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Lu pus Eritematoso siste mico Caroline Lea o Objetivo 01: Epidemiologia, Fisiopatologia e manifestações clínicas do lúpus. O lúpus eritematoso sistêrnico (LES) é uma doença autoimune que afeta diversos órgãos, com manifestações multiformes e comportamento clínico variável. Do ponto de vista clínico, é uma doença imprevisível, remitente e recorrente, de início súbito ou insidioso, que pode envolver virtualmente qualquer órgão; entretanto, ela afeta sobretudo pele, rins, serosas, articulações e coração. Sob o aspecto imunológico, a doença está associada a uma grande variedade de autoanticorpos, classicamente incluindo anticorpos antinucleares (AANs). A apresentação clínica é tão variável e possui tantas manifestações em comum com outras doenças autoimunes (artrite reumatoide, polimiosite e outras), que foi necessário desenvolver critérios diagnósticos para o LES. O diagnóstico é estabelecido se o paciente apresentar quatro ou mais critérios durante o período de observação. Epidemiologia O LES é uma doença de distribuição universal, sendo diagnosticado nas mais diferentes áreas geográficas, o que levaria a supor uma uniformidade nas diversas etnias. Entretanto, nos EUA observou-se uma nítida prevalência na raça negra, onde a doença acomete 1/250 mulheres negras comparadas a 1/1.000 mulheres brancas, na faixa etária de 18 a 65 anos. Da mesma maneira, a incidência da doença foi calculada em um estudo de Baltimore como sendo de 4,6/100.000 pessoas, havendo, no entanto uma variação de 0,4/100.000 quando se consideravam mulheres da raça branca para 11,5/100.000 para mulheres da raça negra. Foram observadas, ainda, agregação familiar com aproximadamente 10% dos pacientes apresentando um parente de primeiro grau afetado, e uma concordância maior entre os gêmeos monozigóticos do que os dizigóticos. A doença caracteristicamente é muito mais prevalente em mulheres, notadamente na idade reprodutiva. Os primeiros sinais e sintomas da doença iniciam- se principalmente entre a segunda e terceira décadas de vida, em que o sexo feminino predomina na proporção de 10:1. Deve-se ressaltar, entretanto, que a doença não se restringe a esta faixa etária e ocorre também em crianças e idosos, porém com menor predomínio do sexo feminino, com uma distribuição aproximada de 4:1. Fisiopatologia Dentre os possíveis fatores envolvidos na sua gênese, o componente genético parece desempenhar um papel de destaque na predisposição para a doença. Colabora para esta hipótese a maior frequência em certos grupos étnicos de determinados haplótipos dos antígenos de histocompatibilidade (HLA), tanto de classe I (B8) como de classe II (DR3, DR2, DQw1 e DQw2), que se localizam no braço curto do cromossomo. Estes achados podem explicar a maior incidência de LES e também de outras doenças autoimunes nos parentes desses pacientes. Além disso, como mencionado anteriormente, há maior ocorrência familiar e em gêmeos monozigóticos. Curiosamente, o achado de deficiências de frações de complemento no LES é frequente, notadamente C2 e C4, que também estão ligados aos haplótipos DR2 e DR3, respectivamente. De fato, alguns dos genes que poderiam se relacionar com maior suscetibilidade à doença ou mesmo a sua maior gravidade incluem aqueles que codificam componentes da via do complemento, como C1q, C2 e C4A. É possível que menor produção desses componentes diminua a eliminação de células apoptóticas, aumente a disponibilidade de autoantígenos e reduza a solubilidade dos imunocomplexos. Em algumas populações de LES, o seu diagnóstico foi associado a variantes polimórficas do fator 5 regulador da interferona (IFR5) e genes Tyk2, ambos envolvidos na ativação da via da interferona tipo I, embora ainda exista a necessidade de se demonstrar uma alteração da expressão ou da função dos produtos genéticos associados. Da mesma maneira, foram descritas variantes genéticas do fator de necrose tumoral (TNF) e genes de citocinas que poderiam alterar as respostas da função imune e inflamatória. É importante saber que estes genes associados ao LES promovem desregulação das respostas imunes inatas ou adaptativas. A participação hormonal no desenvolvimento da doença é sugerida pela maior prevalência do LES na população fértil feminina e reforçada por modelos animais murinos nos quais o estrógeno agrava e antecipa o aparecimento da nefrite lúpica. Existem evidências de metabolismo anormal de hormônios sexuais, com aumento da 16-α-hidroxiestrona e estradiol, além de metabolismo alterado dos andrógenos, caracterizado pelos baixos níveis de testosterona nos homens e de desidroepiandosterona nas mulheres. Entre os fatores ambientais, a exposição solar, particularmente a irradiação, parece contribuir para a indução e a exacerbação da doença. Por outro lado, diversos agentes infecciosos, particularmente virais, foram aventados como participantes na gênese da doença. Embora seja possível que alguns desses agentes ou seus produtos, como os superantígenos, possam induzir uma ativação policlonal, exacerbando a doença, não existe comprovação totalmente convincente de sua participação na patogênese. A indução de lúpus após o uso de substâncias como hidralazina, procainamida, isoniazida, clorpromazina e anticonvulsivantes é bem estabelecida na literatura, porém constitui uma forma especial de doença, denominada lúpus induzido por drogas. A combinação dos efeitos destes fatores e outros desconhecidos parece afetar o circuito imunorregulador das células T, que causa particularmente exacerbação da função das células B e inibição da resposta T supressora. Neste contexto, ocorre produção anormal de autoanticorpos, que podem participar da patogênese do lúpus como componentes dos imunocomplexos ligados aos seus antígenos correspondentes. Seu depósito no tecido e sua interação com o sistema complemento induzem um processo inflamatório exuberante. Estudos recentes sugerem que disfunções no processo de apoptose, no sistema de complemento e de fagocitose possam ter um papel fundamental na resposta imune alterada observada no LES. Estas alterações levariam a uma exposição aumentada de antígenos celulares e incitariam uma resposta imunológica inadequada. am em respostas imunes anor xos que se depositam Quadro clínico Manifestações gerais Sintomas gerais como anorexia e perda de peso podem ser observadas como quadro inicial da doença e preceder o aparecimento de outras manifestações em meses. O lúpus é causa de febre de origem indeterminada em menos de 5% dos pacientes, mas pode ser um primeiro sinal da doença, e em torno de 42% dos pacientes podem ter febre como manifestação do lúpus ativo, principalmente observada em crianças e adolescentes. Linfoadenopatia generalizada ou localizada, com predomínio das cadeias cervical e axilar, pode ser observada em mais de um terço dos casos, assim como a presença de hepato e/ou esplenomegalia. Manifestações cutâneas As manifestações cutâneas são extremamente importantes para o diagnóstico. São identificadas em 70% dos pacientes no início da doença e em até 80- 90% na sua evolução. As principais lesões compreendem o lúpus cutâneo agudo, subagudo e discoide dentre um amplo espectro de manifestações cutâneas, recentemente incorporadas aos novos critérios de classificação da doença. A principal lesão cutânea aguda é o rash “ ” 30 a 60% dos casos, sendo altamente fotossensível. Caracteristicamente, após o controle da atividade inflamatória, essas lesões podem evoluir com hiperpigmentação, confundindo-se com o cloasma gravídico. Sua forma generalizada é conhecidacomo rash maculopapular ou dermatite lúpica fotossensível e se apresenta como erupção exantematosa ou morbiliforme generalizada. O lúpus bolhoso e a necrose epidérmica tóxica são também outras formas de lesões agudas da doença, juntamente com a fotossensibilidade. Por outro lado, o lúpus cutâneo subagudo manifesta-se como placas eritematosas escamativas em áreas expostas e com intensa fotossensibilidade (7-27%), habitualmente associada ao anticorpo anti-Ro (SS-A). A lesão discoide no seu início é caracterizada por placa eritematosa que evolui deixando uma cicatriz central hipopigmentada com atrofia, preferencialmente identificada na face, no couro cabeludo, no pavilhão auricular e no pescoço (15-30%). As úlceras orais são indolores e observadas no exame físico em até 25% dos casos. A alopecia difusa pode ser identificada em até 50% dos casos e se relaciona com maior atividade da doença. Entre 20 e 70% dos pacientes apresentam vasculite cutânea que podem se manifestar como lesões puntiformes palmoplantares, purpúricas (principalmente em membros inferiores), urticariformes, úlceras e necrose digital. O fenômeno de Raynaud pode ser a primeira manifestação da doença e está correlacionado com a presença dos anticorpos anti-RNP. Manifestações articulares A presença de artralgia e/ou artrite possibilita forte suspeita diagnóstica, podendo ser identificada no início da doença em 75 a 85% dos casos e na maioria dos pacientes durante a evolução. Embora não possua um padrão específico de acometimento, na maioria das vezes observa-se uma poliartrite simétrica aditiva, por vezes com rigidez matinal, semelhante à da artrite reumatoide. Outro achado importante na doença é a artropatia de Jaccoud, identificada em 8 a 10%, que é z “ ” ó Manifestações cardíacas e pulmonares Dentre as manifestações pulmonares, a pleurite é a mais frequente e ocorre em 30 a 60% dos pacientes, sendo que derrame pleural é observado em 16 a 40% durante o curso da doença. A síndrome do pulmão encolhido pode ocorrer na doença, levando à instalação aguda/subaguda de dispneia, em que existe redução dos volumes pulmonares frente à elevação de diafragma, determinando uma restrição da função pulmonar. A hemorragia alveolar difusa é outra condição que determina dispneia de início súbito, associada a tosse, hemoptises (presentes em apenas 50%), febre e infiltrados pulmonares difusos, e associada à marcada redução dos níveis de hemoglobina. A hipertensão pulmonar pode ocorrer em decorrência da própria doença ou secundária a valvopatia cardíaca, doença intersticial pulmonar ou embolia pulmonar (geralmente decorrente da associação com a SAF). Os quadros de pneumonite aguda e crônica na doença são menos frequentes. A pericardite pode ser a primeira manifestação do LES em 5% dos quadros, podendo aparecer isoladamente ou associada a serosite generalizada, particularmente associando-se à pleurite. Os quadros variam desde assintomáticos até tamponamento, podendo ser detectado por atrito pericárdico, alterações ecocardiográficas ou na tomografia (6-45%). A miocardite sintomática é suspeitada na presença de taquicardia persistente e sinais clínicos de insuficiência cardíaca aguda, geralmente com alterações no mapeamento cardíaco e enzimas musculares. A endocardite de Libman-Sacks é caracterizada pela presença de vegetações verrucosas localizadas próximas das bordas valvares e habitualmente não produzem repercussão clínica, sendo observadas em até 50% das autópsias. Manifestações neuropsiquiátricas Estas condições são subdivididas em sistema nervoso central e periférico, e podem ser atribuídas ao LES desde que afastadas outras causas, principalmente infecções e distúrbios metabólicos. São observadas em 25 a 70% dos pacientes, podendo ser a primeira manifestação da doença e ocorrer mesmo na ausência de outras manifestações. Os distúrbios de comportamento podem ser observados em aproximadamente metade dos pacientes e a psicose decorrente do LES ocorre em até 10% dos casos. A maioria dos quadros convulsivos é do tipo grande mal, com convulsões tônico-clônicas generalizadas. O acidente vascular cerebral (AVC) e a mielite transversa exigem diferencial com a SAF. Manifestações renais Até 74% dos pacientes com LES apresentarão alguma manifestação renal durante o curso de sua doença, seja síndrome nefrítica ou nefrótica, cuja gravidade depende do padrão histopatológico. As classes I e II abrangem as glomerulonefrites (GN) cujo depósito de imunocomplexos atinge o mesângio, sem ou com hipercelularidade mesangial, respectivamente. A GN focal (classe III) compromete menos de 50% do total de glomérulos enquanto a classe IV (GN difusa) envolve 50% ou mais dos glomérulos. Além disso, a classe IV é ainda subdividida em acometimento segmentar ou global. A classe V compreende a GN membranosa e a classe VI, a esclerose glomerular. As classes de GN devem ser identificadas quanto ao predomínio de lesões ativas e/ou crônicas. O diagnóstico histopatológico deve sempre descrever os acometimentos túbulo-intersticial e vascular. Na impossibilidade de realização da biópsia renal, podemos inferir a provável classe histológica utilizando variáveis clínicas e laboratoriais, conforme proposto pelo consenso da SBR, ainda que exista uma certa imprecisão diagnóstica. O sedimento urinário ativo, definido pela presença de hematúria (especialmente se com dismorfismo de padrão glomerular), leucocitúria e cilindros celulares, é um dos parâmetros mais importantes para caracterização de GN em atividade. A proteinúria, medida em 24 horas ou inferida pela relação proteinúria/creatininúria (R P/C) em uma amostra isolada de urina, também pode indicar atividade inflamatória. A redução da filtração glomerular, a proteinúria nefrótica e a presença de hipertensão arterial sistêmica (HAS) sugerem maior gravidade e pior prognóstico. Assim como outras manifestações da doença, a GN apresenta, por vezes, períodos de atividade com rápida instalação e evolução, o que determina o início imediato da fase de indução, com uma imunossupressão mais intensa. Na prática clínica, nem sempre é possível realizar uma biópsia renal, o que não justifica postergar o início do tratamento, que deve ser instituído o mais rapidamente possível. Manifestações hematológicas Leucopenia e linfopenia são encontradas com alta frequência no LES, fazendo parte dos critérios de classificação. A plaquetopenia pode ser a primeira manifestação de doença e pode preceder em anos outras manifestações clínicas do LES. Clinicamente observam-se petéquias ou equimoses, principalmente de membros inferiores, além de fenômenos hemorrágicos. A anemia hemolítica Coombs positivo também pode ocorrer de forma isolada no início da doença, contudo, o achado mais frequente é a anemia de doença crônica. Objetivo 02: Diagnóstico e prognóstico do lúpus. Diagnóstico ó -se em anti- . ó z terminados pacientes para esti - ó Em muitos pa testeó ó com ó risco. Prognóstico ó - z ó z z z como i re - ó ca. As neoplasias malignas tam onstrou que a curva de sobrevi ó apropriadas para evitar e investigar at
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