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Sobre a sociogênese da economia e da sociologia

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O objetivo desse texto é compreender as fases iniciais da sociologia; buscar a gênese social dela e o autor ao longo do texto faz um passo a passo até chegar na sociologia como ciência.
Elias diz que diversos autores que contribuíram para a formação da sociologia, nem se denominavam “sociólogos”, mas mesmo assim desenvolveram estudos que influenciaram a fundação dessa ciência, e não seria possível entender a gênese da sociologia sem estes, como Marx. A sociologia só foi reconhecida como ciência na metade do século XIX, e aqueles que estudavam sobre antes, não faziam por dinheiro, até porque ainda não existia separação entre as áreas das ciências sociais, como a sociologia, história, ciência política e outros como conhecemos hoje. 
Ao surgir foi como uma transformação para uma forma mais científica de abordar os problemas da sociedade e para tratar as fases inicias dessa transformação, o autor se volta para as mudanças específicas na concepção dos problemas da sociedade e se mostra interessado nas mudanças na estrutura dela, tomando como ponto de partida o desenvolvimento do conceito “economia”. Mas por qual motivo se atentar tanto as mudanças do significado do termo? Elias mesmo diz no decorrer do texto que pode parecer estranho se ocupar com o caminho que o conceito teve, mas é um papel muito importante para um sociólogo, com isso ele percebeu que as mudanças dos significados poderiam fornecer indicações sobre a mudança no padrão de entendimento da sociedade. Assim descobrir a origem e a evolução dos conceitos poderia ser de grande interesse para identificar as transformações sociais mais amplas. Essa abordagem é como ir de passo a passo, até chegar onde se quer.
O termo “economia” já estava presente a muito tempo no cotidiano, só que inicialmente estava ligado a atividades especificas dos indivíduos, como as despesas do lar. Já no século XVII e no início do século XVIII, esse termo era empregado pejorativamente pelas elites das sociedades europeias pré-industriais a pessoas de classe baixa, como mercadores e comerciantes – que trabalhavam para se sustentar e precisavam conter seus gastos a sua renda. Hoje isso ser o certo já se parece óbvio, porém naquele tempo não era, não entre as classes mais altas, que como o próprio autor diz: os ricos tinham o código social oposto à lógica que dizia que era importante gastar menos do que se tinha, isso porque os padrões de consumo se baseavam na sua posição social e se perderia prestígio e status ao não viver conforme as expectativas. 
Antes a economia era considerada como uma atividade dos mais pobres, mas depois de um tempo ela passou a ser considerada uma atividade racional, como ao equilibrar os gastos a renda e poupar dinheiro ao invés de gastar tudo, mas a primeira mudança realmente decisiva no significado da palavra veio quando ela passou do campo privado (manejo dos recursos domésticos) para a administração pública (gerenciamento do país) e um sintoma dessa mudança foi a expressão “economia política”. François Quesnay, que era médico e seus discípulos que passaram a ser conhecidos como fisiocratas, foram os primeiros a associar ciência com economia e tiveram seu papel destacado ao serem responsáveis por introduzir o termo a uma abordagem mais científica. 
Os fisiocratas e Adam Smith foram influenciados pela crença de que a natureza produziria no domínio social uma vida mais feliz e harmoniosa entre os homens, e através de evidências empíricas, demonstraram que a sociedade da mesma forma que a natureza, tinham “leis” especificas que não poderiam ser deixadas de lado. Como citado no texto, o trabalho de Rousseau era um exemplo desta crença social. E como dito antes, usaram dados empíricos para demonstrar essas “leis”, mas esses dados já estavam disponíveis anteriormente, como em círculos de artesãos, que já conheciam os benefícios da divisão do trabalho antes mesmo de ser usada para demonstrar um mecanismo social autorregulador. Então o que antes era uma crença social e filosófica, ganhou a função de uma hipótese cientifica, devido as inovações intelectuais tanto de Adam Smith, quanto dos fisiocratas. Elias acaba por evidenciar como a fusão de duas correntes com tradições totalmente independentes deram um significado especial ao exemplo dos fisiocratas, pois de um lado tinha os grandes conceitos filosóficos e do outro, conhecimento prático sobre específicos dados sociais. E esses fisiocratas foram provavelmente os primeiros a desenvolver ferramentas que tornaram possível entender os súditos de um rei como enfim uma sociedade e observar esse novo domínio social, se pode dizer que esses pensadores foram responsáveis por trazerem uma abordagem mais científica sobre a sociedade.
E essa abordagem, que podemos considerar nova para a época, veio durante o Antigo Regime, que acabava por estabelecer limites ao que a sociedade poderia escrever e pensar, com isso o autor enfatiza como era necessário ter coragem para dizer e demonstrar com fatos que a sociedade em si, tinha suas leis, independente do que era estabelecido pelos governantes e vem daí o conceito que a “sociedade” é algo distinto do “Estado”, pois a sociedade, como a natureza tinha seus próprios padrões e antes de a tentar controlar deveriam ser estudados e isso se tornou uma difícil tarefa, já que tinham que convencer o Estado e a Igreja, que a sociedade tinha suas próprias leis, padrões e princípios, independentemente de qualquer autoridade (governantes, Igreja) pois eles não eram a fonte suprema de todas as leis, mesmo tendo um imenso poder, acabando isso por ser um desgosto contra estas autoridades.
Houve uma diferença entre os fisiocratas e os economistas clássicos da primeira metade do século XIX em relação a alteração no uso da “economia” e nas mudanças da distribuição de poder na sociedade. A economia era assunto do Estado para os fisiocratas, que apenas pediram atenção aos governantes de seu país à capacidade “natural” das funções sociais, que para eles deveria se autorregular como a natureza. Já os economistas clássicos puseram as leis econômicas no centro de suas doutrinas, como forma autorreguladora e foram além sugerindo que o bem estar da sociedade seria maior se ficassem livres da interferência dos governantes. Adam Smith descrevia a economia política como uma ciência destinada aos homens de Estado, mas ele e seus representantes concordavam com os economistas e diziam que a autonomia e a autorregulagem eram sim muito importantes e quando esses conceitos se relacionaram, as classes médias industriais começaram a ter mais poder, avançando nas camadas da sociedade que estavam e como esse poder ia crescendo, seu poder de compra e venda também iam, assim ficando cada vez mais independentes do governo e isso fez com pessoas interessadas em descrever e estudar esses fenômenos sociais surgissem. 
E em passos pequenos, estas ciências iam se tornando independente em relação as ciências da natureza e isso representava uma parte importante do caminho trilhado entre o pensamento pré-científico e a maneira mais cientifica de lidar com os problemas que aconteciam na sociedade, mesmo assim, para se chegar à economia e a sociologia como ciências, o processo foi bem lento, mas com o passar do tempo cada vez mais pessoas se interessavam em estudar sobre a sociedade e a economia de uma forma mais especifica, chegando então a uma etapa do conhecimento cientifico que era inédita até então.
Elias destaca algumas exigências básicas nesse caminho: 
1- Aprender usando como base os modelos das ciências naturais e ao mesmo tempo desenvolver novos métodos e teorias independentes.
2- Conceituar o que se estudava em termos menos pessoais que as expressões correntemente usadas na sociedade em geral.
3- Estabelecer uma distinção entre o diagnóstico do estudo da sociedade e, de outro, os enunciados que representavam objetivos, crenças, ideais e opiniões que se encontravam em grupos específicos.
E a respeito do objetivo desse caminho, ele não se dirigia somente a como a sociedade era, mas também se dedicava a como asociedade deveria ser.
Uma mudança mais ampla foi percebida por conta de um movimento em direção a uma abordagem mais cientifica do campo econômico, relacionada também à própria trajetória do conceito “economia”. Lá no final do século XVIII e início do XIX as formas tradicionais de sociedade – que eram caracterizadas pela concentração de poder nas mãos de pequenos grupos –, deram lugar a outros modos de organização social e também ao invés de perceber a sociedade com base nas leis de seu país, se passou a percebê-la de uma maneira diferente e como a distribuição de poder se tornou menos irregular, algumas áreas da sociedade, como o mercado por exemplo, se pode ver livre da regulação governamental.
E uma transformação semelhante aconteceu no que hoje chamamos de sociologia, Elias ressalta que o que já se disse do desenvolvimento do campo da economia facilita a entender e esclarecer problemas nessa outra parte das ciências sociais. Os primeiros sociólogos se diferenciavam muito mais dos outros do que os economistas, mas não importava o quão diferente fosse a ideia de cada um, eles se conectavam uns com os outros por se depararem com problemas semelhantes, onde as questões que tentavam responder, muitas vezes eram as mesmas. E dessas características compartilhadas, provavelmente a mais significativa era que eles diferenciavam a “sociedade” do “Estado”, assim eles tentavam descobrir as “leis” da sociedade, não as que foram feitas pelo Estado, mas sim as que “serviam como base a todas as leis feitas pelo homem, que eram inerentes à sociedade, tal qual os princípios naturais eram inerentes à natureza” como dito pelo autor.
Esses primeiros sociólogos viam a sociedade como uma região do universo que tinha certa autonomia, uma ordem única e procuravam provar suas ideias gerais de uma maneira cientifica e como Comte, consideravam o estudo da sociedade como um estudo “positivo”. Antigamente nas gerações anteriores, os dados disponíveis eram poucos, mas naquele momento vinham aumentando devido ao interesse geral, assim isso os permitiam comprovar os padrões por eles observadas, com referências a materiais históricos e também de outras naturezas.
E da mesma forma como a economia, a sociologia teve dificuldades para ser considerada como uma ciência, acontecendo só quando teve apoio de certos grupos. E o problema que era compartilhado entre os primeiros sociólogos era o de saber como tinha acontecido o desenvolvimento da sociedade e como ela iria se desenvolver a longo prazo, como ela seria no futuro. O autor ainda destaca o trabalho de Hegel, que seria a primeira grande manifestação de uma linhagem de pensamento que dava ênfase ao desenvolvimento humano; o padrão mutável da história e para explicar essa mudança, Elias retorna para os séculos XVII e XVIII, quando apresentar ideias seculares sobre a sociedade era tarefa dos filósofos, um exercício solitário do pensamento sobre as ideias a respeito de Deus e do mundo, mas um dos principais fatores do surgimento de uma ciência da sociedade era que esses tipos de explicações já não eram mais suficientes. As pessoas perceberam após a Revolução Francesa que não tinham como as mudanças sociais serem provocadas por líderes específicos, e mesmo que cada indivíduo tivesse uma forma independente de agir, as pessoas em um geral eram as responsáveis por estas mudanças, por consequência de suas ações. Para os primeiros sociólogos, a tarefa era a de descobrir e explicar esses padrões e assim usar esse conhecimento para atingir nossos objetivos, assim como também foi feito com o conhecimento da natureza anteriormente.
Comte, Spencer, Marx e Hobhouse foram destacados pelo autor, por terem ideias firmes sobre o futuro da humanidade, como ela deveria ser. Tratava-se de um “programa de ação” para que os homens se dedicassem e assim o sucesso seria inevitável como diz o autor. E uma crença partilhada pela maioria dos sociólogos do século XIX era a de que a humanidade progredia inevitavelmente e necessariamente, mesmo que o significado de progresso acabasse sendo diferente entre eles, mas sempre era uma “mudança em direção a algo melhor”, por outro lado também existiam aqueles cientistas sociais que acreditavam na miséria humana ou na inalterável estupidez das massas.
Elias fala que uma das maiores razões para estudar o desenvolvimento passado da sociedade era o interesse de garantir, cientificamente, que os planos deste ou daquele grupo sobre o futuro estavam corretos (página 193) e ainda destaca, voltando a falar que a alteração na distribuição de poder foi a transformação básica para o surgimento da sociologia. Os primeiros sociólogos fizeram da sociedade seu objeto de estudo, agindo como exploradores e observadores em um terreno um tanto quanto desconhecido, e eles, mais do que os economistas, reconheciam na sociedade uma ordem especifica de eventos e assim procuravam explicá-las, eram mais do que simples observadores, eram também participantes.
Em seu Pós-Escrito, Elias diz que uma das tarefas da sociologia é a de desenvolver uma teoria básica sobre a sociedade. Que seria a estudar e entender como ela se desenvolveu no passado, quanto a como ainda irá se desenvolver no futuro, assim como dito anteriormente.

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