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Material Direito Penal II (primeira parte)

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Direito Penal N1
Crime:
1 Fato típico => 
 Conduta (dolo, culpa).
 Nexo causal (artigo 13).
 Resultado
 Tipicidade (artigo 1).
 
2 Antijurídico => ilícito.
 
3 Culpabilidade => capacidade de receber pena.
 
1 Concurso de pessoas (artigo 29)
 
1.1 “concurso de pessoas” é a melhor forma para definir a reunião de pessoas para o cometimento de um crime, adequando-se melhor à natureza das coisas. Em resumo, é a consciente e voluntária participação de duas ou mais pessoas em uma única infração penal. 
 
O legislador penal brasileiro adotou a teoria monística, determinando que todos os participantes de uma infração penal incidem nas sanções de um único e mesmo crime, e, quanto à valoração das condutas daqueles que nele participam, adotou um sistema diferenciador distinguindo a atuação de autores e partícipes, permitindo uma adequada dosagem de pena de acordo com a efetiva participação e eficácia causal da conduta de cada participante, na medida da culpabilidade, perfeitamente individualizada.
O nexo de causalidade não é por si só suficiente para determinar quem deve responder na qualidade de autor principal, e quem deve responder na qualidade de partícipe secundário.
 
O art. 29 tem por escopo uma extensão, pois trata-se nele somente do concurso eventual, ou seja, o crime que poderia ter sido cometido apenas por um agente.
O concurso necessário estruturalmente já possui mais de um agente.
 
1.2 Participação moral: induzir ou instigar alguém a cometer o crime, por exemplo.
 
 Um amigo instiga o outro a matar sua mulher por tê-lo traído. 
Participação Material: o amigo empresta sua arma pro outro matar a mulher. 
 
Participação inócua: uma pessoa empresta uma arma para o amigo matar sua esposa, no entanto, o executor utiliza outra ferramenta para a execução. Diante disso, a participação do amigo não é entendida como crime, pois não teve influência no delito. Por outro lado, se houvesse consumado da maneira objetivada, ele concorreria materialmente junto com o agente executor.
 
Não é necessário que exista acordo prévio para a cooperação em um crime. 
 
1.3 Requisitos para a existência de concurso de pessoas:
 
1. Pluralidade de agentes e pluralidade de condutas. Mais de um agente e conduta.
1. Relevância causal da conduta. A conduta tem que ter eficácia para o crime.
1. Liame subjetivo ou vínculo subjetivo. União para se juntar a vontade do outro. (a vontade pode ser de uma única pessoa).
1. Identidade de infração ou de fato. Reforça a regra unitária.
1.4 Teoria do autor 
 
Regra => Teoria restritiva de autor: executa o núcleo do tipo. Por exemplo: subtrair.
 
Obs: autor quase sempre está na linha de execução.
 
Exceção => Teoria do domínio do fato: mandante = autor. Pois tem o domínio do fato.
 
Autor mediado (homem por trás):
Utiliza alguém em:
1 erro
2 coação irresistível
3 inimputável
 
Obs: em caso de desistência voluntária ou arrependimento eficaz o autor só responde pelos crimes até então praticados.
 
nas hipóteses de desistência voluntária ou de arrependimento eficaz do autor o partícipe não será beneficiado com a regra contida no art. 15 do Código Penal, uma vez que, ao ser iniciada a execução, ali nasceu a possibilidade de se punir o partícipe.
 
1.5 Participação de menor importância
 
O § 1 º do art. 29 do Código Penal diz que, "se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço". 
 
Esse parágrafo, contudo, somente terá aplicação nos casos de participação (instigação e cumplicidade), não se aplicando às hipóteses de coautoria. Não se poderá falar, portanto, em coautoria de menor importância, a fim de atribuir a redução de pena a um dos coautores. Isso porque, segundo posição adotada pela teoria do domínio funcional do fato, observando-se o critério de distribuição de tarefas, coautor é aquele que tem o domínio funcional do fato que lhe fora atribuído pelo grupo, sendo sua atuação, assim, relevante para o sucesso da empreitada criminosa. Dessa forma, toda atuação daquele que é considerado coautor é importante para a prática da infração penal, não se podendo, portanto, falar em "participação de menor importância". 
 
1.6 Participação em crime menos grave
 
§ 2" Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até a metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. 
 
Verifica-se, pela redação do § 2" do art. 29 do Código Penal, a quebra da chamada teoria monista ou unitária, na qual a mesma infração penal é distribuída por todos aqueles que concorreram para a sua prática, sejam autores ou partícipes. Pelo que se dessume do mencionado parágrafo, o legislador pretendeu punir os concorrentes nos limites impostos pela finalidade de sua conduta, ou seja, se queria concorrer para o cometimento de determinada infração penal, se o seu dolo era voltado no sentido de cooperar e praticar determinado crime, não poderá responder pelo desvio subjetivo de conduta atribuído ao autor executor
 
Se o resultado mais grave fosse previsível para o concorrente, a pena prevista para a infração penal para a qual queria concorrer será aumentada até a metade.
 
1.7 Cumplicidade e favorecimento real
 
Se o seu auxílio ocorreu antes do cometimento do delito, dele deverá ser considerado cúmplice.
Quando auxílio for solicitado e prestado após a prática da infração penal, agora podemos falar em favorecimento real. 
 
1.8 Coautoria em delitos culposos 
 
Embora exista controvérsia doutrinária, a tendência contemporânea é a de aceitar a coautoria em delitos culposos. Duas pessoas podem, em um ato conjunto, deixar de observar o dever objetivo de cuidado que lhes cabia e, com a união de suas condutas, produzir um resultado lesivo.
 
1.9 Participação em crimes culposos
 
Damásio de Jesus conclui ser "possível a coautoria. A participação, porém, não é admissível''. Sobre as hipóteses acima referidas, exemplificando a respeito de uma delas, assevera o renomado professor: "Não há participação dolosa em crime culposo. Ex.: se A, desejando matar C, entrega a B uma arma, fazendo-o supor que está descarregada e induzindo-o a acionar o gatilho na direção da vítima, B, imprudentemente, aciona o gatilho e mata C. Não há participação criminosa, mas dois delitos: homicídio doloso em relação a; homicídio culposo em relação a B.
 
2.0 Das penas. 
 
A pena é a consequência natural imposta pelo Estado quando alguém pratica uma infração penal. No caso, quando o agente comete um fato típico, ilícito e culpável. No entanto, em virtude da supremacia da Constituição Federal em detrimento das outras leis ocasionadas pelo neoconstitucionalismo, a pena a ser aplicada deverá observar os princípios expressos e implícitos previstos na CF.
 
Também em virtude da evolução do Direito, principalmente ao se tratar de valores inerentes à pessoa humana, e também levando em conta o caráter preventivo das penas, algumas modalidades penais foram proibidas, são elas:
 
1 de morte, salvo em caso de guerra declarada;
2 de caráter perpétuo;
3 de trabalhos forçados;
4 de banimento;
5 cruéis.
1.2 Origem das penas
 
A partir do momento em que o homem passou a viver em sociedade, viu a necessidade da existência de um sistema de aplicação de penas toda vez que as regras da comunidade no qual estava inserido eram contrariadas. Dessa forma, durante os anos, várias formas de legislação surgiram, como exemplo das leis dos hebreus, concedidas por Deus a Moisés, assim como o Código de Hamurabi e de Manu.
 
Desde a Antiguidade até, basicamente, o século XVIII as penas tinham características aflitivas, o corpo do agente pagando pelo mal por ele praticado. O período iluminista, responsável por inúmeras evoluções na sociedade, também foi um importante marco inicial para uma mudança no pensamento da sociedade sobre à cominação das penas. Por intermédio das ideias de Beccaria, em sua obra intitulada Dos Delitos e das Penas, publicada em1764, começou-se a ecoar a voz da indignação com relação a como os seres humanos estavam sendo tratados pelos seus próprios semelhantes, sob a falsa bandeira da legalidade. 
  
1.3 Finalidade das penas - teorias absolutas e relativas
 
Muito se tem discutido ultimamente a respeito das funções que devem ser atribuídas às penas. O nosso Código Penal, por intermédio de seu art. 59, prevê que as penas devem ser necessárias e suficientes à reprovação e prevenção do crime. Assim, de acordo com nossa legislação penal, entendemos que a pena deve reprovar o mal produzido pela conduta praticada pelo agente, bem como prevenir futuras infrações penais.
 
As teorias tidas como absolutas advogam a tese da retribuição, sendo que as relativas a prevenção.
Retribuição na lição de Roxin: "a teoria da retribuição não encontra o sentido da pena na perspectiva de algum fim socialmente útil, senão em que mediante a imposição de um mal merecidamente se retribui, equilibra e expia a culpabilidade do autor pelo fato cometido. Se fala aqui de uma teoria 'absoluta' porque para ela o fim da pena é independente, 'desvinculado' de seu efeito social. A concepção da pena como retribuição compensatória realmente já é conhecida desde a antiguidade e permanece viva na consciência dos profanos com uma certa naturalidade: a pena deve ser j usta e isso pressupõe que se corresponda em sua duração e intensidade com a gravidade do delito, que o compense".
 
É uma teoria com aprovação social, uma vez que gera uma satisfação com a espécie de "pagamento" ou compensação feita pelo condenado, desde que, obviamente, a pena seja privativa de liberdade. Se ao condenado for aplicada uma pena restritiva de direitos ou mesmo a de multa, a sensação, para a sociedade, é de impunidade, pois o homem, infelizmente, ainda se regozija com o sofrimento causado pelo aprisionamento do infrator.
 
Teoria relativa se fundamenta no critério da prevenção, que se biparte em:
1. Prevenção geral- negativa e positiva.
1. Prevenção especial - negativa e positiva.
 
Em conclusão, podemos dizer que as teorias absolutas, que consideram a pena como um fim em si mesmo, voltam ao passado e procuram responder à seguinte indagação: "por que punir?". Por outro lado, as teorias relativas, de cunho utilitarista, ou seja, com o raciocínio de que a aplicação da pena deve ser útil a fim de prevenir a comissão de delitos, tem seus olhos voltados para o futuro e buscam responder à seguinte pergunta: "para que punir?" 
 
1.4 Teoria adotada pelo art. 59 do Código Penal
Em razão da redação contida no caput do art. 59 do Código Penal, podemos concluir pela adoção, em nossa lei penal, de uma teoria mista ou unificadora da pena.
 
 Isso porque a parte final do caput do art. 59 do Código Penal conjuga a necessidade de reprovação com a prevenção do crime, fazendo, assim, com que se unifiquem as teorias absoluta e relativa, que se pautam, respectivamente, pelos critérios da retribuição e da prevenção.
 
1.6 Sistemas prisionais
 
Vimos que as penas, anteriormente, tinham uma natureza aflitiva, ou seja, o corpo do delinquente pagava pelo mal que ele havia praticado. Era torturado, açoitado, crucificado, esquartejado, esfolado vivo, enfim, todo tipo de sevícias recaía sobre seu corpo físico. Podemos dizer que a pena de prisão, ou seja, a privação da liberdade como pena principal, foi um avanço na triste história das penas. Segundo nos informa Manoel Pedro Pimentel, a pena de prisão "teve sua origem nos mosteiros da Idade Média, como punição imposta aos monges ou clérigos faltosos, fazendo com que se recolhessem às suas celas para se dedicarem, em silêncio, à meditação e se arrependerem da falta cometida, reconciliando-se assim com Deus". 
 
Os sistemas penitenciários, a seu turno, encontraram suas origens no século XVIII e tiveram, conforme preleciona Cezar Roberto Bitencourt, "além dos antecedentes inspirados em concepções mais ou menos religiosas, um antecedente importantíssimo nos estabelecimentos de Amsterdam, nos Bridwells ingleses, e em outras experiências similares realizadas na Alemanha e na Suíça. Estes estabelecimentos não são apenas um antecedente importante dos primeiros sistemas penitenciários, como também marcam o nascimento da pena privativa de liberdade, superando a utilização da prisão como simples meio de custódia".
 
Dentre os sistemas que mais se destacaram durante a evolução, podemos citar:
 
1. Pensilvânico, conhecido como celular, iniciou-se em 1790, nesse sistema o preso era recolhido à sua cela, isolado dos demais, não podendo trabalhar ou mesmo receber visitas, com o objetivo de arrependimento através da leitura da Bíblia. Recebeu muitas críticas, uma vez que, além de extremamente severo, impossibilitava a readaptação social do condenado, em face do seu completo isolamento.
 
1. Auburniano, menos rigoroso que o anterior, fora criado em 1818, e permitia o trabalho dos presos, inicialmente, dentro de suas celas e, posteriormente, grupos. O isolamento noturno foi mantido. "O ponto vulnerável desse sistema era a regra desumana do silêncio. Teria origem nessa regra o costume dos presos se comunicarem com as mãos, formando uma espécie de alfabeto, prática que até hoje se observa nas prisões de segurança máxima, onde a disciplina é mais rígida.
 
1. Progressivo, surgiu na Inglaterra, sendo adotado posteriormente pela Irlanda. Ele surgiu por conta de um capitão da marinha que estava impressionado com o tratamento desumano que era destinado aos presos e resolveu, por isso, mudar o sistema.
 
1.7 Espécies de penas
 
De acordo com o art. 32 do Código Penal, as penas podem ser:
 
1. Privativas de liberdade
1. Restrição de direitos e
1. Multa.
 
As penas privativas de liberdade previstas pelo Código Penal para os crimes são as de reclusão e detenção. Deve ser ressaltado, contudo, que a Lei de contravenções penais também prevê sua pena privativa de liberdade, que é a prisão simples.
 
As penas restritivas de direitos, de acordo com a nova redação dada ao art. 43 do CP, são:
 
1. Prestação pecuniária;
1. Perda de bens e valores;
1. Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;
1. Interdição temporária de direitos;
1. Limitação de fim de semana.
 
A multa penal é de natureza pecuniária e seu cálculo é elaborado considerando-se o sistema de dias-multa, que poderá variar entre um mínimo de 10 ao máximo de 360 dias-multa, sendo que o valor correspondente a cada dia multa será de 1/30 do valor do salário mínimo vigente à época dos fatos até 5 vezes esse valor. Poderá o juiz, contudo, verificando a capacidade econômica do réu, triplicar o valor do dia-multa, segundo a norma contida no inciso 1° do art. 60 do CP.
 
Esse raciocínio será levado a efeito quando não houver previsão expressa, no preceito secundário do tipo penal incriminador, da quantidade mínima e máxima de dias-multa, a exemplo do que ocorre com o art. 33 da Lei no. 11 .343/2006, que prevê o pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. 
 
1.8 Penas privativas de liberdade
Reclusão e detenção
 
O CP prevê duas penas privativas de liberdade - a de reclusão e a de detenção -, sobre as quais incide uma série de implicações de Direito Penal - a exemplo do regime de cumprimento de pena a ser fixado na sentença condenatória.
 
Diferenças entre as duas:
 
1. A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. (art. 33, CP).
 
1. No caso de concurso material, aplicando-se cumulativamente as penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela (arts. 69, caput, e 76 do CP).
 
1. Como efeito da condenação, a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, somente ocorrerá com a prática de crime doloso, punido com reclusão, cometido contra filho, tutelado ou curatelado (art. 92, II, CP).
 
1. No que diz respeito à aplicação de medida de segurança, se o fato praticado pelo inimputável for punível com detenção, o juiz poderá submetê-lo a tratamentoambulatorial (art. 97 do CP).
 
1.9 Regimes de cumprimento de pena
Após o julgador ter concluído, em sua sentença, pela prática do delito, afirmando que o fato praticado pelo réu era típico, ilícito e culpável, a etapa seguinte consiste na aplicação da pena. O critério a ser adotado é o trifásico pelo artigo 68 do Código Penal, o juiz fixará a pena-base atendendo aos critérios do art. 59. Em seguida, serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento.
 
Art. 59. O JUIZ, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e as consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: 
 
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
 II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
 III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; 
IV - a substituição da pena privativa de liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.
 
 Como se percebe pelo inciso III do art. 59 do CP, deverá o juiz, ao aplicar a pena ao sentenciado, determinar o regime inicial de seu cumprimento, a saber, fechado, semiaberto ou aberto. 
 
Fixação legal do regime inicial de cumprimento de pena
 
O Código Penal, pelo seu artigo 33, parágrafo 2° determina que as penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, e fixa os critérios para a escolha do regime inicial de cumprimento de pena, a saber:
a) o condenado a pena de reclusão superior a oito anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; 
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a quatro anos e não exceda a oito, poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto; 
 
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a quatro anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.
 
Segundo o parágrafo 3 do art. 33 do Código Penal, a determinação do regime inicial de cumprimento de pena far-se-á com observância dos critérios previstos no art. 59.
 
Assim, a escolha pelo julgador do regime inicial para o cumprimento da pena deverá ser uma conjugação da quantidade de pena aplicada ao sentenciado com a análise das circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código Penal, principalmente no que diz respeito à última parte do referido artigo, que determina que a pena deverá ser necessária e suficiente para a reprovação e prevenção do crime.
 
Suponhamos que o agente tenha sido condenado ao cumprimento de uma pena de seis anos de reclusão. Se analisássemos somente as alíneas do § 2" do art. 33 do Código Penal, teríamos de concluir que, não sendo reincidente, o seu regime inicial seria o semiaberto. Contudo, além da quantidade de pena aplicada e da primariedade, é preciso saber se as condições judiciais elencadas pelo art. 59 do Código Penal permitem que a pena seja cumprida sob essa modalidade de regime. Não sendo possível, o juiz deverá explicitar os motivos pelos quais está determinando ao sentenciado regime mais rigoroso do que aquele previsto para a quantidade de pena a ele aplicada.
 
A lei n° 8.072/90 e a imposição do cumprimento inicial da pena em regime fechado nos crimes nela previstos
 
Com o objetivo de concretizar a determinação contida no inciso XLIII do art. 5l1 da Constituição Federal, em 25 de julho de 1990 surgiu a Lei n 8.072, dispondo sobre os chamados crimes hediondos, a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo.
  
Com o advento da Lei n 11.464, de 28 de março de 2007, o§ l do art. 2l1 da Lei n 8.07 2/90, que anteriormente determinava que as penas para as infrações penais por ela previstas seriam cumpridas integralmente em regime fechado, passou a exigir que o regime de pena seria inicialmente, permitindo, outrossim, a progressão após o cumprimento de 2/5 da pena para o condenado primário e de 3/5 para o reincidente. 
Hoje, após o julgamento levado a efeito pelo Supremo Tribunal Federal, que, na sessão extraordinária realizada no dia 27 de junho de 2012, concedeu o Habeas Corpus (HC) n" 1 1 1 840 e declarou, incidentalmente, a inconstitucionalidade do § 1" do art. 2" da Lei n" 8.072/90, com redação dada pela Lei n" 1 1 .464/2007, que previa que a pena por crime previsto naquele artigo seria cumprida, inicialmente, em regime fechado, perdeu o sentido a discussão, devendo, agora, o julgador, fundamentadamente, determinar o regime inicial de cumprimento de pena para o delito de tortura, que poderá ser outro, diverso do regime fechado. Deve ser frisado, contudo, que a progressão de regime para o condenado pelo crime de tortura deverá ocorrer após cumpridos 2/5 (dois quintos) da pena, se primário, e 3/5 (três quintos), se reincidente, conforme determina o§ 2" do art. 2" da Lei n" 8.072/90, com a redação que lhe foi dada pela Lei n" 11.464, de 28 de março de 2007. 
 
Regras do regime fechado
 
Transitada em julgado a sentença penal condenatória, tendo sido determinado ao condenado o cumprimento de sua pena em regime fechado, será ele encaminhado à penitenciária, nos termos do art. 87 da Lei de Execução Penal, expedindo-se, por conseguinte, guia de recolhimento para a execução, uma vez que, sem ela, ninguém poderá ser recolhido para cumprimento de pena privativa de liberdade (art. 107 da LEP). A guia de recolhimento, extraída pelo escrivão, que a rubricará em todas as folhas e assinará com o juiz, será remetida à autoridade administrativa incumbida da execução e conterá: 1 - o nome do condenado; II - a sua qualificação civil e o número do registro geral no órgão oficial de identificação; III - o inteiro teor da denúncia e da sentença condenatória, bem como certidão do trânsito em julgado; IV - a informação sobre os antecedentes e o grau de instrução; V - a data da terminação da pena; VI - outras peças do processo reputadas indispensáveis ao adequado tratamento penitenciário (art. 106 da LEP). 
 
O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade em regime fechado será submetido, no início do cumprimento da pena, a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação e com vista à individualização da execução (art. su da LEP e art. 3 4, caput, do CP). O condenado ao regime fechado fica sujeito a trabalho no período diurno e a isolamento durante o repouso noturno. O trabalho é um direito do preso, segundo o inciso II do art. 41 da Lei de Execução Penal. Por essa razão, se o Estado, em virtude de sua incapacidade administrativa, não lhe fornece trabalho, não poderá o preso ser prejudicado por isso, uma vez que o trabalho gera o direito à remição da pena, fazendo com que, para cada três dias de trabalho, o Estado tenha de remir um dia de pena do condenado. Se o Estado não está permitindo que o preso trabalhe, este não poderá ficar prejudicado no que diz respeito à remição de sua pena. Assim, excepcionalmente, deverá ser concedida a remição, mesmo que não haja efetivo trabalho. 
 
O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado somente em serviços ou obras públicas realizadas por órgãos da administração direta e indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina (art. 36 da LEP). O art. 37 da Lei de Execução Penal ainda aduz que a prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina, além do cumprimento mínimo de um sexto da pena.
 
Estabelecimento penal federal de segurança máxima
 
A Lei n" 1 1.671, de 8 de maio de 2008, dispôs sobre a transferência e a inclusão de presos em estabelecimentos penais federais de segurança máxima, esclarecendo que tal medida se justificaria no interesse da segurança pública, como ocorre nas hipóteses, hoje corriqueiras, dos "chefes" de organizações criminosas, ou do próprio preso, condenado ou provisório, a exemplo daquele cujo segurança estaria comprometida emoutro estabelecimento penal.
 
O Tribunal competente para o julgamento do conflito deverá sempre observar a lotação máxima do estabelecimento penal de segurança máxima, devendo ponderar até mesmo sobre a manutenção de um número inferior à sua capacidade máxima, visando sempre à sua possibilidade de utilização imediata em casos emergenciais (art. 11 e parágrafos).
 
Regras do regime semiaberto
O artigo 35 do CP determina que seja aplicada a norma do art. 34 ao condenado que inicie o cumprimento de sua pena em regime semiaberto. Isso quer dizer que também, nesse regime, poderá ser realizado exame criminológico, nos termos do parágrafo único do art. 8° da Lei de Execução Penal, a fim de orientar a individualização da execução, e da Súmula 439 do STJ, publicada no Dje de 13 de maio de 2010, que diz ser admitido o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada. 
 
É admissível o trabalho externo, bem como a frequência a cursos supletivos profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior. Também poderão remir, pela frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional, parte do tempo de execução da pena, observado o disposto no inciso 1 do § 1 u do art. 126 da Lei de Execução Penal, de acordo com a redação que lhe foi conferida pela Lei n 12.433, de 29 de junho de 2011.
 
Regras do regime aberto
 
O regime aberto é uma ponte para a completa reinserção do condenado na sociedade. O seu cumprimento é realizado em estabelecimento conhecido como Casa do Albergado. Esse regime, baseado na autodisciplina e no senso de responsabilidade do condenado, permite que este, fora do estabelecimento e sem vigilância, trabalhe, frequente curso ou exerça outra atividade autorizada, permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias de folga. 
 
A peculiaridade do regime aberto, que o difere dos regimes anteriores, diz respeito ao trabalho. Nos regimes anteriores - fechado e semiaberto -, o trabalho do preso faz com que tenha direito à remição. Aqui, no regime aberto, não há previsão legal para remição da pena pelo trabalho, uma vez que somente poderá ingressar nesse regime o condenado que estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente. No entanto, a Lei nu 12.433, de 29 de junho de 2011, incluindo o§ 6u ao art. 126 da Lei de Execução Penal, assevera que o condenado que cumpre pena em regime aberto poderá remir, pela frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional, parte do tempo de execução da pena, observado o disposto no inciso 1 do § 1 u do referido artigo.
 
Vê-se, portanto, que a condição sine qua non para o início do cumprimento da pena ou mesmo a sua progressão para o regime aberto é a possibilidade imediata de trabalho do condenado. Sem trabalho não será possível o regime aberto. A Lei de Execução Penal excepciona a exigência do trabalho nas hipóteses do art. 117, a saber: 1 - condenado maior de setenta anos; II - condenado acometido de doença grave; III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental; IV - condenada gestante. Note-se que a Lei de Execução Penal fala em trabalho, e não em emprego. Portanto, mesmo que o condenado exerça uma atividade laboral sem registro, a exemplo de venda de produtos de forma autônoma, faxina em residências, lavagem de carros etc., poderá ser inserido no regime aberto. Isso porque o desemprego é uma desgraça que assola nosso país. Não podemos exigir do condenado que consiga uma colocação no mercado de trabalho, após sua condenação, competindo igualmente com aqueles que mantêm uma folha penal sem anotações. Isso seria impedir, por vias oblíquas, a concessão do regime aberto.
 
Obviamente que a atividade indicada pelo condenado deverá ser fiscalizada tanto pelo Ministério Público (art. 67 da LEP) quanto pelo Conselho da Comunidade (art. 81 da LEP), devendo, caso haja alguma irregularidade ou interrupção no trabalho do condenado, ser tal fato comunicado ao Juízo da Execução, para fins de justificação, nos termos do § 2u do art. 118 da Lei de Execução Penal. Além da necessidade de estar trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente, o inciso II do art. 1 14 da Lei de Execução Penal ainda exige que o condenado apresente, pelos seus antecedentes, ou pelo resultado dos exames a que foi submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de responsabilidade, ao novo regime. 
 
Tanto o juiz do processo de conhecimento, caso o regime aberto seja o inicialmente previsto para o cumprimento da pena, como o da execução, em caso de progressão de regime, poderão estabelecer condições especiais para a concessão de regime aberto, sem prejuízo das seguintes condições gerais e obrigatórias:
 
 1 - permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga; 
 
II - sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados; 
 
III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
 
 IV - comparecer a juízo, para informar e justificar suas atividades, quando for determinado (art. 115 da LEP).
 
Importante: o julgador não poderá, a título de imposição de condições para a concessão de regime aberto, determinar qualquer das penas restritivas de direitos previstas pelo art. 43 do diploma repressivo.
 
A remição pelo estudo nos regimes semiaberto e aberto
 
A Lei nl1 12.433, de 29 de junho de 2011, alterou o art. 126 da LEP para possibilitar a remição pelo estudo. O condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto e o que usufrui liberdade condicional poderão remir, pela frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional, parte do tempo de execução da pena ou do período de prova, observado o disposto no inciso 1 do § ll1 do art. 126 da LEP. Tal disposição aplica-se, ainda, às hipóteses de prisão cautelar (art. 126, §§ 6l1 e 7u, da LEP). 
 
Progressão ou regressão do regime
 
O§ 2 do art. 33 do Código Penal determina que as penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado. A progressão é um misto de tempo mínimo de cumprimento de pena (critério objetivo) com o mérito do condenado (critério subjetivo). A progressão é uma medida de política criminal que serve de estímulo ao condenado durante o cumprimento de sua pena. A possibilidade de ir galgando regimes menos rigorosos faz com que os condenados tenham a esperança de retorno paulatino ao convívio social.
 
Apontando o critério de ordem objetiva, o art. 112 da Lei de Execução Penal diz que a pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva, com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinado pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior; em seguida, aponta o critério de ordem subjetiva, ou seja, o mérito do condenado, que é verificado mediante seu bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento.
Suponhamos que o agente tenha sido condenado a uma pena de doze anos de reclusão, em regime fechado. Cumprido um sexto da pena, ou seja, dois anos, abre-se a possibilidade de progressão para o regime semiaberto. O primeiro passo é o cumprimento do tempo exigido pela lei. Em seguida, analisa-se o mérito do condenado, mediante seu bom comportamento carcerário. A decisão do juízo da execução será sempre motivada e precedida de manifestação do Ministério Público e do defensor, conforme determina o§ 1 l1 do art. 112 da Lei de Execução Penal. 
 
Ponto que gera dúvida em nossa doutrina diz respeito aos cálculos para a segunda progressão de regime. Nesse caso apontado, após o condenado, através de sua progressão, conseguir ir para um regime semiaberto. A partir de quando terá direito a uma nova progressão para o regime aberto?
 
Se fosse sobre o total da condenação, somente após dois anos é que o condenado poderia ingressar no regime aberto. Entendemos não ser essa a melhor interpretação da legislação penal. O período de dois anos, que foi considerado para efeito de progressão de regime, já é tido como tempo depena efetivamente cumprida. Os futuros cálculos, portanto, somente poderão ser realizados sobre o tempo restante a cumprir, ou seja, dez anos. Assim, calculando-se um sexto sobre dez anos, chegaríamos à conclusão de que o condenado, depois de um ano e oito meses já teria direito a uma nova progressão
 
 A progressão não pode ser feita através de "saltos". Ou seja, não há possibilidade de o agente progredir do regime fechado diretamente para o regime aberto.
 
Há possibilidades de regressão de pena, maioria amparada pela LEP. Alguns exemplos são durante o cumprimento da pena o condenado cometer crime doloso (julgado).
 
Em consequência da jurisdicionalização da execução penal, por ofensa ao princípio do contraditório, nula é a decisão que determina a regressão do condenado sem a prévia audiência.
 
A Lei de Execução Penal também determina a regressão se o condenado sofrer condenação por crime anterior cuja pena, somada ao restante da pena em execução, torne incabível o regime, uma vez que o art. 111 diz que quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em processos distintos, a determinação do regime de cumprimento será feita pelo resultado da soma ou da unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração ou a remição. 
 
Merece ser ressaltado, ainda, que, ao contrário do que ocorre com a progressão de regime que, como dissemos, não poderá ser realizada "por saltos", devendo o julgador fazer com que o condenado ingresse, presentes os requisitos objetivos e subjetivos, no regime imediatamente posterior àquele que vinha cumprindo sua pena, na regressão o julgador poderá impor ao condenado o regime que, segundo as provas dos autos, lhe parecem o mais adequado. Assim, se ocorrer algumas das hipóteses previstas pelo art. 118 da Lei de Execução Penal, pode o condenado, que vinha cumprindo sua pena em regime aberto, ser transferido, por exemplo, diretamente ao regime fechado, não havendo necessidade de ser submetido, primeiramente, ao regime semiaberto. 
 
Regime especial (artigo 37, CP.)
 
Procurando evitar a promiscuidade e a prostituição no sistema carcerário, a lei determina que as mulheres cumpram pena em estabelecimento próprio, observando-se os direitos e deveres inerentes à sua condição especial. Também atendendo ao disposto constitucional e penal, que diz que a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado.
 
Esses estabelecimentos prisionais destinados às mulheres deverão possuir, exclusivamente, agentes do sexo feminino na segurança de suas dependências internas, conforme determina o§ 3l1, incluído no art. 83 da Lei de Execução Penal pela Lei n 12.121, de 15 de dezembro de 2009.
 
A lei n° 11.942, de 28 de maio de 2009, preocupando-se com a condição da condenada gestante, parturiente e mãe, modificando o parágrafo 2° do art. 83 da LEP, passou a determinar que os estabelecimentos penais destinados a mulheres serão dotados de berçário, onde as condenadas possam cuidar dos seus filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo, até 6 meses de idade.
 
Art. 89. Além dos requisitos referidos no art. 88, a penitenciária de mulheres será dotada de seção para gestante e parturiente e de creche para abrigar crianças maiores de 6 (seis) meses e menores de 7 (sete) anos, com a finalidade de assistir a criança desamparada cuja responsável estiver presa.
 
 Parágrafo único. São requisitos básicos da seção e da creche referidas neste artigo:
 
 1 - atendimento por pessoal qualificado, de acordo com as diretrizes adotadas pela legislação educacional e em unidades autônomas; e 
II - horário de funcionamento que garanta a melhor assistência à criança e à sua responsável.
 
Direitos do preso (art. 38, CP.)
 O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral (art. 38 do C P). Talvez esse seja um dos artigos mais desrespeitados de nossa legislação penal. A toda hora testemunhamos, pelos meios de comunicação, a humilhação e o sofrimento daqueles que por algum motivo se encontram em nosso sistema carcerário. Não somente os presos provisórios, que ainda aguardam julgamento nas cadeias públicas, como também aqueles que já foram condenados e cumprem pena nas penitenciárias do Estado. Na verdade, temos problemas em toda a federação. Motins, rebeliões, mortes, tráfico de entorpecentes e de armas ocorrem com frequência em nosso sistema carcerário
 
 A pena é um mal necessário. No entanto, o Estado, quando faz valer o seu ius puniendi, deve preservar as condições mínimas de dignidade da pessoa humana. O erro cometido pelo cidadão ao praticar um delito não permite que o Estado cometa outro, muito mais grave, de tratá-lo como um animal. Se uma das funções da pena é a ressocialização do condenado, certamente num regime cruel e desumano isso não acontecerá. As leis surgem e desaparecem com a mesma facilidade. Direitos são outorgados, mas não são cumpridos. O Estado faz de conta que cumpre a lei, mas o preso, que sofre as consequências pela má administração, pela corrupção dos poderes públicos, pela ignorância da sociedade, sente-se cada vez mais revoltado, e a única coisa que pode pensar dentro daquele ambiente imundo, fétido, promíscuo, enfim, desumano, é em fugir e voltar a delinquir, já que a sociedade jamais o receberá com o fim de ajudá-lo.
 
O artigo 41 da LEP contém um rol de direitos do preso.
 
Gestantes e mães presas
 
A Lei n 1 .942, de 28 de maio de 2009, fez inserir na LEP novos direitos para as presas gestantes, parturientes, bem como para aquelas que tenham filhos com até 7 (sete) anos de idade. Tal modificação veio ao encontro dos tratados e acordos internacionais de que o Brasil faz parte, onde os Estados signatários se comprometem a fazer com que as presas tenham uma forma digna de cumprimento da pena que lhes fora imposta, não permitindo que seus laços familiares sejam rompidos, principalmente com seus filhos menores e/ou recém-nascidos. 
 
 
Trabalho do preso e remição de pena
 
A experiência demonstra que nas penitenciárias onde os presos não exercem qualquer atividade laborativa o índice de tentativas de fuga é muito superior ao daquelas em que os detentos atuam de forma produtiva, aprendendo e trabalhando em determinado ofício. O trabalho do preso, sem dúvida alguma, é uma das formas mais visíveis de levar a efeito a ressocialização. Mais do que um direito, a Lei de Execução Penal afirma que o condenado está obrigado ao trabalho interno na medida de suas aptidões e capacidade (art. 31). Apenas os presos provisórios e o condenado por crime político não estão obrigados ao trabalho. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser inferior a três quartos do salário mínimo.
 
Além da importância psicológico-social que o trabalho traz ao preso, o condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, pelo trabalho, parte do tempo de execução da pena, nos termos do art. 126 da Lei de Execução Penal. Não caberá a aplicação do instituto da remição pelo trabalho aos condenados que cumprem sua pena em regime aberto. Contudo, pode haver remição pelo estudo, tanto o semiaberto como aberto poderão pela frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional. Obs: em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 do tempo remido.
 
Contudo, existe a outra face da moeda. Suponhamos, agora, que haja possibilidade de trabalho no estabelecimento no qual o condenado esteja cumprindo sua pena e este, terminantemente, por sua própria vontade, se recuse a se submeter a ele. Entendemos que a recusa ao trabalho caracteriza negação do requisito de natureza subjetiva, indispensável à obtenção dos demais benefícios que lhe são ofertados durante a execução da pena, a exemplo da progressão de regime (art. 112 da LEP) e do livramento condicional (art. 83, III, do CP). A recusa em trabalhar demonstra sua inaptidão para com o sistema, bem como o seu desejo de não se ressocializar.Súmula n° 341 do STJ. A frequência de curso de ensino formal é causa de remição de parte do tempo de execução de pena sob regime fechado ou semiaberto.
 
A contagem de tempo será feita à razão de 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar (atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional) divididas, no mínimo, em 3 (três) dias.
 
O condenado autorizado a estudar fora do estabelecimento penal deverá comprovar mensalmente, por meio de declaração da respectiva unidade de ensino, a frequência e o aproveitamento escolar. 
 
Superveniência de doença mental (art. 41)
 
O art. 41 do Código Penal dispõe que o condenado a quem sobrevém doença mental deve ser recolhido a hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta desse, a outro estabelecimento adequado.
 
A primeira observação que deve ser feita com relação a esse artigo diz respeito ao fato de a lei penal mencionar o termo condenado. Por causa dessa redação, devemos entender que o agente cometeu um fato típico, ilícito e culpável, sendo, portanto, condenado. Devemos entender, assim, que o agente, ao tempo da ação ou da omissão, era pessoa imputável. Entretanto, após dar início ao cumprimento de sua pena, sobreveio-lhe doença mental, razão pela qual deverá ser recolhido a hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou a outro estabelecimento que possa ministrar-lhe o tratamento adequado à sua doença.
 
 O art. 183 da Lei de Execução Penal ainda dispõe que, quando no curso da execução da pena privativa de liberdade sobrevier doença mental ou perturbação da saúde mental, o juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou da autoridade administrativa, poderá determinar a substituição da pena por medida de segurança.
 
Detração (art. 41)
 
A detração é o instituto jurídico mediante o qual computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em qualquer dos estabelecimentos referidos no art. 41 do Código Penal.
 
É comum acontecer que, antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, o agente venha a ser preso provisoriamente. As espécies de prisão provisória ou cautelar são as seguintes:
 
1. Prisão em flagrante;
1. Prisão preventiva;
1. Prisão temporária.
 
Logo, é lógico e razoável que aquele que estava preso, aguardando julgamento, se ao final vier a ser condenado, esse período em que foi privado de sua liberdade deva ser descontado quando do cumprimento de pena.
 
Importante: ele se beneficiará mesmo em caso que for absolvido nesse caso e condenado em outros processos. O art. 111 da Lei de Execução Penal nos ajuda a entender essa situação dizendo que quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em processos distintos, a determinação do regime de cumprimento será feita pelo resultado da soma ou da unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração ou remição.
 
Imaginemos, agora, uma hipótese diferente. O agente foi absolvido, tempos atrás, de uma imputação que lhe fora feita. Naquela oportunidade, havia sido decretada sua prisão cautelar, tendo permanecido preso durante sessenta dias, até que sobreveio sua absolvição. Um ano depois de ter sido absolvido, o agente cometeu um crime, e por esse fato veio a ser condenado a dois anos de pena privativa de liberdade. Pergunta-se: Poderá, nesse caso, ser realizada a detração? Não. Isso porque, segundo entendemos, para que haja detração os processos devem tramitar simultaneamente. Caso contrário, como bem alertou Damásio,39 o agente teria uma "carta de crédito" para infrações penais futuras. O fato de ter sido preso cautelarmente em processo no qual fora absolvido poderá gerar o direito a uma indenização pelo Estado. Isso, entretanto, não significa que fique com um crédito para com a Justiça Penal, para a prática de infrações futuras.
 
Portanto, os processos devem tramitar simultaneamente, não havendo possibilidade de crédito com a Justiça.
 
Prisão especial
 
Influenciados pela opinião pública, que se indignava pela maneira pela qual alguns "presos ilustres" aguardavam, em prisão especial, o julgamento de seus processos, o Estado editou a Lei nª 1 0.258, de 11 de julho de 2001, alterando o inciso V, bem como criando parágrafos para o art. 295 do Código de Processo Penal, esclarecendo o significado da expressão prisão especial, a sua localização no sistema carcerário, os seus requisitos físicos, o transporte do preso especial, bem como os seus direitos e deveres.
 
O que diz o artigo 295 do Código de Processo Penal:
 
Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à disposição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão antes de condenação definitiva:
 
 I - os ministros de Estado;
 
 II - os governadores ou interventores de Estados ou Territórios, o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários, os prefeitos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia;
 
 III - os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de Economia N acional e das Assembleias Legislativas dos Estados;
 
 IV - os cidadãos inscritos no 'Livro de Mérito'; 
 
V - os oficiais das Forças Armadas e os militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; 
 
VI - os magistrados; 
 
VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores da República;
 
 VIII - os ministros de confissão religiosa; 
 
IX - os ministros do Tribunal de Contas; X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função de jurado, salvo quando excluídos da lista por motivo de incapacidade para o exercício daquela função;
 
XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos Estados, ativos e inativos.
 
§ 1" A prisão especial, prevista neste Código ou em outras leis, consiste exclusivamente no recolhimento em local distinto da prisão comum. 
 
§ 2" Não havendo estabelecimento específico para o preso especial, este será recolhido em cela distinta do mesmo estabelecimento. 
 
§ 3" A cela especial poderá consistir em alojamento coletivo, atendidos os requisitos de salubridade do ambiente, pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequados à existência humana. 
 
§ 4" O preso especial não será transportado juntamente com o preso comum. 
 
§ 5" Os demais direitos e deveres do preso especial serão os mesmos do preso comum.
 
Prisão-albergue domiciliar
 
No que se refere ao cumprimento da pena, o artigo 117 da LEP prevê quatro hipóteses dos quais o condenado que cumpre sua pena em regime aberto poderá cumpri-la em residência particular, desde que seja:
 
I Maior de 70 anos;
II Portador de doença grave;
III Condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;
IV Condenada gestante.
 
Outro motivo considerado pela jurisprudência e doutrina, tem sido os casos de inexistência de casa do albergado em algumas comarcas para cumprimento adequado da pena. Por isso, não podendo o réu ser prejudicado, ele poderá assim cumprir sua pena em seu domicílio,
 
O STF não acompanha esse pensamento, mas o STJ sim.
 
Uso de algemas
 
O STF, na sessão plenária de 13 de agosto de 2008, aprovou, por unanimidade, a Súmula Vinculante n° 11, disciplinando as hipóteses em que seria cabível o uso de algemas, dizendo:
 
Súmula vinculante 11: só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil ou penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.
 
Cria-se, com a súmula vinculante, um novo vício jurídico: o vício do uso de algemas que acarreta a sanção de nulidade do ato prisional. A autoridade policial deverá justificar, por escrito, o uso de algemas no preso, sob pena da responsabilidade dita na lei. O problema será se a justificação daautoridade policial convencerá a autoridade judiciária que é quem exercerá o papel fiscalizador da legalidade ou não do seu uso. Em outras palavras, inventaram mais uma maneira de anular o APF ou a decisão judicial daqueles que não podem ser presos, mas se forem que não sejam algemados. Algema e 'camburão' são para pobre, não para Colarinho-Branco."
 
Ultimamente, após o advento da Constituição Federal de 1988, novos ventos começaram a soprar em nosso país, sendo que, excepcionalmente, pessoas até então tidas como "intocáveis" acabaram caindo nas malhas da Justiça, mesmo que por pouco tempo. Esse "incômodo" despertou, de repente, o interesse pelo uso de algemas, uma vez que, agora, aquelas pessoas que faziam parte da mais "alta sociedade" estavam conhecendo o cheiro e provando a comida servida nos cárceres. Tivemos até o inusitado depoimento de um político, que havia governado um dos maiores Estados da Federação, dizendo-se indignado com a "quentinha" que lhe era servida na cadeia. Para essas pessoas, com certeza, o uso das algemas era por demais constrangedor. Trocar suas pulseiras de ouro, conseguidas ilicitamente à custa de milhões de miseráveis brasileiros, por outra de aço era muito humilhante, e isso não poderia continuar.
 
Monitoramento eletrônico
 
Dentre as novas tecnologias utilizadas, como alternativas ao cumprimento de uma pena de privação de liberdade, podemos destacar o chamado monitoramento eletrônico.
 
O monitoramento eletrônico foi criado com a finalidade de fazer com que o condenado não fosse retirado, abruptamente, do seu meio social. Muitos dos seus direitos, como acontece com nossos filhos durante sua correção, passam a ser limitados. No entanto, o convívio em sociedade ainda permanece. Não é dessocializado, mas, sim, educado a não praticar o ato que o levou a ter suspensos alguns desses direitos. 
 
Ele evita os efeitos nefastos da dessocialização do encarceramento - principalmente para os delinquentes primários - e facilita a manutenção dos elos familiares e o exercício de uma atividade profissional. Esse sistema permite, também, diminuir a taxa de ocupação nos estabelecimentos penitenciários, acolhendo réus e condenados, a pequenas ou médias penas, a um custo bem menor. A prisão domiciliar sob monitoramento eletrônico afasta de seus beneficiários a promiscuidade e as más condições de higiene, a ociosidade e a irresponsabilidade, encontradas em tantas prisões. Trata-se de um tipo de punição que não acarreta o estigma do associado ao encarceramento, assegurando a continuação de uma vida 'normal' aos olhos do empregador e junto da família".
 
Atualmente, existem quatro opções técnicas de monitoramento eletrônico, que podem ser adaptadas à pessoa em forma de:
 
 a) pulseira;
 b) tornozeleira;
 c) cinto; e 
d) microchip (implantado no corpo humano). Nas quatro hipóteses apontadas, a utilização pode ocorrer de maneira discreta, permitindo que o condenado cumpra sua pena sem sofrer as influências nefastas do cárcere. 
 
O sistema de monitoramento permite que os encarregados da fiscalização do cumprimento da pena do condenado monitorado conheçam, exatamente, a respeito dos seus passos, uma vez que o sistema permite saber, com precisão, se a área delimitada está sendo obedecida. A tendência é que o monitoramento eletrônico fique cada vez mais imperceptível por outras pessoas, que não aquele que o utiliza.
 
 Quem não se recorda do tamanho inicial dos telefones celulares? Hoje, são multifuncionais e os menores possíveis. Da mesma forma, em um futuro muito próximo, em vez de pulseiras, tornozeleiras ou cintos, o monitoramento poderá ser levado a efeito, por exemplo, por meio de um aparelho contido o relógio de pulso daquele que se viu beneficiado com a sua utilização. O microchip subcutâneo já é uma realidade e impede qualquer visualização por parte de terceiros, podendo, inclusive, conter todas as informações necessárias relativas ao cumprimento da pena do condenado que o utiliza. 
 
 No Brasil, depois de intensos debates, foi publicada a Lei nu 12.258, de 15 de junho de 2010, que previu a possibilidade de fiscalização do condenado, por meio da monitoração eletrônica, somente em duas situações, em sede de execução penal, vale dizer, quando for autorizada a saída temporária para aquele que estiver sob o regime semiaberto, ou quando a pena estiver sendo cumprida em prisão domiciliar, conforme disposto nos incisos li e IV do art. 146-8 da Lei de Execução Penal.
 
 A Lei nll 12.403, de 4 de maio de 2011, inseriu no art. 319 do Código de Processo Penal a monitoração eletrônica como medida cautelar diversa da prisão. A aplicação da monitoração eletrônica se fará, observando-se:
 
 - a necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais;
 
 a adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.
 
 A monitoração eletrônica poderá ser aplicada isolada ou cumulativamente com outras medidas cautelares. As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público.
 
Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acompanhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo.
 
No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 3 1 2, parágrafo único). O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. A prisão preventiva será determinada quando não for cabível sua substituição por outra medida cautelar
 
Monitoramento e prisão preventiva
 
Merece destaque, ainda, a inovação trazida pela Lei n l! 12.403, de 4 de maio de 2011, que, ao prever o elenco de medidas cautelares diversas da prisão, no inciso IX do art. 319 do Código de Processo Penal, inseriu a monitoração eletrônica. 
 
Dessa forma, o monitoramento passa a ser possível antes mesmo do trânsito em julgado da sentença penal condenatório, evitando a desnecessária segregação cautelar do acusado, permitindo-lhe, assim, responder à ação penal em liberdade.
 
Regulamentação de monitoramento
 
Em 25 de novembro de 2011 foi publicado o Decreto n° 7.627, que dispõe sobre a regulamentação do monitoramento eletrônico.
 
Penas restritivas de direitos
 
Se a pena é um mal necessário, devemos, num Estado social e democrático de Direito, buscar aquela que seja suficientemente forte para a proteção dos bens jurídicos essenciais, mas que, por outro lado, não atinja de forma brutal a dignidade da pessoa humana. 
Espécies de penas restritivas de direitos (art. 43)
 
As penas restritivas de direitos são:
1° Prestação pecuniária
2° Perda de bens e valores;
3° Prestação de serviço à comunidade;
4° Interdição de direitos e
5° limitação de fim de semana.
 
No entanto, a pena de interdição temporária de direitos possui várias subdivisões, que fazem ao todo possuirmos 11 penas restritivas de direitos.
 
"Se considerarmos que a interdição temporária de direitos subdivide-se doravante em quatro (proibição do exercício de cargo, proibição do exercício de profissão, suspensão da habilitação para dirigir veículo e proibição de frequentar determinados lugares), já chegamos a nove. A última sanção cominada é a prestação de outra natureza - art. 45, § 2u.
 
Agora, com a edição da Lei nu 12.550, de 15 de dezembro de 2011, que fez inserir o inciso V, no art. 47 do Código Penal, prevendo a proibição de inscrever -se em concurso, avaliação ou exame públicos,temos, na verdade, onze penas restritivas de direitos.
 
Essas penas, como regra, são substitutivas, ou seja, primeiramente aplica-se a pena privativa de liberdade e, quando possível, presentes os requisitos legais, procede-se à sua substituição.
 
Requisitos para a substituição (art. 44)
 
O art. 44 do CP elenca os requisitos necessários e indispensáveis para que o juiz possa levar a efeito a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos. São requisitos considerados cumulativos, ou seja, todos devem estar presentes para que se possa realizar a substituição. 
 
O primeiro requisito, de ordem objetiva, diz que é possível a substituição quando aplicada pena privativa de liberdade não superior a 4 (quatro) anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo (art. 44, I, do CP).
 
1 A primeira exigência contida no inciso 1 diz respeito à quantidade da pena. A substituição somente se viabiliza se a pena aplicada não for superior a quatro anos, nos casos de infrações dolosas, uma vez que para os delitos culposos a lei não fez qualquer ressalva com relação ao limite de pena aplicada. Sendo dolosa a infração penal, se a pena aplicada não for superior a quatro anos, teremos de verificar, ainda, se o crime foi cometido com o emprego de violência ou grave ameaça à pessoa, uma vez que, nesses casos, mesmo a pena permanecendo no limite estipulado pelo inciso 1, o agente não poderá ser beneficiado com a substituição
 
2 A inexistência da reincidência em crime doloso é o segundo requisito exigido pelo inciso II do art. 44.
 
exige a lei, como fator impeditivo da concessão da substituição, a reincidência dolosa, isto é, tanto a infração penal anterior como a posterior são de natureza dolosa. Caso contrário, aberta estará a possibilidade de aplicação de pena substitutiva à prisão.
 
Embora, pelo menos inicialmente, a reincidência dolosa impeça a substituição, o § 3º- do art. 44 do Código Penal fez uma ressalva no sentido de que se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude de prática do mesmo crime. 
 
3 O requisito de natureza subjetiva encontra-se no inciso III do art. 44 do Código Penal, que, juntamente com os dois anteriores, possibilita a substituição desde que a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.
 
Esse terceiro requisito serve de norte ao julgador para que determine a substituição somente nos casos em que se demonstrar ser ela a opção que atende tanto o condenado quanto a sociedade. Pena restritiva de direitos não quer significar impunidade ou mesmo descaso para com a proteção dos bens jurídicos mais importantes tutelados pelo DP. A pena, como diz a última parte do art. 59 do CP, deve ser necessária e suficiente para a reprovação e prevenção do crime.
 
Duração das penas restritivas de direitos
Diz o art. 55 do Código Penal que as penas restritivas de direitos referidas nos incisos III, IV, V e VI do art. 43 terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída, ressalvado o disposto no § 4 do art. 46. Na verdade, embora o art. 55 faça menção ao inciso III do art. 43 do Código Penal, esse inciso foi vetado pelo Poder Executivo, razão pela qual somente as penas de prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana é que terão a mesma duração das penas privativas de liberdade aplicadas. 
 
Prestação pecuniária
 
A prestação pecuniária, segundo o § 1. do art. 45 do Código Penal, consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada, com destinação social, de importância fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários.
 
Quando o juiz do processo de conhecimento condena o réu à pena de prestação pecuniária, vários detalhes devem ser observados: 
 
l) a vítima e seus dependentes têm prioridade no recebimento da prestação pecuniária, não podendo o juiz determinar o seu pagamento à entidade pública ou privada quando houver aqueles; 
 
2) nas infrações penais onde não haja vítima, a exemplo do delito de formação de associação criminosa (art. 288 do CP), poderá a prestação pecuniária ser dirigida à entidade pública ou privada com destinação social;
 
 3) a condenação tem os seus limites estipulados em, no mínimo, 1 (um) salário mínimo e, no máximo, 360 (trezentos e sessenta) salários;
 
 4) o valor pago a vítima ou a seus dependentes será deduzido do montante em ação de reparação civil, no caso de serem coincidentes os beneficiários.
 
Para que a pena privativa de liberdade possa ser substituída pela prestação pecuniária, não há necessidade de ter ocorrido um prejuízo material, podendo ser aplicada nas hipóteses em que a vítima sofra um dano moral.
 
"Sempre que a infração provocar dano moral à vítima, o juiz poderá obrigar o réu a pagar à vítima e a seus dependentes ou a uma entidade pública ou privada, com destinação social, uma importância não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. Há determinados crimes que causam especial sofrimento moral ao ofendido como a lesão corporal, a ameaça, o dano, a calúnia, a difamação, a injúria, a violação do direito autoral e a usurpação do nome. A consagração constitucional do dever de indenizar o dano moral quando a ofensa atingir bens personalíssimos (art. SQ, V e X) se coloca na linha de justificação da pena de prestação pecuniária, independentemente da provocação de um dano material.
 
O § 2 do art. 45 do Código Penal ressalva que, se houver aceitação do beneficiário, a prestação pecuniária pode consistir em prestação de outra natureza. O que significa prestação de outra natureza? A Exposição de Motivos da Lei n 9.714/98 nos fornece dois exemplos do que se pode entender como prestação de outra natureza, e que já vinham sendo praticados, principalmente, nos Juizados Especiais, sem que houvesse previsão legal para tanto. São eles a oferta de mão de obra e a doação de cestas básicas.
 
 
Violência doméstica e familiar contra mulher
 
Atendendo ao disposto no § 8.Q do art. 226 da Constituição Federal, bem como à Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres e a Convenção interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, foi editada a Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006, criando mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.
 O art. 17 do mencionado estatuto legal limitou a substituição, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, da pena privativa de liberdade, dizendo:
 
Art. 17: é vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.
 
Isso não impede, como se percebe, que o agente, autor de uma infração penal dessa natureza, sejam aplicadas as demais penas substitutivas previstas no artigo 43 do CP, desde que presentes seus requisitos legais.
 
Perda de bens e valores
 
Preconiza o § 3" do art. 45 do Código Penal que a perda de bens e valores pertencentes aos condenados dar-se-á, ressalvada a legislação especial, em favor do Fundo Penitenciário Nacional, e seu valor terá como teto - o que for maior - o montante do prejuízo causado ou do proveito obtido pelo agente ou por terceiro, em consequência da prática do crime. 
 
Os bens de que trata o parágrafo podem ser móveis ou imóveis. Valores são tanto a moeda corrente depositada em conta bancária como todos ospapéis que, a exemplo de ações, representam importâncias negociáveis na Bolsa de valores.
 
O que o condenado vai perder são seus bens ou valores legítimos, o que integram seu patrimônio lícito. Nesse caso, dispensa-se a prova da origem ilícita deles. Segundo o CP, a perda de bens e valores pertencentes aos condenados será em favor do fundo penitenciário nacional, ressalvada a legislação especial.
 
"tanto a pena nova de perda de bens (art. 45, § 3°) como a prestação pecuniária (art. 45, § 1°), esta nada mais é que uma antecipação da reparação dos danos, podem ser estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido. Ambas exprimem as exceções constitucionais, valendo observar que a mesma ilação não se pode extrair no concernente à multa".
 
Prestação de serviços à comunidade ou a entidades pública
Consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao condenado, que serão por ele levadas a efeito em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos. Devem ser cumpridas à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho (art. 46).
 
A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas somente será aplicada às condenações superiores à seis meses de privação da liberdade (art. 46, caput, do C P), sendo que até seis meses poderão ser aplicadas as penas substitutivas previstas nos incisos I (prestação pecuniária), II (perda de bens e valores), V (interdição temporária de direitos) e VI (limitação de fim de semana) do art. 43 do Código Penal, além da multa. 
 
 
Interdição temporária de direitos
 
O artigo 47 do CP prevê cinco formas de interdição temporária de direitos, a saber: 
 
I Proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo;
 
II Proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização pública.
 
III Suspensão da autorização ou de habilitação para dirigir veículo;
 
IV Proibição de frequentar determinados lugares e;
 
V Proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exames públicos.
 
É importante lembrar que a interdição de direitos terá a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída.
 
Limitação de fim de semana (art.48)
 
Consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por cinco horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado.
 
Conversão das penas restritivas de direitos
 
A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de 30 dias de detenção ou reclusão (art. 44, parágrafo 4).
 
O§ 1 do art. 181 da Lei de Execução Penal determina que a pena de prestação de serviços à comunidade será convertida quando o condenado:
 
 a) não for encontrado por estar em lugar incerto e não sabido, ou desatender à intimação por edital;
 b) não comparecer, injustificadamente, à entidade ou programa em que deva prestar serviço;
 c) recusar-se, injustificadamente, a prestar o serviço que lhe foi imposto;
 d) praticar falta grave;
 e) sofrer condenação por outro crime à pena privativa de liberdade, cuja execução não tenha sido suspensa.
 
Pena de multa
 
A multa é uma das três modalidades de penas cominadas pelo Código Penal e consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa.
 
A multa poderá substituir a pena aplicada desde que a condenação seja igual ou inferior a um ano.
 
A pena de multa será, no mínimo, de 10 e, no máximo, de 360 dias-multa. O valor do dia-multa será fixado pelo juiz, não podendo ser inferior a um trigésimo do valor do maior salário-mínimo mensal vigente à época do fato, nem superior a cinco vezes esse salário (art. 49, § 1, do CP). 
 
Na fixação da pena de multa, o juiz deve atender, principalmente, à situação econômica do réu, podendo seu valor ser aumentado até o triplo se o juiz considerar que é ineficaz, embora aplicada no máximo (art. 60 e§ 10. do C P). O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária (art. 49, § 20., do CP) .
 
São, portanto, dois momentos distintos e importantíssimos na aplicação da pena de multa: 1 º-) encontrar o número de dias-multa a ser aplicado, atendendo -se ao critério trifásico do art. 68 do Código Penal; 2º-) atribuir o valor de cada dia-multa considerando-se a capacidade econômica do sentenciado. 
 
Pagamento da pena de multa
 
Uma vez transitada em julgado a sentença penal condenatória, a multa deverá ser paga dentro de dez dias. A requerimento do condenado e conforme as circunstâncias, o juiz pode permitir que o pagamento se realize em parcelas mensais (art. 50 do CP).
 
A cobrança da multa pode efetuar-se mediante o desconto no vencimento ou no salário do condenado quando:
 
 a) aplicada isoladamente;
 b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de direitos;
 c) concedida a suspensão condicional da pena. 
 
O desconto não deve incidir sobre os recursos indispensáveis ao sustento do condenado e de sua família (art. 50,§1. e 2º-, do CP). 
 
Caso não haja o pagamento do valor correspondente à pena de multa no prazo de dez dias, e não tendo o condenado solicitado o seu parcelamento, deverá ser extraída certidão da sentença condenatória com trânsito em julgado, que valerá como título executivo judicial, para fins de execução. 
Execução da pena de multa
 
Art. 51. Transitada em julgado a sentença penal condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-lhe as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.
 
A pena de multa não poderá ser transformada em restritiva de liberdade.
 
Aplicação da pena
 
Tendo o réu optado por qualquer uma das infrações elencadas em nosso catálogo penal, parte-se para o segundo momento da individualização da pena, agora de competência do julgador. Do plano abstrato (fase da cominação) mergulhamos no plano concreto (fase da aplicação), cabendo ao juiz do processo penal de conhecimento aplicar àquele que praticou um fato típico, ilícito e culpável uma sanção penal que seja necessária e suficiente para a reprovação e prevenção do crime. 
 
Cálculo da pena
 
O art. 68 do Código Penal determina que a pena será aplicada observando-se três fases distintas. Inicialmente, deverá o julgador encontrar a chamada pena -base, sobre a qual incidirão os demais cálculos. Nos tipos penais incriminadores existe uma margem entre as penas mínima e máxima, permitindo ao juiz, depois da análise das circunstâncias judiciais previstas pelo art. 59 do Código Penal, fixar aquela que seja mais apropriada ao caso concreto.
 
Cada uma dessas circunstâncias judiciais deve ser analisada e valorada individualmente, não podendo o juiz simplesmente se referir a elas de forma genérica, quando da determinação da pena-base, sob pena de se macular o ato decisório, uma vez que tanto o réu como o Ministério Público devem entender os motivos pelos quais o juiz fixou a pena-base naquela determinada quantidade.
Depois de fixar a pena-base, em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes, previstas na Parte Geral do Código Penal (artigos 61 e 65).
 
Por fim, quando houver concurso entre atenuantes e agravantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência (art. 67 do Código Penal).
 
O terceiro momento de aplicação da pena, como já deixamos antever, diz respeito às causas de diminuição e de aumento. Vale, nessa oportunidade, fazer a diferença entre as circunstâncias atenuantes e agravantes e as causas de diminuição ou aumento de pena.
 
 Tal distinção é de suma importância,pois, como vimos quando da aplicação da pena, são aferidas em momentos distintos. A diferença fundamental entre elas reside no fato de que as circunstâncias atenuantes e agravantes são elencadas pela parte geral do Código Penal e o seu quantum de redução e de aumento não vem predeterminado pela lei, devendo o juiz, atento ao princípio da razoabilidade, fixá-lo no caso concreto; as causas de diminuição e de aumento podem vir previstas tanto na parte geral como na especial, e o seu quantum de redução e de aumento é sempre fornecido em frações pela lei.
 
Circunstâncias judiciais 
 
As circunstâncias judiciais, que deverão ser obrigatoriamente analisadas quando da fixação da pena-base pelo julgador, são as seguintes: 
 
1 - Culpabilidade;
2 - Antecedentes;
3 - Conduta social;
4 - Personalidade do agente;
5 - Motivos.
6 - Circunstâncias do crime;
7 - Consequências do crime;
8 - Comportamento da vítima.
 
Culpabilidade
 
Vimos que a culpabilidade, como juízo de reprovação que recai sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente, é um dos elementos integrantes do conceito tripartido de crime. Assim, concluindo pela prática da infração penal, afirmando ter o réu praticado um fato típico, ilícito e culpável, o juiz passará a aplicar a pena. Percebemos, portanto, que a condenação somente foi possível após ter sido afirmada a culpabilidade do agente. Agora, passando à fase seguinte, terá o julgador que encontrar a pena justa a ser aplicada. Logo no primeiro momento, quando irá determinar a pena-base, o art. 59 do Código Penal impõe ao julgador, por mais uma vez, a análise da culpabilidade. Temos de realizar, dessa forma, uma dupla análise da culpabilidade: na primeira,
 
dirigida à configuração da infração penal, quando se afirmará que o agente que praticou o fato típico e ilícito era imputável, que tinha conhecimento sobre a ilicitude do fato que cometia e, por fim, que lhe era exigível um comportamento diverso; na segunda, a culpabilidade será aferida com o escopo de influenciar na fixação da pena-base. A censurabilidade do ato terá como função fazer com que a pena percorra os limites estabelecidos no preceito secundário do tipo penal incriminador.
 
Antecedentes
 
Os antecedentes dizem respeito ao histórico criminal do agente que não se preste para efeitos de reincidência. No caso, se o agente tiver condenações que não sirvam para utilizar como reincidência, poderá o juiz usá-las para atestar seus maus antecedentes.
 
Inquéritos policiais, processos em andamento não têm o condão de permitir com que a sua pena seja elevada.
 
Súmula n°: 444. É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena base.
 
Mas, no entendimento de alguns ministros do STF: "Inquéritos policiais e ações penais em andamento configuram, desde que devidamente fundamentados, maus antecedentes para efeito da fixação da pena-base, sem que, com isso, reste ofendido o princípio da presunção de não culpabilidade".
 
Conduta social
 
Por conduta social quer a lei traduzir o comportamento do agente perante a sociedade. Verifica-se o seu relacionamento com seus pares, procura-se descobrir o seu temperamento, se calmo ou agressivo, se possui algum vício, a exemplo de jogos e bebidas, tenta-se saber como é seu comportamento social, que poderá ou não ter influenciado no cometimento da infração penal.
 
Importante salientar que conduta social não se confunde com antecedentes penais, razão pela qual determinou a lei as suas análises em momentos distintos. Alguns intérpretes, procurando, permíssa venía, distorcer a finalidade da expressão conduta social, procuram fazê-la de "vala comum" nos casos em que não conseguem se valer dos antecedentes penais do agente para que possam elevar a pena-base. Afirmam alguns que se as anotações na folha de antecedentes criminais, tais como inquéritos policiais ou processos em andamento, não servirem para atestar os maus antecedentes do réu, poderão ser aproveitadas para fins de aferição de conduta social.
 
Concluindo, não podemos confundir conduta social com antecedentes penais. Estes jamais servirão de base para a conduta social, pois esta abrange todo o comportamento do agente no seio da sociedade, afastando-se desse raciocínio seu histórico criminal, verificável em sede de antecedentes penais.
 
Personalidade do agente
 
Conforme destacou Ney Moura Teles, "a personalidade não é um conceito jurídico, mas do âmbito de outras ciências - da psicologia, psiquiatria, antropologia - e deve ser entendida como um complexo de características individuais próprias, adquiridas, que determinam ou influenciam o comportamento do sujeito''.
 
Na concepção de Rogério Greco, o julgador não possui capacidade técnica necessária para a aferição de personalidade do agente, incapaz de ser por ele avaliada sem uma análise detida e apropriada de toda a sua vida através de profissionais da saúde (psicólogos, psiquiatras, terapeutas). 
 
Motivos
 
Os motivos são as razões que antecederam e levaram o agente a cometer a infração penal. 
Em várias passagens, o Código Penal valora os motivos pelos quais o agente foi impelido a levar a efeito a infração penal, fazendo, desse modo, com que diminua ou aumente a pena a ser aplicada. O§ l do art. 121 do Código Penal diz que, se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, a pena poderá ser reduzida de um sexto a um terço. Já o inciso II do § 2 do mesmo artigo determina que a pena será de 12 a 30 anos de reclusão se o homicídio é cometido por motivo fútil. 
 
Os motivos não podem ser utilizados mais de uma vez, nem pra prejudicar, nem para beneficiar o réu. Por exemplo, no caso do homicídio por motivo torpe, essa qualificadora impede que um segundo aumento no que cabe aos motivos.
 
Circunstâncias
 
Na definição de Alberto Silva Franco, "circunstâncias são elementos acidentais que não participam da estrutura própria de cada tipo, mas que, embora estranhas à configuração típica, influem sobre a quantidade punitiva para efeito de agravá-la ou abrandá-la. As circunstâncias apontadas em lei são as circunstâncias legais (atenuantes e agravantes) que estão enumeradas nos arts. 61, 62 e 65 da PG/84 e são de cogente incidência. As circunstâncias inominadas são as circunstâncias judiciais a que se refere o art. 59 da PG/84 e, apesar de não especificadas em nenhum texto legal, podem, de acordo com uma avaliação discricionária do juiz, acarretar um aumento ou uma diminuição de pena. Entre tais circunstâncias, podem ser incluídos o lugar do crime, o tempo de sua duração, o relacionamento existente entre o autor e vítima, a atitude assumida pelo delinquente no decorrer da realização do fato criminoso etc.
 
Consequências do crime
 
As consequências do crime são um dado importante a ser observado quando da aplicação da pena-base. A morte de alguém casado e com filhos menores, de cujo trabalho todos dependiam para sobreviver, ou a hipótese daquele que, imprudentemente, deixando de observar o seu necessário dever de cuidado, atropela uma pessoa que efetuava a travessia de uma avenida, fazendo com que a vítima viesse a perder os movimentos do corpo, tornando-se uma pessoa paralítica, são, efetivamente, dados que devem merecer a consideração do julgador no momento em que for encontrar a pena-base
 
Os crimes contra a Administração Pública, a nosso ver, encontram-se no rol cujas consequências são as mais nefastas para a sociedade. Os bandidos de colarinho branco, funcionários de alto escalão na Administração Pública, políticos inescrupulosos e tantos outros que detêm uma parcela do poder, quando efetuam subtrações dos cofres públicos, causam verdadeiras devastações no seio da sociedade. Escolas deixam de receber merendas, hospitais passam a funcionar em estado precário, obras deixam de ser realizadas, a população miserável perece de fome, enfim, são verdadeiros genocidas, uma vez que causam a morte de milhares de pessoas com suas condutas criminosas. Tais consequências deverão, portanto, ser medidas pelo julgador, a fim de justificar

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