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Sobre Comportamento e Cognição Cjj/nica, p& syu isa e ap/fcação O ry a n ita d o p o r JITat ia 'Z jifa /t da <S/íoa U ran d d o (7 é tim a C jr/s /in a de cSouia ( ’on/e ufernanda cSt/oa 7 iran d ão "j^ara T lupers/e in ÿn yfierm an ( J y / } / / i / a J io r y e s d e M 'a u ra TJera JÍTeneies da fi/fo a óS/no/ie JJTaríin O í/an e ESETec Editores A ssociad o s Sobre Comportamento e Cognição Associação Brasileira de Psicoterapia e M edicina Comportamental Diretoria gestão 02/03 Presidente: Maria Zildh dd Silva Brdndiio Vice-presidente: Fátima Cristina dc Sou/a Conte 1a secretária: Fernanda Silva Brandão 2Â secretária: Vara Kuperstcin Ingbcrman 1* tesoureira: Vera Lúcia Menezes da Silva tesoureira: Simone Martin Oliani Ex-presidentes: Bernard Pimentel Ranjjè Hélio josé Quilhardi Roberto Alves Banaco Rachel Rodrißues Kerbauy Hélio José Quilh<trdi Sobre Comportamento e Cognição Clínica, pesquisa e aplicação Volume 12 Organizado por Maria Zilah da Silva Brandão Fátima Cristina dc Souza Conte Fernanda Silva Brandão Vara Kuperstein Ingberman Cynthia Borges de Moura Vera Menezes da Silva Simone Martin Oliane Adilson dos Anjos * Amanda Amarantes • Ana Dalva Andrade • Andréa Nogueira de Campos Aguirre • Angélica Capelari • Antonio Bento Alves de Moraes • Armando R. das Neves Neto * Bernard Rangó • Carlos Américo Alves Pereira * Carmem Beatriz Neufeld * Célia Valsbich Início • Cilene Rejane Ramos Alvos • Claudia Barbosa • Claudia Lúcia Menegatti • Cristina Dl Benedetto • Cynthia Borges de Moura • Danielle Monegalha Rodrigues * Donise Cerquelra Loite Heller • Edwiges F. de Mattos Silvares • Elenice A. de Moraes Ferrari • Fátima de Souza Conte • Gabriel Tarragô Santos • Gerson Yuklo Tomanari • Gina Nolêto Bueno • Gustavo Sattoio Rollm • Heber O Vargas • Helena Bazanellí Preblanchi • Heleno Shfnohara • Henrique Stum • lima A. Goulart de Souza Brltto • Isabela D Soares • Isabella Santos • Ivan Carlos PavAo • João Vinícius Salgado • Jody Schafer • Juliane Lima • Jullane GequeHn • Leda Mara R. S. de Ferrante • Leonardo F. Fontenelle * Leflcla Assumpçâo • Liana Lins Melo • Lilian Milnitsky Stein • Luc Vandenbergho • Malra Canlaretll Baptistuasi • Makltlm Nunes Baptista * Marcos d« Toledo Benassí * Maria Amólla Penldo • Maria Elisa de Siqueira Montolro • Maria Rita Zoéga Soares • Maria Stella Coutlnho de A. Gil * Maria Teresa Araujo Silva • Mariane Louise Bonato • Marli/a Mestre • Marta Vieira Vilela • Mauro V Mendlowicz • Mônlca de Caldas Rosa dos Anjos • Mônica Duchesne • Myrna Chagas Coelho • Nancy Julleta Inocento * Nlono Torres • Noo) J. Dias da Costa • Patrícia Quillon Ribeiro • Paulo Rogério Morals • R. Moaona • Ralph StráU • Renato M Caminha • Rita de Fátima Carvalho Barbosa de Souza • Rosângela T. Crlstanl Arruda • Rosemar A. Prota da Silva • Rubens Reimâo • Salnt-Clair Bahls • Sandra Leal Calais • Sandra Lopes • Sandra Obredecht Vargas Nunes • Sérgio Luis Biay • Sonla Beatriz Meyer • Thais Portan de Oliveira * Thalita Freire- Maia • Tleml Matsuo * Vanessa Dl Rlenzo * Vanessa Galarraga • Vânia Lúcia Pestana Sant'Ana * Vera Regina Llgnelli Otero • Yara Kuperstein Ingberman ESETec Editores Associados 2003 Copyright desta edição: ESETec Editoren Associados, Santo André, 2003. Todos os direitos reservados Brandão, Marta Zllah, et al. Sobre Comportamento e Cognição: Clinica, Pesquisa e Aplicação. - Org.Maria Zllah da Silva Brandão, Fátima Cristina de Souza Conte, Fernanda Silva Brandão, Yara Kuperstein Ingberman, Cynthia Borges de Moura, Vera Menezes da Silva, Simone Martin Oliane 1a ed. Santo André, SP: ESETec Editores Associados, 2003. v.12 495 p. 17 x 24cm 1. Psicologia do Comportamento e Cognição 2. Behaviorlsmo 3. Análise do Comportamento CDD 155.2 CDU 159.9.019.4 ESETec Editores Associados Coordenação editorial: Teresa Cristina Cume Grassi-Leonardi Assistente editorial: Jussara Vince Gomes Revisão de diagramação: Erika Horigoshi Solicitação de exemplares: eset@uol.com.br Rua Santo I lilário, 36 - Vila Bastos - Santo André - SP CHP09040-400 Tel.( 11)4990-5683 Tel/fax:( 11)44386866 www.esetec.com.br mailto:eset@uol.com.br http://www.esetec.com.br Este volume é dedicado aos autores que, em um grande esforço de descrição de seus pressupostos e suas práticas, compartilham suas aprendizagens. Sumário Apresentação ......................................................................................................... xiii Seção I - Contribuições teóricas para a clínica Capitulo 1 - Psicoterapia baseada em eviddncias e análise crítica da literatura Armando Ribeiro das Neves Neto (AMBAN/IPQ/HCFMUSP)............. 17 Capitulo 2 - Depressão na Infância e na adolescência Saint-Clair Bahls (UFPR,UTP,UNICENP)......................................... 33 Capitulo 3 - O papel do desamparo aprendido nos transtornos depressivos Angélica Capelari (UMESP)............................................................ 54 Capitulo 4 - A depressão segundo o modelo do Behaviorismo Psicológico de Arthur Staats lima A. Goulart de Souza Britto (UCG) ............................................. 60 Capitulo 5 - Compreensão da depressão infantil a partir do modelo de Ferster Claudia Lúcia Menegatti (UNICENP) e Yara Kuperstein Ingberman (UFPR,UNICENP)............................................................................ 69 Capítulo 6 - Terapia Cognitivo-Comportamental e disfunções psicofisiológicas Armando Ribeiro das Neves Neto (AMBAN/IPQ/HCFMUSP)............ 76 Capítulo 7 - O sono no stress pós traumático Sandra Leal Calais (UNESP/BAURU), Makilim Nunes Batista (UNIFESP/ ARARAS) e Nancy Julieta Inocente (UNITAU/SP).......................... 87 Capítulo 8 - Terapia Comportamental Construcional do Borderline Luc Vandenberghe (UCG/GO)........................................................ 92 Capítulo 9 - Efeitos da relação terapêutica na redução de comportamentos agressivos de crianças de baixa renda Myma Chagas Coelho (IACEP)e Fátima de Souza Conte (PSICC)......... 97 Capitulo 1 0 - A análise funcional e o transtorno de pânico: Um impasse epistemológico Luc Vandenberghe (UCG/GO)......................................................... 106 Capítulo 11 - Transtorno do pânico e características comportamentais: intervindo a partir da análise funcional da relaçflo terapêutica Nione Torres (IACEP)..................................................................... 112 Capitulo 1 2 - As implicações da ansiedade na memória de adultos Claudia Barbosa (FAG/CASCAVEUPR).......................................... 120 Capítulo 1 3 - 0 papei dos reforçadores na construção dom medos humanos Marilza Mestre (UTP)...................................................................... 126 Capítulo 1 4 - A participação da família no atendimento individual de casos graves: recurso para prevenir e enfrentar conflitos? Vera Regina Lignelli Otero (ORTEC)................................................ 143 Capítulo 15- Aigumas proteções sobre a sexualidade humana contemporânea Cristina Di Benedetto (UNIPAR/CESUMAR/PR)............................... 149 Capítulo 1 6 - Identidade sexual e identidade de gênero Vânia Lúcia Pestana SanfAna (UEM/PR)........................................ 154 Capitulo 17 - Disfunções sexuais e classes de resposta relacionadas Maira Cantareíli Baptistussi (UNIPAR)............................................. 162 Seção II - O Tratamento Capitulo 1 8 - Graus de ansiedade no exercido do pensar, sentir e agir em contextos.terapéutícos Gina Nolêto Bueno e lima A. Goulart de Souza Britto (UCG/GO) ....... 169 Capítulo 19 - Tricotilomania: Um impulso que pode ser controlado Bernard Rangé e Danielle Monegalha Rodrigues (UFRJ).................... 180 Capitulo 20 - Formulação e tratamento de um caso de ansiedade social Helene Shinohara (PUCRJ).............................................................. 187 Capítulo 21 - Experiência com grupos terapêuticosem uma clinica escola Marta Vieira Vilela, R. Mosena e Sandra Lopes (UCDB/MS)............... 192 Capítulo 22 - Terapia Comportamental e Cognitiva em grupo para transtorno de pânico - Terapia Comportamental Cognitiva em grupo aberto: vantagens e desvantagens Célia Vaisbich Inácio (FMUSP).......................................................... 199 Capítulo 2 3 - Transtorno Obsessivo-Compulslvo: tratamento cognitivo- comportamental de um caso de colecionismo Maria Améíía Penido, Bernard Pimentel Rangé e Leonardo F. Fontenelle (UFRJ)...............................................................................205 viii Capítulo 24 - Arquitetura e psícobíofogía do sono nos transtornos de humor Makilim Nunes Baptista (UNIARARAS/U BC), Nancy Julieta Inocente (UNITAU-SP), Paulo Rogério Morais (UBC).................................... 215 Capítul(/25- Alterações neuroquímicas da depressão Sandra Obredecht Vargas Nunes (UEL)........................................... 223 C ap ítu lo ^ - O estresse e as alterações imunológicas Sandra Obredecht Vargas Nunes (UEL)........................................... 228 Capítulo 27 - Insônia e tratamento comportamental Nancy Julieta Inocente (UNITAU-SP), Sandra Leal Calais (UNESP- Bauru), Paulo Rogério Morais (UBC), Makilim Nunes Baptista (UNIARARAS/UBC), Rubens Reimão (USP/APM).......................... 234 Capítulo 28 - Sono: arquitetura, funções e distúrbios Paulo Rogério Morais (UBC), Makilim Nunes Baptista (UNIARARAS/ UBC) e Sandra Leal Calais (Unesp - Bauru)..................................... 242 Capítulo 2 9 - Transtornos de personalidade e psicoterapia cognitiva Makilim Nunes Baptista (UNIARARAS) e Paulo Rogério Morais (UBC)............................................................................................... 256 Capitulo 3 0 - 0 desenvolvimento e o uso do Software “CM” na reestruturação da memória pós-traumática- Renato M. Caminha, Juliane Lima, Jody Schafer, Vanessa Galarraga (UNISINOS/RS)............................................................................... 265 Capítulo 3 1 - 0 transtorno da compulsão alimentar periódica - técnicas cognitivas e comportamentais Mônica Duchesne (UFRJ).............................................................. 277 Capítulo 3 2 - Terapia comportamental para enurese noturna com uso do aparelho de alarme para urina - Diferenças e similaridades no tratamento de crianças e adolescentes Rosemar A. Prota da Silva, Noel J. Dias da Costa e Edwiges F. de Mattos Silvares (IPUSP)................................................................. 284 Capítulo 33 - Diagnóstico de depressão do idoso Heber O. Vargas, Tiemi Matsuo (UEL) e Sérgio Luis Blay (Unifesp)......... 296 Seção III - Psicologia e Saúde Capítulo 3 4 - A Psicologia Comportamental na formação dos profissionais da Saúde Gabriel Tarragô Santos (UMC)......................................................... 307 Capítulo 35 - Estratégias lúdicas para intervenção terapêutica com crianças em situação clinica e hospitalar Maria Rita Zoéga Soares (UEL), Cynthia Borges de Moura (DEL) e Helena Bazanelli Prebianchi (PUCAMP) ..............................................312 Capitulo 3 6 - Apoio psicológico a familias de diabéticos Denise Cerqueira Leite Hellere Patrícia Guillon Ribeiro (UTP)................327 Capítulo 37 - A Obesidade Mórbida e a Psicologia Rosângela T. Cristani Arruda............................................................... 333 Seçâo IV - Pesquisa Capítulo 38 - Pesquisa em clinica comportamental - Proposta metodológica e resultados Sonia Beatriz Meyer (IPUSP)............................................................345 Capitulo 39 - A ética em pesquisa com seres humanos: dos documentos aos comportamentos Antonio Bento Alves de Moraes e Gustavo Sattolo Rolim (UNICAMP/ PIRACICABA).................................................................................. 353 Capitulo 40 - Concepções de terapeutas com porta mentais sobre o behaviorismo Ralph Strâtz (PUCSP)......................................................................363 Capítulo 41 - Independência entre respostas e eventos subseqüentes: efeitos no desempenho individual Vanessa Di Rienzo (PUCSP/UNIP)................................................... 371 Capítulo4 2 - Verbal 2.0: Um programa de computador para estudos experimentais do comportamento verbal sob controle pelas conseqüências Gerson Yuklo Tomanari, Ivan Carios Pavão e Marcos de Toledo Benassi (IPUSP).............................................................................................. 379 Capítulo43- Inibição latente: contribuição como modelo animal de esquizofrenia Cilene Rejane Ramos Alves e Maria Teresa Araújo Silva (IPUSP)........ 366 Capítulo 4 4 - Inibição latente: Contribuição como modelo humano do distúrbio de atençào Liana Lins Melo, Elenice A. de Moraes Ferrari e João Vinícius Salgado (IPUSP)............................................................................................ 398 Capítulo 4 5 - Qualidade de vida em pacientes com transtorno obsessivo- compulsivo Isabela D. Soares, Bernard Range, Mauro V. Mendowicz, Leonardo F. Fontenelle, Carlos Américo Alves Pereira (UFRJ)................................ 412 x Capítulo 46 - Adesão ao tratamento psiquiátrico de pacientes portadores de transtornos de ansiedade Maria Elisa de Siqueira Monteiro (UNINOVE)...................................422 Capitulo 47 - Comportamento alimentar: Influência materna na obesidade infantil Rita de Fátima Carvalho Barbosa de Souza, Denise Cerqueira Leite Heller, Mônica de Caldas Rosa dos Anjos e Andréa Nogueira de Campos Aguirre (UTP)....................................................................435 Capitulo 48 - Relação entre a presença de transtorno alimentar, eutrofia e percentual de gordura corporal em estudantes universitários do sexo feminino Denise Cerqueira Leite Heller, Mônica de Caldas Rosa dos Anjos (UTP) e Adilson dos Anjos (UFPR)..................................................445 Capítulo4 9 - Faísas memórias em pré-escolares: uma investigação experimental e suas implicações clínicas Carmem Beatriz Neufeld (FAG/CASCAVEL) e Lilian Milnitsky Stein (PUC/RS)......................................................................................... 453 Capítulo 50 - Um procedimento de treino de discriminação condicional com bebés Maria Stella Coutinho de Alcântara Gil (UFSCAR) e Thais Porlan de Oliveira (UFSCAR)...........................................................................469 Capítulo 51 - Perfil do condutor infrator da cidade de Curitiba em 2001 Marilza Mestre, Amanda Amarantes, Henrique Stum, Isabella Santos, Juliane Gequelin, Letícia Assumpçâo, Mariane Louise Bonato, Thalita Freire-Maia, Ana Dalva Andrade, Leda Mara R. S. de Ferrante (UTP,PUCPR,DETRAN/PR).........................................478 xi Apresentação Mais uma vez, a ABPMC tem a grata tarefa de compilar trabalhos que refletem os avanços em pesquisa, clínica e reflexão do ano de 2002, em um retrato do que vem sendo produzido pela comunidade na área da Terapia Comportamental e Cognitiva. O resultado do esforço desta diretoria já está sendo amplamente reforçado pelos mais de 100 autores que enviaram suas contribuições neste ano. O material foi revisado e organizado em blocos, de forma a facilitar o manuseio dos íeitores. No volume 11, iniciamos com a recuperação de importantes autores que tiveram influência sobre o pensamento de analistas do comportamento. Em seguida, pas samos a autores que tém influenciado o pensamento e a prática clínica de terapeutas comportamentais no Brasil, refletindo suas preocupações com princípios teóricos e com a apreciação de suas práticas. Temos, também, aí, trabalhos refletindo preocupação, de monstrada por gnaífstas do comportamento, com a pesquisa voltada à clínica. Segue-se com a questão da formação de novos terapeutas e aplicações da análise do comporta mentoa trabalhos em educação e na comunidade. No volume 12, contamos com importantes contribuições teóricas para o trabalho em clínica, seguidas de relatos de experiências com tratamento. Neste volume, o leitor vai encontrar, ainda, um tópico sobre psicologia e saúde, e outro sobre relatos de pesquisa básica e em clínica, que têm enriquecido nossos encontros anuais. Estes volumes são o retrato deste momento da ABPMC, que é de muita produção de nossos filiados e de sua disposição em compartilharem, em ambiente não punitivo, de suas experiências na pesquisa e na clínica, em mais um passo para descrever a consoli dação de suas ações em nosso meio, contribuindo para o estudo e o ensino da Terapia Comportamental e Cognitiva no Brasil. xiil As publicações da ABPMC têm sido ansiosamente aguardadas pela comunidade dos terapeutas e pela comunidade acadêmica ligada à área, pelo acesso que dâo ao mundo da Terapia Com porta mental em um país como o nosso, onde temos tantas dificul dades para difundir o que fazemos e o que pensamos. Esperamos, com estes dois volu mes, estarmos mais uma vez atendendo a este anseio em uma cadeia que vem amplian do a variação comportamental, o que permite a seleção de muitos comportamentos alta mente desejáveis ao progresso da Terapia Comportamental e Cognitiva. O sentimento ó de extrema satisfação pela oportunidade de fortalecer o compor tamento de compartilhar ricas experiências! Diretoria da ABPMC Gestão 2002/2003 xiv Seção I Contribuições teóricas para a clínica Capítulo 1 Psicoterapia baseada em evidências e análise crítica da Literatura Armando Ribeiro das Neves Neto' Através dos séculos diversos tratamentos foram desenvolvidos para as doenças mentais, aliados sempre ao conhecimento hegemônico da época e também aos seus preconceitos, conhecemos através da história, muitos tratamentos que além de inefica zes apresentavam graves prejuízos à saúde humana, ou seja, buscar um tratamento po deria abreviar a morte ou complicar a existência. Do exorcismo, lobotomia, utilização de sanguessugas, malarioterapia, insulinoterapia, choques térmicos, balanço giratório, ba nhos de imersão, magnetismo animal (hipnose), eletroconvulsoterapia, às primeiras dro gas com efeitos psícotrópicos conhecidos, nossa preocupação atual é buscar compreen der os mecanismos de ação das intervenções psicológicas e psiquiátricas, assinalando para a comunidade científica e população geral os tratamentos que demonstram eficácia e segurança para os diversos transtornos mentais existentes (Figura 1) (Lotufo Neto et al., 2001; Neves Neto, 2002; 2003). Figura 1. Balanço Giratório largamente utilizado no tratamento das doenças mentais (século XVIII). ’ Patoótogo Doutorando pata Eacola Paulata da Madtctna • UNIFE3P. Coordanador do SMor d* Patcotogla da Saúda do Irwtttuto Neuolôgtoo d« 8âo Paulo - HoapHal Banaflctnda Portuguaaa AMBAN IPQ-HCFMU8P. Sobrf Comportdmrnto e CognifAo 1 7 Karasu (1986), Beitman, Golfried e Narcross (1989) citados por Kerbauy (2002) relatam a existência de mais de 400 abordagens psicoterápicas distintas, número que surpreende a todos (profissionais, afunos e clientes), gerando dúvidas interessantes as quais questionam sobre a real necessidade deste número de propostas de tratamento, ou seja, todas funcionam? todas estão habilitadas ao tratamento dos transtornos mentais conhecidos? uma mesma queixa pode ser tratada com eficácia e segurança por todas estas abordagens? o tempo de tratamento e o custo são os mesmos? estão fundamenta das epistemologicamente? qual é crivo científico por trás das diferentes propostas? e quanto à produção de pesquisas? possuem comunidades organizadas, sociedades, en contros regulares? e quanto ao treinamento dos profissionais? Entre outras questões (Quadro 1). Quadro 1. Descrição de algumas abordagens psicoterápicas. Terapia Comportamental Terapia Centrada na Pessoa Terapia Sistémica Terapia Cognitiva Psicanálise Terapia Auto- Instrucional Terapia Comportamental Cognitiva Terapia Familiar Terapia Reichiana Terapia Fenomenológica Terapia Racional Emotiva Hipnose Ericksoniana Terapia Lacaniana Entrevista Motivacional Terapia Estrutural Terapia Existencial Humanista Dessensibilização e Reprocesaamento através de Movimentos Oculares (EMDR) Psicoterapia Analítico Funcional (FAP) Terapia Cognitiva Narrativa Terapia Cognitiva Construtivista Terapia Transpessoal TeraplaCorporal Psicodrama Análise Transacional Biossíntese Análise Bioenergótica Arte-Terapia Terapia de Casal Gestalt Terapia Terapia Interpessoal Terapia Autógena Terapia Comportamental Dialética Terapia de Realidade Terapia Sexual Mediação Familiar Terapia do Grito Primai Terapia Kleiníana Logoterapia Terapia Multimodal Análise Junguiana Podemos avaliar que sendo difícil para os profissionais psicólogos e psiquiatras terem profundo conhecimento das propostas anteriormente descritas, imaginamos o que se passa com os demais profissionais da saúde (médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogas, assistentes sociais etc.). Equivoca-se quem pensa que não seja necessário um maior esclarecimento das propostas psicoterapêuticas existentes, pois políticas de saúde, con vênios de saúde, comunidades, regiões geográficas, diferentes níveis socioeconômicos, diferentes formas de acesso aos serviços de saúde, cultura e educação, religião, entre outros, podem ser afetados de formas muito diferentes pelo emprego de uma das formas 1 8 Armando Ribeiro das Neve* Neto descritas no quadro anterior (Binder, 1976). Costuma-se pensar que psicoterapia seja uma coisa só, como ouvimos regularmente dos clientes: "vim fazer análise”, “estou fazen do psicanálise", "preciso procurar uma terapia". O que é Psicoterapia Baseada em Evidôncias (PBE)? A partir das informações já apresentadas, fica mais claro o conceito de Psicoterapia Baseada em Evidências (PBE), também chamada de "Psychotherapeutic Evidence Based Treatments" ,"Empirically Validated Therapies" ou “Effective Psychosocial Intervention^', sendo assim descrito: "revisão da literatura científica sobre tratamentos psicoterápicos que apresentaram eficácia frente aos critérios metodológicos adotados" (Chambless et ai., 1996, Chambless e cols., 1998, p. 3), ou seja, adotar intervenções clínicas baseando- se nos resultados de estudos bem conduzidos metodologicamente, visando uma maior eficácia, efetividade, segurança e custo (Sartorius et al., 1993; Niederehe, Street & Lebowitz, 1999; NIH-NIMH, 1999; Norquist & Hyman, 1999; Clay, 2000; Department of Health, 2001). Entender a PBE exige novos conhecimentos advindos das ciências epidemiológicas e de metodologia de pesquisa (Fletcher, Fletcher & Wagner, 1996). Eficácia (efícacy) ó a demonstração empírica do funcionamento de um determi nado tratamento, pode ser utilizada quando uma determinada intervenção trás os efeitos esperados para o paciente que a recebe (em condições ideais). Os estudos de eficácia geralmente elegem pacientes que ativamente colaboram para o estudo, sendo descarta dos os pacientes com queixas incomuns, dificuldades de aderência ao tratamento ou pacientes com comorbidades (presença de diversas outras condições de saúde). Exem plo: Emprego de Terapia Comportamental (consistindo em: relaxamento muscular pro gressivo, monitoração de atividades e reforço positivo) sendo eficaz para o tratamento de sintomas ansiosos em um adolescente tratado numa clínica-escola. Efetividade (effective) implica em oferecer um tratamento que traga mais benefí cios do que malefícios para os pacientes, sem descartar as queixas incomuns, as dificul dades de aderência, ou a ocorrência de comorbidades (em condições usuais). Na prática, os estudos de efetividade põem a prova os tratamentos clínicos em grandes grupos heterogêneos de pacientes, sendo assim incomuns pois podem apresentar resultados inconclusivos. Exemplo: Emprego de Terapia Comportamental (consistindo em: relaxa mento muscular progressivo, monitoraçãode atividades e reforço positivo) sendo efetivo para o tratamento de sintomas ansiosos em um grupo de 60 adolescentes tratados no ambiente escolar. Segurança (safety) é um tema extremamente atual, mantendo ligações com a Ética Profissional e a Bioética. A utilização de Terapia Aversiva, chocou a opinião pública, possibilitando a rotulação de toda uma prática bem fundamentada e orientada para o tratamento dos pacientes. Os novos tratamentos devem incluir uma análise da segurança dos indivíduos participantes, sendo exigência principal das Comissões de Ética e Pesqui sa, um relatório detalhado, que deverá ser informado ao paciente, e a intervenção só acontece após consentimento livre e esclarecido por parte deste. A existência de efeitos colaterais ou possibilidade de insucesso terapêutico, entre outros, deverá ser comunicado aos pacientes, estando este ciente das adversidades inerentes as intervenções no campo da saúde. Exemplo: Utilizar a técnica de inundação ou a técnica de dessensibilização Sobre Comportamento c Cogniçdo 1 9 sistemática para o tratamento de fobia de insetos? Qual procedimento apresenta mais segurança? Custo (cost) é o valor econômico que responde por todos os gastos envolvidos com o tratamento. Questão difícil e bastante atual, é incluir nos estudos de eficácia - efetividade, análises do custo do tratamento, que podem incluir: honorários do profissio nal, duração do tratamento, frequência de consultas, uso de medicação, recaídas, acom panhante terapêutico, procedimentos (ex. biofeedback, hipnose e psicodiagnóstico), interconsultas (ex. psiquiatras, fisioterapeutas etc.), exames complementares (ex. resso nância magnética, avaliação nutrícionaí etc.) entre outros. Existe uma necessidade social bastante atual de avaliar o impacto do tratamento na vida do paciente (ex. educacional, ocupacional e afetiva) e de seus familiares, questões como indicação de tratamento, ou não devem ser respondidas pelas novas pesquisas. Exemplo: Qual é o custo de um tratamento psicoterápico para a depressão? Os valores podem variar de R$ 1000,00 até R$ 10.000,00, bem como o tempo de tratamento de 4 meses até 6 anos. Os diferentes estudos de PBE vêm analisando quais as melhores intervenções para os diversos problemas de saúde mental existentes, considerando os dados anteri ores. Agora será necessário compreender quais as possibilidades existentes de estu dos acerca da eficácia, efetividade, segurança e custo (Sartorius et ai., 1993; Kaplan & Groessl, 2002). Desenhos de Pesquisa 1- Opinião dos Especialistas Considerada uma forma de conhecimento que apresenta grandes problemas metodológicos, por consistir na experiência de vida pessoal dos seus autores, sem consi derar os vícios profissionais, interesses pessoais, vieses de observação, experiência clíni ca e metodológica, entre outros. É muito importante tomarmos contato com as experiên cias alheias, principalmente de profissionais com muita experiência no campo de traba lho, mas essas informações nôo podem ser utilizadas sem acrescentar dados empíricos de trabalhos submetidos à avaliação de especialistas adhoc. Esse tipo de conhecimento é comum nos encontros de profissionais, aulas acadêmicas e supervisões clínicas. 2- Revisão Narrativa Forma de revisão da literatura bastante comum em nosso meio, é realizada sem critérios definidos para busca e escolha da relevância dos artigos encontrados. Muitos estudantes iniciantes conduzem revisão da literatura, somente em suas bibliotecas lo cais, ou somente utilizando os materiais fornecidos por professores e outros profissionais. Exemplo de problemas na Revisão Narrativa é o aluno em 2003 dizer que não existem artigos publicados sobre “Aids e depressão”, após avaliar o material de sua biblioteca, ou literatura sugerida por professores. 2 0 Armando Ribeiro das Neves Neto 3- Estudo de Caso É o passo inicial de qualquer estudo que investiga assuntos ainda pouco explora dos através de uma análise profunda do atendimento de um único caso clínico. É por excelência o recurso metodológico mais utilizado em Psicologia, dado o objeto de estudo, ser o homem, com suas experiências subjetivas e idiossincráticas. O estudo das novas psicopatologias, frequentemente é iniciado através de um Estudo de Caso, na história temos exemplos de importantes estudos, como: "O Pequeno Hans" de Freud e o estudo de “Albert" de J.B. Watson. O principal problema deste estudo é sua baixa capacidade de generalização, características que podem não ser encontradas em outros pacientes, dada a idiossincrasia de cada estudo. Para o desenvolvimento de uma ciência não se pode ficar estacionado neste nivel metodológico, a partir dos estudos de caso, são necessários outros métodos mais complexos para provar a eficácia de um método terapêutico, ou mesmo afirmar a existência de uma nova categoria psicopatológica. 4- Série de Casos Mais complexo que o estudo de caso simples, o estudo Série de Casos, agrupa os dados advindos de um número maior de sujeitos com os mesmos sintomas, ou que receberam as mesmas intervenções clínicas. Ainda possui os mesmos problemas do estudo anterior, sendo pouco generalizável. É um ótimo método para treinamento de estu dantes na clínica-escola, mas não pode ser usado como base para sustentar as teorias psicológicas. 5- Estudo Transversal O estudo transversal (estudo de prevalência) é um estudo do tipo observacional em que são definidos uma amostra representativa da população geral estudada, e defini dos critérios de inclusão e exclusão destes indivíduos, com o objetivo de conhecer a frequência de pessoas doentes em uma determinada população. Por exemplo, qual a prevalência de sintomas depressivos em estudantes de um curso de Psicologia? De uma população total de 500 alunos, define-se estatisticamente que 300 alunos são representa tivos deste grupo, sendo que apenas 200 preencheram os critérios de inclusão no estudo. Como resultado se observa que 30% dos alunos apresentaram sintomas depressivos clinicamente relevantes no período do estudo. Através do Estudo Transversal pode-se avaliar a Prevalência (número de casos doentes no grupo estudado) ou a Incidência (nú mero de casos novos em um grupo que não possuía casos da doença). Um grande proble ma presente neste tipo de estudo é quanto ao efeito “fotografia", ou seja, você apenas tem uma imagem momentânea sobre as condições de saúde-doença de um grupo estudado, que pode ser alterado facilmente por novas variáveis desconhecidas pelo pesquisador. O tamanho do grupo também pode variar muito, é comum não se fazer o cálculo estatístico do tamanho da amostra representativa, o que já pode levar a um viés de seleção. Se a doença for muito comum, em geral, espera-se um grupo muito grande para se tornar representativo (ex. depressão), diferente de doenças menos comuns (ex: transtorno factício). Sobre Comportamento e Co(jniç«lo 2 1 6- Estudo Caso-Control© O Estudo de Caso-Controle ó um estudo do tipo retrospectivo que tem como principal objetivo reconhecer as variáveis históricas que podem estar associadas a mani festação presente de uma determinada entidade clínica. Exemplo, buscar na história do parto (complicações ou não) a explicação para o desenvolvimento de queixas psicológi cas ao longo da vida. Após a determinação da amostra representativa de uma determina da população, da definição de critérios de inclusão e exclusão, da escolha dos instrumen tos de medida, são montados dois grupos: grupo de casos (pessoas que possuem as queixas estudadas) e um grupo de controles (pessoas que não possuem as queixas estudadas), o objetivo principal do estudo é buscar através das variáveis existentes na historia de vida dos grupos explicações que sustentem a associação entre uma determi nada variável e seu efeito (doença), seu cálculo principal ó denominado "Odds Ratio" (ra zão de chances), quanto maior seu valor, maior será a associação entre variáveis históri cas e desenvolvimento de doença.O Estudo Caso-Controle ó principalmente utilizado para pesquisas que requerem a etiologia (causa das doenças) e prevalência e/ou incidência, sendo sua principaí critica relacionada ao viés das variáveis históricas, ou seja, o quanto se pode confiar na veracida de de informações trazidas pela memória dos sujeitos da pesquisa? 7- Estudo de Coorte Trata-se de um estudo mais complexo e caro do que o anterior, é considerado prospectivo, pois busca as variáveis no desenrolar da pesquisa. São formados dois grupos: casos (ex: sujeitos que fumam) e controles (ex: sujeitos não fumantes), ao longo dos anos ambos os grupos são seguidos, e conforme forem adoecendo os indivíduos (ex: câncer de pulmão e/ou cardiopatia) é possível se calcular o que se denomina Risco Relativo, ou seja, o peso do tabagismo na saúde dos grupos. Suas principais criticas ocorrem em relação ao seu alto custo (ex: necessidade de uma amostra muito grande, pois as perdas de sujeitos ao longo do tempo são inevitáveis, necessidade de muitos pesquisadores etc.), complexi dade metodológica e ao longo tempo de acompanhamento dos grupos. 8- Ensaio Clinico Este ó “a menina dos olhos” dos desenhos de estudo. Sua utilidade principal é aferir a eficácia de intervenções clínicas, sendo responsável pelo o que se denominou chamar de PBE. Sua estrutura básica é a seguinte: de uma população geral, é formada uma amostra representativa, que deverá ser randomizada (random) para as várias possibi lidades de tratamento disponíveis, ou seja, serão formados: um grupo experimental e um (ou mais) grupo controle. Oe forma aleatória, os sujeitos serâo alocados nestes grupos, sendo que durante a pesquisa, nem os sujeitos participantes, e os pesquisadores mais próximos destes, saberão sobre os procedimentos técnicos aplicados, ou sobre as carac terísticas da psicopatologia estudada, o que é denominado mascaramento do tipo duplo- cego (double blind). O rigor metodológico deste tipo de estudo, garante ao final avaliar o impacto da intervenção no desfecho clínico dos sujeitos, sendo que um bom desfecho é sempre determinado previamente ao início da pesquisa. A utilização de bons ensaios 2 2 Armando Ribeiro das Neve* Nelo clinica, garante as evidôncias necessárias para fundamentar as intervenções a nível institucional e de saúde pública, remodelando as práticas clínicas. O controle das variá veis, atingir o desfecho esperado, o treinamento das equipes de intervenção são aígumas das dificuldades deste delineamento de pesquisa. 9- Revisão Sistemática Diferentemente da Revisão Narrativa, uma boa Revisão Sistemática cria um méto do de pesquisa para o objeto de estudo, sendo necessário esgotar os diversos mecanis mos de busca da literatura existentes (ex: bibliotecas especializadas, especialista no tema, anais de congressos, trabalhos ainda não publicados, Psylnfo, Medline, Embase etc.), bem como processar a informação encontrada, pontuando-se o valor dos artigos e analisando seus critérios metodológicos. É um exaustivo trabalho que necessita de su pervisão externa e, possivelmente, da colaboração de agências internacionais, como a Colaboração Cochrane. 10- Metanálise Após a realização de uma Revisão Sistemática, é possível e desejável realizar um trabalho estatístico com os dados advindos dos artigos já selecionados, isto se convencionou chamar de Metanálise (Figura 2). A partir de diversos estudos já selecionados, as amostras populacionais são agrupadas e calcula-se o efeito de diferentes intervenções num número grande de sujeitos, a partir da reunião das pesquisas, com excelente rigor metodológico. Tanto a Revisão Sistemática, quanto a Metanálise usam dos ensaios clíni cos existentes para formar o que se convencionou chamar de “Guidelines", ou seja, guias para as práticas clínicas. Este é um recurso excelente para a PBE, pois oferece aos profissionais, um conhecimento empírico atual, que já passou por diversos “funis" de seleção, estando então apropriados para o emprego na prática diária. Figura 2. Exemplo de um gráfico gerado no processo de Metanálise. E n d p o i n t #1 P«to'• nalhod U I lataral Cl, 99VC for trial*. 9SX for Mfl [ bl ; bs 1 0.630 I 0.3*4; 1.0991 0 .9 0 0 t 0 .3 7 « ; ( l . M a i í . a a i t o . « a n ; i . b o r i O .M T I 0 .9 4 1 ; O .B M Sil Sobre Comportamento e Coflni(3o 2 3 Uma informação importante para os sujeitos que desejam iniciar pesquisas seguindos os procedimentos anteriormente descritos é quanto ao objetivo do estudo, descrito no quadro 2. Quadro 2. Descrição dos desenhos de pesquisa segundo o objetivo. Estudo Objetivo Transversal Diagnóstico Prevalência Coorte Incidência Prognóstico Caso-Controle Risco Coorte Etiologia Ensaio Clinico Tratamento Revisão Sistemática e Prevenção Metanálise Adaptado de Fletcher et al. (1996). A critica aos limites existentes em cada um dos estudos epidemiológicos ó ilus trada na figura 3, sendo também indicado o poema “The blind men and the elephant" de John Godfrey Saxe (Anexo 1), por enfatizar os erros advindos de uma visão fragmentada, especializada, comum aos métodos de pesquisa e a não utilização de estudos qualitati vos (Lovisl & Nogueira, 1994; Messer, 2002). 's J Figura 3. Ilustração sobre os limites dos diferentes métodos de estudos (Figura adaptada de G. Renee Guzlas). U Armando Ribeiro dai Neve* Neto Após este breve resumo sobre os delineamentos de pesquisas existentes, na epidemiologia clínica, chega o momento de apresentar os resultados da PBE para os diversos transtornos mentais estudados, sendo necessário apenas reconhecer o crivo construído por algumas associações de classe (Division 12 Task Force on Effective Psychosocial Interventions da Associação Americana de Psicologia - EUA; Instituto Na cional de Saúde Mental—EUA; Evidence Based Clinical Practice Guideline- Departamento de Saúde da Inglaterra; Task Force on Empirically Supported Treatments da Associação Canadense de Psicologia; Evidence Based Treatment 6a Associação Americana de Psi quiatria - EUA e da Colaboração Cochrane, entre outros), presentes na tabela 2. Tabela 2. Critérios para Psicoterapia Baseada em Evidências (PBE). __________________Tratamentos Bem Estabelecidos 1. Pelo menos dois bons delineamentos de pesquisa que demonstraram eficácia em uma ou mais das seguintes direções: A. Superior (estatisticamente significante) a droga ou placebo ou a outro tratamento. B. Equivalente a um bem estabelecido tratamento em experimentos com amostragem representativa. Ou 2. Um grande número de estudos do tipo série de casos (n>9) demonstrando a eficácia. Estes experimentos devem ter: A. Usar bom delineamento experimental e B. Comparar a intervenção com outro tratamento como em 1A Outros critérios para 1 e 2: 3. Experimentos devem ser conduzidos com manuais de tratamento 4. Características das amostras de clientes devem ser claramente especificadas 5. Efeitos devem ser demonstrados por pelo menos 2 diferentes investigadores ou equipe de investigadores Tratamentos Provavelmente Eficazes_______________ 1- Dois experimentos demonstrando que o tratamento é superior (estatisticamente significante) comparado a um grupo de lista de espera. 2- Um ou mais experimentos que preencheram os critérios para os Tratamentos Bem Estabelecidos 1A ou 1B, 3, mas não o 4. 3- Uma pequena série de estudos de caso (n>3) que utilizaram os critérios dos Tratamen tos Bem Estabelecidos. (Adaptado de Chambless e cols., 1998) Sobre Comportamento e Cognição 2 5 Além dos critérios descritos anteriormente a respeito da PBE ó possivel utilizar um guia geral que servirá para classificar sobre os graus de evidências seguindo orienta ções de um documento do Departamento de Saúde da Inglaterra, tabela 3. Tabela 3. Recomendações para avaliar o grau de evidência de estudos em psicoterapia. _________________________ Grau» de Evidência»_________________________ Evidência Nivel A - Baseados em achados consistentes em uma maioria de estudos derevisões sistemáticas de "alta qualidade” ou evidências de experimentos com alta qualidade. Evidência Nivel B - Baseados em pelo menos um estudo de alta qualidade, e uma fraca ou inconsistente revisão que não completou todos os critérios de "alta qualidade". Evidência Nível C - Baseados na evidência de estudos individuais que não preencheram todos os critérios de “alta qualidade". Evidência Nivel D - Baseados nas evidências de consensos de profissionais experientes. (Adaptado de Department of Health, 2001) As duas formas de classificação anteriormente descritas são ainda criticadas quanto ao sistema adotado para avaliar os estudos científicos realizados com o objetivo de sustentar a eficácia das práticas psicoterápicas atuais. Mesmo assim, são opções interessantes para se poder julgar de forma parcimoniosa e sistemática os resultados das pesquisas no campo da psicologia e psiquiatria. A principal critica a esta conduta é sobre a inexistência de critérios também sistemáticos e parcimoniosos para se avaliar os estu dos qualitativos, que ainda estão de fora dos guias gerais de prescrição e sustentação cientifica das psicoterapias em voga. Quanto aos resultados gerais da PBE gostaríamos de apresentar na tabela 4, uma lista resumida de alguns tratamentos que já possuem evidências científicas de sua eficácia. Tabela 4. Exemplos de PBE. Nivel Aplicação Artigos A Terapia Comportamental para Blanchard et al. (1980) cefaléia. Holroyd & Penzien (1990) A TCC pàra prevenção de recaída Hill et al. (1993) na cessação de tabagismo. Stevens & Hollis (1989) A TCC para bulimia nervosa. Agras et al. (1989) Thackwray et al. (1993) A TCC para dor associada Keefeetal. (1990a,b) com doença reumática. Parker et al. (1988) B TCC para dor lombar crônica. Turner & Clancy ( 1988) B TCC para SCI. Lynch & Zambie (1989) Payne & Blanchard ( 1995) TCC =! Terapia Cognitivo-Comportamental SCI = Slndrome do Cólon Irritável 2 6 Armando Ribeiro das Neves Neto Análise crítica da literatura As fontes atuais de conhecimento estão cada vez mais próximas de seus consu midores finais e cada vez mais velozes na possibilidade de atualização. Internet, sites com mecanismos de busca, bibliotecas (reais e virtuais), CD-ROM, revistas (científicas ou populares), reportagens, livros, manuais, treinamentos, vídeos, encontros, entre outros, possibilitam que o acesso ao conhecimento seja cada vez mais incorporado na prática clínica convencional. A experiência no ensino de Psicologia nos coloca mais próximos ao fácil acesso que nossos alunos tem em relação à busca de informações científicas, e também aos problemas advindos desta prática sem reflexão ou crítica. Onde está o saber que perdemos na Informação? (T.S. Eliot). É relevante adotarmos meios de filtrar melhor nossas fontes de informação, pois toda a prática dependerá daquilo que incorporarmos ao nosso sistema de conceitualização, possibilitando ou não, disponibilizar os dados mais fidedignos presen tes na boa literatura atual. Em uma pesquisa descrita por Callahan et al. (1994) apud Fletcher et al. (1996) dos 1631 artigos encontrados num levantamento inicial de referências bibliográficas, ape nas 130 referências eram relevantes para os seus objetivos, sendo as fontes desprezadas por inúmeros motivos (ex: sem dados originais, língua não-inglesa, com menos de 10 pacientes, metodologia frágil etc.). Para orientação geral da Análise Crítica da Literatura, observaremos algumas questões que auxiliam neste processo, a seguir: 1. Qual ó o objetivo do estudo? 2. A metodologia empregada é correta para os objetivos determinados? 3. Quanto à amostra, foi adequada (ex. no. de sujeitos, critérios de inclusão e exclusão, randomização, grupo controle, mascaramento, local do estudo etc.)? 4. Quanto aos instrumentos utilizados (ex. são validados, adaptados para cultura, deter minados seus valores de sensibilidade e especificidade etc.)? 5. Quanto aos procedimentos (ex. foram descritos, são clássicos ou criados para o estu do especificamente etc.)? 6. Quanto aos resultados (ex. a análise estatística foi correta, a descrição das variáveis correspondeu aos objetivos determinados anteriormente etc.)? 7. A discussão foi coerente com o conhecimento atual e os resultados do estudo? 8. Foi realizada análise de follow-up (seguimento), drop-out (desistência), bias (viéses)? 9. Outras informações relevantes (ex: quem financiou o estudo, onde foi publicado o estudo etc.). A partir do exposto até aqui, convém refletir sobre se a PBE responde a atual definição de psicoterapia formulada pelo Conselho Federal de Psicologia, sendo este: Sobre Comportamento e Cognição 2 7 “Conforme resolução (Ari. 1*) do Conselho Federal de Psicologia No. 010/00 de 20 de dezembro de 2000, resolve: “A psicoterapia ó prática do psicó logo por se constituir, técnica e conceitualmente, um processo cientifico de com preensão, análise e intervenção que se realiza através da aplicação sistematiza da e controlada de métodos e técnicas psicológicas reconhecidos pela ciência, pela prática e pela ética profissional, promovendo a saúde mental e propiciando condições para o enfrentamento de conflitos e/ou transtornos psíquicos de indiví duos ou grupos". Tendo em vista que o processo psicoterápico atualmente não é somente o esta belecimento de uma relação acolhedora entre o profissional e seu cliente, o entendimento e a possibilidade de produzir conhecimentos baseado em PBE devem fazer parte da formação de todo profissional da saúde mental. Sanderson (2002a,b) aponta os principais problemas enfrentados pela PBE na comunidade de ensino e prática da psicoterapia, salientando: 1. A aprendizagem de Psicoterapia que faz parte da formação acadêmica (de Psicólogos e Psiquiatras) não exige um treinamento compreensivo em PBE, conseqüentemente quando vão para a prática eles não adquiriram habilidades para administrar estes trata mentos. 2. Os programas de educação continuada não requerem treinamento em PBE, por con seguinte não existe uma garantia da transferência destes tratamentos dos locais de pesquisa para a prática cl/nica. 3. Muitos clínicos têm preconceitos contra a PBE e não buscam programas de educação continuada para reciclarem suas práticas conforme a PBE. Conclusão A PBE é uma realidade atual e que vem rapidamente fazendo parte de sérias discussões em reuniões cientificas, associações de classe, políticas de saúde e na pró pria história das psicoterapias. É imprescindível que nos preparemos para compreender e aplicar os processos metodológicos advindos da PBE. Aos pesquisadores, este recurso serve para orientá-los na formulação mais refi nada das questões científicas; aos clínicos orientá-los quanto aos métodos que segura mente já demonstraram eficácia e segurança; aos estudantes uma formação solidamente embasada no desenvolvimento do seu campo de conhecimento; e a população em geral uma fonte segura que embasa e justifica a utilização da psicoterapia como um método cientificamente comprovado. Referências Binder, V. (1976). Evaluating the Effectiveness of Psychotherapy. In V. BINDER, A. BINDER & B. RIMLAND, Modern Therapies. New Jersey: Prentice Hall. 2 8 Armando Ribeiro da* Neve* Neto Centro de Extensão Universitária; Blue Life. (2000). Anais. Simpósio Internacional de Medicina Baseada em Evidôncias. São Paulo, 17 a 18 de abril. Chambless, D. L., Baker, M. J., Baucom, D. H., Beutler, L. E., Calhoun, K. S., & Crlts-Christoph, P. et al. (1998). Update on Empirically Validated Therapies II. The Clinical Psychologist, 51(1), 3-16. Chambless, D. L., Sanderson, W. C., Shoham, V., Bennet Johnson, S., Pope, K. S., Crlts-Christoph, P., et al. (1996). An update on empirically validated therapies. The Clinical Psychologist, 49, 5-18. Clay, R, A. (2000). Psychoterapy is cost-effective. Monitor on Psychology, 31{ 1). Department of Health. (2001). Treatment Choice in Psychological Therapies and Counselling: Evidence Based Clinical Practice Guideline -Brief Version. London: Department of Health. Fletcher, R. H., Fletcher, S. W., & Wagner, E. H. 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Sobre Comportamento e Cognição 2 9 http://www.medscape.com/viewarticle/445082 Norquist, G., & Hyman, S.E. (1999, September-October). Advances in Understanding and Treating Mental Illness: Implications for Policy. Health Affairs, People-to-People Health Foundation. [www.projhope.org/ha/bonus/180504. htm] Sanderson, W. C. (2002a). Are Evidence-Based Psychological Interventions Practiced by Clinicians in the field? Medscape Psychiatry & Mental Health eJoumal, 7{ 1). Sanderson, W. C. (2002b). Why we need Evidence-Basead Psychotherapy Practice Guidelines. Medscape General Medicine, 4(4). [www.medscape.com/viewarticle/445080] Sartorius, N., Girolamo, G., Andrews, G., German, A., & Eisenberg, L. (1993). Treatment of mental disorders: a review of effectiveness. USA: American Psychiatric Press. Tarrler, N. (2002). Commentary: Yes, cognitive behaviour therapy may well be all you need. BMJ, 321(2), 291-292. Sites Recomendados: • Centro Cochrane do Brasil www.centrocochranedobrasil.org • Biblioteca Regional de Medicina (Bireme) www.bireme.br • National Library of Medicine (Medline) www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi • Evidence-Based Mental Health http://ebmh.bmjjournals.com • Annual Review of Psychology http://intl-psych.annualreviews.org • Medscape www.medscape.com 3 0 Armando Rlbclro tid* N fvr* N fto http://www.projhope.org/ha/bonus/180504 http://www.medscape.com/viewarticle/445080 http://www.centrocochranedobrasil.org http://www.bireme.br http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi http://ebmh.bmjjournals.com http://intl-psych.annualreviews.org http://www.medscape.com Anexo 1 The Blind Men and the Elephant John Godfrey Saxe (1816 -1887) It was six men of Indostan To learning much inclined, Who went to see the Elephant (Though all of them were blind), That each by observation Might satisfy his mind. The first approached the Elephant, And happening to fall Against his broad and sturdy side, At once began to bawl: "God bless me! But the Elephant is very like a wall" The second, feeling of the tusk, Cried, “Ho! Wath have we here So very round and smooth and sharp? To me ‘tis mighty clear This woxider of an Elephant Is very like a spear!" The third approached the animal, And happening to take The squirming trunk within his hands, Thus boldly up and spake: "I see," quot he, "the Elephant is very like a snake!" Sobrc Comportdmfnlo c Coflnlçâo 3 1 The fourth reached out an eager hand, And felt about the knee. “what most this wondrous beat is like is mighty plain," quote he; "Tis clear enough the Elephant Is very like a tree!" The fifth, who chanced to touch the ear, Said: "e’en the blindest man Can tell what this resembles most; Deny the fact who can This marvel of an Elephant Is very like a fan!" The sixth no sooner had begun About the beast to grope, Than, seizing on the swinging tail That fell within his scope, "I see," quoth he, "the Elephant is very like a rope!" And so these men of Indostan Disputed loud and long, Each in his own opinion Exceeding stiff and strong, Though each was partly in the right, And all were in the wrong! Armando Ribeiro das Neve* Neto Capítulo 2 Depressão na infância e na adolescência Sdint-Cláir Bahls1 A depressão constitui-se em um grande problema de saúde pública. Existem dados que a situa entre as doenças mais comuns e prejudiciais, causando impacto em todos os níveis da sociedade (Bahls, 1999; Judd,1995). Entre todas as doenças ô a quarta colocada no sentido do prejuízo que causa, com previsão, segundo a Organização Mundi al de Saúde, de transformar-se na segunda no ano de 2020 (Murray & Lopez.1996). Sua evolução costuma ocorrer com recorrências e cronicidade (Hirschfeld.1998), demonstran do claramente sua relevância clinica. No entanto, o reconhecimento deste quadro clinico afetando crianças e adoles centes, é bastante recente, ocorrendo a partir dos anos 70, até então, não se acreditava que infantes e jovens pudessem padecer de depressão (Bahls, 2002a; Bahls & Bahls,2002). Nos dias de hoje, as evidôncias cientificas apontam que a depressão maior na infância e na adolescência apresenta natureza duradoura e pervasiva, afeta múltiplas funções e cau sa significativos danos psicossociais, sendo de prevalôncia comum na adolescência (Bahls,2002b). Çesquisas recentes sobre depressão com inicio na infância e na adoles cência indicam um curso mais refratário do que na depressão de inicio na idade adulta, alcançando sintomatologia mais grave e perniciosa (Martin & Cohen.2000; Rohde, Lewinsohn & Seeley,1994). A depressão é uma das patologias mais encontradas pelos médicos que atendem adolescentes (Ward, EylerA Makris,2000). Aproximadamente um quarto dos adultos com depressão maior relataram que sua doença teve inicio antes dos dezoito anos de idade (Olsson & von Knorring,1999). Estudos comunitários longitudinais têm demonstrado um aumento secular nos transtornos depressivos e também tem sido observado que o risco para transtornos depressivos é maior em pessoas nascidas mais recentemente, fenomêno chamado de "efeito de coorte” em epidemiologia (Cross-National Collaborative Group, 1992; Joyce, Oakley-Brownw, Wells, ' Póa graduação em Palqutatrta CU nica UFRS. Maatrado atn Patcotogla da Infância a AddMoénota UFPR Profaaaor do curao da Paloatogla na UFPR, UTP a UNICENP. Sobre Comportamento e Cognição 3 3 Buschnell & Hornblow,1990; Klerman & Weissman.1989). Por exemplo: indivíduos nasci« dos na última parte do século XX tôm uma tendência de início mais precoce e um maior risco para depressão, e estudos em gerações sucessivas também têm demonstrado um aumento importante nos índices de depressão em crianças e adolescentes (Gershon, Hamovit, Guroff & Nurnberger.1987; Gill, Coffey & Park,2000; Klerman, Lavori, Rice, Reich, Endicott & Andreasen,1985). Avaliando o risco de depressão em famílias, foi observado que as pessoas nascidas mais tarde apresentaram um risco maior e o efeito do ano de nascimento foi estatisticamentesignificativo, indicando para cada ano um aumento de 5 a 32% de risco (Ryan, Williamson, lyengar, Orvaschel, Reich & Dahl,1992). A depressão em crianças e adolescentes têm chamado a atenção pois, além de ter seu reconhecimento estabelecido, parece estar mais freqüente e ocorrendo cada vez mais cedo. 1. Epidemiologia Dados atuais indicam que a prevalência da depressão em crianças e adolescen tes depende da idade e do sexo. Segundo vários autores a ocorrência de depressão aumenta significativamente na passagem da infância para a adolescência, havendo uma modificação na distribuição entre os sexos. Citam que em crianças não há diferença entre os gêneros, ou os meninos apresentam taxas um pouco maiores do que as meninas, entretanto na adolescência ocorre uma modificação com um predomínio das meninas sobre os meninos (DSM-IV.1994; Herkov & Myers,1996; Scivoletto, Nicastri & Zilberman,1994; Versiani, Reis & Figueira,2000; Walter,1996), e situam a idade entre nove a dez anos como o período onde começam a aumentar significativamente os índices de depressão (Angold & Costello,1995; 1,1996). Estudos retrospectivos afirmam que a prevalência da depressão é baixa até a idade dos nove anos, aumentando agudamente dos nove aos dezenove anos, especialmente nas meninas (Besseguini,1997; Lewinsohn, Clarke, Seeley & Rohde,1994). E Nolen-Hoeksema e Girgus (1994) em artigo sobre a diferença de gênero na depressão em adolescentes, citam que é por volta dos treze a quatorze anos que as meninas começam a apresentar taxas mais altas de depressão do que os meninos, sendo que após os quinze anos as meninas são duas vezes mais afetadas. Estes dados indicam que as taxas de depressão aumentam consideravelmente da infân cia para a adolescência, onde alcançam a distriduiçâo no gênero (predomímio feminino) semelhante à dos adultos. Artigos de revisão indicam a prevalência de depressão maior em adolescentes vari ando de 0,4 a 10,0%, com claro predomínio das meninas sobre os meninos, e em relação ao fator idade quase a totalidade dos artigos destacam o aumento importante na passagem da infância para a adolescência (Bahls.2000). Já foi discutido por nós, anteriormente, que a prevalência da depressão na infância e na adolescência varia amplamente segundo os arti gos de revisão, sendo destacado que boa parte dos autores faz referência unicamente a pesquisa de Kashani, Carlson, Beck, Hoeper, Corcoran & McAIlister (1987) que utilizaram amostra comunitária de 150 adolescentes de quatorze a dezesseis anos, nos EUA, e en contraram as taxas de prevalência-ponto para depressão maior de 4,7% e para distimia de 3,3%, podendo ser considerado uma referência clássica nesta área (Bahls, 2000). 34 Sdlnt-Cldlr Bahls Quanto a epidemiologia dos transtornos depressivos em amostras comunitárias de adolescentes em artigos de pesquisas destaca-se quanto aos resultados e a metodologia empregada a presença de algumas discrepâncias, como o emprego diferentes tipos de entrevistas estruturadas ou semi-estruturadas, com os resultados variando, para a prevalência-ano em depressão maior de 3,3 a 12,4% e para a distimia de 2,0 a 6,4% (Bahls,2002a). 2. Quadro Clínico Como se diagnostica depressão em crianças e adolescentes? Quais os critérios diagnósticos empregados na definição do quadro clinico depressivo nestas faixas etárias? Pode-se utilizar o mesmo padrão sintomatológico de adultos para a compreensão fenomenológica da depressão infanto-juvenil? Estas questões permaneceram sem res posta até pouco tempo, quando pesquisas com metodologia rigorosa definiram que os mesmos critérios diagnósticos são confiavelmente aplicados nestas duas populações. Crianças e adolescentes quando adoecidos de transtornos depressivos apresentam sintomatologia semelhante aos adultos, o que permite sua compreensão como entidades fenomenológicas iguais (Bahls,2002b; Birmaher, Ryan, Williamson, Brent, Kaufman, Dahl, Perel & Nelson,1996; Feijó, Saueressig, Salazar & Chaves, 1997; Harrington, 1992; Olsson & von Knorring.1997; Pataki & Carlson, 1995; Roberts, Lewinsonh & Seeley, 1995; Scivoletto e cols,1994; Shaffi & Shaffi,1992; Walter,1996; York & Hill,1997). Um episódio depressivo maior, segundo tanto o Manual Diagnóstivo e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV.1994) como a Classificação Internacional das Doenças (CID-10,1992), apresenta os mesmos sintomas em adultos, adolescentes e crianças. Ainda segundo o DSM-IV os principais transtornos depressivos ("depressão unipolar”) são a depressão maior e a distimia. O transtorno depressivo maior caracteri za-se por um ou mais episódios depressivos maiores, isto ó, pelo menos duas semanas de humor deprimido ou perda de interesse, acompanhados por pelo menos quatro sinto mas adicionais de depressão que são; perda ou ganho significativo de peso; insónia ou hipersonia; agitação ou retardo psicomotor; fadiga ou perda de energia; sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada; capacidade diminuída de pensar ou con- centrar-se, ou indecisão e pensamentos de morte recorrente. A distimia ou transtorno distímico caracteriza-se por pelo menos dois anos de humor deprimido na maior parte do tempo (em crianças e adolescentes a duração mínima exigida ó de apenas um ano), acompanhado por sintomas depressivos adicionais que não satisfazem os critérios para um episódio depressivo maior. Quando os autores específicos da área da infância e adolescência se referem ao diagnóstico dos transtornos depressivos nestes períodos iniciais da vida, citam que os sintomas variam com a idade, enfatizando a importância e a interferência das diferentes fases do desenvolvimento nos sintomas e comportamentos depressivos, existindo uma caracterização patoplástica em cada faixa etária (Bahls, 2002b; Berganza & Aguilar, 1992; Busse,1996; Goodyer & Cooper,1993; 1,1996; Kessler & Walters, 1998; Morgan,1994; Nolen- Hoeksema & Girgus,1994; Sadler, 1991; ShafTi & Shaffi, 1992; Versiani e cols,2000). Crianças até a idade de seis a sete anos são denominadas de pré-escolares. Neste período, as manifestações depressivas se exteriorizam principalmente na forma Sobre Comportamento c Cognição 3 5 de queixas físicas de repetição. Representadas por dores abdominais, de cabeça, dores imprecisas, queixas de fadiga e tontura. Também nesta faixa etária sôo comuns as manifestações de ansiedade associadas à depressão, tais como: fobias, ansiedade de separação e hiperatividade. Completando o quadro costumam aparecer diminuição de apetite, alterações de sono e irritabilidade. Um dado que pode ajudar no diagnóstico (Bahls, 2002b) é a observação de que a satisfação no brincar ou ir para a pré-escola diminui significativamente ou desaparece. Pode, menos comumente, ocorrer choro freqüente, fisionomia abatida, comunicação deficiente e comportamento agressivo (Goodyer,1996; Mirza & Michael,1996; Ryan e cols,1992; Shaffi & Shaffi,1992; Sou za,1984; Versiani e cols., 2000). Crianças escolares, com idade entre seis a sete anos até doze anos, já podem manifestar verbalmente o humor depressivo, principalmente através de ralatos de tristeza constante, acompanhada de irritabilidade e/ou enfado. É comum se apresentarem com aparência entristecida, abatidas, apáticas e demonstrarem inabilidade em se divertir. O choro costuma estar presente e constante e a criança mostra-se freqüentemante cansada e tende a isolar-se. O desempenho escolar sofre um declínio ou é nitidamente deficiente. Características de ansiedade também se apresentam na forma de fobias, ansiedade de separação e recusa escolar. Neste período já é possível a presença do desejo de morrer, típico da sintomatologia depressiva. Ainda é encontrado nesta faixa etária queixas de dificuldade de concentração, queixas somáticas e dificuldade para dormir. É comum a criança não ter amigos e dizer que os colegas não gostam dela. A presença de baixa auto-estima se exterioriza com as crianças se denominando de tolas, impopulares e sem inteligência (Bahls,2002b;Brent.1993; Kashani, Rosenberg & Reid,1989; Mirza & Michael,1996; Pataki & Carlson,1995; Shaffi & Shaffi,1992; Souza, 1984). Adolescentes deprimidos apresentam-se basicamente irritáveis e instáveis, po dendo ocorrer crises freqüentes de explosão e raiva. Acredita-se que mais de 80% dos jovens deprimidos apresentam humor irritado (Kazdin & Marciano, 1998). O comporta mento irritadiço do adolescente costuma encobrir o humor depressivo, impedindo um aparecimento mais nítido da tristeza (Bahls & Bahls, 2002). Outros sintomas comuns surgem na forma de perda de energia, apatia e desinteresse importante, retardo psicomotor, sentimentos de desesperança e culpa, perturbações do sono, principalmente hipersonia, alterações de apetite e peso, isolamento e dificuldade de concentração. Também ocorre prejuízo no desempenho escolar, baixa auto-estima, queixas físicas (dor abdominal ou péJvica, fadiga e cêfaléias). Dois aspectos merecem destaque na femonenologia depressiva em adolescentes por seu potencial de perigo: as idéias e tentativas de suicídio e graves problemas de comportamento, especialmente o uso abusivo de álcool e drogas (Bahls & Bahls,2002; Brent,1993; 1,1996; Kashani e cols,1989; Morgan,1994; Pataki & Carison.1995; Ryan e cols, 1992; Scivoletto e cols, 1994; Versiani e cols,2000; Vilela, 1996; Walter,1996; Ward e cols,2000;). Os adolescentes são altamente vulneráveis ao com portamento suicida. O quadro distímico em adolescentes apresenta sintomas semelhantes aos da depressão maior, com menor intensidade, porém, de curso crônico, representando um grau de sofrimento e limitações tão ou mais severos do que a depressão maior, justifican do a necessidade de tratamento adequado. Os adolescentes distímicos costumam de senvolver menos sintomas melancólicos do que na depressão maior sendo comuns quei- 36 Salnt-Clalr Bdhli xas somáticas, autodepreciação e desobediência (Bahls e Bahls,2002; Kovacs, Akiskal, Gatsonis & Parrone,1994). Em um dos poucos estudos de pesquisa em jovens com distimia “pura", Mais, Favilla, Mucci, Poli & Romano (2001) encontraram como sintomas mais prevalentes o humor depressivo, a irritabilidade, a falta de energia e/ou fadiga, a culpa e a baixa auto-estima. Aproximadamente dois terços dos adolescentes distlmicos acabam desenvolvendo na evolução do quadro clínico um ou mais episódios de depressão maior caracterizando a chamada “dupla depressão" (Masi e cols, 2001). Algumas pesquisas com famílias de jovens deprimidos encontraram altas taxas de depressão nos pais, assim como, freqüentemente, estavam envolvidos em sérios pro blemas sociais (Versiani e cols,2000). Existe a recomendação de, uma vez realizado o diagnóstico de depressão em crianças e adolescentes, o profissional deve procurar inves tigar a presença de depressão nos pais. Outra observação importante é que, muitas ve zes, os professores e/ou amigos são os primeiros a perceber a manifestação sintomatológica de depressão em crianças e adolescentes (Bahls,2002b). Os profissionais envolvidos no atendimento de jovens com depressão podem se valer destas informações para aperfeiço ar o tratamento tanto de maneita mais precoce como mais abrangente. Conhece-se alguns fatores de risco para depressão em crianças e adolescentes. O mais importante ó a presença de depressão em um dos pais, pois sabe-se que a existência de história familiar para depressão aumenta o risco em pelo menos três vezes. Outros fatores importantes de risco são os estressores ambientais como abuso físico e sexual e a perda de um dos pais, irmão ou amigo íntimo (Brage.1995; Brent,1993; Lewinsohn, Rohde, Seeley, Klein & Gotlib.2000; Shaffi & Shaffi,1992). Outros autores destacam, também, como fatores de risco a presença de conflito familiar, falta de suporte familiar, sexo feminino, imagem corporal ruim, presença de comorbidades, especialmente doenças crônicas e baixa condição socioeconômica. Ainda questões como: dúvida quan to a orientação sexual, desempenho escolar baixo, identificação com grupos minoritários e poucas habilidades sociais (I, Curatolo & Friedrich,2000; Son & Kirchner,2000; Ward e cols,2000). Quanto à questão familiar nos quadros depressivos em crianças e adolescentes, destacaremos alguns resultados de pesquisas. Garrison, Jackson, Marsteller, McKeown & Addy (1990), em estudo longitudinal, encontraram que o ambiente familiar ó um preditor de sintomas depressivos mais importante do que os eventos estressores de vida, no início da adolescência. Recentemente Biederman, Faraone, Hirshfeld-Becker, Friedman, Robin & Rosenbaum (2001) investigando a associação entre depressão maior em pais e a relação com psicopatologia nos filhos confirmaram uma relação significativa de risco aumentado de depressão maior, fobia social, transtorno do comportamento disruptivo e pobre funcionamento social nos fiíhos de pais com depressão maior versus grupo con trole. Ferro, Verdeni, Pierre & Weissman (2000), analisando depressão em mães que levaram os filhos para avaliação ou tratamento de depressão, encontraram que um nú mero substancial delas encontravam-se deprimidas e sem tratamento. Nunes, Darío & Paulucci (1992), em pesquisa realizada na cidade de Londrina-Pr, avaliaram a presença de transtornos psiquiátricos em pais de indivíduos entre sete e dezoito anos de idade e encontraram uma predominância de transtornos de humor, especialmente depressão maior e distimia, confirmando a importância do fator familiar na vulnerabilidade das de pressões na infância e na adolescência. Sobre Comportamento e Cognição 3 7 A complicação mais séria da depressão na infância e na adolescência é o suicídio (Bahls,2002b; Ward e cols.,2000). Dentro do espectro do comportamento suicida situam- se as idéias suicidas, as tentativas de suicídio e o suicídio consumado (Bahls & Bahls,2002). Tanto a depressão como o comportamento suicida entre crianças e adolescentes têm aumentando nas últimas décadas, e a adolescência representa a fase da vida mais associada à morte causada de forma violenta (Emslie, Weinberg, Rush, Adams & Rintelmann,1990; Feijó, Salazar, Bozko, Bozko, Candiago, Ávila, Rocha & Chaves, 1996; Gunnell,2000; Harrington.1995; Lamb & Pusker,1991; Moreira, 1996; Patten, Gillin, Farkas, Gilpin, Berry & Pierce.1997; Prosser & McArdle.1996; Roberts & Chen,1995; Weissman, Wolk, Goldstein, Moreau, Adams, Greenwald, Klier, Ryan, Dahl & Wickramaratne,l999). Os índices de suicídio nos EUA, na faixa de quinze a dezenove anos de idade, não param de crescer, conforme os seguintes levantamentos: em 1950 houve 2,7 suicídios para cada 100000 habitantes; em 1970 = 5,2/100000; em 1980 = 8,5/100000; em 1984 = 9,0/100000 e em 1988 = 11,3/100000 em 1988 (Brent,1993; Ward e cols,2000). O suicídio representa a segunda ou terceira causa de morte entre jovens de quinze a vinte e quatro anos de idade, tanto nos EUA, conforme o National Center for Health Statistlcs (Lamb & Pusker, 1991) de 1986, quanto na Inglaterra, segundo o estudo Office ofPopulation Census and Siv/veys(Harrington, Bredenkamp, Groothues, Rutter, Fudge & Pickles,1994) de 1990. Na população geral, o suicídio em adolescentes é estimado em 0,01 % (Hurry.2000) e as taxas de ideação suicida são comuns alcançando valores ao redor de 25%. Em levantamento norteamericano de 1990, o United States Youth Risk Survey, foram encon trados os índices entre estudantes do ensino médio, de 4% com uma tentativa de suicídio nos doze meses anteriores e de 8% com uma tentativa de suicídio anterior na vida (Brent.1993). O suicídio é mais comum em rapazes do que em garotas, enquanto que as tentativas de suicídio mais comuns nas garotas (Bahls, 2002b). No momento da tentativa contra a própria vida, impulsividade e intoxicações por substâncias psicoativas parecem estar presentes na maioria dos adolescentes vítimas de suicídio (Ward e cols.,2000). Aproximadamente entre um a dois terços dos casos de suicídio ocorrem em adolescentes clinicamente deprimidos, sendo a depressãoa principal causa de suicídio entre jovens (Bahls & Bahls,2002). Na população de adolescentes deprimidos o compor tamento suicida alcança índices alarmantes como encontrado em pesquisa de acompa nhamento de até quinze anos, que observou uma taxa de tentativas de suicídio de 50,7% e de 7,7% de suicídios (Weismman e cols,1999). Entre os principais fatores conhecidos de risco para o suicídio em crianças e adolescentes estâo: idade, sexo masculino, presença de tentativas anteriores, história familiar de transtornos psiquiátricos (especialmente com tentativa de suicídio e/ou suicí dio), ausência de apoio familiar, presença de arma de fogo em casa, orientação sexual minoritária, doença física grave e/ou crônica, presença de depressão e comorbidade com transtornos de conduta e abuso de substâncias (Bahls, 2002b). A presença de tentativa de suicídio prévia é considerada o melhor dos preditores, pois, em torno 25 a 40% dos jovens que se suicidam já tiveram, pelo menos, uma tentativa de suicídio prévia. E estima-se que até 11% dos adolescentes que fazem tentativa de 3. Comportamento Suicida 38 Sdint-CIdir BahU suicídio através de intoxicação irão se suicidar nos próximos anos (Hurry,2000; Reyes- Ticas.1995; Ward e cols,2000). Pelo menos 50% dos adolescentes que cometem suicídio fizeram ameaças ou tentativas no passado, e o risco de repetir uma tentativa é maior nos trôs primeiros meses após uma tentativa de suicídio (Brent.1993). O risco de comportamento suicida em adolescentes deprimidos ó trôs vezes maior na presença de patologias comórbidas. Ward e cols. (2000) destacam que em torno de 30% dos suicídios na adolescência ocorrem entre jovens identificados como homo ou bissexuais. O sentimento de desesperança também está fortemente associado ao comportamento suicida e prediz futuras tentativas (Bahls & Bahls,2002; Besseghiní,1997; Feijó e cols,1997; Ivarsson & Gilberg.1997; Lamb & Pusker.1991; Pfeffer.1992, Reyes- Ticas, 1995; Scivoletto e cols, 1994). Finalmente, ó importante conhecer alguns fatores considerados como importan tes favorecedores do comportamento suicida em crianças e adolescentes. Perdas, crises interpessoais com família, amigos e namorado(a), estressores psicossociais, abuso físi co e sexual, problemas legais ou disciplinares e a exposição ao suicídio de amigos, familiares ou através da mídia são os fatores conhecidos como precipitantes do suicido neste período da vida. (Bahls & Bahls;2002; Besseghini,1997; Brent,1993; Hurry.2000; Feijó, Raupp & John, 1999; Pataki & Carlson,1995; Pfeffer.1992; Scivoletto e cols., 1994). 4. Curso A depressão maior quando ocorre na infância costuma surgir em torno dos nove anos de idade e na adolescência não apresenta um período específico de aparecimento, situando-se entre os treze aos dezenove anos de idade. O tempo de duração do primeiro episódio depressivo é semelhante ao dos adultos, situando-se entre cinco a nove meses (Bahls, 2002b; Ward e cols., 2000). Ocorre a recuperação clinica na maioria dos casos de depressão maior infanto- juvenil. Kovacs, Feinberg, Crouse-Novak, Paulauskas & Finkelstein (1984) encontraram uma melhora importante no prazo de um ano em 74% dos casos e 92% se recuperaram em um período de dois anos. Calcula-se que entre 6 a 10% dos casos evoluem para cronificação (Gill e cols.2000). Entretanto, em relação à recuperação do quadro clinico, os autores afir mam que na maioria das situações costuma ocorrer apenas uma recuperação parcial, per manecendo algUTn grau de prejuízo psicossocial. Representado principalmente pela manu tenção de dificuldades interpessoais crônicas e problemas de conduta. Quanto mais preco ce for o aparecimento da patologia, maior tenderá a ser o prejuízo, o que foi confirmado na pesquisa de Rohde e cols. (1994) com adolescentes comunitários onde observaram que o aparecimento precoce da depressão maior é uma forma mais perniciosa da doença e causa um impacto mais severo do que em adultos. Os dados disponíveis até o momento sugerem um curso provavelmente mais refratário ao tratamento do que quando do início na idade adulta (Martin & Cohen, 2000). Isto acrescenta mais preocupação do ponto de vista clínico, uma vez que a presença de sintomas residuais no curso da depressão deve ser considerada como a doença permanecendo na sua forma ativa (Bahls, 2002c). Crianças e adolescentes com depressão possuem um grande risco de recorrência que se estende até a idade adulta, representando uma alta vulnerabilidade para transtor nos depressivos no futuro (Bahls, 2002b). Este risco é mais freqüente alguns meses após Sobre C-omportdmcnío e CognifJo 3 9 o primeiro episódio (Birmaher,1996; Harrington,1995; Mirza & Michael,1996; Pataki & Caríson.1995; Walter,1996). Pesquisas íongitudinais encontraram taxas de recorrência entre 60 a 74% (Harrington, Fudge, Rutter, Pickles & Hill.1990; Kessler & Walters,1998; Kovacse cols., 1984). É comum a doença bipolar iniciar na dolescência na forma de episódios depressivos maiores, pois aproximadamente entre 20% a 40% dos adolescentes deprimidos irão desenvolver um transtorno bipolar, no periodo de cinco anos após o início da depressão. Os fatores preditores são: história familiar de transtorno bipolar, início precoce, retardo psicomotor, sintomas psicóticos, hipersomnia, rápido início da depressão e indução de hipomania/mania pelo uso de antidepressivos (Gill e cols.,2000; Ward e cols.,2000). Exis tem autores que consideram o aparecimento de episódio depressivo maior na infância e na adolescência como indicativo de transtorno bipolar no futuro, entretanto ainda faltam evidências seguras dessa relação (Bahls.2000; Birmaher e cols,1996; Olsson & von Knorring,1999; Weissman e cols, 1999). Em recente estudo prospectivo, Geíler, Zimerman, Willians, Bolhofner & Craney (2001) acompanharam pacientes que tiveram o diagnóstico de depressão maior no início da vida (idade média de dez anos e três meses) e controles, até a idade média de vinte anos e sete meses e observaram as taxas para o aparecimento de transtorno bipolar do tipo I de 33% no grupo depressão maior versus zero% no grupo controle. Também encontraram que a presença de história familiar para mania foi preditora de evolução para bipolaridade. Em relação a distimia em adolescentes o artigo de Kovacs e cols.. (1994) desta cou que a duração média da patologia foi de três e meio anos, com índice de recuperação de 89%, em seis anos e meio, e 72% da amostra recorreu em cinco anos. São consideradas consequências comuns da depressão na adolescência: baixa auto-estima, dificuldades de relacionamento, risco de gravidez precoce, prejuízo global do funcionamento, problemas de comportamento, apêgo excessivo aos outros, fumo e pre sença de sintomas residuais (Rohde e cols, 1994; Son e Kirchner, 2000). 5. Comorbldade As taxas de comorbidade psiquiátrica são maiores em crianças e adolescentes deprimidos do que em adultos deprimidos. Crianças deprimidas facilmente apresentam os seguintes quadros clínicos asso ciados: transtornos de ansiedade, transtornos de conduta, transtorno desafiador opositivo e o transtorno de déficit de atenção. E em relação aos adolescentes, além desses, tam bém costumam surgir os transtornos relacionados a substâncias e os transtornos alimen tares. (Bahls,2002b; DSM-IV.1994; Harrington e cols, 1994; Herkov & Myers,1996; Kent, Vostanis & Feehan,1997; Kessler & Walters,1998; Nolen-Hoeksema & Girgus.1994; Olsson & von Knorring,1997; Pataki & Carlson.1995; Rohde e cols, 1994; Walter,1996). Estas comorbidades tanto podem preceder como surgir após o início da depressão maior (Ward e cols., 2000). Estima-se que aproximadamente 50% das crianças e adolescentes deprimidos apresentem uma comorbidade psiquiátrica e, em cada grupo de dez, entre duas a cinco crianças ou adolescentes têm mais de um quadro comórbido (Bahls, 2002b; Birmaher e 40 Saint-Clair Bahl* cols,1996; Goodyer e Cooper, 1993; Harrington,1995). Em estudos com adolescentes de
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