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Teste de coombs e prova de compatibilidade ANTIGLOBULINA HUMANA (AGH) Em 1908, Carlos Moreschi descreveu o princípio do teste de antiglobulina humana, que logo ficou esquecida, uma vez que seus contemporâneos não sabiam para que servia este teste. Em 1945, Robin Coombs, juntamente com Arthur Mourant e Rob Race, introduziu o teste de antiglobulina humana na rotina, o qual foi batizado de Teste de Coombs. Robin Coombs posteriormente viria a ganhar um Prêmio Nobel por ter descrito a funcionabilidade deste teste na prática laboratorial. Este teste é utilizado até hoje na rotina dos laboratórios, tanto os de análises clínicas quanto os de banco de sangue e os de imunohematologia. HEMAGLUTINAÇÃO As hemácias, quando estão em suspensão em solução fisiológica – por exemplo, NaCl a 0,85%, constituem um sistema estável – ou seja, elas mantêm uma certa distância entre si. Isto é um processo natural, porque as hemácias são carregadas com cargas eletronegativas em sua membrana. Assim, considerando que negativo com negativo provoca repulsão, elas se mantêm afastadas quando presentes em solução fisiológica normal. POTENCIAL ZETA A esta eletronegatividade citada anteriormente damos o nome de Potencial Zeta, que nada mais é que a força de repulsão entre uma hemácia e outra. O Potencial Zeta é a diferença de potencial criada entre a nuvem de cátion (carga positiva) atraídos pelas cargas elétricas negativas da membrana eritrocitária e o meio. Em outras palavras, a diferença entre o positivo do meio e negativo de hemácias é o Potencial Zeta. As hemácias possuem tais cargas negativas por conta dos grupamentos carboxílicos (COOH-) das sialoglicoproteínas que integram sua membrana eritrocitária. Assim, quando uma hemácia está afastada da outra, não é possível haver a hemaglutinação. Logo, devemos quebrar a força de repulsão. No caso, o Potencial Zeta é a força de atração, porque o meio está diminuindo a eletronegatividade das hemácias (superfície). Assim, o meio, que é positivo, tenta quebrar as cargas a fim de permitir uma melhoria da hemaglutinação, em que temos as hemácias próximas umas das outras. A fórmula expressa acima é a que utilizamos para este cálculo, no entanto é muito provável que você não verá questão alguma que a aborde. Há também o chamado Potencial Zeta crítico, que é o valor em que ocorre a hemaglutinação por conta de potencial zeta muito diminuído. Assim, quando estamos no laboratório e queremos realizar uma hemaglutinação, falamos então de objetivar alcançar o Potencial Zeta crítico, em que as hemácias se permitem encostar umas nas outras, ocorrendo a hemaglutinação das hemácias in vitro, no caso. ANTIGLOBULINA HUMANA (SORO DE COOMBS) Robin Coombs, em 1945, percebeu que, a partir de injeção de soro humano em coelhos, os coelhos produziam anticorpos contra algum soro humano. Logo, este tipo de anticorpo passou a ser chamado de antiglobulina humana, que é um anticorpo que se liga à fração Fc das moléculas de anticorpos humanos. Isto serve para que, quando uma hemácia está sensibilizada (ou seja, há um anticorpo ligado a sua membrana), saibamos se ela é positiva ou não. Porque, na prática clínica, é importante saber se a hemácia tem anticorpos na membrana ou não, o que pode interferir no diagnóstico e no tratamento de alguma doença a qual um médico tratará em um paciente. No entanto, quando de frente a uma hemácia coberta de anticorpos, em que há uma reação negativa, e, portanto, falamos de moléculas muito pequenas, não é possível visualizar a olho nu. Daí a importância da antiglobulina humana, que é um reagente barato de efeito prático muito importante, porque, quando a adicionamos, ela se liga à fração Fc dos anticorpos, que já estão grudadas nas hemácias, formando um aglomerado de hemácias, ligadas de forma indireta umas às outras, e permitindo visualização a olho nu. Tendo um botão de hemácias visível, o teste é considerado positivo. TESTE DA ANTIGLOBULINA DIRETO (TAD) O teste de Coombs direto (CD) ou teste de antiglobulina direto (TAD) é um método simples que nos permite detectar hemácias revestidas in vivo por imunoglobulinas e/ou frações do completo. Neste último caso, temos a cascata do complemento, que são várias proteínas que se ativam entre si, e, em certo momento, são adicionadas porções na membrana eritrocitária, como a função C3d do complemento. Esta fração é muito comum em pacientes com anemia hemolítica autoimune, que pode indicar que determinada hemácia vá ser hemolisada ou não. Vale notar que nem sempre o teste de Coombs direto vai denunciar a hemólise em seu resultado. Assim, há dois tipos de AGH: poliespecífico, em que há um anti-IgG associado a anti- -C3d, ou monoespecífico, que detecta de acordo com o objetivo da análise. Assim, utiliza-se um soro anti-IgG para detectar IgG, anti- IgM para IgM, e assim para os demais (anti-IgA, anti- C3, anti-C3D). O mais utilizado na prática laboratorial é o poliespecífico, que detecta tanto IgG quanto o complemento. Como funciona o teste de Coombs direto? Na imagem abaixo, no canto esquerdo, vemos que há a presença de anticorpos aderidos na membrana eritrocitária. Logo, se for feita uma leitura deste teste, teremos negativo, porque não é possível visualizar tais moléculas de forma separada. Sendo assim, o grande trunfo que temos no laboratório é o soro de Coombs, que nada mais é que um anticorpo que fará a ponte de ligação entre os anticorpos que já estão grudados, sendo então possível visualizar os brumos no tubo. Vale, agora, tecer algumas observações: • Não existe relação direta entre um TAD positivo e hemólise (nem todo TAD positivo provoca hemólise, às vezes ele pode provocar um anticorpo grudado que ativa o complemento que chega até o C9, e daí temos a hemólise e a destruição dessa hemácia); • O resultado do TAD deve ser analisado juntamente com o histórico clínico do paciente e com os resultados dos testes laboratoriais que investigam o quadro hemolítico; • Informações sobre o uso de medicamentos, antecedentes transfusionais e gestações são fundamentais para uma avaliação imuno-hematológica especializada (muitas vezes o TAD está positivo por conta de um medicamento, por conta de uma reação transfusional ou por conta de uma gestação). Por fim, para revisão, o teste de antiglobulina direto é importante no auxílio ao diagnóstico de anemia hemolítica autoimune, DHRN (doença hemolítica do recém-nascido), hemólise induzida por drogas e reações hemolíticas pós-transfusionais. Nestes casos, é muito comum termos um resultado positivo para TAD. O médico pode, então, ter uma conduta clínica adequada a partir dos resultados laboratoriais. TESTE DA ANTIGLOBULINA INDIRETO (TAI) O teste da antiglobulina indireto (TAI) ou Coombs indireto tem como objetivo determinar a sensibilização de hemácias in vitro, em oposição ao Coombs direto, em que a sensibilização é in vivo. Este princípio de teste é utilizado para vários outros. Seu princípio é utilizado, por exemplo, na Pesquisa de Anticorpos Antieritrocitários Irregulares (PAI), que é utilizado para realizar a identificação de anticorpos livres no soro. Confira, na tabela a seguir, as aplicações que utilizam-se do princípio do Coombs indireto. PESQUISA DE ANTICORPOS IRREGULARES (PAI) Esta pesquisa serve para identificar aloanticorpos, que são anticorpos anti-eritrocitários formados a partir do reconhecimento de substâncias não próprias – é aquilo que desenvolvemos contra o que não temos. Como exemplo, se alguém que é RhD negativo recebe uma transfusão de um doador RhD positivo, o sistema imune reconhecerá o RhD positivo como não próprio, porque para ele o normal é que tudo seja negativo, mas, como recebeu uma bolsa Rhd positivo, ele irá desenvolver um anticorpo anti-D, por exemplo. A PAI pode acusar positivo por conta de transfusão, gestação ou por meios naturais. A pesquisa volta-se também para detectarpacientes sensibilizados, que são pacientes que produziram anticorpos irregulares (isto é, um anticorpo que não deveria ter sido formado). Para exemplificar, retomemos o exemplo anterior: o paciente só possui o anticorpo anti-D porque alguém, na hora da transfusão, não prestou atenção na negatividade de seu Rh, realizando a transfusão de uma bolsa Rh positiva, o que torna o paciente um paciente sensibilizado. Como o teste de Coombs indireto é feito? Continuando com o exemplo anterior, digamos que temos um paciente sensibilizado. Antes de dar a ele uma segunda bolsa, temos de ver se há o anticorpo. Considerando que ele já tenha o anti-D, compramos hemácias que possuem um antígeno D em suas membranas. Então colocamos o soro do paciente em contato com o kit que compramos, pingamos uma gota da hemácia no soro e Incubamos a 37ºC, o que permite haver a ligação antígeno- -anticorpo (isto é, o anticorpo anti-D irá se ligar ao antígeno D na membrana da hemácia), resultando na sensibilização in vitro. Neste exato momento do processo, não é possível visualizar. Para tanto, é preciso do nosso “reagente mágico”, que fará a ponte entre os anticorpos sensibilizados. Confira o processo na ilustração abaixo. Por fim, a Pesquisa de Anticorpos Irregulares ajuda a identificar anticorpos na população geral e em pessoas que irão receber transfusão de sangue. Na população geral, o risco de uma pessoa já ter desenvolvido um anticorpo ou desenvolver um anticorpo é de 1% para cada unidade transfundida. Isso significa que, se alguém sofrer um acidente e receber uma bolsa, esta pessoa terá 1% de chance de desenvolver algum anticorpo contra a hemácia. No entanto, ao tratarmos de populações específicas, como politransfundidos, que são pessoas que receberam várias transfusões ao longo da vida, estes índices começam a subir para 9%; ao abordamos falciformes, sobem para 36%; e talassêmicos, 10%. Então, isto pode ser um problema grave para estes pacientes, porque, uma vez desenvolvido o anticorpo, ele se manterá presente pelo resto da vida do paciente, em autotítulo ou suas células de memórias estarão presentes para, em uma segunda exposição, responderem de forma rápida, a fim de produzir anticorpos que causarão a destruição das hemácias, podendo resultar em um grande problema para o paciente. TÉCNICA LABORATORIAL Primeiramente, são necessários: hemácias fenotipadas (antígenos conhecidos), soro ou plasma do paciente (em que constam os anticorpos a serem pesquisados), soro de Coombs (AGH), que é o revelador, uma incubadora de cartão e uma centrífuga, para que, no fim, seja possível a leitura, a partir de 10 a na centrífuga, o que dará o resultado indicando se a pessoa tem ou não anticorpos no soro. PROVA DE COMPATIBILIDADE A prova de compatibilidade nada mais é que um teste de Coombs indireto feito de forma diferente. Aqui, temos um teste chamado de teste pré-transfusional. Para cada transfusão, é necessário realizar a prova de compatibilidade, que consiste em identificar se haverá uma reação entre a hemácia da bolsa que será transfundida com o soro do paciente dentro do tubo. Ainda, a prova de compatibilidade pode ser classificada em prova cruzada maior e prova cruzada menor, sendo a prova cruzada maior a utilizada até hoje e a menor, extinta. Na prova cruzada maior, é feita a compatibilização de concentrado de hemácias, pegando a hemácia da bolsa e a incubando com o soro do paciente. Se o resultado for positivo, é incompatível; se for negativo, então é possível a transfusão. E, na prova cruzada menor, o processo é o contrário ao anterior descrito: pega-se hemácias do doador para saber se no plasma da bolsa haverá anticorpos que serão incompatíveis com a hemácia do doador em seu sistema in vivo. Se a bolsa conter anticorpos que darão resultado positivo, não haverá transfusão; se der negativo, é possível a transfusão. Assim, a prova cruzada negativa é igual à bolsa compatível. PORTARIA DE CONSOLIDAÇÃO N. 5 A partir da Portaria de Consolidação n. 5, datada de 28 de setembro de 2017, os testes pré-transfusionais tornam-se obrigatórios. Assim, quando da ocasião de transfusão de sangue ou de bolsa concentrada de hemácias, é necessário realizar no receptor a tipagem ABO direta e reversa e RhD, em que devemos selecionar bolsas ABO compatíveis e Rh compatível de acordo com a tipagem do paciente; e também a Pesquisa de Anticorpos Irregulares pelo método de Coombs indireto visto anteriormente. Na bolsa que vem do hemocentro, é necessário realizar a retipagem ABO direta, repetir o teste a fim de se certificar de que a determinada bolsa pertence a determinado grupo, e realizar o RhD, se a bolsa for negativa. E, por fim, é realizada a prova de compatibilidade da forma especificada na seção anterior.
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