Fibrose Cística, pode estar relacionada a testes falso- negativos, pois com a desobstrução intestinal ocorre rápida queda dos níveis da enzima no sangue. • TSH neonatal: - O hipotireoidismo congênito (HC) é um distúrbio endócrino pediátrico comum que pode causar retardo mental. 6 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo - A importância do diagnóstico e tratamento precoces para evitar danos cerebral irreparável e atraso no crescimento justificou o estabelecimento de programas de triagem neonatal para detecção de HC. - A coleta deve ser realizada após 48 horas de vida e sempre na primeira semana. Ocorre graças a uma produção insuficiente dos hormônios da glândula tireoide (T3 e T4). Esses hormônios são importantes no metabolismo geral e no desenvolvimento cerebral dos bebês, principalmente nos dois primeiros anos de vida. - A medição da concentração do hormônio estimulante da tireoide (TSH) é considerada a melhor estratégia de teste de triagem na detecção do HC primário, pois ele mostra alta sensibilidade e precisão. - Contudo, a detecção do HC depende diretamente do valor de corte de TSH (TSHneo), e pode ter uma influência sobre a taxa de reconvocação. - De acordo com a comprovação disponível, muitos casos de HC não seriam detectados caso o valor de corte de TSHneo fosse aumentado. Por outro lado, a redução do valor de corte exige uma avaliação criteriosa prévia da qualidade do trabalho laboratorial e dos custos do programa de triagem. Os critérios usados na escolha do valor de corte de TSHneo para detectar HC devem ser adaptados à definição da doença-alvo. Principais causas: • Defeito na formação da glândula tireoide (agenesia e hipoplasia da glândula); • Defeito de posição da glândula (ectopia da glândula); • Defeito na produção do hormônio tireoidiano (defeito de síntese). Sintomas: • Icterícia prolongada; • Dificuldade alimentar; • Hipoatividade e hipotonia; • Pele seca/livedo; • Choro rouco; • Macroglossia; • Constipação intestinal; • Bócio; • Atraso no desenvolvimento neurológico; • Retardo no crescimento. Tratamento: Deve ser iniciado o mais breve possível, administrando- se levotiroxina – hormônio tireoidiano sintético – via oral, uma dose diária, por toda a vida. Exige rigoroso controle laboratorial e médico. • Deficiência da Biotinidade (DB): - É uma doença genética, de herança autossômica recessiva. Causa: A DB é um erro inato do metabolismo, que causa um defeito no metabolismo da vitamina biotina e o organismo não consegue reciclar ou usar a biotina da dieta. Sintomas: As pessoas não tratadas e com deficiência grave, por volta da sétima semana de vida, iniciam alterações neurológicas como: ▪ Crises epilépticas de difícil controle ▪ Hipotonia ▪ Microcefalia ▪ Atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e alterações cutâneas: dermatite eczematóide, candídiase e alopecia. ▪ Crianças e adolescentes com deficiência grave diagnosticados tardiamente, apresentam fraqueza dos membros, paresia espástica, diminuição da acuidade visual, perda auditiva e atraso do desenvolvimento neuropsicomotor. ▪ Os indivíduos com deficiência parcial podem ter hipotonia, rash cutâneo e perda de cabelos, principalmente durante períodos de estresse. Tratamento: - É simples e de baixo custo! Limita-se à suplementação de biotina por via oral diariamente, durante toda a vida do doente. Aquelas pessoas que já possuem os sintomas da doença têm melhora com o uso da biotina, com regressão parcial do quadro clínico. Mas, muitas vezes, eles necessitam de tratamento das alterações visuais, auditivas e do desenvolvimento. Os Bebês tratados precocemente devem permanecer assintomáticos, com desenvolvimento neurológico normal, desde que mantenham o tratamento com biotina oral pela vida toda. Prognósticos: 7 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo - O prognóstico é muito bom desde que introduzido o tratamento nas primeiras semanas de vida. - Um bom prognóstico está diretamente relacionado com a detecção e o tratamento oportuno em todas as doenças detectadas pelo teste do pezinho. • FAL: 28,4 mg/dl (Inferior a 4.10 mg/dl). - Fenilcetonúria (próximo objetivos iremos debater essa doença isoladamente) • “Parto a termo”: 2 – ESCLARECER O QUE É ERRO INATO DO METABOLISMO: - Os erros inatos do metabolismo (EIM) são distúrbios de natureza genética que geralmente correspondem a um defeito enzimático capaz de acarretar a interrupção de uma via metabólica. Ocasionam, portanto, alguma falha de síntese, degradação, armazenamento ou transporte de moléculas no organismo. - Tais erros do metabolismo são considerados a causa das Doenças Metabólicas Hereditárias (DMH) em que a ausência de um produto esperado, acúmulo de substrato da etapa anterior a interrompidaou o surgimento de uma rota metabólica alternativa podem levar ao comprometimento dos processos celulares. - Esse grupo de doenças representa cerca de 10% de todas as doenças genéticas. E ainda hoje, são tidos por muitos profissionais como casos extremamente raros de se deparar durante a prática clínica sendo, muitas vezes, a última hipótese diagnóstica - Em grande parte, são doenças que afetam todo o organismo e podem se manifestar em qualquer faixa etária, fazendo com que médicos de diferentes especialidades devam atentar aos sinais e sintomas de um erro metabólico em qualquer paciente que, porventura, possa ser encaminhado aos seus cuidados. - Tratando-se de alterações metabólicas bastante distintas, os Erros Inatos do Metabolismo possuem diversas classificações: De acordo com essa classificação, os EIM dividem-se em duas categorias: a) Categoria 1: engloba as alterações que afetam um único sistema orgânico ou apenas um órgão, como o sistema imunológico e os fatores de coagulação ou túbulos renais e eritrócitos; b) Categoria 2: abrange um grupo de doenças cujo defeito bioquímico compromete uma via metabólica comum a diversos órgãos, como as doenças lisossomais, ou restrito a um órgão apenas, porém com manifestações humorais e sistêmicas, como a hiperamonemia nos defeitos do ciclo da ureia. - Dessa forma, as doenças da Categoria 2 apresentam enorme diversidade clínica e acarretam grande dificuldade diagnóstica, diferenciando-se, ainda, neste aspecto das doenças da Categoria 1 nas quais os sintomas são uniformes e, portanto, o diagnóstico é facilitado. - Respeitando a grande variabilidade de alterações da Categoria 2, as doenças metabólicas hereditárias que a compõem são divididas em três diferentes grupos conforme suas características fisiopatológicas e fenótipo clínico: Grupo I: Distúrbios de síntese ou catabolismo de moléculas complexas - Entre os distúrbios de síntese ou catabolismo de moléculas complexas estão as doenças lisossomais, que são as mucopolissacaridoses e as esfingolipidoses, assim como as doenças peroxissomiais. - Se caracterizam por sinais e sintomas permanentes e progressivos, sem associação direta com a ingestão 8 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo alimentar ou com infecções. São classificados também em doenças da glicosilação e alterações do colesterol; - Os distúrbios do grupo I apresentam sintomas permanentes que tendem a acentuar com o passar do tempo, como: fácies grosseira, dismorfias, visceromegalias, neuro degeneração, entre outros, respeitando a localização do acúmulo. Grupo II: Erros inatos do metabolismo intermediário que culminam em intoxicação aguda ou crônica - As doenças metabólicas enquadradas no grupo II compreendem as aminoacidopatias, os defeitos dos ácidos orgânicos e do ciclo da ureia e as intolerâncias aos açúcares. Caracterizam-se por apresentarem intervalos livres de sintomas e relação evidente com o aporte alimentar. As manifestações levam, de maneira geral, à intoxicação aguda e recorrente ou crônica e progressiva - Doenças que levam à intoxicação, com sinais e sintomas agudos ou progressivos, geralmente com intervalos livres de sintomas e que podem ter relação com a ingestão alimentar ou com situações de estresse metabólico. São classificadas em aminoacidopatias, acidemias orgânicas, defeitos do ciclo da ureia, intolerância aos açúcares, intoxicação por metal e porfirias; Grupo III: Deficiência na produção ou utilização de energia. - O grupo III inclui doenças cuja clínica é decorrente de alterações de produção e consumo energéticos. Em sua maioria, são provenientes de distúrbios do fígado, miocárdio, músculo e cérebro. - Manifestam-se, comumente, através de hipoglicemia, hipotonia generalizada, miopatia, insuficiência cardíaca, retardo de crescimento e até morte súbita, entre outros sintomas. Exemplos desse grupo são as glicogenoses, hiperlacticemias congênitas, doenças mitocondriais da cadeia respiratória e defeitos na oxidação de ácidos graxos. Manifestações clínicas: - As crianças portadoras de muitos EIM, como aqueles de manifestação aguda, parecem perfeitamente normais ao nascimento. Em geral, os sintomas aparecem quando há alteração, por fatores exógenos, do equilíbrio bioquímico mantido até o momento pela criança. - O diagnóstico clínico correto das DMH é dificultado pelo enorme número de doenças de grande complexidade, pela variedade de sintomas clínicos, além de serem consideradas, extremamente, raras pela maioria dos profissionais. - Soma-se a tais dificuldades, uma apresentação clínica bastante inespecífica, incluindo letargia, recusa alimentar, icterícia, vômitos, diarreia, visceromegalia, retardo de crescimento, convulsões e coma. Sintomas que sugerem causas bem mais frequentes, a exemplo das infecciosas, as quais dificultam ainda mais o diagnóstico quando associadas. - Entretanto, existem alguns critérios e sinais que sem outra causa definida levam a pensar em uma Doença Metabólica Hereditária: • Hipotonia, hipoglicemia, irritabilidade, acidose, distúrbio hidroeletrolítico, entre outros já citados • Crianças que, em associação aos citados acima, apresentem odores peculiares ou dismorfias • Perda de habilidades adquiridas anteriormente • História de recorrência familiar ou consanguinidade entre os pais. - A clínica que alia a história da doença e um bom exame físico contribui, imensamente, para um diagnóstico preciso através da identificação de sinais característicos de cada grupo de erros inatos do metabolismo. É capaz de conduzir para a realização de exames laboratoriais confirmatórios mais adequados, para a terapêutica precoce, quando esta já se encontra desenvolvida, assim como para o importante aconselhamento genético. - Embora grande parte das DMH se apresentem logo nos primeiros dias de vida, não se pode desconsiderar as doenças do metabolismo que se manifestam na idade adulta, seja pelos sinais que passam despercebidos durante a infância ou mesmo pelo curso natural da doença. 9 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo - A intolerância à frutose detectada no adulto representa um bom exemplo. Foi descrita em paciente que desenvolveu aversão a doces durante a infância e, sem diagnóstico, permaneceu sem sintomas por longo período, até a infusão de uma solução contendo frutose na ocasião de uma cirurgia, quando evoluiu com grave crise metabólica. - Entre as DMH de manifestação em adultos estão as doenças cujo diagnóstico é realizado na infância e, desde que acompanhado de tratamento adequado, os pacientes atingem a idade adulta apenas com algumas complicações. - A fenilcetonúria, por exemplo, tratada com dieta pobre em fenilalanina é importante mesmo na vida adulta no que se refere aos benefícios sobre as funções neuropsicológicas do paciente e, também, à saúde fetal durante a gravidez de mulheres com hiperfenilalaninemia. A manutenção da dieta pela mãe diminui a incidência no feto de retardo mental, microcefalia, defeitos congênitos do coração e retardo de crescimento intrauterino. Diagnóstico laboratorial: - Diagnosticar, rapidamente, é essencial para impedir o agravamento e a irreversibilidade dos sintomas, podendo representar a vida do paciente em alguns casos. - Nesse contexto, vale destacar o papel fundamental da triagem neonatal que possibilitou grande avanço no conhecimento e tratamento de DHM a partir de sua detecção em fase pré-clínica, prevenindo o dano neurológico ou mesmo a morte que essas patologias podem ocasionar. - A análise clínica abrangente encaminhará aos exames laboratoriais adequados que podem começar com simples testes de urina. Esses testesnão são suficientes para o diagnóstico, porém, direcionam a suspeita para determinados tipos de EIM e devem ser acompanhados de análises sanguíneas que incluam hemograma, gasometria venosa, sódio, potássio, cloro, lactato, glicemia em jejum, amônia, transaminases hepáticas, colesterol, triglicerídeos, piruvato, cálcio, fósforo, ureia, creatinina e ácido úrico. - A cromatografia de açúcares e de aminoácidos na urina e no sangue faz parte dos testes iniciais. A simples observação da amostra e a percepção de odores peculiares podem auxiliar muito. - A partir dos testes já citados e da suspeita clínica, pode- se chegar bem próximo do diagnóstico correto. No entanto, só será definitivo após a determinação da atividade enzimática ou a identificação do defeito molecular que são exames bem mais especializados e nem sempre disponíveis. - Portanto, juntar dados clínicos com o resultado de testes indiretos, como a dosagem sanguínea de substância acumulada, identificação de metabólitos na urina e visualização de estruturas anormais em materiais de biópsia é uma saída para o início de um tratamento eficaz. - Ainda nos casos de evolução dramática, é importante coletar material de análise antes do óbito para fins diagnósticos e para o posterior aconselhamento genético da família. Tratamento: - A terapêutica adequada das DMH depende muito do erro inato do metabolismo responsável pela doença e da substância acumulada que está levando ao desequilíbrio bioquímico. - Os procedimentos de emergência incluem a coleta de material para análise laboratorial como já descrito; o tratamento do desequilíbrio metabólico a exemplo da desidratação, acidose, hipoglicemia e distúrbio eletrolítico; a remoção de metabólitos tóxicos seja por transfusão sanguínea ou estimulando a excreção; a suspensão da ingesta de proteínas e carboidratos por cerca de 24 horas, mantendo nutrição parenteral, e, quando possível, a suplementação com cofatores que podem aumentar a atividade da enzima residual. - Com a manifestação aguda controlada, segue-se para o controle permanente. Este pode relacionar-se diretamente com a dieta. O tratamento através da dieta, comumente, está direcionado para a redução de substrato acumulado, para a suplementação de um produto, para a estimulação do bloqueio metabólico com cofatores ou precursores enzimáticos, ou ainda para a desintoxicação por metabólitos.5,18 10 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo - Outros procedimentos são utilizados em doenças específicas com relativo sucesso, como o transplante de medula óssea para alguns tipos de mucopolissacaridoses, atenuando os sintomas de forma significativa. - A terapia de reposição enzimática já vem se tornando realidade eficaz para algumas doenças de depósito lisossômico, como a doença de Gaucher, a doença de Fabry e a mucopolissacaridose I, e, somada à terapia gênica, representa grande esperança para que se altere, radicalmente, o prognóstico de muitos pacientes portadores de Doenças Metabólicas Hereditárias. ➢ Apresentação clínica inicial dos casos de erros inatos do metabolismo é ainda um desafio diagnóstico: - O diagnóstico dos EIM ainda traz desafios à prática pediátrica. pelos seguintes fatores: • dificuldade de acesso aos exames laboratoriais específicos • reduzido número de especialistas e pouca difusão do conhecimento nas faculdades da área da saúde. - O diagnóstico precoce dos EIM tem impacto fundamental no tratamento e prevenção das sequelas, devendo ser considerado já nas hipóteses diagnósticas iniciais 3 – COMPREENDER O METABOLISMO DA FENILALANINA: - A fenilalanina é um aminoácido, molécula simples constituinte das proteínas. - A fenilalanina tem a sua própria via metabólica, pela qual é capaz de formar um aminoácido muito semelhante, a tirosina, graças à ação de uma enzima, a fenilalanina hidroxilase (PAH) e de uma coenzima que facilita a reação, a tetrahidrobiopterina (BH4). - Principais substâncias relacionadas: fenilalanina e tirosina: são do grupo R aromáticos hidrofóbicas. O grupo hidroxila da tirosina pode formar ligações de hidrogênio e é um grupo funcional importante para algumas enzimas. • Catabolismo da Fenilalanina: - A fenilalanina é um aminoácido essencial, obtido através da alimentação, ele é precursor da Tirosina, um aminoácido não essencial. - A fenilalanina é precursora de neurotransmissores, então um defeito genético em seu metabolismo causa prejuízo no desenvolvimento neural e deficiência intelectual - A fenilcetonúria é um defeito genético na enzima fenilalanina-hidroxilase, primeira enzima da via catabólica da fenilalanina, causando níveis elevados de fenilalanina no sangue. - A fenilcetonúria clássica (PKU) é uma doença metabólica hereditária autossômica recessiva, devida a deficiência da fenilalanina-hidroxilase (PAH) hepática, enzima que catalisa a reação irreversível fenilalanina (Phe) → tirosina (Tyr), em presença de um cofactor natural, a tetrahidrobiopterina (BH4 ). - Posteriormente a transformação catabólica da tirosina conduz à formação de fumarato, de acetato, da glicose ou à obtenção de energia (ciclo de Krebs). - A fenilalanina e a tirosina incluem- -se no grupo dos aminoácidos cetogênicos e gliconeogênicos. - A degradação da fenilalanina é notável, pois seus defeitos genéticos nas enzimas dessa via produzem diversas doenças, entre elas a fenilcetonúria. - A tirosina é produto da oxidação da fenilalanina, ambas possuem nove carbonos e são degradadas em dois fragmentos, ambos podendo entrar no ciclo do ácido cítrico. - Quatro dos nove carbono de cada uma das substâncias produz acetoacetato livre, o qual é convertido em acetoacetil-CoA, e depois em acetil-CoA. - Um segundo fragmento dos quatro carbonos é convertido em fumarato 11 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo - Dessa forma oito dos nove carbonos desses aminoácidos entram no ciclo do ácido cítrico e o carbono restante é perdido como CO2 - A fenilalanina, após ser hidroxilada produzindo tirosina é precursora da dopamina, um neurotransmissor, e da noradrenalina e da adrenalina, hormônios secretados pela glândula suprarrenal. - A tirosina, após hidroxilação (processo químico que introduz um grupo hidroxila (-OH) em um composto orgânico. Essas reações de hidroxilação são muitas vezes facilitadas por enzimas chamados hidroxilases) , pode originar mediadores químicos não proteicos com funções de neurotransmissor, as catecolaminas (dopamina, norepinefrina e epinefrina) - Sequências catabólicas alternativas à da hidroxilação da fenilalanina, originam compostos fenilcetonúricos - derivados cetoácidos - (fenilpiruvato, fenilacetato, fenilactato e ou fenilacetilglutamina), cujos valores de concentração elevada na urina (fenilcetonúria) contribuem para a suspeita de hiperfenilalalinémia (valores acima do normal de concentração de fenilalanina no plasma). • Hidroxilação da Fenilalanina: (A hidroxialquilação, ou mais simplesmente hidroxilação, é um processo químico que introduz um grupo hidroxila (-OH) em um composto orgânico). - A interconversão irreversível do aminoácido essencial fenilalanina no aminoácido (não-essencial) tirosina ocorre na célula hepática na presença de: • Fenilalanina hidroxilase (PAH) • Tetrahidrobiopterina (BH4) • Oxigénio (O2) •Dihidrobiopterina redutase (DHPR) •Nicotinamida-adenina-dinucleótido-fosfato-reduzido (NADPH) - A via catabólica da fenilalanina termina na formação de fumarato (intermediário do ciclo de Krebs) e do acetoacetato (um dos corpos cetônicos). - Na primeira etapa, a fenilalanina é convertida em tirosina (também um aminoácido aromático) por uma mono-oxigenase (a fenilalanina-hidroxilase),na presença de oxigénio molecular e um redutor, a tetra- hidropterina. - Em situação de deficiência total ou parcial daquela enzima ou de biopterina, a fenilalanina tende a acumular- se no sangue e em outros líquidos orgânicos, a par da escassa ou nula conversão em tirosina e subsequentes produtos. - Principais derivados metabólicos e catabolismo da fenilalanina: - Em pessoas com PKU, uma rota secundária do metabolismo da fenilalanina, que não é muito utilizada, passa desempenhar um papel mais proeminente: - Nessa rota a fenilalanina sofre transaminação (transferência de um grupo amina de um aminoácido para um cetoácido, para formar um novo aminoácido e um novo ácido α-cetônico) com o piruvato e produz fenilpiruvato. - Uma quantidade considerável de fenilpiruvato não pe excretada como tal, e sofre descarboxilação (reação química na qual um grupo carboxilo é eliminado de um composto na forma de dióxido de carbono) a fenilcetato ou redução (perde elétron ou higrogênio) a fenil – lactato. - O fenilcetato confere odor característico a urina do bebê. - Quando a fenilalanina e fenilpiruvato acumulam-se no sangue e nos tecidos e são excretados pela urina. Isso dá o nome a doença “ fenilcetonúria”. 12 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo Via metabólica principal: Fenilalanina / Tirosina = 9 carbonos → 4 produz acetato livre → acetoacetil-CoA → acetil-CoA → via catabólica → Sobra 1 carbono → é perdido como CO2 → 4 produz fumarato → via catabólica Fenilalanina (Phe) Tirosina (Tyr) Hidroxilação (Introdução de um grupo amino) Tetrahidrobiopterina (BH4) - É uma doença do metabolismo dos aminoácidos (AA), concretamente do catabolismo do AA aromático, a fenilalanina, que é essencial para os humanos e está presente em todas as proteínas naturais (4-6% do seu peso). - A hidroxilação da Phe em Tyr constitui a via metabólica principal. - A deficiência enzimática determina um bloqueio com acumulação a montante de fenilalanina (Phe) (hiperfenilalaninemia), e depleção de Tirosina (Tyr) a jusante. - Contudo, hiperfenilalaninemia não é sinônimo de fenilcetonúria, pois pode ser provocada também por deficiência da síntese e regeneração da BH4 , doenças hepáticas graves, drogas, excessivo aporte proteico etc. A BH4 é simultaneamente cofator fundamental da hidroxilação da tirosina e do triptofano. 4 – ENTENDER A FISIOPATOLOGIA DA FENILCETONÚRIA: - A Fenilcetonúria (PKU) é um erro inato do metabolismo da fenilalanina, causado pela deficiência de uma enzima, a fenilalanina hidroxilase (PAH). - A fenilcetonúria pode ser causada também por um defeito na enzima que catalisa a regeneração da tetra- hidrobiopterina (BH4) – nesses casos o tratamento é mais complexo que a restrição de ingestão de fenilalanina e tirosina, pois a BH4 é precursora da dopamina, noradrenalina e serotonina, então alguns precursores formados por ela devem ser supridos na dieta junto com a BH4 - Quando existe um erro no metabolismo da fenilalanina, esta não se consegue converter facilmente em tirosina porque falta a enzima que intervém nesta reação, a PAH (fenilalanina hidroxilase). - Isto conduz a uma acumulação de fenilalanina no sangue, urina, tecidos e no cérebro. Para além da fenilalanina, acumulam-se igualmente outros compostos que se formam a partir dela, as fenilcetonas, que se eliminam por urina e são as que dão o nome à doença: Fenilcetonúria ou PKU (do inglês Phenyl - Keto – Uria). - Outra consequência deste defeito é a falta de síntese de tirosina, aminoácido muito importante como precursor de neurotransmissores (mensageiros químicos libertados pelos neurónios para que estes comuniquem entre si) - A deficiência de atividade da PAH produz -se devido a mutações (alterações estáveis e hereditárias) no gene PAH que codifica esta enzima. - A PKU é uma doença genética de hereditariedade autossômica recessiva, ou seja, em que os pais são portadores de mutações no gene PAH, mesmo não sofrendo os efeitos da deficiência enzimática. Se ambos os pais transmitirem uma mutação ao filho, dependendo da severidade delas, a criança apresentará um defeito da atividade enzimática total ou parcial, que se irá tornar numa PKU ou hiperfenilalaninemia moderada, respectivamente. 13 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo - O bebé nasce sem problemas, já que até ao parto é a mãe que se encarrega de metabolizar todos os compostos e ela consegue fazer mesmo sendo portadora de uma informação errada (capaz de transmitir a PKU). - Quando o bebé começa a alimentar-se, as proteínas do leite degradam libertam todos os aminoácidos, que se metabolizarão cada um seguindo a sua própria via. - Contudo, a via de transformação de fenilalanina em tirosina estará comprometida porque a PAH não se formou corretamente, e a fenilalanina começará a acumular - A tirosina, por sua vez, não se formará em quantidade suficiente para poder ser utilizada na síntese de proteínas necessárias ao crescimento do bebé e na síntese de neurotransmissores. - Estamos perante um erro metabólico. Quebrou-se o equilíbrio que deve existir no organismo entre todos os compostos para que o metabolismo funcione corretamente. Isto pode ter consequências negativas para a criança (um certo grau de atraso de desenvolvimento), que apenas se detectariam alguns meses depois. - A deficiência de PAH determina um bloqueio na via metabólica principal do catabolismo da fenilalanina Phe, com acumulação a montante de Phe e seus metabolitos nos fluidos e tecidos orgânicos (incluindo o SNC), e moderada deficiência de Tirosina(Tyr) a jusante. - A hiperfenilalaninémia persistentemente mantida pode lesar de modo irreversível o cérebro humano, devido às profundas alterações do metabolismo cerebral, extremamente nocivas para este órgão do RN e lactente em curso de crescimento, desenvolvimento e mielinização. - A hiperfenilalaninémia inibe a ação da PAH e condiciona, (por interação competitiva nos mecanismos de transporte de aminoácidos através da barreira hematoencefálica) um balanço negativo de determinados aminoácidos (valina, isoleucina, leucina, tirosina, triptofano) ao nível das células nervosas. - Como consequência há diminuição da síntese proteica e lipoproteica cerebral, da síntese de neurotransmissores, da arborização dendrítica, da sinaptogenese e da mielinização. - A inibição do transporte e entrada no cérebro de Tyr e Trp leva a deficiente síntese de dopamina e serotonina. - A Phe e seus metabolitos acumulados (fenilpiruvato, fenil-lactato, fenilacetato, fenilacetil-glutamina, feniletilamina) podem ser detectados no sangue, urina. - O papel patogénico dos referidos metabolitos no SNC ainda se discute. O envolvimento cerebral é seguramente multifatorial, parecendo, contudo, ser a Phe o “tóxico” principal em causa. SAIBA MAIS: O tratamento é essencialmente dietético e consiste, basicamente, em uma dieta com baixo teor de PHE. No entanto, a dieta também deve fornecer todos os outros aminoácidos essenciais, as vitaminas e os minerais necessários ao desenvolvimento, o que nem sempre é possível devido à restrição de fontes proteicas. Dentre os minerais, o cálcio tem sido bastante estudado, devido à sua relação com a formação óssea, em crianças portadoras de PKU. É importante compreender a necessidade da suplementação de cálcio para essas crianças, a fim de promover a mineralização óssea adequada. - O quadro clínico compreende graves alterações neurológicas progressivas, como oretardo mental, distúrbios de comportamento, microencefalia, epilepsia; dificuldade no andar e hipopigmentação. Esses sintomas parecem ser, principalmente, decorrentes do acúmulo de substâncias tóxicas (A baixa atividade da fenilalanina hidroxilase acarreta alterações em diversas vias metabólicas, produzindo substâncias tóxicas, tais como os ácidos fenilpirúvico e fenilacético) no cérebro e do bloqueio no metabolismo da tirosina. 14 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo - Na fenilcetonúria clássica o transporte de aminoácidos através da barreira hemato-encefálica encontra-se alterado. A fenilalanina, por apresentar maior afinidade pelo transportador cerebral e se encontrar em altas concentrações plasmáticas, não apenas prejudica o transporte dos aminoácidos desde o plasma ao cérebro, mas também provoca o acúmulo de fenilalanina no sistema nervoso central, levando à formação de metabólitos tóxicos no cérebro - Fenilalanina elevada, na PKU Clássica, e a deficiência do cofator Tetrahidrobiopterina (BH4), se comportem como inibidores das enzimas tirosina hidroxilase e triptofano hidroxilase, reduzindo a produção de catecolaminas, dopamina e serotonina, o que contribuiria para o retardo mental e a alteração do comportamento. - Por outro lado, altas concentrações de fenilalanina inibem a atividade da tirosinase, enzima responsável pela pigmentação da pele e dos cabelos. Esta alteração resulta em um metabolismo anormal da tirosina (tirosina, que é precursora da melanina), provocando, na maioria das vezes, hipopigmentação nos pacientes acometidos de fenilcetonúria - A descoloração dos tegumentos e pêlos está relacionada com a menor formação de melanina. Esta substância é um pigmento negro que se acumula em grânulos nos melanosomas cutâneos (e nas vísceras). A melanina é o produto final de uma das sequências enzimáticas secundárias da tirosina, iniciada pela respectiva conversão em dopa por uma oxidase. Esta reação é inibida competitivamente pelo excesso de fenilalanina nos fenilcetonúricos. Em alternativa, a dopa é descarboxilada em dopamina num processo sequencial que conduz à formação das catecolaminas. 5 – CONHECER O PROTOCOLO CLÍNICO E AS DIRETRIZES TERAPÊUTICAS PARA A FENILCETONÚRIA. - O tratamento da fenilcetonúria é exclusivamente dietético, segundo o qual se institui uma dieta com baixo teor de fenilalanina, aminoácido sempre presente em grandes quantidades nos alimentos proteicos, o que determina um controle na ingestão destes. - A tirosina deve ser suplementada, pois além de se tornar um aminoácido essencial, devido ao defeito enzimático, é também muito pouco frequente na composição das proteínas alimentares - Para atingir os níveis plasmáticos desejáveis de fenilalanina a dieta deve ser isenta de leite e derivados, carnes e leguminosas. A fim de evitar deficiências nutricionais a dieta preconiza a suplementação dos nutrientes essenciais, utilizando-se uma fórmula que contém uma mistura de aminoácidos livres que provêm, 50-90% de equivalentes de proteínas, representando em torno de 75-95% das necessidades proteicas, 90-100% de vitaminas e de elementos-traço e 50-70% de energia13. Esta deve ser mantida por toda a vida, já que a suspensão dela pode resultar em regressão intelectual e alteração comportamental. O suprimento de energia é importante, pois quando a quantidade desta é insuficiente, os níveis de fenilalanina aumentam devido à degradação de proteína endógena - Encontraram, em recém-nascidos, crianças e adolescentes portadores de fenilcetonúria, distúrbios de maturação óssea e fraturas. A desmineralização óssea acomete crianças e adolescentes com fenilcetonúria, sendo que a ocorrência de fraturas tem sido documentada em vários casos. Algumas hipóteses vêm sendo apontadas como causas desse quadro: ingestão inadequada de nutrientes e nutrição artificial dos pacientes tratados. Estas contribuem para um quadro de osteopenia mais pronunciado em pacientes mais velhos, o que aumenta a incidência de osteoporose em pacientes adultos portadores de fenilcetonúria. - A dieta utilizada como estratégia para redução dos níveis de fenilalanina no sangue dos portadores de fenilcetonúria, se não seguida, ocasiona em longo prazo problemas na formação óssea. Isso se deve à limitada ingestão de cálcio e à presença de fatores antinutricionais, que interferem na biodisponibilidade de vários nutrientes ➢ Critérios de inclusão: - Serão incluídos neste Protocolo os pacientes com hiperfenilalaninemia não-FNC, FNC Leve e FNC Clássica. - Aqueles que apresentarem nível de fenilalanina entre 4 mg/dL e 8 mg/dL (hiperfenilalaninemia não- FNC) serão acompanhados pelos serviços de referência para 15 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo monitoramento semestral da fenilalanina até os 2 anos de idade. - Posteriormente, a periodicidade do monitoramento é anual. No caso de indivíduos do sexo feminino, realiza-se também o teste de responsividade ao dicloridrato de sapropterina e orientação sobre prevenção da embriopatia por FNC materna ➢ Critérios de inclusão para dieta restrita em fenilalanina: - Deverão fazer uso de dieta restrita em fenilalanina todos os pacientes com nível de fenilalanina maior ou igual a 10 mg/dL em dieta normal (1, 18) e todos os que apresentarem níveis de fenilalanina entre 8 mg/dL e 10 mg/ dL persistentes (pelo menos em três dosagens consecutivas, semanais, em dieta normal) ➢ Critérios de inclusão para o dicloridrato de sapropterina: - Poderão fazer uso do dicloridrato de sapropterina todos os indivíduos do sexo feminino com diagnóstico de FNC (clássica ou leve) ou hiperfenilalaninemia não-FNC, desde que em período periconcepcional (definido como os três primeiros meses que antecedem as primeiras tentativas de concepção) ou durante a gestação (independentemente da idade gestacional de início, haja vista a possibilidade de gestação não planejada), e que tenham sido consideradas responsivas de acordo com teste de responsividade preconizado por este Protocolo. - O teste de responsividade pode ser realizado em todas as pacientes com FNC (clássica ou leve) ou hiperfenilalaninemia não-FNC, a partir da menarca e, preferencialmente, em período não-gestacional. ➢ Critérios de exclusão: - Serão excluídos deste Protocolo os pacientes que apresentarem as seguintes condições: - Aumento de fenilalanina secundário à tirosinemia ou a dano hepático (caracterizado pelo aumento concomitante de fenilalanina e tirosina); hiperfenilalaninemia transitória (caracterizada pela normalização espontânea, em vigência de dieta normal, dos níveis de fenilalanina durante os 6 primeiros meses de vida); hiperfenilalaninemia por defeito na síntese ou reciclagem tetrahidrobiopterina (BH4) ou por mutações em DNAJC12. - Em relação ao dicloridrato de sapropterina, estarão excluídos do seu uso os pacientes com FNC que apresentarem as seguintes características: - Indivíduos do sexo masculino; ocorrência de evento adverso grave relacionado ao medicamento. indivíduos do sexo feminino não responsivos no teste de responsividade ao dicloridrato de sapropterina; indivíduos do sexo feminino que não estejam grávidas ou que não estejam em período periconcepcional. - A interrupção do tratamento com dicloridrato de sapropterina deverá ocorrer nos casos abaixo relacionados: - Não adesão ao tratamento, aqui definida como o não seguimento da prescrição dietética por período superior a 30 dias, ou a não ingestão de pelo menos 80% da dose prescrita do medicamento, após terem sido tomadas as medidas educacionais cabíveis; falha terapêutica, aqui definida como a ausência, em três meses de tratamento regular com dicloridrato de sapropterina, de pelo menos 50% de aumentoda tolerância à fenilalanina, ou de diminuição dos níveis de fenilalanina em pelo menos 30% sem alteração na dieta; ocorrência de evento adverso grave relacionado ao medicamento. ➢ Casos Especiais: - Indivíduos do sexo feminino com FNC ou hiperfenilalaninemia não-FNC (9) devem receber, após a menarca, orientação especial quanto aos métodos anticoncepcionais e ao planejamento da gravidez. A dieta restrita em fenilalanina, associada ao uso de fórmula metabólica, no caso de pacientes responsivas ao dicloridrato de sapropterina, deve ser estabelecida antes e durante a gestação com o objetivo de evitar embriopatia por FNC ou síndrome da FNC materna. - A exposição intraútero ao excesso de fenilalanina, potente agente teratogênico no início da vida fetal gera efeitos graves. A concentração de fenilalanina é maior no feto do que no plasma materno, pois a placenta naturalmente concentra altos níveis de aminoácidos, entre eles a fenilalanina. Assim, a deficiência intelectual 16 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo ocorrerá em 90% destas crianças, e malformações congênitas, em 25%, entre as quais malformações cardíacas, microcefalia, anomalias vertebrais e estrabismo. - O período crítico para sistema nervoso central, crânio e coração ocorre entre a quinta e a oitava semana após a última menstruação. - Portanto, se uma grávida com FNC não estiver metabolicamente controlada antes da quinta semana de gestação, os níveis altos de fenilalanina passam para o feto através da placenta e podem exercer efeitos teratogênicos irreversíveis no seu desenvolvimento. - O controle metabólico é atingido com níveis de fenilalanina menores que 6 mg/dL antes da concepção e durante toda a gestação. ➢ Centro de referência: - O tratamento dos pacientes com FNC identificados pela triagem neonatal, conforme definido pelo Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) do Ministério da Saúde, deve ser realizado em centros de atendimento especializados – Serviço de Referência em Triagem Neonatal (SRTN) –, incluindo, também, o aconselhamento genético. - O acompanhamento dos pacientes deve ser feito por equipe multidisciplinar com composição mínima de médico e nutricionista especializados, podendo agregar outros profissionais a depender da estrutura do serviço - Os pacientes identificados tardiamente (em fase sintomática, e não pela triagem neonatal) também devem ser encaminhados com urgência para centros de referência, não obrigatoriamente para SRTN, a fim de que o tratamento seja iniciado na menor brevidade de tempo possível. ➢ TRATAMENTO : Dieta restrita em fenilalanina - A dieta restrita em fenilalanina é eficaz na redução dos níveis sanguíneos de fenilalanina e na melhora do QI e do prognóstico neuropsicológico dos pacientes com FNC. O tratamento dietético restritivo é bem- sucedido, desde que haja adesão contínua dos pacientes e de suas famílias e fornecimento regular da fórmula. - O tratamento dietético deve ser iniciado tão cedo quanto possível, idealmente até o décimo dia de vida. A dieta para FNC baseia-se na restrição de proteínas naturais da dieta, as quais são fontes naturais de fenilalanina. - Usualmente é isenta de alimentos de origem animal e restrita em alimentos de origem vegetal que contenham alto teor proteico. Além disso, a dieta deve ser complementada por uma fórmula metabólica isenta de fenilalanina. - A fenilalanina é um aminoácido essencial e é fundamental que o aporte mínimo para a faixa etária seja garantido pela dieta. A hiper restrição de fenilalanina pode levar à prejuízo de crescimento, osteopenia e pior controle metabólico. - Nos primeiros meses de vida, o aporte de fenilalanina será proveniente das fórmulas lácteas infantis ou do leite materno, o qual possui menor teor de fenilalanina e inúmeros benefícios imunológicos e psicológicos. - A manutenção do aleitamento materno deve ser encorajada, associada ao uso de fórmula isenta de fenilalanina. Em crianças maiores e em 11 adultos, o aporte de fenilalanina será suprido pela ingestão de proteínas naturais - Uma vez que o adoçante artificial aspartame é um dipeptídeo contendo aspartato de um metil-éter da fenilalanina, alimentos assim adoçados com a aspartame devem conter aviso dirigidos aos portadores de PKU ➢ Fórmula de aminoácido isenta de fenilalanina 17 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo - As fórmulas metabólicas são misturas de aminoácidos que suprem as necessidades proteicas para crescimento e desenvolvimento normais, devendo conter ainda todas as vitaminas, minerais e ácidos graxos essenciais que são deficientes na dieta para FNC em quantidades adequadas à faixa etária do paciente. - A fórmula metabólica é de uso contínuo, recomendada para todos os pacientes com FNC e em todas as idades. A quantidade prescrita varia conforme a idade, peso e tolerância à fenilalanina, podendo suprir até 85% do consumo proteico diário. - Devido à menor biodisponibilidade dos aminoácidos provenientes da fórmula, a ingestão proteica deve ser maior do que as recomendações vigentes para a população: um adicional proteico de pelo menos 40% deve ser considerado na prescrição dietética. - Para otimizar o balanço nitrogenado na FNC, a fórmula metabólica deve ser fracionada em no mínimo três porções ao dia, e ingerida preferencialmente após as refeições. - Devido à sua composição, as fórmulas metabólicas são pouco palatáveis, o que dificulta a adesão ao tratamento dietético. Isto é particularmente relevante em adultos e adolescentes, que apresentam menores taxas de adesão ao tratamento e podem até mesmo interromper o uso por dificuldades de ingerir a fórmula metabólica ➢ Dicloridrato de sapropterina: - Alguns pacientes com FNC que possuem atividade enzimática residual respondem à administração de dicloridrato de sapropterina (forma sintética do BH4) com aumento do metabolismo de fenilalanina para tirosina. - O mecanismo pelo qual a atividade de FAH residual aumenta não está claro, mas supõe-se que o dicloridrato de sapropterina pode atuar como chaperona farmacológica, levando a uma melhora no dobramento e aumento da estabilidade da proteína mutante. - Os avanços nas pesquisas sugerem que o tratamento com doses farmacológicas de BH4 na forma de dicloridrato de sapropterina aumenta a tolerância à fenilalanina e diminui o nível desse aminoácido no sangue, especialmente naqueles pacientes com FNC leve. - Pacientes com FNC clássica, todavia, também podem ser responsivos (53) . Entretanto, o uso do dicloridrato de sapropterina deve ser dirigido ao grupo de pacientes com maior necessidade e urgência clínica, bem como com os maiores riscos de efeitos adversos relacionados ao não uso desse medicamento, aqui definidos como as pacientes responsivas e que estejam em período periconcepcional ou gestando. Isso ocorre devido ao fato de: a) A dieta e o uso de fórmula metabólica serem, para a maioria dos pacientes com FNC, mais efetivos e de menor custo que o dicloridrato de sapropterina b) Os estudos com dicloridrato de sapropterina possuírem um tamanho amostral pequeno e apresentarem potenciais vieses, que variam desde dificuldades no controle da dieta a flutuações na ingestão de fenilalanina c) A escolha de 30% de redução nos níveis de fenilalanina, em relação ao baseline, como critério para definir responsividade e indicação ao uso de dicloridrato sapropterina ser arbitrária d) A síndrome da FNC materna ser bem conhecida, e o controle estrito dos níveis de fenilalanina durante a gestação pode prevenir a ocorrência de defeitos congênitos e de desenvolvimento no feto ➢ Um novo tratamento: - Um novotratamento está sendo dsenvolvido, no qual uma enzima fenilalanina – amonia – liase é administrada via oralmente ou injetada subcutaneamente, a fim de degradar a fenilalaninas nas proteínas ingeridas em uma dieta menos rígidas. - Ela degrada a fenilalanina produzindo o metabólico não tóxico ácido trans-cinâmico a amônia, as pequenas quantidades de amônia geradas não chegam a ser tóxicas. 18 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo 6 – QUESTIONAMENTOS IMPORTANTES DEBATIDOS NA ABERTURA: a) Número de doenças diagnosticadas pelo teste do pezinho? - Foi sancionada a Lei nº 14.154, que amplia para 50 o número de doenças rastreadas pelo Teste do Pezinho oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O exame, feito por meio da coleta de gotas de sangue dos pés de recém-nascidos, atualmente engloba apenas seis doenças. - As seis doenças abrangidas atualmente são: fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, síndromes falciformes, fibrose cística, hiperplasia adrenal congênita e deficiência de biotinidase Qual período deve ser feito ? - A data ideal para a coleta de sangue é entre o 3º e 5º dia de vida do recém-nascido b) Prematuridade do bebê interfere no metabolismo ? - A presença de subdesenvolvimento do aparelho digestivo e do fígado pode causar vários problemas gastrointestinais c) Fatores Teratogênicos influenciam em doenças metabólicas ? As anomalias congênitas (AC) - A medida da transluscência nucal entre 11- 14 semanas de gestação é um exame ultrassonográfico obstétrico desenvolvido para identificação de fetos com EIM. - Agentes teratogênicos na gravidez X Doenças Metabólicas Geneticamente Determinadas d) Icterícia é um erro inato ? Hiperbilirrubinemia: O recém-nascido prematuro tende a apresentar hiperbilirrubinemia. No caso de hiperbilirrubinemia o fígado do recém-nascidos demora a eliminar a bilirrubina (o pigmento biliar amarelo que resulta da decomposição normal de glóbulos vermelhos) do sangue. Assim, o pigmento amarelo se acumula, o que dá à pele e às partes brancas dos olhos uma tonalidade amarelada (icterícia). O recém-nascido prematuro tende a apresentar icterícia nos primeiros dias de vida. https://www.in.gov.br/web/dou/-/lei-n-14.154-de-26-de-maio-de-2021-322209993 https://www.msdmanuals.com/pt/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/problemas-do-trato-gastrointestinal-gi-e-do-f%C3%ADgado-em-rec%C3%A9m-nascidos/icter%C3%ADcia-no-rec%C3%A9m-nascido 19 Wilsa Costa – Medicina – P2 – Tutoria 4 - Metabolismo ❖ REFERÊNCIAS: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/triagem_ neonatal_hiperplasia_adrenal_congenita.pdf https://www.spsp.org.br/site/asp/paginas/1056.as p#:~:text=A%20defici%C3%AAncia%20da%20enzim a%2021,excessiva%20produ%C3%A7%C3%A3o%20 de%20andr%C3%B3genos%20adrenais. https://ijc.org.br/pt-br/teste-do- pezinho/profissionais-de- saude/Documents/manual%20instrucoes- eletr%C3%B4nico_novembro2014.pdf https://www.spsp.org.br/2010/03/15/triagem_neo natal_para_fibrose_cistica/ https://www.sanarmed.com/artigos- cientificos/deteccao-de-hipotireoidismo-congenito- 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