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INTRODUÇÃO E ALTERAÇÕES NO 
CÓDIGO PENAL
01
COMENTÁRIOS
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
No dia 24 de dezembro de 2019 foi publicada a Lei n. 13.964/19, 
que instituiu o chamado “pacote anticrime”. Trata-se de uma série de 
mudanças legislativas levadas a cabo no âmbito do Código Penal, Có-
digo de Processo Penal e legislação penal extravagante. Este conjunto 
de mudanças foi de iniciativa do Ministério da Justiça, e objetivava – 
conforme indica a nomenclatura empregada para o pacote de medi-
das – recrudescer a legislação penal. 
No decorrer dos debates legislativos, houve uma série de mudan-
ças no “pacote anticrime” original. Além da supressão de algumas 
propostas oriundas do Executivo, o Parlamento acrescentou ao texto 
mudanças com reflexos em toda a estrutura do pacote de medidas. 
Algumas destas mudanças já se encontravam em outros projetos de 
lei que se encontravam parados no Congresso Nacional. 
Entre estas medidas, pode ser destacada a polêmica figura do juiz 
das garantias, a restrição à iniciativa do magistrado durante o proces-
so penal, a tentativa de fortalecer o sistema acusatório, entre outras. 
2. DIREITO INTERTEMPORAL
De um modo geral, imprescindível que tenhamos em mente que 
algumas alterações foram benéficas e outras tantas maléficas ao réu. 
Deste modo, muito importante que tenhamos em mente as regras de 
aplicação intertemporal do Direito, para que se possa, à luz do caso 
concreto, aquilatar se será possível ou não implementar as alterações 
legislativas para casos em andamento. 
PACOTE ANTICRIME | LEI 13.964/19 
INTRODUÇÃO E ALTERAÇÕES NO 
CÓDIGO PENAL
02
Para sabermos se haverá ou não a aplicação da alteração legis-
lativa para casos que se encontram em andamento, precisaremos 
identificar qual a natureza da regra legal de que estamos tratando. 
E isto porque a Lei Anticrime possui regras de Direito Penal ma-
terial, de Direito Processual Penal e de natureza mista (material e 
processual). 
No que se refere às regras de aplicação da lei, teremos o se-
guinte: 
2.1 – REGRA DE DIREITO PENAL
A decisão em torno de qual lei será aplicada quando há uma su-
cessão de leis penais no tempo é adotada com base nos critérios 
do Direito intertemporal.
Como regra geral, vigora a ideia de que a lei a ser aplicada é 
aquela que se encontra em vigor no momento do fato (tempus re-
git actum). Contudo, não podemos esquecer que o Direito Penal 
guarda suas peculiaridades, de modo que a lei nova que beneficia 
o réu deverá retroagir (art. 5º, XL, CF e art. 2º, CP). Falamos, portan-
to, na retroatividade da lei benéfica (novatio legis in mellius ou lex 
mitior) e na irretroatividade da lei maléfica (novatio legis in pejus ou 
lex gravior).
Em verdade, o que ocorre é uma extra-atividade benéfica. 
Trata-se de gênero, de que são espécies: a retroatividade e a ultra-
-atividade. Desse modo, temos:
a) Retroatividade: possibilidade de a lei penal ser aplicada an-
tes do seu período de atividade. Por sua vez, período de ati-
vidade está compreendido entre o momento em que a lei se 
torna vigente, até a sua revogação. Em suma, retroatividade 
significa a possibilidade de aplicar a lei penal a fatos ocorri-
dos em momento anterior à sua vigência. Como já salienta-
mos, isto será possível se esta lei nova for benéfica.
03
b) Ultra-atividade (ultratividade): em sentido oposto, corres-
ponde à possibilidade de aplicar-se a lei penal em momento 
posterior à cessação de sua vigência. Para tanto, será neces-
sário que o fato tenha ocorrido durante o seu período de 
atividade, e que, por ocasião do julgamento do fato, esteja 
vigente uma lei maléfica (novatio legis in mellius).
Ex.: a Lei Anticrime aumenta a pena máxima do crime de concus-
são (art. 316, CP), de oito para doze anos de reclusão. Para aqueles 
que haviam praticado crime antes da entrada em vigor da Lei (23 
de janeiro de 2020), a pena máxima continuará a ser de 8 (oito) 
anos de reclusão, pois a regra revogada permanecerá aplicável ao 
caso. 
2.2. REGRA DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
O art. 2º do nosso Código de Processo Penal consagra a adoção, 
entre nós, do princípio da aplicação imediata (ou princípio do 
efeito imediato) da lei processual. Portanto, no processo penal, vi-
gora a regra do tempus regit actum, de onde podemos extrair duas 
consequências:
a) A lei processual penal aplica-se imediatamente;
b) Os atos processuais já realizados são considerados válidos. 
Assim, se, por exemplo, a lei processual estabelece novas regras 
para a citação do acusado, as citações já efetuadas são válidas e a 
nova regra deverá ser aplicada às citações ulteriormente realiza-
das.
Percebemos que no Direito Processual Penal, não vigora o prin-
cípio da irretroatividade ou princípio da retroatividade benéfica 
(art. 5º, XXXIX e XL, CF e art. 2º, CP), como ocorre no Direito Pe-
nal. Assim, benéfica ou maléfica, a lei processual será aplicada de 
pronto. Em sentido diverso, minoritário na doutrina, Aury Lopes Jr. 
sustenta que à norma processual penal aplica-se a regra da retroa-
tividade benéfica, segundo a mesma rotina da lei material.
04
Ex.: A Lei Anticrime altera o art. 28 do CPP, estabelecendo uma 
nova regra para o arquivamento do inquérito policial. Trata-se, 
logo se vê, de regra eminentemente processual, razão pela qual 
deve ser aplicada de imediato, aos inquéritos policiais em anda-
mento na data de entrada em vigor da Lei n. 13.964/19. 
1.3 - REGRA DE APLICAÇÃO DAS LEIS MISTAS
Questão palpitante diz respeito à solução para aplicação da lei 
mista (ou híbrida), entendida como aquela que comporta aspectos 
de direito material e direito processual. Nesta situação, na esteira 
do entendimento pacífico no STF, deve prevalecer o aspecto mate-
rial, valendo a regra da retroatividade benéfica para o réu1. É dizer, 
cabe ao intérprete centrar-se na análise do aspecto material, e 
duas soluções se apresentam:
1) Se for benéfico, retroagirá, e a parte processual da lei terá 
aplicação a partir da sua vigência, já que os atos processuais even-
tualmente já praticados reputam-se válidos;
2) Sendo maléfico, não há retroação, e a parte processual da lei só é 
aplicada aos crimes ocorridos após a sua entrada em vigor, ou seja, ne-
nhum aspecto da norma é aplicado aos delitos que lhe são anteriores.
Ex.: A Lei Anticrime altera a modalidade de ação penal no crime 
de estelionato (art. 171, CP), que deixa de ser de iniciativa públi-
ca incondicionada, e passa a ser, como regra, de iniciativa pública 
condicionada à representação do ofendido. A matéria relaciona-
da ao tema “ação penal” é de natureza híbrida, pois abrange tan-
to aspectos de Direito Penal material quanto aspectos de Direito 
Processual Penal. Apenas como reforço argumentativo, basta 
percebermos que o tema se encontra tanto no Código Penal 
(a partir do seu art. 100) quanto no Código de Processo Penal (a 
partir do seu art. 24).
1 STF, HC 83.864/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence.
05
Já que a parte da Lei Anticrime que alterou a modalidade da ação 
penal no crime de estelionato é de natureza híbrida, deveremos 
aplicar a regra do Direito Penal – retroatividade benéfica/irretroati-
vidade maléfica. À toda evidência, trata-se de alteração benéfica ao 
réu, porquanto a exigência de uma condição de procedibilidade (re-
presentação do ofendido) dificulta a persecução criminal contra si. 
Por tal razão, trata-se de regra que deverá retroagir para alcan-
çar os crimes de estelionato (art. 171, CP) que haviam sido pratica-
dos na data da entrada em vigor da Lei Anticrime. 
Art. 2º  O  Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 
1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes alterações:
ART. 25 ....................................................................................................
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos 
no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa 
o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de 
agressão a vítima mantida refém durante a práticade crimes.” (NR)
COMENTÁRIOS
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Antes de tratarmos da alteração legislativa, faz-se necessário 
contextualizar a mudança. A primeira modificação promovida pela 
Lei Anticrime diz respeito à inserção, no art. 25, CP de um parágra-
fo único. O mencionado art. 25 dispõe sobre a legítima defesa, e 
seu caput possui a seguinte redação: 
“Entende-se em legítima defesa quem, usando modera-
damente dos meios necessários, repele injusta agres-
são, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm
06
A legítima defesa é uma causa excludente de ilicitude que per-
mite ao sujeito, para preservar bens jurídicos próprios ou alheios, 
reagir a um comportamento humano que traduz uma lesão ou ex-
posição a perigo de lesão desses mesmos bens.
2. REQUISITOS DA LEGÍTIMA DEFESA
A partir da definição de legítima defesa, contida no art. 25 do 
Código Penal, podemos identificar os seguintes requisitos cumu-
lativos para a ocorrência dessa causa de exclusão de ilicitude.
I - AGRESSÃO 
a) Conceito: agressão é uma “ameaça derivada de um compor-
tamento humano a um bem juridicamente protegido”2. Por outras 
palavras, trata-se de uma conduta humana positiva (ação) ou ne-
gativa (omissão) voluntariamente dirigida à lesão ou exposição a 
perigo de lesão de um bem jurídico. 
Não haverá, necessariamente, violência, mas, sim, um ato cons-
ciente e voluntário dirigido à lesão (ou exposição a perigo de lesão) 
a um bem jurídico. É esta a grande distinção entre a agressão e o pe-
rigo. Consequentemente, trata-se da maior distinção entre as exclu-
dentes de ilicitude do estado de necessidade e da legítima defesa. 
b) Distinção entre agressão e perigo: a situação de perigo, 
vale recordar, pode derivar de um animal, de um evento da nature-
za ou, até mesmo, de um comportamento humano que não cons-
titua uma agressão. Não teremos agressão nessas situações. Não 
há que se falar em agressão de um animal irracional, portanto. 
c) Agressão e mera provocação: ainda no que se refere à 
agressão, devemos consignar que não podemos confundir a agres-
são com a simples provocação. Esta pode existir nos xingamentos, 
2DIAS, Jorge de Figueiredo. Op. cit., p. 408.
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nas brincadeiras de mau gosto3 etc. É verdade que, muitas vezes, 
haverá um liame muito tênue entre tais provocações e uma agres-
são, sobretudo porque podemos falar, em tese, em legítima defesa 
ao bem jurídico honra, porventura violado com os xingamentos. 
Em todo caso, diante da dificuldade no caso concreto em se iden-
tificar se a conduta se trata de uma agressão (contra a qual cabe a 
legítima defesa) ou mera provocação (contra a qual não será pos-
sível a legítima defesa), caberá ao julgador valer-se da conhecida 
técnica de julgamento do “in dubio pro reo”. 
Doutrinariamente tem-se entendido, ainda, que não pode o pro-
vocador invocar legítima defesa quando assim age para forçar uma 
agressão. Exemplo: “A”, sabendo que “B” não suporta determina-
do apelido, começa a utilizá-lo com a finalidade de fazer com que 
“B” vá agredi-lo, para poder sacar seu revólver e efetuar disparos, 
invocando legítima defesa. Em um caso como esse, ainda que o 
plano de “A” saia como previsto, não seria o caso de se falar em le-
gítima defesa, haja vista sua condição de provocador da agressão. 
II – INJUSTIÇA DA AGRESSÃO
a) Conceito: agressão injusta é aquela que não encontra 
respaldo no ordenamento jurídico. Trata-se, destarte, de uma 
conduta ilícita. 
b) Agressão justa não admite legítima defesa: se a agressão 
estiver em conformidade com o Direito (agressão justa), estaremos 
diante de uma situação na qual não se poderá falar em legítima 
defesa. Exemplo: um policial prende alguém que se encontra em 
situação de flagrante, observando os limites que lhe são impos-
tos pelo ordenamento jurídico e, portanto, amparado pelo estrito 
cumprimento de um dever legal. Em um caso como esse, o preso 
não poderá empregar a violência contra o policial e alegar que se 
encontrava em situação de legítima defesa, haja vista o fato de a 
agressão do policial não ser injusta.
3 MARINHO, Alexandre Araripe; FREITAS, André Guilherme Tavares de. Manual de direito penal: parte geral. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 252.
08
c) Agressão injusta pode ser atípica: já dissemos que a agres-
são injusta é ilícita, na medida em que está em desconformidade 
com o Direito. Contudo, não se trata, necessariamente, de ilicitude 
penal. A rigor, podemos ter agressão injusta – e, portanto, legítima 
defesa em relação a ela – em uma conduta atípica. 
O exemplo sempre invocado é o do furto de uso que, como ce-
diço, constitui fato atípico. Contudo, é ato ilícito (extrapenal) e, por-
tanto, é possível legítima defesa contra aquele que pretende prati-
car o furto de uso. 
III - ATUALIDADE OU IMINÊNCIA DA AGRESSÃO 
O art. 25, CP admite a legítima defesa quando a agressão é atual ou 
iminente. A partir de tal assertiva, podemos extrair duas conclusões:
a) Não cabe legítima defesa de agressão pretérita
b) Não cabe legítima defesa de agressão futura (remota)
Sendo certo que não cabe a legítima defesa quando houver 
agressão pretérita ou futura (remota), importa reconhecer de for-
ma mais detalhada os contornos da agressão atual ou iminente. 
a) Agressão atual: é aquela que já se iniciou e ainda não 
chegou ao seu fim. A agressão está ocorrendo. Corresponde 
às hipóteses nas quais a pessoa já está desferindo socos, já 
iniciou o deflagrar dos disparos etc. 
b) Agressão iminente: é a agressão que ainda não se iniciou, 
mas está prestes a ocorrer. O Estado não pode exigir que as 
pessoas comecem a ser agredidas para, só então, poderem 
reagir. Por essa razão, permite-se a legítima defesa mesmo 
quando a agressão ainda não se iniciou, desde que ela esteja 
na iminência de ocorrer. É a hipótese na qual a pessoa já par-
tiu para cima da outra ou já sacou o revólver, mas ainda não 
iniciou os disparos etc. 
09
IV - DIREITO PRÓPRIO OU DE TERCEIRO 
Legítima defesa própria e de terceiro: tal como ocorre no es-
tado de necessidade, também podemos falar em legítima defesa 
própria e de terceiro a depender da titularidade do bem jurídico. 
Para que se verifique a legítima defesa de terceiro, não é necessá-
rio que exista qualquer relação (jurídica, familiar, de amizade, de 
emprego etc.) entre o ofendido e o seu defensor. É possível, por-
tanto, que “A”, perambulando pela rua, aviste “B” agredindo “C” e 
vá repelir essa agressão, protegendo a vítima, ainda que se trate 
de pessoa completamente desconhecida. 
V - MODERAÇÃO: PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
O Código Penal exige o emprego moderado dos meios neces-
sários de defesa. A exigência de moderação vincula-se à ideia de 
proporcionalidade entre os atos de agressão e a reação (defesa) 
levada a efeito. Imprescindível, portanto, que seja dosada a inten-
sidade da reação defensiva. 
Podemos vislumbrar alguns exemplos para facilitar a compreensão. 
Exemplo 1: “A” corre em direção a “B”, com o claro intuito de agre-
di-lo. “B”, especialista em artes marciais, golpeia seu agressor, que já 
cai desacordado. Em uma situação como a descrita, não poderá “B” 
continuar a agredir “A”, sob pena de caracterização de um excesso, 
que, a depender do caso, será doloso, culposo ou escusável. 
Exemplo 2: “A” corre em direção a “B”, para agredi-lo. Perce-
bendo, todavia, que “B” pretende reagir e revidar, “A” desiste de 
seu intuito e volta para a outra direção, procurando fugir de “B”. 
Essa situação não permite que “B” vá em direção a seu pretenso 
agressor para golpeá-lo. 
Não haverá que se falar em legítima defesa em nenhuma das 
duas situações descritas, na medida em que não há moderação na 
reação defensiva. 
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VI - NECESSIDADE
Meios necessários são aqueles imprescindíveis à reação defen-
siva e que se encontram ao alcance do defensor. A necessidade re-
side, destarte, na identificação da reação adequada e suficientepara repelir a agressão injusta. Empregar, na reação, uma violência 
que exceda o estritamente necessário caracterizará excesso. 
Exemplo: vamos imaginar que Paulo, senhor de idade avança-
da, portador de enfermidades físicas, em estado de embriaguez 
crônica, parte para agredir fisicamente Francisco, jovem esportista 
e especialista em artes marciais, que se encontra sóbrio. É eviden-
te que, na situação descrita, Francisco consegue repelir a agressão 
de Paulo com muita facilidade. Imaginemos, porém, que, ante a 
iminência da agressão de Paulo, Francisco saca um revólver e de-
flagra disparos, levando seu agressor a óbito. 
3. REGRA DE EXTENSÃO PARA AGENTES 
 DE SEGURANÇA PÚBLICA
A Lei n. 13.964, publicada no dia 24 de dezembro de 2019, cuja 
entrada em vigor ocorreu após 30 dias instituiu alterações legisla-
tivas que foram batizadas de “pacote anticrime”. Uma destas alte-
rações ocorreu justamente ao acrescentar um parágrafo único ao 
art. 25 do Código Penal, com a seguinte redação: 
“Observados os requisitos previstos no  caput  deste artigo, 
considera-se também em legítima defesa o agente de segurança 
pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida 
refém durante a prática de crimes”.
A mudança promovida pela Lei n. 13.964/19 ficou muito aquém 
do que pretendia o Ministério da Justiça quando encaminhou o 
chamado “pacote anticrime” ao Congresso Nacional. Com efeito, 
em sua redação original, o projeto de lei permitia o juiz diminuir a 
pena ou mesmo dispensá-la (perdão judicial) quando o agente que 
atuasse em excesso tivesse incorrido em escusável medo, surpresa 
11
ou violenta emoção. Havia ainda uma maior extensão da legítima 
defesa, para se reportar especificamente ao agente de segurança 
pública em conflito armado. 
Tais propostas não receberam o aval do Parlamento, de modo 
que a única alteração promovida no art. 25, CP foi a introdução do 
parágrafo único acima mencionado. E tal mudança é muito pouco 
substancial, pois a situação descrita no novel parágrafo único já era 
compreendida como legítima defesa por nossa doutrina e jurispru-
dência. Com efeito, não há qualquer dúvida no sentido de que se o 
agente de segurança pública atende aos requisitos da legítima defe-
sa (art. 25, caput), estaremos diante da hipótese de legítima defesa. 
Nem sequer havia necessidade de o dispositivo recém acrescido 
ao Código Penal fizesse menção à vítima mantida refém. Mesmo 
que não houvesse vítima em tal situação, se o agente de seguran-
ça pública emprega a violência observando os requisitos do art. 
25, caput, CP (analisados no tópico anterior), estaremos diante de 
situação de legítima defesa própria ou de terceiro. 
ART. 51 Transitada em julgado a sentença condenatória, 
a multa será executada perante o juiz da execução penal 
e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas 
relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive 
no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da 
prescrição.
........................................................................................................................(NR)
COMENTÁRIOS
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Na redação original do Código Penal, o inadimplemento da pena 
de multa conduzia à sua conversão em pena privativa de liberda-
de. Este cenário foi alterado com o advento da Lei n. 9.268/96, que, 
12
alterando a redação do art. 51, CP, passou a regular a matéria, as-
severando que a multa será considerada dívida de valor, apli-
cando-se-lhe as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fa-
zenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e 
suspensivas da prescrição. 
Prevalece o entendimento no sentido de que, mesmo após a 
conversão em dívida de valor, a multa mantém sua natureza pena, 
e, por esta razão, aplica-se o princípio da intranscendência. Assim, 
se o condenado vier a óbito antes do pagamento, essa dívida não 
será transmitida aos herdeiros, independentemente de se saber o 
montante do valor da herança. 
2. COBRANÇA DA DÍVIDA DE VALOR
Havia uma imensa polêmica doutrinária em derredor da ques-
tão atinente à legitimidade, a competência e o rito para a cobrança 
da dívida de valor. Sobre o tema, existem três correntes de pensa-
mento: 
a) Primeira corrente: a legitimidade é do Ministério Público e 
a cobrança deve ocorrer na Vara de Execução Penal, obser-
vando a Lei de Execução Penal. Este primeiro entendimento 
prioriza o caráter penal da multa, ainda que convertida em 
dívida de valor. 
b) Segunda corrente: a legitimidade para a execução é do Minis-
tério Público e a competência é da Vara de Execução Penal, mas 
o rito a ser seguido é o da Lei de Execução Fiscal (Lei 6.830/80). 
c) Terceira corrente: a legitimidade é da Fazenda Pública (re-
presentada por meio da Procuradoria da Fazenda) e a com-
petência para o julgamento é da Vara de Execução Fiscal, ob-
servando o rito estabelecido na Lei de Execução fiscal. Este 
terceiro entendimento reputa a dívida de valor como qual-
quer outra dívida do poder público, impondo as regras relati-
vas à execução dos créditos da Fazenda Pública. 
13
Este entendimento, que nos parece o mais razoável, vinha sen-
do acolhido pela jurisprudência do STJ. Neste sentido, o enunciado 
n. 521 da súmula de jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: 
“A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de paga-
mento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procura-
doria da Fazenda Pública”.
Sendo a pena de multa convertida em dívida de valor, caberia 
à Procuradoria da Fazenda Pública o ajuizamento de um processo 
civil de execução fiscal na Vara de Execução Fiscal. No bojo deste 
processo, seriam buscados instrumentos de constrição ao patri-
mônio do devedor, tais como a penhora de bens, bloqueio de con-
tas bancárias, indisponibilidade de patrimônio etc. 
Todavia, em 2018, o Supremo Tribunal Federal, no julgamen-
to da ADI 3150, conferiu ao art. 51 do Código Penal interpretação 
conforme à Constituição para explicitar que a expressão “aplican-
do-se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fa-
zenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e 
suspensivas da prescrição”, não exclui a legitimação prioritária do 
Ministério Público para a cobrança da multa na Vara de Execução 
Penal. Conforme a Corte Suprema, caso o MP não proponha a exe-
cução da multa no prazo de 90 (noventa) dias após o trânsito em 
julgado da sentença, o juízo da vara criminal comunicará ao órgão 
competente da Fazenda Pública para efetuar a cobrança na vara 
de execução fiscal. Contudo, o STF fez questão de salientar que 
“prioridade é do Ministério Público, pois, antes de ser uma dívida, 
é uma sanção criminal”.
Com o advento da Lei n. 13.964/19, que consagrou o chamado 
“pacote anticrime”, houve uma alteração na redação do art. 51, CP, 
que passou a ter a seguinte redação: 
“Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será 
executada perante o juiz da execução penal e será considerada 
dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fa-
zenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e 
suspensivas da prescrição”. (grifo nosso).
14
O trecho destacado acima foi a novidade introduzida pelo legis-
lador no art. 51, CP. Conforme se percebe a alteração legislativa 
encerra o debate em torno da questão, porquanto deixa claro que 
a competência para a cobrança da multa é do juízo da execução 
penal e, consequentemente, a atribuição para deflagrar a referida 
cobrança é do Ministério Público. 
ART. 75 O tempo de cumprimento das penas privativas de 
liberdade não pode ser superior a 40 (quarenta) anos.
§ 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de 
liberdade cuja soma seja superior a 40 (quarenta) anos, devem 
elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo.
........................................................................................................................(NR)
COMENTÁRIOS 
1. CONSIDERAÇÕESINICIAIS
Tendo em vista que o Brasil não admite a pena de caráter per-
pétuo (art. 5º, XLVII, b, CF), coube à legislação infraconstitucional 
estabelecer os parâmetros de tais penas. A Lei Anticrime aumen-
tou o tempo máximo de cumprimento de pena quando da prática 
de crimes, de 30 (trinta) para 40 (quarenta) anos. 
2. LIMITE DAS PENAS
E, com efeito, consta do art. 75 do Código Penal (com a redação 
dada pela Lei Anticrime) que “o tempo de cumprimento das pe-
nas privativas de liberdade não pode ser superior a 40 (quarenta) 
anos”. Por seu turno, a Lei de Contravenções Penais estabelece em 
seu art. 10 que a duração da pena de prisão simples não pode, em 
caso algum, ser superior a 5 (cinco) anos. 
15
Então, em suma, temos os seguintes limites para o cumprimen-
to das penas privativas de liberdade: 
a) Para crime (penas de reclusão ou detenção): limite de 40 (qua-
renta) anos;
b) Para contravenção (pena de prisão simples): limite de 5 (cinco) anos. 
No que se refere aos crimes, este limite era de 30 (trinta) anos, 
até a entrada em vigor da Lei n. 13.964/19 (pacote anticrime), que 
alterou a redação do art. 75, CP, aumentando o limite para cum-
primento de pena para 40 (quarenta) anos. Por óbvio, trata-se de 
nova lei maléfica (novatio legis in pejus). Por tal razão, o novo limite 
de cumprimento de pena (40 anos) somente se aplica para os cri-
mes praticados a partir da entrada em vigor da Lei n. 13.964/19 (23 
de janeiro de 2020). 
3. UNIFICAÇÃO DAS PENAS
Conforme o art. 75, § 1º, CP: “Quando o agente for condenado 
a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 40 (qua-
renta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite má-
ximo deste artigo”. 
Deste modo, se imaginarmos que o agente foi condenado em 
dois processos distintos a penas que, somadas, ultrapassam os 40 
(quarenta) anos, haverá a unificação das penas, de modo que o 
cumprimento da pena observe tal limite. Esta unificação será feita 
pelo juízo da execução penal (art. 66, III, a, LEP). 
É importante recordar que esta unificação da pena é parâmetro 
para limitar o seu cumprimento, mas não deve ser utilizada como 
critério para a concessão de benefícios penais. A propósito, neste 
sentido, o teor do enunciado n. 715 da súmula de jurisprudência 
do STF, nos seguintes termos: 
Súmula n. 715/STF: “A pena unificada para atender ao limite de 
trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Pe-
nal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como 
16
o livramento condicional ou regime mais favorável de execução”.
Cumpre reiterar que, até a entrada em vigor da Lei n. 13.964/19, 
o limite de cumprimento de penas era de 30 (trinta), e não de 40 
(quarenta) anos. Esta a razão pela qual o verbete sumular n. 715 
do STF se refere àquele patamar de pena. 
É equivocado, portanto, acreditar que a condenação superior a 
40 (quarenta) anos é indiferente, em qualquer montante. 
4. SUPERVENIÊNCIA DE NOVA CONDENAÇÃO 
 E UNIFICAÇÃO DAS PENAS
Consoante o art. 75, § 2º, CP: “Sobrevindo condenação por fato 
posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova unifica-
ção, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido”. 
Exemplo: “A” foi condenado em três processos criminais distin-
tos a penas cuja soma totalizavam 50 (cinquenta) anos. O juiz da 
Vara de Execução Penal deverá promover a unificação das penas, 
de modo que “A” não cumprirá mais do que 40 (quarenta) anos. 
Cumpridos 10 (dez) anos da pena, “A” comete homicídio qualifica-
do (art. 121, § 2º, CP) do seu companheiro de cela. Levado a júri, 
é condenado a uma pena de 20 (vinte anos). Como lhe restava 30 
(trinta) anos de pena a serem cumpridas, esta nova condenação, 
de mais 20 (vinte) anos, deverá ser unificada, totalizando 40 (qua-
renta), para observar o limite do art. 75, CP. 
A partir daí, extraímos duas conclusões:
a) O condenado pode cumprir mais de 40 (quarenta) anos, des-
de que sobrevenha nova condenação por fato posterior ao 
início do cumprimento da pena. No exemplo citado, “A” já ha-
via cumprido 10 (dez) anos, e cumprirá mais 40 (quarenta), 
após a nova unificação. 
17
b) A observância do limite pode conduzir a uma situação de qua-
se impunidade para o condenado que pratica fato após o iní-
cio do cumprimento da pena. Basta imaginarmos, no exemplo 
anterior, que, apenas dois dias após iniciado o cumprimento 
da pena, “A” tenha matado “B”. Vamos imaginar, ainda, que 
houve uma condenação transitada em julgado a uma pena de 
20 (vinte) anos, um ano após o fato. 
Neste caso, “A” cumpriu apenas 1 (um) ano de pena – restando-
-lhe, portanto, cumprir 39 (trinta e nove) anos – e foi condenado, 
por fato posterior ao início do cumprimento, a uma pena de 20 
(vinte) anos. Haverá nova unificação de pena, totalizando o limite 
de 40 (quarenta). Ou seja, pelo novo crime, na prática, “A” cumpri-
rá apenas mais 1 (um) ano de pena.
É importante mencionar que a regra do art. 75, § 2º, CP somente 
se aplica quando há fato posterior ao início da execução da pena, 
e ela ainda não se encerrou. Com efeito, se o condenado cumpriu 
integralmente sua pena, e sobrevém nova condenação, não há 
como se fazer qualquer tipo de unificação. 
Demais disso, se a pena ainda não foi cumprida e o condenado 
empreende fuga, isto em nada obstará seu direito à unificação, con-
forme os termos do art. 75, § 2º, CP. Evidentemente, trata-se de uma 
situação na qual a unificação somente fará sentido quando da re-
captura do condenado, para que reinicie o cumprimento da pena. 
5. DIREITO INTERTEMPORAL
O aumento do tempo máximo de cumprimento de pena é uma 
mudança legislativa de caráter penal (material) maléfica ao réu (no-
vatio legis in pejus). Por tal razão, evidentemente, é uma mudança 
legislativa que somente poderia ser aplicada aos fatos ocorridos 
após a entrada em vigor da Lei n. 13.964/19. 
18
ART. 83  ..............................................................................................................
.................................................................................................................................
III - comprovado:
a) bom comportamento durante a execução da pena;
b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses;
c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e
d) aptidão para prover a própria subsistência mediante traba-
lho honesto;
........................................................................................................................(NR)
COMENTÁRIOS
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Lei Anticrime promoveu algumas alterações no art. 82 do Código 
Penal, que trata dos requisitos para a obtenção do livramento condi-
cional. O livramento condicional é um instituto de Direito Penal que 
permite ao condenado a uma pena privativa de liberdade a antecipa-
ção da sua soltura, antes do término de cumprimento da pena, em 
caráter precário, desde que presentes alguns requisitos. Trata-se de 
um instrumento que objetiva a ressocialização do condenado, com a 
sua progressiva readaptação ao ambiente de liberdade. 
Esta liberdade é condicional porque pressupõe que o condena-
do observe algumas condições, estabelecidas em lei, para sua sub-
sistência. E é precária porque pode ser revogada enquanto não 
extinta a pena. 
Muito embora o livramento condicional tenha sido, historica-
mente, incorporado ao sistema progressivo de cumprimento de 
pena, não constitui, no Brasil, uma das etapas da progressão. Exis-
19
tem, no Brasil, apenas três regimes de cumprimento (fechado, se-
miaberto e aberto) e a obtenção do livramento condicional não 
pressupõe que o condenado tenha passado por todos eles. 
2. REQUISITOS
Com o advento da Lei anticrime, passaram a ser os seguintes os 
requisitos exigidos para a obtenção do livramento condicional:
2.1. REQUISITOS OBJETIVOS 
Os requisitos objetivos são os seguintes: 
a) Condenado a pena privativa de liberdade igual ou supe-
rior a dois anos
Tal como ocorre na suspensão condicional da pena, o livramen-to condicional somente é possível quando estamos diante de uma 
pena privativa de liberdade (reclusão, detenção ou prisão simples). 
No que diz respeito ao prazo da pena, deve ser igual ou superior 
a dois anos. E, conforme disposto no art. 84, CP: “as penas que 
correspondem a infrações diversas devem somar-se para efei-
to de livramento”. 
b) Tempo de cumprimento da pena
Para que se conceda o livramento condicional, é necessário que 
o condenado tenha cumprido uma parte da pena. Sobre este pon-
to, faz-se necessário que recordemos o disposto no verbete n. 715 
da súmula de jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, nos se-
guintes termos: 
Súmula n. 715/STF: “a pena unificada para atender ao limite de 
trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Pe-
nal, não é considerada para a concessão de outros benefícios como 
o livramento condicional ou regime mais favorável de execução”4. 
4 Cumpre reiterar que, até a entrada em vigor da Lei n. 13.964/19, o limite de cumprimento de penas era de trinta, 
e não de quarenta anos. Esta a razão pela qual o verbete sumular n. 715 do STF se refere àquele patamar de pena.
20
O tempo a ser cumprido varia de acordo com algumas situa-
ções, que analisaremos a seguir: 
b.1) Crime não hediondo: 
Se a condenação não é por crime hediondo ou equiparado a 
hediondo, devemos vislumbrar as seguintes hipóteses: 
b.1.1) Condenado não é reincidente em crime doloso e tem 
bons antecedentes (art. 83, I, CP): neste caso, basta ao condena-
do cumprir mais de um terço da pena.
Este é o chamado livramento condicional simples. Como se 
vê, a reincidência em crime culposo não impede a obtenção desta 
modalidade de livramento. Em sentido contrário, há entendimento 
minoritário, no sentido de que não caberia este tipo de livramento 
condicional para o reincidente em crime culposo, pois não seria 
portador de bons antecedentes. 
b.1.2) Condenado reincidente em crime doloso (art. 83, II, CP): 
o condenado deverá cumprir mais da metade da pena, para obter 
o livramento condicional. 
É o chamado livramento condicional qualificado. 
Há uma lacuna grave na nossa legislação: o condenado não 
reincidente (ou reincidente em crime culposo), mas portador de 
maus antecedentes não preenche os requisitos para a obtenção 
do livramento condicional simples; por outro lado, também não se 
enquadra na hipótese de livramento condicional qualificado, que é 
destinado aos reincidentes em crimes dolosos.
Em um caso como este, deve-se exigir do condenado o tempo 
de cumprimento de pena do livramento condicional simples (mais 
de um terço da pena) ou do qualificado (mais da metade)?
O entendimento majoritário tem sido no sentido de que se deve 
adotar a posição mais favorável ao condenado, sob pena de se 
incorrer em analogia in malam partem. Este, inclusive, tem sido o 
entendimento preponderante em nossa jurisprudência5. 
5 STJ, HC 102.278/RJ, rel. Min. Jane Silva (Des. Convocada do TJ/MG), Sexta Turma, julgado em: 03/04/2008. 
21
b.2) Crime hediondo ou equiparado a hediondo6:
A Lei de Crimes Hediondos acrescentou o inciso V ao art. 83 do 
Código Penal, tornando mais rigorosa a observância dos requisitos 
para obtenção do livramento condicional. Em caso de condenado 
por crime hediondo ou equiparado a hediondo, teremos:
b.2.1) Não reincidente em crime da mesma natureza (art. 
83, V, CP): será necessário cumprir mais de 2/3 (dois terços) da 
pena para obter o livramento condicional, quer seja o condenado 
primário, quer seja reincidente não específico. 
b.2.2) Reincidência em crime da mesma natureza (art. 83, V, 
CP): o dispositivo impede a concessão do benefício do livramento 
condicional. Portanto, não cabe livramento condicional, neste 
caso. Tendo em vista que a Lei de Crimes Hediondos não definiu o 
que seria a reincidência específica, surgiram três teorias a respeito: 
Primeira corrente: haveria reincidência específica se o conde-
nado praticasse outro crime previsto na Lei de Crimes Hediondos. 
Haveria reincidência específica, portanto, se, por exemplo, o con-
denado definitivo por homicídio qualificado (art. 121, § 2º, CP) fos-
se condenado por tráfico de drogas (art. 33, Lei n. 11.343/06). Esta 
primeira corrente é largamente majoritária na nossa doutrina 
e jurisprudência7. 
Segunda corrente: Para uma segunda corrente de pensamento, 
haveria reincidência específica na hipótese de o condenado defini-
tivo por crime previsto na Lei de Crimes Hediondos ser condenado 
por outro crime que, além de previsto nesta Lei, tutelasse o mesmo 
bem jurídico. Assim, haveria reincidência específica entre os crimes 
de estupro (art. 213, CP) e estupro de vulnerável (art. 217-A, CP), ou 
entre o homicídio qualificado (art. 121, § 2º, CP) e o homicídio sim-
ples (art. 121, caput, CP) em atividade típica de grupo de extermínio, 
6 Vale registrar que os crimes hediondos estão previstos no art. 1º da Lei n. 8.072/90. Equiparados a hediondos são 
os crimes de tráfico de drogas, tortura e terrorismo. 
7 FRANCO, Alberto Silva. Crimes hediondos. 4. ed. São Paulo: RT, 2000, p. 149.
22
pois são crimes que tutelam os mesmos bens jurídicos – a liberdade 
sexual e a vida, respectivamente. Mas não haveria reincidência es-
pecífica entre o estupro e o tráfico de drogas, por exemplo. Em um 
caso de condenações como estas, caberia o livramento condicional.
Terceira corrente: reincidência específica é apenas que se dá 
em relação ao mesmo crime. Não bastaria, portanto, ser crime he-
diondo ou tutelar o mesmo bem jurídico, seria necessário que se 
referisse ao mesmo crime. 
Naturalmente, por força do princípio da irretroatividade da lei 
penal, a proibição à concessão do livramento condicional só será 
possível se os crimes que ensejaram a reincidência forem pratica-
dos após a entrada em vigor da Lei de Crimes Hediondos8. 
Ademais, não é demasiado recordar que, nos termos do art. 
64, CP, não prevalece a condenação anterior, se entre a data do 
cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver de-
corrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o 
período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se 
não ocorrer revogação. 
É importante reforçarmos a ideia de que o livramento condicional 
é um benefício que não se confunde com o regime de cumprimento 
de pena. Mesmo quando a Lei de Crimes Hediondos exigia o 
cumprimento da pena em regime integralmente fechado, admitia 
a possibilidade de obtenção de livramento condicional, desde que 
não houvesse a reincidência específica, naturalmente. Outro ponto 
que merece destaque: nas hipóteses em que o réu, reincidente 
específico, cumpre pena pela prática de delitos hediondos ou a eles 
equiparados, e também de delitos não hediondos, a possibilidade 
de concessão do livramento condicional estará condicionada ao 
cumprimento integral das penas referentes àqueles delitos9.
8 STF, RE 304.385/RJ, rel. Min. Ilmar Galvão, julgado em: 23/10/2001.
9 STJ, HC 84.189/RJ, rel. Min, Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 18/12/2007.
23
c) Reparação do dano (art. 83, IV, CP)
O art. 83, IV, CP exige a reparação do dano, salvo efetiva impos-
sibilidade de fazê-lo. 
d) Inexistência de vedação legal
A Lei Anticrime (Lei n. 13.964/19) trouxe algumas situações nas 
quais estaria vedada a obtenção do livramento condicional. São elas: 
i) Condenado pela prática de crime hediondo ou equipara-
do, com resultado morte, se for primário, vedado o livramento 
condicional (art. 112, VI, a e VIII da LEP): nestes casos, pouco 
importa se o condenado é réu primário ou reincidente. Não será 
possível a obtenção do livramento condicional. 
ii) O condenado expressamente em sentença por integrar 
organização criminosa ou por crime praticado por meio de or-
ganização criminosa não poderá progredir de regime de cum-
primento de pena ou obter livramento condicional ou outros 
benefícios prisio+nais se houver elementos probatórios que 
indiquem a manutenção do vínculo associativo: referida previ-
são se encontra no art. 2º.,§9º. da Lei de Organizações Criminosas 
(Lei n. 12.850/13). 
2.2. REQUISITOS SUBJETIVOS
Os requisitos subjetivos são os seguintes:
a) Comprovado bom comportamento durante a execução 
da pena (art. 83, III, a, CP): 
É o que a Lei de Execução Penal chama de “bom comportamento 
carcerário” (art. 112, caput). A comprovação do bom comportamen-
to se dá a partir de ato do diretor do estabelecimento penal. 
24
b) Não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) 
meses (art. 83, III, b, CP);
Este requisito passou a ser exigido com o advento da Lei n. 
13.964/19 (Lei do pacote anticrime). Importante assinalar que a re-
ferida alteração legislativa vai de encontro à jurisprudência do Su-
perior Tribunal de Justiça, de acordo com a qual a prática da falta 
grave não influiria no livramento condicional. 
Com efeito, vale conferir o enunciado n. 441 da súmula de juris-
prudência do STJ, no seguinte sentido: “A falta grave não interrom-
pe o prazo para obtenção de livramento condicional”.
Como se vê, a partir do advento da Lei n. 13.964/19, o comentimen-
to de falta disciplinar grave influi na concessão do livramento condi-
cional, pois o condenado que incorrer na referida falta ficará impos-
sibilitado de obter o benefício penal pelo prazo de 12 (doze) meses.
Por evidente, a alteração legislativa é prejudicial ao réu (novatio 
legis in pejus) e, por tal razão, somente se aplica aos fatos pratica-
dos a partir da sua entrada em vigor (no dia 23 de janeiro de 2020).
Mas é importante mencionar que, mesmo antes da Lei n. 
13.964/19, seria difícil o condenado que houvesse comentido a falta 
grave se beneficiar do livramento condicional. Com efeito, analisan-
do a matéria sob o viés do preenchimento dos requisitos subjetivos, 
é muito provável que a prática de falta grave evidencie a ausência de 
bom comportamento carcerário, que é imprescindível para a obten-
ção do benefício (art. 83, III, a, CP). 
c) Bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído (art. 
83, III, c, CP);
O trabalho é obrigatório para o preso, na medida de suas apti-
dões e capacidade (art. 31, LEP). Esta obrigatoriedade não possui 
relação com a pena de trabalhos forçados, que é constitucional-
mente proibida (art. 5º, XLVII, c, CF). Trabalhos forçados consisti-
riam em submeter o preso à força física, para compeli-lo à ativi-
dade laboral o que, evidentemente, não se pode admitir, no atual 
estágio do nosso processo civilizatório. 
25
Por outro lado, a obrigatoriedade do trabalho apenas significa 
dizer que, como todas as demais pessoas, o preso possui determi-
nados direitos e deveres, e a inobservância de alguns deveres im-
possibilita a obtenção de alguns benefícios. Pois bem. Um dos bene-
fícios que pressupõe a atividade laboral é o livramento condicional. 
É necessário não apenas o exercício do trabalho, mas também 
o seu bom desempenho, consoante o art. 83, III, CP. O trabalho a 
que se refere o dispositivo legal pode ser interno ou externo e em 
obras ou serviços públicos, e também na iniciativa privada. 
d) Aptidão para prover à própria subsistência mediante tra-
balho honesto (art. 83, III, d, CP)
A exigência legal consiste na presença da “aptidão” para desem-
penhar atividades honesta e idônea prover a subsistência do con-
denado. Seria o caso, por exemplo, de comprovar capacidade para 
o desempenho de determinada atividade laboral. Não se exige, en-
tão, que o condenado demonstre que já possui fonte de renda ou 
oferta de emprego. Aliás, se esta fosse a exigência legal, o benefício 
seria inviável para a maioria dos presos, conforme demonstram as 
estatísticas criminais no país. 
A exigência deste requisito subjetivo tem inviabilizado, na prática, 
a concessão de livramento condicional a estrangeiros, que possuem 
decreto de expulsão em seu desfavor. Conforme salienta a consoli-
dada jurisprudência do STJ, este condenado estrangeiro ‘não pode 
preencher o requisito previsto no inciso III do art. 83 do CP, visto que 
não poderá exercer qualquer atividade em solo brasileiro: após o 
cumprimento da pena, ele será efetivamente expulso do país”10. 
Esta situação difere do tratamento dado ao estrangeiro irregu-
lar, sem decreto de expulsão contra si, que não está impedido de 
regularizar sua situação, o que permite lhe seja concedido o livra-
mento condicional11. 
10 STJ, HC 156.668-RJ, rel. Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), Sexta Turma, julgado em 
2/12/2010. 
11STJ, HC 206.344/SP, rel. Min. Campos Marques (Desembargador convocado do TJ/PR), Quinta Turma, julgado em 
27/08/2013, DJe 02/09/2013.
26
e) Para o condenado por crime doloso, cometido com vio-
lência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento 
ficará também subordinada à constatação de condições pes-
soais que façam presumir que o liberado não voltará a delin-
quir (art. 83, parágrafo único, CP)
Este requisito envolve um juízo de prognose, isto é, realiza-se 
um juízo de valor em relação ao futuro, objetivando-se identificar 
a probabilidade de reiteração ou não. Nada impede que se realize 
o exame criminológico para tal juízo de prognose. 
Até o advento da Lei n. 10.792/03, o exame criminológico era 
obrigatório. A partir da entrada em vigor da referida Lei, a Lei de 
Execução Penal deixou de prevê-lo. Em vista disto, alguns segmen-
tos de nossa doutrina asseveram não ser possível ao Judiciário exi-
gir o exame criminológico. Tem-se entendido, todavia, ser possível 
a sua exigência, em decisão fundamentada do juiz. 
Este entendimento, inclusive, encontra-se sumulado, no que 
respeita à progressão de regime, no STJ12 e no STF13. No que tan-
ge ao livramento condicional, a despeito da ausência de súmulas, 
nada impede que se aplique a mesma solução. Não se trata de 
analogia in malam partem, pois não se está exigindo requisito novo 
para o livramento. Trata-se apenas de aferir o juízo de prognose 
exigido na própria Lei14. 
ART. 91-A Na hipótese de condenação por infrações às quais 
a lei comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, 
poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do 
crime, dos bens correspondentes à diferença entre o valor do 
patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o 
seu rendimento lícito.
12 A súmula 439/STJ, muito embora não se refira especificamente à progressão de regime, foi aprovada a partir de 
precedentes que tratavam desta matéria. A redação é a seguinte: 
Súmula 439/STJ: “Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada”. 
13 No STF, a súmula é vinculante, e restringe-se aos crimes hediondos e equiparados. Vejamos:
Súmula vinculante 26: “Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou 
equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990, 
sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, poden-
do determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico”. 
14 No STF, admitindo a exigência de exame criminológico para a concessão do livramento condicional, Rcl 27.982 
AgR/SP, rel. Min. Rosa Weber, Primeira Turma, julgado em: 07/11/2017.
27
§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-
se por patrimônio do condenado todos os bens:
I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o 
domínio e o benefício direto ou indireto, na data da infração 
penal ou recebidos posteriormente; e
II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante con-
traprestação irrisória, a partir do início da atividade criminal.
§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da 
incompatibilidade ou a procedência lícita do patrimônio.
§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente 
pelo Ministério Público, por ocasião do oferecimento da denúncia, 
com indicação da diferença apurada.
§ 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da 
diferença apurada e especificar osbens cuja perda for decretada.
§ 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por 
organizações criminosas e milícias deverão ser declarados perdidos 
em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde 
tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança 
das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco 
de ser utilizados para o cometimento de novos crimes.”
COMENTÁRIOS 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A condenação penal produz alguns efeitos. Estes efeitos da con-
denação se dividem em principais e secundários. Os efeitos secun-
dários, por outro lado, se dividem em efeitos penais e extrapenais. 
E os efeitos extrapenais se dividem em efeitos se dividem em ge-
néricos e específicos. 
Em resumo. Temos: 
28
1.1. EFEITOS PRINCIPAIS
O efeito principal da condenação é a imposição de uma pena (pri-
vativa de liberdade, restritiva de direitos ou multa) ou de medida de 
segurança – para o semi-imputável, pois, como já afirmamos, a impo-
sição da medida de segurança para o inimputável deriva de uma sen-
tença absolutória imprópria, e não de uma sentença condenatória.
 
1.2. EFEITOS SECUNDÁRIOS
Os efeitos secundários da sentença condenatória se dividem em 
penais e extrapenais.
1.2.1. EFEITOS SECUNDÁRIOS PENAIS
Os efeitos secundários de natureza penal, oriundos da sentença 
condenatória são numerosos. Podemos destacar, entre eles: 
a) A caracterização de reincidência, quando praticado crime an-
terior, observadas as ressalvas do art. 64, CP15; 
b) A caracterização de antecedentes criminais;
c) Vedação à possibilidade de obtenção da transação penal (art. 
76, Lei n. 9.099/95) e da suspensão condicional do processo 
(Lei n. 9.099/95).
Ao mencionarmos, de forma exemplificativa, estes efeitos, de-
vemos recordar que o só fato de restar caracterizada a reincidên-
cia enseja inúmeros outros efeitos, tais como vedação à concessão 
da suspensão condicional da pena (art. 77, CP), interrupção e au-
mento do prazo da prescrição da pretensão executória (art. 117, VI 
e art. 110, caput, CP, respectivamente), revogação da reabilitação 
(art. 95, CP), aumento do período de cumprimento de pena para a 
progressão de regime em crime hediondo e equiparado a hedion-
15 64, CP: “ Para efeito de reincidência:
I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração poste-
rior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do 
livramento condicional, se não ocorrer revogação; 
II - não se consideram os crimes militares próprios e políticos. 
29
do (art. 2º, LCH), impossibilidade de substituição da pena privativa 
de liberdade por pena restritiva de direitos, em caso de reincidên-
cia no mesmo crime (art. 44, II c/c § 3º, CP) etc.
1.2.2. EFEITOS SECUNDÁRIOS EXTRAPENAIS
Os efeitos extrapenais da condenação estão enumerados nos 
artigos 91 e 92 do Código Penal. Eles se dividem em:
a) Efeitos genéricos (art. 91, CP): estes efeitos são automáti-
cos, isto é, não precisam ser declarados expressamente na 
sentença, pelo juiz. São chamados de genéricos justamente 
porque aplicam-se aos casos em geral, e não a uma grupo 
restrito de situações e fatos criminosos. Consistem na repa-
ração do dano e no confisco de bens. 
b) Efeitos específicos (art. 92, CP): não são automáticos e, por 
essa razão, é imprescindível que o magistrado sentenciante 
os declare expressamente. São chamados de específicos por 
se aplicarem apenas a alguns poucos casos penais. 
2. CONFISCO NA LEI N. 13.964/19 
PACOTE ANTICRIME: ART. 91-A, CP
A grande novidade em relação a esse tema, introduzida no Códi-
go Penal pela Lei Anticrime é o art. 91-A, que trata de uma hipótese 
de confisco. Vejamos: 
a) Perda da diferença entre o valor do patrimônio do con-
denado e aquele que seja compatível com o seu rendi-
mento lícito
A Lei n. 13.964, de 24 de dezembro de 2019, instituiu o cha-
mado “pacote anticrime”, promovendo uma série de mudanças na 
30
legislação penal, tendo entrado em vigor no dia 23 de janeiro de 
2020. Entre as alterações legislativas realizadas, encontra-se a in-
trodução do art. 91-A no Código Penal. 
Referido dispositivo trata dos efeitos extrapenais da conde-
nação, acrescendo às hipóteses já contidas no art. 91, CP, outros 
casos nos quais possível a decretação da perda de bens. 
Importante destacar que a regra do caput do art. 91-A, CP 
somente se aplica nas hipóteses em que as infrações penais pos-
suem pena máxima superior a 06 (seis) anos de reclusão. Chama 
a atenção o fato de que o parâmetro utilizado pelo legislador foi 
o da pena máxima, e não o da pena concretamente aplicada pelo 
juiz na sentença condenatória. 
O legislador faz menção à condenação por “infrações”. A par-
tir daí, parece-nos possível extrair duas conclusões: 
a) É possível a aplicação do instituto tanto às hipóteses em 
que a condenação se deu por crime quanto na hipótese em 
que se deu por contravenção. E isto porque a expressão 
“infração penal” abrange as duas modalidades.
b) Para se identificar o patamar máximo de pena superior 
a seis anos, possível levar em consideração as causas de 
aumento de pena, no que se incluem aquelas provenien-
tes de concurso de crime. E assim devemos concluir jus-
tamente porque o legislador emprega a expressão “infra-
ções” no plural. 
Preenchido este requisito da pena máxima prevista para o 
crime, quando da condenação, o juiz poderá ser decretada a per-
da, como produto ou proveito do crime, dos bens corresponden-
tes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele 
que seja compatível com o seu rendimento lícito.
Exemplo: “A”, servidor público, foi condenado pelo crime de 
corrupção passiva (art. 317, CP). Restou provado que ele recebeu 
cem mil reais a título de vantagem indevida, no exercício de sua 
31
função pública. Vamos imaginar que os fatos foram devidamente 
provados e ele foi condenado. Neste caso, os cem mil reais são 
perdidos como produto do crime, haja vista constituir proveito ilíci-
to obtido pelo agente com a prática do fato criminoso. Isto já cons-
tava do Código Penal, em seu art. 91, II, b. 
Contudo, vamos imaginar que, no decorrer da instrução, tam-
bém resta provado que “A” possui patrimônio incompatível com seus 
rendimentos lícitos. A título de exemplo, vamos imaginar que ele 
exercia função pública há cinco anos, auferindo renda anula média 
de cem mil reais, e possuía um patrimônio de dez milhões de reais. 
Com a inovação legislativa contida no novel art. 91-A, CP, tor-
na-se possível que “A” venha a perder este patrimônio incompatí-
vel com os seus rendimentos lícitos. No caso em tela, se ele auferiu 
rendimento de quinhentos mil reais, por força de cinco anos de 
atividades lícitas, precisaria justificar o restante do seu patrimônio. 
Evidentemente, “A” teria, no decorrer de todo o processo, con-
dições de provas a origem lícita do seu patrimônio, demonstrando 
a existência de outras fontes de renda, investimento, aplicações, he-
ranças etc. Tudo isso seria debatido e provado no decorrer do pro-
cesso que culminou em sua condenação. 
Por esta razão, muito importante o disposto no § 3º do art. 91-A, CP, 
no sentido de que: “A perda prevista neste artigo deverá ser requerida 
expressamente pelo Ministério Público, por ocasião do oferecimento 
da denúncia, com indicação da diferença apurada”. Importante que ha-
ja o pedido deduzido pelo MP desde a denúncia, peça inicial acusatória 
do processo criminal, para que se possib8ilite ao réu apresentar sua 
defesa e demonstrar a licitude da origem de seu patrimônio. 
 Demais disso, também de suma importância a regra contida 
no § 4º, nos seguintes termos: “Na sentença condenatória, o juiz 
deve declarar o valor da diferença apurada e especificar os bens 
cuja perda for decretada”. Com efeito, imprescindível que a sen-
tença, no que tange à perda dos bens seja líquida, certa, precisa, 
demonstrando o valor e os bens a serem perdidos. 
32
b) Perda dos instrumentosutilizados para a prática de 
crimes por organizações criminosas e milícias.
Conforme o § 5º do art. 91-A, CP: “Os instrumentos utilizados 
para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias de-
verão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, 
dependendo da Justiça onde tramita a ação penal, ainda que não 
ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem 
pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometi-
mento de novos crimes”
 Conforme já mencionamos, instrumentos do crime (instrumen-
ta sceleris) são as coisas (bens corpóreos) empregadas para a execu-
ção da conduta criminosa. Por sua vez, a definição de organização cri-
minosa nos é dada pela Lei n. 12.850/13, que em seu art. 2º. Dispõe: 
“Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou 
mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão 
de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou 
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática 
de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (qua-
tro) anos, ou que sejam de caráter transnacional”.
No que concerne às milícias, a Lei n. 12.720/12 tratou do 
tema, mas não deixou a cargo da doutrina a conceituação da milí-
cia – o que, seguramente, violaria a necessidade de uma lei certa e 
precisa, como apregoado pelo princípio da Legalidade –, tipifican-
do a conduta de “constituição de milícia privada” no art. 288-A, CP, 
que passa a contar com a seguinte redação: “Constituir, organizar, 
integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia parti-
cular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer 
dos crimes previstos neste Código”.
Como se percebe, o art. 91-A, § 5º, CP determina a perda dos 
instrumentos do crime utilizados por organização criminosa ou mi-
lícia. E pouco importa se tais instrumentos põem em perigo a se-
gurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam 
33
sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes. 
Ao contrário do que ocorre na regra do art. 91, CP, em que os ins-
trumentos do crime são perdidos para a União (ressalvado direito 
de lesado ou terceiro de boa-fé), os instrumentos dos crimes pra-
ticados pelas organizações criminosas ou milícias serão perdidos 
para a União ou para os Estados, a depender da Justiça em que 
tramitar o processo criminal. Deste modo, serão perdidos para a 
União nos processos em trâmite na Justiça Federal, Justiça Militar 
ou Justiça Eleitoral. Por outro lado, serão perdidos para o Estado 
na hipótese de processos criminais em trâmite na Justiça Estadual. 
ART.116 ...................................................................................................
...................................................................................................................
II - enquanto o agente cumpre pena no exterior;
III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos 
aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; e
IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não 
persecução penal.
.........................................................................................................” (NR)
COMENTÁRIOS
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O art. 116, CP traz causas que impedem o curso do prazo pres-
cricional. Conforme veremos, muito embora o art. 116, CP se refira 
a causas impeditivas, há determinadas situações nas quais tere-
mos haverá a suspensão da prescrição. E isto porque, em alguns 
casos, o curso da prescrição já terá se iniciado. 
Até o advento da Lei Anticrime, o art. 116, CP possuía apenas 
duas hipótese de causas impeditivas da prescrição. Eram elas: 
34
a) Enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que 
dependa o reconhecimento da existência do crime; 
b) Enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro
Vejamos as alterações promovidas pela Lei Anticrime:
2. CAUSAS IMPEDITIVAS DA PRESCRIÇÃO
Após o advento da Lei Anticrime, passaram a ser quatro as hipó-
teses de causas impeditivas da prescrição. Vejamos: 
a) Enquanto não resolvida, em outro processo, questão de 
que dependa o reconhecimento da existência do crime (inciso I)
Questões prejudiciais são questões ligadas ao mérito da causa 
e que devem ser decididas pelo juiz anteriormente à análise da-
quele. As prejudiciais não se confundem com as preliminares, pois 
estas tratam de questões eminentemente processuais, que, uma 
vez conhecidas, obstam a apreciação do mérito. 
As prejudiciais são autônomas e podem ser ou não apreciadas 
pelo juiz criminal, enquanto as preliminares, ainda que ensejem a ins-
tauração de procedimento incidental, tramitam perante o juízo com-
petente para a causa principal. As questões prejudiciais podem ser: 
a.1) Homogênea e heterogênea: as prejudiciais homogêneas 
(comuns ou imperfeitas) têm por objeto matéria no mesmo ramo 
do Direito da causa principal. Podemos citar como exemplo a ex-
ceção da verdade no crime de calúnia. Tanto o objeto principal do 
processo (materialidade e autoria relacionadas ao crime de calú-
nia) quanto a prejudicial (exceção da verdade) serão apreciados 
pelo juízo criminal. 
Prejudiciais heterogêneas (jurisdicionais ou imperfeitas) tratam de 
temas relacionados a outro ramo do Direito. É o que acontece, por 
exemplo, quando se discute a validade do primeiro casamento (discus-
são no âmbito do Direito Civil) para caracterizar o crime de bigamia. 
35
a.2) Prejudicial obrigatória e facultativa: A prejudicial obrigató-
ria impõe a suspensão do processo penal, até a sua resolução na 
esfera extrapenal (art. 92, CPP). Na prejudicial facultativa, como o 
nome já indica, a paralisação do processo criminal para aguardar a 
resolução da controvérsia fica a critério do magistrado. 
a.3) Prejudicial total e parcial: Prejudicial total é aquela que pode 
ensejar, até mesmo, a atipicidade da conduta. É o que ocorre no 
exemplo já mencionado da validade do primeiro casamento no crime 
de bigamia. Se o primeiro casamento for considerado nulo, não have-
rá que se falar em crime de bigamia. Já a prejudicial parcial mantém 
íntegra a tipicidade da conduta, podendo influir, tão somente, em cir-
cunstâncias acidentais, como causas de aumento e agravantes. 
a.4) Prejudicial devolutiva e não devolutiva: A prejudicial devo-
lutiva é decidida na seara extrapenal; por seu turno, não devoluti-
vas são as prejudiciais julgadas na própria seara penal. Com isto, 
consagra-se o sistema misto ou eclético, podendo as prejudiciais 
ser decididas na esfera penal ou extrapenal.
Se o juiz determinar a suspensão do processo criminal, para aguar-
dar a solução da questão prejudicial em outro processo, não terá cur-
so a prescrição penal. Contudo, é importante mencionar que, se o juiz 
irá suspender o processo, significa que a prescrição já se iniciou. Logo, 
trata-se de hipótese de suspensão do curso do prazo prescricional. 
b) Enquanto o agente cumpre pena no exterior (inciso II)
Em um caso como este, seria muito pouco provável que o Brasil 
conseguisse obter a extradição do réu. Por esta razão, é salutar a 
causa impeditiva da prescrição. Se a prescrição já houver se inicia-
do, haverá a sua suspensão. 
c)  Na pendência de embargos de declaração ou de recursos 
aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis (inciso III); 
 Esta hipótese foi introduzida no Código Penal pela Lei n. 
13.964/19, que instituiu o chamado “pacote anticrime”. O objetivo, 
36
à toda evidência, é evitar que os recursos com caráter procrasti-
natórios conduzam os feitos criminais à prescrição. A partir da en-
trada em vigor desta alteração legislativa (23 de janeiro de 2020), 
o manejo de tais recursos, quando inadmissíveis, não ensejará a 
prescrição, que permanecerá suspensa. 
d) Enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de 
não persecução penal (inciso IV).
Trata-se de mais uma novidade introduzida pela Lei n. 13.964/19. 
O acordo de não persecução penal já se encontrava previsto na Reso-
lução n. 181/17 do Conselho Nacionaldo ministério Público (CNMP), 
e possuía sua constitucionalidade questionada justamente por não 
se encontrar amparado em lei em sentido material e formal. Isto foi 
corrigido com a Lei Anticrime, que regulamentou este instituto.
 Referido acordo permite ao Ministério Público deixar de ofere-
cer a denúncia, uma vez presentes certos requisitos, excepcionan-
do, assim, a obrigatoriedade da ação penal pública16. 
A alteração promovida no art. 116, CP evita que o beneficiado 
pelo acordo postergue seu cumprimento objetivando a obtenção 
da prescrição. De igual sorte, não ocorrerá a prescrição quando o 
beneficiado não cumprir o acordo, dando ensejo à sua rescisão. 
Importante destacar que as duas alterações trazidas ao art. 116, 
CP (incisos III e IV) são prejudiciais ao réu e, por esta razão, não 
podem retroagir. Com isto, somente podem se aplicar aos fatos 
ocorridos a partir do dia 23 de janeiro de 2020, data de entrada em 
vigor da Lei Anticrime. 
ART. 121  ........................................................................................................
§ 2º.  ...................................................................................................................
............................................................................................................................
VIII - (VETADO):
.................................................................................................................” (NR)
16 ARAÚJO, Fábio Roque; COSTA, Klaus Negri. Processo Penal Didático. Salvador: Juspodivm, 2018, p.146. 
37
ART. 141..........................................................................................................
§ 1º.....................................................................................................................
§ 2º (VETADO).” (NR)
ART. 157...........................................................................................................
............................................................................................................................
§ 2º.....................................................................................................................
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego 
de arma branca;
............................................................................................................................
§ 2º-B.  Se a violência ou grave ameaça é exercida com empre-
go de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em 
dobro a pena prevista no caput deste artigo.
..................................................................................................................”(NR)
COMENTÁRIOS 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Lei n. 13.964/19 (Lei Anticrime) promoveu algumas alterações 
nas causas de aumento de pena do crime de roubo. Vejamos tais 
alterações:
2. CAUSA DE AUMENTO DE PENA NO ROUBO 
PRATICADO COM EMPREGO DE ARMA BRANCA
 O art. 157, § 2º do Código Penal estabelece as situações nas 
quais a pena para o crime de roubo será aumentada em patama-
res que variam de 1/3 (um terço) até a metade. Neste rol, a Lei An-
ticrime incluiu o inciso VII, abaixo transcrito:
VII - Se a violência ou grave ameaça é exercida com empre-
go de arma branca: 
38
Assinale-se que a causa de aumento outrora existente no inciso 
I do § 2º, qual seja a execução da conduta com o emprego de arma, 
foi revogada pela já referenciada Lei n. 13.654/2018, passando a 
ilustrar, a partir de então, o § 2º-A do mesmo artigo, que determina 
o aumento da pena em 2/3 (e não mais de um terço até a metade), 
caso a violência ou ameaça se dê a partir do emprego de arma de 
fogo (não apenas “arma”). Percebam, pois, que não houve abolitio 
criminis, mas sim continuidade normativo-típica. 
Noutro passo, o referido parágrafo agora referência arma de 
fogo, o que significa, portanto, que o roubo com o emprego de 
arma “branca” não era mais punido como roubo circunstanciado. 
Tratava-se, em princípio, do roubo em seu tipo fundamental (art. 
157, caput). Assim sendo, por ser mais benéfica, a Lei deveria re-
troagir para atingir roubos praticados mediante arma branca.
Importante assinalar, entretanto, que os Ministérios Públicos de 
vários Estados estão alegando a inconstitucionalidade formal do 
referido parágrafo, em razão de suposta burla ao processo legisla-
tivo. Em sentido diverso, defensores públicos têm defendido que o 
processo legislativo ocorreu sem qualquer vício. Ainda não mani-
festação do STF acerca do assunto. Já o STJ, sem enfrentar eventual 
inconstitucionalidade formal, já vem aplicando a revogação pro-
movida pela aludida lei. 
O imbróglio teve um novo episódio quando a Lei n. 13.964/19 
(Lei Anticrime) inseriu o inciso VII no § 2º do art. 157, CP, passan-
do a prever a causa de aumento de pena no caso de emprego de 
arma branca. 
No que se refere à aplicação das majorantes para o crime de 
roubo, o Superior Tribunal de Justiça aprovou o verbete n. 443 da 
súmula de sua jurisprudência, nos seguintes termos: 
Súmula n. 443/STJ: “O aumento na terceira fase de aplicação 
da pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação 
concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera in-
dicação do número de majorantes”.
39
3. AUMENTO DE 2/3 (DOIS TERÇOS) (§ 2º-A): 
 ALTERAÇÃO ANTERIOR A LEI ANTICRIME
O § 2º-A do art. 157, CP, introduzido pela Lei n. 13.654 traz duas 
situações nas quais a pena do crime de roubo seria aumentada em 
dois terços. São elas: 
a) Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de 
arma de fogo: 
Conforme acima mencionado, com o advento da Lei 
n. 13.654/18, foi revogado o inciso I do § 2º do art. 157, CP, que 
tratava do aumento de pena no emprego de arma, e acrescido o 
§ 2º-A, que, no seu inciso I, consagra o aumento da pena do roubo 
em dois terços no caso de emprego de arma de fogo. 
Ainda acerca do emprego de arma, de acordo como STF, 
é desnecessária a sua apreensão e perícia para fins de aplicação da 
causa de aumento17. E isto porque em nossa ordem jurídica não há 
hierarquia entre as provas, e o emprego da arma de fogo poderá 
ser provado por outros meios, que não a prova pericial.
 No tocante à arma com defeito, a perícia deve estabelecer se 
a falha acarreta ineficácia absoluta ou relativa. Na primeira hipóte-
se o entendimento STJ é no sentido de que não se aplica a causa de 
aumento de pena, ao passo que na segunda hipótese a majorante 
deve incidir18. Como se vê, não há necessidade de apreensão da 
arma e realização de perícia para fazer incidir a causa de aumento, 
pois o emprego de arma pode ser demonstrado por outros meios. 
Mas se a perícia for realizada e constatar que não há potencial 
lesivo na arma, a causa de aumento restará descaracterizada. 
Quanto à arma desmuniciada, há divergência no STJ acerca da 
sua ineficácia seja absoluta ou relativa, já tendo sido proferidas 
decisões em ambos os sentidos19.
Sobre o uso da arma de brinquedo (arma ficta), é dominante 
o entendimento doutrinário e jurisprudencial no sentido de que 
17STF, HC 96.099/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski.
18STJ, HC 247.669/SP, rel. Min. Sebastião Reis Júnior.
19 STJ, HC 246.811/RJ, rel. Min. Laurita Vaz e STJ, HC 261.090/SP, rel. Min. Og Fernandes.
40
não permite o aumento da pena do crime de roubo. O STJ chegou a 
sumular entendimento diverso, mas o referido verbete de súmula 
foi cancelado há muitos anos20. Com efeito, o STJ reconheceu que 
a incidência da referida causa de aumento quando da utilização 
da arma de brinquedo caracteriza analogia in malam partem, por-
quanto admite a equiparação do brinquedo a uma arma. 
Ninguém pode negar que a arma de brinquedo possui gran-
de potencial de intimidação. E é justamente por isso que a condu-
ta consistente na subtração de coisa móvel mediante emprego de 
arma de brinquedo constitui crime de roubo (há grave ameaça). 
Mas isto não permite a aplicação da causa de aumento, pois, como 
dito, equivaleria a equiparar o brinquedo à arma,o que constitui 
analogia prejudicial ao réu, vedada pelo Direito Penal. 
4. CAUSA DE AUMENTO DA PENA EM DOBRO (§ 2º-B)
O § 2º-B foi acrescentado ao art. 157, CP pela Lei Anticrime (Lei 
n. 13.964/19), e possui a seguinte redação: “Se a violência ou grave 
ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou 
proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo”.
5. SÍNTESE 
Em resumo, no que se refere ao emprego de arma, no crime de 
roubo, após a entrada em vigor da Lei Anticrime (Lei n. 13.964/19, 
temos a seguinte situação: 
a) Emprego de arma branca: pena aumentada em 1/3 (um ter-
ço) até a metade;
b) Emprego de arma de fogo que não se enquadre naquelas 
de uso proibido ou restrito: pena aumentada em 2/3 (dois 
terços);
c) Emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito: pena 
aplicada em dobro. 
20 Dispunha a súmula n. 174/STJ: “No crime de roubo, a intimidação feita com arma de brinquedo autoriza o aumento 
da pena”. Esta súmula foi cancelada por ocasião do julgamento do REsp. 213.054-SP, j. em 24/10/2001, pela 3ª Seção.
41
ART. 171 ...............................................................................................................
.......................................................................................................................................
§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:
I - a Administração Pública, direta ou indireta;
II - criança ou adolescente;
III - pessoa com deficiência mental; ou
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.” (NR)
COMENTÁRIOS
Até o advento da Lei Anticrime (Lei n. 13.964/19), o crime de es-
telionato era de ação penal pública incondicionada. A partir da 
entrada em vigor daquele diploma legislativo, foi acrescentado ao 
art. 171, CP o 5º, que possui a seguinte redação: 
“Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:
I - a Administração Pública, direta ou indireta;
II - criança ou adolescente;
III - pessoa com deficiência mental; ou
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.”
Assim, a partir da entrada em vigor da Lei Anticrime, o crime de 
estelionato passa a ser, de regra, de ação penal pública condicio-
nada à representação do ofendido e, excepcionalmente, de ação 
penal pública incondicionada. 
Trata-se de alteração legislativa benéfica ao réu (novatio legis im 
melius), porquanto torna mais difícil ao MP processá-lo criminal-
mente. Por tal razão, a mudança legislativa retroage, alcançando 
os fatos já praticados anteriormente à entrada em vigor da Lei n. 
13.964/19. Assim, se o agente já havia praticado o estelionato, e a inves-
tigação criminal estiver em andamento, o Ministério Público somente 
poderá oferecer a denúncia se o ofendido formular a representação. 
42
Por outro lado, caso a denúncia já tenha sido oferecida, pare-
ce-nos tratar-se de situação de ato jurídico perfeito, devendo a de-
núncia oferecida ser considerada válida. Neste ponto, importante 
destacar que a Lei n. 13.964/19 não estabeleceu prazo para o ofe-
recimento de representação em situações de processos criminais 
já em andamento. 
ART. 316 .................................................................................................
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.” (NR)
COMENTÁRIO
Com o advento da Lei n. 13.964, publicada no dia 24 de dezem-
bro de 2019 (e 30 dias de vacatio legis), a pena máxima do crime 
de concussão deixou de ser oito anos e passou a ser de doze anos. 
Esta alteração legislativa corrigiu uma distorção que afrontava o 
princípio da proporcionalidade há muitos anos. 
E isto porque desde o advento da Lei n. 10.763/2003, a pena 
máxima dos crimes de corrupção ativa e passiva haviam sido 
exasperadas de oito para doze anos. Com isto, tínhamos que, por 
exemplo, o funcionário público em razão da função que solicitasse 
a vantagem indevida cometeria o crime de corrupção passiva (art. 
317, CP) e poderia ser punido com pena máxima de doze anos. Por 
outro lado, se se entendesse que esse funcionário exigiu a vanta-
gem indevida, o crime seria de concussão e a pena máxima seria 
de oito anos. Por outras palavras, “solicitar” era considerada uma 
conduta muito mais grave do que o “exigir”.
Com a alteração promovida pela Lei n. 13.964/19 (que consagra 
o chamado “pacote anticrime”), a pena máxima da concussão se 
iguala à pena máxima dos crimes de corrupção ativa (art. 333, CP) 
e passiva (art. 317, CP). 
43
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