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AULA 04 – TEORIA DA CONSTITUIÇÃO CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 1. Quanto ao conteúdo: · Constituição material: conjunto de normas, escritas ou não escritas, que regulam a estrutura do Estado. Ademais, tem por referência o conteúdo, que deve expressar necessariamente uma matéria essencialmente constitucional (Estado, Poder e Direitos da Pessoa Humana). A título exemplificativo pode-se citar as constituições inglesa e israelense; · Constituição formal: conjunto de normas escritas e formalmente inseridas no texto constitucional, tendo ou não valor constitucional material. Além disso, tem por referência o texto, que pode tratar de qualquer matéria. Em síntese, há uma maior preocupação com o aspecto estrutural, tendo em vista que o conteúdo pode ser qualquer um (incluindo temáticas consideradas irrelevantes). A título exemplificativo pode-se citar a constituição brasileira (embora, vale ressaltar, também apresente um conteúdo majoritariamente significativo); 2. Quanto à forma: · Constituição escrita: há um texto único, codificado e sistematizado, elaborado racionalmente por um órgão constituinte. Também chamada de constituição instrumental, é produto das revoluções liberais do século XVIII. Pode-se citar, a título exemplificativo, as constituições dos Estados Unidos e da França, além de todas as constituições brasileiras elaboradas ao longo da história. Vale ressaltar que toda constituição escrita é formal; · Constituição não-escrita: também chamada de costumeira, baseia-se nos costumes, na jurisprudência e em alguns textos esparsos, como é na Inglaterra. Ademais, sempre existiram e precederam às constituições escritas, perdendo a primazia, entretanto, a partir do final do século XVIII. Toda constituição não-escrita é material, contudo existem algumas normas escritas esparsas – que possuem a função de complementariedade; 3. Quanto à origem: · Constituição democrática: elaborada por representantes legítimos do povo, que compõem, por eleição, um órgão constituinte. A título exemplificativo, pode-se citar as constituições brasileiras dos anos de 1891 1934, 1946 e 1988; · Constituição outorgada: denominada por alguns doutrinadores como “carta política” devido ao cunho autoritário, a constituição outorgada é aquela elaborada por um processo que não envolve qualquer participação do povo. É fruto do autoritarismo, do abuso, da usurpação do poder constituinte do povo. São impostas pelo governante e normalmente são designadas pela doutrina de cartas. A título exemplificativo, pode-se citar as constituições brasileiras dos anos de 1824, 1937, 1967 e 1969; · Constituição pactuada: responsável por oficializar um compromisso político instável de duas forças políticas opostas. A título exemplificativo pode-se citar a constituição francesa de 1791 – pacto proveniente da oposição entre duas forças políticas (burguesia x nobreza); OBS: Alguns doutrinadores, como José Afonso da Silva, admitem a existência da constituição cesarista – ou seja – aquela em que a participação popular restringe-se a ratificar a vontade do detentor do poder. Em síntese, é uma constituição imposta pelos governantes através da coação do povo (ex: Código Napoleônico francês); 4. Quanto à estabilidade ou consistência ou alterabilidade: · Constituição imutável: é aquela que não prevê nenhum processo de alteração de suas normas; · Constituição fixa: é aquela que só pode ser alterada pelo próprio poder constituinte originário. No que tange à constituição fixa, percebe-se dois empecilhos: um de ordem jurídica (modificar a constituição não é função do poder responsável pela elaboração da constituição) e um de ordem fática (é inviável convocar eternamente aqueles que elaboraram a constituição); · Constituição rígida: caracteriza-se por estabelecer e exigir procedimentos especiais, solenes e formais, necessários para a reforma de suas normas. A título exemplificativo pode-se citar a constituição brasileira, tendo em vista que a modificação da Constituição de 1988 somente pode ocorrer através do procedimento de emenda constitucional – aprovado por 3/5 do Congresso Nacional; · Constituição flexível: é aquela que pode ser alterada pelo mesmo procedimento observado para as normas legais. A título exemplificativo pode-se citar a constituição inglesa; · Constituição semiflexível: corresponde a uma constituição parcialmente rígida e parcialmente flexível. No Brasil, a constituição de 1824 era semiflexível – proibindo qualquer modificação nos primeiros quatro anos de vigência. Nos dias atuais, não há exemplos; 5. Quanto à extensão: · Constituição sintética: é aquela que regula sucintamente os aspectos básicos da organização estatal. A titulo exemplificativo pode-se citar a constituição dos Estados Unidos – composta por apenas 7 artigos; · Constituição analítica: é aquela extensa que disciplina longa e minuciosamente todas as particularidades ocorrentes e consideradas relevantes no momento para o Estado e para a sociedade, definindo largamente os fins atribuídos ao Estado. A título exemplificativo, pode-se citar a constituição brasileira em vigência; 6. Quanto à finalidade: · Constituição garantia: foi o paradigma de constituição adotado após as revoluções do século XVIII para servir de instrumento de garantia das liberdades públicas individuais, visando a limitar o poder dos governantes. A título exemplificativo pode-se citar a constituição francesa de 1791 pautada em aspectos liberais; · Constituição dirigente: é uma consequência do constitucionalismo social do século XX, que provocou a evolução do modelo de Estado, de Estado liberal (passivo) para Estado social (intervencionista). Observa Canotilho que a Constituição dirigente se volta à garantia do existente, aliada à instituição de um programa ou linha de direção para o futuro, sendo estas as suas duas finalidades. A título exemplificativo pode-se citar a constituição mexicana de 1917 – a primeira do mundo a assumir esse modelo – preocupada com os direitos trabalhistas, sociais, econômicos, entre outros. No caso brasileiro, a primeira constituição dirigente foi a promulgada em 1934 – inspirada na antiga constituição alemã de Weimar; 7. Quanto ao modo de elaboração: · Constituição dogmática: também denominada de sistemática, consiste em um documento escrito e sistematizado, elaborado por um órgão constituinte em determinado momento da história político-constitucional de um país, a partir de dogmas ou ideias fundamentais da Ciência Política e do Direito dominantes na ocasião. A título exemplificativo pode-se citar a constituição atual brasileira – proveniente de uma convenção racional de constituintes; · Constituição histórica: sempre não escrita, é aquela cuja elaboração é lenta e ocorre sob o influxo dos costumes e das transformações sociais. A título exemplificativo pode-se citar a constituição inglesa; 8. Quanto à ideologia: · Constituição ortodoxa: é aquela resultante da consagração de uma única ideologia. A título exemplificativo pode-se citar as constituições da União Soviética de 1923, 1936 e 1977; · Constituição eclética: é aquela que contempla várias ideologias aparentemente contrapostas, conciliando as ideias que permearam as discussões na Assembleia Constituinte. A título exemplificativo pode-se citar a constituição brasileira que prevê a liberdade religiosa, entre outros aspectos; 9. Quanto ao ser da realidade social – classificação ontológica (Karl Loewenstein): · Constituição normativa: é aquela cujas normas dominam o processo político, apresentando valor jurídico. A título exemplificativo, pode-se citar a constituição brasileira; · Constituição nominal: é aquela que não possui valor jurídico, não passando de uma constituição de fachada (simbólica). A título exemplificativo, pode-se citar a constituição da Síria; · Constituição semântica: é aquela utilizada apenas para justificar o exercício autoritário do poder. A título exemplificativo, pode-se citar as constituições brasileiras de 1967 e de 1969; A Constituição Brasileira de 1988 é formal,escrita, democrática, rígida, analítica, dirigente, dogmática, eclética e normativa; OBJETOS DA CONSTITUIÇÃO · Organizar o Estado e definir os seus princípios estruturantes; · Organizar os poderes e estabelecer suas funções e limites; · Definir a forma de aquisição e exercício dos poderes; · Declarar os direitos e as garantias fundamentais; · Estabelecer os fins do Estado; ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO · Preâmbulo: declaração prévia dos objetivos e fins da constituição; · Parte dogmática: parte permanente dotada de plena força jurídico-normativa; · Disposições transitórias (no Brasil, ADCT – ato das disposições constitucionais transitórias): parte que reúne normas jurídicas com eficácia temporárias, com o propósito de garantir uma transição entre constituições; ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO: · Elementos orgânicos – contidos nas normas que regulam o Estado e o poder, como as normas que disciplinam a divisão dos poderes. Ex: título III (organização do Estado) e IV (organização do poder) da CF/88; · Elementos limitativos – correspondem às normas que formam o catálogo de direitos e garantias fundamentais, limitadoras do poder estatal. Ex: art 5º da CF/88; · Elementos socio-ideológicos – normas que identificam na constituição o grau de comprometimento das constituições modernas entre o Estado individual e o Estado social. Ex: os direitos sociais (art 6º e 7º da CF) e os títulos VII (ordem econômica e financeira) e VIII (ordem social) da CF/88; · Elementos de estabilização constitucional – contêm-se nas normas que visam a garantir a solução dos conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do Estado e das instituições democráticas. Ex: art. 34/36 (intervenção nos Estados-membros e nos municípios) e art. 60 (o processo legislativo das emendas constitucionais); · Elementos formais de aplicabilidade – encontram-se nas normas que prescrevem a forma de regulação da própria constituição. São, assim, elementos de aplicabilidade os artigos 1º ao 4º, que revelam princípios fundamentais da Constituição, assim também as disposições constitucionais transitórias;
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